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Pº C.Co.20/2012 SJC-CT

Consulente: Conservatória do Registo Predial e Comercial de ….

Sumário: Tramitação do processo administrativo de liquidação, na sequência de decisão judicial de encerramento do processo de insolvência por insuficiência de massa insolvente.

Relatório

1. Pela senhora conservadora da Conservatória do Registo Predial e Comercial de …., em substituição, tendo por base situação concreta em que o tribunal comunicou à conservatória o encerramento do processo de insolvência em relação a duas sociedades, por insuficiência da massa insolvente, com indicação dos respetivos patrimónios – quantias depositadas à ordem do tribunal, arrecadadas com vendas de alguns dos bens que haviam sido apreendidos, num caso no valor de 4.549,68€ e no outro 2.200,00€ - com vista à sua liquidação no âmbito do procedimentos administrativos de dissolução e liquidação de entidades comerciais, formula as seguintes questões:

1ª - A existência de numerário, no património da sociedade declarada insolvente, suficiente para o pagamento dos emolumentos previstos para o início oficioso do procedimento administrativo de liquidação, dispensa a nomeação de liquidatário e permite ao conservador declarar imediatamente o encerramento da liquidação da entidade comercial?

2ª - Respondendo afirmativamente à primeira questão, que destino deve ser dado ao numerário que, eventualmente venha a sobejar?

3ª - Uma resposta negativa à primeira questão, levaria a colocar uma outra. Iniciando oficiosamente o procedimento administrativo de liquidação com base na segunda parte do artigo 24º, nº 6, do Regime Jurídico dos Procedimentos Administrativos de Dissolução e Liquidação de Entidades Comerciais, deverá ser dado cumprimento às notificações previstas no nº 2 do artigo 17º?

4ª - Caso o conservador avance para a nomeação de liquidatário e este não consiga obter, com a liquidação do património arrolado, um valor suficiente para fazer face aos encargos com o processo de liquidação, através de que forma esses encargos serão pagos?

2. Vejamos, abreviadamente, que resposta deu a consulente às questões formuladas:

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2.1. Depois de fazer referência ao valor do emolumento do procedimento (525,00€, de acordo com o art.22º/8 do RERN), à remuneração do liquidatário ( 2.000,00€, por aplicação do art. 1º/1 da Portaria nº 51/2005, de 20 de janeiro) e à eventualidade da existência de outras despesas, resultantes do desempenho da função pelo liquidatário, responde afirmativamente à primeira questão, considerando que:

a) A intenção primordial do legislador parece ter sido assegurar que os encargos do processo, havendo património, sejam ressarcidos, relegando para segundo plano o ressarcimento de eventuais credores, que já foram chamados a pronunciar-se quanto à invocação dos seus créditos e tiveram oportunidade de avançar com a liquidação judicial, depositando a quantia necessária para o efeito;

b) Na situação típica de só existirem bens “materiais”, os encargos só por via da venda se poderiam obter - o que obrigaria à nomeação de liquidatário – a qual seria improvável de se conseguir, pois o administrador da insolvência não a conseguiu concretizar, tornando contraproducente aquela nomeação, correndo o risco de aumentar os custos;

c) Uma atitude de racionalidade económica levaria, nas situações concretas supra referidas, a equacionar a possibilidade de declarar imediatamente o encerramento da liquidação ao abrigo do art. 24º/6 do RJPADLEC e “satisfazer ao mesmo tempo e sem mais diligências os encargos do processo, que se limitariam aos emolumentos”.

2.2. Quanto à segunda questão, inclina-se no sentido de que o numerário que sobejar deve ser entregue aos sócios, “considerando nomeadamente o previsto no nº 1 do artigo 163º do CSC”, mas questiona-se se, pelo contrário, não deve o remanescente ser antes distribuído, segundo os critérios legais, pelos credores que reclamaram os seus créditos no processo de insolvência.

