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Direito Civil II - Prof.ª Arisa Ribas Cardoso. Indaial a Edição

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Indaial – 2020

D ireito C ivil ii - F atos J uríDiCos

Prof.ª Arisa Ribas Cardoso

1

a

Edição

(2)

Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:

Prof.ª Arisa Ribas Cardoso

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

C268d

Cardoso, Arisa Ribas

Direito civil II - Fatos jurídicos. / Arisa Ribas Cardoso. – Indaial:

UNIASSELVI, 2020.

248 p.; il.

ISBN 978-65-5663-232-2 ISBN Digital 978-65-5663-229-2

1. Direito civil. – Brasil. 2. Fatos jurídicos. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 342.14

(3)

a presentação

A parte geral do Direito Civil aborda três grandes temas: pessoas, bens e fatos jurídicos. Neste livro, você estudará o terceiro tema e todas as suas implicações.

Os fatos jurídicos são os acontecimentos que têm relevância para o Direito, desde o nascimento de uma criança, até um complexo contrato entre empresas multinacionais. Na primeira unidade, você estudará, inicialmente, a definição de fato jurídico e as suas classificações. Dentre as classificações, será destacado o negócio jurídico, modalidade de fato jurídico extremamente relevante, cujos elementos são delineados já na parte geral do Código Civil de 2002. Ainda nesta unidade, serão exploradas as características gerais dos negócios jurídicos, os princípios que os regem e algumas regras para interpretá-los. Na sequência, você será apresentado aos planos, que são utilizados para análise dos negócios jurídicos: o plano de existência, de validade e de eficácia, e estudará, a fundo, quais os elementos necessários para que se possa dizer que um negócio existe, além dos requisitos imprescindíveis que a lei elenca para a sua validade.

Na Unidade 2, você continuará o percurso de estudo dos negócios jurídicos. Serão apresentados os defeitos que podem macular os negócios realizados: o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo, a lesão e a fraude contra credores. Todos eles, por prejudicarem a livre manifestação da vontade, ou violarem a boa-fé, são causas que podem invalidar os negócios jurídicos realizados. Desse modo, no tópico seguinte, você estudará as invalidades dos negócios jurídicos, compreenderá a consequência da violação dos requisitos legais e dos princípios, e será capaz de diferenciar as modalidades de invalidade dos negócios jurídicos previstas na codificação civil: a nulidade e anulabilidade. Por fim, ainda na segunda unidade, você aprenderá que os negócios, mesmo existentes e válidos, podem não ter eficácia automática em algumas situações, em razão da presença de alguns elementos acidentais, como a condição, o termo e o encargo.

Na terceira unidade, você continuará o estudo dos fatos jurídicos

através da compreensão do que são os atos ilícitos, modalidade de fato

jurídico que, contrária ao direito, e que, no âmbito do Direito Civil, tem

relevância quando causa danos a alguém, uma vez que, se não estiver

presente alguma excludente, normalmente, ensejará a possibilidade de um

pedido de indenização. Após, você ingressará no fascinante estudo sobre a

prescrição e a decadência, que também são tipos de fatos jurídicos. Você

aprenderá a diferenciar os dois institutos entre si, além de aplicar as regras

atinentes, especialmente no que toca à contagem dos prazos. Por fim, no

último tópico, será abordado o tema das provas dos negócios jurídicos, cuja

(4)

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

NOTA

regulamentação no Código Civil não é extensiva, mas tem extrema relevância prática para compreensão de como pode-se comprovar a realização dos negócios jurídicos de maneira adequada.

Bons estudos!

Prof.ª Arisa Ribas Cardoso

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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você

terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

LEMBRETE

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s umário

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS ... 1

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO ... 4

2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ... 4

2.2 EFEITOS DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO ... 7

2.2.1 Aquisição de direitos ... 8

2.2.2 Modificação de direitos ... 10

2.2.3 Extinção de direitos ... 12

2.2.4 Conservação de direitos ... 13

2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO ... 14

2.3.1 Fato jurídico em sentido estrito ... 15

2.3.2 Ato jurídico em sentido amplo ... 16

2.3.3 Ato-fato jurídico ...20

LEITURA COMPLEMENTAR ... 21

RESUMO DO TÓPICO 1... 23

AUTOATIVIDADE ... 24

TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO ... 25

1 INTRODUÇÃO ... 25

2 NEGÓCIOS JURÍDICOS ... 25

2.1 TEORIA GERAL DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ... 26

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ...27

2.3 INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ... 31

2.4 OS PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO: EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA ... 37

RESUMO DO TÓPICO 2... 41

AUTOATIVIDADE ... 42

TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 43

1 INTRODUÇÃO ... 43

2 ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 43

2.1 MANIFESTAÇÃO DA VONTADE ...44

2.2 RESERVA MENTAL ... 46

2.3 SILÊNCIO ...47

2.4 AGENTE EMISSOR DA VONTADE ...48

2.5 OBJETO ...49

2.6 FORMA ...49

3 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 50

3.1 AGENTE CAPAZ ... 53

3.2 REPRESENTAÇÃO... 56

3.3 OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL ... 60

3.4 FORMA PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI ... 64

3.5 MANIFESTAÇÃO DA VONTADE LIVRE E DE BOA-FÉ ... 66

(8)

RESUMO DO TÓPICO 3... 70

AUTOATIVIDADE ... 71

UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA ... 73

TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 75

1 INTRODUÇÃO ... 75

2 DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 76

2.1 ERRO...78

2.2 DOLO ...89

2.3 COAÇÃO ... 95

2.4 ESTADO DE PERIGO ... 101

2.5 LESÃO ... 104

2.6 FRAUDE CONTRA CREDORES ... 109

RESUMO DO TÓPICO 1... 118

AUTOATIVIDADE ... 119

TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 121

1 INTRODUÇÃO ... 121

2 NULIDADE ... 122

2.1 SIMULAÇÃO ... 127

2.2 CONVERSÃO SUBSTANCIAL DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 130

3 ANULABILIDADE ... 132

3.1 CONSERVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 136

4 EFEITOS DAS INVALIDADES ... 138

5 COMPARATIVO: NULIDADE X ANULABILIDADE ... 142

RESUMO DO TÓPICO 2... 144

AUTOATIVIDADE ... 145

TÓPICO 3 — ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 147

1 INTRODUÇÃO ... 147

2 CONDIÇÃO ... 148

3 TERMO ... 152

4 ENCARGO ... 155

LEITURA COMPLEMENTAR ... 158

RESUMO DO TÓPICO 3... 159

AUTOATIVIDADE ... 160

UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS ... 161

TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO ... 163

1 INTRODUÇÃO ... 163

2 ATO ILÍCITO ... 164

2.1 CONCEITO E ELEMENTOS DO ATO ILÍCITO ... 166

2.1.1 Abuso de direito ... 171

2.2 CONSEQUÊNCIAS DO ATO ILÍCITO ... 176

2.3 EXCLUDENTES DE ILICITUDE ... 177

RESUMO DO TÓPICO 1... 185

AUTOATIVIDADE ... 186

(9)

TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ... 189

1 INTRODUÇÃO ... 189

2 DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA... 189

2.1 DISTINÇÃO ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA ... 191

2.2 REGRAS QUANTO À PRESCRIÇÃO ... 197

2.2.1 Causas que impedem ou suspendem a prescrição ... 203

2.2.2 Causas que interrompem a prescrição ... 210

2.2.3 A prescrição no Direito Intertemporal ... 216

2.3 PRAZO DE PRESCRIÇÃO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 ... 217

2.4 REGRAS QUANTO À DECADÊNCIA ... 219

2.5 AÇÕES E DIREITOS IMPRESCRITÍVEIS ... 221

RESUMO DO TÓPICO 2... 222

AUTOATIVIDADE ... 224

TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 227

1 INTRODUÇÃO ... 227

2 DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO ... 227

2.1 CONFISSÃO ... 229

2.2 DOCUMENTO ... 230

2.3 TESTEMUNHA ... 236

2.4 PRESUNÇÕES ... 237

2.5 PERÍCIA ... 238

LEITURA COMPLEMENTAR ... 240

RESUMO DO TÓPICO 3... 241

AUTOATIVIDADE ... 242

REFERÊNCIAS ... 243

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(11)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS

JURÍDICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• diferenciar os tipos de fatos jurídicos e as consequências para o Direito;

• compreender o que são negócios jurídicos, como se classificam e como devem ser interpretados;

• reconhecer a existência e a validade de negócios jurídicos a partir dos seus elementos e pressupostos legais.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao fim da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO TÓPICO 2 – NEGÓCIO JURÍDICO

TÓPICO 3 – ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1 —

UNIDADE 1

FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

1 INTRODUÇÃO

O estudo da Parte Geral do Código Civil costuma ser feito a partir de três grandes temas: 1) pessoas; 2) bens; 3) fatos jurídicos. Na disciplina de Direito Civil Parte Geral I, são estudados os dois primeiros temas. Na segunda parte, a grande temática são os fatos jurídicos. Você começará o estudo a partir dos aspectos mais gerais, como conceituação e classificações para, aos poucos, aprofundar-se naqueles fatos que são os mais relevantes em termos de regulamentação jurídica:

os negócios jurídicos, os atos ilícitos, a prescrição e a decadência.

Nesta primeira unidade, especificamente, você estudará os aspectos gerais dos fatos e dos negócios jurídicos. Inicialmente, você encontrará as explicações sobre o que são os fatos jurídicos, como se formam e quais os efeitos que eles produzem. Você compreenderá em que circunstâncias um acontecimento corriqueiro pode passar a ter relevância para o Direito, e como esses acontecimentos criam os direitos subjetivos. Além disso, verá que os efeitos dos fatos jurídicos podem ir além da criação de direitos subjetivos, servindo, também, para conservação, modificação ou extinção de direitos. Ainda, no Tópico 2, você estudará as subdivisões dos fatos jurídicos: os fatos jurídicos em sentido estrito, os atos jurídicos lícitos e ilícitos e suas classificações internas, conforme a origem e efeitos de cada tipo de fato.

FIGURA 1 – ENCHENTE

FONTE: https://unsplash.com/photos/0PHUAtg_2CQ. Acesso em 13 jul. 2020.

(14)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

No tópico seguinte, você será apresentado à teoria geral do negócio jurídico, um dos fatos jurídicos de maior relevância para os operadores do Direito, devido à ampla aplicação, sua estrutura e consequências. Após entender do que se trata o negócio jurídico, você aprenderá as suas classificações e, na sequência, estudará as orientações legais e doutrinárias. Por fim, será apresentada a estrutura geral dos negócios jurídicos, para que, nos tópicos seguintes, seja aprofundado o estudo de cada um dos planos.

No último tópico desta unidade, você compreenderá todos os elementos constitutivos do negócio jurídico referentes à existência: manifestação da vontade, agente, objeto e forma. Após, você estudará a primeira parte dos temas atinentes à validade do negócio jurídico, mais especificamente, os requisitos previstos no ordenamento jurídico para que o negócio seja válido. Em outras palavras, tudo que um negócio jurídico precisa observar para que não contenha vícios, que, por sua vez, serão objeto de estudo da Unidade 2.

2 FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

Neste tópico, você aprenderá o que são e o que torna determinados fatos, certos acontecimentos, relevantes para o direito, podendo, então, ser adjetivados como jurídicos. Ainda, estudará os efeitos desses fatos no mundo jurídico e aprenderá a diferenciá-los. Assim, na sequência, poderá identificá-los e saber o direito aplicável a cada uma das situações.

2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A vida humana é permeada por fatos das mais diversas naturezas. Alguns deles são causados pelos próprios seres humanos, outros decorrem de forças naturais. Ocorre que grande parte desses fatos traz implicações jurídicas para os indivíduos envolvidos, mesmo os mais simples e corriqueiros. Leia, com atenção, o seguinte excerto:

Minha Mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de Albuquerque Santiago, contava trinta e um anos de idade, e podia voltar para Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em que meu pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número de apólices, e deixou-se estar na casa de Mata cavalos, onde vivera os dois últimos anos de casada. Era filha de uma senhora mineira, descendente de outra paulista, a família Fernandes (ASSIS, 1899, p. 8).

Vários fatos jurídicos estão descritos implícita e explicitamente no trecho.

Todos os acontecimentos que, de alguma forma, afetaram a esfera jurídica

dos personagens, são fatos jurídicos. Nascimento é um fato jurídico, pois é o

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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

momento da aquisição da personalidade jurídica. A morte, por sua vez, também é fato jurídico, pois encerra a existência da pessoa natural, assim como transfere o patrimônio para os herdeiros do falecido.

Vender, comprar, locar são também fatos jurídicos, pois implicam em modificação nos direitos de propriedade sobre um bem (o vendedor deixa de ser dono; o comprador se torna proprietário; o locatário passa a ter a posse). A fixação de domicílio é outro fato jurídico, por ter consequências legais.

Conforme sintetizam Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 343), “todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do direito, denomina-se fato jurídico”. Ou seja, os fatos jurídicos são acontecimentos que afetam o direito, seja constituindo novos direitos, modificando os existentes ou extinguindo-os.

Cada um desses efeitos será estudado mais profundamente.

ESTUDOS FUTUROS

A definição de fato jurídico pode ser sintetizada na seguinte fórmula: Fato jurídico = Fato + Direito (TARTUCE, 2016). Os acontecimentos cotidianos (fatos) ganham relevância quando são valorados pelo Direito, em outras palavras, a norma irá qualificar, adjetivar os fatos cotidianos, juridicizando-os (FARIAS;

ROSENVALD, 2017). Portanto, o fato jurídico surge sempre que uma determinada conduta ou um determinado acontecimento for valorado pelo Direito.

Imagine a seguinte situação: Você está segurando um livro e, em razão de

um movimento desajeitado, atinge o rosto de um colega com o objeto, ferindo-lhe

a boca. No caso, temos um fato (o seu movimento com o livro na mão que acabou

atingindo a boca do colega), que é valorado pelo Direito (o Art. 186 do CC/02 prevê

que causar dano a alguém é um ato ilícito, e o Art. 927, também do CC/02, dispõe

que quem pratica ato ilícito deve indenizar o dano). Portanto, a lesão causada no

colega pelo seu movimento deixa de ser um simples acontecimento, passando a

ter importância para o Direito. Temos, então, um fato jurídico!

(16)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

Lembre-se: quando falamos de Direito, não nos referimos, exclusivamente, à lei, mas a tudo que faz parte do ordenamento jurídico, desde princípios até regulamentos administrativos.

