• Nenhum resultado encontrado

3. A REGIÃO SEMIÁRIDA DO BRASIL

3.2 Marco Legal: Delimitações da região Semiárida do brasileira

O Semiárido nordestino é um espaço cuja notoriedade deve muido às secas e, portanto, à carência de recursos. É uma zona densamente povoada, considerada como o espaço sujeito à semiaridez mais povoado do mundo. Essa particularidade já foi destacada por Aziz Ab‘Saber (1999).

As secas podem ser observadas em várias partes da região do NEB. No entanto, por incidirem com mais frequência em determinadas áreas e pelo fato de o governo federal atender às populações nelas residentes, o conjunto dessas áreas foi instituído como Polígono das Secas. O Polígono das Secas foi criado pela Lei Federal nº 175, de 07 de janeiro de 1936, tinha uma superfície geográfica de 672.281,98 km², correspondente a 43,2% da área total do Nordeste delimitado pelo IBGE (1.557.767 km²). Tendo como área oficial a área de ocorrência das secas, o Polígono chegou a abranger, em 1989, uma superfície de 1.682.668,70 km², correspondente a 64,9% da Área de Jurisdição da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene.

A partir da Constituição de 1988, foram alterados os critérios utilizados na delimitação da área oficial de ocorrência de secas no Nordeste. Com a aprovação, em 1989, da lei que instituiu o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE, denominou-se de Região Semiárida do FNE o espaço de ocorrência de secas no NEB. Suas diferenças internas se assemelham e se aproximam das que caracterizavam o Polígono das Secas, tanto do ponto de vista físico, econômico, ambiental, como do ponto de vista social.

A configuração espacial do Polígono das Secas, tanto em sua versão original como na final, e da Região Semiárida do FNE pode ser observada na Figura 2. Esta figura foi preparada por Carvalho e Egler (2002), a partir dos textos das Leis Federais nº 175, de 1936, e nº 7.827, de 27.09.1989, e da Portaria nº 1.182, de 14.09.1999, do Superintendente da Sudene. É importante mencionar que, em 1999, o Polígono era integrado por 1.954 municípios, os quais estavam assim distribuídos por estado da

federação: Maranhão (217 municípios), Piauí (221), Ceará (184), Rio Grande do Norte (166), Paraíba (223), Pernambuco (185), Alagoas (101), Sergipe (75), Bahia (415) e Minas Gerais (140) (BRASIL, 1999).

Figura 2. Polígono das Secas (versão original e final) e Região Semiárida do FNE

Fonte: Carvalho e Egler (2002)

Na origem, a região Semiárida do FNE abrange porções variáveis dos estados situados na Sudene, integrada pelo Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia e a área Mineira do Polígono das Secas. A partir de 1989, a Sudene deixou, praticamente, de utilizar a figura do Polígono das Secas (LINS e BURGOS, 1989) como referencia à área oficial de ocorrência de

BA PI MA CE MG PE PB RN AL SE Limites Municipais

Limites do Po lígono das Secas em 1936 Limites do Po lígono das Secas em 1989 Região Semi-Árida do FNE Limites Estaduais

N

Nordeste Semi-Árido Limites do Polígono das Secas e da Região Semi-Árida do FNE

secas. Durante a seca de 1993, ainda foi produzida uma lista dos municípios do Polígono, mas aos poucos a Sudene foi deixando de utilizar aquela configuração. Em seu lugar, passou a produzir informações para a região Semiárida do FNE, definida segundo as determinações de Financiamento do Norte – FNO, do Nordeste-FNE e do Centro-Oeste-FCO.

A região Semiárida estava constituída nos anos 2000 por 1.042 municípios, abrangendo uma superfície total de 895.254,40 Km². Sua população naquela data era de 19.326.007 habitantes. Em 1991, essa região contava com apenas 892 municípios. A população total do Semiárido correspondia nos anos 2000 a 41% da população total do Nordeste, percentual igual ao de 1991, mas superior aos valores observados em 1980 (36%) e em 1970 (8%).

