• Nenhum resultado encontrado

AVALIAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE DESASTRES HIDROMETEOROLÓGICOS NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL NO PERÍODO DE 2003 A

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "AVALIAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE DESASTRES HIDROMETEOROLÓGICOS NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL NO PERÍODO DE 2003 A"

Copied!
148
0
0

Texto

(1)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGG MESTRADO EM GEOGRAFIA

AVALIAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE DESASTRES

HIDROMETEOROLÓGICOS NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL NO PERÍODO DE 2003 A 2017

KARINTHEA KARLA SILVA TEMOTEO

JOÃO PESSOA JULHO DE 2019

(2)

AVALIAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE DESASTRES HIDROMETEOROLÓGICOS NA REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL NO PERÍODO DE 2003 A 2017

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba, como parte dos requisitos obrigatórios para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de concentração: Território, Trabalho e Ambiente.

Linha de pesquisa: Gestão do Território e Análise Geoambiental.

Orientador: Profº. Drº. Marcelo de Oliveira Moura.

Co- orientadora: Profª. Drª. Daisy Beserra Lucena

JOÃO PESSOA JULHO DE 2019

(3)
(4)
(5)

A toda a população da região Semiárida do Brasil. Em especial aqueles que vivem em áreas de risco.

(6)

Primeiramente a Deus, por guiar os meus caminhos com a sua infinita bondade e misericórdia, por ter me dado força, coragem, obstinação e por permitir que esse momento fosse vivido por mim, trazendo alegria aos meus pais e a todos que contribuíram, para a realização deste trabalho.

À CAPES, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de pesquisa. Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba, a todos os professores e a secretária Sônia Maria, que sempre esteve muito solicita para resolver os nossos problemas institucionais.

À toda a minha família, em especial a minha mãe, Maria de Fátima, por ter me dado força para que eu nunca desistisse dos meus objetivos e sonhos.

À SEIA, FUNCEME, AESA, APAC, IPA e EMPARN, pelo fornecimento de dados de precipitação. Ao INMET e ao BNDO, pelo fornecimento de dados meteorológicos e climáticos.

Ao Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Moura, o meu orientador, por todos os ensinamentos, pelas horas dedicadas e pela confiança.

À Profa. Dra. Daisy Beserra Lucena, pela valiosa ajuda na Co-orientação desta dissertação.

Aos professores participantes da banca examinadora, Dr. José Lidemberg e Dra. Camila Cunico por aceitarem gentilmente o convite e pelas valorosas contribuições e críticas visando o aperfeiçoamento do trabalho, desde a etapa do exame de qualificação. Aos companheiros e amigos do laboratório de Climatologia Geográfica — CLIMAGEO, a saber: Denilson Ferreira, Diego Allan, Gabriel Cavalcanti, Guilherme Barroca, José Carlos, Maressa Lopes, Michaell Douglas, Natiele Tenório, Sherly Gabriela, Tatiana Santos e Wanessa Eloy.

À melhor de todas as amigas, Tatiana Santos, pela ajuda na tabulação das informações dos relatórios de danos e na construção dos mapas temáticos (mesmo quando ela quis desistir faltando uma semana para entrega o trabalho), a você amiga apenas uma palavra: GRATIDÃO!

À Maressa Lopes, por ajudar-me a revisar o texto (antes de enviar para correção de ortográfica), agradeço por encontrar os erros que o cansaço não me permitia mais ver.

(7)

Aos colegas da turma de mestrado, pelas reflexões, críticas e sugestões recebidas.

Por fim, agradeço a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a construção desta dissertação, certamente nunca serão esquecidos.

(8)

―Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço em minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.‖

(9)

Historicamente, no Semiárido do Brasil predominou uma percepção coletiva que não havia desastres naturais associados aos fenômenos hidrometeorológicos. Este espaço geográfico foi palco de crises motivadas por eventos adversos, sobretudo aqueles deflagrados pelas anomalias positivas da precipitação, as quais ocasionaram inúmeros danos às vidas e a organização econômica e social. Posto isto, a presente pesquisa teve por objeto analisar a distribuição espaço-temporal dos desastres hidrometeorológicos e os danos humanos, materiais e ambientais na região Semiárida brasileira. No que tange aos procedimentos metodológicos, fez-se o levantamento bibliográfico sobre a temática, seguido da coleta e da tabulação das portarias de reconhecimento de desastres, dos formulários de danos, cujos dados foram coletados no site do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres — S2ID, mantido pelo Ministério da Integração Nacional, além da coleta e da tabulação das precipitações diárias que ocasionaram os desastres, cujos dados foram disponibilizados pela SEIA, FUNCEME, AESA, APAC, IPA e EMPARN. Quanto aos valores diários de precipitação, elencou-se para detalhamento apenas os municípios do Semiárido onde houve a ocorrência de desastres de Estado de Calamidade Pública. Com relação aos resultados destaca-se detalhamento espacial dos desastres deflagrados pelas chuvas e oficialmente reconhecidos entre os anos de 2003 a 2017. Foram registrados um total de 1.196 desastres hidrometeorológicos, com desastres do tipo inundações, enxurradas, alagamentos, enchentes e chuvas intensas, sendo 1.149 desastres de Situação de Emergência — SE e 47 desastres de Estado de Calamidade Pública — ECP. Quanto aos danos humanos, os desastres hidrometeorológicos afetaram 396.093 pessoas, deixando 245.971 pessoas desalojadas, 119.546 desabrigadas e 130 óbitos, desacatando-se os estados do Pernambuco e Ceará com 37 e 35 óbitos respectivamente. As unidades habitacionais foram as edificações mais afetadas pelos desastres, destacando-se o estado do Ceará, com 30.047 unidades afetadas. Com relação aos danos ambientais, a maior ocorrência de áreas afetadas foi sobre a erosão do solo, com 30,51% dos registros, tendo o estado do Ceará o maior número de registros (78 registros). Os prejuízos econômicos foram estimados em R$ 446.993.875,25 na região Semiárida do Brasil, tendo o estado o Ceará registrado o maior valor, com R$ 197.608.817,50. As ocorrências de ECP foram registradas nos anos de 2004 (43 decretos), 2010 (dois decretos), 2011 e 2013, estes com apenas uma ocorrência; quanto à frequência, os estados que mais registraram desastres por ECP foram os estados do Rio grande do Norte e Paraíba com 13 ocorrências cada, seguido do estado do Ceará com 11 ocorrências. Os eventos de chuva que ocasionaram os desastres no Semiárido brasileiro tiveram predominância de ocorrência no período chuvoso do verão e o evento de maior excepcionalidade de precipitação ocorreu no dia 18.06.2010, com um total de 184,0 mm e foi gerado por um Complexo Convectivo de Mesoescala. Perante isso, destaca-se a importância deste estudo pela possibilidade de gerar subsídios aos gestores, no que tange a compreensão dos desastres hidrometeorológicos e assim contribuir para uma melhor organização espacial na região Semiárida.

Palavras-chave: Desastres Naturais, Situação de Emergência, Estado de Calamidade

(10)

Historically, in the semi-arid region of Brazil a collective perception prevailed that hasn‘t natural disasters associated with hydrometeorological phenomenal. This geographic space was the scene of crises caused by adverse events, especially those triggered by the positive precipitation anomalies, which caused numerous damages to lives and the economic organization and social. Therefore, the present research aimed to analyze the spatial-temporal distribution of hydrometeorological disasters and human, material and environmental damages in the Brazilian semi-arid region. Regarding the methodological procedures, a bibliographic survey was carried out on the subject, followed by the collection and tabulation of the disaster recognition ordinances, of the damage forms, whose data were collected on the website of the Integrated Disaster Information System - S2ID , maintained by the Ministry of National Integration, in addition to the collection and tabulation of the daily precipitations that caused the disasters, these data were made available by SEIA, FUNCEME, AESA, APAC, IPA and EMPARN. As for the daily values of precipitation, listed for deteil only the city of the semi-arid region where there was the occurrence of Disasters of Public Calamity. Regarding the results, it is worth highlighting the spatial details of the disasters caused by the rains and officially recognized between the years 2003 and 2017. A total of 1,196 hydrometeorological disasters were recorded, with disasters such as inundation, floods, overflow, spete and heavy rains, being 1,149 Disasters of Emergency Situation - ES and 47 Disasters of State of Public Calamity - SPC. Regarding human damages, the hydrometeorological disasters affected 396,093 people, leaving 245,971 people dislodge, 119,546 homeless and 130 deaths, defying the states of Pernambuco and Ceará with 37 and 35 deaths respectively. The housing units were the buildings most affected by disasters, standing out the state of Ceará, with 30,047 units affected. With regard to environmental damage, the highest occurrence of affected areas was on soil erosion, with 30.51% of the records, with Ceará state having the highest number of records (78 records). The economic losses were estimated at R$ 446,993,875.25 in the semi-arid region of Brazil, and Ceará state recorded the highest value, with R$ 197,608,817.50. The occurrences of ECP were recorded in the years 2004 (43 decrees), 2010 (two decrees), 2011 and 2013, with only one occurrence. In terms of frequency, the states Rio Grande do Norte and Paraíba with 13 occurrences each, followed by the state of Ceará with 11 occurrences. The rain events that caused the disasters in the Brazilian semi-arid region were predominantly occurring in the rainy season of the summer and the event of the highest rainfall exception occurred on June 18, 2010, with a total of 184.0 mm and was generated by a Complex Convective of Mesoscale. Before this, the importance of this study is highlighted by the possibility of generating subsidies for managers, regarding the understanding of hydrometeorological disasters and thus contribute to a better spatial organization in the semi-arid region.

