EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR. JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DE SALVADOR - SEÇÃO JUDICIÁRIA DA BAHIA
..., casado/solteiro, servidor público federal, matrícula SIAPE nº ..., portador da carteira de identidade expedida pela SSP nº ..., inscrito no CPF sob nº ..., com domicílio na ..., vem, à presença de Vossa Excelência, ajuizar
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
contra a UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representada pela Procuradoria da União localizada na Av. Luis Viana Filho, nº 2155, Paralela, Salvador, BA, CEP. 41820-725, pelas razões de fato e de direito que passa a expor.
1 ESCORÇO FÁTICO
O autor é membro da AGU nomeado pela Portaria AGU/MF nº ..., de ..., publicada no DOU de ..., Seção 2.
Em ..., foi publicado no Diário Oficial da União o Edital nº ..., de ..., que instaurou Concurso de Remoção, a pedido, no âmbito da carreira de Procurador da Fazenda Nacional, nos termos do art. 36, inc. III, ‘c’ da Lei nº 8.112/90.
O autor, acudindo ao chamamento materializado no referido edital, efetuou a sua inscrição no referido certame, postulando a sua remoção da Procuradoria da Fazenda Nacional - Seccional de Piracicaba - SP, para outras localidades. Ao cabo do certame, foi reconhecido ao demandante o direito à remoção para a Procuradoria da Fazenda Nacional do Estado de ..., conforme se infere da Portaria Conjunta nº ..., do Advogado-Geral da União e do Ministro de
Estado da Fazenda, de ..., publicada no DOU de ..., que homologou, após o julgamento dos recursos interpostos, o resultado final do Concurso.
A remoção do autor foi efetivada pela Portaria PGFN nº ..., de ... (doc. anexo).
Ocorre que o autor jamais recebeu qualquer ajuda de custo em razão da remoção efetivada e ainda arcou com as despesas da mudança de domicílio.
2 DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO
A Lei nº 8.112/90 reza que a remoção do servidor público federal ocorrerá nas seguintes hipóteses:
Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede.
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção: (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
I - de ofício, no interesse da Administração; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
II - a pedido, a critério da Administração; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração: (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da Administração; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu assentamento funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial; (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número de interessados for superior ao número de vagas, de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam lotados.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
A ajuda de custo é prevista no art. 53 e 54 da Lei nº 8.112/90 e é devida quando a remoção se dá no interesse do serviço, verbis:
Art. 53. A ajuda de custo destina-se a compensar as despesas de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter permanente, vedado o duplo pagamento de
indenização, a qualquer tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que detenha também a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma sede. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 1o Correm por conta da administração as despesas de transporte do servidor e
de sua família, compreendendo passagem, bagagem e bens pessoais.
§ 2o À família do servidor que falecer na nova sede são assegurados ajuda de
custo e transporte para a localidade de origem, dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do óbito.
Art. 54. A ajuda de custo é calculada sobre a remuneração do servidor, conforme se dispuser em regulamento, não podendo exceder a importância correspondente a 3 (três) meses.
No presente caso, foi aberto um concurso de remoção pela administração com o objetivo de lotar Procuradores em locais onde havia vagas abertas aguardando preenchimento.
Ora, ainda, que o autor tenha pleiteado a vaga, através do concurso de remoção, o deslocamento do servidor se deu no interesse da administração em preencher as vagas disponíveis na Procuradoria da Fazenda Nacional no Distrito Federal.
O fato de a remoção ter se dado através de um certame interno onde o autor se inscreveu espontaneamente não desnatura a finalidade da remoção que foi a de atender ao interesse da administração. O concurso é apenas o modo escolhido pela administração para atender ao critério da impessoalidade na escolha do servidor que ocupará a vaga disponível.
Aqui não se trata de simples remoção a pedido do Procurador, mas sim uma remoção cujo interesse precípuo era da administração, tanto que inaugurou o certame.
Desnuda-se, ainda mais, o interesse da administração na medida em que o próprio edital do concurso de remoção só permite a desistência da vaga dentro do prazo para inscrição no concurso, ou seja, depois de encerradas as inscrições para o concurso também estão encerradas as eventuais desistências, verbis:
Art. 2° O concurso de remoção será processado pela Coordenação-Geral de Administração e Planejamento (CAP) da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), por meio do sistema de informática desenvolvido para essa finalidade, disponível no Sistema de Gestão de Pessoal, na página da intranet da PGFN no sítio www. pgfn. fazenda.
