Avaliação Educacional
Profa Maria Guiomar Tommasiello Faculdade de Ciências Humanas/
Pós-Graduação em Educação mgtomaze@unimep.br
A importância do tema
Segundo Bernadete Gatti, da Fundação
Carlos Chagas, apenas 1% dos cursos de graduação para professores têm matérias específicas sobre provas e avaliações
nacionais.
Os profissionais usam mais a "sensibilidade"
do que conhecimentos acadêmicos para avaliar.
PERCEPÇÕES SOBRE
AVALIAÇÃO
Escrevam, por favor, três palavras que
lhes vêm à mente quando vocês ouvem
a palavra “AVALIAÇÃO” e ao lado
da cada uma dessas palavras, uma
pequena justificativa para essa
Educação de qualidade ou
ensino de qualidade?
Ensino: atividades didáticas para ajudar
os alunos a compreender áreas
específicas do conhecimento
Educação: integrar ensino e vida,
contribuir para modificar a sociedade
que temos
Temos um ensino de qualidade?
Em geral, não temos um ensino de
qualidade. Temos cursos, faculdades,
universidades com áreas de relativa
excelência (em pesquisa,
geralmente).Mesmo as melhores
universidades são bastantes desiguais
nos cursos, metodologias, forma de
avaliar os alunos, infraestrutura,etc.
(MORAN, 2012)
Autoritarismo
O autoritarismo está presente na maior
parte das relações interpessoais. As
mudanças na educação dependem de
termos educadores maduros,
intelectualmente e emocionalmente. O
educador autêntico é humilde e
confiante e está atento ao que não
sabe, ao novo. (MORAN, 2012)
Mudanças na educação dependem de
termos administradores, diretores e
coordenadores mais abertos, que
entendam todas as dimensões que
estão envolvidas no processo
“Como desisti da Escola Politécnica”
Jatogá Creme
“O DISCURSO SOBRE A AVALIAÇÃO
ESCOLAR DO PONTO DE VISTA DO
ALUNO”
Alzira Leite Carvalhais Camargo
Tese de Doutorado/UNICAMP, 1996
Entrevista com 390 universitários-formandos de1991 a 1994
Experiências mais marcantes em
avaliação ocorridas na vida escolar dos
alunos, positivas e/ou negativas
Resultados da tese de 1996
A avaliação é confundida com
mensuração e praticamente inexiste a
preocupação do professor em
acompanhar o processo evolutivo do
conhecimento do aluno. O impacto da
avaliação sobre o aluno é negativo:
causa medo, insatisfação, nervosismo,
revolta, inibição... Ela é assustadora,
espinhosa...
AVALIAR: PRESENTE NO
NOSSO COTIDIANO
A avaliação se faz presente em todos os
domínios da atividade humana. O “julgar”, o “comparar”, isto é, “o avaliar” faz parte de nosso cotidiano, seja através das reflexões informais que orientam as freqüentes opções do dia a dia ou, formalmente, através da
reflexão organizada e sistemática que define a tomada de decisões (DALBEN, 2005, p. 66).
CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO
Quais são as concepções pedagógicas
que subjazem à atual prática de
avaliação do processo de ensino e de
aprendizagem no contexto escolar?
Quatro concepções, segundo CHUEIRI,
(2008):
1ª) Examinar para Avaliar
(ou Pedagogia do Exame)
Mediante o desenvolvimento do modo de produção capitalista, o exame continuou a ser “uma das peças do sistema”.
“É, portanto, ao longo do século XIX que se assiste à multiplicação de exames e
diplomas, pondo em evidência o contínuo controle por parte do Estado dos processos de certificação. (AFONSO, 2000, p. 30)
Embora se reconheça a utilidade e a
necessidade dos exames nas situações que exigem classificação, para Luchesi (2003, p.47), a sala de aula é o lugar onde, em
termos de avaliação, deveria predominar o diagnóstico como recurso de
acompanhamento e reorientação da
aprendizagem, em vez de predominarem os exames como recursos classificatórios.
2ª) Medir para Avaliar
Reduzir a avaliação à medida implica aceitar a confiabilidade da prova como instrumento de medida e desconsiderar que a
subjetividade do avaliador pode interferir nos resultados da avaliação.
Mas afinal o que é uma medida?
“Medir significa atribuir um número a um
acontecimento ou a um objeto, de acordo com uma regra logicamente aceitável”(Hadji, 2001, p.27).
3ª ) Avaliar para Classificar ou
para Regular
“A avaliação é tradicionalmente
associada, na escola, à criação de
hierarquias de excelência. Os alunos
são comparados e depois classificados
em virtude de uma norma de
excelência, definida em absoluto ou
encarnada pelo professor e pelos
melhores alunos”. (PERRENOUD,1999,
p. 11)
Outra função tradicional que a avaliação
assume no contexto escolar é a certificação: o diploma garante que o seu portador
recebeu uma formação, não necessitando se submeter a novos exames.
Segundo Perrenoud (1999), nossas práticas de avaliação são atravessadas por duas
lógicas não excludentes: a formativa e a somativa.