Keywords: Natural Disasters, Emergency Situation, Public Calamity, Brazilian

(11)

Quadro 2. Número total de municípios por estado e número de municípios pertencentes às delimitações da região Semiárida do ano de 2005 a 2017...42 Quadro 3. Informações dos grupos que compõe o AVADAN e FIDE...47 Quadro 4. Ranking por municípios dos óbitos ocasionados pelos desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...70 Quadro 5. Danos humanos deflagrados por desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil por estados, 2003 a 2017...72 Quadro 6. Municípios com relatórios de danos na região Semiárida do Brasil, de 2003 a 2017...82 Quadro 7. Precipitações diárias dos meses de janeiro e fevereiro de 2004, para os municípios do Ceará que decretaram desastre hidrometeorológico por ECP...91 Quadro 8. Precipitação diária dos meses de janeiro e fevereiro de 2004, para os municípios da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte que decretaram desastre hidrometeorológico por ECP...96

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Delimitação do Semiárido brasileiro, julho de 2017...19 Figura 2. Polígono das Secas (versão original e final) e Região Semiárida do FNE...38 Figura 3. Fluxograma dos procedimentos metodológicos...45 Figura 4. Frequência absoluta anual dos desastres naturais na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...52 Figura 5. Percentual de ocorrências dos desastres hidrometeorológicos por intensidade na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...54 Figura 6. Número de ocorrências anuais dos desastres hidrometeorologicos por intensidade na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...55 Figura 7. Prancha do número de ocorrências anuais dos desastres hidrometeorológicos por tipo na região Semiárida do Brasil, de 2003 a 2017...56 Figura 8. Mapa da distribuição dos desastres hidrometeorológicos por ECP na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...60 Figura 9. Mapa da distribuição dos desastres hidrometeorológicos do tipo Enxurradas por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...62 Figura 10. Mapa da distribuição dos desastres hidrometeorológicos do tipo Enchentes e Chuvas Intensas por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...64 Figura 11. Mapa da distribuição dos desastres hidrometeorológicos do tipo Inundações e Alagamentos por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...66 Figura 12. Frequência dos formulários de danos por SE dos estados do Semiárido do Brasil, 2003 a 2017...76 Figura 13. Precipitação diária dos meses de janeiro e fevereiro de 2004 em Santana de Mangueira-PB...94 Figura 14. Precipitação diária do mês de março de 2004 em São José do Sabugi, na Paraíba...100 Figura 15. Precipitação diária do mês de junho de 2010 em Correntes no Pernambuco...100 Figura 16. Precipitação diária do mês de dezembro de 2013 em Lajedinho, na Bahia...101 Figura 17. Imagem de uma rua destruída pela enxurrada no município de Lajedinho – Bahia em 07.12.2004...102

(12)

Bahia em 07.12.2004...103 Figura 20. Imagem de ruas inundadas no município de Lajedinho – Bahia em 07.12.2004...104

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de recomenhimentos e formulários de desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...53 Tabela 2. Ranking das ocorrências de desastres hidrometeorológicos por estados federativos municípios na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...57 Tabela 3. Áreas afetadas por desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...67 Tabela 4. Danos humanos deflagrados por desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...68 Tabela 5. Ranking por estados dos óbitos ocasionados pelos desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...69 Tabela 6. Danos materiais deflagrados por desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017 ...73

Tabela 7. Danos ambientais deflagrados por desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...74 Tabela 8. Prejuíjos econômicos em decorrência dos desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...75 Tabela 9. Áreas afetadas deflagradas por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...77 Tabela 10. Danos humanos deflagrados por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...78 Tabela 11. Danos materiais deflagrados por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...79 Tabela 12. Danos ambientais (AVADAN) deflagrados por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...79 Tabela 13. Danos ambientais (FIDE) deflagrados por SE na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...80 Tabela 14. Estimativa de danos causados pelo desastre por ECP em Quebrambulo – Alagoas em 25.06.2010...81 Tabela 15. Áreas afetadas por desastres de ECP na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...83 Tabela 16. Danos humanos deflagrados pelos desastres de ECP na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...84 Tabela 17. Danos materiais deflagrados pelos desastres de ECP na região Semiárida do Brasil, 2003 a 2017...85 Tabela 18. Danos ambientais deflagrados pelos desastres de ECP no Semiárido do Brasil, 2003 a 2017...86 Tabela 19. Eventos deflagradores dos desastres por ECP no Semiárido do Brasil, 2003 a 2017...87 Tabela 20. Frequência mensal das classes de eventos de precipitação diária dos eventos deflagradores dos desastres por ECP no Semiárido do Brasil, 2003 a 2017...88

(13)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AB – Alta da Bolívia

AESA – Agência Executiva de Gestão das águas do Estado da Paraíba AL – Alagoas

ANA – Agência Nacional de Águas

APAC- Agência Pernambucana de águas e Clima AVADAN – Relatório de Avaliação de Danos BA – Bahia

BDMET – Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa BNB – Banco do Nordeste do Brasil

BNDO – Banco Nacional de Dados Oceonográficos CCM – Complexos Convectivos de Mesoescala CE – Ceará

CEMADEN – Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais COBRADE – Classificação e Codificação Brasileira de Desastres Naturais CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

CONDEL – Conselho Deliberativo

CRED – Centro de Pesquisa em Epidemologia de Desastres CV – Cavado

DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DOL – Distúrbios Ondulatórios de Leste

DOU – Diário Oficial da União ECP – Estado de Calamidade Pública

EMPARN – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte EMS – Estação Meteorológica de Superfície

FCO - Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste FIDE – Formulário de Informação sobre Desastre

FNE – Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste FNO - Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorológica e Recursos Hidricos GT – Grupo de Trabalho

GTI – Grupo de Trabalho Interministerial HMG – Meridiano de Greenwinht

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INMET – Instituto Nacional de Meteorológia INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INSA – Instituto Nacional do Semiárido

IPA – Instituto Agronômico de Pernambuco

LAPIS – Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites LI – Linhas de Instabilidade

MG – Minas Gerais

(14)

OMM - Organização Mundial de Meteorológia ONU – Organização das Naçoes Unidas PB – Paraíba

PE – Pernambuco PI – Piauí

RN – Rio Grande do Norte

S2ID – Sistema Integrado de Informações sobre Desastres Se – Sergipe

SE – Situação de Emergência

SEDEC – Secretaria Nacional de Defesa Civil

SEIA – Sistema Integrado de Informações Ambientais e de Recursos Hídricos SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

TSM – Temperatura da Superfície do Mar VCAN – Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis VCAS – Vórtices Ciclônicos de Ar Superior ZCIT – Zona de Convergência Intertropical

(15)

2.1 Região geográfica ... 20

3. A REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL ... 30

3.1 Síntese da Dinâmica Climática do Nordeste Brasileiro ... 32

3.2 Marco Legal: Delimitações da região Semiárida do brasileira ... 37

4.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 43

4.1 Fase I – Revisão de literatura ... 43

4.2 Fase II – Aquisição dos dados ... 43

4.2.1 Etapa 1 – Aquisição das portarias de reconhecimento de Situação de Emergência (SE) e Estado de Calamidade Pública (ECP) ... 44

