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A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA PÓS- GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO DE 1998 A 2016

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Academic year: 2019

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UNIVERSIDADE FUMEC

FACULDADE DE CIÊNCIAS EMPRESARIAIS DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO

DENISE CAMPOS CHAVES BAETA MACHADO

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS

E TURISMO DE 1998 A 2016

BELO HORIZONTE

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DENISE CAMPOS CHAVES BAETA MACHADO

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS

E TURISMO DE 1998 A 2016

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Doutorado da Faculdade de Ciências Empresariais da Universidade FUMEC, para a obtenção do título de Doutora em Administração.

Área de concentração: Gestão Estratégica de Organizações.

Orientadora: Profa. Dra. Suzana Braga Rodrigues

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha Catalográfica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Machado, Denise Campos Chaves,

1978-A institucionalização da internacionalização da pós-graduação stricto sensu em Administração, Ciências Contábeis e Turismo, de 1998 a 2016 / Denise Campos Chaves Machado. – Belo Horizonte, 2016.

205 f. : il. ; 29,7 cm

Orientadora: Suzana Braga Rodrigues

Tese (Doutorado em Administração), Universidade FUMEC, Faculdade de Ciências Empresariais, Belo Horizonte, 2016.

1. Brasil - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 2. Ensino superior. 3. Administração - Estudo e ensino (Pós-graduação). I. Título. II. Rodrigues, Suzana Braga. III. Universidade FUMEC, Faculdade de Ciências Empresariais.

CDU: 378

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AGRADECIMENTOS Acima de tudo, a Deus, pela dádiva de viver!

À minha mãe, mulher aguerrida, por quem sinto amor incondicional e gratidão infinita.

Ao meu marido, Bernardo, por seu amor, carinho e enorme apoio ao longo do período de elaboração desta tese.

Aos meus irmãos, Denilson e Daniella, companheiros de uma vida.

Ao meu querido sobrinho, Pedrinho Henrique, que trouxeram grandes alegrias às nossas vidas.

À vovó Dinha, fonte de carinho e admiração.

Aos meus queridos afilhados, Isabella e Pedro.

Aos meus sogros, Manoel e Eliana, pelo acolhimento amoroso em sua família!

À minha madrinha, Eliana, e à Ministra Zilda, por suas orientações, sempre repletas de espiritualidade e sabedoria.

Às minhas amadas amigas: Jana, Kátia, Sílvia, Cris e Kiki, pessoas que quero sempre ver bem.

À professora Suzana, pela confiança em meu trabalho.

À Diretora de Educação da FACE/FUMEC, professora. Renata de Sousa da Silva Tolentino, e à Coordenadora do Mestrado de Direito da FHC/FUMEC, professora. Maria Tereza Fonseca Dias. As senhoras são exemplos de mulheres sábias e equilibradas e de profissionais competentes que engrandecem a Universidade FUMEC.

Aos professores Daniel Pardini, Carlos Alberto Gonçalves, Walter Victorino e Ludmila Bonelli, estimados colegas de trabalho.

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RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivo verificar a internacionalização dos programas de mestrado e doutorado em Administração, Ciências Contábeis e Turismo e sua relação com a avaliação de desempenho realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no período de 1998 a 2016. A literatura sobre instituições, políticas públicas e internacionalização do ensino superior foi adotada visando compreender como as instituições formais e informais definem “as regras do jogo” NORTH (1990). Nesse sentido, a Capes vem atuando como uma instituição formal, que vinculou os conceitos avaliativos máximos 6 (seis) e 7 (sete) aos programas de pós-graduação stricto sensu que possuem desempenho equivalente ao alto padrão internacional. Isso significa que esses cursos stricto sensu apresentaram elevado grau de internacionalização, sendo eles quantificados e qualificados pela avaliação dos seus conteúdos internacionais, produzidos em determinado período de tempo. Trata-se de um estudo quali-quanti, em que na metodologia quantitativa foi feita uma análise de clusters, englobando 23 programas de mestrado e doutorado em Administração, Ciências Contábeis e Turismo, com o objetivo de medir o grau de internacionalização desses cursos. Para tal, relacionou-se o número de conteúdos internacionais produzidos por cada um deles, a nota da Capes e o número de docentes de cada programa ao longo do período de 1998 a 2012. Por sua vez, o método qualitativo contemplou um estudo exploratório, por meio de in depth interviews, com 15 acadêmicos dos programas de pós-graduação stricto sensu em Administração e colaboradores da Capes, visando confrontar a opinião desses docentes com a atuação da Capes e a vinculação da análise de desempenho do programa com seu grau de internacionalização, com base nos Documentos de Área. A abordagem qualitativa abarcou o período até 2016. Como resultados, os dados quantitativos desses 23 programas de mestrado e doutorado apontaram que, aqueles que possuíam o maior número de docentes apresentavam maior volume de produção de conteúdos internacionais. Demonstraram, também, que os programas que possuíam maior produção de conteúdos internacionais, apresentaram melhor avaliação de desempenho, segundo a Capes. Os dados qualitativos apontaram os desafios e as oportunidades relacionados à internacionalização dos programas, pois para um programa se internacionalizar ele precisa possuir capacidades como domínio do inglês pelo seu corpo docente, investimentos financeiros e tempo para produzir pesquisa. Os resultados apontaram que poucos programas possuem esse conjunto de capacidades. Ou seja, promover a internacionalização de um programa é dispendioso e demanda tempo. Desse modo, as universidades brasileiras ainda estão em processo de construção dessas capacidades. Há um entendimento de que as universidades precisam possuir maior nível de autonomia, governabilidade e accountabillty para poderem intensificar seu processo de internacionalização. Sugere-se para pesquisas futuras, testar o mesmo script desenvolvido para esta tese para verificar os conteúdos internacionais de outras áreas do conhecimento, por exemplo, das Engenharias, de modo a analisar sua evolução ao longo do tempo e comparar a produção de conteúdos internacionais de áreas distintas.

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ABSTRACT

This research conducted a qualitative and quantitative study on the process of internationalization of PhD and Master's programs in the area of Business Administration, Accounting and Tourism, and the relation to their performances according to Capes (Training Coordination of Scholars), from 1998 to 2016, in Brazil. The literature on institutions, public policy and internationalization of higher education was applied aiming to understand how formal and informal institutions define the "rules of the game" NORTH (1990). In this sense, Capes has been acting as a formal institution that linked the top ranking positions, which are six (6) and seven (7) to the programs that present a high standard of international performance. This means these programs had a high level of internationalization, and they are quantified and qualified by the evaluation of their international contents, produced in a given period of time. It is a qualitative and quantitative study. Therefore, a quantitative methodology analysis of clusters was carried out, involving 23 PhD and Master's programs in Business Administration, Accounting and Tourism, relating the number of international content generated by each program, their ranking according to Capes and the number of professors of each program, throughout the period from1998 to 2012. The qualitative method is an exploratory study through in-depth interviews with 15 scholars from the PhD and Master's programs in Business Administration and Capes' staff. The goal was to confront the view of those professors with the rules set by Capes towards the internationalization of programs, expressed in the Area Document and the link between a program performance evaluation and its degree of internationalization. As results, quantitative data proved the relationship between an increased production of international content and a better program performance according to Capes. It also demonstrated that the greater the number of academics, the greater the program's production of international contents. Analysis of interviews showed that for a program to internationalize, it needs to have the capacities to do so and Brazilian universities are still in a process of building such capabilities. There is also an understanding that universities need to have higher level of autonomy, governance and accountability to intensify their internationalization process. For future research, it is suggested to test the same analytical model and the script developed for this thesis to check the international content of other areas of knowledge such as the Engineering, in order to compare the international content of different areas.

