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Estratégias de criação lexical no Português de Moçambique: aspectos da derivação sufixal

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Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 1, No 1, pp 104-117, 2015

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ISSN 2307-3918 Artigo original

Estratégias de criação lexical no Português de Moçambique: aspectos da

derivação sufixal

Inês Machungo

Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Moçambique

RESUMO: Em Moçambique, país que se caracteriza por ser multilingue, e onde convivem línguas bantu e a língua portuguesa, a única língua oficial, embora língua segunda para a grande maioria dos falantes, o processo de apropriação e nativização do português pela comunidade é já um fenómeno observável e irreversível. A inovação lexical é um dos domínios em que a mudança linguística que concorre para a edificação de uma variante não-nativa do português, o português moçambicano (PM), se faz sentir e constitui o foco do presente estudo. Assim, neste estudo parte-se dos seguintes pressupostos: i) no processo de aquisição/aprendizagem de uma língua segunda, podem ter lugar interferências linguísticas de natureza diversa, fonético-fonológica, morfológica, sintáctica, semântica, pragmática; ii) o número de novos itens lexicais que entraram no PM é elevado; iii) uma das formas de enriquecimento lexical é o recurso a empréstimos às línguas bantu (LB). Dados estes pressupostos evidencia-se que: i) o domínio de construção de palavras é o menos afectado pela interferência linguística; ii) no processo de construção dos novos itens lexicais, o aprendente armazena mentalmente formas linguísticas adquiridas pelo uso e é capaz de, a partir delas, fazer abstracções e generalizações construindo deste modo esquemas mentais de formação de palavras.

Palavras-chave: construção de palavras, morfossemântica, empréstimos lexicais, Português de Moçambique

Lexical creation strategies in Mozambican Portuguese: aspects of suffixal

derivation

ABSTRACT: Mozambique is a multilingual country with Bantu as native and mother languages and Portuguese the only national official language and the second language for the vast majority of the population. Within this context, the process of appropriation and nativization of Portuguese by speakers is already observable and irreversible. Lexical innovation is one of the areas where language change occurs, contributes to the building of a non-native variant of Portuguese, the Mozambican Portuguese (MP) and is the focus of our study. The study is based on the following presuppositions: i) in the process of acquisition/learning of a second language take place linguistic interference of various kinds - phonetic, phonological, morphological, syntactic, semantic, pragmatic; ii) a high number of new lexical items enters Mozambican Portuguese; iii) one of the forms of lexical enrichment is the use of loanwords to Bantu languages (BL). Taking those presuppositions into account the author found that i) the field of word construction is the least affected by linguistic interference, and ii) in the process of construction of new lexical items the learner mentally stores forms acquired by use and, based on this forms, makes abstractions and generalizations, enabling him to build mental patterns of word formation.

Keywords: word construction, morphosemantics, lexical borrowing, Mozambican Portuguese _________________

Correspondência para: (correspondence to:) machungoines@aol.com

INTRODUÇÃO

Moçambique é um país multicultural e multilingue em que coexistem e convivem línguas do grupo bantu1, língua portuguesa e outras línguas europeias, com particular ênfase para o inglês e línguas de origem asiática. A língua portuguesa é a única língua oficial. Até 1975, o português era falado por apenas 25% da população como

língua segunda, e apenas por 1% como língua materna. A decisão de manter o "status quo" linguístico (BAMGBOSE, 1991), ou seja, de manter as funções da língua portuguesa tal como eram no período anterior à independência em que o português era a única língua oficial, determinaram o aumento significativo do número de falantes desta língua. Dados do Censo Populacional de 2007 do Instituto

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Nacional de Estatística indicam que cerca de 40% da população moçambicana é falante do português, dos quais 10.7% o têm como língua materna e residem maioritariamente em zonas urbanas.

De acordo com Dias (2009) existem três níveis de proficiência do português em Moçambique: um nível de proficiência alta, com um número reduzido de falantes que possuem um grau de instrução elevado; um nível de proficiência que caracteriza falantes com grau de escolaridade média (esta variante exibe interferências linguísticas e pode dizer-se que é a variedade modelo disponível nas escolas); por fim, há um grupo de falantes que apenas possui um conhecimento geral

da língua a nível da oralidade, correspondendo ao que se pode chamar proficiência baixa.