4.2.2 Etapa 2 – Aquisição dos Formulários de Avaliação de Danos - AVADAN e Formulários de Informações de Desastre – FIDE ... 47

4.2.3 Etapa 3 – Dados Pluviométricos ... 48

4.2.4 Etapa 4 – Cartas Sinóticas, Imagens de Satélite Meteorológico e Boletins Climanálise ... 50

4.3 Fase III – Tratamento e análise dos dados ... 50

4.3.1 Etapa 5: Dos dados: Portarias, Formulários e informações pluviométricas ... 50

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 52

5.1 Distribuição espaço-temporal dos desastres hidrometeorológicos, 2003 a 2017 ... 52

5.1.2 Ocorrências de desastres hidrometeorológicos por intensidade e por tipo, 2003 a 2017 ... 54

5.2 Avaliação dos Danos e Prejuízos ... 67

5.2.1 Análise dos danos e prejuízos dos desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil ... 67

5.2.2 Análise dos danos e prejuízos dos desastres por SE ... 76

5.2.3 Análise dos danos e prejuízos dos desastres por ECP ... 81

5.2.4 Eventos de chuva deflagradores dos desastres hidrometeorológicos por ECP ... 86

5.2.5 Análise dos eventos de chuva - Ano 2004 ... 90

5.2.6 Análise do evento de chuva - Ano 2010 ... 100

5.2.7 Análise do evento de chuva - Ano 2013 ... 101

6. CONCLUSÃO ... 105

REFERÊNCIAS ... 108

(16)

1. INTRODUÇÃO

A crise econômica que se desenvolveu no Brasil, principalmente a partir da década de 1970, foi um advento que colaborou na geração de problemas altamente negativos sobre o processo de desenvolvimento social e sobre a segurança das comunidades quanto à ocorrência de desastres naturais (BEDIN e NIELSOON, 2013). No Brasil, tem-se registrado um número cada vez maior de desastres, especialmente na região Nordeste, assolada pelas sucessivas estiagens/secas1 e inundações.

Os desastres naturais no Brasil vêm se tornando mais frequentes e de maior magnitude. Entre as décadas de 1990 e 2000, o registro de desastres naturais cresceu 368% no país (CEPED/UFSC, 2012).

Sobre a ocorrência dos desastres naturais no Brasil, Moura et al. (2016) revelam:

Entre 1991 e 2015, os desastres naturais de maior ocorrência foram de natureza climática e hidrológica, vinculados, de modo respectivo, aos subgrupos de estiagem/seca e inundações. As ocorrências de inundações (bruscas e graduais) correspondem a 25% dos desastres registrados no país (CEPED/UFSC, 2012; BRASIL, 2014; BRASIL, 2016). No Nordeste brasileiro, região de maior ocorrência de desastres naturais (40% das ocorrências) registra-se a mesma tendência do cenário nacional, isto é, maior ocorrência de desastres associados à estiagem/seca (78% das ocorrências na região) e à inundação (21% das ocorrências na região) (MOURA et al. 2016, p. 261).

A primeira referência relacionada às secas no Nordeste Brasileiro (NEB) região onde se insere a maior parte do Semiárido, é datada de 1583. Refere-se a uma viagem jesuíta realizada pelo sertão do Pernambuco (ALVES, 2013). A seca foi um dos fatores que impediram a consolidação do povoamento desta região. Alves (2013) baseado em diversos registros, afirma que houve muitos anos de seca entre 1603 e 1692.

Nas cidades do Semiárido brasileiro predomina um clima quente e seco, onde se registram mais desastres naturais do tipo estiagem/seca. Entretanto, as precipitações intensas e extremas são fenômenos igualmente frequentes nesta região e são responsáveis por deflagrar desastres naturais (OLÍMPIO, 2013; ROCHA, 2015, MOURA et al. 2017). No início do século XIX, houve registros de anos chuvosos para o estado do Ceará, sendo o ano de 1805 tão rigoroso que os danos foram comparáveis à seca de 1792 (OLÍMPIO, 2013).

1 ―O conceito de estiagem está diretamente vinculado à redução das precipitações pluviométricas, ao atraso dos períodos chuvosos

ou à ausência de chuvas previstas para uma determinada temporada, em que a perda de umidade do solo é superior a sua reposição... a seca, do ponto de vista meteorológico é uma estiagem prolongada, caracterizada por provocar uma redução sustentada das reservas hídricas existentes‖ (CASTRO, 2003).

(17)

A região do Semiárido brasileiro é conhecida por registrar mais desastres naturais do tipo estiagem e seca, entretanto os desastres hidrometeorológicos deflagrados pelas precipitações intensas e extremas são eventos igualmente intensos nesta região do Brasil. É importante refletir se os desastres hidrometeorológicos podem deflagrar danos tão rigorosos que possam ser comparáveis aos de estiagem e seca, tendo em vista que possuem periodicidade esporádica.

O objeto de estudo da presente pesquisa são os desastres hidrometeorológicos na região Semiárida do Brasil (Figura 1). Busca-se identificar, mensurar e categorizar os impactos gerados pelos desastres, visto que os mesmos são deflagrados por episódios de chuvas excepcionais, pois, de acordo com a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres Naturais – COBRADE (Anexo A), são considerados desastres naturais de

natureza meteorológica as chuvas intensas. As inundações, enxurradas e alagamentos

são desastres de ordem hidrológica.

Portanto, torna-se importante demonstrar o comportamento e a intensidade dos desastres naturais de ordem hidrometeorológica na região do Semiárido brasileiro, tendo em vista que as anomalias positivas da precipitação (eventos excepcionais de chuva) podem provocar desastres naturais com danos comparáveis com os desastres provocados pelas anomalias negativas (estiagem e secas).

Nestes termos, a pesquisa buscou analisar a distribuição espaço-temporal dos desastres hidrometeorológicos e os danos humanos, materiais e ambientais na região Semiárida do Brasil. Ademais, os objetivos especifícos foram:

 Classificar os desastres quanto ao tipo e a intensidade (Situação de Emergência -SE ou Estado de Calamidade Pública –ECP), por meio dos decretos e portarias de reconhecimento;

 Analisar os impactos gerados pelos desastres por meio dos Formulários de Informações de Desastre (AVADAN e FIDE);

Identificar os eventos excepcionais de chuvas deflagradores dos desastres. Quanto à estrutura do trabalho, elaboraram-se cinco capítulos, além da introdução. O segundo capítulo trata do embasamento teórico para os conceitos norteadores desta pesquisa, destacando as considerações sobre risco, vulnerabilidade, desastres naturais e desastres associados aos eventos excepcionais de chuvas.

O terceiro capítulo aborda toda a história da delimitação da região Semiárida do Brasil, desde o Polígono das Secas. No capítulo seguinte encontra-se exposto o método

(18)

da pesquisa e os procedimentos metodológicos realizados para alcançar os objetivos traçados.

No quinto capítulo, efetivou-se a análise da distribuição espacial e temporal dos desastres hidrometeorológicos nos municípios do Semiárido, destacando-se a tipologia, bem como os resultados quanto à avaliação dos danos e prejuízos decorrente dos desastres, além da análise dos eventos de chuvas deflagradores dos desastres hidrometeorológicos por Estado de Calamidade Pública. Por fim, são apresentadas as conclusões, seguidas das referências bibliográficas e anexos.

(19)

2. REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL

2.1 Região geográfica

O conceito de região está relacionado, num primeiro momento, ao senso comum, no qual a região é entendida a partir de seus critérios de localização, dando uma ideia de extensão de um elemento ou um conjunto de elementos, conforme aponta Haesbaert (2005):

Na realidade, o que marca a trajetória do conceito de ―região‖ é uma grande polissemia, a começar pela grande amplitude que a noção adquire no senso comum. Essa polissemia e/ou ambiguidade do termo região fica muito clara nas próprias definições reconhecidas por grandes dicionários, como o Oxford English Dictionary. Ali encontramos mais de sete grandes concepções de região, algumas delas ainda subdivididas. Este dicionário define genericamente região como ―direction, line, boundary, quarter, district, et.‖ [direção, linha, limite, quarteirão, distrito, etc.], proveniente do antigo verbo ―regere‖, ―to direct‖ (dirigir, no sentido de indicar a direção), que no inglês antigo estava associado também a ―to rule‖ – comandar, governar (HAESBAERT, 2005, p. 2).