2.3. Admitindo como possível uma outra interpretação, que qualifica de “mais conservadora”, que se traduza em responder negativamente à primeira questão – dar início ao processo e designar liquidatário – entende, respondendo às terceira e quarta questões:

a) Que a tramitação passaria por levar a apresentação ao livro Diário, lavrar o averbamento de pendência de liquidação, designar um liquidatário e fixar um prazo para a liquidação, registando de seguida a designação (art.s 18º/ 2 e 7 23º do RJPADLEC);

b) Que o argumento literal (art. 17º/1) vai no sentido de efetuar as notificações, mas que o facto de todos os interessados já terem sido chamados a pronunciar-se e a defender os seus interesses, aponta – “economia processual e economia de atos” – no sentido de dar por cumprida a exigência , considerando ainda que os interessados tiveram conhecimento no processo de insolvência de que a liquidação iria ser efetuada administrativamente; no sentido primeiramente indicado aponta o facto de a

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comunicação do tribunal apenas dever indicar o património da sociedade insolvente, e não também a identificação dos credores que reclamaram créditos e o valor destes;

c) Que caso se defenda que deve ser dado cumprimento ao dito art. 17º/2 os credores teriam que vir reclamar novamente os créditos, sob pena de não serem considerados na liquidação, o que poderia levar novamente à questão do destino a dar ao excesso de numerário; que haveria, no contexto desta interpretação, que cumprir o disposto no art.9º/3 do RJPADLEC (solicitações à Inspeção Geral do Trabalho e à Segurança Social; “embora com algumas dúvidas”, conclui defendendo que devia proceder-se às notificações;

d) Caso o valor obtido com a venda dos bens arrolados não seja suficiente custear os encargos, questiona-se se seria legítimo aplicar as disposições relativas ao administrador de insolvência, em que são suportados pelo IGFEJ(art. 27º da Lei 32/2004, de 22 de julho), defendendo que em tal caso não deve ser atribuída qualquer responsabilidade ao conservador.

3. Foi superiormente determinado submeter a consulta à apreciação deste Conselho, na sequência de proposta do Setor Jurídico e de Contencioso (SJC), a qual assentou na inexistência de doutrina, na atualidade e no melindre das questões, e na necessidade de criar “linhas orientadoras" para as conservatórias e de uniformizar procedimentos.

Pronúncia

1. Como é consabido, a regra – a que não escapa o caso da declaração de insolvência1 – é a de que a dissolução da sociedade não significa extinção, mas entrada

1 Embora unicamente para efeito de enquadramento, importa tornar presentes alguns pontos essenciais do regime da insolvência das sociedades comerciais, considerando que a matéria submetida a consulta se situa, num primeiro momento, no âmbito de processo que assume tendencialmente um caráter unitário, simultaneamente de declaração de insolvência e de liquidação:

a) Dispõe o art. 141º/1/e) do Código das Sociedades Comerciais (CSC) que a declaração de insolvência é causa de dissolução imediata das sociedades comerciais, a qual tem lugar no âmbito do processo de insolvência, regulado pelo Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE) aprovado pelo D.L. nº 53/2004, de 18 de março – entretanto alterado pelos D.L. n.ºs 200/2004, de 18 de agosto, 76-A/2006, de 18 de março, 282/2007, de 7 de agosto, 116/2008, de 4 de julho e 185/2009, de 12 de agosto e pela Lei nº 16/2012, de 20 de abril -, estando pois fora do âmbito do Regime Jurídico dos Procedimentos Administrativos

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em fase de liquidação (cfr art. 146º/1 do CSC), o que no âmbito do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE)2 manifesta uma coerência acrescida ,

considerando a finalidade que a lei atribui ao processo de insolvência( art. 1º) quando diz que O processo de insolvência é um processo de execução universal que tem por finalidade a liquidação do património de um devedor insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores, ou a satisfação destes pela forma prevista no plano de insolvência, que nomeadamente se baseie na recuperação da empresa compreendida na massa insolvente.

2. A insuficiência da massa insolvente para satisfação das custas do processo e das dívidas da massa insolvente está legalmente instituída em fundamento do encerramento do processo.

O âmbito das dívidas da massa insolvente está definido no art. 51º , no qual estão incluídas as custas do processo de insolvência( alínea a)), as remunerações do administrador de insolvência e despesas deste( alínea b)) e as dívidas emergentes dos atos de administração, liquidação e partilha( alínea c)).