As línguas bantu, línguas maternas para grande parte dos falantes bilingues, influenciam o português falado em Moçambique a vários níveis: fonético, fonológico, morfológico, lexical, sintáctico, semântico e discursivo. Os dados abaixo apresentados ilustram alguns desses fenómenos2.

1 Domínio fonético-fonológico:

• Nasalização ou desnasalização em contextos em que a variante padrão do português europeu (PE) não as exibem:

(1) PE economia [ikᴐnu’mjα] PM [ῖkono’mjα] PE Joaquim [ʒwakῖ]

PM a.[ʒwãŋki] b. [ʒwãŋkῖ] c. [ʒwaki] No PM, há um processo de nasalização que

afecta a vogal baixa e a vogal anterior (exemplos a. e b.) ou ocorre uma completa desnasalização da vogal anterior, como em c. Em [ῖkono’mjα] a nasalização afecta a vogal anterior.

Nos estudos disponíveis sobre esta questão não se apresentam motivações de carácter linguístico que possam explicar este fenómeno. Contudo, apontam-se algumas evidências de que o fenómeno ocorre com maior incidência em falantes do changana.

• Não vozeamento de sons consonânticos:

(2) PE casa [kaza] PM [kasa] PE dedo [dedu] PM [tetu] O não vozeamento de consoantes que ocorrem no PE como vozeadas como se mostra no exemplo (2), é um fenómeno que caracteriza falantes de língua materna macua, podendo por vezes afectar a

inteligibilidade e compreensão dos enunciados linguísticos.

2 Domínio lexical:

• Formação de itens lexicais provenientes de LB e não existentes no PE, com recurso ao uso de afixos desta língua: (3) LB kutxova 'empurrar'

PM txovar 'empurrar' LB kufemba 'adivinhar' PM fembar 'adivinhar'

Na adaptação da palavra proveniente da LB, neste caso do ronga/changana para o PM, recorre-se ao processo de formação de verbos usado na LP ou seja, insere-se a vogal temática insere-seguida do sufixo verbal -(a)r 3 ; simultaneamente é suprimido o prefixo ku- indicativo da classe de verbos na LB.

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106 3 Domínio sintáctico4:

• Modificação da estrutura argumental de verbos

(4) a. A Celeste nasceu duas meninas (PE: ...deu à luz duas meninas)

b. Eu fui nascido no dia que caíram muitas chuvas em Gorongoza (PE: nasci em Gorongoza no dia em que choveu muito).

Em changana o verbo 'nascer', kubeleka, é um verbo transitivo, pelo que se supõe ter havido cópia no PM das propriedades sintácticas do verbo do changana:

4 Domínio semântico:

A nível semântico também se registam fenómenos de transposição das LB para o PM, como ilustra o exemplo que se segue:

(5) Eu não estou a ouvir o cheiro do gás. (PE: eu não estou a sentir....)

O verbo ouvir foi aqui usado no lugar do verbo sentir e embora sejam ambos verbos cujos significados estejam ligados aos órgãos sensoriais, no PE são usados em contextos distintos. Tal como refere Ngunga (2012) "Em bantu parece não existir uma tradução de 'sentir' (abstracto) que não passe por verbos que traduzem as percepções recebidas através de órgãos sensoriais de 'confiança 'tais como 'ouvir' e 'ver' ".

Os dados acima descritos confirmam que, em determinados domínios gramaticais, há um processo de transferência de conhecimento linguístico das LB para o PM. Sendo as LB distintas, isto é, dado que em cada região geográfica e não só, se falam línguas diferentes, a interferência destas no PM é diferenciada, podendo-se

mesmo afirmar que começam a emergir distintas variedades regionais não-nativas do PM. Estas variedades são construídas com recurso a diversas estratégias de aprendizagem da língua, caracterizadas por fenómenos como a simplificação, sobregeneralização de regras e transferência de língua (DIAS, 2009).

