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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO

2.3.3 Ato-fato jurídico

Apesar de alguns autores defenderem não ser cabível a classificação, pois estaria abarcada pelos atos jurídicos em sentido estrito real, boa parte da doutrina ainda a adota. Desse modo, é importante que você conheça a definição trazida por essa parcela de estudiosos do tema.

O ato-fato jurídico nada mais é que um FATO JURÍDICO qualificado pela atuação humana [...].

No ato-fato jurídico, o ato humano é realmente da substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não, intenção de praticá-lo.

O que se ressalta, na verdade, é a consequência do ato, ou seja, o fato resultante, sem se dar maior significância se houve vontade ou não de realizá-lo (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 351).

No ato-fato jurídico, a vontade do agente é irrelevante. Assim, segundo os mesmos autores, um bom exemplo seria a compra de um doce por uma criança, pois esta não teria a sua vontade direcionada à realização do negócio. Inclusive, se considerado negócio, seria nulo de pleno direito, conforme você estudará mais à frente, mas, considerado ato-fato jurídico, pode ser reconhecido por ter ampla aceitação social.

TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO

LEITURA COMPLEMENTAR

Fatos jurídicos: uma breve análise conceitual

Marden De Carvalho Nogueira DA DEFESA DOS DIREITOS:

A ideia de um estado democrático de direito é pautada, fundamentalmente, na possibilidade de os cidadãos exercerem, de modo ativo, a conservação e defesa de seus direitos. É justamente dentro dessa perspectiva que se enquadra a questão da defesa de uma pessoa nos negócios jurídicos. “De nada adiantaria a existência dos direitos se o ordenamento jurídico não fornecesse, ao titular, um meio de exercê-los, ou melhor, de defendê-los, caso fossem ameaçados ou fossem sido tolhidos em seu exercício” (VENOSA, 2004, p. 393).

Para resguardar esses direitos, é necessário, muitas vezes, que o titular esteja munido de certas precauções. Isso significa que este deve tomar certas medidas ou providências, podendo ser preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais.

Por medidas de caráter preventivo, devemos entender aquelas que visam proteger a violação de um direito futuro, possuindo natureza judicial, se fizerem menção às medidas cautelares previstas no Código de Processo Civil. Como exemplo, temos: busca e apreensão, protesto, notificação interpelação, arresto etc.

Possuem um caráter extrajudicial aquelas medidas que asseguram a realização de obrigação creditícia, como as garantias reais, por exemplo, a alienação fundiária em garantias, a hipoteca, o penhor etc.

Já as medidas repressivas se tratam de dispositivos que têm, por objetivo, restaurar um direito violado. Essa pretensão é deduzida por meio de ação judicial, um direito garantido de movimentar o poder judiciário (Art. 5º, XXXV da Constituição Federal) para pedir proteção, fazendo com que se cesse a violação do direito subjetivo, uma vez que este seja legitimado para agir e que tenha interesse econômico.

A doutrina traz, ainda, a possibilidade de uma autodefesa ou defesa privada, apenas excepcionalmente permitida, para prevenir eventuais excessos.

Esse mecanismo de defesa está previsto no Art. 188, I e II do Código Civil:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - Os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - Deterioração ou destruição da coisa alheia, ou lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente.

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

Ainda, dentro da defesa na esfera privada, pode ser usado o disposto no Art. 1.210, § 1º, em que se permite, ao possuidor, fazer uso da legítima defesa e do desforço imediato para manter-se ou restituir-se na posse por sua própria força, guardadas as devidas proporções.

A íntegra do texto pode ser acessada através do link a seguir: https://

conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/42919/fatos-juridicos-uma-breve-analise-conceitual.

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os acontecimentos podem ter consequências, sendo, então, chamados de fatos jurídicos.

• Os fatos jurídicos dão origem, modificam, extinguem ou servem para a conservação dos direitos.

• Os fatos jurídicos podem ser classificados em: fatos jurídicos em sentido estrito, atos jurídicos lícitos e ilícitos e atos-fatos jurídicos.

• Os fatos jurídicos em sentido estrito são fatos que decorrem de eventos da natureza.

• Os atos jurídicos em sentido estrito são fatos jurídicos decorrentes da ação humana, cujas consequências jurídicas já estão previstas na lei.

• Os negócios jurídicos são fatos jurídicos decorrentes da ação humana, cuja forma de execução e consequências são previstas pelos próprios envolvidos.

• Os atos ilícitos são condutas humanas que contrariam o ordenamento jurídico.

• Os atos-fatos jurídicos são fatos jurídicos realizados por sujeitos, cujas consequências, porém, independem da vontade do agente.

RESUMO DO TÓPICO 1

1 Os fatos jurídicos são os responsáveis por gerar os direitos subjetivos. Sobre esses direitos, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) São aqueles aplicáveis a um caso concreto após a ocorrência de um fato jurídico.

b) ( ) São aqueles previstos exclusivamente em contratos escritos assinados pelos interessados.

c) ( ) São aqueles previstos genericamente na lei, abstratamente aplicáveis a todos.

d) ( ) São aqueles criados livremente pelas partes após a ocorrência de um fato jurídico.

