JPediatr(RioJ).2016;92(2):106---108
www.jped.com.br
EDITORIAL
Daytime
urinary
incontinence:
a
chronic
and
comorbid
condition
of
childhood
夽
,
夽夽
Incontinência
urinária
diurnal:
uma
doenc
¸a
crônica
e
comorbidade
infantil
Anne
J.
Wright
a,b,c,daTheChildren’sBladderClinic,ReinoUnido
bEvelinaLondonChildren’sHospital,Londres,ReinoUnido
cGuy’sandStThomas’NHSFoundationTrust,Londres,ReinoUnido dInternationalChildren’sContinenceSociety,Chappaqua,EstadosUnidos
No artigo ‘‘Curso clínicode umacoorte de crianc¸as com sintomasdeincontinênciaurináriadiurnanãoneurogênica acompanhadaemumcentroterciário’’,Lebletal.1
caracte-rizaramumacoortede50crianc¸asatendidasemseucentro
por maisde 12 anos com queixa de sintoma principal de
incontinênciaurináriadiurnafuncional(DUI).Elesconcluem
queumsubgrupodecrianc¸ascomcaracterísticasclínicasde
hiperatividadevesical (HV), semcomorbidades
correspon-dentesde infecc¸ãodo tratourinário (ITU) e ultrassom do
tratourinárioeurofluxometrianormais,poderásertratado
semestudosinvasivosadicionais.Otempomédiode
acom-panhamentofoide4,7anoseumterc¸odogrupoapresentou
resistênciaaotratamento.
Comrelac¸ãoàscaracterísticasdogrupo,osdados
demo-gráficos, a sintomatologia e as comorbidades são muito
semelhantesaoutrosrelatadosemambientesterciáriosao
redor do mundo.2---7 Sabe-se que a incontinência urinária
diurnaémaiscomumemmeninas,8---11emrelac¸ãoàenurese
noturnae àincontinênciafecal, quesãomaiscomuns em
meninos.Aidadedeapresentac¸ãonessacoorte(médiade
7,9anos)édoisoutrêsanosapósaexpectativanormalpara
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2016.01.003
夽 Comocitaresteartigo:WrightAJ.Daytimeurinaryincontinence:
achronicandcomorbidconditionofchildhood. JPediatr(RioJ). 2016;92:106---8.
夽夽VerartigodeLebletal.naspáginas129---35.
E-mail:Anne.Wright@gstt.nhs.uk
uma crianc¸a.12 Uma grande coorte populacional no Reino
Unido acompanhada do nascimento à vida adulta jovem
possibilita a formulac¸ão de trajetórias longitudinais para
crianc¸ascomenuresediurnaentre4,5a9,5anos:86%estão
no então chamado ‘‘grupo normativo’’e não apresentam
enurese.Dos14%queapresentaramDUI,aproximadamente
metade (6,9%) apresentou trajetória de soluc¸ão chamada
‘‘postergada e atingea classificac¸ãonormal (seca) atéos
9,5anos.Aproximadamenteumquinto(3,2%)não
apresen-touenureseaos4,5anos,porémteverecaídaapósoscinco
anos e continua aapresentar enurese aos9,5 anos,e um
terc¸o (3,7%) apresentou enurese (crônica) com resoluc¸ão
mínima.13Assim,aDUIpodeserprimáriaousecundária,com
iníciopróximodequandoacrianc¸avaiparaaescola.Além
disso,há umaumentona comprovac¸ãodequeadisfunc¸ão
vesical que resultaem sintomas dotrato urinário inferior
(STUI)éumadoenc¸acrônicacomumnainfânciaquepode
permanecer na vida adulta.14,15 Assim, o reconhecimento
precoce e o tratamento adequado são essenciais na
ten-tativadelimitaramorbidezvitalícia.Háumanecessidade
de maiorconscientizac¸ão entreos profissionais dasaúde,
pais e público deque a incontinência em crianc¸as acima
decincoanosnãoénormalequepoderemosprejudicaras
crianc¸asaoacalmarospaisedizerqueelas‘‘superarãosuas
dificuldades’’.
OmarcaregistradadosintomadeHV(conformedefinido
pela Sociedade Interna de Continência) é urgência,16 que
foirelatadapor56%dessacoorte.Acorrelac¸ãourodinâmica
da HV é a hiperatividade do detrusor (HD), que ocorreu
em92%dosestudossobreurodinâmicafeitos(UDS)(n=38).
Daytimeurinaryincontinence 107
Essa falta deconcordância poderárefletir aincapacidade
deacrianc¸adescreverseussintomasadequadamenteoua
falta deconscientizac¸ão de o que a micc¸ão normal deve
causar.Tambémpodeserqueseuspaisinterpretem
incor-retamenteaurgênciacomoadiamentodamicc¸ão;12segurar
pormuitotempo(chamadoerroneamentepelosautoresde
retenc¸ãourinária)ou‘‘deixarascoisasparaaúltimahora’’.