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Sumário

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS...15

TERMOS E SIGLAS DA METODOLOGIA QUANTITATIVA...16

1 INTRODUÇÃO...18

1.1 Contextualização...18

1.2 Objetivo geral, objetivos específicos e proposição...19

1.3 Estrutura do documento...21

2 CONTEXTO INSTITUCIONAL...23

2.1 As instituições...23

2.1.1 Instituições Cognitivas, Normativas e Reguladoras...24

2.1.1.1 O Pilar Regulador...25

2.1.1.2 O Pilar Normativo...26

2.1.1.3 O Pilar Cognitivo...28

2.1.2 As Instituições Formais e Informais...31

2.1.3 O Processo de Legitimação...34

2.1.4 O Processo de Construção Social...36

2.1.5 Processo de Adoção Cerimonial...39

2.1.6 As Instituições Controladoras e as Instituições Facilitadoras...41

3 PROCESSO DE ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ...43

3.1 O Estado e as políticas públicas...43

3.1.1 Políticas Públicas: Perspectivas Top-Down e Bottom-Up...49

3.1.2 O Ambiente, as Instituições e as Normas...52

4 A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR...56

(10)

4.2 Origens do Ensino Superior e sua dimensão internacional...58

4.3 A Internacionalização das Instituições de Ensino Superior...61

4.3.1 As três gerações da internacionalização do ensino superior...64

4.3.2 Internacionalização ou comercialização?...68

4.4 Experiências de Hubs Educacionais em quatro países...72

4.4.1 Catar...73

4.4.2 Dubai...77

4.4.3 Abu Dhabi...79

4.4.4 Cingapura...80

4.5 Internacionalização das Business Schools...84

5 METODOLOGIA DA PESQUISA...91

5.1 Pesquisa qualitativa e PESQUISA quantitativa...91

6 A pesquisa qualitativa E ANÁLISE DOS RESULTADOS...93

6.1.1 A Elaboração e Realização das In-Depth Interviews...94

6.1.2 Contextualização...98

6.1.3 O papel da Capes como instituição reguladora da pós-graduação no Brasil...100

6.1.4 Estrutura Organizacional da Capes...109

6.1.5 Os Documentos de Área e a Questão da Internacionalização...112

6.1.6 Composição dos CTCs e Processo Decisório...116

6.1.7 Evolução dos Programas Stricto Sensu e os Três Estágios da Produção Científica na Administração...117

6.2 institucionalização da internacionalização...121

6.2.1 Em que Consiste a Internacionalização para os Entrevistados?...124

6.2.2 Produtividade Internacional e seus Desafios...128

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6.2.2.2 Mobilidade Estudantil e Acadêmica para se Construir as Capacidades...131

7 A PESQUISA QUANTITATIVA e análise dos resultados...136

7.1.1 O Universo Pesquisado...136

7.1.2 Coleta de Dados do Método Quantitativo...137

7.1.3 Primeira Etapa da Coleta dos Dados Quantitativos...140

...140

7.1.4 Segunda Etapa da Coleta dos Dados Quantitativos...141

7.1.5 Terceira Etapa da Coleta dos Dados Quantitativos...142

7.1.5.1 Os Programas de Administração Stricto Sensu...144

7.1.5.2 Programas de Ciências Contábeis Stricto Sensu...146

7.1.5.3 Programas de Turismo Stricto Sensu...146

7.1.6 Quarta Etapa da Coleta dos Dados Quantitativos...147

7.1.6.1 Produção Bibliográfica dos Conteúdos Internacionais...148

7.1.6.2 A Produção Técnica dos Conteúdos Internacionais...152

7.1.7 Metodologia de Análise dos Dados Quantitativos...157

7.1.8 Análise Descritiva...159

7.1.9 Fatores que Exercem Influência Sobre a Nota da Capes...167

7.1.10 Análise de Agrupamento...175

8 Considerações Finais...181

8.1.1 Resumo dos Resultados da Análise Quantitativa...181

8.1.2 A Análise Qualitativa: Desafios da Internacionalização das Universidades Brasileiras...183

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Índice de figuras

Figura 1: Organograma da Estrutura Organizacional da CAPES...104

Figura 2: Representação dos Efeitos Aleatórios no Intercepto...161

Figura 3: Efeito Aleatório no Número de Conteúdos Internacionais...164

Figura 4: Efeito Aleatório no Ano...166

Figura 5: Dendograma...167

Figura 6: Boxplots da Comparação entre Última Nota da Capes e Crescimento Médio da Nota da Capes...169

Figura 7: Boxplots da Comparação entre Último Número de Conteúdos Internacionais e Crescimento Médio do Número de Conteúdos Internacionais...170

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Os Três Pilares das Instituições...25

Tabela 2: As Três Gerações do Ensino Superior...63

Tabela 3: Os Quatro Componentes dos Hubs Educacionais...66

Tabela 4: Campi Multinacionais das Business Schools do Catar...72

Tabela 5: Campus Multinacionais das Business Schools em Dubai...76

Tabela 6: Campus Multinacionais das Business Schools em Abu Dhabi...77

Tabela 7: Campus Multinacionais das Business Schools em Cingapura...81

Tabela 8: Formas de Internacionalização do Ensino Superior...83

Tabela 9: Capes - Dotação e Execução 2004 a 2007...98

Tabela 10: Capes - Dotação e Execução 2008 a 2011...98

Tabela 11: CAPES - Dotação e Execução 2012 a 2016...99

Tabela 12: Número de programas Stricto Sensu em Administração, Contábeis e Turismo....131

Tabela 13: Tabela dos Programas de Administração...137

Tabela 14: Tabela dos Programas de Ciências Contábeis...138

Tabela 15: Tabela dos Programas de Turismo...139

Tabela 16: Descrição da nota da Capes por Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu...151

Tabela 17: Descrição da Nota da Capes por Ano...152

Tabela 18: Descrição do Número de Conteúdos Internacionais por Pós-Graduação Stricto Sensu...154

Tabela 19: Descrição do Número de Conteúdos Internacionais por Ano...155

Tabela 20: Descrição do Número de Docentes por Universidade e por Programa...157

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Tabela 22: Regressão Logística Ordinal com Efeito Aleatório no Intercepto...160

Tabela 23: Regressão Logística Ordinal com Efeito Aleatório no Intercepto e no Número de Conteúdos Internacionais...162

Tabela 24: Regressão Logística Ordinal com Efeito Aleatório no Intercepto e no Ano...165

Tabela 25: Comparação das Variáveis Entre os Grupos...168

Tabela 26: Composição do CTC-ES...191

Tabela 27: Avaliadores Convidados Estrangeiros pela Capes, em 1997...192

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPES - Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEO - Chief Executive Officer

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CTC-EB - Conselho Técnico-Científico da Educação Básica

CTC-ES - Conselho Técnico-Científico da Educação Superior CS - Conselho Superior

DA - Documento de Área FI - Fator de Impacto

HEC Paris - École des Hautes Études Commerciales de Paris

IBA - Institute of Business Administration

IMEDE - Institut pour l'Etude des Méthodes de Direction de l'Entreprise

IMD - International Institute for Management Development

IMI - International Management Institute

INSEAD - Institut Européen d'Administration des Affaires ou European Institute of Business Administration

MIT - Massachusetts Institute of Technology

MOOCs - Massive Open Online Courses

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

SDI - Sistema de Disseminação de Informações

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TERMOS E SIGLAS DA METODOLOGIA QUANTITATIVA

P-valor: estatística utilizada para sintetizar o resultado de um teste de hipóteses. Formalmente, o p-valor é definido como a probabilidade de se obter uma estatística de teste igual ou mais extrema que aquela observada em uma amostra, assumindo como verdadeira a hipótese nula. Como geralmente se define o nível de significância em 5%, uma p-valor menor que 0,05, gera evidências para rejeição da hipótese nula do teste.

D.P. – Desvio Padrão. É uma das principais medidas de dispersão dos dados. Pode ser definida como a raiz quadrada da variância. Sua medida representa o quanto os dados se afastam da média.