Uma das previsões de encerramento consta do art.39º, para o caso em que, tendo o juiz concluído que o património do devedor não é presumivelmente suficiente para a satisfação das custas do processo e das dívidas previsíveis da massa insolvente e não estando essa satisfação por outra forma garantida, faz menção desse facto na sentença de declaração de insolvência.

A outra previsão de encerramento consta do art.232º, segundo o qual, depois de o processo ter prosseguido normalmente após a declaração de insolvência, a dita insuficiência da massa insolvente é, não presumida, mas verificada pelo administrador da

de Dissolução e de Liquidação de Entidades Comerciais (RJPADLEC), aprovado pelo D.L. nº 76-A/2006, de 29 de março e entretanto alterado pelo D.L. nº 318/2007, de 26 de setembro.

b) A sentença de declaração de insolvência está sujeita a registo comercial obrigatório, sendo a inscrição lavrada provisoriamente por natureza, se tiver lugar antes do trânsito em julgado da sentença (art.s 9º/i), 15º/5 e 64º/1/e) do Código do Registo Comercial (CRCom);

c) O registo comercial da declaração de insolvência é efetuado oficiosamente, com base na respetiva certidão, remetida pela secretaria judicial ( art. 38º/2 );

d) A lei exclui a possibilidade de a insolvência ser oficiosamente declarada, ou sequer, promovida, ou seja, prevalece a fidelidade ao princípio dispositivo - Cfr. Carvalho Fernandes e Luís Labareda, in Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas Anotado, 2ª edição, 2008, pág. 56.

2Todas as disposições legais que, a partir deste ponto, se indicarem sem indicação do diploma

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insolvência, que desse facto dá conhecimento ao juiz - podendo este conhecer dela também oficiosamente - que declara encerrado o processo (art. 232º).

A estas previsões de refere o preâmbulo do diploma que aprovou o CIRE, supra indicado, nos seguintes termos: Uma vez que o processo de insolvência tem por finalidade o pagamento, na medida em que ele seja ainda possível, dos créditos da insolvência, a constatação de que a massa insolvente não é sequer suficiente para fazer face às respetivas dívidas – aí compreendidas, desde logo, as custas do processo e a remuneração do administrador da insolvência - determina que o processo não prossiga após a sentença de declaração de insolvência ou que seja mais tarde encerrado, consoante a insuficiência da massa seja conhecida antes ou depois da declaração. Em ambos os casos, porém, prossegue sempre o incidente de qualificação da insolvência, com tramitação e alcance mitigados.

2.1. Para ambos os indicados casos de encerramento do processo determina lei que se passe à liquidação nos termos do RJPADLEC, que no 1º caso significa iniciá-la e no segundo prosseguir com ela ( cfr. art.s 39º/10 e 234º/4 ).

Até à entrada em vigor da alteração do indicado art.39º pela Lei nº 16/2012, de 20 de abril3 (que consistiu, inter allia, no aditamento do seu nº 10) apenas estava

prevista a comunicação para efeito da liquidação administrativa para o segundo indicado caso de encerramento ( dito art. 234º/4) e daí que o art. 15º/5/g)) também se referisse exclusivamente a essa disposição legal.

Daquele nº 10 ficou a constar que Sendo devedor uma sociedade comercial, aplica-se com as necessárias adaptações, o disposto no nº 4 do artigo 234º.

Já antes da mencionada alteração a posição de Luís A. Carvalho Fernandes e João Labareda4 era a seguinte: “Ora, quando é declarada a insolvência de uma pessoa

coletiva e o processo segue o que pode considerar-se o curso típico normal, não resta dúvida que a respetiva dissolução e extinção é uma decorrência necessária desse processo.

Em face, porém, do que determina o nº 7 do art.º 39º, quando a sentença de declaração de insolvência segue a forma simplificada aqui prevista e assim transita em julgado, o processo não deixa de ser , por si só, insuficiente, para concretizar a liquidação da pessoa coletiva atingida, a qual é promovida oficiosamente pelo conservador do registo comercial competente, de acordo com as disposições combinadas do nº 4 do art.º 234º, do artº 15º, nº 5, al.g) do regime jurídico dos procedimentos

3Entrou em vigor no dia 20 de maio de 2012.

