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TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

2.1 ERRO

O erro jurídico não é assim tão distinto dos erros que as pessoas cometem em outras esferas das suas vidas. Imagine que você, aluno dos primeiros semestres do curso, esteja respondendo uma prova de Direito Civil em que se pergunta se um adolescente de 17 (dezessete) anos é absolutamente incapaz e, ao consultar a legislação, você não se atenta para as diferenças entre as previsões dos Arts.

3º e 4º do Código, e responde que sim. Na questão seguinte, pergunta-se se é válido o casamento de uma mulher com o pai de seu ex-marido e você também responde que sim. Nesta situação, você teria cometido erro em ambas as questões, pois os adolescentes de 17 (dezessete) anos são apenas incapazes relativamente a certos atos, bem como o ordenamento jurídico brasileiro proíbe o casamento entre parentes em linha reta. No primeiro caso, você errou porque teve uma falsa percepção da realidade, ao entender que o adolescente seria absolutamente incapaz. Na segunda situação, você errou por ignorância, pois ainda desconhece os preceitos jurídicos que regem o direito de família. Assim como em uma prova, alguém pode errar no momento de manifestar a sua vontade e realizar um negócio jurídico.

TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

O defeito em questão está nomeado no Código Civil de 2002 com “Do Erro ou Ignorância”, entretanto, nos dispositivos da lei, é apenas mencionado o erro. Isso significa que as previsões ali elencadas e as consequências dos negócios jurídicos viciados, seja por erro ou ignorância, são as mesmas, tornando-se de pouca importância a diferenciação entre eles. Todavia, para fins didáticos, é interessante ter em mente o que se tem como erro propriamente dito, e o que seria a ignorância que vicia o negócio jurídico.

De acordo com Pereira (2011), no erro, existe uma deformação do conhecimento relativamente às circunstâncias que revestem a manifestação de vontade. A ignorância importa no desconhecimento do que determina a declaração de vontade. Gagliano e Pamplona Filho (2015) explicam também que embora a lei não estabeleça distinções, o erro é um estado de espírito positivo, qual seja, a falsa percepção da realidade, ao passo que a ignorância é um estado de espírito negativo, o total desconhecimento do declarante a respeito das circunstâncias do negócio. Ou seja, no erro, a pessoa que está realizando o negócio jurídico imagina que uma coisa é diferente do que ela realmente é, como nos famosos casos de compras pela internet, quando se imagina que está adquirindo uma cadeira, e na verdade é um peso de papel em formato de cadeira. Ou então, quando alguém adquire um filhote de porquinho-da-índia, pensando ser um hamster.

Já a ignorância ocorre quando a pessoa desconhece algum fato relevante e, por isso, manifesta sua vontade no sentido de realizar determinado negócio jurídico. Por exemplo, quando uma pessoa, achando ser a única herdeira, já negocia a venda do terreno que acredita que receberá ao final do inventário, ignorando, porém, que o pai tinha outros dois filhos com quem deverá dividir o patrimônio.

Apesar das diferenças das causas dos erros, seja por erro propriamente dito ou por ignorância, deve-se ter em mente que a distinção é puramente teórica. A franca maioria doutrinária e a própria legislação utilizam-se das expressões como sinônimas, não distinguindo o erro da ignorância (FARIAS; ROSENVALD, 2017).

Você deve perceber, portanto, que o erro (ou ignorância) é um defeito do negócio jurídico porque faz com que a manifestação da vontade da parte do negócio jurídico não corresponda ao que ele realmente quer. Ele implica uma divergência inconsciente entre a vontade e a sua manifestação (MELLO, 2015).

O resultado do negócio não será o esperado, pois a manifestação foi feita sobre pressupostos equivocados. Portanto, tendo em vista que a manifestação de vontade é o elemento central de todo negócio jurídico, se ela não está de acordo com a real vontade da parte, preenchidos alguns requisitos que você estudará na sequência, o negócio será anulável, ou seja, poderá ser invalidado.

UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA

O erro deve ser sempre um equívoco espontâneo. Conforme explicam Farias e Rosenvald (2017, p. 656), “no erro o agente incorre sozinho em lapso, sem qualquer ação de terceiro ou da parte contrária. Por isso, se, porventura, houver indução ao erro, altera-se a categoria jurídica, caracterizando o dolo”.

NOTA

Se você compreendeu bem o que é, afinal, o erro, deve estar pensando em quão frequentemente ele ocorre. Todavia, não é qualquer erro que permite a anulação do negócio jurídico. Para que isso seja possível, é necessário que o erro seja substancial (também referido como essencial por parte da doutrina), conforme previsto no Art. 138 do Código Civil (BRASIL, 2002, s.p):

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

Você deve estar se perguntando, então: o que é um erro substancial? O que o diferencia dos tantos erros que se cometem diariamente? A resposta mais objetiva está no Art. 139. Vejamos:

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico (BRASIL, 2002, s.p)

Cada um desses incisos será explorado na sequência. Entretanto, o que todos têm em comum que tornam os erros ali previstos substanciais a ponto de permitirem a anulação do negócio jurídico?

A substancialidade do erro está relacionada com o fato de que o equívoco recaiu sobre um elemento essencial do negócio. Ou seja, se a pessoa não tivesse errado, não tivesse aquela percepção equivocada, não ignorasse algum fato, ela não teria realizado o negócio. Portanto, o erro substancial é aquele que foi determinante para a decisão da parte em realizar o negócio jurídico. Por exemplo:

se Fulano soubesse que a sala comercial que alugou não permitia a modificação da fachada, não teria feito o contrato; se Sicrano soubesse que o celular que comprou não funcionava fora do país, não o teria comprado; se Beltrano tivesse se atentado que o contrato de decoração da festa de seu filho não incluía a locação das mesas e cadeiras, não teria fechado o negócio.

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Logo, pode-se dizer que o erro substancial deve ser de tal ordem que o negócio jurídico não se realizaria se a realidade fosse conhecida do manifestante da vontade. Portanto, não basta que haja erro quanto à substância do negócio jurídico, mas é necessário que sua intensidade seja capaz de, efetivamente, viciar à vontade (MELLO, 2015).

Como advertem Farias e Rosenvald (2017, p. 656), “a análise da existência, ou não, do erro envolve matéria fática (quastio facti), demandando a produção de prova”. Desse modo, não basta que a parte que errou alegue este fato, ela deverá prová-lo, demonstrando que efetivamente não teria realizado o negócio se não tivesse errado.

Quer dizer, então, que nos exemplos dados os negócios são todos anuláveis? Não, necessariamente! Além de ser substancial, há outros elementos que devem estar presentes para que o negócio possa ser invalidado. É sobre este ponto que recai a maior controvérsia da doutrina no que tange à matéria dos defeitos dos negócios jurídicos. Para que você a compreenda, leia, com atenção, a segunda parte do Art. 138:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio (BRASIL, 2002, s.p)

Quem, afinal, é essa pessoa de diligência normal? A pessoa que errou ou a outra parte do negócio? Se a interpretação for no sentido de que se trata da pessoa que errou, o outro elemento que deverá ser comprovado para que o erro possa ensejar a anulação do negócio jurídico é a escusabilidade. Se for no sentido de que é a outra parte do negócio, o requisito que deverá ser comprovado é a cognoscibilidade. Até o momento, ainda não há unanimidade sobre o assunto na doutrina pátria. Assim, você deve conhecer ambas as posições, posto que ainda há grande divergência, seja nos debates teóricos, seja na aplicação da norma aos casos concretos.

Primeiramente, o que quer dizer escusabilidade? Escusar é perdoar. Ou seja, o erro escusável é aquele que pode ser perdoado, pois praticamente qualquer pessoa de diligência normal (ou o tal do “homem médio”) também o cometeria.