A área de atuação da Sudene teve sua superfície de 1.662.947 km², vigente em 1980, ampliada, em 1998, em mais de 97.714,30 km² (Quadro 1).

Quadro 1. Acréscimos para ampliação da área de atuação da Sudene em 1998

Definição Área em Km²

1) Revisão de cálculos sobre as áreas dos municípios brasileiros, efetuada pelo IBGE

23.449,60 km²

2) Inclusão de municípios do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, por conta das disposições da Lei

nº 9.690, de 15.07.1998¹:

49.813,70 km²

3) Inclusão de municípios do noroeste do Estado do Espírito Santo (24.451,00 km²), por conta das

disposições da Lei nº 9.690, de 1998:

24.451,00 km²

Fonte: Brasil (1999) / ¹Essa lei é de autoria da Senadora Júnia Marise (PMDB-MG). Aos acréscimos de área resultantes das disposições desse dispositivo legal, no Estado de Minas Gerais, foram acrescentadas emendas de Deputados Federais do Estado do Espírito Santo, incorporando 27 novos municípios à área de atuação da Sudene. Organizado pela autora.

Com esses acréscimos, o Nordeste da Sudene cobria, em 1998, uma superfície de 1.760.661,30 km². Como já foi destacado, a área oficial de ocorrência de secas e a Região Semiárida do FNE são equivalentes. Trabalha-se com esse conceito, porque o apoio do governo às populações das áreas afetadas pelas secas no Nordeste Semiárido tem sido, historicamente, conhecido tomando-se como ponto de partida a delimitação do Polígono das Secas. Com a lei institutiva do FNE, os recursos desse instrumento passaram a ser aplicados apenas nos municípios que integram a Região Semiárida do FNE.

Com a extinção da Sudene em 2001, o Ministério da Integração Nacional (MI) assumiu a atribuição, antes a cargo daquela Superintendência, de posicionar-se acerca dos pleitos de inclusão de municípios interessados em beneficiar-se do tratamento diferenciado das políticas de crédito e benefícios fiscais conferidos ao Semiárido brasileiro.

A iniciativa do MI de propor uma nova delimitação da área geográfica de abrangência do Semiárido foi da constatação da insuficiência do índice pluviométrico como sendo o critério exclusivo de seleção dos municípios dessa área.

Com base nas constatações de que a falta de chuvas não era a responsável pela oferta insuficiente de água na região, mas sua má distribuição, associada a uma alta taxa de evapotranspiração, o MI convocou em março de 2004 ministérios e instituições envolvidas com as diferentes questões atinentes ao Semiárido brasileiro. Foi então instalado o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) encarregado de redelimitar o espaço geográfico dessa área.

Para a nova delimitação do Semiárido brasileiro, o GTI adotou três critérios técnicos: 1) Precipitação média anual inferior a 800,0 mm; 2) Índice de aridez de até 0,5 calculado pelo balanço hídrico que relaciona as precipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 – 1990; e 3) Risco de seca maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 – 1990. Estes critérios foram aplicados consistentemente a todos os municípios que pertencem à área da antiga Sudene, inclusive aos municípios do Norte de Minas Gerais.

Em 10 de março de 2005, o MI assinou, na cidade de Almenara, no nordeste de Minas Gerais, a portaria que institui a nova delimitação do Semiárido brasileiro resultante do trabalho do GTI que atualizou os critérios de seleção e os municípios que passam a fazer parte desta região. Ocorreu então a atualização do mapa geográfico e social do Semiárido brasileiro. Além dos 1.301 municípios já incorporados, passam a fazer parte do Semiárido outros 102 novos municípios enquadrados em pelo menos um dos três critérios utilizados.