Neste artigo, analisam-se dois dos mecanismos de enriquecimento lexical exibidos no PM, a saber: palavras construídas com base em itens lexicais do PE e palavras construídas com base em itens lexicais das LB. Além disso, mostra-se que o domínio da morfologia, mais concretamente o da construção de palavras, é o que revela menos interferências de outras línguas, com ênfase para as LB. Na esteira de Booij (2010), salienta-se que, no processo de formação de derivados, os falantes do PM recorrem a esquemas construcionais mentais que lhes assegura uma maior uniformização e generalização dos processos construcionais, e que o uso destes mecanismos de construção de palavras só é possível porque os falantes possuem uma competência léxico-morfológica forte que lhes permite gerar produtos morfologicamente bem construídos.

A FORMAÇÃO DE PRODUTOS DERIVACIONAIS NAS LB

Na literatura compulsada sobre a formação do PM, pouca ou nenhuma referência é feita à possível interferência linguística das LB nos produtos derivacionais do PM, muito embora alguns estudos (MULUANA, 2011) e estatísticas efectuadas com base nos dados constantes do Observatório de Neologismos do Português de Moçambique revelem que as LB constituem a base de grande parte dos empréstimos lexicais do PM, adaptados ou não ao português. Nos dados analisados no presente estudo, nas unidades lexicais derivacionais não foram detectados fenómenos morfológicos que possam ser

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atribuídos à interferência da morfologia derivacional das LB. Isto pode ter a ver com o facto de o sistema derivacional das línguas bantu estruturar-se de forma diferente do da morfologia derivacional do português e apresentar características que

marcadamente o colocam entre a morfologia e a sintaxe.

Vejamos, por exemplo, como se formam, em Changana 5 , nomes derivados semanticamente caracterizáveis, como agentivos, locativos, instrumentais:

(6) kuboxa 'furar'

a. ku - box - a 'furar' Pref. classe Rad V morf

b. mu - box - i 'aquele que fura' Pref. classe Rad V morf

c. xi - box - o 'aquilo que fura' Pref. classe Rad V morf

d. vu - box - el - o 'lugar onde se furam coisas' Pref. classe Rad V morf

e. ma - box - el - a… 'maneira de furar' Pref. classe Rad V morf

A nominalização deadjectival é feita, por exemplo, como se apresenta em (7): (7) tsongoA 'pequeno'

vutsongoN 'pequenez' vu - tsongo

Pref. classe Rad Adj

e por sua vez, a nominalização deverbal é feita como se exemplifica em (8): (8) a. Ku - hlampsa 'lavar'

Pref classe Rad V

mu - hlamps-i 'aquele que lava' Pref classe Rad V morf

b. ku - hlula 'vencer' Pref classe Rad V

mu - hlul - i 'aquele que vence' Pref classe Rad V morf

c. ku - paka 'carregar' Pref classe Rad V

mu - pak - i 'aquele que carrega' Pref classe Rad V morf

Como se pode observar nos exemplos de (6) a (8) a estruturação de formas derivadas do changana e, acrescente-se, das LB em geral, envolve a concatenação

de um conjunto de afixos ao radical, nomeadamente os prefixos de classe, os afixos nominais, as extensões verbais e os morfemas que representam as vogais

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finais. Ao se comparar, por exemplo, o processo de construção dos nominais deverbais em changana (muboxi, muhluli, mupaki) com o processo similar que ocorre na língua portuguesa, constata-se que as estratégias morfossemânticas usadas nas duas línguas são diferentes. No changana, é obrigatório o uso do prefixo que insere o radical numa certa classe, e a vogal final (índice temático)6. Assim, nos verbos do changana kuboxa, kuhlula e kupaka, é suprimido o prefixo ku- da classe dos verbos, sendo substituído por outro prefixo de classe, no caso presente o prefixo mu-7, e anexada a vogal final exigida pela estrutura silábica da língua.

Como são construídas as formas derivadas no português?

Os estudos sobre formação de palavras em português indicam que a base sobre a qual se podem formar palavras pode ser um morfema (HALLE, 1973), uma palavra (ARONOFF, 1976) ou radicais e palavras (CORBIN,1987; VILLALVA, 2000). Qualquer uma das opções tem consequências, que do ponto de vista teórico, colocam problemas à explicação das formas derivacionais. Não cabe no âmbito deste trabalho discutir essas implicações8. No entanto, note-se que estas abordagens têm em comum o facto de, independentemente da categoria da base, a estrutura derivada resultar da aplicação de Regras de Formação de Palavras sobre essa base.