Num segundo momento, o termo região tem conotação histórica, ou seja, temporal e espacial, pois a compreensão do termo sofre alterações ao longo do tempo, quer seja pela forma como a sociedade incorpora os discursos políticos, técnicos e científicos, quer seja porque novas formas de abordagens são desenvolvidas ou incorporadas com a evolução do conhecimento científico, uma vez que a produção da vida se assemelha a uma totalidade aberta e em processo constante de retotalização, o que faz com que as bases e os processos históricos da vida sejam alterados. Como afirma Marcon (2012):

O campo de discussão do conhecimento científico reconhece as tensões e as linhas de pensamentos concorrentes, interpretando o movimento da bifurcação, da ruptura, da convergência, dos nós e das descontinuidades presentes nesse movimento [...]. Isso demonstra que a ciência traduz-se na história das relações sociais, pelo confronto entre a hegemonia de um paradigma sobre o outro, envolvendo os consensos/dissensos e as rupturas por uma atualidade sempre renovada (MARCON, 2012, p. 30-31).

Já o terceiro movimento aponta para o entendimento do tempo presente como campo de realização e efetivação da região, pois tem a ver com as práticas sociais que mudam o sentido da região e a maneira como os elementos de regionalização são

(20)

capturados e envolvidos no processo de reprodução das relações sociais. De acordo com Marcon (2012):

(...) buscamos um fio condutor não reducionista e não linear para explicar o processo de construção da região, fundado na diversidade territorial, que se manifesta sob uma óptica multidimensional e multiescalar, pois encerra complexas questões relativas ao poder como elemento determinante na estruturação do espaço. Essa forma espacial representa períodos articulados em rede de relações, experiências e entendimentos sociais, cujos limites não são contíguos, são porosos, instáveis, mudam conforme a estratégia de ação, os interesses e as possibilidades dos atores sociais. (MARCON, 2012, p. 30).

Esse movimento de apreensão do conceito de região se assemelha ao de território e daí emergem as relações de poder e as relações sociais como elementos fundamentais para dar sentido à região e ao processo de regionalização.

O ajuste da escala como um contraponto entre o local e o global assume um lugar fundamental para a localização mais coerente acerca da realização da região como fenômeno geográfico, fazendo com que a contiguidade espacial perca a centralidade no processo definidor da região. Assim, mecanismos mais flevíveis revelam a dimensão do conceito e sua materialidade (NOBREGA, 2015).

A aplicação do conceito de região tradicionalmente se dá por meio da ação ―regionalizadora‖, atribuindo critérios comuns que se identificam em decorrência das unidades de análise (NOBREGA, 2015), ou seja, região é considerada como uma abstração, um fruto de uma ação administrativa e burocrática.

Ainda conforme Nobrega (2015), na contemporaneidade, o entendimento de processos multiescalares tornou capaz de revelar que a região obedece a fenômenos muito mais complexos, o que permite ampliar os sentidos da regionalização, o que faz emergir o reconhecimento de regiões por meio da articulação do seu conteúdo e das redes, em uma perspectiva ampla.

A região é um conceito central na Geografia que, assim como qualquer outro conceito que se constrói ao longo do processo e evolução histórica de uma ciência, passa por um processo inicial de significações e ressignificações em busca da adaptação necessária aos novos tempos, às novas abordagens e ao movimento de transformação da vida.

Para Corrêa (1986, p. 32), a região é ―um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares‖.

(21)

Corrobora com essa ideia Fonseca (1999), que introduz a perspectiva de região como classe de área, pois as classes de áreas possuem similaridades na sua organização interna, capazes de revelar muito mais semelhanças que divergências. Essa abordagem de região faz com que a possibilidade analítica seja reduzida a um plano abstrato. Fonseca propõe (1999, p. 92): ―a região deixa de ser um objeto concreto de análise para se transformar numa criação intelectual, definida a partir de procedimentos classificatórios, originários das ciências naturais‖. Portanto, conforme Nobrega (2015), ―com a transformação da região em um elemento abstrato e intelectual, os métodos de leitura regional se limitam a técnicas estatísticas descritivas‖.

Como bem demarca Marcon (2012), depois de a região ser concebida como um elemento abstrato, surgem os mais diversos elementos para estudar regiões a partir de critérios lógicos e locacionais, tendo o Estado como principal apoiador desta forma de conceber a região e o espaço geográfico. Estes novos parâmetros e padrões de leitura regional fazem surgir, entre outras, as regiões homogêneas (FONSECA, 2015).

De acordo com Fonseca (2015), ―a região homogênea consiste na conexão de um conjunto de áreas que assumem características homogêneas, determinadas necessariamente por meios estatísticos.‖ Conforme Breitbach (1988, p. 38), ―a região homogênea é a mais simples e a mais conhecida dos geógrafos. Consiste num espaço contínuo onde cada uma das partes constituintes apresenta características tão semelhantes quanto possível‖.

Considerando o exposto, será adotada nesta pesquisa a categoria de análise geográfica região homogênea, mesmo que se considere que a mesma não é suficiente para explicar todas as particularidades do Semiárido brasileiro. Trata-se do conceito de região que mais se aproxima da definição oficial de Semiárido estabelecida pelo Ministério da Integração Nacional por meio da Lei Federal n° 7.827, de 27 de dezembro de 1989.

2.2 Conceitos que norteiam os Desastres Naturais

Quanto a sistematização dos conhecimentos sobre risco, Kervern (1995) situou seus estudos em uma ciência, de caráter interdiciplicar e sistêmico, a Cindínica (do grego Kyndinos), a qual se dedica ao estudo dos riscos em suas amplas dimensões. O termo risco remete a um fenômeno perigoso, quer seja natural, tecnológico, econômico, político ou de outro tipo.

(22)

O risco sempre será humano, pois a noção de risco apenas existe se alguém pode perder alguma coisa (CASTRO; PEIXOTO; DO RIO, 2005).

O risco é tratado pelas ciências como uma situação em que haja a probabilidade de que um evento nocivo afete uma determinada sociedade, gerando perdas materiais e imateriais. Os riscos acontecem simultâneos a um episódio de vulnerabilidade de indivíduos ou de grupos sociais.

Cardona (2004) considera o risco como um produto criado pela mente humana a partir de uma percepção coletiva e/ou individual ao expressar que:

[...] risco é um complexo, e, ao mesmo tempo, um conceito curioso. Ele representa algo irreal em relação à mudança aleatória e a possibilidade, com algo que ainda não aconteceu. É imaginário, difícil de entender e nunca pode existir no presente, apenas no futuro. Se houver certeza, não há risco. O risco é algo em mente, intimamente relacionado com a psicologia pessoal ou coletiva (CARDONA, 2004, p. 47, tradução Olímpio, 2017).

Corrobora com esta argumentação Olímpio (2017), ao afirmar que ―o risco não existe enquanto um objeto material, mas é apenas uma noção abstrata de ser vulnerável a um determinado perigo que pode ou não ocorrer no futuro, e nunca no presente‖. Portanto, o risco está associado a um acontecimento que pode ou não se materializar, mas que, caso ocorra, pode produzir danos sobre indivíduos, bens e espaços que possuem algum valor.

Para Tominaga (2009), o conceito de risco é definido como sendo ―a possibilidade de se ter consequências prejudiciais ou danosas em função de perigos naturais ou induzidos pelo homem‖. Para Souza e Zanella (2009), risco ―refere-se a uma situação de ameaça ambiental [risco ambiental], atuando sobre uma população reconhecidamente vulnerável. Corrobora com essa ideia Monteiro (2011), pois para o autor o risco ―está relacionado a probabilidade de determinadas populações serem negativamente afetadas por um fenômeno geográfico.

Assim, compreendemos que o risco apenas existirá quando houver alguém ou alguma coisa que possa ser afateda por um evento potencialmente indutor de uma crise.

No que se refere a analise de perigo natural, o termo álea natural foi utilizado na língua francofônica para representar um perigo aos eventos naturais. Já as anglo-saxônicas empregaram natural hazard e na língua espanhola foi utilizado o termo

peligros naturales (DAGNINO; CAPRI JR., 2007; MARANDOLA JR. HOGAN,

(23)

Conforme Tominaga (2009), um perigo corresponde a um fenômeno, evento ou atividade humana potencialmente danosa, a qual pode causar perdas de vidas, ferimentos, avarias às propriedades, rupturas sociais, econômicas e políticas ou mesmo a degradação ambiental.

