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Construções gerundivas no português europeu e brasileiro

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Academic year: 2021

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UIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMETO DE LIGUÍSTICA GERAL E ROMÂICA

COSTRUÇÕES GERUDIVAS O PORTUGUÊS

EUROPEU E BRASILEIRO

MARAÍSA MAGALHÃES ARSÉIO

DOUTORAMETO EM LIGUÍSTICA

(Linguística Portuguesa)

(2)

UIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMETO DE LIGUÍSTICA GERAL E ROMÂICA

COSTRUÇÕES GERUDIVAS O

PORTUGUÊS

EUROPEU E BRASILEIRO

Tese orientada por:

Maria Gabriela Ardisson Pereira de Matos

(Professora Associada com Agregação, FLUL)

MARAÍSA MAGALHÃES ARSÉIO

DOUTORAMETO EM LIGUÍSTICA

(Linguística Portuguesa)

(3)

Dedico este trabalho

Dedico este trabalho a

Dedico este trabalho

Dedico este trabalho

a

a

a Gabriela Matos, pela s

Gabriela Matos, pela sábia orientaç

Gabriela Matos, pela s

Gabriela Matos, pela s

bia orientaç

bia orientaç

bia orientação,

o,

o,

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pelo apoio constante e pela amizade

pelo apoio constante e pela amizade

pelo apoio constante e pela amizade

pelo apoio constante e pela amizade,,,, e à menina dos meus

e à menina dos meus

e à menina dos meus

e à menina dos meus

olhos, Rafaela Arsénio, minha luz e esperança.”

olhos, Rafaela Arsénio, minha luz e esperança.”

olhos, Rafaela Arsénio, minha luz e esperança.”

olhos, Rafaela Arsénio, minha luz e esperança.”

(4)

Esta tese foi realizada com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através da bolsa SFRH/BD/21640/2005.

Parte desta tese foi subsidiada pelo Projecto PTDC/LI/66202/2006, intitulado Silent

Constituents in the Grammar of Portuguese –Constituintes Silenciosos na Gramática do Português (SILC), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

(5)

Índice

Índice ……….... A

Resumo ………. E

Abstract ……….... F

Capítulo 1

1. Introdução….………..…………...1

1.1

Quadro Teórico ……… 2

1.1.1 A Teoria dos Princípios e Parâmetros ………... 2

1.1.2 Minimalismo ………. 3

1.1.2.1 Arquitetura formal: principais características ... 3

1.1.2.2 Traços e operações ………..………. ….. 4

1.1.2.3 Princípios gramaticais ………...……...……... 5

1.1.2.4 O Léxico e a sua interpretação nos níveis de interface… 5

1.1.2.5 As Fases ……….……... 6

2 . Alargamento do conhecimento das gerundivas ………...6

3. As construções em estudo ………... 7

4. As principais questões ……….... 9

5. Organização do trabalho ………...11

Capítulo 2

2. A análise das construções de gerúndio nas gramáticas de referência

do português, do italiano e do espanhol …………...… 13

2.1

Gramáticas do Português ………..………….13

2.1.1 Cunha (1972), Cunha e Cintra (1984) ………...…..………15

2.1.2 Mateus et al. (1989, 2003) ……….….……... 23

2.1.3 Bechara (1999) ………...29

2.2 As construções de gerúndio nas gramáticas descritivas do italiano

e do espanhol ………... 35

2.2.1 As orações adverbiais de gerúndio no italiano ……... 36

2.2.2 Gerúndio adverbial e o gerúndio predicativo no espanhol ..41

(6)

2.3 Observações finais ………... 56

Capítulo 3

3. Orações adverbiais gerundivas em português ………....…61

3.1

Os valores das gerundivas adverbiais-As abordagens semântica

e pragmática ………61

3.1.1 Os valores das gerundivas em Ferrari (1997, 1999) …...…… 61

3.1.2 Os valores aspectuais das gerundivas temporais em Leal (2003)

……….……...…...66

3.1.3 Os valores semânticos das gerundivas adverbais em Móia e

Viotti (2004) ………..………...72

3.2. Abordagem sintáctica ………...… 83

3.2.1. As construções gerundivas em Lobo (2002, 2003, 2006) ....…83

3.2.2 A distribuição sintáctica das gerundivas adverbiais em Lobo...84

3.2.3 A natureza categorial das orações adverbiais gerundivas……. 92

3.2.4. Os sujeitos nas orações adverbiais gerundivas ………... 97

3.2.5. A posição sintáctica e o valor discursivo das gerundivas

adverbiais ………... 105

3.3 Posição Adoptada ……….……..….. 106

3.3.1 Os valores das gerundivas adverbiais ……… 107

3.3.1.1. Os valores das gerundivas e o valor do morfema de

gerúndio ………..…..…...107

3.3.1.2. Factores determinantes dos valores das gerundivas e seus

valores centrais ………... 109

3.3.2. A distribuição das gerundivas adverbiais …………..……… 119

3.3.2.1. O valor das gerundivas e a sua posição na oração matriz

………... 119

3.3.2.2. Casos de manutenção do valor das gerundivas em posição

periférica e não-periférica ………... 123

3.3.2.3.O valor central das gerundivas de predicado …………. 124

3.3.3 A estrutura das gerundivas adverbiais ………... 126

3.3.4. Gerundivas com sujeitos omitidos e realizados no português

europeu e brasileiro …...133

3.3.4.1. Gerundivas adverbiais com sujeitos realizados ……….134

3.3.4.2. Gerundivas adverbiais com sujeitos nulos ……… 142

(7)

Capítulo 4

4. As construções gerundivas predicativas no domínio frásico em

português ………..153

4.1

As gerundivas predicativas na literatura ………155

4.1.2 Os diferentes tipos de construções gerundivas predicativas

………155

4.1.3 As propriedades gerais das gerundivas predicativas face às

adverbiais ………... 160

4.2 As construções gerundivas de complemento predicativo ……. 169

4.3 Gerundivas predicativas adjunto ………... 174

4.3.1 Gerundivas predicativas adjunto: valores semânticos e

comportamento sintáctico ………..175

4.3.1.1 Valores semânticos ………175

4.3.1.2 Comportamento Sintáctico ………. 179

4.3.2 Estrutura das gerundivas predicativas adjuntas: oração pequena

ou predicação secundária? ………...……….187

4.3.3 As gerundivas descritivas: autonomia da oração pequena ou

formação de predicado complexos... 191

4.3.3.1. Nível de inserção das gerundivas descritivas no predicado

da oração matriz ………... 193

4.3.3.2. Dependência das gerundivas predicativas descritivas face

ao predicado matriz e sua posição no sintagma verbal . 198

4.3.3.3. Natureza categorial das Gerundivas descritivas

predicativas ………. 205

4.4 Construções Gerundivas Resultativas …………...…………...211

4.4.1 A integração das Gerundivas de Resultado na frase principal

………215

4.4.2 Estrutura interna das gerundivas de resultado face às

predicativas descritivas ………. 219

4.4.3 Os sujeitos Nulos nas gerundivas resultativas de evento

complexo ……….………225

4.6 Conclusão ao Capítulo ………. 229

Capítulo 5

(8)
(9)

RESUMO

Esta tese de Doutoramento, intitulada Construções com o Gerúndio no Português

Europeu e Brasileiro, tem por objectivo analisar as gerundivas adverbiais e as predicativas.

Relativamente às gerundivas adverbiais, procurarei: (i) afinar a proposta de Lobo (2003) quanto à natureza categorial das gerundivas adverbiais, nomeadamente mostrando que há gerundivas adverbiais não periféricas CPs que se adjungem a posições baixas como vP; (ii) demonstrar que há dois valores inerentes às gerundivas adverbiais, tempo e modo, aos quais outros sentidos se podem sobrepor: causa, condição, concessão, finalidade,

instrumento; (iii) dar conta da ordem dos sujeitos realizados nas gerundivas absolutas

periféricas, relacionando-a com o parâmetro de sujeito nulo no português europeu (PE) e a sua perda progressiva em brasileiro (PB): Aux/V-S para as línguas pro-drop (PE) e S-V para as não pro-drop (PB); (iv) caracterizar os sujeitos nulos das gerundivas no PB, tendo em conta a sua natureza tendencialmente não pro-drop.

