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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO RODRIGO ROCHA GOMES DE LOIOLA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

RODRIGO ROCHA GOMES DE LOIOLA

RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE

FORTALEZA

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RODRIGO ROCHA GOMES DE LOIOLA

RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE

Monografia apresentada e defendida na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

FORTALEZA

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RODRIGO ROCHA GOMES DE LOIOLA

RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE

Monografia apresentada e defendida na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovada em 10/12/2007

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Prof. Sérgio Bruno Araújo Rebouças (Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

____________________________________________________ Prof. Ms. Raul Carneiro Nepomuceno

Faculdade Farias Brito – FFB

____________________________________________________ Prof. Emanuel de Abreu Pessoa

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À Bárbara de Cerqueira Fiorio, mulher que mudou minha vida para sempre.

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AGRADECIMENTOS

Escrever agradecimentos sempre é algo extremamente complicado, já que sempre acabamos esquecendo alguém que amamos e que, com certeza, não merecia ser esquecido. Procurarei, no entanto, fazer o melhor para não deixar de citar ninguém.

Inicialmente gostaria de agradecer aos meus pais, Thaís Helena Rocha Gomes e Roberto Cairo Luz Gomes, que sempre me incentivaram a estudar, a perseguir meus sonhos, a batalhar pelo inalcançável. Foram eles que primeiro me inseriram no mundo das letras, mostrando como é incrível ler e escrever, paixão essa que me ajudou a escolher essa profissão qual é a do operador do direito, em que trabalhamos escrevendo as nossas teses e analisando as de nossos colegas.

Agradeço também à Bárbara de Cerqueira Fiorio, mulher de minha vida, que mostrou ter uma paciência que Jó invejaria, sempre respondendo com sorrisos meus constantes desejos de me agarrar com os livros para poder finalizar essa monografia. É ela também uma das que mais me incentiva nos estudos, sempre tão importantes na nossa vida de eternos estudantes.

Mostro também minha imensa gratidão ao meu avô, o Deputado José Fiúza Gomes, primeiro a me mostrar as letras jurídicas e cujo exemplo como advogado me inspirou a trilhar os seus passos nesse belíssimo mundo do Direito.

Assevero meu imenso carinho pelo Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua, entidade da qual participei por quase todos os anos em que estive na Centenária, em virtude dos trabalhos que fizeram para melhorar nossa Salamanca, para que todos os estudantes tenham uma experiência educacional digna da fama de nossa Casa.

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Não poderia deixar de agradecer a Professora Ada Pellegrini Grinover, que deu importante contribuição para esta monografia, ao indicar um artigo por ela escrito, e que baseou quase todo um capitulo dos meus escritos. Pessoa de simplicidade e presteza, Grinover merece nosso aplauso.

Agradeço a todos os meus amigos, que me ajudaram a levar a vida como sempre gostei, e tornaram as coisas mundanas um pouco mais suportáveis.

Lanço também votos de reconhecimento à Ana Luisa Demoraes Campos, valorosa amiga que hoje reside na Holanda, depois de ter concluído mestrado na Sorbonne, que auxiliou com o résumé.

Mostro gratidão aos Professores Sérgio Rebouças, orientador desta monografia, Emanuel de Abreu, amigo desde a época de colégio, e Raul Nepomuceno, que, em sendo um mestre, tornou-se um amigo.

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Um pessimista vê dificuldades em todas as oportunidades. Um otimista vê oportunidades em todas as dificuldades.

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RESUMO

Tendo em vista os novos paradigmas da nossa sociedade, em que o maior descumpridor do Direito é a pessoa jurídica torna-se extremamente necessária o estudo do crime por esta perpetrado, mormente quando o mesmo tem como alvo o meio ambiente, cuja proteção é um direito de 4ª geração, ainda mais nos tempos em que vivemos, permeados pela consciência cada vez maior de que o nosso planeta está aos poucos sucumbindo diante da força poluidora crescente em todo mundo, e em que cada vez mais nos preocupamos com os destinos do nosso habitat.

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RÉSUMÉ

Ayant à l'esprit les nouveaux paradigmes de notre société, dans laquelle où la ceux qui enfreignent le plus grande menace à la loi est sont une les personnes morales, il est extrêmement nécessaire d'étudier le crime perpétré par celles-ci, surtout quand elle il se retourne contre vise à l'environnement, dont la protection est un droit de la 4e génération, spécialement dans les jours Fois comme en que nous vivons, avec la croissante sensibilisation pour la protection croissante de notre planète, qui subis en sucumbing en raison de la force pollueurs polluante qui s'accentue, augmentant l’alarme quant à l’avenir de notre dans le monde et, en ce qui nous préoccupe de plus en plus du sort de notre habitat.

Mots clés: Droit. Pénale. Responsabilité. Personne morale. Procedure penale.

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SUMÁRIO

1. Introdução ... 10

2. História da Pessoa Jurídica ... 11

3. Teorias sobre a natureza da Pessoa Jurídica ... 13

3.1. Doutrina da ficção ... 13

3.2. Doutrina da realidade... 15

3.3. Doutrina negativista ... 16

3.4. Doutrina da instituição ... 16

3.5. Teoria sobre a Pessoa Jurídica adotada no Brasil ... 17

4. A Lei de Crimes Ambientais ... 19

5. DAa possibilidade da Pessoa Jurídica de Direito Privado pode cometer crime? 23 6. DAa possibilidade da Pessoa Jurídica de Direito Público Interno pode cometer crime? ... 3332

6.1. Considerações Preliminares ... 3332

6.2. Mérito da questão ... 3635

6.3. Adequação das penas às pessoas jurídicas de Direito Público ... 4039

6.4. Co-autoria ... 4140

7. A Problemática Processualística na Lei de Crimes Ambientais ... 4342

7.1. Lacunas da lei e integração ... 4342

7.2. As normas constitucionais de garantia ... 4443

7.3. Acusação determinada e coerente ... 4544

7.4. Representação e citação ... 4746

7.5. Competência e procedimento ... 4847

7.6. Interrogatório da Pessoa Jurídica ... 4847

7.7. Habeas Corpus. ... 5251

7.7.1. Pequeno histórico do habeas corpus no mundo ... 5251

7.7.2. Pequeno histórico do habeas corpus no Brasil. ... 5554

7.7.3. Possibilidade de aplicação do instituto do habeas corpus em favor da Pessoa Jurídica. ... 5655

8. Conclusão ... 6160

REFERENCIAS ... 6261

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1. Introdução

O tema ora tratado mostra-se de grande importância no contexto atual, em que vemos, de um lado, grandes empresas alavancando o crescimento nacional e mundial e, de outro lado, a coletividade preocupada com o impacto ambiental proporcionado pelo crescimento desenfreado e perigoso, que, por vezes, destrói de forma irresponsável o meio ambiente.

A principal discussão levantada neste trabalho será sobre a possibilidade da Pessoa Jurídica, seja ela de Direito Público ou de Direito Privado, poder delinqüir, e como se dará seu processamento.

Para tanto, precisaremos discutir os aspectos da imputação penal. Debateremos o principio segundo o qual societas delinquire non potest, esclareceremos se a Pessoa Jurídica pode se conduzir, de tal sorte que possa responder pelos seus atos, e discutiremos a possibilidade da Pessoa Jurídica de Direito Público ser responsabilizada penalmente.

Falaremos também da processualística para julgamento da Pessoa Jurídica, onde deverá ser resguardado a todo custo a ampla defesa e o contraditório, em nome do próprio Estado Democrático de Direito, e finalizaremos abordando a possibilidade de ser impetrado habeas corpus em favor do ente moral.

