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CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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Academic year: 2021

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DINÂMICA DAS CATARATAS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

O PAPEL DO CINEMA NA PROJEÇÃO DE PODER DO ESTADO:

UMA ANÁLISE DO DISCURSO ESTÉTICO E DAS RELAÇÕES

INTERNACIONAIS NOS FILMES O TRIUNFO DA VONTADE

(1934) E A CONQUISTA DA HONRA (2006)

FOZ DO IGUAÇU

2017

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O PAPEL DO CINEMA NA PROJEÇÃO DE PODER DO ESTADO:

UMA ANÁLISE DO DISCURSO ESTÉTICO E DAS RELAÇÕES

INTERNACIONAIS NOS FILMES O TRIUNFO DA VONTADE

(1934) E A CONQUISTA DA HONRA (2006)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário União das Dinâmicas em Foz do Iguaçu como pré-requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Professor Dr. Rafael Mandagaran Gallo

FOZ DO IGUAÇU

2017

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O PAPEL DO CINEMA NA PROJEÇÃO DE PODER DO ESTADO:

UMA ANÁLISE DO DISCURSO ESTÉTICO E DAS RELAÇÕES

INTERNACIONAIS NOS FILMES O TRIUNFO DA VONTADE

(1934) E A CONQUISTA DA HONRA (2006)

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado com louvor para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais, no curso de Relações Internacionais, do Centro Universitário Dinâmica das Cataratas de Foz do Iguaçu.

Membros da Banca

______________________________ Prof. Dr. Rafael M. Gallo (orientador) Centro Universitário Dinâmica das Cataratas/ UDC

______________________________ Prof. Me. Leila Yatim

Centro Universitário Dinâmica das Cataratas / UDC

______________________________ Prof. Me. Marco Bogado

Universidade Federal da Integração Latino-Americana / UNILA

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poder. A partir da Segunda Guerra Mundial, diversos Estados começaram a se utilizar de uma outra modalidade de poder: o poder simbólico. Esse novo instrumento de poder está inserido na propagação de poder das agendas dos Estados, mas de uma maneira sutil Adolf Hitler foi um dos percussores juntamente com os Estados Unidos a se utilizarem desse mecanismo. Essa temática tem ganhado espaço nos debates das Relações Internacionais, dado isso esta pesquisa abordará como Hitler se utilizou de elementos audiovisuais para que a Doutrina Nazista pudesse ser vendida através do Documentário “O Triunfo da Vontade” de 1934 e em contrapartida o longa-metragem “A Conquista da Honra” de 2006, uma produção Hollywoodiana, é um exemplo de como até contemporaneamente, o uso desses elementos ainda são utilizados para que um Estado se mantenha em evidência no Sistema Internacional. É possível destacar o cuidado com o uso dos elementos estéticos visuais para que a mensagem política possa ser transmitida através do entretenimento. Com o discurso de Bourdieu (2010) sobre o Poder Simbólico é possível obter uma análise do contexto artístico do cinema, o qual é considerado um grande meio de entretenimento para a sociedade. No entanto pesquisas apontam que atualmente diversos países disseminam suas ideologias através de elementos simbólicos como filmes, tecnologia, discurso em veículos midiáticos entre outros como forma de manutenção de poder. Em síntese, a presente pesquisa buscou analisar (tanto pelo viés do discurso estético, quanto pela perspectiva das Relações Internacionais) o contexto histórico dos filmes propostos acordando com o conceito de Poder Simbólico descrito por Bourdieu (2010).

Palavras-chaves: Cinema, Relações Internacionais, Semiologia, Soft-Power, Poder

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World War II, several states began to use another form of power: symbolic power. This new instrument of power is inserted in the power propagation agendas of the States, but in a subtle way, Adolf Hitler was one of the pioneers along with the United States to use this mechanism. This theme has gained space in the debates of International Relations, therefore this research brings as Hitler used of audiovisual elements so that the Nazi Doctrine could be sold through the Documentary "The Triumph of the Will" of 1934 and in contrast the feature film " Flags of Our Fathers"of 2006, a Hollywood production, is an example of how to the present days, the use of these elements still being used for a state to remain in evidence in the International System. It is possible to emphasize the care with the use of the visual esthetic elements so that the political message can be transmitted through the entertainment. With Bourdieu's (2010) discourse on Symbolic Power it is possible to obtain an analysis of the artistic context of cinema, which is considered a great entertainment medium for society. However, research indicates that currently many countries disseminate their ideologies through symbolic elements such as films, technology, discourse in media vehicles among others as a way of maintaining power. In summary, the present research sought to analyze the historical context of the proposed films according to the concept of Symbolic Power described by Bourdieu (2010), both for the bias of esthetic discourse and for the perspective of International Relations.

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Com amor infinito, carinho e muita saudade, dedico este trabalho In Memória: ao meu Tio Dedé e aos meus vovôs Geraldo e Osmar. Eu sei que estariam orgulhosos de me verem chegar até aqui.

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Agradeço antes de tudo a aquele que me deu força, paciência para chegar até aqui: Deus. Sem minha fé a ele não conseguiria realizar esse feito.

Aos meus pais, Elimar Divino Ferreira e Suelí Regina Tavares L. Ferreira que com um amor incondicional não mediram esforços para me proporcionarem a melhor educação possível e pelo infinito apoio que sempre me deram e sei que sempre estarão do meu lado, não importando a situação na qual eu esteja. Amo vocês incondicionalmente.

Aos meus irmãos, Ana Carolina Lopes Ferreira e João Gabriel L. Ferreira.

Agradeço ao Rafael Camargo, nossa história começou exatamente no início dessa etapa, e por mais que passamos por diversas situações, você esteve presente, mesmo nos momentos de sorrisos ou choros, eu pude contar com você para desabafar e me ajudar a seguir em frente.

Ao meu orientador, Professor Dr. Rafael Mandagaran Gallo que disponibilizou seu precioso tempo com orientações e incentivos para que esse tema pudesse ganhar forma e ser desenvolvido, me ajudou quando eu mesma não acreditava mais em minha própria capacidade, aqui está meu muitíssimo obrigado.

Diversas pessoas passaram por minha vida durante todo o período de faculdade, aos meus excelentíssimos mestres: Alexandre Andreatta, Bruno de Oliveira, Fábio Aristimunho Vargas, Flávio Buononato, Leila Yatim, Rafaela de Souza e mais uma vez, Rafael Mandagaran Gallo onde contribuíram para minha formação, compartilhando conhecimentos, apoios e incentivos, deixo o meu mais sincero agradecimento a vocês por participarem da minha trajetória.

À Banca examinadora composta pelo meu orientador Prof. Dr. Rafael M. Gallo, Prof. Me. Leila Yatim e Prof. Me. Marco Bogado (UNILA) por me incentivarem com sábias palavras e por todas as sugestões apresentadas para que este trabalho pudesse

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Agradeço aos meus familiares e amigos por me incentivarem com palavras, conselhos e orações. Essa conquista não é somente minha, é de vocês também, Pai, Mãe, Ana Carolina, Rafa, Tia Nany, Vó Olívia, João Luís, Bill, vocês estiveram presentes em todas as circunstâncias e seria ingratidão da minha parte não agradecer vocês.

Faço um agradecimento especial a uma grande amiga que ganhei nesse período de formação e que levarei para a vida: Nayara Luz Silvestre, que apesar de todas as circunstâncias desfavoráveis, nossa amizade se manteve firme e tenho certeza que assim permanecerá. Aqui está o meu muito obrigado por cada momento que passou, me ajudou, me aconselhou durante essa jornada.

Encerro minhas palavras com um texto de Eduardo Soares Viela:

“Acredite na vida, mesmo que ela te traga dor, ainda que os homens tragam guerra e matem inocentes, e mesmo que ninguém o ame. Pois a dor, o medo, e a solidão também são sentimentos da natureza humana. Mas acredite na vida, porque no final os sentimentos ruins irão passar, e os bons momentos iram permanecer em sua memória.

