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[Recensão a] Thomas L. Friedman - O Mundo é Plano: uma história breve do Século XXI. URI:

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Academic year: 2021

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Autor(es):

Leal, Simão Rios

Publicado por:

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24758

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BOLETIM DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS

FACULDADE DE DIREITO

VOLUME L 2 0 0 7

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THOMAS L. FRIEDMAN O Mundo é Plano, Uma História Breve do

Século XXI, 7.ª ed., Actual Editora, 2007, 672 pp.,

ISBN: 972-99720-1-X.

O “Mundo é Plano” é uma obra extremamente actual, não apenas por ser um livro recente, mas, também e essencialmente, pela sua temática contemporânea, com que todos os dias convi-vemos, quer queiramos, quer não, pois está presente nas nossas vidas, em casa, no trabalho, na rua...

O título chama-nos, desde logo, a atenção por fazer renascer ‘das cinzas’ o dogma da ‘planitude’ do mundo, questão que ainda hoje é debatida (quanto ao momento da sua assunção como falsa, ou se alguma vez foi, mesmo, aceite como opinião dominante). Na verdade, o autor vem ‘contradizer’ algo em que todos acre-ditamos e entendemos, largamente, comprovado e inquestionável – a ‘esfericidade’ da terra! Porém, não vem questionar essa esfe-ricidade em termos físico-naturais, mas antes em termos sócio--económicos, colocando todos os indivíduos num tabuleiro de jogo comum e plano, onde se encontram ao mesmo nível. O autor não ignora, todavia, que esta ‘planura’ não é, na realidade, uma perfeita igualação de jogadores, porquanto alguns se encontram muito melhor apetrechados, do que, outros para jogar. Efectiva-mente, a ‘planície’ encontra-se repleta de ‘planaltos’ e de ‘cra-teras’… Ora, ainda que o autor reconheça a existência de diversas realidades inigualitárias assume um extremo optimismo... que é, aliás, destacado no prefácio, redigido por João Luís César das Neves.

Quanto à estrutura do livro em análise há que referir que ele se divide em seis partes onde se aborda a temática da globalização, tendo em consideração diversas perspectivas.

O autor destaca como precursoras do actual estádio de globalização a “Globalização 1.0” que se inicia com as Descober-tas Marítimas, onde se limita, contudo, a citar Colombo, mar-cando o seu início temporal em 1492, realçando a criação de ligações/contactos entre novos mundos, dando início à circulação de pessoas, bens, etc., entre Continentes até então separados, ligando-os. Parece-nos, todavia, que não se poderia ignorar o

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papel desempenhado pelos Portugueses, figuras intransponíveis neste período. Ainda que não se possa ‘viver da história’ não poderemos deixar de “louvar dos [nossos] a glória”1, reconhecendo,

igualmente, a de outros.

A fase 2.0 da Globalização é cronologicamente enquadrada entre, aproximadamente, 1800 e 2000, destacando-se a criação de laços entre empresas situadas em diferentes países, com o recurso a joint-ventures.

Diversas circunstâncias, quase imperceptivelmente, foram dando origem à Globalização 3.0, fase em que, segundo o autor, “o mundo se torna plano”. Neste período destaca-se o indivíduo, a interacção individual, potenciando-se as capacidades de cada um, tornando-as globalmente disponíveis. A pessoa deixa de se encontrar fechada no seu continente, país, ou empresa... Podendo oferecer a sua iniciativa individual, sem ter necessidade de, fisicamente, se deslocar interagindo com outras pessoas nos mais distintos e remotos locais globo. Exemplo paradigmático desta realidade é o outsorcing internacional. Pelo recurso ao outsorcing empresas de um determinado país recorrem à subcontratação de serviços, a empresas sediadas em países estrangeiros (onde os custos de prestação desses serviços são, claramente, inferiores). Este fenómeno prende-se, normalmente, no que concerne a grandes multinacionais sediadas nos países mais desenvolvidos economicamente, com trabalhos rotineiros, de menor valor acrescentado, cabendo aos países subcontratantes o grosso da receita e o controlo da actividade desenvolvida. Ainda assim, não poderemos deixar de nos perguntar: até quando se manterá esse domínio?

