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4.3 A Internacionalização das Instituições de Ensino Superior

4.3.1 As três gerações da internacionalização do ensino superior

Ao analisar a internacionalização do ensino superior, constata-se que a mobilidade acadêmica (professores, alunos e o saber) já ocorre há muito tempo. Segundo Knight (2014), no início dos anos de 1990 houve a intensificação do movimento de vários programas de universidades tradicionais e de alta reputação dos EUA, Europa Ocidental e Austrália para atender a demanda pelo ensino superior de países em desenvolvimento (KNIGHT, 2014). A Tabela 2 aponta as três gerações do ensino superior transfronteiriço.

Educação transfronteiriça

Foco Inicial Descrição

Primeira geração Mobilidade de estudantes e de professores.

Circulação de estudantes, professores para um país estrangeiro com objetivos educacionais e de pesquisa.

Estudantes: graduação completa ou curso de curta duração, pesquisa, trabalho de campo, estágios e programas de intercâmbio Faculdade: lecionar, propósitos de

desenvolvimento de pesquisa e profissional. Acadêmicos: fortalecer a colaboração internacional para a pesquisa científica Segunda geração Mobilidade do prestador de

serviço e do programa. Movimento dos programas ou das instituições/empresas entre as fronteiras

jurisdicionais para a oferta de educação e formação num país estrangeiro

Mobilidade do Programa

Twinning/geminação

Franquias

Articulated /validado

Dupla validação do diploma EaD

Mobilidade do prestador de serviço

Branch campus

Universidade Virtual

MOOCS

Fusão / aquisição

Instituições Independentes Terceira geração Education Hubs/ centros de

educação

Países atraem estudantes estrangeiros, pesquisadores,

staff, programas, prestadores

de serviço e empresas de P&D com propósitos educacionais, de formação, produção de conhecimento e inovação.

Student hub: alunos, programas e prestadores de

serviços se deslocam para fora de seu país com propósitos educacionais

Talent hub: estudantes e staff se mudam para

um país estrangeiro para propósitos

educacionais, de estágio e, no caso dos staff, pelo emprego.

Knowledge/inovation hub:

Pesquisadores, acadêmicos, instituições de ensino superior, e centros de P&D se transferem para o exterior para produzir conhecimento e inovação

Tabela 2: As Três Gerações do Ensino Superior Fonte: Knight (2014), traduzido pela autora.

A primeira geração do ensino superior transfronteiriço data dos anos de 1960 e tinha como característica principal a mobilidade estudantil. Segundo dados de 2013 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE), a mobilidade de estudantes passou de 260 mil nos anos de 1960 para 4,1 milhões em 2010. As previsões apontam para mais de 7,2 milhões em 2025 (OCDE, 2013). A primeira fase se refere aos alunos e pesquisadores que faziam todo o seu mestrado ou doutorado fora do seu país ou, em

segundo lugar, estudantes que estão participando de um programa de um semestre ou ano no exterior como parte do programa acadêmico da sua universidade de origem.

A segunda geração do ensino superior transfronteiriço representa a fase em que os programas acadêmicos, muitas vezes, com subsídios dos governos locais, constroem novas plantas no estrangeiro. Essas universidades estabelecem também parcerias com as instituições de ensino superior local, denominados Branch Campus. Por exemplo, a Singapore University of Technology and Design (SUTD) é um branch do Massachusetts Institute of Technology (MIT) com a Universidade de Singapura e St. John University of China. O MIT contribui para o desenvolvimento da capacidade de pesquisa dos estudantes, por meio do desenvolvimento de programas de investigações relevantes, usando seu corpo docente de alta reputação. É uma universidade independente, licenciada e localizada em Singapura9. O próprio site da