O modelo de construção de palavras proposto por BOOIJ (2010) apresenta uma alternativa que, dando conta de como se processa a construção de derivados, permite explicar os processos mentais subjacentes. Na perspectiva deste autor, certos processos mentais operam-se na mente do falante na produção de novos produtos derivados, nos quais não intervêm regras. Para Booij (2010), o conceito de construção deve ser entendido como uma relação entre um 'esquema' e uma unidade lexical, que permite

descrever e explicar o processo de formação de novas unidades lexicais. O autor explica que, no processo de aquisição de uma língua, o falante começa por fazer a representação de casos concretos de usos da língua e, gradualmente, faz generalizações a partir de formas linguísticas com propriedades idênticas, formando assim um sistema abstracto subjacente a esses constructos linguísticos. O conhecimento lexical de cada falante é determinante no processo de construção das subgeneralizações.

Esta análise baseia-se no pressuposto de que as gramáticas das línguas naturais têm uma subgramática morfológica relativamente independente de outros módulos da gramática, e assume também que as palavras complexas, ou seja, o output de operações morfológicas pode ser listado no léxico. Existe uma relação paradigmática entre pares de palavras como, por exemplo, recolher/recolhedor, afiar/afiador, que pode ser projectada na estrutura interna morfológica da palavra. Tomemos como exemplo a palavra recolhedor, cuja estrutura interna é representada em (9):

(9) [[recolhe]V dor]N

O conjunto de palavras que têm uma estrutura idêntica a recolhedor desencadeia na mente dos falantes a formação de um esquema abstracto, que pode ter a seguinte forma: (10) [[X]V dor]N 'aquele que V'

Ou seja, a construção do novo nominal deverbal formado através do sufixo -dor não tem como base apenas a analogia que o falante faz com outros nomes deverbais do mesmo tipo; o novo nominal é formado com base no esquema abstracto descrito em (10), e a nova palavra é construída através da substituição da variável X no

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esquema, por um verbo concreto. Trata-se de uma operação de unificação de um esquema abstracto com um item lexical. O esquema em (10) materializa pois, uma generalização que o falante faz sobre a forma e o significado de nomes deverbais em -dor listados no léxico, ao mesmo tempo que se constitui como ponto de partida para a formação de novos itens lexicais a partir de uma certa classe semântica de verbos. A unificação é uma operação básica, presente na criação de estruturas morfológicas bem formadas, por substituição da variável X, que representa uma classe gramatical maior, no caso presente um verbo.

Assim, Booij (2010) identifica algumas funções para os 'esquemas morfológicos', a saber:

- expressam propriedades previsíveis de palavras complexas existentes; - indicam o modo como se

poderão formar novos itens lexicais;

- estruturam o léxico de modo a que as palavras complexas se organizem em sublistas. Outro conceito destacado por Booij, e relevante na construção de novos itens lexicais é o conceito de herança, construído na base do pressuposto de que o léxico está organizado em hierarquias com níveis diferentes de abstracção, de tal modo que a informação presente na palavra base é herdada pela palavra complexa. Assim se explica que, por exemplo, a informação semântica contida em recolher esteja presente no constructo recolhedor. O mecanismo da herança-padrão 9 é necessário para explicar

propriedades excepcionais de uma palavra, dito de outro modo, para mostrar que nem toda a informação herdada de um nó superior é necessariamente preservada, podendo ser anulada por informação presente num nó de nível mais baixo. O exemplo que o autor apresenta é o da formação de derivados em italiano (que se assemelha ao português). No italiano, os sufixos derivacionais podem determinar a categoria da palavra derivada, à excepção dos sufixos avaliativos, que mantêm a categoria da palavra base. Assim, assume-se um esquema geral no italiano, para os sufixos, que determinam a categoria de palavras; esse esquema geral postula que a categoria de uma palavra derivada (Y) pode diferir da categoria da palavra de base (X). Este esquema geral domina um subesquema de palavras que comportam os sufixos avaliativos, que herdam a sua categoria sintáctica da palavra-base. Este subesquema deve especificar que, nos diminutivos e aumentativos, a categoria da palavra derivada é idêntica à da palavra de base, ou seja, X e Y têm o mesmo valor. Embora similares às regras morfológicas propostas por Aronoff (1976), os esquemas de Booij (2010), como o próprio autor afirma, diferenciam-se das regras aronoffianas pelo facto de estas tomarem como base uma palavra sobre a qual as regras actuam (source-oriented). Ou seja, no modelo de Aronoff, não havendo input, a regra não pode ser aplicada.