Há, de facto, um alargar de tarefas até então exclusivas de determinados países, porém, não se poderá ignorar que, os países ora tidos como mais industrializados e centralizadores dos pro-cessos produtivos de maior valor acrescentado, muito dificilmente deixarão de tomar as rédeas da actividade económica global, ou pelo menos, não o farão sem muito custo.

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Diversos acontecimentos são relatados como factores de globalização:

A queda do Muro de Berlim, em 9 de Dezembro de 1989, que permitiu uma maior abertura das economias mundiais.

A cotação em bolsa da empresa Netscape (que comercializou o primeiro browser), em 9 de Agosto de 1995, que conjugada com o surgimento, desenvolvimento e proliferação, em massa, do Pc Windows, da Internet (rede de redes, constituída, essencialmente, por computadores e cabos), da World Wide Web (área virtual onde cada pessoa pode colocar os seus conteúdos digitais tornando-os a todos) e dos browsers, enquanto ferramentas de software que permitiriam a navegação pelas informações existente na Web, nos globalizaram de um modo até ao momento não visto.

O desenvolvimento e a integração do software de sistemati-zação de fluxos de trabalho que permitiu que um mesmo trabalho fosse repartido por diversos continentes, podendo estar a ser desenvolvido em simultâneo em vários pontos do planeta, ligados pelas auto-estradas de cabos ópticos estando todos ‘lado a lado’ ainda que a milhares de quilómetros.

Todos estes factores, conjugados, permitiram que se che-gasse a um nível de repartição de trabalho (internacional) e de colaboração intenso. As barreiras físicas/geográficas foram ultra-passadas, deixando de se assumir como barreiras. Entrou-se na era do trabalho on-line, caminhando-se para uma autentica ‘vida’ on-line. Outra realidade dos nossos dias é o Uploading (envio) de dados para a Web, que se está a tornar uma das mais importantes formas de colaboração na actualidade. Os dados/informações/são inseridos no mundo Web estando disponíveis a todos os que os queiram e possam (dentro da Web existem, também, locais apenas acessíveis a alguns – membros, sendo certo, também, que o mundo Web também não se encontra acessível a todos) utilizar. Todos nós nos podemos assumir como produtores com um mercado mundial ao nosso alcance. Se temos alguma informação podemos partilhá-la.

A factualidade ora existente permitiu subcontratar determi-nados serviços ou actividades, específicos, a prestadores de serviços

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que se encontram a milhares de quilómetros de distância (o supra mencionado outsoring), algo que décadas atrás era impensável. Este fenómeno veio permitir o aproveitamento de mão-de-obra qualificada que existe, nomeadamente, na Índia e que se encontra disponível, por um preço muito inferior ao praticado no país onde o serviço é posto à disposição do consumidor. Esta realidade foi despoletada pelo bug do milénio (avaria generalizada dos com-putadores, que era premente evitar, em virtude de muitos deles não assumirem a data 01/01/2000, porquanto apenas estarem preparados para assumir datas com o formato dd.mm.aa) que veio, por força das necessidades, tornar conhecido ao mundo todo o potencial existente em países como a Índia e a sua grande utili-dade enquanto via de redução de custos, mantendo um serviço de qualidade, prestado à distância como se o não fosse. Trata-se, po-rém de uma via de redução de custos, enquanto a mão-de-obra existente nesses países se assume como a mais barata, porque menos exigente quanto a salários, com regimes legais menos pro-teccionistas dos direitos dos trabalhadores, ..., mas esta situação não se manterá indefinidamente, o nível de vida irá aumentar e as exigências salariais dos trabalhadores também. O que acon-tecerá nesta fase? Darão as empresas um salto evolutivo? Subirão salários ou deslocalizar-se-ão para outros paraísos salariais? Porém esta deslocalização não poderá ser eterna! Ou poderá? Uma vez atingido um determinado grau de desenvolvimento o que aconte-cerá aos novos países desenvolvidos? Saberão eles lidar com essa realidade? Será possível alcançar um mundo onde todos os países são desenvolvidos? São questões que não conseguimos deixar de nos colocar, com alguma preocupação.