E.P. – Erro Padrão: O erro padrão é uma medida da precisão da média amostral. O erro padrão é obtido dividindo o desvio padrão pela raiz quadrada do tamanho da amostra.

1ª Q – 1ª Quartil: O primeiro quartil é uma medida de posição que representa que, pelo menos, 25% das respostas são menores que ele.

2ª Q – 2ª Quartil: O segundo quartil, também conhecido como mediana, é uma medida de posição que representa que, pelo menos, 50% das respostas são menores que ele.

3ª Q – 3ª Quartil: O terceiro quartil é uma medida de posição que representa que, pelo menos, 75% das respostas são menores que ele.

O.R. - Odds Ratio ou Razão de Chances: é definida como a razão entre a chance de um evento ocorrer em um grupo e a chance de ocorrer em outro grupo.

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1 INTRODUÇÃO

Este capítulo introdutório está subdivido em três partes. Na primeira, contextualiza-se o tema da tese; na segunda, explicitam-se o problema, os objetivos, a proposição de pesquisa e a metodologia adotada; e na terceira, apresenta-se a estrutura do documento.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A internacionalização do ensino superior tem sido objeto de pesquisa e de debates por parte de universidades de diferentes partes do mundo (KNIGHT, 2011, 2014). Contudo, pouco ainda se sabe especificamente sobre a internacionalização dos programas de mestrado e doutorado, já que a maior parte das pesquisas nesta área estuda principalmente a internacionalização da graduação e dos programas de MBAs.

Diante dessa lacuna, este trabalho revela sua importância, na medida em que busca contribuir para a construção do conhecimento sobre a internacionalização dos programas de mestrado e doutorado no Brasil, seus desafios e suas oportunidades. Assim, o objetivo deste estudo é: Verificar o processo de institucionalização da internacionalização de 23 programas de mestrado e doutorado em Administração, Ciências Contábeis e Turismo, com base nas avaliações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e analisar as capacidades desses programas stricto sensu, de implementar tal processo de internacionalização, no período de 1998 a 2016,

Construir ambientes internacionais férteis de ensino, pesquisa e aprendizagem não é uma tarefa simples. Os programas de mestrado, doutorado vêm elaborando formas de lidar com os desafios da internacionalização. Vários deles estão expressos nos Documentos de Área da Capes que apontam para a relevância de se produzir maior volume de conteúdos internacionais. Osprogramas são analisados e avaliados periodicamente e recebem conceitos que gravitam de 02 (dois) a 07 (sete), sendo que os conceitos de excelência 06 (seis) e 07 (sete) contemplam os programas de pós-graduação stricto sensu que possuem desempenho equivalente ao alto padrão internacional.

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maneira a institucionalização da internacionalização, com base nos Documentos de Área da

Administração, Ciências Contábeis e Turismo, tem afetado o desempenho dos programas de

pós-graduação stricto sensu?

1.2 OBJETIVO GERAL, OBJETIVOS ESPECÍFICOS E PROPOSIÇÃO

Constitui o objetivo geral deste trabalho: verificar o processo de internacionalização da pós-graduação stricto sensu em Administração, Ciências Contábeis e Turismo e sua relação com o desempenho dos programas, com base nas avaliações da Capes. Os dados quantitativos do construto conteúdos internacionais referem-se ao período de 1998 a 2012. Todavia, os dados qualitativos abarcam também o período de 1998 a 2012, mas focam principalmente o período de 2013 a 2016.

Relacionados a esse objetivo geral, citam-se como objetivos específicos:

a) Analisar o processo de globalização do ensino superior no cenário internacional, a partir da criação de quatro hubs educacionais, destacando-se as business schools.

b) Verificar a visão e a opinião dos acadêmicos e pesquisadores com relação às políticas de internacionalização expressas nos Documentos de Área da Administração, Ciências Contábeis e Turismo que institucionalizaram a internacionalização da pós-graduação stricto sensu e se eles possuem as capacidades para se internacionalizar.

c) Verificar, por meio dos conteúdos internacionais, presentes nos Cadernos de Indicadores da Capes, o padrão de comportamento de 23 programas de pós-graduação stricto sensu em Administração, Ciências Contábeis e Turismo.

d) Examinar a correlação entre o desempenho de 23 programas de mestrado e doutorado e o número de conteúdos internacionais encontrados entre 1998 e 2012.

e) Apurar a correlação entre o número de conteúdos internacionais de 23 programas de mestrado e doutorado e a nota atribuída a estes programas pela Capes com o número de docentes ao longo do tempo.

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institucionalizaram a internacionalização da pós-graduação stricto sensu em Administração,

Ciências Contábeis e Turismo.

Para alcançar os objetivos propostos, esta pesquisa utiliza os métodos de investigação qualitativos e quantitativos. O método quantitativo considerou a análise de clusters para verificar o grau de internacionalização de 23 programas de mestrado e doutorado em Administração, Ciências Contábeis e Turismo, de acordo com os seus Conteúdos Internacionais apresentados nos Cadernos de Indicadores da Capes, no período de 1998 a 2012.

Há duas razões para o corte de tempo do período de 1998 a 2012 no estudo quantitativo. Primeira, os dados usados estão presentes no Caderno de Indicadores da Capes e quando o banco de dados dessa pesquisa foi construído, no início de 2015, os dados da trienal de 2015 não estavam ainda disponíveis. Segunda é que, posteriormente, os dados da Trienal de 2015 foram disponibilizados, em outra plataforma – Sucupira – que é diferente da anterior chamada ConteúdoWeb, que vinha sendo usada por este estudo. Dessa forma, a abrangência da parte quantitativa é de 1998 a 2012.

Nessa primeira etapa, foram capturados um total de 5.238 arquivos do Conteúdoweb da Capes e transformados em Portable Document Format (PDFs). Na segunda etapa, foi utilizado o programa, pdftotext, para extrair de todos esses PDFs seu conteúdo de texto. Na terceira etapa, esses documentos foram armazenados no diretório nomeado 'LoteFinal' e foi criado uma array de identificador contendo os 23 programas de mestrado e doutorado selecionados para fazer parte desse estudo. Foram selecionadas duas planilhas dos Cadernos de Indicadores da Capes: a Produção Bibliográfica e a Produção Técnica, para examinar os seus conteúdos internacionais. Na quarta etapa, foi criado exclusivamente para esta pesquisa um script bash, para realizar o filtro dos dados propriamente ditos, por meio do uso do comando GREP1 ou Global Regular Expression Print. O programa foi rodado e todos os conteúdos

internacionais presentes nos Cadernos de Indicadores da Produção Bibliográfica e da Produção Técnica de 23 programas de mestrado e doutorado foram separados e quantificados em tabelas e gráficos.

1

(21)

A construção da base de dados possibilitou a realização da análise de clusters, com os seguintes objetivos: (i) verificar a correlação entre o desempenho dos programas de mestrado e doutorado e o número de conteúdos internacionais que eles possuem entre 1998 e 2012; (ii) apurar a correlação entre o número de conteúdos internacionais e a nota Capes das universidades com o número de docentes ao longo do tempo.

O método qualitativo realizou um estudo exploratório empregando como técnica para sua coleta de dados a in depth interview (entrevista em profundidade) com 15 acadêmicos dos programas de pós-graduação stricto sensu em Administração e colaboradores da Capes.

Um protocolo de in-depth interview foi criado, tendo como orientação as informações disponibilizadas pela Capes sobre a internacionalização dos programas de mestrado e doutorado. As entrevistas buscaram confrontar a opinião dos docentes dos programas de doutorado e mestrado com: (i) as diretrizes expressas nos Documentos de Área e a atuação da Capes, com relação à internacionalização dos cursos de mestrado e doutorado em Administração; (ii) as capacidades desses programas para atender a tais diretrizes relacionadas à internacionalização dos cursos de mestrado e doutorado em Administração; (iii) as capacidades individuais dos entrevistados em atender às demandas do processo de se construir maior inserção internacional dos programas em que atuam.