Avaliação somativa
Esta se relaciona mais ao produto
demonstrado pelo aluno em situações
previamente estipuladas e definidas
pelo professor, e se materializa na nota,
objeto de desejo e sofrimento dos
alunos, de suas famílias e até do
próprio professor.
Avaliação Formativa
Preocupa-se com o processo de apropriação dos saberes pelo aluno, os diferentes
caminhos que percorre, mediados pela intervenção ativa do professor, a fim de
promover a regulação das aprendizagens, revertendo a eventual rota do fracasso e reinserindo o aluno no processo educativo.
4ª) Avaliar para Qualificar
“Fala-se em avaliação de conteúdos,
conceitos, procedimentos, atitudes, mas há que se sintetizar todo o processo num
conceito ou número” (SANTOS GUERRA apud ESTEBAN, 2001, p. 121).
Apesar da incorporação da abordagem qualitativa ser um avanço na proposta de
avaliação escolar, ela ainda não é suficiente para a reconstrução global da práxis
Por que é difícil mudar a
avaliação?
Segundo Luckesi (2002 ) as nossas
representações sociais sobre
avaliação-que são padrões
inconscientes de conduta- determinam
nosso modo ser, agir e pensar sobre
determinados fenômenos ou
O modelo de exames escolares hoje
praticados, foi sistematizado no
decorrer do século XVI, com o
nascimento da escola moderna,
caracterizada pelo ensino simultâneo,
em que um professor sozinho ensina,
ao mesmo tempo, a muitos alunos.
“Instrumentos” de Avaliação
Para Luckesi (2002), cotidianamente, confundimos instrumentos de coleta de dados com instrumentos de avaliação. As provas, que são os instrumentos dos
exames, passaram, direta e imediatamente, a ser denominadas “instrumentos de
avaliação”. Trata-se, no entanto, de uma inadequação que automaticamente
repetimos. .
Avaliação quanti/qualitativa
Importante salientar ainda o equívoco
existente no uso dos conceitos de
avaliação qualitativa e avaliação
quantitativa. Avaliação, para ser
constitutivamente avaliação, só pode
ser qualitativa. LUCKESI (2002)
Outro problema a ser
considerado:
A
avaliação
está
diretamente
relacionada à concepção de
ensino-aprendizagem do docente.
“Diga-me como avalia seus alunos e lhe
Avaliação da Aprendizagem
O que significa dizer que alguém sabe
alguma coisa?Por exemplo: Como
saber se um aluno aprendeu o teorema
de Pitágoras?
Podemos avaliar:
Se a pessoa sabe..
Se a pessoa sabe fazer..
Se a pessoa sabe aplicar...
Pense numa questão/problema sobre o
teorema de Pitágoras que você
aplicaria aos alunos para verificar se
eles aprenderam.
Quais competências e habilidades os
alunos deveriam ter para resolver o
problema que você elaborou?
A competência é uma habilidade de
ordem geral, enquanto a habilidade é
uma competência de ordem particular,
específica.
Objetivos da avaliação
Objetivos Valorativos: responsabilidade,
postura, autonomia, auto-estima,
socialização;
Objetivos de Conhecimento: elaboração
de conceitos, estabelecimento de
relações, pesquisa, autonomia
intelectual, promover a melhoria do
ensino.
AVALIAÇÃO COMO PROMOTORA
DA MELHORIA DE ENSINO
A avaliação permite uma dupla
retroalimentação. Por um lado, indica
ao aluno seus ganhos, sucessos,
dificuldades a respeito das distintas
etapas pelas quais passa durante a
aprendizagem e ao mesmo tempo
permite a construção/reconstrução do
conhecimento.
Por outro lado, indica ao professor como se
desenvolve o processo de aprendizagem e, portanto, o processo de ensino, assim
como os aspectos mais bem sucedidos ou os mais conflitantes, que exigem
mudanças. Os “erros” dos estudantes
passam a ser vistos como integrantes do
processo de aprendizagem. Vergani (1993, p. 152) afirma: “interessar-se pelo aluno é
Considerações sobre a
Avaliação
Um dos principais papéis atribuídos ao
professor é o de AVALIADOR,
principalmente da aprendizagem de
seus alunos.
A avaliação no ensino
superior
Em geral, tem como principal
característica: CLASSIFICAR os alunos
– normalmente em ordem
DECRESCENTE, baseado na nota
individual em uma PROVA.
A Prova
feita de/para maneira SOLITÁRIA, na maioria das
vezes - tanto o professor, desinteressado das características do grupo em que atua, como o aluno, ÚNICO responsável pelo seu (in)sucesso;
é anunciada com antecedência necessária para
que os alunos se preparem para “acertarem” o maior número de respostas pré-estabelecidas;
o porquê: MEDIR O SUCESSO do aluno na
Na Verdade:
Mede-se apenas a capacidade do aluno em memorizar e repetir informações/algoritmos transmitidos durante as aulas.
Obs: a memorização é importante para a aprendizagem, desde que a memorização ocorra a partir da compreensão de fato, gerando aprendizagem (significativa).