ATENCAO

É importante que você perceba que essa noção de fato jurídico é o que chamamos de fato jurídico em sentido amplo ou fato jurídico lato sensu. Isso porque diz respeito a todos os tipos de fatos jurídicos, desde os mais simples, como a perda da propriedade pela deterioração do bem (por exemplo, um livro que é queimado no fogo), ou mais complexos, como os contratos sociais de empresas.

O fato jurídico lato sensu é o elemento que dá origem aos direitos subjetivos, impulsionando a criação da relação jurídica, concretizando as normas jurídicas. Realmente, do direito objetivo não surgem diretamente os direitos subjetivos: é necessária uma “força” de propulsão ou causa, que se denomina “fato jurídico” (DINIZ, 2006, p. 376).

Importante lembrar que o direito objetivo é o “conjunto de normas e modelos jurídicos” (REALE, 2015, p. 189), ou seja, são as normas existentes que, abstratamente, são aplicáveis a todos os sujeitos. Quando falamos que o Direito Civil garante a defesa da posse, estamos falando do direito objetivo, dos artigos do Código Civil que versam sobre a posse. Por outro lado, o direito subjetivo

“é um direito personalizado, em que a norma, perdendo seu caráter teórico, projeta-se na relação jurídica concreta, para permitir uma conduta ou estabelecer consequências jurídicas” (NADER, 2015, p. 80). Assim, se dissermos que Fulano tem direito de defender a posse do seu terreno contra a invasão de Sicrano, estamos nos referindo ao direito subjetivo de Fulano. Contudo, o que muda de uma situação para a outra? Quando tratamos do Direito Civil genericamente, não mencionamos nenhum fato. No caso de Fulano, temos um fato jurídico claro:

a invasão do terreno. É esse fato jurídico, portanto, que transforma o direito genérico de defesa da posse em um direito subjetivo de Fulano. Sem a invasão, Fulano não teria do que reclamar juridicamente. O direito objetivo, portanto, sem o fato jurídico, não produz efeitos, não pode ser reivindicado.

Se você procurar uma petição inicial de uma ação judicial cível qualquer, perceberá que, em regra, ela se divide em três partes: fatos, direito e pedidos.

Por que é assim? Ora, os fatos que serão ali descritos são, justamente, os fatos

jurídicos que justificarão, na sequência, a argumentação de que o direito, que

existe objetivamente no ordenamento, é aplicável ao autor da ação, tendo se

tornado direito subjetivo. Não é possível requerer indenização sem que se tenha

sofrido um dano. Portanto, na parte inicial de uma ação dessa natureza, você

(17)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

à indenização que está prevista na lei. Ou seja, demonstrará que o direito objetivo (direito à indenização) virou um direito subjetivo (direito à indenização do autor da ação em razão de ter tido seu carro abalroado em um acidente automobilístico).

Podemos resumir essa relação na seguinte fórmula: Direito objetivo + Fato jurídico = Direito subjetivo.

Ferraz Jr. (2015, p. 112) lembra-nos “que o inglês tem duas palavras diferentes para enunciar os dois termos: law (direito objetivo) e right (direito subjetivo)”.

ATENCAO

É importante lembrar que nem todos os fatos são fatos jurídicos. Muitos acontecimentos não têm consequências jurídicas e, portanto, são irrelevantes para o Direito. Esses fatos podem ser chamados de simples fatos, fatos materiais ou fatos ajurídicos.

O fato jurídico se caracteriza pela produtividade de efeitos jurídicos, distinguindo-se do fato material, que não os produz, não estando acobertado pela coercibilidade. Aqui, repita-se a saciedade, não importa a natureza intrínseca do fato, podendo ter idêntica origem. O que interessa é produtividade de efeitos normatizados. Exemplo típico e claro é o raio (relâmpago) que atinge uma casa. Esse acontecimento pode ser um fato jurídico (se a residência estava acobertada com uma apólice de seguro) ou um simples fato material (se não estava assegurada a residência contra o evento).

Assim, o que distingue o fato jurídico do fato material não é a origem, mas sim a produção dos efeitos na órbita do direito (FARIAS;

ROSENVALD, 2017, p. 591).

Ou seja, o que determina se o fato é jurídico ou não são as suas consequências, seus efeitos, e não o fato em si. Assim, na sequência, estudaremos os efeitos dos fatos jurídicos para, depois, tratarmos das subdivisões.

2.2 EFEITOS DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO

As consequências jurídicas dos fatos se dão por meio da aquisição, da

modificação, da extinção ou da conservação de direitos de algum titular. Você

deve entender, então, como cada uma opera.

(18)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

2.2.1 Aquisição de direitos

O direito objetivo, com já estudado, é um direito geral, abstratamente aplicável a todos. Quando falamos de aquisição de direitos, estamos nos referindo ao direito subjetivo, pois é a aquisição de um direito por alguém, em razão de um fato jurídico. Nader (2015, p. 313, itálico no original) leciona que a “aquisição é um fato pelo qual alguém assume a condição de titular de um direito subjetivo”. Ou seja, a aquisição é tomada para si de um direito, é o que dá, ao sujeito, a possibilidade de exercê-lo.

Conforme leciona Nader (2015), a aquisição de direitos pode decorrer:

• Da lei (ope legis): situação em que é o próprio ordenamento (o direito objetivo) que dispõe que, ocorrido determinado fato, a pessoa terá seu direito. Por exemplo, o direito à vida, à honra, à personalidade jurídica; ou,

• De um ato de vontade: quando o direito surge por um ato do agente, como na ocupação; ou de outra pessoa, como no testamento; ainda, de um conjunto de pessoas, como nos contratos.

A aquisição de direitos, no âmbito patrimonial, pode ocorrer de dois modos:

ᵒ Originário: quando o direito nasce assim que o titular se apropria do bem, sem a participação de outra pessoa (FARIAS; ROSENVALD, 2017). No caso, não há um titular anterior. É o que ocorre, por exemplo, na ocupação de uma fruta colhida em um bosque, de um peixe pescado no mar ou de uma caixa abandonada na rua.

Ocupação é modo originário de aquisição de bem móvel que consiste na tomada de posse de coisa sem dono, com a intenção de se tornar seu proprietário (GONÇALVES, 2020).

NOTA

ᵒ Derivado: quando a aquisição se dá “a partir de uma transmissão de direito

de uma pessoa a outra, evidenciando a existência de relação jurídica anterior

e outra atual” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 598). É o caso das compras

e vendas: quem compra estará adquirindo o direito de propriedade que,

anteriormente, era de outrem, por isso, dizemos que é um direito derivado.

(19)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

Ainda:

ᵒ Gratuita: quando não há uma contraprestação, ou seja, não há qualquer forma de pagamento, de compensação pelo direito adquirido. É o que ocorre quando alguém recebe uma doação ou, até mesmo, uma herança.

ᵒ Onerosa: quando há uma contraprestação, uma compensação proporcional ao direito adquirido, havendo enriquecimento de ambas as partes (FARIAS;

ROSENVALD, 2017). É o que o ocorre na compra e venda, ou em um contrato de permuta.