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administrativos de dissolução e de liquidação de entidades comerciais, que constitui o Anexo III do D.L. nº 76-A/20006, de 29 de março”.

Após a dita alteração legislativa não podem – apesar de a redação se ter mantido inalterada - surgir dúvidas quanto ao âmbito do mencionado art. 15º/5/i) do RJPADLEC, que deve ser objeto de uma interpretação atualista, no sentido de que abrange também o caso de encerramento logo com o trânsito em julgado da sentença de declaração de insolvência.

3. Refira-se desde logo que a atual redação do nº 4 do art.234º - 4-No caso de encerramento por insuficiência da massa insolvente, a liquidação da sociedade prossegue nos termos do regime jurídico dos procedimentos administrativos de dissolução e liquidação de entidades comerciais, devendo o juiz comunicar o encerramento e o património da sociedade ao serviço de registo competente - foi introduzida pelo mesmo diploma que aprovou o RPADLEC5 cujos artigos 15º( corpo

e alínea g)6 e 24º/6 ficaram com a seguinte redação:

5-O procedimento administrativo de liquidação é instaurado oficiosamente pelo conservador, mediante auto que especifique as circunstâncias que determinaram a instauração do procedimento e no qual nomeie um ou mais liquidatários, quando:

(…)

g) O tribunal que decidiu o encerramento de um processo de insolvência da massa insolvente tenha comunicado esse encerramento ao serviço de registo competente, nos termos do nº 4 do artigo 234º do Código de Insolvência e da Recuperação de Empresas.

Artigo 24º - Regime especial de liquidação oficiosa –

6- No caso da alínea g) do nº 5 do artigo 15º o conservador deve declarar imediatamente o encerramento da liquidação da entidade comercial salvo se do processo de insolvência resultar a existência de ativos que permitam suportar os encargos com o procedimento administrativo de liquidação.

A redação anterior, e inicial, do dito nº 4 do art.234º era:

4-No caso de encerramento por insuficiência da massa, a liquidação da sociedade prossegue, nos termos gerais7.

5D.L. nº 76-A/2006, de 29 de março.

6 O conteúdo desta alínea g) passou para a alínea i), por força da alteração introduzida pelo já

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Referimos aquela coincidência do diploma “fonte” para deixar nota de que é à partida de esperar que exista coerência entre o que consta do CIRE e do RJPADLEC.

4. Já deixámos referido supra que no processo de insolvência vigora o princípio dispositivo.

Impõe-se notar agora que em ambas as indicadas situações de encerramento do processo de insolvência por insuficiência da massa insolvente, a insuficiência (presumida ou verificada) não tem o encerramento como efeito automático, já que, na primeira situação, o requerente do complemento da sentença pode depositar à ordem do tribunal o montante especificado pelo juiz ou caucionar o pagamento mediante garantia bancária (art. 39º/3 do CIRE) e no segundo qualquer interessado pode depositar à ordem do tribunal o montante determinado pelo juiz (art. 232º/2)).

Não o fazendo, ou não há liquidação judicial ou a mesma não termina da forma normal e típica, em que, após o rateio final, o juiz declara o seu encerramento e, efetuado o registo do próprio encerramento, a sociedade se considera extinta (art.s 230º/1/a)/2 e 234º/3 e art.s 9º/n) e 62º-A/a) do CRCom).

5. Outra referência que também não pudemos deixar de fazer supra, foi à finalidade conferida por lei ao processo de insolvência que, deixando de parte a situação em que exista plano de insolvência e abstraindo dos vários incidentes legalmente previstos, se traduz em liquidar para repartir pelos credores, com caráter universal, finalidade que implica necessariamente que previamente se estabeleça quem são os credores da insolvência e a respetiva graduação e que se delimitem os bens e direitos que integram a massa insolvente.