A área classificada oficialmente como Semiárido brasileiro aumentou de 892.309,4 Km² para 969.589,4 Km², o que corresponde a um acréscimo de 8,66%. O Estado de Minas Gerais teve um maior número de inclusões na nova lista (45 inclusões): passa então de 40 para 85 municípios inseridos na região Semiárida, uma variação de 112,5%. A área do Estado que fazia anteriormente parte da região era de 27,2%, tendo aumentado para 51,7%.

Em 03 de janeiro de 2007, acolhendo sugestões nascidas da mobilização da sociedade, o governo federal constituiu um Grupo de Trabalho (GT) presidido e tecnicamente coordenado pelo MI, que, após meses de intensas atividades, incluindo a realização de consultas públicas e fóruns qualificados em todos os Estados da região Nordeste e em Brasília, instituiu a Nova Sudene, como órgão de ―natureza autárquica especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, com sede na cidade de Recife, no Estado do Pernambuco, e vinculada ao Ministério da Integração Nacional‖ (SUDENE, 2019).

Nos últimos anos, um Grupo de Trabalho (GT) coordenado pelo MI dedicou-se a uma série de estudos e análises para definir a nova composição da região Semiárida. Além de equipes do Ministério da Integração Nacional, compõem o GT representantes do Ministério do Meio Ambiente, Sudene, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

No dia 27 de julho de 2017, em Recife, durante reunião do Conselho Deliberativo (CONDEL) da SUDENE, foi realizada uma nova atualização dos municípios do Semiárido, baseada na recente Resolução nº 107/2017, publicada pelo MI. A delimitação do Semiárido brasileiro passou a ter 1.187 cidades. O estado do Piauí teve um maior número de inclusões na nova lista: dos 127 anteriores, passou a 163, conforme mostra o quadro 2.

Em 23 de novembro de 2017, mais 73 municípios foram incorporados à região do Semiárido em decorrência da seca prolongada, conforme informou o Ministério da Integração Nacional. A inclusão ocorreu a partir de levantamento técnico produzido por grupo de trabalho interministerial, do qual o MI e a Sudene fizeram parte.

Conforme o Ministério da Integração Nacional, no ano de 2017 foram seguidos padrões recomendados pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM) acerca do tipo de estações que devem ser consideradas e da qualidade das informações coletadas. Foram utilizadas 4.071 estações meteorológicas para extrair séries históricas para os três critérios definidos. Essas informações foram empregadas para classificar os municípios como aptos ou não a pertencer ao Semiárido.

Devido ao novo redimensionamento territorial do Semiárido, considera-se a área de estudo desta pesquisa a delimitação feita em julho de 2017, conforme apresentado na figura 1 (Página 19) pelo Ministério da Integração Nacional, tendo em vista o avanço da coleta dos dados e a etapa da pesquisa.

O quadro 2 apresenta o total de municípios por estados e o número de municípios que pertencem à região Semiárida do Brasil.

Quadro 2. Número total de municípios por estado e número de municípios pertencentes às delimitações da região Semiárida do ano de 2005 a 2017

ESTADO

Número de municípios por Estado

(%) de Municípios que Total de municípios por estado¹ Delimitação (2005) Delimitação (Julho, 2017) pertencem ao Semiárido PI 221 127 163 73,76 CE 184 150 165 89,67 RN 166 147 147 88,55 PB 223 170 170 76,23 PE 185 122 122 65,95 AL 101 38 38 37,62 Se 75 29 29 38,67 BA 415 265 268 64,58 MG³ 165 85 85 51,52 TOTAL 1.735 1.133 1187 68,41

FONTE: BRASIL (2017) ¹IBGE. Censo Demográfico 2010 – Organizado pela autora

Com base na nova delimitação do Semiárido brasileiro, o MI evidencia seu compromisso com o desenvolvimento desta sub-região, tanto no que se refere à ativação de seu potencial endógeno de crescimento econômico, como no sentido da diminuição das desigualdades interregionais vigentes no país (BRASIL, 2018).