Quanto às gerundivas predicativas, procurarei: (i) demonstrar que há três tipos de gerundivas predicativas: orações complemento, descritivas e resultativas; (ii) diferenciar as predicativas descritivas das adverbiais de modo sintáctica e semanticamente; (iii) apresentar diferenças e semelhanças entre predicativas descritivas e resultativas, demonstrando que as primeiras são projecções deficitárias, AspP, e as segundas são TP que indicam o resultado do evento da matriz (são resultativas de evento complexo), mas que, no que tange à sua distribuição, ambas estão adjungidas ao VP matriz e mantêm uma relação estreita com o V, formando um predicado complexo ou um evento complexo.

Penso ter demonstrado a adequação da Teoria de Princípios e Parâmetros para dar conta das gerundivas adverbiais e predicativas: estas orações diferem sintáctica e semanticamente devido à sua estrutura funcional (CP/TP, as adverbiais; AspP/TP, as predicativas) e à categoria funcional a que se adjungem (a CP/TP/vP, as adverbiais; a VP as predicativas descritivas e resultativas).

Palavras-chave: gerundivas adverbiais, gerundivas predicativas, predicados complexos, eventos complexos, fases.

(10)

ABSTRACT

This PhD thesis, entitled Gerund Constructions in European and Brazilian

Portuguese, aims to analyze adverbial and predicative gerund clauses.

Concerning adverbial gerunds: (i) I will refine the proposals of Lobo (2003) on the categorial nature of gerund adverbials, namely by showing that non-peripheral adverbial gerund clauses may be CPs that adjoin to vP; (ii) I will demonstrate that gerund adverbial clauses present two inherent values, time and manner, with which other values may overlap:

cause, condition, concession, purpose, instrument; (iii) I will correlate the different order of

lexically realized subjects in absolute gerund clauses with the null subject parameter in European Portuguese (EP) and its progressive loss in Brazilian (BP): Aux/V-S in pro-drop languages (PE) and S-V in non-pro-drop languages (BP); (iv) I will also try to account for the occurrence of null subjects in BP gerund adverbial clauses, taking into account its tendential behavior as a non-pro drop language.

As for predicative gerund: (i) I will demonstrate that there are three types of clauses: complement, depictive and resultatives gerunds; (ii) I will present syntactic and semantic properties that differentiate depictive from manner gerunds; (iii) comparing depictive and resultative gerunds, I will show that the former are defective projections, AspP, and the latter are TPs that indicate the result of the matrix event; however, with regard to their distribution, both types are adjoined to VP and establish a close relationship with the matrix V, forming a complex predicate or a complex event.

Principles and Parameters Theory adequately accounts for gerund adverbial and predicative clauses. They differ syntactically and semantically by their functional structure (adverbial clauses are CP / TP; predicate clauses are AspP / TP) and the functional category to which they adjoin (adverbial gerund clauses adjoin to CP / TP / vP, depictive and resultative gerunds to VP).

Keywords: gerundive adverbials, gerundive predicate, complex predicates, complex events, phases.

(11)

CAPÍTULO 1

1. Introdução

As orações tradicionalmente denominadas reduzidas subdividem-se em gerundivas, participiais e infinitivas. São orações não-finitas, de diferentes matizes semânticos (temporais, modais, causais, entre outros). Estruturalmente parecem ter propriedades estruturais distintas das orações subordinadas finitas, sendo tradicional a distinção entre

orações plenas vs. orações deficitárias.

A partir do objetivo mais amplo de confrontrar os diferentes tipos de orações não finitas, o presente trabalho recorta, como objeto de estudo, as orações Gerundivas. Assim, o tópico central desta tese de Doutoramento são as Construções de Gerúndio

no Português Europeu e no Português Brasileiro. Não obstante, dada a produtividade do uso

do gerúndio nas variantes do Português Europeu (PE) e do Português Brasileiro (PB), bem como sua manifestação em diferentes contextos (Gerundivas adnominas, adverbiais,

independentes, coordenadas, predicativas, dentre outras), restringi o meu estudo às

construções Gerundivas adverbiais e predicativas.

O meu objectivo central foi o estudo das construções gerundivas adverbiais que

ocorrem na margem esquerda e direita da oração matriz com pausas e das gerundivas da margem direita sem pausas. Considerando as últimas, procurei distinguir as gerundivas com valor adverbial das gerundivas predicativas, e nestas, as gerundivas descritivas das gerundivas resultativas. Centrei-me na sua estrutura interna, bem como na sua distribuição

(12)

1. 1 Quadro teórico

A presente tese de doutoramento, subordinada ao tema Construções Gerundivas no

Português Europeu (PE) e Brasileiro (PB), enquadra-se fundamentalmente na Teoria de

Princípios e Parâmetros.

1.1.1 A Teoria dos Princípios e Parâmetros

A Teoria dos Princípios e Parâmetros, iniciada em 1981 (Chomsky 1981), abarca dois modelos gramaticais diferentes que partilham alguns aspectos comuns: a Teoria da Regência e da Ligação, desenvolvida durante a década de oitenta do século XX e o Programa Minimalista, que surge em inícios dos anos noventa do mesmo século.

No âmbito do Programa Minimalista, tem havido uma evolução, desde o seu advento, tanto nos princípios considerados como nas operações envolvidas pelo sistema gramatical. Constituem marcos de evolução relativamente à sua formulação inicial em Chomsky 1993, as seguintes obras: Chomsky 1995, 2001a, 2001b, 2004, 2008.

Este trabalho tem como quadro de referência os estudos sobre fases desenvolvidos desde Chomsky (2001b). No entanto, também ideias expostas em Chomsky (1981-1983), no início da Teoria dos Princípios e Parâmetros no Quadro da Regência e da Ligação, serão utilizadas na presente tese.

Como os conceitos vão sendo descritos à medida em que os dados os exigem, destaco apenas as principais ideias do Programa Minimalista. Do mesmo modo, os trabalhos de outros linguistas que se debruçaram sobre esta Teoria só serão mencionados quando for necessário.

(13)

1.1.2 Minimalismo

A versão mais recente do gerativismo clássico - o Programa Minimalista (Chomsky, 1993-2008) - tem como principal objetivo construir uma teoria da gramática fundada sobre conceitos naturais exclusivamente, baseando-se em uma visão de economia. A aquisição da linguagem mantém-se como uma das preocupações teóricas centrais e questões relativas ao uso são reconsideradas.

1.1.2.1. Arquitetura formal: principais características

Assume-se a noção de Faculdade da Linguagem, entendida como uma componente específica da mente/cérebro humano, cujo estado inicial é determinado biologicamente e cujo estado final estável constitui a gramática de uma língua específica, ou língua-interna (Língua-I).

A geração de estruturas da língua é resultado da actuação de um sistema computacional, que se encontra encaixado nos sistemas de performance.

Hauser, Chomsky & Fitch (2002) referem-se ao sistema computacional em si como

Faculdade de Linguagem em sentido restrito (FLN - Faculty of Language in the Narrow

sense) e ao conjunto desse e dos sistemas cognitivos com os quais FL/ faz interface como a

Faculdade de Linguagem em sentido lato (FLB -Faculty of Language in the Broad sense).

Os autores assumem dois níveis de representação para cada frase da língua, responsáveis pelo emparelhamento entre som/forma e sentido: os níveis de representação Forma Fonética (PF - do inglês Phonetic Form) e Forma Lógica (LF - do inglês Logical Form), conceptualmente motivados por fazerem interface com os sistemas de performance: sistema sensório-motor (interface fonético-fonológica) e os sistemas conceituais-intencionais (interface semântica).