Acredite nas pessoas, principalmente naquelas que fazem parte das nossas vidas, aquelas que acreditamos que são anjos, que nos preenche de momentos de amor, felicidade e paz. Mas, sobretudo, acredite em você mesmo, faça com que a cada manhã você se torne melhor, não só para você, mas para o mundo.

Acredite no amor, o presente de Deus, o sentimento supremo da vida. O amor nasce nas coisas simples, vive delas e às vezes morre por elas...

Tudo isso na busca incessante da felicidade, o sentimento que se encontra dentro de você mesmo, e que apenas você pode despertar.

Ser feliz é saber aproveitar todas as coisas que você tem hoje na vida. Apenas desperte e viva feliz”.

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“Como eu sei que não estou enganado em pensar que vejo o mundo lá fora? Como eu sei se não inventamos juntos um mundo que existe (como um todo discernível de várias partes) somente através dos, ou inseparavelmente aos significados compartilhados que nós damos a ele? Mesmo se as minhas proposições sobre o mundo fossem verdadeiras, não seria a verdade sobre o mundo dependente das propriedades linguísticas dessas proposições?”

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INTRODUÇÃO

...13

2. A INDÚSTRIA DA MÍDIA

...17

2.1 A Origem da Arte cinematográfica...20

2.2 A Sintaxe da Linguagem Audiovisual...21

2.2.1 Elementos Básicos da Comunicação Audiovisual...23

3. RELAÇÕES INTERNACIONAIS E O CINEMA

...28

3.1 A Importância do Cinema nas Relações Internacionais...29

3.2 A Cultura como Instrumento de Poder...31

3.2.1 A Propagação da Doutrina Nazista...34

3.3 Poder simbólico versus Soft Power...40

4. O TRIUNFO DA VONTADE E A CONQUISTA DA HONRA:

DISCURSO ESTÉTICO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

...48

4.1 O Triunfo da Vontade...48

4.2 A Conquista da Honra...52

4.3 Sob a perspectiva das Relações Internacionais...54

Considerações Finais

...59

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Figura 1- Representação da unidade visual mínima...24 Figura 2 Representação do articulador fluido da forma...25 Figura 3 - Representação das formas básicas...26

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Elementos que compõe o antagonismo entre os elementos áudios visuais... 27 Tabela 2 - Fontes de Poder dos Estados entre o século XVI -Século XXI ... 47

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INTRODUÇÃO

De acordo com Hobsbawm (1994), o século XX ficou conhecido como “A Era das Catástrofes” devido à diversos conflitos sangrentos, entre eles pode-se destacar a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e Guerra da Coréia. Todas essas guerras sempre dispuseram de um intuito no qual defendesse o interesse nacional do Estado (seja pelo viés econômico quanto pelo caráter político).

Todavia, com a ascensão da globalização, a humanidade passou a dispor de uma outra visão acerca da manutenção do poder. Uma das denominações do conceito poder segundo Nye Jr (2002-b) é a de que está definido como a capacidade de obter os resultados desejados e, se necessário, mudar o comportamento dos outros para obtê-lo. Anteriormente as questões que envolviam a sobrevivência do Estado estavam pautadas em capacidades econômicas e bélicas que cada nação possuía a fim de dominarem outro território. Entretanto, após a ascensão do capitalismo entre os séculos XVIII e XIX, os Estados passaram a explorar uma distinta capacidade de poder: o poder brando ou soft power segundo Nye Jr (2002-b).

Sendo assim, o soft power denominado como a terceira personificação de poder de acordo com Nye Jr (2002-b), é caracterizado como uma forma indireta de se exercer o poder, diferenciando-se do hard power, o qual está pautado na capacidade de dominação econômica e militar de um Estado.

Na política mundial, é possível que um país obtenha os resultados que quer porque os outros desejam acompanhá-lo, admirando os seus valores, imitando-lhe o exemplo, aspirando ao seu nível de prosperidade e liberdade. Nesse sentido, é igualmente tão importante estabelecer a agenda na política mundial e atrair os outros quanto forçá-los a mudar mediante as ameaça ou o uso das armas militares ou econômicas. A este aspecto de poder - levar os outros a querer o que você quer - dou o nome de poder brando. Ele coopta as pessoas em vez de coagi-las (NYE Jr, 2002-b, p.36).

O uso mais comum do soft power está regrado na capacidade ideológica1 de cada

Estado onde não há o uso coercitivo para se obter o que se deseja. É importante ressaltar que este poder não se restringe à cultura, existe também a capacidade dos recursos econômicos segundo Nye Jr (2012). Contudo, segundo as palavras do autor Sarfati (2005), o soft power não está atrelado ao hard power, o que se entende por não haver a obrigatoriedade de o Estado ter o poder bruto para ter um significativo poder brando, como no caso da Igreja Católica, que

1Zizek irá conceituar esse termo como “Ideologia pode significar qualquer coisa, desde uma atitude contemplativa que desconhece sua dependência em relação a realidade social, até um conjunto de crenças voltado para a ação; desde o meio essencial que os indivíduos vivenciam suas relações com uma estrutura social até as ideias falsas que legitimam um poder dominante. Ela parece surgir exatamente quando tentamos evitá-la e deixa de aparecer onde claramente se esperaria que existisse”. (1996, p. 9)

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mesmo desprovida de capacidades coercitivas, desempenha uma grande influência doutrinária em dezenas de milhares de pessoas no mundo.

Outra forma de poder está conceituada por Pierre Bourdieu (2010) como “o poder simbólico”:

num estado do campo em que se vê o poder por toda parte, como em outros tempos não se queria reconhecê-lo nas situações em que ele entrava pelos olhos dentro, não é inútil lembrar que - sem nunca fazer dele, numa outra maneira de o dissolver, uma espécie de << círculo cujo centro está em toda a parte e em parte alguma >> - é necessário saber descobri-lo onde ele se deixa ver menos, onde ele é mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem (BOURDIEU, 2010 p.7-8).

O tema proposto da presente pesquisa está voltado para a problemática do uso do cinema como um poder simbólico para a projeção de poder do Estado. O cinema acabou sendo uma forma de trazer impactos aos telespectadores exalando emoções, elaborando visões de mundo ou conceitos para compreender o mundo, onde alguns Estados se apropriam desse mecanismo e produzem conteúdos para o cenário internacional onde esperam um desfecho de resultados já premeditados em suas agendas. E para exemplificar o uso do poder simbólico conceituado por Bourdieu a presente pesquisa traz uma analogia entre as Relações Internacionais e a produção cinematográfica, baseando-se no documentário produzido durante o Terceiro Reich em 1934, onde Adolf Hitler propagou a ideologia nazista por toda a Alemanha através do documentário “O Triunfo da Vontade” com uma obra cinematográfica contemporânea lançado em 2006 “A Conquista da Honra” onde retrata o patriotismo estadunidense no cenário internacional.

Contudo nesta pesquisa a respeito da projeção de poder do Estado através do uso de elementos audiovisuais, nota-se que essa estratégia política tem se proliferado pelo Sistema Internacional desde o século XX, de acordo com Ferrés (1998) políticos perceberam que vale mais um discurso bem elaborado (contendo belas imagens que impulsionem suas palavras) visto que este mecanismo desperte um sentimento oculto e o interesse da sociedade em seguir a nova ideologia proposta pelo Estado em questão. Ferrés (1998) ainda afirma que o precursor desse mecanismo da comunicação visual persuasora foi Goebbels2, pois este fazia uso dessa ferramenta em vez de seguir com um discurso direto. Segundo as palavras de Ferrés (1998) a doutrina nazista pode ser vista como um processo onde ocorre uma transferência de poder, do povo para um líder, considerando que durante a época que antecedeu o Terceiro Reich, a nação

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alemã estava abatida devido à crise econômica e social, e quando surge uma figura carismática com discursos políticos que prometiam um novo momento, ou melhor, uma nova era para a nação, o povo então acaba por aceitar as ideias propostas por essa figura, tornando-o um líder.