Todas as realidades supra descritas se, por um lado podem afastar (numa primeira análise) fisicamente as pessoas, ditam, igualmente, sua aproximação. Na verdade, verifica-se uma apro-ximação entre os indivíduos e as empresas para que trabalham, ou podem vir a trabalhar e as empresas entre si. Esta proximidade proporciona o desenvolvimento do offshoring. Este é um fenó-meno, mais intenso que o outsorcing, corresponde à transferência da produção (no seu todo) de um determinado serviço para o estrangeiro – uma verdadeira deslocalização de produção. Este

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investimento no exterior traduzir-se-á em benefício para o Estado Investidor Desenvolvido que poderá beneficiar de produtos de qualidade, mais baratos, continuando a reservar para si a produção de maior valor acrescentado (acautelando a sua supremacia).

A evolução tecnológica existente, congregada com a dis-persão internacional da cadeia produtiva de um bem final obrigou as empresas multinacionais, mais evoluídas, a desenvolver sistemas que lhes permitam, em cada momento, determinar o que os consumidores estão a comprar, gerando (automaticamente) uma ordem de encomenda aos seus fornecedores, dando início à pro-dução de um bem idêntico ao que foi adquirido, pouco tempo depois de ter saído da prateleira.

Na verdade, os produtores conseguem, graças a uma deta-lhada análise de comportamentos, antever, em cada momento, que bens é que os consumidores vão querer adquirir. Tudo isto de uma forma automatizada, adoptando políticas de máxima efi-ciência e aproveitamento de recursos, procurando e criando, constantemente, métodos de produção satisfeitas mais rentáveis. Efectivamente, a necessidade de resposta rápida é cada vez maior, os consumidores são cada vez mais exigentes e estão habituados a ver as suas necessidades satisfeitas cada vez com maior rapidez, por isso todos dependem de todos, uma falha pode implicar vários prejuízos.

A cada vez mais intensa e frequente colaboração entre em-presas, promove, por sua vez, o desenvolvimento do chamado Insourcing, que consiste na entrada de uma empresa noutra, ainda que, mantendo-se autónomas, enquanto entidades jurídicas dis-tintas. Por intermédio do insourcing estamos a promover sinergias entre empresas, dando cada uma o melhor de si, prestando ser-viços de muito melhor qualidade e de um modo mais rápido e eficiente. Na verdade, é muito difícil, nos dias que correm, as empresas serem, a nível global (entenda-se mundial), boas em tudo, boas produtoras de bens, com bons meios de distribuição (de tal modo eficientes que consigam fazer tudo com o mínimo de custos). Assim, se cada um desenvolver a sua actividade ao máximo e colaborar com outras empresas com as quais pode,

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horizontalmente, interligar-se crescerão em conjunto e conseguirão crescer de um modo que, sozinhas, seria impensável, globalizando o seu mercado potencial. Tornam-se, porém, dependentes umas das outras.Todavia, ainda que se crie este grau de dependência haverá, em princípio, várias empresas disponíveis para a prestação de um serviço. Mas poderá não ser assim! Esta dependência, que permite as empresas crescerem apoiadas umas nas outras, torna-as, igualmente, mais susceptíveis de sofrer abalos quando uma empresa das suas relações estiver com dificuldades, verificando-se um efeito dominó.