Os perigos naturais referem-se a uma situação onde os eventos naturais danosos ocorrem em regiões e períodos mais ou menos definidos, podendo causar danos e prejuízos (ANEAS DE CASTRO, 2000). Desta forma, o risco remete ao fator probabilístico, enquanto o hazard é o evento danoso que coloca em perigo, devido à possibilidade da ocorrência de danos em um determinado local e período (SMITH, 1992

apud MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004).

Conforme afirma Kobiyama et al, (2006), os peligros naturales têm sua origem nos processos naturais. Em determinadas situações a ação consciente ou não da sociedade na produção do espaço pode interferir na dinâmica natural, podendo acelerar os processos e conferir uma maior intensidade a estes eventos.

Monteiro (1991) afirma que a existência de um natural hazard parte da iniciativa humana da adoção ou não de formas de ajustamentos à dinâmica ambiental. Portanto, como destaca Olímpio (2013), nem todo evento natural intenso é perigoso, apenas aqueles que poderão atuar sobre indivíduos e bens vulneráveis.

Para Rodrigues (2006) a vulnerabilidade e os riscos associados estão relacionados à exclusão de parcela da população ao padrão de vida atual, formado pelas diferentes formas de apropriação, produção e reprodução do espaço. Para Kaztman e Filgueira (1999), a vulnerabilidade se refere à capacidade de controlar as forças que afetam a natureza, e sua intensidade depende da posse ou controle de ativos, ou seja, dos recursos requeridos para o aproveitamento das aportunidades fornecidas pelo meio.

Souza e Zanella (2009) analisaram a relação entre vulnerabilidade social e perigo natural e argumentaram que a primeira é o reflexo das condições objetivas e subjetivas que originam ou aumentam a predisposição dos grupos sociais a serem afetados negativamente pelo segundo.

Conforme Almeida (2010) a vulnerabilidade humana ou social:

avalia os retornos de experiência sobre as capacidades de resposta, adaptações, comportamentos e suas consequências socioeconômicas e territoriais. Acrescenta-se ainda a percepção das ameaças ou da memória do risco, o conhecimento dos meios de proteção, os tipos de comportamentos potenciais (ALMEIDA, 2010, p. 110).

(24)

Vulnerabilidade ambiental, para o mesmo autor, diz respeito aos componentes ambientais – vegetação, solos, recursos hídricos, fauna e aspectos culturais provocados por fenômenos naturais.

Mendonça (2001, 2002, 2004, 2010) incorporou a fragilidade dos espaços naturais à vulnerabilidade social, congregando-as sob a definição de vulnerabilidade socioambiental.

Para Zanella et al. (2009, p. 197) o conceito de vulnerabilidade socioambiental

incorpora a vulnerabilidade dos espaços naturais com a vulnerabilidade social, entendendo-a como a situação em que espaços naturais frágeis são ocupados por populações que não tem meios próprios ou auxílio externo efetivo para resistir e superar as adversidades dos ambientes dos quais se apropriaram, de modo que as mesmas coexistem com os riscos.

A respeito dos fatores que constroem a vulnerabilidade dos grupos sociais, Olímpio (2013) afirma que:

Vários são os fatores que constroem a vulnerabilidade dos indivíduos e dos grupos sociais, tais como o nível de renda, a escolaridade, a idade, o gênero, o acesso à informação e aos serviços públicos básicos, a habitação, a participação política, a classe social, o status, a ocupação de ambientes frágeis, adensamento populacional, entre outros, que vão aumentar a predisposição à ocorrência de danos de diversas ordens, inclusive a própria morte (OLÍMPIO, 2013, p. 39).

O conceito de vulnerabilidade torna-se, portanto, central na discussão a respeito dos desastres naturais, porque corrobora a evidência da degradação socioambiental.

Conforme afirmou Olímpio (2013), se o risco está relacionado a uma situação de probabilidade de ocorrência, o desastre corresponde à materialização do risco, que é dada por uma série de impactos que evidenciam a magnitude de um perigo e a sua relação com a vulnerabilidade socioambiental presente. A Organização das Nações Unidas - ONU conceituou desastre como uma séria pertubação na funcionalidade de uma comunidade/sociedade, causando generalizadas perdas humanas, materiais, econômicas e ambientais, as quais excedem a capacidade de lidar da entidade afetada (UN/ISDR, 2004).

No Brasil, o Glossário de Defesa Civil, Estudos de Riscos e Medicina de Desastres define desastre como sendo o ―resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos,

(25)

materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais‖ (CASTRO, MOURA, CALHEIROS, 2004, p. 190).

Seguindo esta perspectiva, a Instrução Normativa n° 02 de 20.12.2016, do Ministério da Integração Nacional, definiu desastre como o resultado de eventos adversos, naturais, tecnológicos ou de origem antrópica, sobre um cenário vulnerável exposto a ameaça, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. (BRASIL, 2016, p. 01).

Quanto à origem, os desastres são classificados em três categorias: naturais, tecnológicos e antrópicos (BRASIL, 2016). Os desastres naturais têm a particularidade de relacionar-se com a superfície terrestre, seja ela em estado original ou alterada pelo uso. Portanto, as características do espaço natural podem intensificar ou não a ocorrência e a magnitude de um evento potencialmente danoso.

No tocante às origens dos desastres naturais, estes podem ser de natureza geológica, hidrológica, meteorológica, climática e biológica, conforme a COBRADE, vigente na Instrução Normativa n° 02 de 20 de dezembro de 2016 do Ministério da Integração Nacional (BRASIL, 2016).

De acordo com o Centro de Pesquisa em Epidemologia de Desastres (CRED, na sigla em inglês), os desastre naturais devem preencher ao menos uma de quatro condições: provocar a morte de no mínimo 10 pessoas; afetar 100 ou mais indivíduos; motivar a declaração de estado de emergência ou ser a razão para um pedido de ajuda internacional.

De acordo com a COBRADE são considerados desastres de natureza

meteorológica as chuvas intensas. As inundações, enxurradas e alagamentos deflagrados

por chuvas intensas/extremas são considerados como eventos de ordem hidrológica. Nessa pesquisa, denominamos os eventos meteorológicos e hidrológicos como desastres hidrometeorológicos, visto que os mesmos são deflagrados por episódios de chuvas excepcionais.

As inundações bruscas (enxurradas) são aquelas provocadas por chuvas intensas e concentradas em locais de relevo acidentado ou mesmo em áreas planas, caracterizando-se por rápidas e violentas elevações dos níveis das águas, as quais escoam de forma rápida e intensa. Nessas condições, ocorre um desequilíbrio entre o leito do rio e o volume caudal, provocando transbordamento (CASTRO, 2003).

(26)

De acordo com a Defesa Civil, inundação (gradual) é o transbordamento de água por drenagem deficiente, em águas não habitualmente submersas. As inundações graduais são, portanto, os eventos de maior duração e picos menores de vazão.

Os alagamentos caracterizam-se pelas águas acumuladas no leito das ruas e nos perímetros urbanos decorrentes de fortes precipitações pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes, podendo ter ou não relação com processos de natureza fluvial (CEPED/UFSC, 2012). Conforme Castro (2003) é comum a combinação dos fenômenos de inundação brusca (enxurrada) e alagamento em áreas urbanas acidentadas.

De acordo com o Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - Intergovernmental Panel On Climat Change - IPCC (2014), os riscos relacionados aos eventos climáticos extremos, tais como ondas de calor, precipitação extrema e inundações costeiras, são de moderados a altos, com um alto índice de confiança na incerteza das previsões.

Eventos extremos sempre ocorreram, e a ocupação histórica de áreas de risco, aliada à falta de um sistema de alerta e de treinamento das populações para lidar com essas situações, oferece um ambiente propenso a tragédias (Projeto Megacidades, Vulnerabilidades e Mudanças Climáticas, 2011). O que era um processo de origem natural, como as inundações, se transforma num desastre hidrometeorológico por consequência das alterações no meio físico da ação do homem.

A intensificação da frequência dos desastres no mundo tem início na década de 1950, agravando-se nas décadas de 1980 e 2000. Estas observações indicam não só a elevação da frequência dos desastres, mas também a intensificação dos eventos extremos e suas consequências para a sociedade (CARMO e ANAZAWA, 2014).