Os dados qualitativos abarcam também o período da metodologia quanti, de 1998 a 2012, mas focam principalmente no período de 2013 a 2016, de modo que o corte da pesquisa, empregando os dois métodos quali-quanti, é de 1998 a 2016.

1.3 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

(22)
(23)

2 CONTEXTO INSTITUCIONAL

Neste capítulo, as instituições são caracterizadas como as regras, as normas e os valores que orientam o comportamento dos atores sociais. Analisa-se, também, como essas instituições podem encorajar ou desencorajar o processo de internacionalização dos programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil, tendo em vista suas dimensões formais e informais. Além disso, discute-se a atuação de instituições facilitadoras, isto é, aquelas que disponibilizam os recursos que fertilizam o campo até ele florescer; e de instituições controladoras, aquelas que estabelecem penalidades pelo não cumprimento das normas. A Capes surge neste contexto desempenhando esses dois papéis como instituição.

2.1 AS INSTITUIÇÕES

North (1990), explique que as instituições são as regras do jogo (NORTH, 1990, 2005). Elas elaboram e definem os constrangimentos humanos que nortearão a interação social de determinado grupo. Ou seja, as instituições orientam o processo cotidiano de tomada de decisão humana com relação a como, por que, quando e de que forma agir socialmente, por meio do fornecimento de uma estrutura social a ser seguida rotineiramente. Elas são construções humanas que trabalham como guias, norteando a interação social em determinado contexto histórico e geográfico (BERGER; LUCKMANN, 2004; DIMAGGIO; POWELL, 1991; MEYER; ROWAN, 2006; MORGAN et al., 2010; PEUKERT, 2001; SCOTT, 1995).

As instituições criam, também, os constrangimentos às políticas públicas, não obstante estas políticas públicas terem a capacidade de mudar as concepções sobre elas e sua lógica de funcionamento (MORAN; GOODIN, 2006). De acordo com Scott (2008), as instituições são compostas por estruturas e atividades cognitivas, normativas e reguladoras, que fornecem estabilidade, previsibilidade e significado ao comportamento social (SCOTT, 2008). As instituições são conduzidas por suas estruturas, rotinas e culturas. Elas operaram em vários níveis de jurisdição do tecido social (DAVIS et al., 2005; SCOTT, 1995).

(24)

autores focam no estado geral das instituições de determinado país, utilizando conceitos como: qualidade institucional, nível de desenvolvimento institucional, ou de sistemas de negócios nacionais (WHITLEY, 1999). Outros analisam o contexto institucional em dimensões que consideram os ambientes econômicos, sociais, cognitivos ou legais (HEUGENS, 2015; SCOTT, 1995).

Para Scott (1995), as instituições consistem em estruturas de atividades cognitivas, normativas e reguladoras, que fornecem a estabilidade e dão significado ao comportamento social (SCOTT, 1995). Heugens (2015) afirma que as instituições possuem duas características: a sua dimensão formal e a sua dimensão informal (HEUGENS, 2015). North (1990) afirma que as instituições definem as regras do jogo por meio da criação de constrangimentos formais (NORTH, 1990).

Esta pesquisa emprega os conceitos de instituições segundo Scott (1995), Heugens (2015), North (2005) e Whitley (1999), para analisar a globalização do ensino superior no cenário internacional, a formação de hubs educacionais e a institucionalização da internacionalização pelos Documentos de Área da pós-graduação stricto sensu em Administração, Ciências Contábeis e Turismo de 1998 a 2016.

2.1.1 Instituições Cognitivas, Normativas e Reguladoras

Scott (1995) desenvolveu um modelo cuja a ordem institucional apresenta três pilares: regulativo, normativo e cultural/cognitivo (SCOTT, 1995). Para o autor, as instituições consistem em estruturas e atividades cognitivas, normativas e reguladoras, que fornecem a estabilidade e o significado ao comportamento social. As instituições são transportadas por vários portadores de culturas, de estruturas e de rotinas, que operam em múltiplos níveis de jurisdição (SCOTT, 1995).

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transportadores e operam em vários níveis, desde o sistema mundial até as subunidades organizacionais (SCOTT, 1995). Conforme apresentado na Tabela 1, as colunas representam os três pilares, identificados como os construtores (ou apoiadores) das instituições e as linhas definem as dimensões em que os pressupostos e os argumentos variam, dependendo da abordagem dos teóricos que enfatizarão um elemento em relação aos outros.

Regulador Normativo Cognitivo

Base de conformidade Conveniência/ Oportunismo

Obrigação social

Dado como certo

Mecanismos Coercivo Normativo Mimético

Lógica Instrumentabilidade Adequabilida

de

Ortodoxia

Indicadores Regras, leis, sanções Certificação, acreditação

Prevalência, isomorfismo Base de legitimidade Sancionado

legalmente

Governado moralmente

Apoiado culturalmente, correto conceitualmente Tabela 1: Os Três Pilares das Instituições

Fonte: Scott (1995)

2.1.1.1 O Pilar Regulador

Neste pilar, a ênfase é nos aspectos normativos das instituições, caracterizada pelos processos explícitos de regulação, monitoramento e sanções. Como afirma North (1990), as instituições constrangem e regulamentam o comportamento humano (NORTH, 1990, 2005). Os processos regulatórios envolvem a capacidade de estabelecer regras, fiscalizar ou avaliar a conformidade dos outros para com elas e, se necessário, realizar sanções e/ou recompensas na tentativa de influenciar o comportamento futuro. Esses processos podem operar por meio de mecanismos difusos e informais, envolvendo os costumes, eficazes para gerar constrangimentos nos atores que os desrespeitam. Eles podem também ser altamente formalizados e a cargo das autoridades específicas, por exemplo, a polícia e os tribunais de justiça (NORTH, 1990, 2005).

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instituições, principalmente na perspectiva deste pilar regulador.

“The purpose of the rules is to define the way the game is played. The emphasis in this study is on the institutions that are the underlying rules of the game and the focus on organizations (and their entrepreneurs) is primarily on their role as agents of institutional change.” (NORTH, 2005)

Em vários aspectos, esta perspectiva de análise das instituições é mais convencional e moderada. É coerente com a visão realista social, que pressupõe que os atores têm interesses “naturais” e os perseguem de forma racional. Este ponto de vista da racionalidade enfatiza que os indivíduos são instrumentalmente motivados para fazer suas escolhas de acordo com uma lógica de custo-benefício utilitária. Explica-se por que as regras são obedecidas. Eles calculam recompensas e penalidades, quer estas venham de outros indivíduos, de organizações ou do Estado.

Scott (2005, 2008), alerta que esses institucionalistas têm um pouco de dificuldade para explicar por que as instituições emergem (SCOTT, 2005; 2008). Nesse contexto, o conceito de arranjo institucional ganha destaque, pois se trata de um acordo entre as unidades organizacionais que regem as formas como elas podem cooperar ou competir. Esses arranjos coabitam com o ambiente institucional, que define as regras e o contexto em que as atividades humanas ocorrem. As regras políticas, sociais e legais básicas estabelecem o fundamento para a produção, a troca e a distribuição. Nesse sentido, é possível fornecer uma estrutura dentro da qual seus membros podem cooperar ou, de outro lado, fornecer um mecanismo que possibilite efetuar uma mudança nas leis ou direitos de propriedade (PEUKERT, 2001; RUTHERFORD, 2004; WILLIAMSON, 1987). O pilar regulador trabalha com a abordagem mais proeminente top-down das organizações (NORTH, 1990, 2005).