O autor da obra faz referência ao pensamento de DAVID

RICARDO ao facto de uma nação dever produzir os bens em que

tem uma vantagem comparativa (é mais eficiente), adquirindo a outros países (que adoptarão o mesmo raciocínio) os bens que estes produzam de um modo mais eficiente. Deste modo promo-vem-se as relações económicas internacionais, não devendo, cada país, ter a preocupação de ser auto-suficiente, pois, desse modo, estará a subaproveitar a sua capacidade de produtiva em determi-nados bens, produzindo ineficientemente outros. Na verdade, cabe a cada país procurar desenvolver a sua actividade económica nas áreas em que for, comparativamente, mais eficiente. Se se pode, hoje em dia, contratar serviços no outro estremo do globo, por um preço muito inferior, libertando mão-de-obra, que é canalizada para outras áreas de actividade mais rentáveis, aumen-tando desse modo a riqueza do país há que proceder a essa impor-tação de serviços. A facilidade de deslocar actividades veio tornar aplicável a doutrina supra não só à produção de um determinado produto/bem final, mas, igualmente, a determinadas fases de pro-dução de um determinado bem. Os Estados Unidos da América e as suas empresas têm sabido aplicar esta doutrina com especial sabedoria e intensidade, promovendo o seu crescimento e o cres-cimento de outros países enquanto seus colaboradores. Porém as actividades produtivas de topo, que dão origem a mais valor acrescentado (as actividades criativas) têm sido mantidas no país. Na verdade, esta teoria poderá ser uma boa maneira de manter a distribuição de actividades a nível global, mantendo as assimetrias, quem já produz bens com maior valor acrescentado deverá

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continuar a produzir esses bens, que produz bens com menor valor acrescentado deverá continuar a produzi-los? Mas até quando? O mundo actual proporciona o desenvolvimento de novas valências noutros pontos do globo. Assim, face a essa realidade (formação de qualidade em diversos pontos do globo) a teoria de DAVID RICARDO será seguida pelas empresas que

pro-curarão o local onde poderão produzir um determinado bem, ou parte de um determinado bem com maior eficiência.

Outra realidade que é destacada é a facilidade com que, aqueles que estão globalizados, se mantêm informados e capazes de informar. Efectivamente, os desenvolvimentos tecnológicos, alguns deles já supra identificados, permitem-nos obter, directamente da fonte, a informação, com uma rapidez sem precedentes. Tudo está ao alcance de um simples ‘click’. Há, cada vez mais, a possibilidade de cada um de nós escolher a informação que quer, a música que quer, criar o seu próprio mundo virtual fazendo passar também a informação que quer (o que pode levar a abusos).

Mas esta informação é acessível a todos?

Quantas vezes não se procurou, incessantemente, por uma informação, que se sabe estar na Web, mas que teima em não surgir no monitor? Porém, na pesquisa dessa informação encon-tramos muita outra. Porque surge esta e não a que nós procura-mos? Quem determina que informação está mais acessível? Quem a coloca na Web?! Quem a procura? Quem nos faculta os meca-nismos de procura dessa mesma informação? Porque é que estes determinam que seja assim e não de outro modo?

Efectivamente, se a possibilidade de interagir e de trocar informação é uma das realidades mais entusiasmantes, é, também, das mais assustadoras. Este facto é igualmente realçado pelo autor que nos chama a atenção para o facto de o que num momento é local, segundos depois pode ser já global e de um modo dificil-mente reversível, porquanto uma vez passada uma informação ninguém nos garante que uma contra informação obtém o mesmo tipo de audiência? (questão especialmente sensível quando surgem informações não verdadeiras). Além do mais, as fontes de informação são tantas que é difícil controlar a informação que corre na Web.

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Juntamente com todo este desenvolvimento globalizante do indivíduo, verifica-se o surgimento de diversas inovações a nível computacional, comunicacional, etc. que vêm permitir libertar o homem de tarefas que passam a ser atribuídas a máquinas, que as poderão levar a cabo 24 horas por dia, 365(6) dias por ano, com outro tipo de precisão e sem que precise de pausas... Deste modo liberta-se o homem para outras actividades. Porém, terá que ser, muitas vezes o homem libertado das tarefas agora mecanizadas, ou deslocalizadas a criar e desenvolver a sua própria nova actividade, promovendo-se o empreendedorismo. Se a realidade que se vive aproxima as pessoas no sentido de as tornar mais facilmente con-tactáveis, também as obriga, muitas vezes a sozinhas se desenven-cilharem dos seus problemas... A postura individual de cada um terá que estar sempre em mudança para que possa acompanhar a evolução actual, pois só desse modo se consegue acompanhar o barco da globalização e aproveitar das suas sinergias...