De acordo com Nunes (2015) o palco maior das calamidades naturais tem sido o espaço urbano, que cresce em área ocupada pelas cidades e número de habitantes. Dos 138 milhões de vítimas não fatais atingidas por 863 desastres naturais registrados nas últimas cinco décadas na América Latina, 88% são referentes a fenômenos climáticos ou meteorológicos. As enchentes são responsáveis por 38% dessas ocorrências, correspondendo a 52,5 milhões de habitantes, sendo o Brasil responsável por um terço dos atingidos por inundações, causando danos, em geral, a habitantes das grandes cidades do Sul e Sudeste (NUNES, 2015).

No Brasil, mais de 80% dos desastres naturais são desencadeados por fenômenos meteorológicos e os impactos sociais são em função, não somente dos eventos de

(27)

origem atmosférica, mas também da ação humana (PIELKE e CARBONE, 2002), o que tem exigido permanente atenção dos órgãos de Defesa Civil nos últimos anos.

Desde sua criação, a defesa civil brasileira tem atuado em muitos desastres, mas a inundações, secas e estiagens são os desastres que mais desafiam os gestores e a sociedade. De acordo com o Art. 21, inciso XVIII, da Constituição Federal de 1988, deve-se ―planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especificamente as secas e as inundações‖ (BRASIL, 1988).

De acordo com Cunha (2007), o quantitativo de inundações no Brasil, considerando o total de ocorrências de desastres naturais, não é muito diferente de outros países, pois cerca de 98% dos desastres naturais no país tem origem climática ou meteorológica e afetam dezenas de milhares de pessoas. A Defesa Civil (SEDEC, 2004) afirma que:

A adaptação das ações da Defesa Civil se tornam prementes, pois o papel da Defesa Civil se faz fundamental no enfrentamento e minimização dos desastres naturais agravados pelas Mudanças Climáticas, quer queira atráves de sistemas de alertas preventivos de fenômenos meteorológicos extremos ou atráves de sistemas da captação dos agentes de Defesa Civil sobre os riscos dos desastres naturais frentes a estas mudanças. Outro desafio que o Sitema Nacional de Defesa Civil tem pela frente é de conscientizar seus integrantes e a população em geral quanto à mudança de comportamento no uso e preservação dos recursos naturais, contribuindo com isso para minimizar os efeitos da mudança climática. (SEDEC, 2004. p, 24).

Ainda é muito insiginificante a intervenção preventiva de inundações no Brasil, tanto de medidas estruturais quanto não-estruturais. Muitas cidades reproduzem anualmente o mesmo cenário causado pelas inundações, algumas vezes até com danos mais graves, pois a população vulnerável aumenta com a invasão do leito do rio ou por obras de drenagem subdimensionais e/ou inadequadas (CUNHA, 2007).

Conforme Nunes (2015), no Brasil, 10.225 pessoas morreram ao longo das últimas cinco décadas em razão de desastres naturais, a maioria em inundações e deslizamentos de encostas durante tempestades.

A qualidade das informações sobre os desastres naturais melhorou muito nas últimas décadas, mas parece haver um aumento real no número de eventos ocorridos e grande parte da escalada de eventos trágicos se deve ao número crescente de fenômenos meteorológicos e climáticos de grande intensidade que atingiram a América do Sul (NUNES, 2015).

Carlos Eduardo Young, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em estudo realizado em 2013 do Atlas brasileiro de desastres naturais, calculou que enxurradas,

(28)

inundações e movimentos de massa ocorridos entre 2002 e 2012 provocaram prejuízos econômicos de pelo menos R$ 180 bilhões para o país. Em geral, os estados do Nordeste brasileito sofreram as maiores perdas econômicas em relação ao tamanho do seu PIB. A vulnerabilidade a desastres pode ser inversamente proporcional ao grau de desenvolvimento econômico dos estados (BRASIL, 2013).

Cientes da importância de estudar fenômenos meteorológicos como precursores de desastres naturais, autores iniciaram esta investigação pelo Brasil. No NEB, os desastres hidrológico deflagrados por eventos diários de chuvas intensas e extremas já foram registrados em cidades litorâneas, como Fortaleza (ZANELLA; SALES; ABREU, 2009; OLÍMPIO et al., 2013). Já existem algumas pesquisas que apresentam a temática dos desastres naturais e da dinâmica climática na região do Semiárido e do Nordeste brasileiro.

Souza (1998) analisou a variabilidade dos índices anuais de pluviosidade no Semiárido, explicando o aumento da pluviosidade nos anos de 1985, 1993 e 1995, através da presença de determinados sistemas atmosféricos. Olímpio (2013) analisou os desastres naturais que estão associados à dinâmica climática no estado do Ceará, tratando da gestão dos risco das secas e das inundações, constatando que a variabilidade da pluviosidade da região Semiárida é a principal fonte de eventos naturais adversos, ora promovendo a escassez hídrica, por meio dos fenômenos das secas e estiagens, ora ocorrendo desvios positivos geradores de episódios pluviais concentrados ou períodos chuvosos prolongados, que suscitam a desorganização do espaço geográfico, por meio das inundações.

Barbiere (2014) analisou os eventos de chuvas extremas que estão associados a sistemas atmosféricos em escala sinótica e local no Ceará. Temoteo (2016) tratou dos eventos de chuvas intensas e extremas na cidade de Campina Grande na Paraíba, constatando episódios pluviométricos extremos deflagradores de desastres naturais que causaram desorganização do espaço urbano e rural no município. Moura et al. (2017) constataram que em Patos na Paraíba, no ano de 2009, ocorreu um dos maiores eventos de chuvas extremas da região Semiárida, registrando 258,2 mm em 24 horas, sendo esse evento o responsável por deflagrar um desastre hidrológico nesta região do Semiárido paraibano.

(29)

3. A REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL

A região Nordeste, com 1,56 milhão de Km² (18,2% do território nacional), contém a maior parte do Semiárido brasileiro, que é formado por um conjunto de espaços que se caracterizam pelo balanço hídrico negativo, resultante das precipitações médias anuais inferiores a 800,0 mm e com temperaturas anuais de 23° a 27°C. O Semiárido brasileiro ocupa uma área de 968.589,4 Km² e inclui os estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, Piauí, Bahia e uma faixa que se estende no estado de Minas Gerais, seguindo o Rio São Francisco, juntamente com um enclave no vale seco da região média do rio Jequitinhonha (BRASIL, 2017).

A região Semiárida possui diversas áreas naturais que são compostas por topografias, solos e precipitações pluviométricas distintas. Isso afasta em definitivo o mito de paisagem homogênea e pouca riqueza biológica, ideias difundidas por séculos.

Quanto ao relevo, Andrade (2006, pág. 17), afirma que ―o relevo tem uma grande influência na organização do espaço, podendo se contrapor aos ventos e formar movimentos ascendentes de ar, de convecção, e chuvas orográficas e, quando formado por chapadas sedimentares podem provocar a acumulação de águas subterrâneas que vão dar origem a fontes‖.

O relevo do Semiárido é muito variável, o que contribui para o elevado número de paisagens. A altitude média fica entre 400 e 500 m, mas pode atingir 1.000 m. Ao redor de 37% da área é de encostas com 4 a 12% de inclinação, sendo que 20% de encostas têm inclinação maior do que 12%, o que determina presença marcante de processos erosivos nas áreas antropizadas (SILVA, 2000).

Conforme Perez et al. (2013), a região do Semiárido caracteriza-se por apresentar relevo plano a ondulado, com vales muito abertos, pela menor resistência à erosão. A maior parte da região está inserida na Depressão Sertaneja que constitui uma superfície de pediplanação (depressão periférica do São Francisco) na qual ocorrem cristas e outeiros residuais (JACOMINE, 1973 apud PEREZ et al., 2013).

A geologia do Semiárido, conforme Jacomine (1996), foi dividida em três áreas conforme a natureza do material originário, sendo elas: 1) áreas cristalinas, 2) áreas do cristalino recobertas por materiais mais o menos arenosos e 3) áreas sedimentares. A geologia e o material originário exercem papel de grande importância na formação dos solos em função da grande variação em litologias no Semiárido (PEREZ et al., 2013).

(30)

Ainda conforme Perez et al. (2013), a cobertura pedológica da região está intimamente relacionada com o clima, material de origem, vegetação e o relevo.