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2. História da Pessoa Jurídica

Para bem avançarmos nesse tema, se faz mister uma análise histórica da responsabilização penal da pessoa jurídica, bem como de sua criação.

O principio dessa responsabilidade surge no Direito Romano. Para ilustrar tal afirmação, adiante colocamos lição de Mirian Cristina Generoso Ribeiro Crispin:

Naquela época, podia ser exercida a acusação contra o município, que tinha o status de corporação mais importante. A título de exemplo tem-se o fato de que quando o "coletor de impostos" fizesse cobranças indevidas, enganando contribuintes e com isso locupletando-se, possível era a actio de dolus malus contra o município. Uma vez comprovada a responsabilidade do agente público, então denominados "coletores de impostos" os moradores lesados da cidade seriam indenizados. A partir desse entendimento, ganhou corpo no Direito Romano a existência de capacidade delitiva das corporações.

(CRISPIN, 2001)

Dessa forma, resta comprovado que o Direito Romano já possibilitava a responsabilização da Pessoa Jurídica, que então eram meramente chamadas de corporações.

Na Idade Média, observa-se que as corporações começam a ter mais relevância no contexto social.

Nessa época ainda não existia o conceito de Pessoa Jurídica ainda formado, mas o de corporação, que nada mais era do que o conjunto das pessoas que a compunham. Só havia responsabilização da corporação se esses membros, agindo conjuntamente, praticassem ato criminalmente relevante. Se essa ação fosse individual, a responsabilidade recaia sobre o integrante da corporação que o tivesse praticado.

Segundo Crispin, “no período canônico, fase em que os direitos não pertenciam aos seus fiéis, mas sim a Deus, foi aceita a capacidade jurídica da universitas em separado aos de seus membros.” (CRISPIN, 2001).

Nessa época foi desenvolvida a idéia de que os titulares do direito eclesiástico não são os membros da comunidade religiosa, mas Deus, que por aqueles se faz

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representar. Pela primeira vez houve um rompimento do conceito jurídico de pessoa e de sua idéia real, dando origem à Pessoa Jurídica e, por uma ficção jurídica, lhe conferindo capacidade.

A partir daqui, a Pessoa Jurídica passa a ser considerada como pessoa ficta, entendimento semelhante ao de Savigny, esposada em sua teoria da ficção, do século XIX. Tal orientação perdurou até o final do século XVIII, quando entraram em cena as idéias do Iluminismo e do Direito Natural, que se traduziram em recusa de qualquer responsabilidade penal coletiva, conduzindo, necessariamente, à responsabilização individual.

Cezar Roberto Bitencourt discorre sobre a época da seguinte maneira:

"Os autores, dentre os quais destaca-se Malblanc, passaram a sustentar a impossibilidade de manter-se a teoria da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Malblanc negava tanto a capacidade delitiva da pessoa jurídica como sua capacidade de entender a aplicação da pena.[...] A consagração do princípio societas delinquere non potest, ao contrário do que sustentam alguns autores, não decorreu da importância da teoria ficcionista da pessoa jurídica de Savigny, que negava capacidade de vontade e, por conseqüência, a capacidade delitiva da pessoa jurídica, na medida em que essa ficção não foi obstáculo aos canonistas e pós-glosadores que admitiam a responsabilidade penal da pessoa jurídica. [...] Essa negação de responsabilidade, adotada de plano pela doutrina penal, foi igualmente recepcionada pelo próprio Feuerbach que, segundo sustentava, mesmo com a deliberação unânime da corporação, seria impossível a responsabilidade penal, posto que, nesse caso, não estaria atuando de acordo com a finalidade da associação, mas com finalidade distinta do seu desiderato."

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3. Teorias sobre a natureza da Pessoa Jurídica

Para bem podermos analisar a responsabilidade penal da Pessoa Jurídica, mister é determinar sua natureza.

Em verdade, a definição de pessoa jurídica é por demais tormentosa no Direito.

Para o nosso trabalho, adotaremos o agrupamento de opiniões feito por Silvio de Salvo Venosa, em sua obra Direito Civil – Parte Geral, que enumera as seguintes doutrinas, que passaremos logo em seguida a analisar:

1. Doutrina da ficção;

2. Doutrina da realidade;

3. Doutrina negativista e

4. Doutrina da instituição.

3.1. Doutrina da ficção

Segundo aqueles que advogam a teoria da ficção, os direitos são prerrogativas concedidas apenas ao homem, e que as mesmas tem como pressuposto a vontade capaz de deliberar, assim como o poder de ação.

Para esses teóricos, tendo em vista o que foi acima dito e que apenas a pessoa natural tem existência física e psíquica, somente o homem pode ser sujeito de direitos e, quando se atribui direitos a outro tipo de pessoa, trata-se de simples ficção, fruto da mente humana.

Sendo assim, a personalidade jurídica carece dos requisitos psíquicos para a imputabilidade penal, já que não possui consciência e vontade próprias, não podendo, por conseguinte, ter capacidade penal, sendo esta transmitida a seus

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dirigentes, que estão de fato a cometer estes crimes. É justamente com base nesse pensamento esposado por Savigny que é cunhado o postulado segundo o qual societas delinquire non potest1.

A pessoa jurídica é, portanto, obra do direito positivo, restringindo seu âmbito de ação apenas às relações patrimoniais.

Segundo Kelsen (apud VENOSA, 2004, p. 259), pessoa, em si, não significa realidade alguma, mas sim um modo de exercer direitos por meio de normas que incidem sobre o que se entende por pessoa. Sendo assim, para Kelsen, a pessoa é centro das imputações normativas, não havendo de se fazer distinção entre Pessoa Física e Pessoa Jurídica, pois ambas são criações do Direito.

Então, pela tese kelseniana, o conceito de pessoa em geral é tão só um recurso fictício para o raciocínio jurídico.

Para Kelsen, às vezes a pessoa jurídica é personificação de uma ordem parcial, como em uma associação e outras vezes é personificação de uma ordem total, como no Estado. Para esta grande mente do Direito, os deveres e direitos das Pessoas Jurídicas não são mais do que deveres e direitos de homens naturais, que tem sua conduta regulada, posto que não possam dispor indistintamente dos bens e direitos da personalidade jurídica.

Assim diz o grande mestre:

Quando se diz que a ordem jurídica confere a uma corporação personalidade jurídica, isso significa que a ordem jurídica estatui deveres e direitos que têm por conteúdo a conduta de indivíduos que são órgãos e membros da corporação constituída através de um estatuto e que esta situação complexa pode ser descrita com vantagem, de maneira relativamente mais simples, com o auxílio de uma personificação do estatuto constitutivo da corporação.

(KELSEN, Hans apud VENOSA, Silvio de Salvo, 2004, P. 259/260).

Mas nem a teoria defendida por Kelsen, de extrema concisão lógica que é, está a salvo das criticas críticas que podem ser lançadas contra a doutrina da ficção.

Senão vejamos. O próprio Estado é sujeito de direitos, capaz de adquirir, possuir e transferir bens, de litigar, etc. Sendo o Estado uma pessoa jurídica, há de se indagar quem o investe de tal responsabilidade. Para os defensores dessa teoria,

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nos quais se inclui Savigny, o Estado, como uma necessidade primária e fundamental, tem existência natural.

3.2. Doutrina da realidade

Também denominada de doutrina da realidade objetiva ou orgânica, a doutrina da realidade considera a pessoa jurídica como realidade social, sustentando que a vontade, pública ou privada, é capaz de criar e dar vida a um organismo que passa ele mesmo a ter vida própria e independente de seus membros.