(14)

1.1.2.2 Traços e operações

Na visão minimalista, não há regras específicas a serem adquiridas. O léxico comporta toda a informação paramétrica peculiar a uma dada língua e o sistema computacional é sensível a esse tipo de informação. Essa codificação paramétrica é possibilitada pela concepção de que os itens lexicais constituem conjuntos de traços que apresentam tanto propriedades fonéticas e semânticas, como também propriedades gramaticais, representadas por traços formais do tipo: gênero, número, pessoa, Caso, QU, etc. O sistema computacional é composto por uma série de operações - Select, Merge,

Agree - que actuam sobre uma Numeração, i.e., um conjunto de itens lexicais seleccionados.

Mais especificamente, o sistema computacional actua sobre os traços formais/gramaticais dos itens lexicais, a fim de que, em um determinado momento da derivação sintática (Spell-Out), em que só restem traços fonológicos, semânticos ou

formais passíveis de interpretação pelos sistemas de pensamento, se envie a cada uma das interfaces linguísticas a informação relevante para os sistemas de performance.

A selecção de itens lexicais e de seus respectivos traços para a formação da Numeração determina, portanto, a actuação das operações do sistema computacional. A combinação de elementos se faz pela actuação da operação Merge. A imposição de interpretabilidade dos traços, advinda dos sistemas de interface, impõe ao sistema computacional o accionar da operação Agree. Traços interpretáveis e não interpretáveis de mesmo tipo podem ser associados a categorias que serão relacionadas no decorrer da derivação sintáctica por meio dessa operação. A operação Move passa a ser entendida como

Merge+Agree. Cópias do elemento deslocado são geradas, que não serão pronunciadas no output fonético, embora possam ser relevantes para questões de interpretação, na componente

(15)

A derivação procede por subarranjos de itens lexicais disponibilizados na Numeração. Desde 2001, admite-se que a derivação dos objectos sintácticos se processa por Fases.

1.1.2.3 Princípios gramaticais

No Minimalismo, identificam-se duas categorias de princípios: princípios relacionados ao mecanismo de derivação sintáctica, os chamados Princípios de Economia e as Condições de Localidade, e aqueles relativos aos níveis de representação que fazem interface com os sistemas de performance - o Princípio de Interpretabilidade Plena e a Condição de Inclusividade.

Em suma, no Minimalismo, tem-se uma caracterização da Faculdade da Linguagem mais restrita com princípios de carácter mais geral, e parâmetros, definidos sobre propriedades do léxico.

1.1.2.4 O Léxico e a sua interpretação nos níveis de interface

O léxico possui os traços, ou seja, as propriedades que precisam ser interpretadas na interface. De maneira que se alguém diz "livro" o léxico contém estes traços que no nível da interface semântica e fonológica serão compreendidos. E a interface compreenderá não somente estes traços, mas também o modo como estão organizados. Então uma frase é uma organização complexa. Assim, por exemplo, na interface semântica ela deverá ser interpretada, não somente relativamente aos traços que a constituem mas também quanto ao modo como estão organizados e as conexões que estabelecem.

(16)

1.1.2.5 As Fases

Chomsky propõe que derivações processam por Fases. Uma fase é um objecto sintáctico cujas partes (mais especificamente, o complemento de seu núcleo) pode ser inspeccionado para convergência. As estruturas sintácticas são construídas, cada fase a seu tempo. No fim de cada fase, uma parte da estrutura sintáctica já formada transfere-se para as componentes fonológicas e semânticas, deixando de ser acessível a futuras operações sintácticas a partir desse ponto.

As estruturas sintácticas são construídas fase a fase. Chomsky sugere que as fases são proposicionais por natureza, e incluem CP e vP transitivo (mais especificamente vP com argumento externo, que ele denomina v*P). Seu raciocínio para considerar CP e v*P como fases é que CP representa oração completa complexa (incluindo a especificação da força ilocutória) e v*P apresenta uma estrutura temática completa (estrutura argumental) complexa (incluindo um argumento externo).

2. Alargamento do conhecimento das gerundivas

A partir de estudos prévios, foi dada especial atenção aos trabalhos mais importantes sobre as Orações Gerundivas no português, no espanhol, no italiano e no inglês.

Fizemos um capítulo de revisão bibliográfica das Gramáticas de referência sobre o Gerúndio em Português, analisando especialmente Cunha (1972), Cunha e Cintra (1984), Bechara ( 1999) e Mateus et al (2003) para o português, Lonzi (1991) para o italiano e Lagunilla (1999) para o espanhol.

Também buscamos embasamentos em artigos e teses que tratassem do assunto no âmbito semântico como em Ferrari (1997, 1999), Leal (2003), Móia e Viotti (2004). Já no âmbito sintáctico-semântico amparamo-nos em Lobo (2003) para o português europeu

(17)

(essencialmente), em Mioto & Kato (2006), Barbosa et al. (2005) e Neto & Foltran (2001), para o português brasileiro.

3. As construções em estudo

As Construções de Gerúndio que estarão sob o escopo do nosso estudo serão:

(i) o gerúndio adverbial na periferia esquerda da oração subordinante (isto é, anterior à oração matriz), que também pode ocupar posição posterior à matriz. Em ambos os casos necessita de pausas que os separem da oração matriz (vírgulas, na escrita);

(ii) o gerúndio adverbial na margem direita, sem pausas, com relação à oração matriz, que está integrado no predicado da subordinante;

(iii) o gerúndio predicativo sem pausas, que ocorre na margem direita da oração matriz e que têm uma relação mais próxima com o núcleo verbal da subordinante.

Os seguintes exemplos ilustram cada um destes casos.

Ilustração de (i): Gerúndio periférico

(1) a. Sendo um bom atleta, ele ganhou a medalha de ouro. b. Ele ganhou a medalha de ouro, sendo um bom atleta. (2) a. Comprando uma casa nova, vamos ter um filho. b. Vamos ter um filho, comprando uma casa nova.

(3) a. Adiantando a viagem durante o dia, o João pode parar para descansar. b. O João pode parar para descansar, adiantando a viagem durante o dia. (4) a. Mesmo estando doente, o João foi à faculdade.

(18)

Ilustração de (ii): Gerúndio adverbial integrado no predicado

(5) O Pedro escreveu a tese esforçando-se muito.

(6) A Ana digitou o trabalho utilizando um computador portátil. (7) O João vendeu as acções prevendo a baixa da bolsa.

(8) Os atletas ganhariam a corrida treinando mais.

As construções gerundivas na margem direita da oração sem pausas têm comportamentos sintático-semânticos distintos das orações gerundivas da periferia esquerda da oração, assunto bastante explorado na literatura (cf. Lonzi (1991 para o italiano e Lobo, 2003 para o português europeu). Essa diferença constituirá um dos tópicos do capítulo 3. Quanto à gerundiva em (7), é um caso que não foi observado no português: a sua posição na oração matriz (integrada no predicado) não interfere no seu estatuto oracional pleno.

Ilustração de (iii): Gerúndio predicativo

Ainda na posição da margem direita sem pausas, o gerúndio pode ocorrer em contextos que têm uma relação mais estreita com o verbo da oração subordinante ou com o conteúdo proposicional do sintagma verbal (vP) da matriz.

(9) Maria saiu cantando.

(10) Ele recordou a Maria sambando. (11) O Zé viu o filho fumando.

(19)

Vale destacar que nas construções em (9-10) se estabelece uma relação mais estreita entre o verbo nuclear e o verbo subordinante, comparativamente com o que acontece nas adverbiais de modo em (5-7). As construções em (11) são estudadas a parte, por se tratarem de construções predicativas complemento, diferentemente das demais que ocorrem em configurações de adjunção. Já a construção em (12) é uma gerundiva de resultado que mantem uma relação directa com o evento da matriz. Estas construções serão abordadas no capítulo 4.