Não houve uma negligência, não foi um descuido daquela pessoa específica. Foi um equívoco que outras pessoas, nas mesmas circunstâncias também cometeriam.

Pensando nos exemplos trazidos, no caso de Beltrano, que contratou a empresa de decoração, provavelmente não se reconheceria a escusabilidade, pois se tivesse pesquisado um pouco mais, ou inquirido diretamente a empresa contratada, provavelmente teria descoberto que não estava incluído no serviço o aluguel de mesas e cadeiras.

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Já cognoscibilidade diz respeito àquilo que pode ser conhecido, que pode ser percebido. No caso, um erro cognoscível seria aquele que a outra parte do negócio (não a que está cometendo o erro) poderia ter percebido que havia algo errado com a manifestação de vontade do outro contratante. Ocorreria, por exemplo, no caso de Sicrano que, ao comprar o celular no Brasil, menciona que mora na Costa Rica e que levaria o aparelho para lá. Nessa situação, o vendedor poderia perceber que Sicrano estava equivocado quanto ao modelo do aparelho escolhido, visto que este não funciona no exterior.

A parte da doutrina que defende que o segundo elemento que deve estar presente para a anulação do negócio jurídico é a escusabilidade:

A norma do Art. 138 tem a escusabilidade, não a recognoscibilidade, como elemento essencial à configuração (= completante do suporte fáctico) do erro substancial invalidante, donde se dever concluir que o erro imperdoável, inescusável, não pode servir de fundamento à anulabilidade do negócio jurídico. De modo algum a norma adotou o reconhecimento do erro pelo outro figurante como elemento tipificador do erro invalidante, inferência a que se chega da simples interpretação gramatical da norma. O emprego do verbo poder no futuro do pretérito (poderia ser percebido), que denota incerteza, probabilidade, dúvida sobre algo, não certeza, realidade, e relaciona o requisito de agir como pessoa de diligência normal ao figurante que errou, não ao outro figurante. O que a norma exige é que as pessoas usem de normal diligência no tráfico negocial, punindo aquele que age negligentemente. A norma não se dirige ao outro figurante do negócio, mas àquele que alega o erro. Se aquele que errou atuou, em face das circunstâncias do negócio, com diligência normal, o seu erro é escusável e, portanto, é o negócio anulável. Se, ao contrário, a sua análise das circunstâncias do negócio foi negligente, estulta, grosseira, o erro é inescusável e, portanto, não constitui causa de anulabilidade (MELLO, 2015, s.p).

Ainda, para Mello (2015), o requisito não pode ser a cognoscibilidade, pois neste caso o vício seria o dolo, e não erro. No mesmo sentido, é a posição de Monteiro e Pinto (2016), e de Gagliano e Pamplona Filho (2015), que ainda advertem que a escusabilidade deve ser observada no caso concreto, posto que o que é perdoável para um sujeito comum, não será de um especialista no objeto.

Do outro lado, estão os estudiosos que defendem que o Código Civil de 2002 substituiu o requisito da escusabilidade pelo da cognoscibilidade. Entendem que o negócio só será anulado se presumível ou possível o reconhecimento do erro pelo outro contratante (DINIZ, 2006). Nesse sentido, é didática a explicação feita a seguir:

TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

Vejamos um exemplo para demonstrar como o erro não precisa ser mais escusável, o que ampara a primeira corrente, consubstanciado no enunciado doutrinário. Imagine-se que um jovem estudante recém-chegado do interior de Minas Gerais a São Paulo vá até o Viaduto do Chá, no centro da Capital. Lá, na ponta do viaduto, encontra um vendedor – na verdade, um ambulante que vende pilhas – com uma placa ‘Vende-se’. O estudante mineiro então paga R$ 5.000,00 pensando que está comprando o viaduto, e a outra parte nada diz. No caso descrito, o erro é muito grosseiro, ou seja, não escusável, e, pela sistemática anterior, a venda não poderia ser anulada. Mas, pela nova visão do instituto, caberá a anulação, mormente porque a outra parte, ciente do erro, permaneceu em silêncio, recebendo o dinheiro. Ora, se a lei protege quem cometeu um erro justificável, muito mais deve proteger aquele que pratica o erro inescusável, diante da proteção do portador da boa-fé (TARTUCE, 2016, p. 255).