Assim dizia o saudoso mestre Clóvis Beviláqua:

A pessoa jurídica, como sujeito de direito, do mesmo modo que do ponto de vista sociológico, é uma realidade, é uma realidade social, uma formação orgânica investida de direitos pela ordem jurídica, a fim de realizar certos fins humanos.

(BEVILÁQUA, Clóvis apud VENOSA, Silvio de Salvo, 2004, P. 260).

A vontade da pessoa jurídica, segundo a teoria ora em comento, difere da de seus dirigentes, comportando-se, portanto, de forma diferente à vontade de seus representantes e, por isso mesmo, sendo penalmente capaz. Interessante consideração faz Marcello Caetano ao dizer que, se olharmos para a natureza da vontade, nos é claro que está será uma faculdade humana. Por outro lado, se atentarmos à sua função, podemos distinguir a vontade individual da vontade coletiva, o que nos parece ser uma colocação extremamente coerente e bem construída, e, verdadeira.

Uma outra teoria, a da “realidade técnica”, merece comento neste ponto. Vicente Rao refere-se a esta doutrina como dominante entre os modernos autores franceses. Segundo essa corrente, a pessoa jurídica é real, mas dentro de uma realidade que não se equipara à das pessoas naturais. Para essa teoria, embora seja o ser humano centro fundamental de interesse e vontade a quem o Direito reconhece personalidade, ele não pode cumprir todas as finalidades a que se propõe se não se unir a outros. Essa união formará um ente que não é ficto, mas

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que existe numa “realidade técnica”, e que tem sua vontade distinta da simples junção de vontades de seus componentes.

A teoria da realidade técnica vem a ser uma verdadeira junção entre a teoria da ficção e da realidade orgânica, tendo em vista que admite a validade de ambas.

3.3. Doutrina negativista

Para os negativistas, sequer existe a Pessoa Jurídica, mesmo que ficta. Para estes teóricos, só existem no Direito seres humanos, sendo estes os únicos a terem a si atribuídas qualquer personalidade.

Para alguns autores desta teoria, a pessoa jurídica mascara uma propriedade coletiva, tratando-se de uma forma especial de propriedade, que tem em si mesma sua razão de ser e que se fundamenta no grupamento de indivíduos a quem a propriedade pertence.

Essa identificação da propriedade coletiva com a pessoa jurídica complica ainda mais a problemática da natureza jurídica, pois é evidente que o patrimônio deve ter como referência uma coletividade, mas a mesma não pode ser confundida com seus membros integrantes.

3.4. Doutrina da instituição

Segundo essa doutrina, existem na realidade social diversas realidades institucionais, que formam uma estrutura hierárquica. Uma instituição dá idéia de empresa que se desenvolve, realiza e projeta. A vida interior de uma Pessoa

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Jurídica se faz por meio de seus órgãos diretores. Ao agir em nome da empresa, a pessoa age como a Pessoa Jurídica em si.

Quando a idéia de empresa se firma na consciência das pessoas de tal forma que elas passam a atuar com plena responsabilidade dos fins sociais, a “instituição” adquire personalidade moral. Quando essa idéia permite unificar a atuação das pessoas de tal forma que essa atuação se mostra como exercício de poder juridicamente reconhecido, a instituição adquire personalidade jurídica.

Como bem podemos observar, essa doutrina se furta a declarar algo sobre a existência de fato da Pessoa Jurídica.

3.5. Teoria sobre a Pessoa Jurídica adotada no Brasil

Aqui no Brasil é adotada a doutrina da realidade. Para chegar a tal conclusão, basta observar a dicção do art. 20 do Código Civil de 1916, que rezava, ipsi literis, que “as pessoas jurídicas tem existência distinta da dos seus membros.”.

Já o art. 40 do Novo Código Civil apregoa que “começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado” com a inscrição do ato constitutivo no registro competente.

Dessa forma, podemos observar que em nosso país, se adota a teoria da realidade objetiva para as Pessoas Jurídicas de Direito Público e da realidade técnica para as de Direito Privado.

Apesar dessa diferença, ambas têem conduta, e, portanto, se comportam de forma dirigida, e mais, com uma intenção diferente da do conjunto de seus membros, tendo uma verdadeira vontade própria, sendo, portanto, capaz de delinqüir. No sentido da existência distinta entre sócios e a Pessoa Jurídica, colacionamos a jurisprudência a seguir:

EMENTA: EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CHEQUE EMITIDO PELA PESSOA JURÍDICA. ILEGITIMIDADE DO SÓCIO, CUJO PATRIMÔNIO NÃO É DE SER CONFUNDIDO COM A

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EMPRESA, POIS, TRATANDO-SE DE SOCIEDADE POR QUOTA DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, NÃO SE PODE FALAR EM CONSTRIÇÃO DE BENS PERTENCENTES AO ACERVO PATRIMONIAL DE SEU SÓCIO QUOTISTA, NA MEDIDA EM QUE A PESSOA JURÍDICA TEM EXISTÊNCIA DISTINTA DA DE SEUS MEMBROS. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70014932412, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elaine Harzheim Macedo, Julgado em 04/05/2006).

(GRIFOS NOSSOS)

EMENTA: REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. CONTRATO VERBAL. EMPRESA CONSTITUÍDA. AÇÃO AJUIZADA PELO SÓCIO EM FACE DA PESSOA JURÍDICA. ILEGITIMIDADE ATIVA. PRELIMINAR ACOLHIDA. EXTINÇÃO DO PROCESSO. As pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros e a representação daquelas em juízo é feita por quem os respectivos estatutos designarem (arts. 20 do CCB e 12, inc. VI, do CPC). É parte ilegítima para propor ação de indenização e cobrança de comissões pertencente à empresa representante juridicamente constituída, a pessoa física do sócio. RECURSO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70005341896, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Claudir Fidelis Faccenda, Julgado em 11/12/2002).

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4. A Lei de Crimes Ambientais

Após sete anos de tramitação no Congresso Nacional, foi sancionada a tão esperada Lei de Crimes Ambientais, que entrou em vigor, nos aspectos penais, a partir de 30/03/1998. Ela é resultado do possível, num país em que quase tudo, infelizmente, passa pelo balcão da barganha e do lobby dos poderosos. Assim, quando já aprovado o seu projeto na Câmara dos Deputados, ele teve que sofrer, de afogadilho, umas outras alterações, ditadas pelo próprio Executivo, ante as pressões dos grandes produtores agrícolas. Banidos, de véspera, os pontos essenciais que atingiam a dita classe, como, por exemplo, o que previa reclusão de até quatro anos para certos danos contra a flora, ao presidente da República coube apenas vetar, salvo poucas exceções, as imprecisões legais contidas no texto final da Lei. Entretanto, no conjunto, a Lei é de bom quilate, caracterizando-se como um diploma normativo moderno, dotado de regras avançadas, estabelecendo coerentemente quase todas as condutas administrativas e criminais lesivas ao meio ambiente, sem prejuízo das sanções civis, já existentes em outras leis específicas.

Antes, as regras para os crimes ambientais estavam embrenhadas num confuso palheiro de leis, geralmente conflitantes entre si. Agora, a nova lei sistematizou adequadamente, numa só ordenação, as normas de direito penal ambiental, possibilitando o seu conhecimento pela sociedade e a sua execução pelos entes estatais. Contudo, mesmo no âmbito penal, nem todos os atos lesivos à natureza, foram abrangidos pela nova lei, como era a intenção original de seus idealizadores. Assim, muitas normas do Código Penal, da Lei de Contravenções Penais e do Código Florestal permanecem em vigor, como é caso, respectivamente, do delito de difusão de doença ou praga, de poluição sonora e de proibição da pesca de certos animais marinhos, entre outros.