Os solos de maior ocorrência na região Semiárida, são: Latossolos (21% dos solos), Neossolos Litólicos (19,2%), Argissolos (14,7%), Luvissolos (13,3%), Noessolos Quartzarênicos (9,3%), Plannossolos (9,1%), Neossolos Regolíticos (4,4%) e Cambissolos (3,6%). Perfazendo 5,4% da região, podem também ser encontrados Vertissolos, Chernossolos, Noessolos Flúvicos, entre outros, em pequenas extensões (JACOMINE, 1996; CODEVASF, 1999).

Quanto à vegetação, a soma das diferentes coberturas vegetais existentes, quanto à diversidade florística, faz o Semiárido ser superior comparativamente a outras regiões semiáridas do mundo. Compilações de estudos florísticos na região Nordeste apontam para cerca de 5.000 espécies vegetais distribuídas em pelo menos 150 famílias botânicas. Essa heterogeneidade paisagística inicialmente enxergada por poucos, fez surgir ao longo do tempo propostas de classificação ou divisão espacial do Semiárido, baseado em fatores físicos e na cobertura vegetal (PEREZ et al., 2013).

Uma classificação oportuna é a de Duque Guimarães (2004), que ao caracterizar as regiões naturais do Nordeste brasileiro aponta para a existência de oito delas no Semiárido: Caatinga, Agreste, Carrasco, Seridó, Cariris-Velhos, Curimataú, Serras e Sertão.

Nessa região, o clima é caracterizado pela escassez e irregularidade das chuvas, com pluviosidade entre 300 a 800 mm/ano e precipitações restritas a poucos meses do ano. Porém, as altitudes podem variar de 1.000 a 2.000 m e as chuvas podem atingir 1.500 a 2.000 mm/ano. Essa variação na disponibilidade de água, juntamente com os contrastes físicos, levou ao aparecimento de diferentes tipos de vegetações, muitas vezes na forma de um mosaico (ROCHA, 2009).

Nesse contexto, a Caatinga é o ecossistema predominante na região, cuja flora é composta por árvores e arbustos caracterizados pela rusticidade, tolerância e adaptação às condições climáticas da região. A Caatinga é o único bioma exclusivamene brasileiro e está presente em todos os estados da região Semiárida brasileira (ALBUQUERQUE; BANDEIRA, 1995). A composição florística da Caatinga não é uniforme e varia de acordo com o volume das precipitações pluviométricas, da qualidade dos solos, da rede hidrográfica e da ação antrópica. (GIULIETTI et al., 2002, 2006).

(31)

3.1 Síntese da Dinâmica Climática do Nordeste Brasileiro

A localização do NEB, onde se insere a maior parte do Semiárido, faz com que ocorra a influência de vários sistemas meteorológicos, atuando de forma diferenciada em relação à frequência e intensidade, torna a climatologia da região complexa, uma vez que esta região parece ser o fim de trajetórias de alguns destes mecanismos. A atividade e intensidade desses sistemas são condicionados à circulação atmosférica que é determinada pela condição térmica dos oceanos (FIGUEIREDO, 2002).

Nimer (1979) comenta que o fato mais importante para a explicação do clima de um local é a atuação das massas de ar sobre este. Mendonça e Danni-Oliveira (2007) destacam a importância de se conhecer a influência dos centros e das massas de ar para o conhecimento do clima de um determinado local. Os autores destacam:

Para o conhecimento do clima de uma determinada área, faz-se necessário a identificação dos controles climáticos a que ela está submetida, pois um clima particular (escala local e/ou microclimática, dada via circulação terciária) é definido por aspectos de primeira grandeza (escala zonal, macroclimática, dada via de circulação primária) e de segunda grandeza (escala regional, mesoclimática, via circulação secundária) (MENDONÇA e DANNI-OLIVEIRA, 2007, p.83).

As massas de ar são definidas por Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p.99) como sendo ―uma unidade aerológica, ou seja, uma porção da atmosfera, de extensão considerável, com características térmicas e higrométricas homogêneas‖. Ao se deslocarem com as propriedades físicas adquiridas no local de sua origem, passam a influenciar e modificar as condições atmosféricas das regiões por onde passam, agindo diretamente sobre as temperaturas e índices pluviométricos, ao mesmo tempo em que também são influenciadas.

Para o melhor entendimento da movimentação das massas de ar e tipologia climática no Semiárido brasileiro, selecionamos a classificação de Stralher, visto que esta classificação baseia-se nas áreas da superfície terrestre, controladas ou dominadas pelas massas de ar, centros de ações e processos frontológicos e das características das precipitações.

A classificação climática proposta por Stralher, em 1969, é uma classificação genética, dividindo o clima do Planeta em três tipos principais, sendo:

 Grupo I (Clima de latitudes baixas);  Grupo II (Clima de latitudes médias);

(32)

 Grupo III (Clima de latitudes altas).

De acordo com a classificação de Stralher, o Semiárido brasileiro está inserido no Grupo I – Climas das baixas latitudes: climas controlados pelas células subtropicais de alta pressão e pela grande depressão equatorial que se encontra entre elas, quase que permanentemente dominados por massas de ar equatorial e tropicais, com subtipos:

 Tropical (verão úmido e inverso seco);

 Tropical semiárido (ação irrelugar das massas de ar);  Litorâneo úmido (exposto à massa tropical marítima).

Vale salientar que a movimentação das massas de ar é influenciada pela sazonalidade da radiação solar, que dependendo da estação, acaba por ampliar seu vigor, reduzindo o daquela e vice versa.

No caso do Semiárido brasileiro, o clima que predomina é o clima tropical úmido-seco ou tropical do Brasil central e o clima tropical equatorial, todos eles apresentando irregularidade e variabilidade na distribuição das chuvas ao longo do ano. É importante mencionar que o Semiárido, nesta classificação, apresenta dois tipos climáticos, sem mencionar a quantidade de subtipos, o que demonstra a complexidade climática presente na região.

A região Semiárida brasileira é a que apresenta os menores índices pluviométricos em relação as demais regiões do país. As chuvas concentram-se no verão e outuno e há pouca precipitação no inverno. Esses baixos totais pluviométricos são devidos, principalmente, à circulação Leste-Oeste. Essa circulação geralmente posiciona parte de seu ramo descendente sobre a região, ocasionando movimentos de subsistência e inibindo a formação de nuvens (MOLION, 1987; MOLION e BERNARDO, 2002).

Essa dinâmica é bastante complexa, sendo influenciada por diversos mecanismos controladores do tempo e do clima e em todas as escalas temporais e espaciais, pois além de alguns sistemas de menor escala, também é fortemente influenciada por sistemas de escala global que atuam diretamente no comportamento desses sistemas menores. Os mecanismos de formação desses sistemas sinóticos também são diversificados, alguns sendo impulsionados por gradientes de temperatura da superfície dos oceanos, outros por influência da atuação de sistemas frontais vindos de latitudes altas, como por mecanismos da circulação global como os ventos alísios que predominam na região Tropical (GALLEGO et al., 2005).

(33)

Neste contexto, ainda de acordo com Gallego et al., (2005), pode-se mencionar grandes células de alta pressão semiestacionárias, tanto no oceano Atlântico como sobre o continente. Sobre o continente destaca-se a Alta da Bolívia, que influencia o transporte de umidade sobre grande parte do continente. Quanto ao oceano, dependendo do seu posicionamento, transporta umidade para o continente, intensificando sistemas já em atuação ou em formação.

Segundo Uvo (1996), quatro mecanismos principais governam o regime de chuvas do NEB, a saber: Zona de Convergência Intertropical – ZCIT, sobre o Oceano Atlântico, Eventos El Niño-Oscilação Sul na bacia do Oceano Pacífico e Vórtices Ciclônicos de Ar Superior – VCAS, o Padrão Dipolo do Atlântico, Oscilação Decadal do Pacífico, e um mecanismo de escala planetária conhecido como Oscilação Madden Julian (30 – 60).

Além destes mecanismos, vale destacar a influência de outros fenômenos de menor escala, como os Distúrbios Ondulatórios de Leste – DOL, os Complexos Convectivos de Mesoescala – CCM, as Listas de Instabilidade – LI, as Brisas Marítimas e Terrestres e a Frontólise de Frentes Frias (UVO, 1996).