O objectivo fundamental deste trabalho é fazer uma análise sintáctica destas construções a partir do Quadro da Teoria de Princípios e Parâmetros. Considerando a interface com a semântica lexical, procuraremos abordar aspectos relacionados com:

(i) as escolhas dos itens lexicais que entram na Numeração;

(ii) o conteúdo proposiconal da matriz e suas implicações no evento/estado da subordinante;

(iii) os valores semânticos das gerundivas e sua adjunção a categorias funcionais como CP, TP, vP e/ou lexicais como VP.

4. As principais questões

As construções em estudo suscitam vários problemas. Destacarei os principais.

No que diz respeito à distinção entre gerundivas adverbiais em geral, as seguintes questões são centrais:

(i) Os valores semânticos das gerundivas mudam em função de sua distribuição na frase?

(ii) A divisão entre periféricas e não periféricas para as gerundivas adverbiais é suficiente?

(20)

(iii) Nas gerundivas adverbiais, o sujeito nulo ou realizado ocupa a mesma posição nas duas variantes: português europeu e brasileiro?

Quanto às gerundivas adverbiais integradas no predicado da subordinante, alguns aspectos precisam de ser esclarecidos:

(iv) Dentro das não periféricas, i.e., das gerundivas adverbiais integradas no predicado da matriz, só existem construções gerundivas deficitárias?

(v) O estatuto oracional pleno ou deficitário das gerundivas adverbiais é o que define sua adjunção a posições altas ou baixas?

(vi) Em termos de fases, todas as gerundivas adverbiais são fases CPs?

No que tange às gerundivas predicativas descritivas, colocam-se os seguintes problemas:

(vii) Qual a diferença entre adverbais não periféricas e gerundivas predicativas, já que ambas ocupam a mesma posição, i.e., a periferia direita integrada na oração matriz?

(viii) É possível diferenciar as gerundivas predicativas das adverbiais de modo?

(ix) Por que as gerundivas predicativas não admitem deslocação? Estarão elas mais integradas ao predicado da matriz do que as gerundivas adverbiais igualmente integradas?

(x) Há possibilidade de as gerundivas predicativas não estarem adjungidas a vP mas a VP? Isso acarretaria a formação de predicados complexos?

(21)

No que respeita às gerundivas resultativas, as seguintes questões se colocam:

(xi) As gerundivas predicativas, se comparadas com as de resultado, são mais defectivas. De que decorre tal defectividade?

(xii) Por que as gerundivas de resultado são aparentemente orações temporalizadas mas com tantas restrições sintácticas em termos de posição, uma vez que parecem ter uma posição fixa na sentença?

(xiii) As gerundivas de resultado são construções que representam mais restrições em termos de sujeitos nulos. Por que razão?

Estes são os principais problemas levantados pelos dados a estudar nesta tese. Serão abordados nos capítulos 3 e 4 desta tese.

5. Organização do trabalho

A presente tese está organizada da seguinte forma: no capítulo 2, faço uma revisão bibliográfica das construções de Gerúndio nas gramáticas de referência do Português, consultando: Cunha (1972), Cunha e Cintra (1984), Bechara ( 1999) e Mateus et al (2003), para o português; Lonzi (1991), para o italiano; Lagunilla (1999), para o espanhol. Menciono aspectos semelhantes e diferentes nas abordagens dos autores e comparo os exemplos do italiano e do espanhol com os do português.

No capítulo 3, revisito os trabalhos sobre as gerundivas em português de Ferrari (1997, 1999), Leal (2003), Móia e Viotti (2004) e Lobo (2003). A seguir, apresento a minha proposta de afinamento de alguns aspectos do tratamento das orações gerundivas adverbiais no português.

No capítulo 4, faço uma estudo sobre as gerundivas predicativas descritivas e as de resultado. Com base nas ideias de Neto e Foltran (2001), Móia e Viotti (2004), Lobo (2002, 2003, 2006), para o português, e Fernandez Lagunilla (1999), para o espanhol, traço uma

(22)

análise mais detalhada sobre estas construções, já que estes autores não trabalharam de forma exaustiva o tema. Para as construções gerundivas resultativas, amparo-me em Levin e Rappaport (1999) e em Leite (2006). No que se refere às predicativas descritivas, neste estudo, comparo as gerundivas predicativas descritivas com as adverbiais de modo, por considerar que a divisão entre elas é muito ténue. Não obstante, a partir de alguns testes sintácticos demonstro que há uma divisão clara entre estas estruturas. A comparação entre as gerundivas predicativas e as resultativas também é feita, sendo demonstrado que as primeiras são mais deficitárias se comparadas às segundas. As gerundivas resultativas – tratadas de Resultativas de Evento Complexo – também são comparadas com as adverbiais. Não obstante, demonstram não pertencer a este grupo – contrariamente ao que defende a literatura – por não responderem bem aos testes aplicados às orações adverbais.

(23)

Capítulo 2

2. A análise das construções de gerúndio nas gramáticas de

referência do português, do italiano e do espanhol

Neste capítulo farei uma revisão bibliográfica das construções gerundivas em algumas gramáticas de referência do Português, do Italiano e do Espanhol: Cunha (1972), Cunha e Cintra (1984), Bechara (1999), Mateus at al (1989, 2003), para o Português; Lonzi (1991), para o Italiano; Fernandez Lagunilla (1999), para o Espanhol.

2.1 Gramáticas do Português

As construções de gerúndio podem ocorrer em vários contextos, de entre eles, nas orações denominadas de reduzidas na tradição gramatical e em sequências, ou perífrases, verbais. Nas gramáticas do Português estes dois aspectos são destacados, tanto nas gramáticas normativas como nas descritivas.

No que diz respeito às orações de gerúndio, nos compêndios tradicionais verifica-se uma proposta de equivalência entre as construções finitas e as finitas. As estruturas não-finitas são apresentadas como orações reduzidas, ou seja, formas “simplificadas” em relação às substantivas, relativas e adverbiais plenas, como pode ser observado no trecho abaixo, retirado de Cunha (1972, pp.566-67):

As orações subordinadas reduzidas, assim como as desenvolvidas, podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais.

(24)

/este período:

(1)“Convinha / perguntar.” (C.C. Branco, OS, II, 51)

a oração subordinada reduzida de infinitivo – perguntar – tem valor substantivo. Exerce a função de sujeito da oração convinha e corresponde à oração desenvolvida que perguntasse.

/este período:

(2) “As paredes circumpostas eram ladrilhadas de tijolo azul e apainelado, / figurando passagens mitológicas e campestres.”

(C.C.Branco, OS, I, 196)

a oração subordinada reduzida de gerúndio – figurando passagens mitológicas

e campestres – tem valor de adjetivo. Funciona como adjunto adnominal de um

termo da oração principal e equivale à desenvolvida – que figuravam passagens

mitológicas e campestres.

/este período:

(3) “Não direi somente que, / passados alguns dias do ajuste com o agregado, / fui ver a minha amiga: eram dez horas da manhã.

(Machado de Assis, OC,1, 762.)

a oração subordinada reduzida de particípio – passados alguns dias do ajuste

com o agregado – tem valor de advérbio. Desempenha função de adjunto

adverbial da segunda oração ( que fui ver a minha amiga) e pode ser equiparada à desenvolvida – depois que passaram alguns dias do ajuste com o agregado.

De facto, tais construções podem ser consideradas equivalentes, pois podem ser parafraseadas pelas desenvolvidas. No entanto, tal equivalência não é tão linear como parece. Podem ter valor semântico semelhante em termos de valor da oração e condição de verdade,

(25)

mas, na estrutura sintáctica são diferentes. Assim, as orações reduzidas merecem um estudo à parte, já que sintacticamente são parcialmente diferentes.