Em português, aos agentivos deverbais em -dor, em geral associa-se um agente [+hum]. Vejamos os seguintes constructos em -dor que ocorrem no PM:

(11) a. roubador 'aquele que rouba' batedor 'aquele que rouba' furtador 'aquele que furta' gazetador 'aquele que gazeta' urinador 'aquele que urina' cabulador 'aquele que cabula' b. afiador 'aquilo que afia'

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c. estoriador 'aquele que conta estórias'

politicador 'aquele que faz política (sentido pejorativo)

As formas em a. podem ser descritas pela regra aronoviana descrita em (12) e idêntica à regra (10)

(12) [[X]V dor]N 'aquele que V'. Na forma em b. afiador ‘apara-lápis’, em que o agente é [-hum], houve um processo de nominalização, com uma transferência de sentido do nome de agente para o nome de objecto com que a acção é praticada. Esta forma poderá igualmente ser descrita por uma regra idêntica à regra (12) em que a paráfrase semântica seria 'aquilo que V', que, associada à regra anterior, daria lugar a uma formulação como a que já foi proposta por vários autores, entre os quais RIO-TORTO (1998, 2013):

(13) [[X]V dor]N 'aquele ou aquilo que V'

Contudo, a mesma regra não dá conta das formas em c., a não ser que se postule que formas possíveis, mas não atestadas (CORBIN, 1987) podem constituir a base para a aplicação de regras de formação de palavras. Teríamos, neste caso, os verbos virtuais politicar e estoriar como base para aplicação de regras derivacionais.

O recurso aos esquemas morfológicos anula a assumpção de que construtos linguísticos deste tipo sejam gerados por regras, dado que não havendo input, e este é um dos requisitos para que se possa gerar uma regra, a regra não pode ser aplicada. A alternativa de se considerar que estes produtos são listados no léxico, também não é aplicável, pois, deste modo, os construtos estariam ligados a uma mesma regra ao mesmo tempo, o que contraria os pressupostos subjacentes à aplicação de regras morfológicas. O esquema (10) que representa a construção de derivados em -dor, dá conta de que -dor é um morfema

preso que não ocorre por si só, dado que não está listado no léxico como um item lexical autónomo. A sua existência está associada ao esquema em que ocorre.

Construção de produtos derivados no PM

Nesta secção, analisam-se dois tipos de construção de palavras no PM, a saber, formas que têm como base itens lexicais do português e formas construídas sobre empréstimos de LB. Não sendo relevantes para os fins a que me proponho, não são

aqui analisados fenómenos morfofonológicos que ocorrem na construção dos derivados. Tratando-se de neologismos, algumas das palavras analisadas mereceriam uma descrição semântica mais exaustiva e com contextos de ocorrência que, também por razões de economia e clareza na análise dos dados, não será apresentada.

Nomes denominais com o sufixo –aria

Os produtos derivacionais com o sufixo -aria podem ter várias interpretações:

i - Conjunto relacionado com semântica da base (14) a. bufaria buf-aria 'conjunto de bufos’ (polícia secreta) vizinharia vizinh-aria 'conjunto de vizinhos' cunhadaria cunhad-aria 'conjunto de cunhados' sograria sogr-aria 'conjunto de sogros'

Os nomes apresentados em (14) têm muitas vezes uma conotação pejorativa e nesses casos não se referem a "conjunto de", mas ao indivíduo. Por exemplo, pode-se usar o nome sograria para se referir à sogra ou bufaria para se referir a apenas um bufo.