Quanto à forma de aquisição, ela pode se dar:

ᵒ A título universal: quando o adquirente substitui o sucedido na totalidade dos seus bens (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015), ou seja, é a aquisição de um conjunto de bens e direitos, e não de um ou alguns especificamente. É o que ocorre, em geral, com a herança: os bens e direitos do falecido são transferidos, na sua totalidade, para o (s) herdeiro (s), não havendo discriminação sobre quem vai receber o quê.

ᵒ A título singular: quando o novo titular do direito sucede o anterior “em determinadas coisas, certas e determinadas” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p.

598). É o caso do legatário, ou seja, a pessoa que recebe, de herança, um bem determinado deixado como legado por quem faleceu.

É importante ter em mente, quando se fala de aquisição de direitos, que ela pode ter sido diferida, ou seja, postergada para um momento no futuro. No caso, temos as figuras da expectativa de direito, do direito eventual e do direito condicional.

A expectativa de direito é a mera possibilidade de sua aquisição, não estando amparada pela legislação em geral, uma vez que ainda não foi incorporada ao patrimônio jurídico da pessoa. Um exemplo é a fase de tratativas para celebração de um contrato, em que não há necessidade de falar, ainda, de um direito adquirido, por si só, à realização da avença.

O direito eventual, por sua vez, refere-se a situações em que o interesse do titular ainda não se encontra completo, pelo fato de não terem se realizado todos os elementos básicos exigidos pela norma jurídica.

Como exemplo, podemos lembrar o direito à sucessão legítima que, embora protegido pelo ordenamento jurídico, só se consolida com a morte do autor da herança. Na forma do Art. 130 do CC-02, ao titular do direito eventual, no caso de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados para conservação.

Por fim, o direito condicional é aquele que somente se perfaz se ocorrer determinado acontecimento futuro e incerto. Como exemplo, podemos lembrar uma promessa de cessão de direitos autorais, caso determinada obra alcance a 10ª edição. Se o livro for um best-seller, realizar-se-á o direito; se ficar “encalhado”, o direito ficará limitado ao advento da condição (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 347).

NOTA

(20)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

2.2.2 Modificação de direitos

Mesmo que não seja afetada a sua substância, sua essência, os direitos podem sofrer modificações pela prática de atos ou a ocorrência de fatos jurídicos (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015). A modificação pode incidir sobre o objeto (modificação objetiva) ou sobre o titular do direito (modificação subjetiva).

A modificação objetiva pode atingir a qualidade ou a quantidade do objeto (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Quando se referir à qualidade, ou seja, for uma modificação qualitativa, estaremos diante de uma situação em que:

[...] o conteúdo do direito se converte em outra espécie. P. ex.: o credor, por coisa determinada, que recebe, do devedor, o equivalente em dinheiro, hipótese em que a obrigação se transmuda em dever de indenizar. Há, portanto, uma modificação na natureza do direito creditório, sem quaisquer alterações no crédito (DINIZ, 2006, p. 381).

Por outro lado, quando se tratar de uma modificação quantitativa, haverá o aumento ou a diminuição do objeto, sem alteração da qualidade. Isso pode ocorrer por um evento natural, como a diminuição de um terreno pela aluvião, ou por um ato praticado pelo titular ou por outrem, como a amortização de um débito. Para ilustrar a segunda situação, imagine que Fulano emprestou R$ 1.000,00 (mil reais) para Sicrano, ficando acordado que Sicrano devolveria após três meses. Um mês depois de realizado o empréstimo, Sicrano paga R$

500,00 (quinhentos reais) para Fulano. Dessa forma, o direito de Fulano, que era de receber R$ 1.000,00 (mil reais), se modificará, pois, a partir deste dia, só terá direito a R$ 500,00 (quinhentos reais).

Conforme explica Gonçalves (2020), aluvião é o aumento insensível que o rio anexa às terras, tão vagarosamente que seria impossível, em dado momento, apreciar a quantidade acrescida.

NOTA

A modificação pode também ser uma modificação subjetiva. Ela pode

se dar pela substituição de um dos sujeitos, como na compra e venda: se Fulano

vende sua bicicleta para Sicrano, Sicrano substitui Fulano como titular do direito

de propriedade sobre a bicicleta. No caso, “o direito de propriedade não perde

sua substância, apenas ocorre um deslocamento de titularidade sem cessação da

relação jurídica” (DINIZ, 2006, p. 381). Ainda, a modificação pode ocorrer também

pela multiplicação ou pela concentração dos titulares, ou até pelo desdobramento

da relação jurídica (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015).

(21)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

A multiplicação acontece “quando ao titular do direito outros se associam, exercendo, conjuntamente, os poderes inerentes à propriedade, quando o primitivo dono não deixa de sê-lo, mas perde a exclusividade do direito de propriedade, como titulares, os demais condôminos” (DINIZ, 2006, p. 382). Ela acontecerá, por exemplo, se Fulana, proprietária de um apartamento, casar-se em comunhão universal de bens com Sicrano, pois, agora, o direito de propriedade que era de uma só pessoa (Fulana) passará a ser de duas (Fulana e Sicrano), tendo havido, assim, a multiplicação dos titulares do direito de propriedade.

A concentração, por sua vez, é o inverso. Ocorre “quando um direito possui vários titulares, que vão se reduzindo” (DINIZ, 2006, p. 382). Por exemplo, se Fulano, Sicrano e Beltrano são, conjuntamente, titulares do direito de usufruto de um imóvel, após a morte de Fulano e Sicrano, a titularidade do direito terá se concentrado na pessoa de Beltrano.

Por fim, haverá o desdobramento do direito se, por exemplo, “o sujeito de direito outorga uma parte de seus poderes em favor de outrem, sem, contudo, perder o direito, como a constituição de renda vitalícia” (DINIZ, 2006, p. 382).

É o que ocorre nos negócios jurídicos, em que são concedidos direitos de administração para um terceiro: alguém continua a ser o dono, mas outra pessoa poderá exercer alguns dos poderes inerentes ao direito de propriedade.

Farias e Rosenvald (2017, p. 599) defendem que “os direitos de personalidade não comportam modificação subjetiva”. Todavia, Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 348) advertem que:

[...] com relação à paternidade, há alguns julgados que têm admitido a possibilidade de uma investigação de ancestralidade ou, mais precisamente, de uma ação investigatória de relação avoenga para a hipótese de falecimento do indivíduo que não teve a paternidade reconhecida, mas que seus herdeiros pretendem vê-la declarada, seja para efeitos sociais, seja para petição de herança.

Para entender um pouco mais da discussão sobre a substituição do direito de reconhecimento de paternidade, você pode consultar o acórdão do Recurso Especial n.

807849/RJ, de 24/03/2010. Está disponível na página do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200600032847&dt_

publicacao=06/08/2010.

DICAS

(22)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

2.2.3 Extinção de direitos

A extinção é a perda do direito. São as situações em que, após ocorrido o fato jurídico, o direito não renasce (DINIZ, 2006). As causas de extinção são diversas, dentre elas, citam-se (FARIAS; ROSENVALD, 2017; GAGLIANO;

PAMPLONA FILHO, 2015):

• Perecimento do objeto: por exemplo, se você é proprietário de um livro, e este é queimado, haverá a extinção da propriedade pelo perecimento do objeto, pois ele não mais existirá.

• Alienação: por exemplo, se você vender o livro, seu direito de propriedade se extinguirá.