O Padrão Dipolo do Atlântico gera um gradiente térmico meridional e inter-hemisférico sobre o Atlântico Equatorial (WAGNER, 1996), que, por sua vez, exerce influência no deslocamento Norte-Sul da ZCIT (HASTENRATN; GREISCHAR, 1993), o qual constitui-se no principal sistema meteorológico controlador da precipitação na região Semiárida. Quando as águas superficiais do Atlântico Norte estão mais frias que as águas do Atlântico Sul, a pressão atmosférica torna-se maior na bacia Norte e provoca a intensificação dos ventos alísios de Nordeste e o enfraquecimento da componente meridional dos alísios de Sudeste.

Como consequência, a ZCIT se desloca em direção às latitudes Sul. Esse padrão é chamado de Dipolo Negativo do Atlântico, e é favorável à ocorrência de chuvas no setor Norte do NEB (SOUZA et al., 1997; 1998). Já no chamado Dipolo Positivo do Atlântico, ocorre o contrário. De acordo com Xavier e Xavier (1999), a maior pressão atmosférica sobre o Atlântico Sul decorre da menor temperatura relativa à superfície, impedindo que a ZCIT desça abaixo da linha do Equador pela intensificação dos alísios de Sudeste, o que influencia negativamente o volume de chuvas no Nordeste brasileiro.

A ZCIT migra de sua posição mais ao Norte sobre o Atlântico, cerca de 14°N em agosto-setembro, para a posição mais ao Sul, cerca de 5°S durante fevereiro-abril (ALVES, 2008), tornando-se o principal mecanismo responsável pelas chuvas que

(34)

ocorrem no Norte do Nordeste brasileiro, durante sua estação chuvosa, entre fevereiro e maio (HASTENRATH, 1991; ALVES, 2008).

No inverno, a ZCIT posiciona-se mais ao Norte e, devido à circulação de Hadley, promove movimentos de subsidência associados aos movimentos subsequentes da circulação Leste-Oeste, inibindo mais ainda a convecção, tornando, portanto, a estação mais seca (MOLION e BERNANDO, 2002). Em meados do verão e outono, a ZCIT está posiocionada mais ao Sul, enfraquecendo os centros de pressão e aumentando o transporte de umidade, favorecendo a convecção e geração de precipitação no NEB (MOLION e BERNANDO, 2002).

De acordo com Fedorova (2001), as estações chuvosas, frequentemente desastrosas nas regiões tropicais, estão associadas ao deslocamento da ZCIT. Segundo Nobre e Molion (1988) em anos de seca no NEB, a ZCIT fica bloqueada mais ao Norte de sua posição normal, ficando então debaixo de uma região de subsidência que inibe a precipitação. Em anos chuvosos, ao contrário, a ZCIT move-se até cerca de 5°S e torna-se intensa com o aumento da convergência. As chuvas e as torna-secas no NEB, portanto, coincidem com o posicionamento da ZCIT mais para o Sul, conforme afirma Lobo (1982) e Uvo et al. (1988).

Quanto aos VCAS, eles também favorecem as chuvas na região Nordeste brasileira, sendo observados principalmente nos meses de setembro a abril, com maior ocorrência em janeiro, provocando chuvas nas regiões Norte e Nordeste do NEB (GAN, 1982). Calbete e Satymurty (1996) sugerem que os VCAS são um dos principais sistemas meteorológicos que procovam alterações no tempo do Nordeste. Ocorrem principalmente entre os meses de novembro e março, se movem para Oeste com velocidade de 4° a 6° de longitude por dia e têm sua maior frequência no mês de janeiro (GAN, 1982; ALVES, 2001; VEREJÃO-SILVA, 2006).

No que se refere aos Sistemas Frontais Kousky (1979), afirma que os Sistemas Frontais são importantes para a geração e alimentação da precipitação, atuando basicamente na região Sul do NEB. Tais sistemas auxiliam no máximo de precipitação principalmente na parte Sul da Bahia, diminuindo sua atuação ao se deslocar para Norte. Dependendo das configurações, pode ocorrer a penetração de Sistemas Frontais ou seus remanecentes, auxiliando na formação de precipitação no início do outono nesta região (KOUSKY, 1979).

Corrobora com essa informação Molion e Bernardo (2002), quando afirmam esses sistemas estão posicionados sobre a parte central da América do Sul durante a

(35)

primavera e o verão, se orientam de NW-SE, configurando a Zona de Convergência do Atlântico Sul – ZCAS. Enquanto seu deslocamento para latitudes mais baixas entre 12° - 15° persiste, causa a estação chuvosa no Sul do NEB, que tem como principais mecanismos causadores de precipitação a estacionariedade dos Sitemas Frontais pela umidade proveniente do Atlântico Sul, que definem a ZCAS, sistemas pré-frontais, convecção local e brisas terrestres e marítimas.

Estudos observacionais realizados na região tropical atestam a existência de DOL de escala sinótica deslocando-se de leste para oeste desde a costa da África até a costa brasileira, levando grande quantidade de chuvas. Os DOL podem atingir o continente brasileiro, principalmente na faixa equatorial. Trata-se de regiões intercaladas por nebulosidade (NIETO FERREIRA; SCHUBERT, 1997). Os sistemas mencionados atuam desde o Norte do Rio Grande do Norte até a Bahia, no período de outono e inverno (MOTA; GANDU, 1998).

Souza et al. (1998) descrevem os Complexos Convectivos de Mesoescala - CCM como aglomerados de nuvens cúmulos e cumulunimbos, que formam-se devido às condições locais favoráveis, como temperatura, umidade, relevo e pressão, gerando grande atividade convectiva, provocando chuvas intensas e de curta duração, normalmente acompanhadas de fortes rajadas de vento.

De acordo com Souza Filho (2003) e Barbosa e Correia (2005), as chuvas associadas aos CCM geralmente ocorrem de forma isolada, atuando entre os meses de primavera e de verão no hemisfério Sul, formando-se no período noturno com um ciclo de vida entre 10 e 20 horas. Portanto, pode-se dizer que os CCM constituem um importante mecanismo gerador de grandes volumes de precipitações em anos chuvosos sobre a maior parte do Semiárido nordestino (SILVA ARAGÃO et al., 2007).

Seguindo o pressuposto de que a ocorrência de eventos extremos de precipitação na região Semiárida sejam modulados pela justaposição simultânea de sistemas, quando os eventos de Leste e Sul em 850 hPa2 se intensificam, a precipitação tenderia a diminuir. Entretanto, se tais ventos diminuem de intensidade ou se tornam de Norte ou de Oeste, a precipitação aumenta (MASCATI e GAN, 2007).

O regime de chuvas sobre o Semiárido brasileiro é, portanto, afetado pela interação entre fenômenos de grande escala nas bacias do Atlântico e Pacífico. Quando o Pacífico se encontra na fase quente, simultameamente com situação de Dipolo Positivo do Atlântico, a ZCIT se localiza sobre latitudes mais ao norte, desfavorecendo

Referências

Documentos relacionados

Entre os objetivos específicos estão: comparar a estrutura espacial de anelídeos poliquetas dessas seis praias para os seguintes descritores da comunidade:

riscos e benefícios projectado no caderno de encargos e, ainda, sobre o possível resultado contratual, quando exista uma fase de negociação. Como estímulo à rentabilização

Entre  1990  e  2010,  mais  de  96  milhões  de  pessoas  foram  afetadas  por  desastres  no  Brasil,  como  demonstra  o  Atlas  dos  Desastres  Naturais 

Entre  1990  e  2010,  mais  de  96  milhões  de  pessoas  foram  afetadas  por  desastres  no  Brasil,  como  demonstra  o  Atlas  dos  Desastres  Naturais 

Entre  1990  e  2010,  mais  de  96  milhões  de  pessoas  foram  afetadas  por  desastres  no  Brasil,  como  demonstra  o  Atlas  dos  Desastres  Naturais 

Entre  1990  e  2010,  mais  de  96  milhões  de  pessoas  foram  afetadas  por  desastres  no  Brasil,  como  demonstra  o  Atlas  dos  Desastres  Naturais 

Entre  1990  e  2010,  mais  de  96  milhões  de  pessoas  foram  afetadas  por  desastres  no  Brasil,  como  demonstra  o  Atlas  dos  Desastres  Naturais 

Entre  1990  e  2010,  mais  de  96  milhões  de  pessoas  foram  afetadas  por  desastres  no  Brasil,  como  demonstra  o  Atlas  dos  Desastres  Naturais