2.1.1.2 O Pilar Normativo

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também designam as formas adequadas para alcançá-los. Alguns valores e normas são aplicáveis a todos os membros da coletividade; outros se aplicam apenas a tipos selecionados de atores ou posições. Essas concepções não são simplesmente antecipações ou previsões, mas são prescrições normativas das expectativas do que esses atores devem fazer. Essas expectativas são mantidas por outros atores envolvidos nessa mesma situação. Por isso, são vivenciadas como pressões externas por parte do ator focal. Além disso, e em graus variados, tornam-se internalizadas pelo ator social (SCOTT, 2005).

As regras normativas são frequentemente consideradas como uma imposição de restrições ao comportamento social, e assim elas o fazem. Mas, ao mesmo tempo, também fortalecem e permitem a ação social. As instituições funcionam com a lógica de pesos e contrapesos. De um lado, conferem aos atores sociais seus direitos; de outro, suas responsabilidades. Elas proporcionam privilégios, mas também os deveres. Conferem as licenças, todavia definem os mandatos.

Hughes (1992), ao analisar as profissões, destaca o quanto de poder e de mística está associado a esses papéis. Isso vem das licenças dadas para que determinado ator possa desenvolver suas atividades “proibidas”, por exemplo, a condenação de indivíduos à prisão ou à morte (BECKER et al., 1992). No caso desta pesquisa, a capacidade da instituição Capes reduzir a nota de um curso de pós-graduação e, até mesmo, de extingui-lo.

Outro aspecto relevante é que a perspectiva normativa para instituições enfatiza como os valores e o sistema normativo estruturam as escolhas. A ação racional é baseada no contexto social, que especifica os meios adequados para determinados fins. A ação adquire sua própria razoabilidade em termos dessas regras sociais e das diretrizes para o comportamento, de forma que as escolhas são estruturadas por meio dos valores socialmente mediados e das estruturas normativas. Os atores se conformam com essa realidade não porque ela serve a seus interesses individuais estritamente definidos, mas porque é o que se espera deles. Posto de outra maneira, é o que eles devem fazer (SCOTT, 2005).

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“Institutionalism emphasizes the endogenous nature and social construction of political institutions. Institutions are not simply equilibrium contracts among self-seeking, calculating individual actors or arenas for contending social forces. They are collections of structures, rules and standard operating procedures that have a partly autonomous role in political life.” (MARCH & OLSEN, 2005)

Analisar o comportamento como sendo orientado e governado por normas não é sugerir que ele seja irracional ou automático. Os autores afirmam que as normas são selecionadas e interpretadas. Ou seja, elas são adaptadas às exigências de uma situação particular. Contudo, os institucionalistas enfatizam que os papéis sociais e as normas não devem somente conceber os atores como subservientes das convenções sociais, mas podem também vê-los como indivíduos sensatos e capazes de se adaptarem às regras institucionais (DIMAGGIO; POWELL, 1991; MORGAN et al., 2010; POWELL, 2007)

Segundo Scott (2005), os teóricos que adotam a concepção normativa das instituições enfatizam a influência estabilizadora das crenças e das normas sociais internalizadas e/ou impostas por outros sujeitos sociais. Para os pesquisadores normativos clássicos, como Parsons (1953), as normas e os valores compartilhados foram considerados como sendo a base de uma ordem social estável. O comportamento institucional é governado moralmente (PARSONS, 1953, 1966, 1970, 1998). Por sua vez, os neoinstitucionalistas enfatizaram os efeitos estabilizadores de um conjunto diferente de regras culturais, ou seja, as definições da realidade social compartilhada. Estes pontos de vista também são defendidos pelos teóricos do pilar cognitivo (DIMAGGIO; POWELL, 1991; SCOTT, 1995; MARCH; OLSEN, 2005; POWELL, 2007; RUTHERFORD, 1999).

2.1.1.3 O Pilar Cognitivo

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Os significados surgem na interação social e são mantidos e transformados à medida que são empregados para dar sentido ao fluxo contínuo de acontecimentos. Para entender ou explicar qualquer ação, o institucionalista cognitivo considera não apenas as condições objetivas, mas também a interpretação subjetiva do indivíduo sobre elas. Cada instituição humana é, por assim dizer, a sedimentação dos significados ou a cristalização dos significados em uma forma objetiva (BERGER; LUCKMANN, 1995, 2004).

As instituições de uma sociedade tendem a refletir as estruturas fundamentais de significado estabelecidas na cultura. Por exemplo, se o individualismo e a competitividade são ideais dentro da cultura. Assim, as empresas serão obrigadas a competir e as pessoas serão julgadas individualmente. As instituições refletirão a cultura e emergirão historicamente a partir dela em um processo recíproco e dialético. Além disso, quando uma estrutura institucional patrocina uma forma particular de comportamento institucional (BERGER; REDDING, 2010).

Uma variedade de elementos cognitivos pode ser identificada. Por exemplo, as regras constitutivas que envolvem a criação de categorias e a construção de tipificações. Os indivíduos em diferentes categorias ou grupos sociais têm suas próprias ideias sobre sua identidade. Estes são os processos pelos quais as experiências concretas e subjetivamente únicas são continuamente submetidas às ordens gerais de significados, que são, objetiva e subjetivamente, reais.

“The areas of meaning are stratified. The lowest, simplest typifications, are related to facts of nature and the social world, are the foundations of different patterns of experience and action. Stacked on those typifications are schemes of action orientated by maxims of action towards higher values.” (BERGER; LUCKMANN, 1995)

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Como as regras constitutivas são reconhecidas, o comportamento individual é visto, frequentemente como motivo para refletir definições externas ou como fonte de intenções internas.

A construção social dos atores também define o que eles veem como seus interesses. Como Scott (2005) argumenta:

“Institutional frameworks define the ends and shape the means by which interests are determined and pursued. Institutional factors determine that actors in one type of setting, called firms, pursue profits; that actors in another setting, called agencies, seek larger budgets; that actors in a third setting, called political parties, seek votes; and that actors in an even stranger setting, research universities, pursue publications.” (SCOTT, 1987)

A construção social dos atores sociais não se limita às pessoas. Os atores coletivos são igualmente constituídos e se apresentam em uma ampla variedade de formas. O desenvolvimento de tais indivíduos coletivos e as especificações de suas dotações, utilidades, capacidades e identidades ocorrem ao longo de muitos anos. Mas, uma vez estabelecidas, elas podem servir como um modelo cultural para a modelagem de outras formas semelhantes.

A visão cognitiva acredita que parte da coerência da vida social se deve à criação de categorias de atores sociais, individuais e coletivos e de modos associados de agir. No lugar de se ter uma visão realista de que essas organizações variadas fazem parte de uma ordem natural, os teóricos deste pilar levam em conta a origem, a manutenção e a difusão de tais formas, assumidas como problemáticas e que precisam ser explicadas. No caso desta pesquisa, se faz necessário explicar não apenas por que um programa de pós-graduação stricto sensu é mais eficaz do que o outro ou por que alguns programas apresentam avaliações superiores pela Capes, do que os outros mas também por que algumas organizações se constituem como programas de pós-graduação stricto sensu com nota 7 e outros como programas de pós-graduação stricto sensu 3. De onde vem esses modelos organizacionais? E como eles são reproduzidos e transformados?

Para os teóricos cognitivos, a compliance ocorre em muitas circunstâncias, porque outros tipos de comportamento são inconcebíveis, porque as rotinas são seguidas, porque elas são tidas como corretas e adequadas e porque são a nossa forma de fazer essas coisas. Por sua vez, a ênfase dos teóricos normativos é no poder dos papéis normativos.

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importância das identidades sociais: as concepções de determinada sociedade e quais são as formas de ação que fazem sentido para eles em determinada situação. Em vez de focar na força constrangedora de normas, os teóricos cognitivos dão importância aos scripts. Scripts são as orientações para a construção de sentido e as escolhas de ações significativas (D’ANDRADE, 2003).