Efectivamente, na era do mundo plano há que saber marcar a diferença, ser único, demonstrar que se está apto para interagir com a realidade sempre em evolução, estando sempre a evoluir também. Na verdade, se há profissões que se encontram geogra-ficamente fixas, em virtude dos seus préstimos se destinarem a um determinado ponto muito específico do globo e de só nessa área poderem ser prestados, por que lá se encontram, outras activi-dades poderão ser, com maior o menor facilidade, deslocadas. Assim, só se poder garantir a nossa imprescindibilidade profis-sional demonstrando que fazemos melhor, de modo único, mais rápido, num mundo em constante mudança, a um ritmo cada vez mais célere.

Porém, para se ser único, para que alguém tenha a base que lhe permite tornar-se único, é de extrema importância apostar numa educação sempre actual, em constante actualização, estimu-lante, diversificada. Na verdade, no mundo em que é preciso fazer a diferença esta tem que começar a ser marcada pela aposta num sistema de ensino evoluído, apto a dar uma resposta às exigências futuras, pois as que hoje são actuais amanhã já estarão ultrapas-sadas. É necessário andar, continuamente, um passo à frente.

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Face à realidade exposta supra o autor procede a uma análise da posição do seu país (Estados Unidos da América) no mundo plano, alertando-o de que é necessário evitar aquilo que o autor designa uma crise silenciosa, (que de momento se está a viver nesse país) fruto da diminuição de licenciados em Ciências e Enge-nharia. Estas áreas são de extrema importância num mundo plano, porquanto serão requisitados para dar resposta às crescentes neces-sidades de evoluções tecnológicas. Estas evoluções, de carácter científico darão, consequentemente, novas realidades a outras áreas do saber, nomeadamente ao saber jurídico, que terá, igual-mente, que evoluir e dar resposta a uma série de novas questões e problemas que a esfericidade tradicional não colocaria...

É preciso estar preparado para evoluir, para competir, para colaborar. Estamos todos contra todos, mas também estamos todos por todos. É preciso saber competir sem esquecer que há muito em comum que é preciso sustentar, desde logo, as grandes carências em termos ecológicos (há que garantir a sobrevivência do planeta). Todas estas questões são, contudo, comuns a todos, há que garantir uma resposta adequada às novas exigências. Os países que já têm eficientes infra-estruturas de ensino, saúde, segurança social, terão que continuar a evoluir, sendo certo que quem as não tem terá que evoluir mais ainda e mais rapidamente. Resta saber como. A era da globalização proporciona novas opor-tunidades, há que as aproveitar da melhor maneira, mas com sensatez e em benefício de todos, da ‘planificação’ do nosso mundo. O facto de todos estarmos acessíveis, de, todos os dias, aparecerem novos elementos, novos indivíduos globais, novas empresas globais, novas invenções, tudo isto promove a intensi-ficação da globalização, desenvolvendo-se como um fenómeno em espiral crescente. Porém até quando continuará em cresci-mento?

Enquanto se vai intensificando a globalização e todos nos vamos globalizando cada vez mais, a diversidade de interesses conflituantes subjacentes a cada decisão do dia-a-dia dos estados, empresas ou pessoas vai aumentando, mas também os interesses comuns, pois tudo se torna cada vez mais comum. Na verdade, torna-se difícil assumir uma posição rígida, num determinado lado

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da trincheira, sob pena de a meio do ‘tiroteio’ se sentir neces-sidade de mudar de lado porque, afinal, vista a realidade de uma outra perspectiva, os nossos interesses não estão deste lado mas do outro. Estamos e estaremos cada vez, perante realidades extrema-mente voláteis, pelo que será necessário reponderar continua-mente o papel de cada um no tabuleiro de jogo, procedendo-se a um constante equilíbrio de forças e contra-forças. Em última instância todos estamos em colaboração, resta saber quando?

Assim os líderes nacionais e internacionais terão que pro-mover o crescimento de uma comunidade científica de qualidade, incentivando a excelência. Tal não implica, nem pressupõe que se crie uma espécie de cientificocracia. O que releva é a boa preparação e capacidade de inovar, mobilizar, antever as necessidades futuras. Todos terão que adoptar alguma maleabilidade de postura, assumir a capacidade de adaptação a novas realidades, em constantemente mudança, capacidade interventiva procurando cada um fazer a diferença.