Farias e Rosenvald (2017, p. 657) destacam a relevância do princípio da confiança para a interpretação do dispositivo legal em questão:

Na sistemática do Código Civil de 2002, no entanto, não há mais a exigência do requisito escusabilidade para a caracterização do erro como defeito do negócio jurídico. É que se adotou o princípio da confiança, corolário da boa-fé objetiva nas relações jurídicas (proclamada como princípio interpretativo fundamental pelo Art. 113 do Código vigente), pelo qual basta que o agente tenha se comportado eticamente, acreditando na situação fática que acobertou a sua declaração de vontade. Mais relevante do que a cognoscibilidade (conhecimento) é a confiança que se desperta nas relações jurídicas como um todo.

É perceptível que ambas correntes têm bons argumentos. Nevares (2013), apesar de entender que o Código escolheu a cognoscibilidade com requisito para anulação dos negócios jurídicos em razão de erro, observa que o requisito da cognoscibilidade pelo outro contratante não exclui por si só a necessidade da escusabilidade do erro. O primeiro está na pessoa que recebe a manifestação da vontade, enquanto o segundo está naquele que declara a vontade viciada (NEVARES, 2013). Nesse sentido, a mesma autora ainda conclui que:

A exigência da desculpabilidade do erro privilegia a conservação dos negócios e, dessa forma, a segurança das relações jurídicas, pois, conjugando-se este requisito à recognoscibilidade do erro pela outra parte, a anulação do negócio em virtude da manifestação da vontade viciada por falsa noção da realidade, só terá lugar quando as partes tiverem agido de boa-fé e sem culpa (NEVARES, 2013, p. 297-298).

Ou seja, apesar de objetivamente ter a legislação vigente optado que o requisito para anulação do negócio é a possibilidade de ciência pela parte contrária do erro do contratante, a análise da escusabilidade está de acordo com o princípio da manutenção do negócio jurídico e da boa-fé, privilegiando a segurança jurídica e evitando o benefício de um negociante negligente.

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Este tipo de interpretação, mais profunda e de acordo com os princípios apontados tem pautado boa parte das decisões judiciais sobre a matéria, mas não se pode dizer que é uma posição consolidada. Portanto, quando se tratar de erro, qualquer das posições que sejam alegadas devem ser justificadas, fundamentadas e, nunca é demais advertir, também provadas.

Por fim, a última característica que o erro deve ter para que permita a anulação do negócio jurídico é que ele deve ser real, isto é, tangível, palpável, importando efetivo prejuízo para o interessado (non fatetur qui errat) (MONTEIRO;

PINTO, 2016).

Em suma, para que um negócio jurídico seja anulável por erro, esse erro deve ser substancial, escusável e/ou cognoscível (a depender da corrente adotada) e real.

Agora que você já entendeu o que é o erro essencial e os demais requisitos que devem ser provados para a anulação do negócio jurídico com este defeito, deve conhecer os diferentes tipos de erros. Para isso, veja, novamente, o que dispõe o Art. 139 do Código Civil (BRASIL, 2002, s.p):

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

Cada inciso elenca algumas classificações referentes aos tipos de erro que podem ocorrer. No inciso I, tem-se o error in negotio, o error in corpore e o error in substantia. O inciso II trata do error in persona, e o inciso III do error iuris. Veja então que tipo de situação caracteriza cada um destes erros:

• Error in negotio (erro sobre a natureza do negócio): ocorre quando se intenciona praticar certo negócio e, no entanto, se realiza outro (MONTEIRO;

PINTO, 2016, s.p). Ou seja, é quando pelo menos uma das partes pensa que está realizando um negócio, porém, em verdade, é outro que está sendo avençado.