Para Miguel Sales, a referida lei, lapidada por juristas de renome, assemelha-se, no seu formato, ao Estatuto da Criança e do Adolescente e ao Código de Defesa do Consumidor, que são leis de terceira geração, visando promover a qualidade de vida e a dignidade humana, num País cheio de contrastes e marginalização social, ter leis boas é ótimo, é um bom passo. Mas não basta parar aí. A norma é apenas

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um ponto de partida. Para a sua efetividade, é necessário, igualmente, a adoção de outras medidas destinadas a institucionalizar os órgãos responsáveis pela preservação ambiental, pois os atuais estão carentes de toda a sorte de recursos. Veja-se, por exemplo, o caso de Roraima, em que se demonstra a incapacidade governamental de apagar o fogo que devora vários trechos do coração da floresta amazônica - o qual não é só decorrente da estiagem, mas também reflete a falta de prevenção do poder público em relação às nossas reservas ecológicas. Para a promoção do desenvolvimento e a proteção do meio ambiente, é preciso vontade política eficaz, não resumida apenas na retórica, aliás sempre repetida, notadamente às vésperas das eleições.

Curioso, é o veto do presidente da República ao art. 81 da Lei em comento - que previa a sua vigência imediata - , ancorado no argumento de que ela teria de ser amplamente divulgada ao público, para poder alcançar os seus objetivos. Não obstante, a lei começou vigorar à mingua da prometida publicidade - ao contrário do que ocorreu, acertadamente, com o novo Código de Trânsito. Patente está a contradição entre o discurso e a prática do governo em relação ao trato das questões ambientais. Ademais, a esse respeito, as entidades responsáveis pela preservação da natureza só agem até um certo limite, mesmo porque muitas das decisões emanadas do próprio Planalto são arrefecidas pelo grito mais forte do poder econômico nacional e estrangeiro - agora não só aliados, mas também globalizados.

De qualquer sorte, a Lei com os seus 82 artigos (incluindo-se os vetados), distribuídos em oito capítulos, regulamenta o artigo 225 da Constituição - esta, na esfera do meio ambiente, uma das mais avançadas do mundo. E surgiu, mais por pressões dos países ricos, em suas preocupações com a Amazônia, as condições climáticas da Terra e as substâncias que ameaçam a sua frágil camada de ozônio.

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diplomas legais. Passou a punir com pena de até cinco anos quem dificultar ou impedir o uso público das praias - situação que é comum ao longo da zona costeira. Corrigiu distorções existentes no Código de caça, como a que tipificava de crime inafiançável, com alta punição, o fato de um simples camponês abater um animal silvestre para o consumo; enquanto os imensos latifúndios, pulverizados com agrotóxicos, ficavam isentos de sanção penal, mesmo que houvesse a dizimação de um ecossistema por inteiro.

A recente lei, em suas imposições, além de tipificar penalmente inúmeras outras condutas como lesivas à natureza, adota princípios ramificados nas principais convenções mundiais sobre o meio ambiente, no encalço de sua preservação e na busca de um progresso economicamente sustentável. Porém, é preciso cautela na sua aplicação, pois desde que não se agrida realmente a natureza, devemos utilizar a madeira, o minério, a caça, a pesca e outros recursos naturais. Não se deve esquecer que a maioria do nosso povo é pobre e o extrativismo pode se tornar forma eficiente de despistar a fome que os acomete.

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empresas de grande porte, tornando-se a pena apta para cumprir as funções de reprovação e prevenção geral e especial. Dentro desse mesmo critério, é verdade, também é prevista a prestação pecuniária como pena restritiva de direito (art. 8º, IV).

A lei prevê também para as pessoas jurídicas outras espécies de sanções, tais como as próprias penas restritivas de direitos, previstas a suspensão parcial ou total de suas atividades, a interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, e, a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações (art. 22, incisos I, II e III respectivamente). A suspensão será aplicada quando a pessoa jurídica não estiver obedecendo às disposições legais ou regulamentares relativas ao meio ambiente (§ 1º); a interdição quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar (§ 2º); a proibição de contratar como Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações, penas que não poderão exceder o prazo de dez anos (§ 3º).

O artigo 23 prevê como pena restritiva de direito a prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica, a qual será executada pelo custeio de programas e de projetos ambientais (inciso I); execução de obras de recuperação de áreas degradadas (inciso II); manutenção de espaços públicos (inciso III) e, contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas (inciso IV).

A mais grave das sanções para a pessoa jurídica está contemplada pelo artigo 24: a liquidação forçada, aplicada essa pena quando a pessoa jurídica é constituída ou utilizada, com o fim, preponderantemente, de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido na lei ambiental. Seu patrimônio, diz o artigo citado, será considerado instrumento de crime, e como tal, perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

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5.Da possibilidade da Pessoa Jurídica de Direito Privado cometer crime A Pessoa Jurídica de Direito Privado pode cometer crime?

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A resposta mais condizente com a nossa realidade jurídica é a positiva. Justamente por essa existência distinta, a qual abordamos anteriormente, é que ela pode delinqüir, muito embora, para a configuração do crime, necessária é a ação de uma pessoa física. Nesse sentido se pronuncia o Superior Tribunal de Justiça:

CRIMINAL. RESP. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. ACUSAÇÃO ISOLADA DO ENTE COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. DEMONSTRAÇÃO NECESSÁRIA. DENÚNCIA INEPTA. RECURSO DESPROVIDO.

I. A Lei ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou a prever, de forma inequívoca, a possibilidade de penalização criminal das pessoas jurídicas por danos ao meio-ambiente.

III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como forma mesmo de prevenção geral e especial.

IV. A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na suposta incapacidade de praticarem uma ação de relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades.

V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal.

VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seu administrador ao agir em seu nome e proveito.

VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.

VIII. "De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante legal ou contratual ou de seu órgão colegiado.".

IX. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos,

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liquidação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica.

X. Não há ofensa ao princípio constitucional de que "nenhuma pena passará da pessoa do condenado...", pois é incontroversa a existência de duas pessoas distintas: uma física - que de qualquer forma contribui para a prática do delito - e uma jurídica, cada qual recebendo a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva.

XI. Há legitimidade da pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da relação processual-penal.

XII. Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado foi denunciada isoladamente por crime ambiental porque, em decorrência de lançamento de elementos residuais nos mananciais dos Rios do Carmo e Mossoró, foram constatadas, em extensão aproximada de 5 quilômetros, a salinização de suas águas, bem como a degradação das respectivas faunas e floras aquáticas e silvestres.

XIII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.

XIV. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa jurídica é a própria vontade da empresa.

XV. A ausência de identificação das pessoa físicas que, atuando em nome e proveito da pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, inviabiliza o recebimento da exordial acusatória.

XVI. Recurso desprovido.

(REsp 610.114/RN, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 17.11.2005, DJ 19.12.2005 p. 463)

Importante lição nos é passada pelo voto proferido pelo Ministro Gilson Dipp no citado acórdão:

A incriminação dos verdadeiros responsáveis pelos eventos danosos, no entanto, nem sempre é possível, diante da dificuldade de se apurar, no âmbito das pessoas jurídicas, a responsabilidade dos sujeitos ativos dessas infrações. (...) A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais surge, assim, como forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como forma mesmo de prevenção da prática de tais crimes, função essencial da política ambiental, que clama por preservação.

