R e v is ta d a S o c ie d a d e B ra s ile ir a d e M e d ic in a T ro p ica l 2 2 (3 ): 1 5 9 -1 6 0 , J u l-S e t, 1 9 8 9
P R E V A L Ê N C IA D A IN F E C Ç Ã O C H A G Á S IC A E M
C A T O L Â N D IA -B A H IA
Paulo Escolano, Nelson Liporaci, César M anzan, André Barbosa, Valquíria
Alves, Regina Teixeira, Poliana Afonso, Lúcia Buffulin, Maria Regina Bentlin,
César Morais, Hélio Moraes-Sousa e José Tavares-Neto.
Segundo o In q u érito N acio n al, realizad o de 1 9 7 5-19802, a p re v alên c ia d a in fecção ch ag ásica n o e sta d o d a B ahia, en tre os 3 31 m u nicípios estudado s foi de 5 ,4 % . N o m unicípio de C ato lân d ia, 175 indivíduos foram p esq u isad o s, sen do a p re v alên c ia d a infecção de 3 ,7 % (C C D C M M a d u re ira F ilh o: com unicação p es soal, 1989) e co m p u tad a n o In q u érito N a c io n a l2.
C ato lân d ia, co m 3 1 7 0 h ab itan tes (1 9 8 0 ), d ista 32 km de B arreiras-B ah ia e 8 8 8 k m de S alvador. A D o e n ç a d e C h ag as p a re c e te r im p o rtân c ia nosoló gica, n o m unicípio, em vista dos vários caso s d e m egaesô- fago clínico e m o rte súb ita em jo v en s4 .
E m 1983, após lev an tam en to triatom ínico , foi realizada, p e la S U C A M , a b o rrifação (B H C ) d a s ca sa s e anexos, seguid a de u m a ou tra, d as ca sa s o u anexos co m vestígios e /o u triato m ín eo s (C C D C M M a d u re ira F ilh o: co m u n icação p esso al, 1989). O u tra s m edid as d e controle, po sterio rm en te, n ã o foram p o stas em p rática. N a ép o ca d o levantam ento 7 77 c a s a s e 975 an ex o s fo ram trab alh ad o s sen do a p rev a lência de positiv os (vestígios e /o u triatom íneo s) de 5 4 ,8 % ( n = 4 2 6 ) e 19 ,4 % (n = 1 8 9 ) , respectiv am ente, ( C C D C M M a d u re ira F ilho : co m u n icação p essoal, 1989).
E ss e s d a d o s ju stificaram o estu d o d a estim ativ a d a p rev alên cia de infecção chagásica, no referido m unicípio, com a m o stra am p la e d an d o ênfase à faix a e tá ria de 0 a 10 anos, co m o objetivo de avaliar m elh o r o im p acto n os últim os anos.
E m C ato lân d ia, v em sen do feito o controle da esq uistossom ose m an sô n ica desde 1976 e todos os residentes d a áre a e stu d ad a ( n = 1 2 5 6 ) estão m atri culados4 . S elecio n am o s p a ra a rea liz a ç ã o deste tra b alh o o s indiv íduos co m nú m eros de m atrículas p ares.
T rab alh o d a D iscip lin a de D o e n ç as Infecciosas e P arasitá ria s, F a cu ld a d e de M ed icin a d o T riâ n g u lo M ineiro.
E n d e reç o p a ra correspon dên cia; Prof. J. T av a re s-N eto , D isciplina de D o e n ç as Infecciosas e P a rasitá ria s. C P : 118, 3 8 1 0 0 U b e ra b a, M G .
Recebido para publicação em 11/8/89.
L evou-se em c o n ta a in d a a ordem de chegada dos indivíduos a o P o sto de S aú d e (p a ra o exam e clín ico perió dico d o pro jeto esq uistossom o se em ja n e iro de 19 89), evitand o-se incluir todos os indivíduos per ten cen tes a fam ílias num erosas. P reviam ente, com b ase no cen so de n o v e m b ro /l 9 8 8 , estabelecem os que seriam selecionados ± 5 % dos indivíduos de cad a faix a e tá ria e ± 3 0 % dos de 0 a 10 anos.
A am o stra to tal foi de 3 4 4 p esso as, distribu ídas nos grupos e faix as etárias e e stá re lacio n ad a n a T a b e la 1.
A a m o stra de sangue foi o b tid a p o r pun ção d a ex trem idad e digital, com la n c e ta estéril e co letad a em papel de filtro K l a b i n - 8 0 2 . 0 m aterial foi conservado a - 2 0 ° C até que fo ssem rea lizad o s os testes de im uno- fluo rescência indireta* e h em ag lu tin ação passiv a^, usan d o co n tro les p o sitivos e negativos.
D a s 3 4 4 am o stras, 30 6 (8 8 ,9 % ) foram nega tiv as e 38 (1 1 ,1 % ) positivas (T a b e la 1), pelo teste de im u nofluo rescência indireta. E n tre as positiv as, 12
Com unicação. E sco la n o P , L ip o ra c iN , M a n z a n C, B a rb o sa A, A lv e s V, T eixeira R , A fo n so P, B u ffu lin L , B e n tlin R , M o r a is C, M o ra es-S o u sa H , T avares N eto J. P revalência d a infecção chagásica em C ato lândia-B ahia. R evista d a S o cied a d e B rasileira de M ed icin a T ropical 22: 159-160, Ju l-S et, 1989
(7,6%) pertenciam ao grupo A (todos maiores de 5
anos de idade), 13 (11,4%) ao grupo B e 13 (18,3%)
ao grupo C; o qual diferiu significantemente dos
demais grupos (p < 0,05), não havendo diferença
significativa (p >
0,
2 0) entre os indivíduos dos grupos
A e B.
N ão encontramos diferenças, com significado estatístico, entre os positivos e negativos quanto ao sexo, grupo racial, local de residência atual (sede do município ou fazendas) e a residência anterior em área rural (fazendas).
Em dois indivíduos adultos, a hemaglutinação
passiva (HA) não foi realizada, devido à insuficiência
do material. Entre os 37 com imunofluorescência
positiva, 3 tiveram resultado negativo pela HA; nos
demais (n = 305) ambas as provas foram negativas.
Considerando o teste de imunofluorescência, como o
mais verdadeiro, a copositividade foi de
1 0 0%, a
conegatividade de 99,0% (305/308), sendo a con
cordância de 99,1% (34+305/342).
Os dados gerais mostram prevalência superior
(11,1%) à observada por Camargo coP, de 3,7% e
seria maior, caso não fosse incluído maior grupo de
indivíduos de
0a
1 0anos de idade.
Entretanto, a não observação de positivos entre
os indivíduos com cinco anos ou menos de idade e a
maior prevalência entre os grupos “ C” levam-nos a
especular se a infecção ocorreu, mais ativamente, no
passado. Contudo, as medidas de combate à infecção
chagásica postas em prática, na região, isoladamente
não explicam aquela diminuição da prevalência por
faixa etária. Porém, nos últimos quinze anos, houve
substancial melhoria da qualidade de vida dos habi
tantes do município, com maior acesso aos serviços de
saúde básico, implantação dos serviços de água e luz,
aprimoramento dos serviços de comunicações e trans
portes e melhoria das habitações4. Verifica-se que os
dados indicam que a transmissão vertical tem aparen
temente, no momento, pouca relevância na área. Não
obstante, os dados reforçarem a importância da in
fecção chagásica em Catolândia e a necessidade de
medidas mais efetivas no seu controle, principalmente
em decorrência da freqüência de sorologia positiva
(7,6%) na faixa etária de 0 a 10 anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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