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Estes nominais também podem ter interpretação locativa, por exemplo, sograria pode ser 'a casa dos sogros' ( 'vou à sograria') , bufaria local onde os bufos exercem a sua actividade ('fui lá à bufaria'). Rio-Torto (1998) aponta para a coexistência dos sentidos locativo e de quantidade nos produtos derivados em -aria. Por exemplo, o nome livraria pode ser interpretado como 'actividade de livreiro', 'local onde se exerce a actividade de livreiro', 'local onde se exerce a actividade de venda de livros', ou 'local onde existe grande quantidade de livros'. Os exemplos do PM confirmam esta associação dos sentidos locativo e quantitativo dos produtos em -aria.

ii - Local onde se exerce actividade relacionada com semântica da base b. cabelaria cabel-aria…'local onde se trata de cabelos' porcaria

porc-aria 'local onde se lida com carne de porco'

Cabelaria é o local onde se exerce actividade relacionada com ‘cabelos’, podendo ser cabeleireiro ou barbeiro. Porcaria é uma casa de pasto onde se serve (ou vende) carne de porco. Neste caso, a interpretação quantitativa está excluída.

iii - Comportamento relacionado com semântica da base

c. verboaria

verbo-aria 'acto de falar muito'

vozearia

voz(e)-aria 'acto de falar alto'

zaragataria

zaragat-aria 'acto de fazer zaragata' politicaria

politic-aria 'acto de fazer política' Os denominais em (14) podem representados pelos seguintes subesquemas: a) [[X]Nj - aria]Ni ↔ [conjunto Y relacionado com SEMj]Ni b) [[X]Nj - aria]Ni ↔ [local Y relacionado com SEMj]Ni c) [[X]Nj - aria]Ni ↔ [comportamento Y

relacionado com SEMj]Ni em que:

SEM = 'interpretação semântica'

X = categoria lexical maior Y = variável semântica indexação = indica

correspondência ou não de informação envolvida na palavra. Apesar das diferentes leituras que se pode fazer destes produtos, não seria económico para a gramática postular a existência de vários sufixos -aria, nem de várias regras para dar conta das variadas interpretações; por outro lado, note-se que as bases que ocorrem com este sufixo são nomes, isto é, exibem a mesma categoria gramatical. Assumindo que o léxico está hierarquicamente organizado, como já foi acima referido, argumenta-se que as diferentes interpretações apresentadas nos subesquemas acima advêm do seguinte esquema:

(15) [[X]Nj -aria]Ni ↔ [conjunto / local / comportamento Y relacionado com SEMj]Ni

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112 Nomes e adjectivos denominais em –ista

Base: radicais de palavras atestadas no PM, siglas e nomes próprios

(16) frelimista frelim-ista 'afiliado/adepto do partido Frelimo' renamista renam-ista 'afiliado/adepto do partido Renamo' machelista machel-ista 'adepto do presidente Machel' chissanista chissan-ista 'adepto do presidente Chissano' guebuzista guebuz-ista 'adepto do presidente Guebuza'

Os adjectivos em (16) têm uma base nominal e podem ser semanticamente caracterizados como 'afiliado ou adepto Y relacionado com semântica da base', e deixam-se descrever pelo seguinte subesquema:

(17) [[X]Nj -ista]Ai ↔ [afiliado, adepto Y relacionado com SEMj] A

(18) chapista

chap-ista 'aquele que conduz chapas'

comboista

combo-ista 'aquele que conduz comboios' mototaxista

mototax-ista 'aquele conduz mototaxis' balonista

balon-ista 'aquele que conduz balões'

extensionista

extension-ista 'aquele que trabalha na extensão rural' Os nomes em (18). têm base nominal, e são semanticamente interpretados como 'profissão/actividade relacionadas com semântica da base' e descritos no subesquema (19):

(19) [[X]Nj -ista]Ni ↔ [actividade, profissão Y relacionado com SEMj] Ni

(20) confusionista

confusion-ista 'aquele que faz confusão' escovista

escov-ista 'aquele que escova’ (bajula)

lambebotista

lambebot-ista 'aquele que lambe-botas’ (bajula) ponciopilatista

ponciopilat-ista 'aquele que trai' tachista

tach-ista 'aquele que é interesseiro ou que come muito'

O conjunto de nomes listados em (20) , construídos sobre uma base nominal, têm um sentido marcadamente pejorativo, que pode ser interpretado como 'comportamento relacionado com semântica da base'. O subesquema que os descreve é o seguinte:

(21) [[X]Nj -ista]Ni ↔ [habilidade, comportamento Y relacionado com SEMj] Ni

Base de língua bantu

(22) txopelista

txopel-ista 'aquele que conduz txopela' (triciclo para transporte de pessoas)