(REsp 610.114/RN, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 17.11.2005, DJ 19.12.2005 p. 463)

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Segundo Paulo de Bessa Antunes, a Constituição Federal de 1988 ressalta duas realidades distintas: a) realçar a responsabilidade pessoal e intransferível daqueles dirigentes empresariais que, utilizando-se de empresas, causaram danos ao meio ambiente e b) estabelecer penalidades apropriadas para as empresas que, rotineiramente, ajam em desacordo com a legalidade vigente.

Segundo o autor supra, não pode haver responsabilização do ente moral posto que o Direito Penal brasileiro é fundado no principio da subjetividade do agente e na pessoalidade das penas, e que uma aplicação de pena à sociedade empresária acarretará em penalização de terceiros, de forma indireta. Data venia, poderíamos achar diversas penas indiretas aplicadas a outrem que não os criminosos tradicionais. O pai que vê seu filho preso, o filho que se vê desprovido de um pai, a família destruída pelo encarceramento, a empresa de caráter pessoal que estará fadada à falência com a prisão de seu dono, entre outras. Ademais, a CF/88 é clara ao admitir a criminalização do ente moral, e in claro cessat interpretatio.

Pela possibilidade da aplicação da pena à pessoa jurídica, também colacionamos a seguinte jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 5ª Região:

PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. ARTIGO 43, III DO CPPB. DENÚNCIA QUE NARRA EM TESE CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE (POLUIÇÃO DE RIO COM DEGRADAÇÃO DA FAUNA E FLORA NAS SUAS PROXIMIDADES). ARTIGO 225, PARÁGRAFO 3º DA CF/88 C/C ARTIGO 54 DA LEI 9.605/98. CRIME, EM TESE, DE PERIGO E DE RESULTADO. PENA RECLUSÃO OU MULTA. IMPOSSIBILIDADE DA RESPONSABILIZAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA. ATOS DE PESSOAS FÍSICAS. AUSÊNCIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA NA PEÇA EXORDIAL. MANUTENÇÃO DO DECISUM SINGULAR.

1 - CAPACIDADE PENAL É O CONJUNTO DE CONDIÇÕES EXIGIDAS PARA QUE UM SUJEITO POSSA TORNAR-SE TITULAR DE DIREITOS OU OBRIGAÇÕES NO CAMPO DO DIREITO PENAL.

2 - A RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA, EM MATÉRIA AMBIENTAL, ENCONTRA PREVISÃO NOS ARTIGOS 225, PARÁGRAFO 3º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NO ARTIGO 3º DA LEI 9.605/98.

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PRÉ-DETERMINADA PELO ORDENAMENTO JURÍDICO COMO INAFASTÁVEL: O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO(ARTIGO 225, CAPUT, DA CF/88).

5 - O CRIME DESCRITO NA EXORDIAL PODE SER ANALISADO COMO CRIME DE RESULTADO E CRIME DE PERIGO, VEZ QUE É CRIME CAUSAR POLUIÇÃO EM NÍVEIS TAIS QUE RESULTEM DANOS À SAÚDE HUMANA, COMO, TAMBÉM, É CRIME CAUSAR POLUIÇÃO QUE POSSA RESULTAR DANOS À SAÚDE HUMANA.

6 - NÃO OBSTANTE A DENÚNCIA NARRAR CRIME EM TESE, INEXISTE NA REFERIDA PEÇA ELEMENTOS QUE POSSIBILITEM A CARACTERIZAÇÃO DO TIPO DO CRIME, ENTRE ELES INDICAÇÃO DAS PESSOAS FÍSICAS QUE PUDESSEM OU DEVESSEM RESPONDER PELOS FATOS ALI NARRADOS, MORMENTE QUANDO A PENA COMINADA AOS CRIMES ALI DESCRITOS TEM PENA DE RECLUSÃO E MULTA, IMPONDO-SE, DE TAL SORTE, A CONFIRMAÇÃO DA DECISÃO SINGULAR, POR FALTAR CONDIÇÃO EXIGIDA PELA LEI PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL.

7 - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO IMPROVIDO.

(RES 341/RN, Desembargador Federal PETRUCIO FERREIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 09.10.2001).

(GRIFOS NOSSOS)

Alguns penalistas tradicionais não aceitam a responsabilização penal da pessoa jurídica, posto que ela não tem comportamento próprio, manifestando-se apenas por seus dirigentes. Aníbal Bruno, citado por Marcos André Couto Santos, diz que:

(...) Sujeito ativo do crime é o homem que o pratica. Só ao ser humano se reconhece a capacidade de delinqüir. Em verdade a pessoa moral é uma realidade jurídica, criada pela lei, que transforma em unidade um agrupamento de pessoas reunidas para determinado fim e à qual o concede o regime jurídico capacidade de direito e obrigações. No Direito Privado, às corporações e fundações pode ser assim atribuída capacidade de direito. No Direito Penal, a situação porém é diversa. O fulcro em que assenta o Direito Penal Tradicional é a culpabilidade, cujo conceito depende de elementos biopsicológicos que só na pessoa natural podem existir. A própria especialização da pena a cada caso concreto há de ter em consideração a personalidade do delinqüente, que é um elemento de índole naturalista-sociológica, impossível de existir em uma entidade puramente jurídica como são as pessoas morais. São considerações que tiram todo fundamento à idéia de capacidades desses entes jurídicos de serem sujeitos de fatos criminosos.

(BRUNO, Aníbal apud SANTOS, Marcos André Couto, 2004).

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beneficiados com o relaxamento dos trabalhos de investigação; 3) O principio da humanização das sanções seria violado também, já que a Constituição Federal trata da aplicação da pena referindo-se sempre às pessoas físicas e não aos entes coletivos; 4) O principio da personalização da pena seria violado porque referir-se-ia à pessoa, à conduta humana de cada pessoa; 5) O tempo do crime, já que quando o legislador previu o momento do crime, o fez com base numa conduta humana, ou seja, uma atividade final peculiar às pessoas naturais, não prevendo a possibilidade de pessoas jurídicas cometerem ilícitos penais; 6) O lugar do crime, tendo em vista não ser possível estabelecer o local da atividade em relação às pessoas jurídicas que tem diretoria e administração em várias partes do território nacional. Ainda que se pretendesse adotar a teoria da ubiqüidade, lugar do crime é o do dano, haverá ainda que se transpor a dificuldade em definir onde foram praticados os atos de execução; 7) Ofensa a princípios relativos à teoria do crime, em especial na caracterização da culpabilidade, imputabilidade e tipicidade.

Perceba que as criticas elaboradas por Dotti são de conteúdo meramente formal, apegadas a um Direito Penal fundamentalmente individualista. A realidade empírica e o mundo dos fatos reagem a todas estas críticas de cunho formal, demonstrando a necessidade de responsabilidade criminal dos entes morais.

Diversos doutrinadores, tais como Paulo Affonso Leme Machado e Toshio Mukai afirmam que as pessoas jurídicas devem ser responsabilizadas penalmente, em virtude dos extensos danos econômicos e ambientais por elas causados, se tornando hoje os principais criminosos, não podendo ficar abrigadas pelo manto da inimputabilidade penal. Sobre isso, bem fala Marcellus Polastri Lima:

Ora, as razões de ordem prática, para adoção da responsabilidade penal das pessoas jurídicas cada vez mais se faziam presentes, com a proliferação das mesmas e das modalidades de delitos econômicos por elas praticados. Por outro lado a responsabilidade penal das pessoas físicas que as integram tem sido inoperante, não tendo as penas aplicadas aquelas efeito persuasivo quanto ao ente jurídico.