• Renúncia: ocorre quando alguém abdica de um direito, extinguindo-o para si.

• Abandono: ocorre quando, com o intuito de se desvincular do objeto, alguém deixa de exercer seus direitos de posse e/ou propriedade.

• Falecimento do titular: por exemplo, se Fulano tem direito a uma pensão alimentícia, com a sua morte, este direito se extinguirá.

• Prescrição: decurso do tempo que impede a reivindicação de uma pretensão em juízo.

• Decadência: decurso do tempo que implica na perda de um direito potestativo.

Por exemplo, se Fulano deixar de reclamar o conserto do produto comprado com defeito dentro do prazo da garantia, perderá o direito.

• Abolição de uma instituição jurídica: por exemplo, a revogação da lei que garantia o pagamento de um percentual a mais no salário de alguém em razão do exercício de atividade perigosa, extinguirá o direito de recebimento.

• Confusão: é o que ocorre, por exemplo, quando dois patrimônios se fundem, como no caso de uma empresa X, que é credora da empresa Y, comprar a empresa Y: no caso, o direito de crédito que a empresa X tinha se extinguirá em razão da confusão patrimonial.

• Implemento de condição resolutiva: por exemplo, se, no contrato de um curso online de preparação para concursos, estiver previsto que o aluno terá acesso à plataforma até passar em algum certame, o dia que ele passar a condição estará implementada e o direito de acesso terá sido extinto.

• Escoamento do prazo: por exemplo, se não ajuizado um recurso no prazo, estará extinto o direito de interpô-lo.

• Perempção: é a extinção de um processo pela inércia da parte interessada.

• Aparecimento de direito incompatível com o direito atualmente existente e que o suplanta: um exemplo seria a aprovação de uma lei que dá a faculdade ao patrão para conceder ou não férias aos funcionários, indiretamente, extinguindo o direito às férias dos trabalhadores.

Conforme advertem Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 349), “essa

relação, obviamente, é meramente exemplificativa, não havendo limites para

a criatividade humana ou para as forças da natureza na estipulação de novas

hipóteses”.

(23)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

Dentre as mais relevantes formas de extinção de direitos, estão a prescrição e a decadência, que você estudará na Unidade 3.

ESTUDOS FUTUROS

2.2.4 Conservação de direitos

A conservação, que também pode ser referida como defesa dos direitos, são

“medidas, de caráter, muitas vezes, acautelatório” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349). A função é a de resguardar os direitos adquiridos (e os futuros diferidos) (FARIAS; ROSENVALD, 2017).

Gagliano e Pamplona Filho (2015) dividem os atos de conservação nas seguintes categorias:

• Atos de conservação: são os “atos praticados pelo titular do direito para evitar o perecimento, turbação ou esbulho de seu direito” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349). É, por exemplo, o ajuizamento de um pedido cautelar em caráter antecedente para a produção antecipada de provas.

• Atos de defesa do direito lesado: quando “tendo ocorrido a violação do direito, o ajuizamento de ações cognitivas ou executivas [...] é a medida adequada para a conservação do direito” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349) É a possibilidade, por exemplo, do ingresso de ação judicial para cessação de circulação de foto íntima e pedido de indenização pela violação do direito de personalidade.

• Atos de defesa preventiva: são os realizados “antes mesmo da violação – mas diante de uma ameaça evidente” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349). Esses atos podem ser judiciais, como o interdito proibitório, para impedir a invasão de uma propriedade, ou extrajudiciais, como a inclusão de uma cláusula penal no contrato, para evitar que uma das partes descumpra o acordado.

• Autotutela: é praticada quando “ocorrida a violação, a ordem jurídica admite,

sempre excepcionalmente, a prática de atos de autotutela, como o desforço

incontinenti” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349) Ou seja, a

autotutela é o meio de conservação de direitos pelo próprio titular, a qual

só poderá ser utilizada quando autorizada pelo ordenamento, sob pena de

caracterizar ato ilícito ou até o crime de exercício arbitrário das próprias razões.

(24)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

Os efeitos dos fatos jurídicos não são excludentes entre si. Numa mesma situação, a depender da análise, poderemos falar de vários efeitos. Por exemplo, em uma compra e venda: sob a ótica do comprador, haverá a aquisição do direito de propriedade;

sob a perspectiva do vendedor, terá ocorrido a extinção do direito de propriedade;

analisando-se o objeto, o que terá ocorrido é a modificação do direito de propriedade pela substituição do seu titular.

NOTA

Vislumbrar os efeitos jurídicos dos fatos é importante para reconhecer os eventos que têm relevância em nosso cotidiano, ou seja, os fatos jurídicos. Quanto mais você avançar no curso de Direito, mais fatos jurídicos você estará apto a identificar.

2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO

Até agora, você aprendeu o que são os fatos jurídicos em sentido amplo, ou seja, as categorias e efeitos comuns dos mais variados tipos de fatos jurídicos.

Como visto, eles são muito variados, podem ocorrer nas mais diversas formas e ter inúmeros efeitos. A fim de facilitar a compreensão da interação entre os fatos e o ordenamento jurídico, eles são classificados em categorias que têm características próprias.

Neste tópico, você estudará, então, como são classificados, internamente, os fatos jurídicos.

A nomenclatura utilizada, tanto na doutrina como na jurisprudência, para classificação dos fatos jurídicos, pode sofrer algumas variações. Atente-se que:

• Fato jurídico em sentido amplo = Fato jurídico lato sensu.

• Fato jurídico em sentido estrito = Fato jurídico stricto sensu.

• Fato humano = Fato jurígeno = Ato humano.

• Ato lícito = Ato jurídico em sentido amplo = Ato jurídico lato sensu.

• Ato jurídico em sentido estrito = Ato jurídico stricto sensu = Ato humano em sentido estrito = Ato humano stricto sensu = Fato humano em sentido estrito = Fato humano stricto sensu.

ATENCAO

(25)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

2.3.1 Fato jurídico em sentido estrito

Fato jurídico em sentido estrito é todo acontecimento decorrente de um evento natural que surte efeitos, ou seja, apresenta consequências jurídicas. De acordo com Farias e Rosenvald (2017, p. 600) “é o acontecimento em cujo suporte fático (tipicidade) estão presentes apenas fatos da natureza, independentes de atividade humana”. Ou seja, não é relevante a manifestação da vontade humana, a atuação direta de um sujeito. Diniz (2006, p. 389) conceitua que “o fato jurídico stricto sensu seria o acontecimento independente da vontade humana, que produz efeitos jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos”.

São exemplos de fatos jurídicos em sentido estrito: o nascimento de uma criança, a morte, o passar do tempo, uma enchente que destrói a casa de alguém, pois todos geram consequências jurídicas.

É importante ter em mente que, “ainda que se tenha eventual participação humana, como no caso do homicídio, não se desnatura o acontecimento como um fato jurídico em sentido estrito, uma vez que a conduta humana é desnecessária para a composição de sua estrutura” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 601). No caso, portanto, o fato jurídico em sentido estrito é a morte que, apesar de decorrer de uma ação humana, é um evento natural, dependendo de fatores que não estão relacionados, exclusivamente, à vontade das partes.

Os fatos jurídicos em sentido estrito podem ser classificados como:

ordinários e extraordinários.