É neste momento no qual se produz, um jogo de projeções, associações ou transferências: sejam elas do povo para o líder, do partido, do Estado e da nação para o líder. As insígnias, os hinos, as grandes manifestações, as liturgias nazistas, tudo age como símbolo3 aglutinador destes processos de transferência. Os elementos distintivos, a águia imperial, a suástica ou cruz gamada, a bandeira vermelha, os uniformes militares, o gesto fascista, o fogo, os monumentos faraônicos (próprios de todo fascismo), as gigantescas concentrações e manifestações, os símbolos em geral são, ao mesmo tempo causa e efeito, expressão e provocação de sentimentos de identificação (FERRÉS, 1998).

Em suma o estudo contará com três capítulos onde o primeiro abordará sobre um breve histórico do cinema, retratando sua origem e importância. Além disso, o primeiro capítulo também falará sobre a linguagem visual e como esta pode ser interpretada em seus elementos de composição. Já no segundo capítulo, a pesquisa trará as Relações Internacionais e o Cinema abordando o uso da cultura como instrumento de poder, trazendo a doutrina nazista como exemplo aplicado do conceito da simbologia de poder, além de explanar acerca do que é o poder simbólico estudado por Pierre Bourdieu, trazido em sua obra O Poder Simbólico (2010) em contraposição ao termo soft power de Nye Jr (2002) além de abranger questões como o cinema se insere no âmbito das Relações Internacionais.

E por fim, o terceiro e último capítulo a pesquisa trará uma análise do discurso estético tanto do Documentário “O Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstahl, com detalhes das cenas apresentadas e filmadas durante o Terceiro Reich a pedido de Adolf Hitler quanto ao filme contemporâneo “A Conquista da Honra” de Clint Eastwood, demonstrando dessa forma que com o passar do tempo esse uso de poder só tem intensificado em diversos Estados como projeção de poder. Além de trazer a perspectiva das Relações Internacionais e responder questões como qual é o impacto de uma propaganda persuasiva no cenário internacional? Como podemos analisar a linguagem visual no campo das Relações Internacionais? É possível notar se esses instrumentos realmente constroem o poder? E quais são as contribuições teóricas para a manutenção desse poder nas Relações Internacionais.

3 Roland Barthes (1971) - sociólogo, escritor, crítico literário e semiólogo- traz em sua obra Elementos da semiologia, uma definição para o que chamamos de símbolos. Para ele os símbolos estão inseridos em três grupos: os signos (representatividade), os significantes (parte material) e o significado (conceito, sentido dado ao objeto).

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Em síntese, a metodologia desta pesquisa baseia-se nas ciências sociais, visto que os símbolos estão presentes em todas as dimensões sociais, além de uma análise do discurso estético dos filmes, como uso de cores, closes, projeção das sombras e como esses elementos podem ser contextualizados no campo das Relações Internacionais, numa perspectiva de análise de discurso.

A pesquisa contará com fontes primárias e secundárias onde estas se correspondem respectivamente em à ‘literatura primária’ é aquela na qual se apresentam e são disseminados exatamente na forma com que são produzidos por seus autores e segundo Primary (2006), as fontes secundárias são “interpretações e avaliações de fontes primárias”, além de contar com a produção cinematográfica “O Triunfo da Vontade” dirigido pela cineasta Leni Riefenstahl no ano de 1935 a pedido de Adolf Hitler e “A Conquista da Honra” dirigido por Clint Eastwood em 2006.

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2.

A INDÚSTRIA DA MÍDIA

Com a industrialização, o mundo sofreu diversas mudanças tanto no âmbito político, social, cultural e econômico como, por exemplo: a criação de indústrias, tecnologias de ponta, diminuição das fronteiras entre os países, integração e crescimento econômico nos países e diversos outros fatores e esse processo tem cada vez mais se desenvolvido e integrando o mundo. Alguns estudiosos como Held (1990) definem esse fenômeno como uma força condutora central por trás das rápidas mudanças sociais, políticas e econômicas que estão a remodelar as sociedades modernas e a ordem mundial. O conceito de Globalização implica primeiro e acima de tudo um alongamento das atividades sociais, políticas e econômicas através fronteiras, de tal modo que acontecimentos, decisões e atividades numa região do mundo podem ter significado para indivíduos diferentes em regiões distintas do globo. Outra definição do termo pode ser conceituada por Ribeiro (2002):

A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, muitos intelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de novas tecnologias na área de comunicação, como satélites artificiais, redes de fibra óptica que interligam pessoas por meio de computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação de informações e de fluxos financeiros. Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos pelo mundo afora. Além disso, ela foi definida como um sistema cultural que homogeneíza, que afirma o mesmo a partir da introdução de identidades culturais diversas que se sobrepõem aos indivíduos. Por fim, houve quem afirmasse estarmos diante de um cidadão global, definido apenas como o que está inserido no universo do consumo, o que destoa completamente da idéia de cidadania (2002, p.1).

Esse fenômeno de globalização acelerou as disposições determinadas como tempo e espaço, o ser humano cada vez mais tem urgência em resolver seus assuntos. Quanto mais rápido for, melhor será para todos. Com essa brusca aceleração, o homem desenvolveu e posteriormente aprimorou vários recursos, o rádio, por exemplo, inventado pelo italiano Guglielmo Marconi no final do século XIX, onde hoje em pleno século XXI, foi aprimorado para um pequeno e portátil mídia player que cabe no bolso de qualquer pessoa e têm apenas três botões e um plug para fone de ouvidos. Além do rádio, há o computador que de uma grande e pesada máquina, atualmente se tornou mais leve e está do tamanho da palma da mão; outros exemplos seriam os telefones, os meios de transportes, a televisão entre muitos outros dispositivos.

De acordo com Sassen (2010) um ponto marcante é que com a modernidade pôde-se trazer o que estava distante dos nossos olhos, e é nesse ponto que as mídias entram em ação para desenvolver esse papel de aproximar o desconhecido. A exemplo disso, podemos no

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aproximar da cultura do “outro” - sendo essa não pertencente ao nosso cotidiano - onde a mídia evidencia como é estar em determinada região, e viver em determinado país, exaltando sua política interna, cultura e sociedade, e podemos contemplar todos esses fatores sem até mesmo saímos de nossos lares.

Segundo o estudo de McLuhan (1960) a respeito das Aldeias Globais4, é possível identificarmos os efeitos das ações transformadoras nos indivíduos através do avanço tecnológico. Cada sociedade pertencente ao Sistema Internacional se desenvolveu ao longo dos anos aperfeiçoando seu sistema de comunicação, conforme a globalização iria se estabelecendo nas regiões, a interação entre os povos começava a atravessar as fronteiras. Todavia, esse avanço tecnológico tomou tamanha proporção que acarretou influências dentro dos Estados, e com toda essa transformação na qual o mundo tem sido o palco, as indústrias de mídias vêm exercendo um papel fundamental nesse cenário e consequentemente acabando por influenciar no âmbito cultural de determinados grupos, levando em consideração que essa ferramenta trouxe o poder de aproximar o que estava distante aos olhos dos indivíduos e de acelerar o tempo, além de influenciar ideias com apologias à ideologias Estatais5.

Segundo Ferrés (1998) os meios de comunicação visual são considerados uma forte personificação de verdades para seus telespectadores. O cinema é uma das ferramentas da indústria de mídia a qual em meados da década de 1930 passou a ser uma fonte de ferramenta de poder para os Estados onde difundia seus valores políticos, econômicos e sociais para seus telespectadores. Sendo assim, a representação simbólica através da linguagem audiovisual passou a ser mais um mecanismo de poder ideológico para os governos.