Com vista a tal desiderato, temos:

a)Imediata apreensão de todos os bens da massa insolvente (art. 149º/1), cabendo depois ao administrador da insolvência inventariar os bens e direitos integrados na massa, com indicação do respetivo valor (art. 153º), elaborar a lista provisória dos credores (art.154º ) e elaborar um relatório, a que são anexados os referidos inventário e lista( art. 155º );

b) Verificação e graduação de créditos (artigos 128º a 140º, este último referindo-se à sentença de verificação e graduação de créditos);

c) Restituição e separação de bens (artigos 141º a 148º);

7Relativamente à expressão “nos termos gerais”, Luís A. Carvalho Fernandes e João Labareda,

ob. cit., pág. 775 entendem que a mesma significava “que a liquidação da sociedade devedora deveria ser feita segundo as normas aplicáveis do Código das Sociedades Comerciais”.

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d) Liquidação em sentido restrito: Transitada em julgado a sentença declaratória de insolvência e realizada a assembleia de apreciação do relatório, o administrador procede com prontidão à venda dos bens apreendidos para a massa insolvente (art. 158º/1 ), sendo o produto da venda depositado à ordem da administração da massa (art.167º/1 );

e) Pagamento ( fase incluída no conceito amplo de liquidação): depois de deduzir da massa insolvente os bens ou direitos necessários à satisfação das dívidas desta, o administrador procede ao pagamento dos créditos sobre a insolvência (artigos 172º a 181º).

f) Encerrada a liquidação da massa insolvente, a distribuição e o rateio final são efetuados pela secretaria do tribunal quando o processo for remetido à conta e em seguida a esta e havendo sobras da liquidação que nem sequer cubram as despesas do rateio, as mesmas são atribuídas ao Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça (IGFEJ) - art. 182º/1 e 2.

g) Se o produto da liquidação for suficiente para pagamento da integralidade dos créditos da insolvência o administrador entrega às pessoas que nele participam a parte do saldo que lhes pertenceria se a liquidação fosse efetuada fora do processo de insolvência ou cumpre o que este respeito estiver legal ou estatutariamente previsto (art.184º/1 e 2).

6. Expusemos os aspetos do regime jurídico do processo de insolvência, que se mostram mais pertinentes para a resposta às questões formuladas, bem como as disposições do RJPADLEC que se referem expressamente à instauração oficiosa do procedimento de liquidação.

Cumpre pois saber quais as soluções que melhor traduzem a observância daquele regime e daquelas disposições.

6.1. O art. 234º/4 determina, como vimos, que o juiz deve comunicar ao serviço de registo o encerramento e o património da sociedade e o art. 39º/10 manda aplicar aquele nº 4 com as necessárias adaptações.

A sentença abreviada de declaração de insolvência não decreta a apreensão dos bens da sociedade, para imediata entrega ao administrador da insolvência, nem determina que a sociedade entregue imediatamente ao mesmo administrador a relação com os seus bens e direitos da insolvência, no caso não ter sido junta com a petição inicial (cfr. art.s 24º/1/e), 36º/g) e f) e 39º/1) o que significa que os bens não chegam a ser apreendidos(arrolados) pelo administrador de insolvência.

Daí decorre eventualmente uma adaptação necessária, já que a comunicação ao serviço de registo pode não incluir o valor do património da sociedade:

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a) Caso o inclua, a decisão a tomar - ou de encerramento da liquidação ou da nomeação de liquidatário(s) - depende do respetivo valor( art. 24º/6);

b) No caso contrário, só depois de encontrado o valor é que pode haver decisão, a qual tem assim que aguardar o desenrolar dos procedimentos necessários à obtenção de tal resultado ( cfr. art. 17º/2/b));

Convém ter presente que, como vimos já, a previsão do art. 15º/1/i) do RJPADLEC - ao mandar incluir no auto a nomeação de liquidatário(s), no caso de não dever ser declarada imediatamente o encerramento da liquidação - surgiu num tempo em que o artigo 39º ainda não determinava a aplicação do disposto no art. 234º/4, com as devidas adaptações, ou seja, em que não resultava expressamente da lei que a comunicação do tribunal pudesse ser outra que não a do art. 234º/4, que inclui o valor do património da sociedade.