Por exemplo, Fulano oferece seu apartamento de praia para Sicrano em locação, mas Sicrano entende que está acordando um comodato (um empréstimo); ou então, Fulano deixa seu carro com Beltrano em depósito, para que o guarde, mas Beltrano entende que o bem lhe foi entregue para que o vendesse (contrato estimatório).

• Error in corpore (erro sobre o objeto): é “aquele que versa sobre a identidade do objeto, é o que ocorre quando, por exemplo, declara-se querer comprar o animal que está diante de si, mas acaba-se levando outro, trocado” (GAGLIANO;

PAMPLONA FILHO, 2015, p. 399). É quando se quer comprar um celular, mas acaba-se levando um videogame portátil.

TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

• Error in substantia (erro sobre as qualidades do objeto): “é o que versa sobre a essência das coisas ou as propriedades essenciais de determinado objeto. É o erro sobre a qualidade do objeto. É o caso do sujeito que compra um anel imaginando ser de ouro, não sabendo que se trata de cobre” (GAGLIANO;

PAMPLONA FILHO, 2015, p. 399) É o de quem adquire sapatos que pensa ser de couro, mas que são em verdade de material sintético.

O erro não se confunde com o vício redibitório. O erro “expressa uma equivocada representação da realidade, uma opinião não verdadeira a respeito do negócio, do seu objeto ou da pessoa com quem se trava a relação jurídica [...] vicia a própria vontade do agente, atuando no campo psíquico (subjetivo)” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 401). Não há no erro qualquer problema com o objeto efetivamente, o problema está na mente da parte do negócio, que teve uma percepção equivocada sobre algo. Diferente é o vício redibitório, um tipo de garantia contratual prevista legalmente, em que “se o adquirente, por força de uma compra e venda, por exemplo, recebe a coisa com defeito oculto que lhe diminui o valor ou prejudica a sua utilização (vícios redibitórios), poderá rejeitá-la, redibindo o contrato, ou, se preferir, exigir o abatimento no preço” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 401-402). O vício redibitório se refere a um defeito efetivamente presente no objeto, algo que o torna inservível ou diminui o seu valor. Por exemplo, se uma senhora adquire um celular e o aparelho apresenta problemas nas teclas, ela terá adquirido um produto com vício redibitório. Agora, se a mesma senhora adquire um videogame portátil, pensando ser um celular, não há vício (pois o aparelho funciona normalmente como videogame), mas sim erro. O que houve, no segundo caso, foi uma equivocada percepção da realidade, nada tendo a ver com o efetivo funcionamento do produto adquirido.

ATENCAO

• Error in persona (erro sobre a pessoa): “é o que versa sobre a identidade ou as qualidades de determinada pessoa. É o caso de o sujeito doar uma quantia a Caio, imaginando-o ser o salvador de seu filho, quando, na verdade, o herói foi Tício” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 399). Importante perceber que o erro sobre a pessoa, só vai ser considerado substancial, ou seja, apto a tornar anulável o negócio jurídico, se a identidade ou a qualidade da pessoa influenciou de modo relevante na sua manifestação de vontade. É o caso, por exemplo, de se contratar o pintor Fulano para a pintura de um ambiente que necessita perfeição nos detalhes, pois pensa que ele é exímio na realização de acabamentos de pinturas customizadas, quando na verdade esta não é uma habilidade que tenha.

UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA

O erro sobre a pessoa pode, inclusive, ensejar a anulação de um casamento. No Código Civil de 2002, está previsto que o casamento pode ser anulado por erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, e o que se considera este erro essencial. Importante

O erro sobre a pessoa pode, inclusive, ensejar a anulação de um casamento. No Código Civil de 2002, está previsto que o casamento pode ser anulado por erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, e o que se considera este erro essencial. Importante