Adolf Hitler é considerado um dos precursores do cinema da Segunda Guerra Mundial, onde críticos cinematográficos franceses como Francis Vanoye (2008) um filme faz escolhas, organiza elementos entre si, desocupa no real e no imaginário, constrói um mundo possível que

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Este é um conceito criado pelo teórico canadense Marshall McLuhan na década de 60 para explicar os efeitos que a comunicação de massa resultava sobre a sociedade contemporânea em um âmbito global. De acordo com esse estudo, segundo palavras do autor, a anulação da distância e do tempo, bem como a velocidade cada vez maior que ocorreria no processo de comunicação em escala global, nos levaria a um processo de retribalização, onde barreiras culturais, étnicas, geográficas, entre outras, seriam relativizadas, nos levando a uma homogeneização sócio-cultural. Neste caso, imaginava ele, ações sociais e políticas, por exemplo, poderiam ter início simultaneamente e em escala global e as pessoas seriam guiadas por ideais comuns de uma “sociedade mundial”.

5 Segundo a dissertação do Dr. Rafael M. Gallo, um outro conceito para ideologia foi proposto pelos alemães Marx e Engels (1996) como uma produção de ideias ou forma de consciência (grifo do autor):

A produção de idéias, de representações, da consciência, está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material dos homens (...). O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens, aparecem aqui como a emanação direta de seu comportamento material. (...) os homens são produtores de suas representações, de suas idéias etc., mas os homens reais e ativos, tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde até chegar às suas formações mais amplas. A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. E se, em toda ideologia, os homens e suas relações aparecem invertidos como numa câmara escura, tal fenômeno decorre de seu processo histórico de vida (MARX e ENGELS, 1996 apud GALLO, 2007, p.36).

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mantém relações com o mundo real, ou seja, em outras palavras constrói um ponto de vista sobre este ou aquele aspecto do mundo que lhe é contemporâneo.

É possível destacar outros críticos e estudiosos sobre o efeito do audiovisual e um deles é o renomado teórico de cinema e crítico André Bazin (1918-1958). Bazin viveu na França onde foi cofundador dos Cahiers du Cinéma6 em 1951, Bazin ficou conhecido como um influente

crítico do cinema no contexto de pós Segunda Guerra Mundial. Em sua obra batizada de “Qu’est-ce que le cinéma? ”7 publicada pela editora Èditions du Cerf no ano de 1975, traz sua crítica a respeito da questão do uso do cinema para a reprodução da realidade, onde contexto estava inserido no uso dos elementos simbólicos (como o cinema) pelas potências vitoriosas que definiram o cenário mundial no contexto da Guerra Fria.

Em síntese, o uso da linguagem audiovisual para fins de propagação de ideologias estatais vem sendo utilizado por diversos governos, principalmente pelo governo norte-americano, como ressalta Valim (2004), para que seus preceitos sejam indiretamente disseminados as demais sociedades, e atualmente com a globalização cada vez mais evoluindo, isso ganha cada vez mais espaço no cenário internacional.

6 Cahiers du Cinéma é uma renomada revista francesa fundada no ano de 1951 onde conta com diversos críticos de cinema e que abordavam sobre diversos temas cinematográficos e os autores expunham suas ideias desprovidas de qualquer preocupação. Foi fundada por André Bazin, Jacques Doniol e Joseph Lo Duca.

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2.1 A Origem da arte cinematográfica

Teoricamente pode-se dizer que a arte está presente no mundo desde os tempos primordiais. O arqueólogo Steven Mithen (2003) descreve em sua obra intitulada “A Pré-História da mente” sobre a evolução da espécie humana, que por volta de cinquenta mil anos atrás, na era conhecida como Paleolítico Médio e Superior, foi que com a evolução da inteligência social, o homo habílis (o qual posteriormente deu origem ao homo erectus) florou a habilidade de ter crenças, de desenhar instrumentos para sobrevivência, de criar arte e fazer ciência.

Com isso pode-se identificar a existência primitiva da arte no mundo. No ano de 1923 foi publicado um documento produzido pelo crítico de arte, músico, poeta, romancista, teatrólogo Ricciotto Canudo8 (1877-1923), o qual foi intitulado originalmente como “Manifeste

des Septs Arts9”, neste documentário surge então a divisão do mundo artístico. Canudo irá

estabelecer como Primeira Arte a música, já que o som foi precursor na vida do ser humano. Como conseguinte, vem a segunda modalidade artística definida como a dança. Segundo o crítico, logo após o som o homem dominou o movimento. A terceira modalidade que o manifesto traz é a cor, esta modalidade, portanto, está representada pelas pinturas. Logo na quarta categoria Canudo (1923) exalta as esculturas e posteriormente a representação estabelecida como teatro e as palavras trazidas pela literatura. Por fim, chega-se a Sétima Arte a qual é representada pelo cinema onde é conhecida por conter a junção de todas as categorias da arte.

Contudo o marco pioneiro do cinema ocorreu anteriormente a divisão artística feita por Canudo. De acordo com Nóvoa (1995) esse fato sucedeu-se no ano de 1895 com os irmãos August e Louis Lumière em Paris. August e Louis eram engenheiros franceses, nascidos em 1860 na cidade de Besançon, e proprietários de uma fábrica de instrumentos ópticos e materiais fotográficos a qual pertencia a seu pai no final do século XIX. Esses irmãos revolucionaram a indústria do entretenimento com seus primeiros curtas-metragens os quais são intitulados de “La Sortie des usines Lumière / La Sortie des ouvriers de l'usine Lumièr10 e L'Arrivée d'un train

en gare de La Ciotat11”, onde cerca de trinta telespectadores ficaram maravilhados com o novo

entretenimento apresentado a eles no Salão Grand Café em Paris.

8 Disponível em:

http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/VPQZ73BJW9/1/cinema_mem_ria_audiovisual_do _mundo.pdf

9 Tradução nossa: O Manifesto das Sete Artes

10 Tradução nossa: A saída dos operários da fábrica Lumière 11 Tradução nossa: A Chegada do trem à Estação Ciotat

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Com o passar do tempo, o cinema foi ganhando espaço e abrangendo grande parte da sociedade como um meio de entretenimento. No entanto antes de Hollywood se tornar a capital do cinema, houve uma longa jornada para sua ascensão universal. A era pré-hollywoodiana é marcada por filmes de grande sucesso de bilheteria como “The Great Train Robbery”, uma produção faroeste a qual foi responsável por uma inovação nas técnicas de filmagem no ano de 1903 e em 1910 acaba sendo lançada a primeira versão do filme de “Frankenstein” outra importante obra cinematográfica para a época.

Ferro (1992) afirma que essa arte era vista como uma forma de distração das massas, algo que estava na superfície, sendo inicialmente desprezado pelos seus representantes do Estado e pelo o próprio, devido a sua incapacidade de controlar esse instrumento para o benefício do próprio governo. Com o passar do tempo, o Estado começa então a perceber os benefícios dessa indústria a qual cresceu a partir de 1912 quando diversos produtores resolveram habitar a cidade de Hollywood na Califórnia e desde então até o presente momento tem sido um fenômeno universal as produções cinematográficas.

2.2 A Sintaxe da Linguagem Audiovisual

Ao abordamos a respeito dos conteúdos audiovisuais, destaca-se que o ser humano possui um forte espectro no âmbito de suas atividades, como exemplo disso, o indivíduo compreende, tem sensibilidade ao perceber seu meio, observar, explorar, descobrir, olhar entre outros. E para que possamos compreender a complexidade dessa temática, faz-se necessário um estudo acerca do alfabeto visual das ciências sociais.

Tudo começa com a infância, que é a em que descobrimos o mundo através do sentido sensorial (audição, visão, paladar, tato e olfato). Ao tocar um objeto a figura do mesmo se fixa no subconsciente fazendo assim um rápido reconhecimento quando necessário. Caleb Gattegno (1969) em Towards a Visual Culture, se refere ao sentido visual como algo que por nós é visto com tanta naturalidade. A visão é veloz, permite o ser humano obter um grande alcance, simultaneamente analítica e sintética, este sentido humano requer pouca energia para funcionar, porém funciona à “velocidade da luz”, fazendo com que desse modo nos permitisse receber e conservar um número infinito de unidades de informação numa fração de segundo.