No presente, a interpretação atualista do art. 15º/1/a) que referimos supra, demanda que neste ponto se entenda que, instaurado oficiosamente o processo, a decisão sobre o seu destino seja deferida para o momento em que estiver determinado aquele valor; logo que tal aconteça, assim se declarará encerrada a liquidação ou se procederá à nomeação de liquidatário(s).

6.2. Centremo-nos finalmente na previsão legal de encerramento do processo de insolvência depois de o mesmo ter prosseguido após a declaração de insolvência e da instauração oficiosa do procedimento administrativo de liquidação.

6.2.1. Em primeiro lugar há que ter em linha de conta que, em face do disposto no art. 232º/1 e 4, a insuficiência pode ser constatada a qualquer momento, valendo o mesmo para o correspondente encerramento do processo8.

O que o juiz não pode deixar de fazer, nos termos do nº 2 do mesmo artigo, é ouvir previamente o devedor, a assembleia de credores e os credores da massa.

8

Como referem Luís A. Carvalho Fernandes e João Labareda,, ob. cit. pág. 204, “No CPEREF, o

recurso às soluções dos art.ºs 186º e 187º, era desencadeado quando se detetasse a penúria da massa falida, qualquer que então fosse o momento, em razão das diligências de apreensão dos bens que se seguia à declaração de falência. (…)

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6.2.2. Em segundo lugar, e como decorre do acabou de se dizer, o valor do património a fazer constar da comunicação ao serviço de registo pode respeitar a numerário e/ou bens ou direitos.

Dizendo a lei que só no caso de resultar do processo de insolvência a existência de ativos que permitam suportar encargos do procedimento administrativo da liquidação, é que não é declarado imediatamente o encerramento da liquidação, deve concluir-se que é só nesta situação que o conservador deve nomear um ou mais liquidatários ( art.s 5º/1 e 24º/6 do RJPADLEC), e não também no caso de não resultar aquela existência.

6.2.3. Decretado o encerramento do processo, o mesmo é remetido à conta, cabendo à secretaria, depois de a efetuar e depois de pagas as custas, distribuir as importâncias em dinheiro existentes na massa pelos credores da massa insolvente, na proporção dos seus créditos art.232º/3), dado que o pagamento das dívidas da massa insolvente é prioritário (art.s 46º/1 e 172º).

É claro que se a massa insolvente é insuficiente para pagar as respetivas dívidas e sendo o pagamento destas prioritário, nada resta para os credores da insolvência – no processo de insolvência - tornando-se inútil a continuação do processo, atendendo à sua finalidade.

No entanto, a lei determina que a liquidação prossiga com o procedimento administrativo e se, o conservador verificar que o valor do ativo é suficiente para cobrir os respetivos encargos, prossegue com o procedimento que instaurou oficiosamente.

A lei não distingue, quanto exigência de nomeação de liquidatários, entre o caso em que o numerário que integra o ativo seja suficiente ou insuficiente para pagamento dos encargos com o procedimento, pelo que nos parece que a mesma terá sempre que ter lugar, passando-se à liquidação.

Apenas no caso em que todo o ativo seja constituído por numerário, se nos afigura não ser de nomear liquidatários, já que o essencial da razão de ser da sua existência é liquidar e não distribuir o ativo liquidado.

6.2.4. Instaurado o procedimento de liquidação e não tendo o conservador declarado imediatamente o encerramento da liquidação, há que saber, seguindo a ordem de questões formuladas pela consulente, se há que proceder às notificações previstas no art. 17º/2 do RJPADLEC, que no nº 1 determina que há lugar a notificação no procedimento, por estarmos perante liquidação que não decorre de dissolução declarada no procedimento administrativo, que no nº 2 estabelece que a finalidade da notificação é dar conhecimento do início do procedimento e que a mesma deve ordenar a comunicação ao serviço de registo do ativo e passivo da entidade comercial e, finalmente, e no nº 3 manda aplicar, com as devidas adaptações, o disposto no art. 8º/1 e 4, 5, 7 e 8 do mesmo RJPADLEC.