• Fato jurídico em sentido estrito ordinário

Os fatos jurídicos em sentido estrito ordinário “são fenômenos previsíveis, normais, regulares” (NADER, 2015, p. 328), ou seja, “são os acontecimentos de ocorrência costumeira, cotidiana, esperada” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 601). São, portanto, aqueles que esperamos que aconteça, mesmo que não saibamos quando, e que também, por serem previsíveis, as suas consequências já são também previsíveis.

O nascimento é um desses fatos, pois sua ocorrência é algo regular,

normal em nossa sociedade, e as suas consequências jurídicas principais já estão

previstas na legislação, como a aquisição da personalidade jurídica. A morte, do

mesmo modo, é algo previsível, independentemente do modo como ocorrer, ela

é esperada e suas consequências principais já são conhecidas. Outro típico fato

ordinário é o decurso do tempo. O tempo é algo constante, cotidiano e conhecido,

cujas consequências previstas nos seus marcadores (idades, prazos) estão

amplamente regulamentadas. Assim, quando um jovem completa 18 (dezoito)

anos, atingindo a plena capacidade civil, temos a ocorrência de um fato jurídico

em sentido estrito, que deu origem aos direitos daí decorrentes.

(26)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

• Fato jurídico em sentido estrito extraordinário

Os fatos jurídicos em sentido estrito extraordinário, por sua vez, são aqueles eventos excepcionais, imprevisíveis ou irresistíveis, “que se caracterizam pela presença de dois requisitos: o objetivo, que se configura pela inevitabilidade do evento, e o subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do acontecimento”

(DINIZ, 2006, p. 390), como são os casos fortuitos e de força maior.

A definição dos termos caso fortuito e força maior não é pacífica na doutrina.

Enquanto alguns autores entendem que são sinônimos, outros apontam para a existência de diferenças elementares. Gagliano e Pamplona Filho (2015) defendem que, enquanto o que caracteriza a força maior é sua inevitabilidade, o caso fortuito se qualifica pela imprevisibilidade. Os mesmos autores ainda destacam que o caso fortuito pode ser causado por ato humano, razão pela qual não se confunde com o fato jurídico em sentido estrito, mas pode ser sim uma de suas causas, quando não decorrente de ato humano.

NOTA

São exemplos típicos, dessa modalidade, as catástrofes naturais, como enchentes, furacões, terremotos. Nesses casos, porém, é sempre importante lembrar que, para que sejam fatos jurídicos, é preciso que haja algum tipo de consequência jurídica. Se uma tempestade forte faz uma árvore cair sobre uma residência de propriedade de alguém, teremos um fato jurídico em sentido estrito extraordinário. Se uma tempestade de mesma magnitude ocorre no meio do oceano, não atingindo a esfera de direitos de ninguém, não há o que se falar em fato jurídico. Estaremos diante, apenas, de um simples fato.

2.3.2 Ato jurídico em sentido amplo

Avançando nas classificações, agora, serão elencados os fatos jurídicos que decorrem da vontade humana. Importante ter em mente que, quando falamos de vontade humana, não estamos nos referindo a, necessariamente, uma vontade no sentido finalístico, pois, como veremos no ato jurídico em sentido estrito e no ato ilícito, há casos em que a vontade humana está direcionada para um fim específico, mas, na consecução do fim, acabam-se gerando efeitos jurídicos que não foram, necessariamente, desejados ou previstos.

Como você pode notar, neste momento, passamos a usar o termo ato,

e não mais fato (apesar de que, como destacado anteriormente, essas mesmas

classificações sejam referidas por alguns autores como fatos humanos). Isso ocorre

(27)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

porque o termo ato denota a necessidade de um sujeito, de um agente (alguém deve atuar), enquanto o fato pode simplesmente ocorrer sem participação de ninguém.

Os atos humanos podem ser lícitos ou ilícitos.

• Ato lícito

Os atos humanos lícitos são aqueles que estão de acordo com o ordenamento jurídico. Eles estão divididos em atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos.

• Ato jurídico em sentido estrito

O ato jurídico em sentido estrito é, basicamente, uma ação humana que gera efeitos jurídicos, mas sem que o agente tenha manifestado a vontade de que esses efeitos ocorressem. Como salientado antes, a vontade humana, no caso, estará voltada à persecução de um interesse do agente, mas não, necessariamente, no sentido de que sejam geradas as consequências jurídicas que acontecerão, pois já estão previstas na lei.

É o caso da fixação de domicílio. Quando alguém se muda, estabelecendo sua residência com ânimo definitivo, não pensa nas consequências jurídicas do ato, quanto à configuração dos efeitos da fixação de domicílio, não negocia com ninguém, ou quando se configurará o domicílio. A simples mudança com caráter definitivo é suficiente para trazer consequências jurídicas.

Do mesmo modo, o reconhecimento de filiação (de paternidade ou maternidade), não resultante de casamento, também é um ato jurídico em sentido estrito, pois, ao reconhecer a criança como filho, não há possibilidade de negociar as consequências. Os direitos e deveres inerentes a essa relação já estão previstos no ordenamento.

O ato jurídico em sentido estrito, portanto, “constitui simples manifestação de vontade, sem conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 353). Pode- se dizer, ainda, que é o ato que “gera consequências jurídicas previstas em lei (tipificadas previamente), desejadas, bem verdade, pelos interessados, mas sem qualquer regulamentação da autonomia privada” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 604).

Neste tipo de ato, não existe propriamente uma declaração de vontade manifestada com o propósito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos pretendidos pelo agente (como no negócio jurídico), mas sim um simples comportamento humano deflagrador de efeitos previamente estabelecidos por lei (GAGLIANO;

PAMPLONA FILHO, 2015, p. 353).

(28)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

Outros exemplos que podem ser citados são a ocupação, o perdão, a quitação, a interpelação. São todas situações em que há uma atuação humana que gera consequências jurídicas conforme previsão legal.

É possível perceber ser desnecessária uma regulamentação geral sobre os atos jurídicos, uma vez que suas consequências estarão previstas e reguladas pelos respectivos institutos legais. Assim, a única disposição legal expressa sobre os atos jurídicos é o artigo 185 do CC/02, que assim dispõe: “Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior”.

Portanto, a regulamentação dos atos jurídicos em sentido estrito (que são os que não são negócios jurídicos) se dará pelas regras do próprio instituto legal e, se necessário e no que couber, pelas disposições sobre os negócios jurídicos.

Alguns doutrinadores dividem os atos jurídicos em duas modalidades: atos materiais e participações. Conforme lecionam Farias e Rosenvald (2017, p. 606):

[...] os atos materiais (ou reais) resultariam da atuação da manifestação volitiva corporificada em ato material (exemplo da tomada da posse), englobando um elemento psíquico (vontade) e outro concreto (a prática do ato correspondente). Não haveria destinatário, consistindo na simples atuação da vontade corporificada, dando existência imediata. São, na realidade, os atos-fatos jurídicos que estudamos alhures. Por seu turno, as participações se caracterizam pela exteriorização de vontade para a ciência de fatos ou intenções, como na interpelação.

Discordando desses autores, Gagliano e Pamplona Filho (2015) entendem que os atos materiais não se confundem com os atos-fatos jurídicos, pois, nos primeiros, é necessária a vontade consciente e, nos últimos, não.