Essa afirmação nada mais é do que uma definição do poder da visão que possuímos, onde “o infinito nos é dado de uma só vez; a riqueza é sua descrição” (GATTEGNO 1969, p. 13). O mundo visual por sua vez exerce um grande impacto nos seres humanos, para

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exemplificar isso, é fato de que grandes acontecimentos são muito mais acompanhados através de vídeos e imagens do que por uma reportagem escrita ou até mesmo falada.

Ao visualizarmos algo, imediatamente a figura se “materializa” no subconsciente para que fique memorizado, como o nome, trejeitos e demais características. Para que possa compreender o alfabeto visual, usa-se a metodologia da linguagem visual. Nessa temática são abordados os conceitos, linhas, expressões, representações que evidenciam como e o porquê e uma simples linha ou cor podem alterar a perspectiva do telespectador ao visualizar determinado conteúdo produzido pela indústria da mídia.

De acordo com Dondis (2003)

A Sintaxe visual existe. Há linhas gerais para a criação de composições. Há elementos básicos que podem ser aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos dos meios de comunicação visual, sejam eles artistas ou não, e que podem ser usados, em conjunto com técnicas manipulativas, para a criação de mensagens visuais claras. O conhecimento de todos esses fatores pode levar a uma melhor compreensão das mensagens visuais (2003, p. 18).

O princípio da linguagem visual acontece desde o momento em que equilibramos o nosso corpo, reagimos às circunstâncias (como a luz ou ao nos protegermos), ou ao levarmos um susto. No entanto todo esse comportamento ocorre de forma natural sem que seja modificado por algo ou por alguém. Porém o modo como enxergamos o mundo pode afetar quase sempre nossas percepções, fazendo assim com que cada indivíduo tenha sua própria interpretação de ver o mundo e as coisas. Cada sociedade é influenciada pelo seu meio, como exemplo disso Dondis (2003, p.19) cita que “o modo como encaramos o mundo quase sempre afeta aquilo que vemos. O processo é afinal, muito individual para cada um de nós”.

No contexto da linguagem visual, se destacam três distintos grupos: o input visual o qual compõe a visão do artista, exaltando o seu modo de ver o mundo e a intensificação da sua criação artística. Já o segundo nível é composto por símbolos. Esse grupo é composto por formas onde o homem criou para identificar e representar algo e deve ser aprendido como uma língua. E por fim o nível representacional, onde compõe a inteligência visual na qual ultrapassa qualquer percepção visual. Mesmo que algo seja contado em detalhes, nada se compara ao ser representado por figuras e imagens, fazendo uma ligação entre o imaginável com a realidade.

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2.2.1 Elementos Básicos da Comunicação Visual

As obras visuais vão além da contemplação dos materiais utilizados para sua composição. É necessário entender qual a mensagem que está por detrás da obra, e para tal desfecho é primordial entender o que cada figura quer transmitir. Para isso, a estrutura da obra visual determina qual é a interação que deverá ocorrer entre a conexão humana e a obra.

Dentre todos os meios de comunicação humana, o visual é o único que não dispõe de um conjunto de normas e preceitos, de metodologia e de nem um único sistema com critérios definidos, tanto para a expressão quanto para o entendimento dos métodos visuais. Por que, exatamente quando o desejamos e dele tanto precisamos, o alfabetismo visual se torna tão esquivo? Não resta dúvida de que se torna imperativa uma nova abordagem que possa solucionar esse dilema (DONDIS, 2003, p.18).

Como afirma Dondis (2003), a sintaxe visual existe e sua característica primordial é a complexidade a qual à distingue da linguagem verbal por não apresentar um sistema tão lógico e preciso quanto esta. Dentro do rol de características das mensagens visuais é possível destacar três níveis de inteligência, distintos e individuais, que interagem entres si: o input visual, o material representacional, e a estrutura abstrata.

De acordo com Dondis (2003), o input visual é composto por uma quantidade indeterminadas de símbolos os quais vão desde os mais ricos em detalhes representacionais até aqueles que são totalmente abstratos. A linguagem dos símbolos atua diferentemente da linguagem verbal, no entanto são de importância indispensável no âmbito do alfabetismo visual. Contudo no nível representacional da inteligência visual é algo fortemente governado pela experiência direta da visão na qual ultrapassa a percepção. Neste contexto não é imprescindível nenhum tipo de intervenção nos sistemas de códigos diferentemente do que acaba ocorrendo com a linguagem verbal. A simplicidade de ver já é suficiente para que se possa compreender a mensagem que está sendo proposta, dessa forma acaba resultando numa ligação excepcionalmente estreita com a realidade que nos cerca.

Finalmente o último nível de inteligência visual (composto pela estrutura abstrata) trata-se da subestrutura, da composição elementar abstrata, ou seja, uma mensagem visual pura. Para que seja possível a análise deste nível, Anton Ehrenzweig (DONDIS, 2003 p.22) desenvolveu uma teoria a qual foi capaz de descrever que é possível observar níveis estruturais do modo visual, um consciente e outro pré-consciente. Como exemplo disso, para ele a criança é capaz de ver todo o conjunto numa visão global. Outra forma de interpretar esse sistema de

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visão é a percepção de como a capacidade de reconhecer que tudo o que vemos e criamos compõe-se dos elementos visuais básicos que representam a força visual estrutural.

Ainda de acordo com a autora (Dondis, 2003) a escolha dos elementos visuais que serão enfatizados e a manipulação desses elementos, tendo em vista o efeito pretendido, está nas mãos do artista, do artesão, do designer, do criador: ele é o visualizador. O que ele decide fazer com eles é a sua arte e podem ser usados com grande complexidade de intenção: o ponto, justo e da chapa a meio-tom. (...) cuja função é registrar o meio ambiente em seus mínimos detalhes. Cada elemento que compõe uma criação artística é estudado e analisado individualmente. E de acordo com o livro a Sintaxe da Linguagem Visual de Dondis (2003) alguns dos elementos que compõem essa linguagem são:

A. O Ponto (unidade visual mínima):

Este elemento é considerado o mais simples, porém traz uma forte referência de espaço. Desde sempre, nós aprendemos a usar os pontos como forma de notação de medição juntamente com outros instrumentos (uso do compasso por exemplo). Um conjunto de vários pontos, exerce o poder de levar os olhos humanos se dirigirem de forma que se liguem entre si e formem figuras, desta forma acabam por sua vez tendo a cubência de criar ilusões óticas, sem elas de forma, cor ou tom.

Figura 1 - Representação da unidade visual mínima

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B. A Linha (articulador fluido da forma):

Com a proximidade dos pontos, acaba criando-se um outro elemento, já que identificá-los individualmente se torna impossível, surge dessa forma a linha. A linha nada mais é do que a junção de diversos pontos em movimento.

Esse instrumento é considerado um dos mais poderosos da linguagem visual, pois é um elemento faz com que transpareça a imaginação do artista para o mundo real. A linha pode ser encontrada em duas naturezas, a linear e a fluida, contendo um propósito em seus projetos artístico. A linha está presente além da arte, é usada também nos sistemas de notação como a escrita.

A cartografia escrita e os demais símbolos mostram com exatidão o propósito da linha em cada elemento. É esta que dá a forma, intensidade e visibilidade a obra.

Figura 2 - Representação do articulador fluido da forma

Fonte: Dondis (2003) - “A Sintaxe da Linguagem Visual”.

C. A Forma (constituinte das formas básicas, o círculo, quadrado, o triângulo e todas as suas inúmeras variações e combinações):

Como dito acima, os traços que a linha compõe, acabam por descrever uma forma. Quando se estuda a linguagem visual, é necessário entender a importância das três formas básicas existentes:

I. O Quadrado: Esta forma é interpretada como enfado, honestidade, retidão e esmero devido a todos os ângulos terem comprimentos iguais.