2.1.1 Cunha (1972), Cunha e Cintra (1984)

(i) As orações de gerúndio: função e valores

Cunha (1972) e Cunha e Cintra (1984) indicam que as orações reduzidas de Gerúndio podem ser adjetivas ou adverbiais. Cunha e Cintra (1984: 610) apontam os seguintes exemplos para as orações adjetivas:

(4) Virou-se e viu a mulher dando com a mão fazendo sinal para que ele voltasse. (Luís Jardim, BA, I 8)

(5) Perdeu o desfile da milícia triunfante, marchando a quatro de fundo. (José Saramago, MC, 348)

(6) Viu um grupo de homens conversando. (Pepetela, NA, 42)

Os autores fazem a seguinte observação:

“O emprego do Gerúndio com valor de Oração Adjetiva tem sido considerado por certos gramáticos um galicismo intolerável. Cumpre, no entanto, acentuar que é antiga no idioma a construção quando o Gerúndio expressa a idéia de atividade actual e passageira.”

Apresentam o seguinte exemplo de D. Dinis, trovador que poetou em fins de século XIII e princípios do século XIV:

(26)

(7) Ela tragia na mão Um papai mui fremoso,

Cantando [=que cantava] mui saboroso... (CBN 534 – CV 137)

Os autores afirmam que a oração adjectiva de Gerúndio é uma construção antiga em Português e que vigorou na variante do Português europeu até ao século XVIII, mantendo-se ainda no Português do Brasil.

Cunha e Cintra distinguem um outro tipo de gerúndio adjectivo “que designa um modo de ser ou uma actividade permanente do substantivo a que se refere” (Cunha (1991:610)). Acrescentam, no entanto, que esta construção é um decalque do Francês.

Distinto deste é o emprego, cada vez mais frequente nos dias que correm, do Gerúndio como representante de uma oração adjetiva que designa um modo de ser ou uma actividade permanente do substantivo a que se refere:

(8) Meu coração é um pórtico partido/ Dando excessivamente sobre o mar. /

(Fernando Pessoa, OP, 54)

(9) De onde estava via as torres da igreja metodista, / erguendo-se acima da massa de arvoredo dum jardim../

(Érico Veríssimo, LS, 133)

Quanto às gerundivas adverbiais, os autores apontam, como função principal, a de oração subordinada temporal (porque têm principalmente significado temporal), mas consideram que podem ter outros valores, como o de causa, concessão ou condição. São

(27)

avançados os seguintes exemplos, em que a gerundiva tem, respectivamente, valor temporal (10), causal (11), concessivo (12) e condicional (13) (Cunha e Cintra 1984: 611).

(10) Passando hoje pela porta do meu compadre José Amaro, ele me convidou para tomar conta da sua causa.

(11) Pressentindo que as suas intenções haviam sido adivinhadas, Macedo tentou minorar a situação.

(12) Aqui mesmo, ainda não sendo padre, se quiser florear com outros rapazes, e não souber, há-de queixar-se de você, Mana Glória.

(13) Pensando bem, tudo aquilo era muito estranho.

Os autores consideram que há duas formas de gerúndio: simples e composta. “A forma composta é de carácter perfeito e indica uma acção concluída anteriormente à que exprime o verbo da oração principal” (Cunha e Cintra 1984: 490).

(14) Não tendo conseguido dormir, fui escaldar um chá na cozinha e dei de cara com a Rosa e a Idalina. (O. Lara Resende, BD, 112)

A forma do gerúndio simples, que expressa uma ação em curso (aspecto inacabado), pode indicar uma acção imediatamente anterior ou posterior à oração principal ou estabelecer uma relação de simultaneidade. Os autores admitem que esta relação entre o Gerúndio Simples e a oração principal depende da posição na frase (Cunha e Cintra 1984:491).

Assim, se o Gerúndio estiver colocado no início do período exprime:

1) Uma acção realizada imediatamente antes da indicada na oração principal:

(15) Proferindo estas palavras, o gardingo atravessou rapidamente a caverna e desapareceu nas trevas exteriores. (A. Herculano, E, 180).

(28)

2) ou uma acção que teve começo antes ou no momento da indicada na oração principal e que ainda continua:

(17) Estalando de dor de cabeça, insone, tenho o coração vazio e amargo. ( Otto Lara Resende, BD, 51)

(18) Estremecendo, vejo um casal de sessenta anos. (Augusto Abelaira, QPN, 131)

Se o Gerúndio for colocado ao lado do verbo principal, expressa de regra uma acção simultânea, correspondente a um adjunto adverbial de modo:

(19) Maciel ouvia sorrindo. (Machado de Assis, OC, II, 506)

(20) Chorou soluçando sobre a cabeça do cão. (Castro Soromenho, TM, 203) (21) Arrastou-se penosamente, gatinhando na areia. (Carlos de Oliveira, AC, 91)

Se o gerúndio vier posposto à oração principal indica uma acção posterior e equivale semanticamente, na maioria das vezes, a uma oração coordenada finita iniciada pela conjunção e:

(22) As trajetórias recomeçaram, processando-se a um ritmo regular. (F. Botelho, X, 158).

(22´) As trajetórias recomeçam e processavam-se a um ritimo regular.

(23) No regresso para os musseques elas cantavam-na bem perto da casa, deturpando intencionalmente a letra da canção. (A. Santos, KOP, 53) (23´) No regresso para os musseques elas cantavam-na bem perto da casa e

deturpavam intencionalmente a letra da canção.

(24) No quintal as folhas fugiam com o vento, dançando no ar em revira-voltas de brinquedo. (L. Jardim, MP, 47).

(29)

(24´) No quintal as folhas fugiam com o vento e dançavam no ar em revira-voltas de brinquedo.

Cunha e Cintra afirmam que quando se encontra precedido da preposição em, o Gerúndio Simples “marca enfaticamente a anterioridade imediata da acção com referência à do verbo principal”:

(25) Eu tinha umas asas brancas, Asas que um anjo me deu,

Que, em me eu cansando da terra, Batia-as, voava ao céu.

(Almeida Garrett, O, II, 123)

(26) Em se lhe dando corda, ressurgia nele o tagarela da cidade. (Monteiro Lobato, U, 127)

O Gerúndio pode também ocorrer, segundo estes autores, em construções afectivas: O aspecto inacabado do Gerúndio permite-lhe exprimir a ideia de progressão indefinida, mais acentuada se a forma vier repetida, como nestes passos:

(27) Viajando, viajando, esquecia-se o mal e o bem. (Adonias Filho, LBB, 101) (28) Andando, andando, escureceu-nos.

(Aquilino Ribeiro, M, 137)

Na linguagem popular o Gerúndio substitui por vezes a forma Imperativa:

(30)

(ii) As locuções verbais de gerúndio

O Gerúndio também pode aparecer em Locução Verbal. Assim, combina-se com os auxiliares estar, andar, ir e vir, para marcar diferentes aspectos da execução do processo verbal.

1. Estar seguido de Gerúndio indica uma acção durativa num momento preciso:

(30) Estavam todos dormindo, Estavam todos deitados, Dormindo,

Profundamente.

Manuel Bandeira, PP, I, 211)

2. Andar seguido de Gerúndio indica uma acção durativa em que predomina a ideia de intensidade ou de movimento reiterado:

(31) João Fanhoso andava amanhecendo sem entusiasmo, sem coragem para enfrentar os problemas que enchiam aqueles dias compridos.

(Mário Palmério, VC, 97)

(32) Andei buscando esse dia pelos humildes caminhos… (Cecília Meireles, OP, 277)

(33) A população andava agora vivendo dias grandes de chuva, ainda meio arrelampada com aquela prodigalidade da natureza.