Há que promover, do mesmo modo, uma maior solidarie-dade entre todos, empresas e indivíduos, garantindo o bem-estar de todos, quer através da criação de boas condições económicas, quer de bons sistemas de saúde, da responsabilização global de protecção do ambiente.

Os próprios pais, em suas casas deverão educar os seus filhos promovendo o desenvolvimento das suas capacidades, humanas e intelectuais, fazendo-os sentir a necessidade de se sacrificarem, de abdicarem de algo, no presente, para que no futuro se possam obter melhores condições.

A globalização é, por definição, um fenómeno global, con-tudo há alguns países que não se encontram na rota de aproxi-mação ao mundo plano, deixando-se permanecer no seu mundo privado, não permitindo a entrada de novos ventos, arejando as ideias enraizadas, interligando-se e colaborando com outros paí-ses, suas empresas e cidadãos.

Na verdade a globalização pressupõe que, antes de mais, o país se encontre aberto às influências vindas de fora, para que os seus residentes se possam eles próprios globalizar. O país (os seus

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líderes) é que terão que criar o patamar mínimo (desenvolvendo o país em termos educacionais, criando infra-estruturas que bene-ficiem as pessoas, permitindo-lhes contactar e estar contactáveis) tornando os seus cidadãos acessíveis à escala global. Porém, até que países que se encontram sob regimes autoritários fechados, altamente sub-desenvolvidos em que nem as mais básicas das ne-cessidades humanas estão asseguradas

Há que proceder a um esforço colectivo para compreender os benefícios de um mundo plano e saber fazer uso desses bene-fícios. Mas quando esta evolução põe, ou pode por, em causa interesses instituídos dificilmente será aceite sem entraves. Assim temos um mundo não plano, que se encontra fora da globali-zação. Todavia é importante integrar essa parte não globalizada, é importante abrir todo o mundo aos novos ventos, mas cuidado, pois há que o fazer com a preocupação de proteger os que se encontram ainda não globalizados e não fazer deles apenas mais uma peça que em dado momento se tornou necessária. Todos devem ter a liberdade de optar pelo seu caminho, que já o pode fazer deve auxiliar os que ainda o não podem fazer, criando um mundo mais solidário, porquanto só quando se interiorizar que os nossos interesses são, em última instância, comuns é que se tri-lhará o caminho certo, mas para isso há que abdicar de interesses que se revelam individualísticos, o que não será fácil. Quem quererá abdicar de um acréscimo da sua comodidade para per-mitir a sobrevivência de alguém? Penso que todos. Mas nem todos têm essa consciência.

O autor do livro ora recenseado não ignora que a ‘plani-ficação’ do mundo também pode trazer dificuldades acrescidas, pois se potencia o que há de bom no mundo também torna global o que há de menos bom.

Fruto de ser Norte-americano, não deixa de revelar as cicatrizes profundas causadas pelo sucedido em 11 de Setembro de 2001. Na verdade, todas as ferramentas que nos permitem ser globais e colaborar com outras pessoas, noutros locais e nos per-mitem evoluir, também podem permitir a globalização de dou-trinas extremistas com um potencial destrutivo agora ampliado. Na verdade, relaciona o dia 9 de Novembro (11) de 1989 – dia

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em que a Europa Ocidental se re-uniu com a Europa de Leste, com a queda do Muro de Berlim, dando origem a uma nova fase de colaboração global e de nova esperança – com o dia 11 de Setembro (9) de 2001 – dia em que foram concretizados os ataques terroristas às Torres Gémeas de Nova Iorque, de onde resultou a propagação de uma onda de receio e nos fechou a todos um pouco.

O livro, cuja análise ora se termina, revela-se de enorme interesse prático, pois faz-nos sentir a necessidade de sermos globais. Há que procurar ser global, mas há que procurar ser, também racional e cauteloso, porquanto a “aldeia global” em que vivemos necessita de salvaguardar e proteger as pessoas que nela habitam, sendo muito importante garantir essa protecção e controlar os intervenientes globais. Todos nos vamos controlar a todos, mas também temos que ter quem nos controle a nós, premiando os que são de confiança e sancionando os que pro-curam ser individualistas num mundo global, servindo-se deste, única e exclusivamente, no seu e para o seu interesse.

Simão Rios Leal Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

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