II.O Triângulo: Este elemento traz a sensação de ação, conflito e tensão; III.O Círculo: Traz a sensação de infinitude, calidez e proteção.

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Cada uma dessas formas, contemplará uma direção significativa sendo elas: horizontal e vertical para o quadrado, a diagonal é designada para o triângulo e pôr fim a curva, onde está separada para o círculo.

Essas direções são valiosas para a criação de mensagens visuais. Segundo Dondis (2003) “seu significado mais básico tem a ver não apenas com relação entre o organismo humano e o meio ambiente, mas também com a estabilidade em todas as questões visuais. A necessidade de equilíbrio não é uma necessidade exclusiva do homem; dele também necessitam todas as coisas construídas e desenhadas.

Figura 3 - Representação das formas básicas

Fonte: Dondis (2003) - “A Sintaxe da Linguagem Visual”.

C. A Cor (contraparte do tom acrescido do elemento cromático):

A cor é outro ponto importante para a interpretação de uma obra, visto que este elemento possui diversos significados simbólicos. Quando imaginamos uma determinada situação as cores têm um papel importante na descrição de uma cena. O elemento cor possui tanta grandeza que ao descrevermos uma cena, ao dizermos a cor que o céu se encontra ou as cores que compõem o ambiente, acabam falando por si só, sem precisarmos muita das vezes descrever a cena com os demais adjetivos para que o ouvinte possa ter ideia do que o criador da cena esteja falando.

Existem muitos outros conjuntos de elementos como o tom, a textura, a dimensão, o movimento entre outros que fazem parte do conjunto de uma obra, e que através desses elementos o artista tem legitimidade de transmitir sua mensagem através de imagens, filmes, esculturas, pinturas e etc.

E é com base na análise desses elementos visuais que constituem a matéria-prima para que todos os níveis de inteligência visual sejam possíveis planejar e expressar todas as dimensões visuais, e em conjunto com as técnicas de comunicação visual, sendo as mais usadas e de fácil identificação, onde facilitam o entendimento da demonstração de seu antagonismo:

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Tabela 1 - Elementos que compõe o antagonismo entre os elementos áudios visuais TABELA DE ANTAGONISMO DOS ELEMENTOS

AUDIOVISUAIS. Contraste Harmonia Assimetria Simetria Irregularidade Regularidade Complexidade Simplicidade Profusão Economia Exagero Minimização Espontaneidade Previsibilidade Atividade Estase Ousadia Sutileza Ênfase Neutralidade Transparência Opacidade Variação Estabilidade Distorção Exatidão Profundidade Planura Justaposição Singularidade Acaso Sequencialidade Agudeza Difusão

Fonte: Dondis (2003) - “A Sintaxe da Linguagem Visual”.

Estes elementos, de acordo com Dondis (2003) são vistos como polaridades para abordagens desiguais e antagônicas de seus significados. Estas técnicas visuais possuem diversos significados em suas composições. Alguns destes significados podem ser explicados por uma perspectiva das Relações Internacionais como será abordado em seguida.

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3. RELAÇÕES INTERNACIONAIS E CINEMA.

O século XX foi marcado pela revolução tecnológica e a informatização dos meios de comunicação social, meios os quais criaram redes internacionais, ocasionando o surgimento do agrupamento de mídia. Essa nova ordem fez com que se alterasse de forma significativa, o modo de atuação política, econômica e social dos Estados soberanos. Com a configuração tecnológica criada pela massa e disseminada para a sociedade pela televisão, pelo cinema e pela internet favoreceu a troca de informações e o cruzamento de ideias, construindo assim a chamada “sociedade em rede”, segundo os termos de Castells (1999), Mattelart (2002) e Morin (2004).

Esse novo contexto internacional, ainda traz algumas questões típicas da modernidade do corpo de governo para o Estado. Segundo Valente (2007), o desejo de “poder”, seja este político ou econômico, ainda interpõe o rol de desejos de todo Estado contemporâneo. Do mesmo modo que alguns estudiosos alegam que a mídia e as novas configurações de meios de informação e de comunicação têm dominado de certa forma a capacidade de decisão dos Estados, em contrapartida outros dirão, como Aron (1962), que a revolução da informação é usada como um instrumento de ampliação para manter ou conquistar poder em âmbito internacional. Essas mudanças contribuem para que a política externa não seja mais entendida como outrora.

O cenário internacional sofreu algumas mudanças as quais foram provocadas pela Era da Informação no jogo de poder entre os Estados, essa configuração fez com que os Estados Unidos incitarem pioneiramente para pesquisas que estivessem nessa relação entre a mídia e às relações internacionais. De acordo com Eytan Gilboa (2001), essas pesquisas começaram de forma inibida logo após a Guerra do Vietnã (1959) e somente começaram a tomaram um rumo de maior cunho após a disseminação das grandes redes de televisão numa escala global começarem a ganhar espaço e após a primeira guerra totalmente midiática da história: a invasão do Iraque em 2003.

Vale ressaltar que nas Relações Internacionais a mídia pode ser considerada um ator de faces variadas, onde para ser analisada é necessário um entendimento do contexto, do tipo de veículo e da própria direção do meio de comunicação. Assim, não é possível imprimir uma identidade fixa da mídia no cenário internacional (CAMARGO, 2008).

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3.1 A importância do Cinema nas Relações Internacionais

A disciplina de Relações Internacionais é multidisciplinar, ou seja, é possível estudar e analisar diversos campos, sendo assim não tem como foco somente uma perspectiva, mas sim um mundo de possibilidades de objeto de estudo para o internacionalista, seja no âmbito histórico, social, político, econômico ou cultural, a exemplo disso pode-se destacar a teoria do construtivismo a qual é defina por Onuf (1998, p. 58) “como uma maneira de estudar relações sociais - qualquer tipo de relações sociais”, ou seja, a disciplina das relações internacionais não se fundamenta somente em teorias tradicionais, existe uma preocupação com questões que abordem todas as perspectivas de relações (seja sociais, econômicas e políticas) e para tal desfecho a teoria do construtivismo tem grande relevância no campo das relações internacionais, dessa forma “Em outras palavras, o construtivismo é um conjunto de lentes paradigmáticas através das quais observamos todas as realidades socialmente construídas, as ‘boas’ e as ‘más’.” (ADLER, 1999, p. 224, grifo no original).

Quando se trata de questões de conflitos, como a invasão ao Iraque (2003) e em muitos outros casos, o acesso à região e às fontes de informação estão obstadas pela instabilidade política, por políticas de restrição ou mesmo por limitações financeiras, o recurso aos filmes se torna uma das maneiras de ter um primeiro contato com o objeto de estudo abordado e fomentar a pesquisa nas Relações Internacionais. Tal tendência é reforçada pelo fenômeno da popularização das comunicações, pela globalização e pelo estímulo à produção cinematográfica (CARTER, DODDS, 2014).

Existem diversos elementos com uma identidade políticas descritas em diversos filmes. Um ponto muito importante é na questão estética e artística das obras fílmicas e como o público acaba se identificando. O cinema possui seu próprio estatuto artístico, este é executado pela potencialidade de representar as manifestações e desejos humanos em circunstâncias numerosas. A “sétima arte” inclui imagens em movimento, as quais estão sincronizadas, sonorizadas e editadas de forma coerente, narrando um contexto ou situação e por terem como protagonistas exemplares humanos, os filmes apelam à identificação com um público cada vez maior e irrestrito quanto à classe social ou ao conhecimento artístico prévio (MORIN, 1997).

De acordo com as palavras de Walter Benjamin, a massificação das artes é mais perceptível no cinema (BENJAMIN, 1987). Esse aspecto tem destaque pois é dado a aproximação com o público de massas qual acarretou no uso do cinema como cunho de um instrumento político. Ao usar a linguagem simbólica para representar conteúdos à população o

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cinema passou a ser um canal onde ideologias12 políticas ganharam legitimidade. No entanto o uso do cinema como projeção de poder do Estado não tem sido empregado somente na era contemporânea.