O fato em comum aos pilares regulador, normativo e cognitivo é que eles fornecem uma base para a questão da legitimidade, ainda que de maneiras distintas. Na perspectiva institucional, a legitimidade é uma condição que reflete a consonância com as regras ou leis relevantes, com o apoio normativo ou com o alinhamento cultural (SCOTT, 1995).

Apesar de os três pilares apresentarem bases relacionadas de legitimidade, estas também são distinguíveis. Nesse caso, a ênfase do pilar regulador é na conformidade com as regras, de forma que são consideradas organizações legítimas aquelas estabelecidas e que operam em conformidade com os requisitos legais ou quase-legais pertinentes. A ênfase do pilar normativo está em uma base moral mais profunda para se avaliar a legitimidade. Os controles normativos são mais prováveis de serem internalizados que os controles reguladores e os incentivos para conformidade estarão, dessa forma, mais susceptíveis de incluir as recompensas intrínsecas e as recompensas extrínsecas. Por último, a ênfase cognitiva enfatiza que a legitimidade vem da adoção de uma estrutura comum de referência ou da definição da situação. Adotar uma estrutura ortodoxa ou uma identidade a fim de se relacionar a uma situação específica é buscar a legitimidade que vem da consistência cognitiva. O que é tomado como prova da legitimidade varia de acordo com os elementos de instituições; são destaques (SCOTT, 2005).

2.1.2 As Instituições Formais e Informais

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comportamento consequente, fornecendo um quadro de sanções e de incentivos no âmbito em que os atores podem racionalmente perseguir seus interesses (HEUGENS, 2015). Tais instituições apresentam orientações autoritárias, que permitem interações entre os participantes, por meio da formação de expectativas claras de comportamento. As instituições formais incluem a lei, os ramos executivos do Estado e as iniciativas privadas reguladas. A maioria das instituições formais conta com mecanismos de aplicação de terceiros, o que implica que quando os atores sociais ignoram ou quebram as regras impostas um aparelho já constituído intervirá para detectar a violação e administrar sanções (HEUGENS, 2015).

As instituições informais são a regularidade comportamental baseada em regras socialmente compartilhadas, geralmente não escritas. Elas são criadas, comunicadas e executadas fora dos canais oficialmente sancionados (PEJOVICH; COLOMBATTO, 2008; PEJOVICH, 1995). Suas origens, segundo Pejovich (2005), datam também do início da história humana, quando os indivíduos descobriram que a formação de grupos ou à época, “dos bandos”, aumentava suas chances de sobrevivência em um ambiente hostil. Para capturar os benefícios da formação de grupos, esses indivíduos tiveram que aprender a interagir uns com os outros. Conjectura-se que muitos grupos diferentes tentaram tipos distintos de interação. Ademais, algumas formas de interação fracassaram em assegurar a sobrevivência dos grupos que a aplicaram, enquanto outros tipos foram capazes de traçar estratégias bem-sucedidas para a sobrevivência da maioria dos indivíduos dentro do grupo. Dessa forma, as regras informais têm suas origens nas experiências, nos valores tradicionais e nas crenças religiosas, na etnicidade e em outros fatores que influenciam as percepções subjetivas que os indivíduos formam para interpretar realidade. They are part of the heritage or culture which is transmitted from one generation to another via teaching and imitation (PEJOVICH, 1995).

Os comportamentos que produziram resultados de sobrevivência positivos seriam repetidos e também, marginalmente ajustados, no decorrer do tempo, à evolução das circunstâncias e transferidos de uma geração a outra. Eventualmente, eles se tornariam institucionalizados em regras informais, não necessariamente porque os membros do grupo as compreenderam, mas por causa de seu potencial de garantir a sobrevivência. Por tentativa e erro, diferentes grupos adotaram diferentes regras informais e desenvolveram seu próprio caminho.

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de forma espontânea, sobreviveram ao teste do tempo e serviram para unir gerações. Elas são transmitidas de uma geração para outra, por meio da interpretação oral da história, do ensino e da imitação. As regras informais também são chamadas de cultura e são consideradas como as portadoras da história. Elas são o repositório dos valores da comunidade, aplicados por meio de sanções, que incluem a perda de reputação, o ostracismo, a exclusão da comunidade e a punição (PEJOVICH; COLOMBATTO, 2008).

As instituições informais emergem espontaneamente como uma resposta aos problemas sociais, políticos ou econômicos; são mantidas por meio da reencenação contínua no comportamento, e não das regras formais ou dos decretos; e incluem a cultura nacional, as práticas comerciais usuais e as organizações da sociedade civil, como as ONGs (HEUGENS, 2015). Elas capturam as normas sociais mas em vez de externalizá-las e objetivá-las em regras formais, induzem os indivíduos a internalizar as normas que, em seguida, orientam suas ações. As instituições informais são reafirmadas de forma a garantir o cumprimento das normas, sem a intervenção externa, pois os atores percebem que os custos de longo prazo de violação superam os custos de curto prazo de cumprimento. Tais custos de longo prazo para os programas de pós-graduação stricto sensu incluem perdas de reputação e de prestígio ou, mesmo, a exclusão do sistema mais amplo de trocas sociais entre os acadêmicos (WHITLEY, 2003).

As instituições formais são: as leis, a Constituição, os estatutos e outras regulamentações governamentais. Eles definem o sistema político, o econômico e o de proteção. O sistema político, com sua estrutura hierárquica, o processo de tomada de decisão, os poderes e os direitos dos indivíduos; o sistema econômico com os direitos de propriedade sobre recursos escassos e o respeito aos contratos; e o sistema de proteção, que é a ação do Judiciário e da polícia. Os governos impõem regras formais por meio de sanções, como multas, prisão e execução.

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consistentes, têm relação com a tese da interação; que diz que o processo top down tem custos transacionais menores de integração com as instituições informais predominantes. Algumas regras informais se desenvolvem para reduzir os custos transacionais de se adotar essas regras e outras derivam da tradição, da ideologias e das crenças religiosas que poderiam entrar em conflito com as regras formais (PEJOVICH; COLOMBATTO, 2008).

A dimensão formal das instituições tem a ver com as regras e as normas escritas, a dimensão informal, com a cultura enquanto parte da instituição. Elas podem reforçar as regras ou não. Os atores sociais fazem isso por meio dos comportamentos de aceitação e de legitimação da regra.

2.1.3 O Processo de Legitimação

Para Scott (1995), na perspectiva institucional, a legitimidade é uma condição que reflete a consonância com as regras ou as leis relevantes, com o apoio normativo ou com o alinhamento cultural (SCOTT, 1995). Para Berger e Luckmann (2004), a legitimação é uma objetivação de sentido de “segunda ordem”. Ela produz novos significados, que servem para integrar os significados já ligados a processos institucionais díspares. A função da legitimação consiste em tornar objetivamente acessível e subjetivamente plausível as objetivações de “primeira ordem” que foram institucionalizadas. O universo institucional exige legitimação, pois é por meio dela que as variadas formas de mundo podem ser explicadas e justificadas (BERGER; LUCKMANN, 2004).

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ser legitimado como autoridade, na medida em que seu exercício é apoiado por normas sociais prevalecentes, sejam elas tradicionais, carismáticas ou burocráticas. (WEBER, 1920, 1958, 2010). De modo mais geral, Meyer e Scott argumentam que a legitimidade organizacional refere-se ao grau de apoio cultural a uma organização (DRORI; MEYER; HWANG, 2008; MEYER; ROWAN, 2006, 1977; ROWAN, 2006; SCOTT, 1995, 2008).

Esta pesquisa entende que a legitimidade vem da aceitação da norma e que há várias formas de legitimação institucional. DiMaggio e Powell (1983) identificam três mecanismos por meio dos quais as mudanças isomórficas institucionais ocorrem, cada uma com seus próprios antecedentes: i) isomorfismo coercivo; ii) isomorfismo mimético; e, iii) isomorfismo normativo (DIMAGGIO; POWELL, 1991).