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O dito art.8º determina: no nº1, que são notificados a sociedade, os sócios e um dos seus gerentes ou administradores, no nº 4, que a publicação se realiza através de publicação e aviso, nos termos do art. 167º/1 do CSC, dando conta de que os documentos estão disponíveis para consulta no serviço de registo competente, no nº 5 , que a realização daquela publicação é comunicada à entidade comercial e aos respetivos membros que constem do registo, por carta registada, no nº 7, que nos casos previstos no art. 5º/e) aquela comunicação é efetuada apenas à sociedade e no nº 8 que deve ser publicado aviso nos termos do indicado art. 167º/1 do CSC aos credores da entidade comercial e aos credores dos sócios de responsabilidade ilimitada.

Depois do que ficou dito relativamente ao processo de insolvência, fará algum sentido proceder a esta notificação?

Afigura-se-nos que não; conhecimento já existe, quer da sociedade devedora quer dos credores; e o ativo e passivo já foram estabelecidos naquele processo.

6.2.5. Não é provável, mas pode acontecer que nesta liquidação oficiosa – em que a insuficiência da massa para pagar as respetivas dívidas é que determinou a instauração do processo administrativo - se chegue ao resultado de liquidação integral do passivo social e aprovadas as contas, haja que partilhar o ativo restante pelos membros da entidade comercial ( art.20º/5 do RJPADLEC).

Já o contrário é bastante plausível que aconteça, podendo inclusive acontecer, em face da forma como correu a liquidação administrativa, que nem se tenha realizado o suficiente para pagar os encargos da liquidação.

A dado passo, como vimos supra, a consulente afirma que “a intenção primordial do legislador parece ter sido assegurar que os encargos do processo , havendo património, sejam ressarcidos” parecendo que o mesmo legislador relegou “para segundo plano o ressarcimento de eventuais credores, que já foram chamados a pronunciar-se quanto à invocação dos créditos e tiveram oportunidade de avançar com a liquidação judicial”.

Ora, com todo o respeito, aquela afirmação nos parece conforme nem com a indicada finalidade do processo de insolvência - que no caso só não permitiu concretizar totalmente a liquidação, por insuficiência da massa para pagar as dívidas respetivas - nem com o processo administrativo de liquidação isoladamente considerado.

A finalidade do processo de insolvência é liquidar para repartir, logo, não existindo ativo suficiente sequer para o pagamento das dívidas da massa – que é prioritário - a continuidade do processo é inútil para tal finalidade.

Transitando a liquidação para o serviço de registo, não significa que os credores da insolvência deixem de ser interessados; a opção legal pela oficiosidade tem sobretudo

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em vista a extinção da sociedade já dissolvida por efeito da declaração de insolvência, que pressupõe o encerramento da liquidação.

O facto de o valor do património mencionado na comunicação do tribunal ser insuficiente para suportar os encargos da liquidação não determina “abortar” o processo instaurado oficiosamente, mas antes declarar o encerramento da liquidação.

Mas pode acontecer que, embora insuficiente para suportar os encargos com a conclusão da liquidação judicial, o património seja suficiente para suportar os encargos da liquidação administrativa, os quais podem mesmo não o esgotar.

Vejamos:

a)Depois de deduzido o valor dos encargos com o procedimento e liquidado integralmente o passivo, o valor do ativo restante é partilhado entre os membros da entidade comercial de harmonia com a lei aplicável (art. 20º/5);

b) Feita aquela dedução e não sendo o ativo restante suficiente para liquidar a totalidade do passivo, o mesmo deve ser rateado entre os credores, em conformidade com os elementos constantes do processo de insolvência, tarefa que implica conhecer o que consta desse processo - a comunicação inicial do tribunal que contenha só o valor do património terá que completada com os elementos necessários para o efeito;

c) O valor do património indicado na comunicação do tribunal não veio a confirmar-se na liquidação (em função, por ex., de venda de bem efetuada por valor inferior ao atribuído no processo de insolvência), concluindo-se que não chega sequer para cobrir os encargos do procedimento (onde se inclui a remuneração dos liquidatários e respetivas despesas – art. 18º/4 do RJPADLEC, a contrario, art. 27º do Estatuto do Administrador da Insolvência, aprovado pela Lei nº 32/2004, de 22 de julho e art.51º, b) e c)): neste caso há que distribuir o valor existente pelos encargos do procedimento, começando pelo pagamento do(s) liquidatário(s) e respetivas despesas, lançando-se o valor restante como emolumento( art. 22º/8/8.1/8.2 do RERN).