(LIMA, Marcellus Polastri apud SANTOS, Marcos André Couto, 2004)

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O caráter ético da sanção penal é o principal empecilho à admissão da idéia da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Aduz-se que os entes coletivos não são dotados de capacidade de entendimento do conteúdo da pena, resultando prejudicada a função retributiva e preventiva, assim como a aptidão re-socializadora, da sanção penal.

Com efeito, as pessoas jurídicas, embora constituam uma realidade, em princípio não seriam entes dotados da capacidade de entender o caráter punitivo da sanção penal. Ocorre que seus órgãos o são. Ora, se a lei dispõe que a vontade da pessoa jurídica é expressa por seus órgãos, essa vontade pode ter relevância penal, e as pessoas físicas que integram o ente coletivo têm efetivamente a capacidade de entendimento tanto da conduta criminosa como da sanção conseqüente, cujo caráter ético ficaria dirigido aos entes integrantes da pessoa jurídica. Se são os órgãos que podem, na pessoa jurídica, formar a vontade criminosa e praticar a ação (que é a vontade e a ação do próprio ente), são eles que devem entender o caráter ético da sanção. A periculosidade da empresa identifica-se nos órgãos que a compõem, indiscutivelmente. Assim sendo, essa periculosidade deve ser combatida – e a re-socialização tentada – nas próprias partes componentes da pessoa jurídica, as quais são dotadas de entendimento.

Essa compreensão é plenamente aceitável se considerarmos que os órgãos são parte da pessoa jurídica, e a vontade e o entendimento pertinente a eles identifica-se com a vontade e o entendimento da própria pessoa jurídica. É claro que uma coletividade não pode entender, nem tem vontade. É por isso que foram criados órgãos para querer e entender em nome da pessoa jurídica.

A par disso, as medidas aplicáveis cumprem a função retributiva e preventiva da pena. A retribuição se faz presente no momento em que se busca, por exemplo, uma prestação pecuniária não apenas para reparar o dano causado, mas que desfalque o patrimônio do ente de modo a representar uma efetiva punição. A prevenção geral, por sua vez, deriva dessa própria punição, apta a inibir os órgãos de outras empresas de praticarem crimes do ente pelo qual atuam. A prevenção especial, por último, expressa-se em várias medidas que efetivamente impedem a reincidência, protegendo-se a sociedade de novos atentados aos bens jurídicos. Veja-se, por exemplo, o caso da imposição de um administrador judicial (embora essa medida tenha-se mostrado, na prática, de reduzida eficácia), da dissolução temporária ou definitiva, da interdição temporária de direitos, da imposição de multa, dentre outras medidas.

Como observa Laura Zuñiga Rodriguez:

“Si las normas penales que protegen bienes jurídicos colectivos se dirigen fundamentalmente a empresas, es posible y necesario colegir que éstas deben considerarse comprendidas en el supuesto de hecho de estos delitos, pues de lo contrario, la norma perdería buena parte de su función de motivación y sus efectos preventivos” .

Poder-se-á reconhecer certo artificialismo nessa concepção, mas ela surge de uma busca da construção de um sistema que atenda às necessidades de ordem prática sem fugir em demasia dos pressupostos tradicionais. Mantêm-se, assim, as figuras tradicionais, adaptando-as à realidade da pessoa jurídica.

Refira-se, ainda, a discussão acerca da natureza das sanções aplicadas em alguns Estados às pessoas jurídicas, que tem ocupado sobremaneira os estudos doutrinários. Trata-se da questão de saber se medidas como a dissolução da empresa ou a interdição temporária de direitos, por exemplo, são efetivas sanções jurídico-penais, ou meras medidas de caráter administrativo.

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modelo relativo a sanções impostas por autoridades administrativas tem diversos inconvenientes, conforme já destacado). O importante, é sempre essencial deixar claro, é um sistema diferenciado, dada a falência do modelo atual. Rosario Wong ensina que:

“El sistema sancionatorio proprio de las personas jurídicas (PENAL O ADMINISTRATIVO) que se propone entonces como alternativa de solución, no debe diferir de los objetivos tendientes a aplicar una solución realmente intimidatoria, pero dirigida especial y directamente a la persona jurídica” . Referimos essa possibilidade de tratamento da matéria sem deixar de considerar nossa posição anteriormente ventilada de que, se as partes da pessoa jurídica têm capacidade de entendimento do caráter ético da sanção, a própria pessoa jurídica pode ser objeto de imputação penal. Assim sendo, não excluímos a possibilidade de a lei impor uma sanção penal a uma pessoa jurídica.

(REBOUÇAS, Sérgio Bruno Araújo, 2006).

Queremos aqui discordar concordar comde nosso orientador em um ponto:. nNão cremos que a pena aplicada à pessoa jurídica esteja desprovida de caráter re-socializador. É que o entendimento da entidade moral se faz através do próprio entendimento dos seus órgãos diretores, e a mudança de pensamento destes, seja pela sua substituição por eventual administrador ou pelas penas a eles cominadas em conjunto, acarretará a mudança da linha de condução da empresa.

Para um estudo mais aprofundado sobre a imputação da pessoa jurídica, tiremos importante lição da obra de Hans Kelsen:

Às vezes, a doutrina societas non delinquire potest (uma associação não pode cometer crime) baseia-se no fato de que uma pessoa juridica não pode ter uma mente culpada, significando isso o estado mental que constitui a culpabilidade, já que a pessoa jurídica, não sendo uma pessoa real, não pode sequer ter uma mente. Este argumento não é conclusivo. A regra de mens rea não é desprovida de exceções. A responsabilidade absoluta não está excluída, mesmo no Direito criminal moderno. Além disso, se é possível imputar um ato físico executado por um ser humano à pessoa jurídica, apesar de esta não possuir corpo, deve ser possível imputar atos psíquicos à pessoa jurídica, mesmo não tendo esta uma alma. Se o Direito estabelece uma sanção criminal contra uma pessoa jurídica apenas sob a condição de que o seu órgão tenha agido de forma intencional e maldoso, então é perfeitamente possível dizer que a pessoa jurídica deve ter uma mente culpada para ser punida. A imputação de uma pessoa jurídica é uma elaboração jurídica, não a descrição de uma realidade natural. Não é, portanto, necessário empreender a inútil tentativa de demonstrar que a pessoa jurídica é um ser real, e não uma ficção jurídica, a fim de provar que delitos, e especialmente crimes, podem ser imputados à uma pessoa jurídica.

(KELSEN, Hans, 1998, P. 151)

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praticado no interesse e benefício da empresa, não sendo necessariamente o mesmo de cunho financeiro.

Pelo que podemos ver, além de ser cientificamente permitida a responsabilização do ente moral, é verdadeiro clamor social para uma efetividade da política de preservação do meio ambiente, posto que por muitas vezes sejam essas mesmas Pessoas Jurídicas as que mais agridem o meio natural, de forma irresponsável e inconseqüente.

Destaque-se que tal responsabilização de que ora tratamos já vem sendo discutida e acatada a um tempo bastante razoável, conforme se pode observar das conclusões do Congresso da Associação Internacional de Direito Penal realizada em Bucareste em 1929:

Constatando o crescimento contínuo e a importância das pessoas morais e reconhecendo que elas representam forças sociais da vida moderna; considerando que o ordenamento legal de qualquer sociedade pode ser lesado gravemente, quando a atividade das pessoas morais viola a lei penal, o Congresso emite o seguinte voto: 1º) que se estabeleçam no direito interno medidas eficazes à defesa social contra as pessoas morais, nos casos de infrações perpetradas com o fim de satisfazer ao interesse coletivo de tais pessoas ou realizadas com meios proporcionados por elas e que engendram, assim, sua responsabilidade; 2º) que a imposição à pessoa moral de medidas de defesa social, não deve excluir a eventual responsabilidade penal individual, pela mesma infração, de pessoas físicas que administrem ou dirijam os interesses da pessoa moral, ou que tenham cometido infração por meios proporcionados por estas.