2 Os fatos jurídicos são acontecimentos naturais ou decorrentes da vontade humana que dão origem, extinguem e modificam direitos. A depender da sua origem, os fatos jurídicos podem ser classificados em algumas categorias: fatos jurídicos em sentido estrito, atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos. Em contraposição aos fatos jurídicos, nós temos fatos que não têm relevância, são simples fatos. Tendo isso em conta, relacione a classificação com o exemplo apresentado na sequência:

(1) Simples fato

(2) Fato jurídico em sentido estrito (3) Ato jurídico em sentido estrito (4) Negócio jurídico

( ) João comprou o carro de Maria, tendo sido combinado que o pagamento será feito em duas parcelas de igual valor.

( ) Saulo teve que mudar de cidade em razão do trabalho. Atualmente, reside em São Paulo.

( ) Houve uma grande tempestade em alto-mar nesta noite.

( ) Carlos fez um testamento deixando grande parte do seu patrimônio para a sobrinha.

( ) José faleceu mês passado.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) 3 – 1 – 2 – 4 – 1.

b) ( ) 4 – 3 – 2 – 3 – 1.

c) ( ) 4 – 3 – 1 – 4 – 2.

d) ( ) 3 – 1 – 1 – 3 – 2.

AUTOATIVIDADE

TÓPICO 2 —

UNIDADE 1

NEGÓCIO JURÍDICO

1 INTRODUÇÃO

Agora que já entendeu o que são os fatos jurídicos e as suas diferentes modalidades, você aprofundará seus conhecimentos sobre o negócio jurídico, que é o fato jurídico com maiores implicações no cotidiano do operador do Direito.

Estamos todos os dias a fazer contratos, travar negociações, elaborar regras para convivência. Tudo isso é negócio jurídico!

Neste tópico, então, abordaremos a teoria geral dos negócios jurídicos, compreenderemos as suas classificações, estudaremos as formas de interpretação e, por fim, analisaremos a estrutura.

2 NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os negócios jurídicos, conforme estudado no tópico anterior, são um tipo de ato jurídico lícito. A partir disso, podemos extrair duas de suas principais características: eles dependem da vontade humana e devem estar de acordo com o ordenamento jurídico. Assim, antes de estudar a definição de negócio jurídico, é importe entender seus alicerces e os princípios que os cercam.

FIGURA 2 – NEGOCIAÇÃO

FONTE: https://unsplash.com/photos/HJckKnwCXxQ. Acesso em 13 jul 2020.

UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS

2.1 TEORIA GERAL DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os negócios jurídicos são exercícios da autonomia da vontade (ou autonomia privada), uma externalização da liberdade individual para regulação dos interesses privados.

A liberdade que a ordem jurídica confere às pessoas para a realização de negócios jurídicos permite um melhor ajustamento nos interesses sociais. Pelos negócios jurídicos, as pessoas naturais e jurídicas criam o seu próprio dever, assumindo, espontaneamente, novas obrigações e adquirindo direitos. Os negócios constituem, ao lado do Direito escrito e costumeiro, uma fonte especial de elaboração de normas jurídicas individualizadas, denominada fonte negocial. Essa possibilidade, que decorre do princípio da autonomia da vontade, atende, em parte, à filosófica existencialista, que não concorda com a uniformização de tratamento jurídico, pois cada pessoa é portadora de uma natureza e de um condicionamento próprio (NADER, 2015, p. 325).

Através dos negócios jurídicos que os sujeitos podem ajustar as regras de uma relação aos seus interesses e necessidades no caso concreto.

Os negócios jurídicos, apesar de servirem para regular os interesses privados, devem estar sempre pautados nos princípios constitucionais da dignidade humana, boa-fé, equilíbrio econômico e solidarismo social. Ou seja, a negociação, mesmo que entre pessoas maiores e capazes, não pode dispor sobre a cessão de direitos de personalidade, por exemplo. Também não é possível prever obrigações que coloquem o sujeito em condições degradantes, ou em que uma parte se beneficie de uma vulnerabilidade da outra. Além disso, muito embora, em regra, os negócios jurídicos só digam respeito às partes diretamente envolvidas, eles poderão, direta ou indiretamente, afetar terceiros e, em razão disso, deverão observar algumas limitações (por exemplo, quando da compra de uma empresa por outra, apesar de o negócio jurídico se dar entre as empresas, pessoas jurídicas, existirão consequências para os funcionários, especialmente da empresa adquirida).

Um tema sempre interessante com relação aos negócios jurídicos é a possibilidade de disposição dos direitos de personalidade por negócio jurídico. Com relação aos direitos de personalidade, não é possível que sofram uma limitação voluntária, sendo possível, somente, uma disponibilidade relativa (limitada) de expressões do uso do direito de personalidade, desde que não seja de forma geral e nem permanente.

NOTA