(Manuel Ferreira, HB, 146)

3. Ir seguido de Gerúndio expressa uma acção durativa que se realiza

(31)

(34) Chamas novas e belas vão raiando, Vão-se acendendo os límpidos altares E as almas vão sorrindo e vão orando… (Cruz e Sousa, OC, 218)

(35) Vagaroso, o tempo foi passando. (Miguel Torga, NCM, 21)

(36) A terra ia crescendo e a mata fechando-se cada vez mais. (Ferreira de Castro, OC, I, 125)

4. Vir seguido de Gerúndio expressa uma acção durativa que se desenvolve gradualmente em direcção à época ou ao lugar em que nos encontramos:

(37) Vinha amanhecendo, ainda havia um resto de escuridão, era difícil enxergar as coisas afastadas.

(Graciliano Ramos, AOH, 109)

(38) Teresa veio arrastando uns chinelões de couro e resmungando. (Afonso Arinos, OC, 507)

(39) A noite vem chegando de mansinho. (Fernando Namora, RT, 86).

Em suma: Cunha (1972) e Cunha e Cintra (1984) apresentam uma análise bastante exaustiva das construções de gerúndio, comparativamente àquelas que encontramos na literatura actual. Estes gramáticos mencionaram, a maioria dos contextos em que o gerúndio pode ocorrer, a saber:

(32)

(i) Orações adverbiais

Nestas podem ocorrer com gerúndio simples ou composto; podem estar atreladas aos valores de tempo, causa, concessão e condição.

Admitem que as gerundivas adverbiais estão associadas a valores temporais e indicar posterioridade, anterioridade ou simultaneidade, consoante à posição na frase. Correlacionam esses valores com a forma verbal da oração. Assim, o gerúndio composto indica um valor de anterioridade com relação ao conteúdo da matriz; o gerúndio simples indica anterioridade se estiver antes do predicado da subordinante, mas, se ocorrer após a oração matriz, pode indicar posterioridade (sendo parafraseável por uma oração coordenada finita neste caso) ou simultaneidade.

Os autores também fazem alusão às orações adverbiais com o conector em.Fazem notar que as gerundivas podem vir acompanhadas do conector em, quando se trata de uma acção anterior à da matriz.

Quando ocorre junto ao verbo principal, os autores admitem que não se trata de uma oração adverbial mas de um adjunto adverbial de modo.

(ii) Orações gerundivas em locução verbal:

Neste ponto, os autores avançam muito na caracterização dos verbos que ocorrem com o gerúndio: à excepção do verbo “estar”, os demais verbos comuns nas construções gerundivas com perífrases verbais indicam movimento.

(iii) Orações gerundivas adnominais:

(33)

(40) Virou-se e viu a mulher dando com a mão fazendo sinal para que ele

voltasse. (Luís Jardim, BA, I 8)

Assim, a análise dos autores apresenta pistas importantes para desenvolver nos capítulos que seguem.

2.1.2 Mateus et al. (1989, 2003)

Brito, em Mateus et al (1989) e em Mateus et al (2003), considera que o Gerúndio, como o Infinitivo e o Particípio Passado, é uma “forma morfologicamente ligada ao verbo mas com funções nominais, adjectivais ou adverbiais que, sintacticamente, ocorre em regra em orações dependentes de uma oração finita” (Mateus 1989: 84). A sua função é a de fornecer uma localização temporal subsidiária da oração finita de que dependem, mas não exprime, por si só, um tempo natural.

Corroborando estas ideias, em Mateus et al. (2003:725), Brito afirma, acerca das orações temporais reduzidas, que:

Estas orações têm função temporal subsidiária da localização temporal da oração de que dependem; por outras palavras, as orações infinitivas, gerundivas e participiais, ordenam temporalmente um determinado estado de coisas por referência ao intervalo do estado de coisas descrito pela oração subordinante.

O Gerúndio pode apresentar uma forma simples ou composta e exprimir anterioridade, simultaneidade ou mesmo posterioridade em relação à oração finita. Os seguintes exemplos são avançados para ilustrar esta afirmação (Mateus et al. 1989:85): a gerundiva em (41) exprime anterioridade, em (42) exprime simultaneidade e em (43), posterioridade:

(34)

(41) Tendo acabado o filme, os espectadores saíram. (42) Todos se mascararam, rindo muito.

(43) Eles foram ao teatro, tendo encontrado lá o João.

Em Mateus et al (1989) faz-se notar que, em certos casos, a ordenação temporal entre a gerundiva e a oração finita parece depender da sua posição no discurso. Apresentam os seguintes exemplos: a gerundiva em (44) exprime posterioridade e em (45) exprime anterioridade em relação à oração finita.

(44) A sessão foi encerrada, tendo os participantes abandonado a sala. (45) Tendo os participantes abandonado a sala, a sessão foi encerrada.

Segundo Brito (2003), as orações gerundivas com o gerúndio simples podem exprimir a simultaneidade do estado de coisas nela descrito relativamente ao intervalo de tempo em que se situa o estado de coisas da outra oração (Mateus et al. 2003:726), como no exemplo abaixo:

(46) Olhando pela janela, vi o Luís.

Já o gerúndio composto exprime anterioridade:

(47) Tendo olhado pela janela, vi o Luís.

A autora também afirma que as orações gerundivas adverbiais podem ocorrer pospostas, embora o resultado seja menos natural do que nos casos em que a oração gerundiva ocorre em posição anterior à oração matriz (Mateus et al. 2003:726):

(48) Vi o Luís, olhando pela janela. (49) Vi o Luís, tendo olhado pela janela.

(35)

Também na referida Gramática se faz alusão à natureza e posição dos sujeitos nas orações gerundivas adverbiais. Assim, a oração gerundiva pode ter sujeito nulo, como nos exemplos acima apresentados, sendo esse sujeito interpretado como co-referente do sujeito da outra oração. Pode também ter sujeito realizado disjunto, ocorrendo nestes casos usualmente depois do verbo auxiliar ou do principal, como em:

(50) Tendo a Maria acabado o trabalho, o amigo telefonou. (51) Acabando a Maria o trabalho, vamos sair.

Brito ( 2003: 726-727) refere ainda que o sujeito pode ocorrer em posição pré-verbal se “a gerundiva comportar a preposição em”. Nestes casos a posição pós-verbal está

preferencialmente associada a foco contrastivo:

(52) a. Em a Maria acabando o trabalho, vamos sair. b. ?Em acabando a Maria o trabalho, vamos sair. c. Em acabando a MARIA o trabalho, vamos sair.

Outro aspecto do gerúndio mencionado nesta gramática é o seu uso na construção progressiva. Oliveira (2003), em Mateus et al. (2003) refere apenas construções progressivas com a+infinitivo, mas afirma que estas construções ocorrem no português brasileiro e no Alentejo com o gerúndio. Veja-se os exemplos com o gerúndio em (b), a par dos apresentados pela autora com a+infinito, em (a):

(53) a. A Maria está a ler o jornal. b. A Maria está lendo o jornal.

(54) a. O Rui está a correr. b. O Rui está correndo.

(36)

(55) a. A Carla está a ganhar a corrida. b. A Carla está ganhando a corrida.

(56) a. A Ana está a espirrar. b. A Ana está espirrando.

(57) a. O Pedro está a viver em Paris. b. O Pedro está vivendo em Paris.

(58) a. * O Pedro está a ser alto. b. * O Pedro está sendo alto.

A autora atribui a agramaticalidade de (58) às propriedades aspectuais do predicado da oração. A construção progressiva não é compatível com um estado não faseável. Assim, “ser alto” é um estado não faseável, enquanto “viver em Paris” é um estado faseável e por isso pode ocorrer nesta construção.