(Voto do Congresso da Associação Internacional de Direito Penal realizada em Bucareste em 1929 apud SANTOS, marcos André Couto, 2004)

Ademais, vários ordenamentos jurídicos já adotam a responsabilização penal da pessoa jurídica. Renato de Lima Castro faz interessante colação de legislações estrangeiras. Senão vejamos

No direito holandês, a responsabilidade penal da pessoa jurídica foi introduzida no Direito Penal Econômico nos idos de 1950, tendo a lei de 23 de junho de 1976 estendido o princípio a todo o Direito Penal. Nesta legislação, permite-se ao Ministério Público perseguir simultaneamente a pessoa física e a pessoa coletiva, assim como organismos desprovidos de personalidade jurídica e pessoas coletivas de direito público.

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responsabilidade apenas encontra limite nas excepcionais hipóteses que, em razão da natureza do delito, refutam sua admissibilidade (homicídio, adultério, etc.).

Nos Estados Unidos, assim como nos demais países da Common Law (Canadá, Austrália, Escócia, etc.), adota-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica. É importante consignar que naquele país a pessoa moral pode ser responsável por toda infração penal que sua natureza lhe permita praticar, sendo digno de registro, ainda, que se imputa à empresa as infrações culposas praticadas por um empregado no exercício de suas funções, ainda que não exista qualquer vantagem para o ente coletivo, assim como os crimes dolosos praticados por um executivo de nível médio.

Na Dinamarca, o Código de 1930 não previu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas diversas leis posteriores foram admitindo esta espécie de responsabilidade. Incumbe ao Ministério Público optar contra quem oferecerá a acusação (pessoa física, jurídica ou ambas), conforme as provas carreadas.

Na França, após a reforma do Código Penal, a responsabilidade penal da pessoa jurídica é plenamente admitida.

No Japão, também se admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, baseado na teoria de Gierke sobre a real responsabilidade dos entes coletivos.

Em Portugal, em que pese algumas referências legislativas indicarem uma tendência progressista do legislador ordinário, nomeadamente com a edição dos Decretos-lei 630-76 e 187-83, foi a instituição do Decreto-lei 28, de 20 de janeiro de 1984, que consagrou a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Por fim, a Itália, Espanha e República Federal da Alemanha resistem em aceitar a imputação penal do ente coletivo, em que pese adotarem a responsabilidade destas pessoas em sede administrativa.

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7.6. Da possibilidade da Pessoa Jurídica de Direito Público Interno cometer crimeA Pessoa Jurídica de Direito Público Interno pode cometer crime?

6.1. Considerações Preliminares

Antes de respondermos aà pergunta supra, necessário se faz definir Estado.

Segundo Paulo Bonavides, existem 3 acepções de Estado, quais sejam a filosófica, a jurídica e a sociológica.

Segundo a acepção filosófica, no dizer de Hegel, o Estado é a “realidade da idéia moral”, a “substância ética consciente de si mesma”, a “manifestação visível da divindade”, havendo uma síntese do espírito objetivo, o valor social mais alto, que concilia Família e Sociedade.

Partindo para a acepção jurídica, vemos Kant, que diz que o Estado é “a reunião de uma multidão de homens vivendo sob as leis do Direito”. Por obvio tal definição não é completa. Como diz Del Vecchio, tal conceito serviria para um município, província ou penitenciária.

Burdeu faz algumas considerações mais interessante ao afirmar que “o Estado se forma quando o poder assenta numa instituição e não num homem” e que “o Estado é a generalização da sujeição do poder ao direito; por uma certa despersonalização”. Assim é que Bonavides, ao desenvolver Burdeu, afirma que “o Estado só existirá onde for concebido como um poder independente da pessoa dos governantes”.

Pela acepção sociológica de Estado escreve Oppenheimer que este, pela essência, não passa de uma instituição social imposta por um grupo vitorioso ao vencido, com a finalidade de organizar o domínio do primeiro sobre o segundo e proteger-se contra rebeliões e invasões externas.

Também parte da acepção sociológica o conceito marxista de Estado. Marx e Engels tinham o Estado como um fenômeno passageiro, que surgia como fruto do

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aparecimento da luta de classes, sendo fadado a desaparecer. Para Marx o poder político era “o poder organizado de uma classe para opressão de outra”.

Diante de tais esclarecimentos, nos parece ser o Estado um ente independente da vontade e das pessoas de seus dirigentes, assim como o é a Pessoa Jurídica de Direito Privado, e que é criado como forma de monopolizar o uso da força.

Também se deve ter em mente que o Estado tem o dever de seguir e de realizar a norma jurídica, que deve ser interpretada de modo a satisfazer o interesse coletivo.

Num momento inicial, a função básica do Estado era manter a segurança e a paz dentro de um grupo social determinado. Posteriormente, com revolução soviética e as grandes guerras mundiais, o Estado passa a ter um papel ativo na promoção de políticas públicas, visando assegurar a saúde, educação, habitação, desenvolvimento sustentável, entre outros.

Entretanto, apesar da visão de Estado Paternalista muito comum entre nós, o ente estatal também comete arbitrariedades, agredindo direitos individuais e coletivos que deveriam a rigor proteger.

Primeiramente tinha-se a idéia de que o Estado por nada poderia ser responsabilizado, bem demonstrada pela máxima the king can do no wrong2.

Posteriormente surge a possibilidade da responsabilização do funcionário do Estado em solidariedade ao próprio ente estatal, mas só nos atos considerados de mera gestão, não nos atos de império.

O primeiro passo para a elaboração da teoria da culpa administrativa adveio da França, no famoso caso Blanco, ocorrido em 1873, em que a menina Agnes Blanco foi atropelada por uma vagonete da Companhia Nacional de Manufatura do Fumo ao atravessar uma rua na cidade de Bourdeaux. Seu pai promoveu ação civil de indenização, com base no principio segundo o qual o Estado é responsável pelos atos de seus agentes que causam danos a terceiros. Suscitado o conflito de competência entre a jurisdição comum e o contencioso administrativo, o Tribunal de Conflitos decidiu que a lide deveria ser solucionada pelo tribunal administrativo, por

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se tratar de apreciar a responsabilidade decorrente de funcionamento do serviço público.

A partir daí começam a surgir as teorias publicistas da responsabilidade do Estado: a teoria da culpa administrativa e a do risco, que se desdobram em teoria do risco integral e risco administrativo.

A teoria do risco baseia-se no principio da igualdade dos ônus e encargos sociais: assim como os bônus decorrentes da atuação estatal se dividem por todos, também devem ser divididos os prejuízos sofridos por alguns membros da sociedade. Quando uma pessoa sofre um ônus maior do que o suportado pelos demais, rompe-se o equilíbrio entre os encargos sociais. Para restabelecer esse equilíbrio o Estado deve indenizar o prejudicado, utilizando recursos do erário público.

Segundo a teoria do risco, substitui-se a culpa pelo nexo de causalidade entre o funcionamento do serviço publico e o prejuízo sofrido pelo administrado. É indiferente que o serviço tenha funcionado bem ou mal. Essa é a chamada teoria da responsabilidade objetiva.