Outros estudoscom crianc¸as e adultos também
constata-ram que urgência é um baixo indicador de fisiopatologia
subjacente.6,17 Boa concordância (85%, p<0,05) para HD
emUDSapartirdesseestudoexigiuossintomasde
urgên-cia/incontinênciajuntamentecom aumentona frequência
urinária,nenhumhistóricodeinfecc¸ão dotratourinárioe
investigac¸ões não invasivas normais por ultrassom e
uro-fluxometria. Aaplicac¸ão desses critérios aessa coorte de
crianc¸as significaria que 62% ainda exigiriam testes
inva-sivos, pois a taxa de ITU estava elevada. Isso poderá ser
garantido devido à alta taxa de refluxo vesico-ureteral
(27,8%) e aos resultados anormais da cintilografia renal
(43,3%) e destaca ainda o papel da disfunc¸ão vesical na
infecc¸ãorecorrentedotratourinário.18
O sintoma de DUI raramente ocorre isoladamente2---7
e as comorbidades nessa coorte são significativas e de
sobreposic¸ão; 70% apresentaram enurese noturna
(noctú-ria não foi relatada e pode ser um resultado posterior
da enurese precoce), 62% infecc¸ões recorrentes do trato
urinário, 62% constipac¸ão e 16% incontinência fecal.
Sin-tomas de comorbidade podem ser percebidos pelos pais
e/ou pela crianc¸a como mais angustiantes doque o DUI,
que pode estar presente com volumes menores, porém
mais ocultáveis e socialmente mais aceitáveis do que a
incontinênciafecal.Issopoderesultaremincompatibilidade
entreasexpectativasdetratamentodospaiseopontode
início do tratamento prescrito pelo pediatra. Além disso,
enquantocomorbidadesemocionaisecomportamentaisnão
foram relatadas nessa coorte, fica bem estabelecido que
a incontinência infantil está associada a essas doenc¸as e
pode afetar a gravidade e os resultados do tratamento.
Por esse motivo, a Sociedade Internacional de
Continên-cia em Crianc¸as (ICCS) recomenda que todas as crianc¸as
com incontinência sejam beneficiadas por exames ativos
para doenc¸asemocionais/comportamentais.19 Assim, para
possibilitarqueospediatrasentendamcomprecisãoa
hete-rogeneidadee acomplexidadedaincontinênciainfantil,o
ICCSdeverecomendarumalgoritmodediagnóstico
multi-axial semelhanteao conceito daestrutura dediagnóstico
multiaxial usado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de
TranstornosMentais(DSM)eoupelaClassificac¸ão
Internacio-naldeDoenc¸as(CID10).20,21Eleincorporariacaracterísticas
desintomatologia,comorbidadefísica,desenvolvimentoe
emocional/comportamental,qualidadedevida,indicadores
de gravidadee fisiopatologia subjacente, como HD,
ativi-dadedoesfíncteruretralexterno,hipoatividadedodetrusor
etc.
Comrelac¸ãoaotratamento,esseestudorelatoumelhoria
significativa em todos os STUIs no momento do
acompa-nhamento, que, em geral, foi mais longo (4,7 anos±3,2
anos)doqueo registradoemoutrosestudos.Issosedeve
parcialmenteaofatodequeénecessáriaumaabordagem
gradualparatratamentoapartirdadisfunc¸ãointestinalaté
ossintomasdiurnosenoturnos.Osautoresnãodetalhamseu
protocolodetratamentocomresultadosgraduais,porémem
umacoortedecrianc¸asdinamarquesascomDUIeHagstroem
etal.relatamqueotratamentodadisfunc¸ãointestinal
sozi-nha resultou em cura do DUI de 17%. A uroterapia (com
ousemumcronometro)resultou,então,emresoluc¸ão
adi-cionalde 73% (mais efetivo em crianc¸as mais velhascom
capacidadevesicalrelativamentemaior) efinalmente26%
de toda a coorte necessitaram de tratamento com
anti-colinérgicos,dosquais 81%responderampositivamente ao
tratamento.7AcoortedeLebl1apresentouumamaiortaxa
deresistênciaao tratamentode 32%em comparac¸ãocom
6%noestudocomcrianc¸asdinamarquesas(tempode
acom-panhamentodedoisanos)e issoprovavelmentesedeveà
exclusãodequaisquercrianc¸ascomITUdele.Outrosgrupos
tambémdemonstraram o valor da uroterapia, um
impor-tantecomponentequesignificaainstruc¸ãodacrianc¸aedos
paisquantoàscausasdaincontinência,quealivia,assim,o
pesodaculpaevergonhadeambasaspartes,2,3bemcomo
explicaosmotivosdasabordagensdetratamento.
Em resumo, essa coorte destaca várias características
dogrupo decrianc¸as queapresentamincontinência
uriná-ria diurna, ilustra importantes conceitos, pontos práticos
eprincípios.Esperamosque odiagnósticoe aintervenc¸ão
oportunoseadequadosmelhoremosefeitosdecurtoelongo
prazosobreascrianc¸asesuasfamílias.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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