O isomorfismo coercitivo está presente quando as organizações adotam formas que são institucionalizadas e legitimadas pelo Estado. Para DiMaggio e Powell (1983), o principal mecanismo de controle empregado é a coerção, pois vem de cima para baixo, ou top-down. São esses os fatores que envolvem a força do Estado e as pressões políticas, proporcionando a supervisão e o controle. Há, também, os mecanismos culturais de controle, que são capazes de impor uniformidades às organizações. A força, o medo e a conveniência são ingredientes centrais desse pilar regulativo, mas eles são temperados pela existência de normas, sob a forma quer de costumes informais ou de leis e regras formais. Um sistema estável de regras apoiado pela fiscalização e pelo poder de sanção é uma visão das instituições prevalecente.

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aqueles que desempenham tarefas semelhantes enfrentam fortes pressões advindas de um isomorfismo estrutural (DIMAGGIO; POWELL, 1991; DRORI; MEYER; HWANG, 2008; MEYER; ROWAN, 2006, 1977; ROWAN, 2006). As forças miméticas resultam do que se torna habitual, aceitas como respostas adequadas às circunstâncias de incerteza.

O terceiro fator de mudança organizacional é o normativo, que resulta, principalmente, da relevante influência das profissões e do papel da educação. Os autores interpretam a profissionalização como sendo uma luta coletiva dos indivíduos de determinada ocupação visando definir as condições e os métodos de trabalhos e estabelecendo, dessa forma, uma base cognitiva e a legitimação para sua autonomia ocupacional. As profissões estão sujeitas às mesmas pressões cognitivas e miméticas que as organizações. Além disso, enquanto vários tipos de profissional dentro de uma organização devem diferenciar-se uns dos outros, eles exibem muita similaridade com suas contrapartes profissionais em outras organizações. Em adição, em muitos casos, o poder profissional é tanto fixado pelo Estado como é criado pelas atividades das profissões (ROSSETTO; ROSSETTO, 2005).

2.1.4 O Processo de Construção Social

A análise da construção social das instituições e de sua natureza endógena demonstra que as instituições não são contratos equilibrados entre atores individuais buscando seus próprios interesses ou entre as arenas para a contenção das forças sociais. Elas são coleções de estruturas, regras e procedimentos operacionais padrão que têm um papel parcialmente autônomo na vida política (MARCH; OLSEN, 2005). Para March e Olsen (2005), uma instituição é uma coleção relativamente duradoura das regras e práticas organizadas, embutidas em estruturas de significação e recursos relativamente invariantes diante do volume de negócios dos indivíduos e relativamente resistente às preferências idiossincráticas e expectativas deles e as mudanças de circunstâncias externas. (MARCH & OLSEN, 2005).

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inarticuladas. March e Simon (1958) apontaram que os repetitivos “programas de desempenho” foram um ingrediente central representando a confiabilidade das organizações (MARCH; OLSEN, 2005; SCOTT, 1995; SIMON, 1977).

O processo de construção social obedece à lógica de adequação, que é uma perspectiva sobre como a ação humana deve ser interpretada. A ação é impulsionada por regras ou normas de comportamento consideradas adequadas, exemplares e organizadas de forma institucional. Nesse âmbito da adequação, há os componentes cognitivos e os normativos. Os indivíduos seguem as regras porque as percebem como algo natural, de direito, esperado e legítimo. Essas obrigações estão encapsuladas em um papel, uma identidade, em algum membro de uma comunidade política ou coletividade social, e estão imbricadas nas expectativas das instituições presentes nesse contexto (MARCH & OLSEN, 2008).

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A adequação das identidades, situações e regras de comportamento pode ser baseada na experiência, no conhecimento especializado e na intuição. Sua correspondência pode ser baseada nas expectativas do papel desempenhado. A correspondência também pode carregar consigo uma conotação de essencial, de modo que as atitudes, os comportamentos, os sentimentos apropriados ou as preferências relacionadas ao cidadão, ao profissional ou ao bom funcionário público serão aqueles que são essenciais para ser um bom cidadão, um bom profissional ou um bom funcionário público. Ou seja, o essencial não seria no sentido instrumental de ser necessário para executar uma tarefa ou de ser socialmente esperado, nem de se tratar de uma convenção de definição arbitrária, mas sim no sentido de que sem o qual não se pode pretender ser um cidadão, profissional ou funcionário público adequados. Na maioria das vezes, os seres humanos desempenham uma ação, tentando responder a duas perguntas elementares: Que tipo de situação é esta? O que uma pessoa do meu perfil faria em situação como esta? (MARCH & OLSEN, 2005, 2008).

O processo de construção social também é visto como permanente e contínuo nos níveis macro, meso e micro. No nível macro, a ciência, as profissões e os meios de comunicação operam para construir novas categorias, tipificações e conexões causais. No nível meso, os indivíduos operam dentro das arenas sociais particulares, tais como, nas configurações dos ambientes de trabalho e familiar e dos sistemas educacionais, que carregam com eles muitas regras culturais codificadas e rotinas sociais. E na interação cotidiana em nível micro, os indivíduos se apropriam e empregam esses quadros culturais mais amplos, mas também improvisam e inventam novos entendimentos e interpretações que norteiam suas atividades diárias. Estes sistemas de conhecimento e de regras preexistentes geram constrangimentos aos indivíduos. Ao mesmo tempo, os indivíduos também informam e capacitam esses sistemas, em um processo de mão dupla (BERGER et al., 1974; BERGER & LUCKMANN, 2004; BERGER & REDDING, 2010; GLENN & BERGER, 2000).

De acordo com Rodrigues e Child (2008), a perspectiva distingue os níveis de análises: “Analysis at macro (economy and society), meso (sector) and micro (company) levels provides for a contextual perspective, and the longitudinal time frame enables this perspective to be treated historically” (RODRIGUES; CHILD, 2008).

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programas de pós-graduação e suas equipes.

2.1.5 Processo de Adoção Cerimonial

Os indivíduos a realizam a adoção cerimonial porque os outros também o fazem. Todavia, a questão relevante nessa decisão é que eles não acreditam nas normas e regras que praticam. Algumas vezes esses atores sociais nem mesmo as aceitam mas eles a adotam cerimonialmente. Um exemplo de adoção cerimonial, pode cumprir a função latente de reforçar a identidade do grupo dissonante com a norma. Nesse sentido, os membros dispersos se reúnem para se engajar em uma atividade comum. Mas supor que tal demonstração de uma relação funcional fornece uma razão para a existência de uma prática institucionalizada é equivocada. O que está sendo discretamente transmitido nessa situação é uma concepção das razões dessa sociedade, com base em necessidades sociais imputadas.

Burns e Scapens, (2000) diferenciaram o comportamento “cerimonial” do comportamento “instrumental”. O primeiro emerge de um sistema de valores que gera discriminação entre os grupos sociais ou entre os indivíduos e preserva as estruturas de poder existentes. Já o comportamento instrumental emerge de um sistema de valores que se aplica ao maior conhecimento e ao uso das melhores tecnologias disponíveis para lidar com os problemas e melhorar as relações. O termo mudança regressiva é usado para descrever o comportamento que reforça o domínio cerimonial, restringindo, assim, a mudança institucional. De outro lado, o termo mudança progressiva descreve o deslocamento de um comportamento cerimonial para um comportamento instrumental. Tal mudança progressiva pode se tornar viável e desejável, mesmo onde há predominância cerimonial, porque a nova tecnologia pode questionar os valores cerimoniais anteriormente dominantes (BURNS; SCAPENS, 2000).

Essa dicotomia cerimonial-instrumental oferece um ponto de partida conceitual para investigar a natureza dos trabalhos da Capes que desembocam na definição escrita nos Documentos de Área dos programas de pós-graduação stricto sensu em Administração, Ciências Contábeis e Turismo que institucionalizaram a internacionalização como prerrogativa para as notas 6 e 7 desses cursos. Na conjunção desses desdobramentos, há a incorporação das dimensões do poder, exercida pela Capes nos processos de mudanças.