Conforme supracitado, a teoria do risco se divide em duas: teoria do risco administrativo e teoria do risco integral. A primeira admite as causas excludentes da responsabilidade estatal e a segunda não.

Segundo o que vimos, a responsabilização do Estado evoluiu desde a total irresponsabilidade até a responsabilidade objetiva. Nada mais natural que o próximo passo fosse a criminalização do ente estatal.

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Sérgio Ferraz critica o Estado, afirmando que a solução para o problema da poluição não passa simplesmente na conscientização do povo, mas sim em os entes estatais evitarem destruir o meio ambiente.

Ademais, até mesmo as licenças e autorizações concedidas pelo Poder Público podem causar danos ambientais, ainda mais no nosso país, em que o relatório de impacto do meio ambiente – RIMA – não é vinculante, mas meramente informativo. Por exemplo, na concessão da autorização de uma fábrica, o funcionário do órgão ambiental do Estado age com toda a perícia e prudência exigidas, estabelecendo padrões e limites de emissão segundo os conhecimentos atuais da ciência. Mesmo assim, as emanações da fabrica vêm a causar danos em algumas plantações de frutas na região. O Estado é co-responsável pelo dano provado pela atuação não culposa de seu agente: o ato administrativo é legal, mas leva a responsabilidade objetiva do Estado pois houve um dano especial de determinados indivíduos. Naturalmente a responsabilidade, nesse exemplo, será meramente a civil, não a penal, posto que esta ultima não pode ser de cunho objetivo, mas subjetivo.

6.2. Mérito da questão

O questionamento que se coloca é se há novos óbices, além dos já elencados com relação à Pessoa Jurídica de Direito Privado, para a imputação penal das Pessoas Jurídicas de Direito Público interno.

Para primeiro nos ajudar a responder esta pergunta, devemos observar o art. 3º da lei 9.605/98. Tal dispositivo reza que apenas se admite a responsabilidade penal e administrativa se a infração for cometida “por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”.

Observe que, se for interpretada de forma mais ampla, a expressão “entidade” acolhe os entes morais de que tratamos.

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À vista do artigo supracitado, e do art. 225, §3º da Constituição Federal, leciona Marcos André Couto Santos que:

O legislador brasileiro não diferenciou, entre as variadas vestes de uma pessoa jurídica, a qual espécie se aplicaria a nova legislação. Onde este não distingue, não compete ao interprete distinguir, segundo os postulados básicos de hermenêutica jurídica. Neste diapasão, todas as pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que eventualmente venham a praticar fatos delituosos previstos na Legislação Ambiental, através de seus órgãos, poderão integrar o pólo passivo de uma relação jurídica processual-penal. (SANTOS, Marcos André Couto, 2004).

Assim, na hipótese de um ente público cometer crime ambiental a sanção penal aplicada deve ser aplicada de forma condizente com a natureza da entidade, conforme abordaremos mais adiante.

Contra esta tese, alguns doutrinadores apontam que a legislação ordinária e a Carta Magna devem ser interpretadas de forma harmônica com os princípios constitucionais e do direito em geral. Nestes termos, a partir dos princípios infere-se que as pessoas jurídicas de direito publico, segundo defendem, não poderiam ser responsabilizadas penalmente porque a sua aplicação seria inviável e poderia trazer maiores prejuízos à própria coletividade que é representada pelo Estado.

No nosso sentir, os doutrinadores que afirmam essa impossibilidade pelos argumentos acima elencados encontram-se enganados. É que, conforme abordamos posteriormente, existem sanções penais que serão perfeitamente aplicáveis e não trarão mal algum, isso quando não trouxerem benefício, à coletividade.

Outro argumento em favor desta tese é que, segundo Walter Rothenburg, as pessoas jurídicas de direito público devem ser penalizadas igualmente às de direito privado, sob pena de afronta à isonomia.

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Outra tese forte é que a penalização destes entes serviria como freio e imputaria maior cuidado por parte dos mesmos e de seus administradores para com o meio ambiente.

Posto que é necessário ao tipo que o crime ambiental seja cometido no interesse da pessoa jurídica, devemos perseguir se pode ser atingido o interesse estatal a partir do cometimento de uma infração.

Alguns doutrinadores afirmam que não é possível a responsabilização penal das pessoas jurídicas de direito público, pois o cometimento de um crime jamais poderia beneficiá-las.

Data vêenia, cremos que tal afirmação não pode prosperar, e explico por quê.

Suponhamos que o Governo do Estado do Ceará resolva fazer uma escola e uma delegacia de policia em área que faz parte de floresta considerada de preservação permanente. De fato, a conduta de destruir ou danificar tal área é prevista na lei de crimes ambientais, no art. 38 3, mas, ao transgredir a regra, o Estado cometeu ilícito penal. O Estado estaria a se beneficiar dessa conduta ilícita, posto que dela provem uma melhora na segurança pública e segurança daquele bairro. Observe que, pelas regras de lógica argumentativa, uma premissa só pode ser de fato verdadeira se não apresentarmos qualquer situação que a refute. Como mostramos uma situação que vai de encontro a afirmação de que o Estado não pode se beneficiar com o ilícito penal, podemos perfeitamente concluir que esta premissa é falsa.

Outra linha interessante a se perseguir é se pode o próprio Estado perseguir-se criminalmente.

Supondo que o Ministério Público Federal apresente denúncia por crime ambiental em face da União. Tal processo irá obviamente ser processado frente à Justiça Federal.

3 Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:

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Pois bem. Acontece que a União não é formada apenas pelo Poder Executivo, inclusive por força do art. 2º da Constituição Federal de 1988 4. Dele também fazem parte, de forma indissociável, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário.

Partindo disto, Guilherme José Purvin de Figueiredo conclui ser inadmissível que o Estado-Juiz julgue e condene a União, pois, a rigor, o magistrado passaria a integrar um órgão de um Estado que não cumpre a lei.

Ora, se assim fosse, não poderia o Estado ser autor também de qualquer ilícito civil, pois o Juiz, ao proferir a sentença, reconheceria pertencer a um Estado que descumpre o Direito. Não obstante, aqui mesmo na comarca de Fortaleza, temos sete Varas da Fazenda Pública, especializadas em processar e julgar o Estado, tendo em tramitação no mês de junho de 2007 um total de 50.870 processos, segundo dados da Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Ceará 5.

Vê-se então reconhecida a possibilidade do Estado cometer ato ilícito, que compõe a antijuridicidade, um dos requisitos do crime.

Como a maioria da doutrina assevera, para ser configurado o crime é necessário que a conduta seja típica, antijurídica e culpável. No dizer de Damásio de Jesus, típica é uma conduta que é prevista na lei penal como infração, antijurídica é aquela atitude típica que não se encontra albergada pelo art. 23 do Código Penal 6, indo, portanto, contra o ordenamento jurídico, e culpável é a conduta que encontra reprovação por ligar o agente a um ato ilícito e antijurídico.

Parece-nos ser bem claro que o simples fato do pólo passivo da demanda criminal ser o Estado não exclui qualquer dos requisitos do crime, posto que todos

4 Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

5 Divisão do número de processos por Vara da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza, no mês de Junho de 2007:

1ª Vara da Fazenda Pública: 3.538 processos; 2ª Vara da Fazenda Pública: 5.182 processos; 3ª Vara da Fazenda Pública: 12.338 processos; 4ª Vara da Fazenda Pública: 4.770 processos; 5ª Vara da Fazenda Pública: 9.993 processos; 6ª Vara da Fazenda Pública: 2.749 processos; 7ª Vara da Fazenda Pública: 12.300 processos. 6 Exclusão de ilicitude

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

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