NOTA

• Negócio jurídico

Dentre os atos humanos lícitos, é o negócio jurídico que tem maior

destaque. Isso ocorre não só porque ele permeia as nossas vidas cotidianas, mas

porque ele é fruto do exercício da autonomia privada dos indivíduos. São, nos

negócios jurídicos, que os particulares utilizam a liberdade que têm de regular

as suas relações jurídicas. Consequentemente, são os fatos jurídicos com maior

número de variáveis e necessidade de melhor regulamentação, a fim de que não

sejam utilizados para fins repudiados pelo ordenamento.

(29)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

O negócio jurídico será o objeto de estudo dos próximos tópicos, e também da Unidade 2 desta disciplina. Assim, neste momento, é importante apenas que você entenda suas principais características, as quais o distinguem dos demais fatos jurídicos.

Negócio jurídico é o “ato jurídico em que há uma composição de interesses das partes com uma finalidade específica. A expressão tem origem na construção da negação do ócio ou descanso (neg + otium), ou seja, na ideia de movimento”

(TARTUCE, 2016, p. 221). No negócio jurídico, os sujeitos utilizam a sua liberdade para criar normas que regulem a relação das partes e prevejam as consequências das suas ações relativas ao negócio regulado. O principal exemplo de negócio jurídico é o contrato, em todas as suas espécies. Também são negócios jurídicos, por exemplo, as convenções de condomínio, os testamentos, o regimento interno elaborado pelos estudantes moradores de uma república etc.

Objetivamente, o que diferencia o negócio jurídico do ato jurídico em sentido estrito é que, no negócio jurídico, são as próprias partes que decidem como se dará a relação jurídica e quais as consequências dela, enquanto no ato jurídico em sentido estrito a parte só age, gerando efeitos que estão previstos na lei e que não são alterados por sua vontade.

O negócio jurídico, devido à amplitude do tema, será estudado mais profundamente a partir do Tópico 3.

ESTUDOS FUTUROS

• Ato ilícito

O ato ilícito é também um ato humano. Todavia, no caso, as consequências, previstas ou não, da atuação humana, são contrárias ao ordenamento jurídico.

Farias e Rosenvald (2017, p. 595) destacam que “tanto o estatuto civil de 1916

quanto o de 2002 consideram o fato ilícito como jurídico, apenas realçando que os

efeitos produzidos são desconformes à ordem jurídica (Arts. 186 e ss, CC)”. É o

caso, por exemplo, de uma batida entre automóveis. Há um ato humano (pessoas

conduzindo os veículos) e consequências em desacordo com o direito (dano aos

automóveis).

(30)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

Do mesmo modo, o ato ilícito, devido à regulamentação própria e especificidades, será abordado em tópico próprio na Unidade 3.

ESTUDOS FUTUROS

2.3.3 Ato-fato jurídico

Apesar de alguns autores defenderem não ser cabível a classificação, pois estaria abarcada pelos atos jurídicos em sentido estrito real, boa parte da doutrina ainda a adota. Desse modo, é importante que você conheça a definição trazida por essa parcela de estudiosos do tema.

O ato-fato jurídico nada mais é que um FATO JURÍDICO qualificado pela atuação humana [...].

No ato-fato jurídico, o ato humano é realmente da substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não, intenção de praticá-lo.

O que se ressalta, na verdade, é a consequência do ato, ou seja, o fato resultante, sem se dar maior significância se houve vontade ou não de realizá-lo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 351).

No ato-fato jurídico, a vontade do agente é irrelevante. Assim, segundo os

mesmos autores, um bom exemplo seria a compra de um doce por uma criança,

pois esta não teria a sua vontade direcionada à realização do negócio. Inclusive,

se considerado negócio, seria nulo de pleno direito, conforme você estudará mais

à frente, mas, considerado ato-fato jurídico, pode ser reconhecido por ter ampla

aceitação social.

(31)

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

LEITURA COMPLEMENTAR

Fatos jurídicos: uma breve análise conceitual

Marden De Carvalho Nogueira DA DEFESA DOS DIREITOS:

A ideia de um estado democrático de direito é pautada, fundamentalmente, na possibilidade de os cidadãos exercerem, de modo ativo, a conservação e defesa de seus direitos. É justamente dentro dessa perspectiva que se enquadra a questão da defesa de uma pessoa nos negócios jurídicos. “De nada adiantaria a existência dos direitos se o ordenamento jurídico não fornecesse, ao titular, um meio de exercê-los, ou melhor, de defendê-los, caso fossem ameaçados ou fossem sido tolhidos em seu exercício” (VENOSA, 2004, p. 393).

Para resguardar esses direitos, é necessário, muitas vezes, que o titular esteja munido de certas precauções. Isso significa que este deve tomar certas medidas ou providências, podendo ser preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais.

Por medidas de caráter preventivo, devemos entender aquelas que visam proteger a violação de um direito futuro, possuindo natureza judicial, se fizerem menção às medidas cautelares previstas no Código de Processo Civil. Como exemplo, temos: busca e apreensão, protesto, notificação interpelação, arresto etc.

Possuem um caráter extrajudicial aquelas medidas que asseguram a realização de obrigação creditícia, como as garantias reais, por exemplo, a alienação fundiária em garantias, a hipoteca, o penhor etc.

Já as medidas repressivas se tratam de dispositivos que têm, por objetivo, restaurar um direito violado. Essa pretensão é deduzida por meio de ação judicial, um direito garantido de movimentar o poder judiciário (Art. 5º, XXXV da Constituição Federal) para pedir proteção, fazendo com que se cesse a violação do direito subjetivo, uma vez que este seja legitimado para agir e que tenha interesse econômico.

A doutrina traz, ainda, a possibilidade de uma autodefesa ou defesa privada, apenas excepcionalmente permitida, para prevenir eventuais excessos.

Esse mecanismo de defesa está previsto no Art. 188, I e II do Código Civil:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - Os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - Deterioração ou destruição da coisa alheia, ou lesão à pessoa, a fim

de remover perigo iminente.

(32)

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

Ainda, dentro da defesa na esfera privada, pode ser usado o disposto no Art. 1.210, § 1º, em que se permite, ao possuidor, fazer uso da legítima defesa e do desforço imediato para manter-se ou restituir-se na posse por sua própria força, guardadas as devidas proporções.

A íntegra do texto pode ser acessada através do link a seguir: https://

conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/42919/fatos-juridicos-uma-breve-

analise-conceitual.

(33)

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os acontecimentos podem ter consequências, sendo, então, chamados de fatos jurídicos.

• Os fatos jurídicos dão origem, modificam, extinguem ou servem para a conservação dos direitos.

• Os fatos jurídicos podem ser classificados em: fatos jurídicos em sentido estrito, atos jurídicos lícitos e ilícitos e atos-fatos jurídicos.

• Os fatos jurídicos em sentido estrito são fatos que decorrem de eventos da natureza.

• Os atos jurídicos em sentido estrito são fatos jurídicos decorrentes da ação humana, cujas consequências jurídicas já estão previstas na lei.

• Os negócios jurídicos são fatos jurídicos decorrentes da ação humana, cuja forma de execução e consequências são previstas pelos próprios envolvidos.

• Os atos ilícitos são condutas humanas que contrariam o ordenamento jurídico.

• Os atos-fatos jurídicos são fatos jurídicos realizados por sujeitos, cujas consequências, porém, independem da vontade do agente.