universidade explica que se trata de uma universidade de Singapura, mas que foi estabelecida com a colaboração do MIT. Ou seja, a ideia era evitar serem vistos como uma universidade americanizada, de modo que a cultura asiática precisaria estar fortemente presente. Por meio dessas parcerias das universidades estrangeiras com as nacionais, ofertam-se programas com titulação dupla, programas virtuais em outros países e a criação das universidades binacionais. Usando a mobilidade criada pelo programa, o estudante, dentro de seu país de origem, tem a possibilidade de ter a formação de um programa estrangeiro, a qualificação e a titulação dessa instituição de ensino que está localizada em outro país. Em 2008, a Malásia tinha 3.000 desses programas (KNIGHT, 2014). Ou seja, a internacionalização do ensino superior por meio da mobilidade do programa é uma forma robusta e, talvez, mais influente do que a tradicional mudança estudantil. Pode-se entender que esse número de 7,2 milhões, estipulado pela OCDE (2013), será ultrapassado ao se considerar essa nova modalidade de mobilidade internacional. Os Massive Open Online Courses, chamados pelo acrônimo de MOOCs, também fazem parte dessa geração (SHIN; TEICHLER, 2014).

A terceira geração do ensino superior transfronteiriço, chamada de Education Hubs (KNIGHT, 2014; SEHOOLE; KNIGHT, 2013), é maior do que a soma das partes, onde os estudantes, programas, centros de pesquisa e indústrias de conhecimento estão se mudando

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para fora do país. Esse é um processo que é cumulativo da mobilidade dos atores e dos programas e prestadores de serviços, mas inclui novos stakeholders, como os centros de pesquisa das indústrias de conhecimento. Segundo Knight (2014), a maioria das discussões feitas até então se concentra nos aspectos do ensino, mas pouca atenção tem sido dada aos aspectos da pesquisa.

Knight (2011) questiona se um hub educacional seria uma moda passageira, uma marca ou uma inovação10. O termo hub educacional está sendo usado por países que estão

tentando construir uma massa crítica de estudantes, instituições de ensino superior, programas de pós-graduação, empresas e indústrias do conhecimento e centros de ciência e tecnologia por meio de interação e engajamento em iniciativas educacionais, treinamento, produção de pesquisa científica e inovação. Os Estados têm diferentes objetivos e prioridades. Eles assumem diferentes abordagens para desenvolver-se como um centro de renome e excelência do ensino superior, experiência e economia. No entanto, dada a preocupação atual das universidades com a competitividade, a internacionalização das marcas e rankings, segundo Knight (2011), é difícil afirmar se o plano de um país de se desenvolver como um centro de educação seja apenas uma moda passageira, uma estratégia da marca ou, de fato, uma inovação. Este último ponto demanda atenção séria por parte das políticas públicas e altos investimentos (KNIGHT, 2011).

O fato é que o education hub é percebido por alguns países como um rótulo positivo. Por isso, eles o reivindicam para si, de forma a serem percebidos como um centro educacional internacional. Um exemplo desse comportamento foi o governo da Mongólia, que se autointitula um education hub, pois há uma única universidade no país, criada em parceria com a Alemanha11, chamada German-Mongolian Institute for Resources and

Technology, a qual visa suplantar obstáculos como a escassez de profissionais altamente qualificados e equipe de gestão.12 É uma parceria estratégica relevante, focada em pesquisa e

inovação tecnológica para ambos os países. Mas a Mongólia poderia ser considerada um hub educacional? Segundo Knight (2014), não. Um hub é uma localização física, mas não é

10

Educational Hub: A Fad, a Brand, an Innovation? Knight (2011).

11 GMIT German Mongolian University. http://www.gmit.edu.mn/. Acesso em 10/12/2014.

12

A Mongólia tem um dos maiores estoques mundiais de recursos minerais, como carvão, cobre, ouro, fluorita e

tungstênio. No entanto, o desenvolvimento de pesquisas científicas carece de técnica de pesquisa e capacidade organizacional para atender às necessidades da indústria e da sociedade. Fonte:

limitado a esse fato. Trata-se de um esforço planejado, e não um esforço espontâneo. Não é uma iniciativa ad hoc, nem apenas um rótulo de marca.

Atores que formam os hubs educacionais

Estudantes Prestadores de serviço do ensino superior Centros de pesquisa Indústrias do conhecimento

Tabela 3: Os Quatro Componentes dos Hubs Educacionais Fonte: Knight (2014).

Conforme demonstra a Tabela 3, para ser considerado um hub educational todas essas quatro partes devem trabalhar conjuntamente.