Segundo Zanella (2005) desde o início do século XX, americanos e europeus fazem uso dessa ferramenta para disseminar suas ideologias, como formação da educação, construção de valores fazendo dessa forma que a população se mobilizasse e aceitassem esses ideais como princípios ideológicos da nação. Com isso durante a Segunda Guerra Mundial, as potências da época investiram em estúdios cinematográficos para que o público pudesse entender e aceitar o lado que detinha o poder. No lado dos Estados Unidos, havia os estúdios da Disney e a indústria de Hollywood em ascensão. Já do outro lado, a Alemanha trazia o Reichsministerium für Volksaufklärung13, este por sua vez detinha todo o controle midiático da região e do lado soviético, havia a Administração Principal da Indústria Cinematográfica e de Fotografia da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (FERRO,1992).

Com o passar do tempo, o espaço do cinema foi amplificado no contexto de Guerra Fria (1947-1991), onde a indústria de maior peso foi Hollywood pois seu maior interesse era reforçar o antagonismo ao comunismo da Guerra entre A União Soviética e Estados Unidos, dessa forma legitimando sua ideologia capitalista do lado estadunidense (JENKINS, 2012).

Partindo desse pressuposto de que o cinema é uma fonte poderosa de influência de massas, os políticos por sua vez passaram a usar a nova ferramenta como fonte primária nas Relações Internacionais, da mesma forma como uma publicação em um renomado jornal ou a literatura.

Para que possa haver uma análise cinematográfica na perspectiva das Relações Internacionais faz se o uso, segundo Zanella (2015) de três recursos metodológicos. O primeiro método é o mais simples: tratar o filme como um texto (fazer uma análise de discurso). Neste recurso precisa-se fazer um distanciamento dos elementos externos e somente se concentrar na história que o filme deseja transmitir para o telespectador para que dessa forma possa ser feito um estudo minucioso do discurso apresentado na diversidade teórica das Relações Internacionais. No entanto há um contraponto, o qual é a fragilidade desse recurso: o privilégio do discurso apresentado negligência fatores de extrema importância os quais estão vinculados a produção e a estética da obra.

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Uma outra definição de ideologia é apresentada por Gallo (2007) como em sua acepção mais geral uma ideologia constitui ou implica um ponto de vista filosófico, no nosso contexto presente uma filosofia social, sempre que não se atribuir [a ideologia] uma conotação demasiado formal ou metodológica (DOBB s/d, apud GALLO, 2007, p. 37).

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O segundo método de análise se dá pelo conjunto entre a narrativa do filme e as demais informações externas (orçamento, elenco, diretores, produtores etc) além de considerar o recurso como os efeitos visuais e editoriais. Neste contexto o estudioso precisa conciliar todas as informações e contextualizar às Relações Internacionais. Este é chamado de método externo-estético. Por fim o último método é a identificação da posição política apresentada na filmagem, e para isso faz-se necessário um estudo sobre a percepção política na qual o estúdio o produtor está inserido.

3.2 A Cultura como Instrumento de Poder

O mundo passou por diversas alterações com o passar dos anos configurando dessa forma uma nova percepção para as relações internacionais, ciência social e política, no âmbito econômicos e culturais e etc. onde novos desafios foram surgindo para os estudos culturais e sua relação com o campo das Relações Internacionais.

Essa nova configuração como o capitalismo pós-industrial; assim como o surgimento das tecnologias da informação e da comunicação, que alteraram nossas percepções de tempo e espaço e complexificar noções como exterior versus interior, local versus mundial; e, principalmente, os processos de globalização, dificultam o estudo da cultura a partir dos referenciais tradicionais, como território e nação. Isto acabou sendo uma somatória as mudanças trazidas pelo final da Guerra Fria, considerado um turning point14 (grifo meu) na disciplina das

Relações Internacionais, a qual por sua vez promoveu grandes mudanças no cenário da política mundial (KEGLEY, 1993).

Ainda segundo Kegley (1993) o fenômeno globalização na maioria das vezes tem uma associação a processos econômicos dos Estados, porém é válido ressaltar que este é um fenômeno multidimensional onde pode influenciar processos políticos, tecnológicos, sociais e culturais, e que por sua vez também sofre influência dos mesmos. Ao ser analisada a cultura nesse contexto, acaba surgindo um desafio para os estudiosos do deste campo, pois os referenciais dos sujeitos passaram por um procedimento de reestruturação com o passar do tempo.

A construção da cultura sempre esteve presente dentro dos Estados, seguindo a linha dos autores Inayatullah e Blaney (2004), a cultura era vista como algo subjetivo. Apesar de tal

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fato, com o crescimento migratório no século XX através da evolução das técnicas no quesito da tecnologia de comunicação e de transporte e as diásporas do pós-coloniais, colocaram por sua vez a proximidade sistematicamente diante do “outro”, dessa forma borrando a diferença entre exterior como o espaço da diferença, geralmente definido como uma zona de conflito e insegurança, e do interior como local da semelhança, que ajudou a conformar os pressupostos filosóficos das Relações Internacionais.

O tema cultura ganhou forças nas relações internacionais a partir da década de 80 com o quarto debate entre positivistas e reflexivistas (ou pós-positivistas), onde temas com um maior dinamismo sociais tiveram espaço nos debates acadêmicos. Diversos autores defendem a definição de cultura como uma percepção privilegiada para estudo e compreensão dos princípios filosóficos da disciplina reconstruindo uma “história cultural” do campo, seus mitos, suas disputas simbólicas (e materiais) e seus silenciamentos (INAYATULLAH, BLANEY 2004; WALKER, 1990).

De acordo com a obra intitulada de Culture and Society (1961), Raymond Williams apresenta a definição da palavra cultura como uma das mais complexas da língua inglesa e apresenta como esse vocábulo passou por várias modificações de sentido, que por sua vez acompanharam as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais de seu contexto histórico. Entre essas variedades da definição do termo cultura, está um profundo entendimento acerca do “outro” e do próprio indivíduo, além de questões linguísticas e demais fatores sociais (WILLIAMS, 1961).

Em sua essência, a palavra cultura tem sua origem na Europa do século XV onde estava pautada na noção do cultivo partindo então para uma concepção humanista de cultivo intelectual e espiritual com as aristocracias europeias fascinadas pelo ‘desenvolvimento intelectual’ dos franceses, que pegaram o termo “cultura” emprestado dos italianos e o empregaram, pela primeira vez, com relação ao aprimoramento do comportamento individual (REEVES, 2004). Com essa concepção é possível entender cultura como arte, saber, literatura e cultivo intelectual relacionados ao entendimento humano. Mais tarde os alemães no século XIX desprendem a concepção de cultura e civilização15.

15 De acordo com Norbert Elias em “O Processo Civilizador” conceito de "civilização" refere-se a uma grande variedade de fatos: ao nível da tecnologia, ao tipo de maneiras, ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos, as ideias religiosas e aos costumes. Pode-se referir ao tipo de habitações ou a maneira como homens e mulheres vivem juntos, a forma de punição determinada do sistema judiciário ou ao modo como são preparados os alimentos. Rigorosamente falando, nada há que não possa ser feito de forma "civilizada" ou “incivilizada". Daí ser sempre difícil sumariar em algumas palavras tudo a que se pode descrever como civilização (1994, p. 23).

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Com essa perspectiva segundo Reeves (2004) a palavra cultura se relaciona a algo subjetivo, onde a mesma estava voltada no resgate dos valores morais e tradições germânicas. Já a ideia de civilização estava ligada à adoção de valores universais que abrangiam o uso da racionalidade de progresso.