RESUMO DO TÓPICO 1

(34)

1 Os fatos jurídicos são os responsáveis por gerar os direitos subjetivos. Sobre esses direitos, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) São aqueles aplicáveis a um caso concreto após a ocorrência de um fato jurídico.

b) ( ) São aqueles previstos exclusivamente em contratos escritos assinados pelos interessados.

c) ( ) São aqueles previstos genericamente na lei, abstratamente aplicáveis a todos.

d) ( ) São aqueles criados livremente pelas partes após a ocorrência de um fato jurídico.

2 Os fatos jurídicos são acontecimentos naturais ou decorrentes da vontade humana que dão origem, extinguem e modificam direitos. A depender da sua origem, os fatos jurídicos podem ser classificados em algumas categorias: fatos jurídicos em sentido estrito, atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos. Em contraposição aos fatos jurídicos, nós temos fatos que não têm relevância, são simples fatos. Tendo isso em conta, relacione a classificação com o exemplo apresentado na sequência:

(1) Simples fato

(2) Fato jurídico em sentido estrito (3) Ato jurídico em sentido estrito (4) Negócio jurídico

( ) João comprou o carro de Maria, tendo sido combinado que o pagamento será feito em duas parcelas de igual valor.

( ) Saulo teve que mudar de cidade em razão do trabalho. Atualmente, reside em São Paulo.

( ) Houve uma grande tempestade em alto-mar nesta noite.

( ) Carlos fez um testamento deixando grande parte do seu patrimônio para a sobrinha.

( ) José faleceu mês passado.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) 3 – 1 – 2 – 4 – 1.

b) ( ) 4 – 3 – 2 – 3 – 1.

c) ( ) 4 – 3 – 1 – 4 – 2.

d) ( ) 3 – 1 – 1 – 3 – 2.

AUTOATIVIDADE

(35)

TÓPICO 2 —

UNIDADE 1

NEGÓCIO JURÍDICO

1 INTRODUÇÃO

Agora que já entendeu o que são os fatos jurídicos e as suas diferentes modalidades, você aprofundará seus conhecimentos sobre o negócio jurídico, que é o fato jurídico com maiores implicações no cotidiano do operador do Direito.

Estamos todos os dias a fazer contratos, travar negociações, elaborar regras para convivência. Tudo isso é negócio jurídico!

Neste tópico, então, abordaremos a teoria geral dos negócios jurídicos, compreenderemos as suas classificações, estudaremos as formas de interpretação e, por fim, analisaremos a estrutura.

2 NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os negócios jurídicos, conforme estudado no tópico anterior, são um tipo de ato jurídico lícito. A partir disso, podemos extrair duas de suas principais características: eles dependem da vontade humana e devem estar de acordo com o ordenamento jurídico. Assim, antes de estudar a definição de negócio jurídico, é importe entender seus alicerces e os princípios que os cercam.

FIGURA 2 – NEGOCIAÇÃO

FONTE: https://unsplash.com/photos/HJckKnwCXxQ. Acesso em 13 jul 2020.

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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

2.1 TEORIA GERAL DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os negócios jurídicos são exercícios da autonomia da vontade (ou autonomia privada), uma externalização da liberdade individual para regulação dos interesses privados.

A liberdade que a ordem jurídica confere às pessoas para a realização de negócios jurídicos permite um melhor ajustamento nos interesses sociais. Pelos negócios jurídicos, as pessoas naturais e jurídicas criam o seu próprio dever, assumindo, espontaneamente, novas obrigações e adquirindo direitos. Os negócios constituem, ao lado do Direito escrito e costumeiro, uma fonte especial de elaboração de normas jurídicas individualizadas, denominada fonte negocial. Essa possibilidade, que decorre do princípio da autonomia da vontade, atende, em parte, à filosófica existencialista, que não concorda com a uniformização de tratamento jurídico, pois cada pessoa é portadora de uma natureza e de um condicionamento próprio (NADER, 2015, p. 325).

Através dos negócios jurídicos que os sujeitos podem ajustar as regras de uma relação aos seus interesses e necessidades no caso concreto.

Os negócios jurídicos, apesar de servirem para regular os interesses privados, devem estar sempre pautados nos princípios constitucionais da dignidade humana, boa-fé, equilíbrio econômico e solidarismo social. Ou seja, a negociação, mesmo que entre pessoas maiores e capazes, não pode dispor sobre a cessão de direitos de personalidade, por exemplo. Também não é possível prever obrigações que coloquem o sujeito em condições degradantes, ou em que uma parte se beneficie de uma vulnerabilidade da outra. Além disso, muito embora, em regra, os negócios jurídicos só digam respeito às partes diretamente envolvidas, eles poderão, direta ou indiretamente, afetar terceiros e, em razão disso, deverão observar algumas limitações (por exemplo, quando da compra de uma empresa por outra, apesar de o negócio jurídico se dar entre as empresas, pessoas jurídicas, existirão consequências para os funcionários, especialmente da empresa adquirida).

Um tema sempre interessante com relação aos negócios jurídicos é a possibilidade de disposição dos direitos de personalidade por negócio jurídico. Com relação aos direitos de personalidade, não é possível que sofram uma limitação voluntária, sendo possível, somente, uma disponibilidade relativa (limitada) de expressões do uso do direito de personalidade, desde que não seja de forma geral e nem permanente.

NOTA

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TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO

Feitas essas breves observações sobre a relação dos negócios jurídicos com a autonomia, além das limitações impostas pelos princípios, podemos analisar o conceito de negócio jurídico.

In concreto, negócio jurídico é todo fato jurídico consistente em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica (AZEVEDO, 2017, p.

16).

Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 365), por sua vez, conceituam negócio jurídico como:

a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento jurídico pretendidos pelo agente.

Dessas definições, é possível extrair que negócio jurídico: 1) é declaração de vontade; 2) deve respeitar os pressupostos de existência, validade e eficácia; 3) seus efeitos devem ser admitidos pelo ordenamento jurídico.

A declaração de vontade é o exercício da autonomia, como já estudado.

As formas como essa declaração pode ser feita serão abordadas nos próximos tópicos, assim como os pressupostos de existência, validade e eficácia. Quanto aos efeitos admitidos, dizem respeito, dentre outros aspectos, às limitações para disposição de direitos. Por exemplo, como você já estudou, as limitações negociais sobre os direitos de personalidade.

Ne sequência, você estudará as formas como os negócios jurídicos podem ser classificados, momento em que, a partir dos exemplos apresentados, compreenderá a amplitude do negócio jurídico na vida jurídica moderna.

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os negócios jurídicos podem ser classificados sob diversos aspectos, como você verá na sequência. Essas classificações são importantes para, com o aprofundamento do estudo tanto da parte geral do Direito Civil como das disposições especiais, você conseguir identificar a quais tipos de negócios jurídicos se aplicam determinadas previsões legais e princípios. Vejamos, então, quais são as classificações:

• Quanto ao número de declarantes: esta classificação diz respeito ao número de

partes que manifestou vontade de fazer o negócio jurídico. Importante lembrar

que uma parte pode ser composta por mais de uma pessoa, como no caso em

que um casal adquire um imóvel: apesar de serem duas pessoas, correspondem

a uma declaração de vontade, a de comprar o bem.

Referências

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