Oliveira (2003) menciona construções progressivas com verbos aspectuais do tipo

andar+infinito, acabar +infinitivo, continuar+infinitivo. Estes verbos também ocorrem com o

gerúndio no português brasileiro (PB) e no Alentejo. 1

(59) a. O João anda a viajar. b. O João anda viajando.2

(60) a. A Maria começou a ler o jornal. b. A Maria começou lendo o jornal.

(61) a. O Pedro continua a trabalhar. b. O Pedro continua trabalhando.

1

Há algumas restrições quanto ao uso do gerúndio: O João anda a ser simpático. *O João anda sendo

simpático. No português brasileiro é aceitável “o João anda sendo simpático”. 2

Há algumas nuances de sentido nas duas sentenças: em andar a viajar compara-se a ele está a viajar, mas

(37)

Com relação aos pronomes clíticos, Duarte (2003), em Mateus at al. (2003), refere-se ao gerúndio como uma forma verbal que se qualifica como hospedeiro verbal para os pronomes clíticos:

(62) Comportando-se deste modo, ela não consegue ter amigos.

Refere ainda que a ênclise é o padrão que se obtém em muitas frases não finitas, como a de gerúndio:

(63) [Emprestando-lhe o carro], ele chega a horas no exame.

Em suma: Nesta obra observa-se uma incidência sobre os aspectos relacionados com o valor temporal das orações gerundivas e com as propriedades aspectuais das construções progressivas que podem comutar com o gerúndio.

No que diz respeito ao valor temporal destaca-se que: (i) as construções gerundivas adverbiais apresentam valor temporal anterior, posterior e simultâneo; (ii) as gerundivas adverbiais têm como referência o tempo da oração de que dependem; (iii) o tempo composto nas gerundivas adverbiais indica anterioridade.

Vários dos aspectos mencionados acima, de uma certa forma, também foram tratados em Cunha e Cintra (1984). Há, no entanto, de se observar que em Mateus et al. (1989, 2003) não são referidos outros valores para as orações gerundivas senão os adverbiais, e dentro destes, apenas são mencionados os valores temporais.

Não obstante, há outros aspectos das gerundivas em português que pela primeira vez são destacados nesta gramática. Assim, em Mateus at al. (1989, 2003) faz-se referência aos sujeitos (nulos e realizados) nas orações adverbiais gerundivas e à sua posição. A questão dos sujeitos nas gerundivas e a sua posição são tópicos a abordar no presente trabalho (cf.

(38)

capítulos 3 e 4). Há diferenças entre o português brasileiro (PB) e no português europeu (PE), no que respeita à colocação dos sujeitos realizados. No português europeu só as gerundivas introduzidas por em apresentam sujeitos preverbais; nos restantes casos o sujeito ocorre depois do verbo. Com efeito, se tomarmos a frase em (64) em português europeu (PE):

(64) Acabando a Maria o trabalho, vamos sair.

veremos que no português brasileiro (PB), teríamos3:

(65) A Maria acabando o trabalho, vamos sair.

Quanto às construções progressivas, há de se fazer notar que o objectivo da Gramática Descritiva de Mateus at al (2003) é estudar os dados do português europeu (PE) padrão. Por isso, há apenas uma referência à comutação do a+infinitivo com o gerúndio, pois só em algumas regiões de Portugal (Alentejo e parte do Algarve) se usa o gerúndio nestas construções.

A possibilidade de ocorrência de pronomes clíticos com as formas verbais gerundivas mas não com as participiais, propriedade mencionada em Duarte (2003), sugere que o gerúndio nestas construções tem um domínio funcional temporal4, diferentemente das orações participiais.

O estudo da estrutura interna das orações gerundivas adverbiais e predicativas será abordado nesta tese nos capítulos 3 e 4.

3

Esta propriedade tem sido atribuída à diferente posição de V em português europeu e em português brasileiro (cf. entre outros, Mioto 2004 e Mioto e Kato 2006)

4

Note-se que Matos (1992) mostra que o gerúndio das orações adverbiais pode ser hospedeiro de pronomes clíticos em PE, mas que o mesmo não acontece nas perífrases verbais gerundivas do progressivo:

(39)

2.1.3 Bechara (1999)

A grande primeira questão que seleccionamos deste autor é o conceito de oração reduzida, que ele define da seguinte forma:

“Dentro e fora da gramática portuguesa tem muito diversificado o conceito de oração reduzida. A opinião mais generalizada, partindo da idéia de que o que caracteriza a relação predicativa é a presença de verbo na forma finita, é que a construção com verbo nas formas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio) não constitui oração e, neste caso, é uma subordinada da oração, um termo dela, quase sempre como um adjunto adnominal ou adverbial. Esta maneira de ver se estende até àquelas construções em que vem acompanhada a forma nominal de unidades que, se estivessem numa oração com verbo finito, funcionariam como termo argumental ou não-argumental (no caso de papel de adjunto adverbial).”

(Bechara 1999:513-514)

E ainda acrescenta:

Outros autores, nestas últimas construções, dão estatuto de orações à parte (nem sempre usando a nomenclatura “reduzida”) apenas àquelas que encerram infinitivo e

gerúndio independentes, considerando as de particípio meros termos oracionais.5

(Bechara 1999: 514)

Bechara se posiciona da seguinte forma:

Optamos por dar estatuto à parte às reduzidas de qualquer forma nominal do verbo desde que apresentem autonomia sintática dentro do enunciado e possam estar

5

Perini (1995) é um deles, ou seja, não considera o particípio como oração reduzida, defende que apenas o infinitivo e o gerúndio podem entrar numa configuração desse tipo e dar origem a uma oração complexa, contrariamente ao particípio. Para ele, o particípio não forma oração separada por ser apenas um adjetivo em todos os contextos em que ocorre. O autor considerando exemplos como o seguinte: Ele adotou costumes

trazidos da Europa, afirma que costumes trazidos da Europa é um constituinte adjectival. Mas há outros

exemplos, como as construções participiais adverbiais, em que não é possível argumentar que estas orações formam um constituinte adjectival.

(40)

estruturadas analogamente às orações com verbo de forma finita, as desenvolvidas.

(Bechara 1999:54)

O autor (1999:55) demonstra que as orações reduzidas são subordinadas e quase sempre se podem substituir por orações desenvolvidas:

(66) Declarei estar ocupado= declarei que estava ocupado. (67) Chovendo, não sairei = Se chover não sairei.

(68) Acabada a festa, retirou-se = Quando acabou a festa, retirou-se.

As orações reduzidas, para Bechara, podem ser substantivas, adjectivas e adverbiais. O autor (1999: 516-517) faz notar que as orações reduzidas substantivas são infinitivas, as reduzidas adjectivas são infinitivas, gerundivas ou participiais, e as adverbiais são infinitivas, gerundivas ou participiais.

(69) “Agora mesmo, custava-me responder alguma coisa, mas enfim contei-lhe o motivo da minha ausência.” [MA.I, 208) (reduzida substantiva subjetiva) (Bechara 1999: 515)

(70) Realmente não sei como lhes diga que não me senti mal, ao pé da moça,

trajando garridamente um vestido fino... (reduzida adjectiva gerundiva)

(Bechara 1999: 517)

(71) Os anais ensanguentados da humanidade estão cheios de facínoras, empuxados (=que foram empuxados) ao crime pela ingratidão injuriosa de mulheres muito amadas, e perversíssimas.” [CBr. 1, 120] (reduzida adjectiva participial)

(41)

Passo a apresentar detalhadamente as orações gerundivas consideradas por Bechara.

(i) Orações gerundivas adjectivais

Para este autor, nas orações adjectivais, a oração reduzida de Gerúndio pode indicar diferentes tipos de propriedades, acerca de um substantivo ou pronome:

1) Uma actividade passageira:

(72) Realmente não sei como lhes diga que não me senti mal, ao pé da moça,

trajando garridamente um vestido fino... (reduzida adjectiva gerundiva)

(Bechara 1999: 517)

2) Uma actividade permanente, qualidade essencial, inerente aos seres, própria das coisas:

(73) “O livro V, compreendendo as leis penais, aquele que, após os progressos efetuados na legislação e na humanidade, mas carecia de pronta reformação” [Lco.1,I298]

(74) “Decreto de 14 de fevereiro de 1786, proibindo a entrada de meias de seda que não fossem pretas, e decreto de 2 de agosto de 1786, suscitando a observância e ampliando o cap. II…” [L Co. 1,I 298].

