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2.1 As instituições

2.1.6 As Instituições Controladoras e as Instituições Facilitadoras

As instituições criam os constrangimentos, mas também trabalham como capacitadoras (DEEG, 2005). Tal perspectiva implica que as instituições contêm um repertório de recursos que lhes são latentes e que podem ser mobilizados em momentos críticos. Como Deeg (2005) analisa, as “instituições evoluem, não como resultado de alguma lei intrínseca, mas como resultado de como elas são usadas por atores relevantes” (DEEG, 2005). Uma mudança institucional exige uma complexidade de atores sociais interagindo nas dimensões social, política e econômica.

A questão a ser ressaltada é que, dado que esses indivíduos têm cada qual sua própria lógica, que é única e diferente das demais, torna-se um duelo coordenar um número crescente de atores. A mudança institucional representa um desafio para qualquer sistema. Szreter (2002) aponta que as configurações institucionais nacionais diferem em grande medida, dependendo de seu potencial para acumular os vários tipos de capital social. O autor distingue três tipos principais:

(i) Bonding social capital composta de conhecimento, relações sociais e redes e posições ocupadas pelos atores semelhantes. Esses atores sociais compartilham a mesma identidade e a mesma posição na divisão social do trabalho.

(ii) Bridging social capital baseia-se nos encontros de atores diferentes os quais têm raízes setoriais e orientações políticas diferentes, mas são, contudo, capazes de trocar pontos de vista, aprender uns com os outros e, até mesmo, formular programas de ações que redefinem os interesses e as oportunidades percebidas. Isso sugere que este tipo abrange uma grande variedade quanto à experiência dos atores, interesses e aspirações.

(iii) Linking social capital, é encontrado onde os atores são completamente diferente. Pode ter vários subtipos, dependendo da natureza das relações de troca entre os atores, que vão desde clientelismo a um suporte benevolente, altruísta aos atores com recursos fracos (SZRETER, 2002; PUTNAM, 2000).

Essa tipologia destaca a variedade de potencial de coordenação dos diversos programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil. Para prever qualquer mudança nos

sistemas institucionais ou sua inércia, o equilíbrio entre o bonding social capital, de um lado, e o bridging e linking social capital de outro, pode ser fundamental. Se o saldo é mais favorável ao bonding social capital do que para o bridging e linking social capital, a mudança social pode ser mais facilmente bloqueada já que os atores estratégicos tendem a ser míopes ao abrigarem seus próprios interesses e a não ter os recursos intelectuais para reformular e iniciar outros modos sistemáticos de ação.

As instituições controladoras são aquelas que estabelecem as penalidades pelo não cumprimento das normas. Desse modo, elas restringem o conjunto de opções comportamentais disponíveis para os atores sociais que estão alinhados com os interesses públicos e do Estado, por meio da aplicação de sanções negativas aos comportamentos indesejáveis (North, 1990). O conceito de instituições controladoras inclui o sistema de direito, assim como as outras estruturas que asseguram a conformidade dos atores sociais, por exemplo o sistema de avaliação que a Capes submete a todos os programas de pós-graduação no Brasil, com seus os conceitos, processos e normas que devem ser seguidos pelas universidades.

As instituições facilitadoras são aquelas que colocam recursos, que fertilizam o campo até ele florescer. Elas ampliam e facilitam o conjunto de oportunidades para os atores, proporcionando-lhes o material necessário e os recursos imateriais para novas iniciativas sem os quais teriam de renunciar. A Capes é também uma instituição facilitadora na medida em que funciona como, um capacitador para as atividades acadêmicas, fornecendo diretamente recursos materiais cruciais. Elas também incluem os intermediários do mercado, tais como as agências de classificação, a mídia que divulga os programas com as maiores notas e as agências de pesquisa, que permitem a remoção de assimetrias de informação no mercado. Também podem fornecer recursos intangíveis, como legitimidade (Rao, 2002), ou um status taken-for-granted (DRORI; MEYER; HWANG, 2008; MEYER; ROWAN, 2006, 1977; ROWAN, 2006).

Percebe-se que as instituições controladoras e as instituições facilitadoras não representam os extremos opostos de um contínuo, mas sim, refletem instituições diferentes, com papéis conceituais diferentes. Uma restringe o comportamento inadequado em sua visão e a outra permite os comportamentos produtivos. Os dois tipos são necessários para que uma sociedade funcione bem e tendem a variar de forma independentemente.

3 PROCESSO DE ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Neste capítulo, caracteriza-se o fenômeno do processo de elaboração e implementação de políticas públicas pelo Estado, representado por seus mistérios e agências. Neste caso, a Capes será o foco da análise, pois o processo da internacionalização dos programas de pós- graduação é um fenômeno embebido nas universidades, e essas são regulamentadas por esta agência.

Há uma dualidade de influência a ser administrada no fenômeno da internacionalização da pós-graduação stricto sensu: o governo exerce influência nas universidades da mesma forma que é também influenciado por elas. Isso ocorre devido ao fato de que os programas de pós-graduação estão embebidos em nível macro nas políticas governamentais. Eles também estão embebidos no nível meso nas universidades. E por último, há em nível micro os programas, que representam uma unidade menor em nível de grupo. Essas dualidades que se consubstanciam no macro, meso e micro embbedenesses, acontecem no ponto de delivery, que é o serviço que se está entregando. Ou seja, os programas se constituem em um nível micro mas estão embebidos nos níveis meso e macro.