Desse modo:
Aos alunos mal-sucedidos – os que
ERRARAM nesse tipo de prova -, atribuem-se características de BAIXA DEDICAÇÃO, POUCO ESTUDO, enfim, dificuldades
diversas, próprias dos ALUNOS. Com base nessas avaliações propõem-se sua
INAPTIDÃO a adquirir NOVOS CONHECIMENTOS;
Uma Proposta
avaliação mediadora dos processos de ensino e
aprendizagem, proporcionando encorajamento e reorganização do saber.
“[...] o professor deve assumir a responsabilidade de refletir sobre toda a produção de conhecimento do aluno, favorecendo a iniciativa e a curiosidade no perguntar e no responder e construindo novos saberes junto com os alunos”.
impedir que a avaliação seja apenas uma
maneira CLASSIFICATÓRIA de alunos;
o professor deve usar a avaliação como um
INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM,
deixando de preocupar-se com quem merece ou não uma avaliação positiva. É preciso sim ajudar o aluno a AVANÇAR no processo de construção do conhecimento;
a AVALIAÇÃO FORMATIVA deve estar
o professor precisa parar de julgar o
QUANTO a resposta de A foi melhor do
que a de B e INDAGAR: “Que
perguntas ou situações devo propor a B
para que ele também possa construir
seu conhecimento e superar suas
dificuldades?
Para mudar os sentimentos
negativos sobre a prova
Segundo Gatti (2003):
Cuidar do que parece óbvio, mas nem sempre é
cuidado: preparar bem as provas e os alunos para as realizar;
Identificar quais aspectos de ensino de sua disciplina
foram realmente trabalhados em classe no período a ser avaliado, quais dentre estes serão incluídos na prova e por quê;
Utilizar um tipo de prova com questões/problemas
Aplicar um número maior de provas de forma
a possibilitar uma diminuição da pressão
sobre os alunos quanto ao seu desempenho;
Mostrar aos alunos como as provas podem
ser usadas não só para identificar o que foi aprendido e de que modo ocorreu a
aprendizagem, como também para detectar aquelas áreas em que algum ensino
adicional será necessário para melhor compreensão da matéria;
Usar a prova corrigida como meio de ensino. É
produtivo oferecer aos alunos, o mais cedo possível, os resultados de suas provas, com comentários;
Discussões coletivas sobre as questões da prova,
sem personalizar resultados, também são um meio de alavancar aprendizagens em relação a pontos valiosos para o acervo de conhecimento dos alunos.
Procurar compreender por que os alunos colam ou
tentam colar em uma prova. Analisar os tipos de questões dadas.
Dar condições que favoreçam ao aluno
exprimir o que realmente sabe (e não perguntar o que já se sabe que ele não sabe!)
Apesar da prova ser o meio mais utilizado
para a avaliação, estas não devem ser os únicos instrumentos de avaliação;
O professor teve ter em mente que quando
avalia seus alunos está avaliando a si
mesmo, embora não tenha consciência disto ou admita isto.
Avaliações rápidas: trabalho de
minuto
“Para empregar o Trabalho de Minuto, o
professor interrompe a aula uns dois ou três minutos mais cedo e pede aos alunos que respondam brevemente a alguma variação das duas perguntas seguintes: ‘Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu nesta aula?’ ‘Qual foi a questão importante que ficou sem resposta?’ Os estudantes escrevem suas respostas e as entregam” (ANGELO; CROSS, apud GATTI, 2003, p.108).
A avaliação não é responsável nem pelo
fracasso escolar, nem pela exclusão social e, portanto, não é apenas mudando os
procedimentos de avaliação que nós vamos produzir sucesso escolar e inclusão social. Mas através dela os professores podem ir equilibrando o processo de
ensino-aprendizagem e regulando as suas práticas. (ESTEBAN,2004).
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
Por que avaliamos? O que é avaliar?
O que avaliamos? Como avaliamos?
Para quem avaliamos?
Quais são as dificuldades da avaliação? Como melhorar a avaliação?
REFERÊNCIAS
AFONSO, Almerindo J. Avaliação educacional: regulação e emancipação. 2.ed.
São Paulo: Cortez, 2000.
CHUEIRI, M. S. F. Concepções sobre a Avaliação Escolar. Estudos em
Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan./abr. 2008
DARSIE, M. M. P. Avaliação e aprendizagem. São Paulo, Cadernos de
Pesquisa, n.99, p.47-59, Nov. 1996.
ESTEBAN, M. T.; SILVA, J. F.; HOFFMANN, J. (Org.). Práticas avaliativas e
aprendizagens significativas em diferentes áreas do currículo. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2004.
GATTI, B. O professor e a avaliação em sala de aula. Estudos em Avaliação
Educacional, 108 n. 27, jan-jun/2003
HADJI, Charles. A Avaliação desmitificada. Porto Alegre: Artmed, 2001. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem na escola e a questão das
representações sociais. Eccos Revista Científica, vol. 4, fac. 02,2002, p.79-88.
PAVANELLO, R. M., NOGUEIRA, C.Avaliação em matemática: algumas