(75) “Algumas comédias havia com este nome contendo argumentos mais sólidos” [FF apud SA. 2,249].

Bechara ainda acrescenta:

“Estes e muitíssimos outros exemplos atestam que tal emprego do gerúndio ocorre

vitorioso na língua culta portuguesa, desde longos anos, dando-nos a impressão de se tratar de uma evolução normal, comum a mais de uma língua românica, e não de uma simples influência francesa. Entretanto, notáveis mestres condenam este uso como

(42)

galicismo: Epifânio Dias, Júlio Moreira, Leite de Vasconcelos, Mário Barreto, entre outros. Defendem-no Otoniel Mota, Said Ali, Eduardo Carlos Pereira, Cláudio Brandão, entre outros.

Para os que têm a expressão como francesa, deve-se substituir o gerúndio por uma oração adjectiva iniciada por pronome relativo, ou por uma preposição conveniente:

Livro contendo gravuras.

Livro que contém gravuras.

Ou

Livro com (ou de) gravuras.” (p.518)

(ii) Orações gerundivas adverbiais

Por sua vez, nas orações adverbiais, a oração reduzida de Gerúndio equivale, segundo Bechara, às seguintes orações finitas:

1) A uma oração causal:

(76) “Vendo este os seus maltratados, mandou disparar algumas bombardas contra os espingardeiros.” [AH.2,97]

vendo= porque visse (Bechara 1999: 523)

2) A uma oração consecutiva:

(77) Isto acedeu por tal modo os ânimos dos soldados, que sem mandado, nem ordem de peleja, deram no arraial do infante, rompendo-o por muitas

partes.” [AH. 2,97]

rompendo-o = e como consequência o romperam. (Bechara 1999: 523)

(43)

3) A uma oração concessiva:

(78) Tendo mais do que a imaginavam não socorreu os irmãos. Tendo = embora tivesse

(Bechara 1999: 523)

4) A uma oração condicional:

(79) Tendo livres as mãos, poderia fugir do cativeiro Tendo livre as mãos= tivesse livre as mãos (Bechara 1999: 523)

5) A uma oração que denota modo, meio, instrumento:

(80) a. “Um homem agigantado e de fera catadura saiu da choupana

murmurando sons mal articulados” [AH. 1 apud ED.2 parágrafo

316,b,1]6

b. “E não os (destinos) podia realizar senão ceifando cidades em lugar de farragios, e enfeixando com mão robusta povos”. [AC. I apud ED. 2,2] (Bechara 1999: 523)

6) A uma oração temporal:

(81) “El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pela última vez, sorriu-se e disse voltando-se: Por que virá o conde quase de luto à festa?” [RS apud FB.5, 205]

voltando-se = enquanto se voltava (Bechara 1999: 524)

No seguinte exemplo, a oração gerundiva temporal ocorre reforçada por um advérbio de tempo:

6

(i) Murmurando sons mal articulados, um homem agigantado e de fera catadura saiu da choupana. Reparem que há possibilidade de deslocação o que demonstra ser uma estrutura adverbial.

(44)

(82) “Desviando depois a mão que o suspendia baixou mais dois degraus.” [RS apud FB.5, 209]

desviando= depois que desviou, no momento em que desviou. (Bechara 1999: 524)

Bechara faz ainda a seguinte observação:

“O gerúndio pode aparecer precedido de preposição em quando indica tempo,

condição ou hipótese. /este caso, o português moderno exige que o verbo da oração

principal denote acontecimento futuro ou ação que costuma acontecer”7:

(83) “Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída” [RB apud FB. 1,126]

em lhe chegando o turno= quando chegar o turno.

Paráfrase: i.e, ninguém que entrou conseguirá sair antes que lhe chegue o turno.

(Bechara 1999: 524)

(84) “Em Vieira morava o gênio: em Bernardes o amor, que, em sendo

verdadeiro, é também gênio”. [AC apud FB. 1,186]. (Bechara 1999: 524)

Bechara faz notar que nesta passagem, o gerúndio exprime condição ou hipótese, e o verbo da oração que é também gênio (subordinante da condicional) denota um acontecimento que costuma ocorrer.

7

(45)

(iii) Gerundio em locuções verbais

O autor (1999:529) salienta ainda que o gerúndio não constitui uma oração reduzida quando faz parte de uma locução verbal:

(85) Estão saindo todos os alunos. (Bechara 1999:529)

Em suma: Bechara (1999) assume claramente que as orações reduzidas possuem autonomia sintáctica dentro do enunciado. Esta questão da autonomia das orações reduzidas será retomada nos capítulos seguintes.

Na sequência da sua análise, o autor demonstra que as orações adverbiais assumem valores semânticos tais como causa, consequência, condição, modo ou instrumento e tempo. É interessante notar que o Bechara menciona o uso da preposição “em” nestas estruturas como indicando condição ou hipótese, diferentemente do que encontrámos nas gramáticas previamente analisadas, em que a preposição “em” nas gerundivas adverbiais se refere a tempo anterior (Cunha e Cintra 1991:489), ou posterior (Brito 2003).

Também vale ressaltar que Bechara considera que as perífrases verbais são construções à parte, tal como também se assume em outras gramáticas, não podendo, pois, estarem incluídas no grupo das adverbiais.

2.2 As construções de gerúndio nas gramáticas descritivas do

italiano e do espanhol

A fim de confrontar os estudos do português com os do italiano e do espanhol, busquei nas gramáticas descritivas de referência dessas línguas material que me pudesse amparar na análise das gerundivas.

(46)

2.2.1 As orações adverbiais de gerúndio no italiano

Lonzi (1991), para o italiano, preocupa-se sobretudo com a sintaxe das gerundivas adverbiais e os valores que assumem.

A autora subdivide as orações adverbiais de gerúndio em (i) gerundivas de predicado e

(ii) gerundivas de frase. Nas primeiras não há dois eventos distintos, diferentemente do que

acontece nas segundas, mas um adjunto adverbial interpretado como co-extensivo ao verbo da oração principal.8 Em outras palavras, o gerúndio de predicado veicula um valor semântico compatível com o do verbo da oração matriz. Este valor semântico pode ser instrumental (cf.86), de modo (cf.87) ou de tempo (cf.88):

(86) Comunicava com l´ufficio centrale utilizando il numero riservato. (87) Comunicava com l´ufficio centrale conversando.

(88) a. Alzando gli occhi dal libro, avevo visto la scena (preferencial)9 b. Avevo visto la scena alzando gli occhi dal libro (Lonzi 1991:579)

Também pode ocorrer o valor hipotético nas gerundivas de predicado:

(89) Prendendo l´antibiotico, la febbre scenderà.

8

Lonzi (1991) faz notar que é o verbo que determina o tipo de “adjunto” que é compatível com sua natureza aspectual. Assim, em português, em que não temos verbos estativos co-ocorrendo com “gerundivas adjuntas de modo, instrumento ou temporal”:

(i) a. ??Eu sei inglês estudando. b. ??Eu sei cavalgar treinando.

(ii) a. * O Pedro está doente iniciando as aulas. b. * O Pedro está doente passeando pela praia.

9

Note-se que a gerundiva que ocupa a margem esquerda em (89) é considerada como uma gerundiva de predicado. Exemplos idênticos surgem em português:

(i) Olhando por cima do livro, eu vi a cena. (ii) Eu vi a cena olhando por cima do livro.

Referências

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