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considerável (regressiva), mas com pouco impacto nas posições relativas que esses vários grupos de interesses ocupam. Os desdobramentos da adoção cerimonial vão de encontro a uma institucionalização genuína, pois as normas e as regras são fracas, superficiais e relativizadas. Contudo, elas são representações teatralizadas e os atores sociais as desempenham. Ou seja, a mudança pode ser necessária (coisas terão que mudar) para manter a aparência de racionalidade e preservar o controle dos membros da organização (para que as coisas fiquem como estão).

O processo de adoção cerimonial tem sua origem, portanto, no entendimento de que o grupo precisa adotá-lo, pois esse comportamento lhes permitirá sobreviver (RUTHERFORD, 2004).

A estabilidade e a mudança também podem estar relacionadas a um outro sentido. Por exemplo, diante de uma considerável mudança no ambiente acadêmico (promovido pela Capes), a estabilidade das rotinas de publicações pode ser essencial para assegurar a manutenção de um entendimento da atividade organizacional e dar sentido às próprias ações de um ator social, como também das dos outros. Ou seja em um primeiro nível, o poder explícito, como o poder hierárquico (no caso, a Capes) ou o poder de uma forte personalidade individual dentro do programa de pós-graduação, pode ser usado para introduzir novas regras organizacionais, como a obrigatoriedade de se publicar em revistas indexadas pela Capes. Contudo, o poder estabelecido em um local da organização pode ser mobilizado para resistir a essas novas regras organizacionais. Em um segundo nível, uma utilização mais sutil de poder pode ocorrer por meio da adoção cerimonial de rotinas organizacionais que favorecem um grupo de interesse particular. Por último, em um terceiro nível, há o poder embebido nas rotinas institucionalizadas que molda as ações e os pensamentos de membros da organização, criando assim a estabilidade organizacional e, também, encapsulando o know-how organizacional (BURNS; SCAPENS, 2000; RUTHERFORD, 2004).

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regras e rotinas e em sua posterior promulgação como as formas inquestionáveis de pensar e fazer.

2.1.6 As Instituições Controladoras e as Instituições Facilitadoras

As instituições criam os constrangimentos, mas também trabalham como capacitadoras (DEEG, 2005). Tal perspectiva implica que as instituições contêm um repertório de recursos que lhes são latentes e que podem ser mobilizados em momentos críticos. Como Deeg (2005) analisa, as “instituições evoluem, não como resultado de alguma lei intrínseca, mas como resultado de como elas são usadas por atores relevantes” (DEEG, 2005). Uma mudança institucional exige uma complexidade de atores sociais interagindo nas dimensões social, política e econômica.

A questão a ser ressaltada é que, dado que esses indivíduos têm cada qual sua própria lógica, que é única e diferente das demais, torna-se um duelo coordenar um número crescente de atores. A mudança institucional representa um desafio para qualquer sistema. Szreter (2002) aponta que as configurações institucionais nacionais diferem em grande medida, dependendo de seu potencial para acumular os vários tipos de capital social. O autor distingue três tipos principais:

(i) Bonding social capital composta de conhecimento, relações sociais e redes e posições ocupadas pelos atores semelhantes. Esses atores sociais compartilham a mesma identidade e a mesma posição na divisão social do trabalho.

(ii) Bridging social capital baseia-se nos encontros de atores diferentes os quais têm raízes setoriais e orientações políticas diferentes, mas são, contudo, capazes de trocar pontos de vista, aprender uns com os outros e, até mesmo, formular programas de ações que redefinem os interesses e as oportunidades percebidas. Isso sugere que este tipo abrange uma grande variedade quanto à experiência dos atores, interesses e aspirações.

(iii) Linking social capital, é encontrado onde os atores são completamente diferente. Pode ter vários subtipos, dependendo da natureza das relações de troca entre os atores, que vão desde clientelismo a um suporte benevolente, altruísta aos atores com recursos fracos (SZRETER, 2002; PUTNAM, 2000).

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sistemas institucionais ou sua inércia, o equilíbrio entre o bonding social capital, de um lado, e o bridging e linking social capital de outro, pode ser fundamental. Se o saldo é mais favorável ao bonding social capital do que para o bridging e linking social capital, a mudança social pode ser mais facilmente bloqueada já que os atores estratégicos tendem a ser míopes ao abrigarem seus próprios interesses e a não ter os recursos intelectuais para reformular e iniciar outros modos sistemáticos de ação.

As instituições controladoras são aquelas que estabelecem as penalidades pelo não cumprimento das normas. Desse modo, elas restringem o conjunto de opções comportamentais disponíveis para os atores sociais que estão alinhados com os interesses públicos e do Estado, por meio da aplicação de sanções negativas aos comportamentos indesejáveis (North, 1990). O conceito de instituições controladoras inclui o sistema de direito, assim como as outras estruturas que asseguram a conformidade dos atores sociais, por exemplo o sistema de avaliação que a Capes submete a todos os programas de pós-graduação no Brasil, com seus os conceitos, processos e normas que devem ser seguidos pelas universidades.

As instituições facilitadoras são aquelas que colocam recursos, que fertilizam o campo até ele florescer. Elas ampliam e facilitam o conjunto de oportunidades para os atores, proporcionando-lhes o material necessário e os recursos imateriais para novas iniciativas sem os quais teriam de renunciar. A Capes é também uma instituição facilitadora na medida em que funciona como, um capacitador para as atividades acadêmicas, fornecendo diretamente recursos materiais cruciais. Elas também incluem os intermediários do mercado, tais como as agências de classificação, a mídia que divulga os programas com as maiores notas e as agências de pesquisa, que permitem a remoção de assimetrias de informação no mercado. Também podem fornecer recursos intangíveis, como legitimidade (Rao, 2002), ou um status taken-for-granted (DRORI; MEYER; HWANG, 2008; MEYER; ROWAN, 2006, 1977; ROWAN, 2006).

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3 PROCESSO DE ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Neste capítulo, caracteriza-se o fenômeno do processo de elaboração e implementação de políticas públicas pelo Estado, representado por seus mistérios e agências. Neste caso, a Capes será o foco da análise, pois o processo da internacionalização dos programas de pós-graduação é um fenômeno embebido nas universidades, e essas são regulamentadas por esta agência.

Há uma dualidade de influência a ser administrada no fenômeno da internacionalização da pós-graduação stricto sensu: o governo exerce influência nas universidades da mesma forma que é também influenciado por elas. Isso ocorre devido ao fato de que os programas de pós-graduação estão embebidos em nível macro nas políticas governamentais. Eles também estão embebidos no nível meso nas universidades. E por último, há em nível micro os programas, que representam uma unidade menor em nível de grupo. Essas dualidades que se consubstanciam no macro, meso e micro embbedenesses, acontecem no ponto de delivery, que é o serviço que se está entregando. Ou seja, os programas se constituem em um nível micro mas estão embebidos nos níveis meso e macro.

3.1 O ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

Para DiMaggio e Powell (1983), há dois tipos de agentes institucionais que exercem fortes efeitos em todos os níveis: O Estado-nação e as ocupações profissionais. Ambos se tornaram os principais racionalizadores da segunda metade do século XX. Nesse papel, substituíram o mercado competitivo, que foi o motor principal no início da racionalização organizacional (DIMAGGIO; POWELL, 1991).

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Tabela 2: As Três Gerações do Ensino Superior
Tabela 4: Campi Multinacionais das Business Schools do Catar Fonte: (KNIGHT, 2014), traduzido pela autora.
Tabela 5: Campus Multinacionais das Business Schools em Dubai
Tabela 6: Campus Multinacionais das Business Schools em Abu Dhabi  Fonte: KNIGHT, (2014), tradução da autora.
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Referências

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