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dumbanenguista

dumbanengu-ista 'aquele que vende no informal' mukherista

mukher-ista 'aquele que faz mukhero (compra e vende no informal)' Em (22) a base é um radical da língua changana 10 , e os derivados são interpretados como 'actividade/profissão relacionada com semântica da base' e descritos no subesquema (19), aqui repetido:

[[X]Nj -ista]Ni ↔ [actividade, profissão de Y relacionado com SEMj] Ni

Os subesquemas (17), (19) e (21) podem ser fundidos num único esquema, abaixo representado:

(23) [[X]Nj -ista]N/Ai↔ [afiliado, adepto, actividade, profissão, comportamento Y relacionado com SEMj] N/Ai

Nomes denominais em –eir- Base radical da língua portuguesa

Os construtos desta classe de palavras têm como base nomes, e dividem-se em subclasses semanticamente identificáveis com o traço [±hum].

Com o traço [+hum] e interpretação agentiva foram identificadas as seguintes formas:

(24) a. chapeiro

chap-eiro 'aquele que conduz chapa'

taxeiro

tax-eiro 'aquele que conduz táxi'

b. banqueiro

banqu-eiro 'aquele que financia actividades de amantes';

'aquele que não participa no jogo, embora convocado (suplente)' boateiro

boat-eiro 'aquele que propaga ou cria boatos'

barraqueiro

barraqu- eiro 'aquele que

frequenta barracas' linguareiro

linguar-eiro 'aquele que fala muito ou propaga boatos'

Base radical ou palavra de língua bantu

(25) a. dumbanengueiro dumbanengu-eiro 'aquele que vende no informal catembeiro

catemb-eiro 'aquele que fiscaliza bilhetes no ferry-boat da Catembe' timbileiro

timbil-eiro 'aquele que toca timbila' b. tindzaveiro

tindzav-eiro 'aquele que dá notícias' milandeiro

miland-eiro 'aquele que cria problemas' c. xitiqueiro

xitiqu-eiro 'aquele que é membro do grupo de xitique'

Em (25), os derivados são construídos com base nos radicais das palavras do changana, adaptadas ou não ao português :

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nengue 'mercado informal', Catembe 'nome de vila e de bebida', timbila 'nome de instrumento musical', tindzava 'notícias', milando 'culpas, dívidas' , xitique 'espécie de consórcio em que os membros fazem contribuições monetárias atribuídas a cada um de forma rotativa'.

Em (26), está representado o sub-esquema para os produtos de (24a.) e (25a.), quer tenham radical da língua portuguesa, quer tenham radical bantu:

(26) [X]Nj -eir]Ni ↔ [actividade, profissão Y relacionado com SEMj] Ni

As formas em (24 b.) e (25b.) são descritas pelo seguinte sub-esquema:

(27) [X]Nj -eiro]Ni ↔

[comportamento Y relacionado com SEMj] Ni

Por último, a forma em (25c.) pode ser descrita pelo sub-esquema (28):

(28) [X]Nj -eiro]Ni ↔ [afiliação Y relacionado com SEMj] Ni O esquema de que derivam os subesquemas (26), (27) e (28) é assim especificado:

(29) [X]Nj -eiro]Ni ↔ [actividade, profissão, comportamento, afiliação Y relacionado com SEMj] Ni

Com o traço [-hum], apenas foram identificadas formas com base bantu, sendo todos as bases provenientes de nomes de plantas e árvores.

(30) a. canhoeiro

canho-eiro 'árvore que dá o canhú'

jambaloeiro

jambalo-eiro 'árvore que dá o jambalão' b. massaleira

massala-eira 'árvore que dá a massala' maçaniqueira

maçaniqu-eira 'árvore que dá a maçanica'

mafurreira

mafurr-eira 'árvore que dá a mafurra' Em (31), está representado o esquema que dá conta dos itens em (30) a. e b. :

(31) [X]Nj -eiro/a]Ni ↔ [ nomes de plantas Y relacionadas com SEMj]Ni

Os esquemas (29) e (30) podem ser colapsados num único esquema, (32), que capta essa generalização:

(32) [X]Nj -eiro/a]Ni ↔ [ nomes Y relacionados com SEMj]Ni se [X] = N[+hum] então actividade, profissão, comportamento, afiliação Y relacionado com SEMj

se [X] = N[-hum] então nome de planta Y relacionado com SEMj

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diversidade linguística e a adopção do português como única língua oficial em Moçambique é propícia à edificação de uma variante não-nativa desta língua, revestida de muita vitalidade e criatividade, particularmente ao nível lexical, resultante desta convivência do português com a variedade de línguas presentes no mosaico linguístico moçambicano. Esta variedade em formação apresenta características próprias, por vezes marcadas pela inclusão de especificidades dos sistemas linguísticos em convívio. Crystal (2003), ao debruçar-se sobre as variedades do inglês no mundo, refere-se à importância que tem o contacto deste com outras línguas na edificação das variedades do inglês, identificando os domínios da pronúncia, vocabulário e estruturas sintácticas como os que revelam mais interferências. De igual modo, Schmied (1991), descrevendo o inglês da Nigéria, refere que a hipótese da influência da língua materna na aquisição da L2 está baseada na assumpção de que traços e

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estratégias já adquiridos podem ser transferidos para o sistema da língua-alvo. Schmied mostra que essa influência pode existir sobretudo no domínio fonético-fonológico e prossegue argumentando que determinados fenómenos que ocorrem noutros domínios da gramática podem ser produzidos por falantes que não têm necessariamente uma língua materna diferente da L2.

Outros estudos sobre o PM, e que foram sendo mencionados ao longo deste artigo, mostram que existem interferências das línguas maternas dos falantes moçambicanos na edificação do PM, e que mesmo falantes de português língua materna, estando linguisticamente expostos à variante moçambicana do português, produzem estruturas sintácticas e fonológicas específicas desta variante. Neste estudo, e tendo como referência trabalhos produzidos sobre o PM, destaca-se que a influência das línguas maternas ocorre sobretudo ao nível fonético-fonológico, léxico-sintáctico e semântico, e, no caso da morfologia derivacional, essa influência, a existir, é muito ténue.

Uma análise aos produtos neológicos derivacionais produzidos pelos falantes do PM mostra que a construção destes produtos configura esquemas mentais que os falantes vão edificando com o uso da língua. E esses esquemas em nada diferem dos construídos por outros falantes de português que o tenham como língua materna, reforçando a assumpção de que os falantes do PM possuem uma competência morfossemântica forte que lhes permite criar produtos neológicos bem formados. A novidade nestes construtos resulta do efeito semântico provocado por estas combinações.

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117 NOTAS

1 O número de línguas bantu faladas em Moçambique não é consensual entre os linguistas, mas nas fontes disponíveis e analisadas por FIRMINO, 2008, pode afirmar-se que, em Moçambique, são faladas mais de 20 línguas bantu.

2 Para uma descrição pormenorizada da interferência das LB no PM, veja-se, por exemplo, GONÇALVES, 2001; GONÇALVES e CHIMBUTANE, 2004; GONÇALVES e SITOE, 1999; MACHUNGO e NGUNGA, 1991; NGUNGA 2012.

3 Não há consenso entre os linguistas sobre o chamado sufixo verbalizador em português (veja-se por exemplo, BASÍLIO, 1993).

4 Veja-se GONÇALVES E CHIMBUTANE (2004), para um aprofundamento desta questão 5 Changana é uma das línguas bantu de Moçambique, sobre as quais há mais estudos publicados: é falada no sul de Moçambique, e é, presentemente, usada na educação bilingue.

6A estrutura silábica das LB é CV(V) (NGUNGA, 2004).

7Nas LB, as classes nominais têm uma motivação semântica. Compare-se, por exemplo, muboxi 'aquele que fura', em que o prefixo mu- pertence à classe 1, geralmente associada a nomes [+hum], com xiboxo 'aquilo que fura', em que o prefixo xi- pertence à classe 7, geralmente associada a objectos. 8Sobre a questão de que categoria pode servir de base para a formação de palavras, existe uma vasta literatura; no caso do português, veja-se, por exemplo, VILLALVA, 2000.

9 'Default inheritance' na terminologia de BOOIJ,2010.

10Existem várias versões sobre a origem da palavra mukhero; LOPES et al., 2002, por exemplo, mencionam que a palavra provém do inglês 'to carry'. Seja qual for a origem, a palavra entra no português, por via do changana, pelo que se deve considerar uma palavra desta língua, ainda que um empréstimo.

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