Não vemos que outra possa ser a prática:

- Em primeiro lugar, o ponto de partida da lei é o de que só há procedimento se houver património para cobrir os respetivos encargos e daí que a mesma lei não inclua previsão de insuficiência do património verificada à posteriori.

Importa neste ponto referir que ao serviço de registo cabe uma especial atenção na avaliação inicial que faz da (in)suficiência do património, não só no sentido de antecipar todos os encargos que possam vir a existir, mas também no sentido de que deve levar em linha de conta a natureza do património, nomeadamente a circunstância de o mesmo ser deteriorável.

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Em segundo lugar, não é aqui possível considerar em regra de custas a diferença em falta, já que a lei trata o procedimento administrativo de liquidação como autónomo, relativamente ao processo de insolvência, que até já se mostra encerrado.

Sintetizamos o que ficou dito nas seguintes Conclusões

1. Em caso de comunicação pelo tribunal de que o processo de insolvência de sociedade foi declarado findo pelo facto de o património ser presumivelmente insuficiente para satisfação das custas e das dívidas previsíveis da massa insolvente, após o trânsito em julgado da sentença declaratória de insolvência ( art.s 39º1/6/a) e 10 e 234º/4 do CIRE), o serviço de registo instaura oficiosamente o procedimento de liquidação e( art.s 15º/1/i) e 24º/6 do RJPADLEC):

a) Caso conste da comunicação do tribunal o valor do património e o mesmo seja insuficiente para suportar os encargos do procedimento: declara imediatamente o encerramento da liquidação;

b) No caso contrário: só depois de encontrado o valor( cfr. art. 17º/2/b) do RJPADLEC) é que, de duas uma, ou procede à nomeação de liquidatário(s) ou declara o encerramento da liquidação, consoante o valor seja ou não suficiente para suportar os referidos encargos.

2. Em caso de comunicação pelo tribunal de que o processo de insolvência de sociedade foi encerrado já no seu decurso, por insuficiência da massa insolvente para satisfação das custas do processo e das restantes dívidas da massa insolvente – cuja comunicação inclui a indicação do património da sociedade ( art.s230º/1/d), 232º/ 1 e 2 e 234º/4 do CIRE) - o serviço de registo instaura oficiosamente o procedimento de liquidação e de duas uma:

a) No caso de resultar do processo de insolvência que não existem ativos que permitam suportar os encargos com o procedimento e sem necessidade de nomear um ou mais liquidatários, declara encerrada a liquidação (art.s 15º/5/i) e 24º/6 do RJPADLEC);

b) No caso contrário, nomeia no auto de instauração do procedimento um ou mais liquidatários, a não ser que os ativos sejam constituídos exclusivamente por numerário, não havendo, em qualquer destas duas hipóteses, que proceder à notificação prevista no art.17º/1/a) e 2 do CIRE.

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3. Depois de deduzido o valor dos encargos com o procedimento ( que incluem a remuneração do(s) liquidatário(s)) e liquidado integralmente o passivo, o valor restante é partilhado pelos membros da entidade comercial de harmonia com a lei aplicável( art. 20º/5 do RJPADLEC).

4. Feita aquela dedução e não sendo o ativo restante suficiente para liquidar a totalidade do passivo, o mesmo deve ser rateado entre os credores, em conformidade com os elementos constantes do processo de insolvência.

5. Verificando-se pela liquidação que o património não chega sequer para cobrir os encargos do procedimento - contrariando o valor constante da comunicação do tribunal, que impediu a declaração imediata de encerramento da liquidação pelo serviço de registo - o valor existente é distribuído pelos encargos do procedimento, começando pelo pagamento do(s) liquidatário(s) e respetivas despesas, lançando-se o valor restante como emolumento( art. 22º/8/8.1/8.2 do RERN).

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 27 de setembro de 2012. Luís Manuel Nunes Martins, relator, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Carlos Manuel Santana Vidigal, Ana Viriato Sommer Ribeiro.

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em 16.10.2012.

Referências

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