A partir de então, o entendimento humanista de cultura passa a ter um sentido essencial para as relações internacionais nos séculos XIV e XIX, criando por sua vez uma separação hierárquica entre povos, os chamados de civilizados versus bárbaros ou selvagens e colonizadores versus colonizados. Essa concepção de hierarquia cultural teve sua “queda” a partir dos estudos de Franz Boas no século XX - considerado o pai da antropologia cultural nos Estados Unidos- onde este apresentou a concepção de que cada cultura tinha suas particularidades e deveria ser entendida como tal e todos os padrões de vida são válidos (REEVES, 2004).

De acordo com Elias (1994) até o significado da palavra civilização possui uma significância específica conforme a região, o autor cita como um fenômeno peculiar “a s palavras como “civilização” em francês ou inglês, ou no alemão Kultur, são inteiramente claras no emprego interno da sociedade a qual pertencem” (1994:21). Seguindo essa linha, Elias (1994) destaca que a Kultur alemã era um conceito nacional, enquanto que a noção francesa e britânica, humanista, estava mais relacionada ao desenvolvimento intelectual individual do homem.

Existe um debate acerca da relação entre cultura e política, economia e sociedade se esta acaba sendo um instrumento de desenvolvimento econômico para a manutenção da paz a integração supranacional, o incremento a participação cidadã etc. A cultura sempre esteve ligada à política e à economia como já citado, devido a interesses de poder, a exemplo disso pode-se dizer que a cultura teve um papel fundamental na construção dos Estados nacionais.

A diferença da valorização da cultura para solução de problemas sociais na atualidade, segundo Yúdice (2004, p.13), está numa volta da legitimação baseada na utilidade.

A cultura como recurso é muito mais do que uma mercadoria; ela é o eixo de uma nova estrutura epistêmica na qual a ideologia e aquilo que Foucault denominou sociedade disciplinar (isto é, a imposição de normas a instituições como a educacional, a médica, a psiquiátrica etc.) são absorvidas por uma racionalidade econômica ou ecológica, de tal forma que o gerenciamento, a conservação, o acesso, a distribuição e o investimento - em “cultura” e seus resultados - tornam-se prioritários (YÚDICE, 2004 p. 13).

Com a ascensão do capitalismo, surge o conhecimento simbólico como a produção material de riquezas e usando o marketing e a publicidade como instrumentos de reprodução

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capitalista, geradores de lucros. É neste contexto que alguns estudiosos apontam essa fase como um marco na transição da modernidade para a pós-modernidade:

No estágio do capitalismo tardio, a cultura em si torna-se o principal determinante da realidade social, econômica, política e mesmo psicológica. [...] Somos testemunhas de uma ‘dilatação imensa’ da esfera do cultural, "uma imensa e historicamente original aculturação do real", "um salto quântico no que Benjamin chamou de 'esteticização' da realidade". A cultura tornou-se um "produto por direito próprio", o processo de consumo cultural não é mais simplesmente um apêndice, mas a própria essência do funcionamento capitalista (KUMAR, 1997, p. 127).

E é nesse sentido que surge um marco central na produção de riquezas através da cultura - a dimensão simbólica - onde podemos apurar o progresso da publicidade na concepção e posicionamento dos produtos, das disputas em torno da propriedade intelectual, das marcas e do consumo como espaço de afirmação de identidades e de relações de poder (CANCLINI, 2005). De acordo com essa perspectiva pode-se dizer que a cultura abrange questões políticas, econômicas e sociais sem separação e autonomização dessas esferas no período da pós-modernidade.

[o pós-modernismo] é resultado de um processo contínuo de "des-diferenciação", cujas origens são encontradas nas mudanças sociais e culturais das décadas de 1950 e 1960. Em primeiro lugar, as diferentes esferas culturais - a estética, a ética, a teórica - perdem sua autonomia, “por exemplo, o reino estético começa a colonizar as esferas teórica e moral-política” (cf. a "esteticização da realidade", de Jameson). Em segundo, “o reino cultural... não é mais separado sistematicamente do social”. Há uma "nova imanência no social da cultura": por exemplo, as distinções sociais, da forma exibida nas alegações da nova classe média, dependem cada vez mais não do poder econômico ou político, mas da exibição de símbolos culturais. Igualmente e em terceiro lugar, a cultura não é mais separada do econômico. Cultura e comércio se fundem e se alimentam de forma recíproca (KUMAR, 1997, p. 128).

Diante disso, um dos maiores exemplos práticos do uso cultural como instrumento de poder foi a ideologia nazista a qual desenvolveu-se no Terceiro Reich através do idealizador Adolf Hitler, assunto que será desenvolvido no próximo subcapítulo.

3.2.1 A Propagação da Doutrina Nazista

O Nazismo se consolidou em um ideal onde o conceito da palavra raça se baseava em uma formação nata de uma comunidade do mesmo sangue, em outras palavras, uma nação

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concebida como uma realidade orgânica supra individual16. Esta doutrina excluía todos aqueles que fossem considerados não-alemães, ou seja, aqueles que não tinham sangue ariano em suas veias. Estes eram chamados de Weltanschauung (aqueles que não tinham a cosmovisão germânica), e considerados como Untermensch (sub homem) ou Unmensch (os não-homens) (RIBEIRO, 1991).

Ainda de acordo com Ribeiro (1991) essa questão de raça oriunda estava pautada em que o povo (Volk) e qualquer indivíduo mesmo que pertencente a um Ministério estava sob as ordens e total controle do Líder (Führer). Durante o período de sete anos, o governo nazista procurou “restaurar” a população alemã, fazendo para que fosse possível, uma esfera política autoritária. Toda essa questão está envolta do período Pós-Guerra, onde a Alemanha havia sofrido grandes impactos em sua economia, a insegurança diante a diversidade moderna e problemas relacionados à política que facilitaram a queda da República de Weimar.

O êxito da estratégia política do nazismo estava conduzido pela geração juvenil da época. Segundo Ribeiro (1991), em um discurso Hitler sintetizou os princípios que deveriam nortear a política educacional do Estado nacional-socialista do futuro: A meta do Estado popular tem de ser a orientação de seu trabalho educacional não para criar e treinar corpos saudáveis. O treinamento das faculdades intelectuais representa apenas um objetivo secundário. Mas também nisto deve-se dar ênfase, em primeiro lugar, à modelagem e formação de caráter, sobretudo para desenvolver a força de vontade e a capacidade de tomar decisões, juntamente com o pronunciado senso de responsabilidade. O treinamento erudito e científico ocupa o último lugar. Um homem de pequenas realizações intelectuais, mas fisicamente saudável, de caráter bom e estável, é mais valioso e vantajoso para a comunidade nacional do que uma pessoa fraca e de elevada cultura. Dessa maneira, funda-se as Escolas de Hitler para formação de uma elite especializada que estivesse pronta para preencher todos os requisitos que a vida alemã necessitava.

16 De acordo com Elias (1994) a sociedade como formações sócio-históricas concebidas, planejadas e criadas por diversos indivíduos ou organismos. Um modelo conceitual de criação racional e deliberada por pessoas individuais. A sociedade deste ponto de vista foi produzida por pessoas isoladas para fins específicos sendo. Os adeptos deste modelo explicam os fenômenos e as estruturas da sociedade através do indivíduo. Porém ainda para o autor há um outro modelo conceitual de sociedade (extraído das ciências naturais - biologia) em que o indivíduo não apresenta papel algum. A sociedade, por sua vez, é concebida como uma entidade orgânica supra-individual que avança inelutavelmente para o desaparecimento, atravessando etapas de juventude, maturidade e velhice. Uma abordagem que tenta explicar as formações e processos históricos e sociais pela influencias de forças fora do indivíduo, mas que são anônimas. Este modelo de pensamento mistura-se facilmente com os modos de religião e metafísicos. É comum, assim, uma espécie de panteísmo histórico: um espírito do mundo ou até o próprio Deus que se encarna num mundo histórico em movimento e serve de explicação para a sua ordem, periodicidade e intencionalidade. Na mesma teoria, podem-se também imaginar as formas sociais especificas habitadas por uma espécie de espírito supra-individual comum.

Referências

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