Parágrafo único. As opções, as alterações e as desistências relativas ao concurso de remoção dar-se-ão unicamente por meio eletrônico, dentro do prazo de inscrição, pelos respectivos formulários disponibilizados no sistema.
Ora, se o Procurador não pode sequer desistir do pedido, não se pode afirmar que a remoção atende ao interesse do servidor, deixando o interesse da administração em plano secundário, de forma alguma.
Desse modo, não há como eximir a UNIÃO de efetuar o pagamento da ajuda de custo mais despesas de transporte nos termos dos artigos 53 e 54 da Lei 8112/90.
O pleito do autor encontra supedâneo na jurisprudência do e. Tribunal Regional Federal da 1ª Região, verbis:
Acórdão: Origem: TRF - PRIMEIRA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL - 200039000019352
Processo: 200039000019352 UF: PA Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA Data da decisão: 26/4/2006 Documento: TRF100228965
Fonte DJ DATA: 1/6/2006 PAGINA: 23
Relator(a) DESEMBARGADORA FEDERAL NEUZA MARIA ALVES DA SILVA Decisão: A Turma , por maioria, negou provimento à apelação da União e à remessa oficial.
Ementa
ADMINISTRATIVO. MAGISTRADO DO TRT. AJUDA DE CUSTO. REMOÇÃO A PEDIDO. LC 35/79 (LOMAN). LEI Nº 8.112/90. INTERESSE DO SERVIÇO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. A Lei Complementar nº 35/79, ao disciplinar a ajuda de custo como vantagem a ser concedida aos magistrados, não estabelece em que circunstância ela é devida, nem faz distinção quanto às hipóteses de seu pagamento, limitando-se a conferi-la para fins de despesa de transporte e mudança.
2. Consoante o disposto no caput do art. 53 da Lei nº 8.112/90, "a ajuda de custo destina-se a compensar as despesas de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passa a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter permanente".
3. A remoção a pedido, em casos como na hipótese, não é feita no exclusivo interesse do servidor, eis que a Administração procede, de antemão, à análise dos critérios de conveniência e oportunidade para sua concessão, podendo, caso não lhe seja conveniente, indeferi-la.
4. Ademais, a prévia colocação da vaga à disposição, pela Administração, denota seu interesse no provimento do cargo vago, restando caracterizado o interesse público na remoção a pedido. Precedentes.
5. Na atualização monetária devem ser observados os índices decorrentes da aplicação da Lei 6.899/81, como enunciados no Manual de Orientação de Procedimentos para Cálculos na Justiça Federal, incidindo desde o momento em que cada prestação se tornou devida.
6. Os juros de mora ficam mantidos como aplicados, à taxa de 0,5% (meio por cento) ao mês, com a ressalva de que deverão incidir a partir da citação para as parcelas a ela anteriores, e a partir de cada vencimento, para as parcelas subseqüentes ao mês a fluir da citação, quanto às prestações vencidas anteriormente à citação, e da data dos respectivos vencimentos no tocante às posteriormente vencidas, conforme orientação jurisprudencial da Primeira Seção deste Tribunal e do STJ.
7. Os honorários advocatícios foram corretamente arbitrados no percentual de 10% sobre o valor da condenação.
8. Apelação da União e remessa oficial desprovidas. Data Publicação
01/06/2006
Classe: REOMS - REMESSA EX OFFICIO EM MANDADO DE SEGURANÇA - 199801000071231
Processo: 199801000071231 UF: MG Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA SUPLEMENTAR
Data da decisão: 3/6/2003 Documento: TRF100212943 Fonte DJ DATA: 23/6/2005 PAGINA: 67
Relator(a) JUIZ FEDERAL MANOEL JOSÉ FERREIRA NUNES (CONV.)
Decisão: A Turma, por maioria, vencido o relator, negou provimento à remessa oficial, nos termos do voto divergente do Sr. Juiz Antonio Claudio Macedo da Silva.
Ementa
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. REMOÇÃO A PEDIDO. DIREITO A AJUDA DE CUSTO. INTERESSE DO SERVIÇO. "CAPUT" DO ARTIGO 53 DA LEI Nº 8.112/90.
1. "A ajuda de custo destina-se a compensar as despesas de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter permanente" (caput do artigo 53 da Lei nº 8.112/90).
2. A remoção do servidor, mesmo que a pedido, não exime o Poder Público de arcar com o benefício previsto no caput do artigo 53 da Lei nº 8.112/90 (ajuda de custo), porquanto presume-se subsistente o interesse público na remoção do servidor, ainda que tal ato decorra de competência discricionária, pois também atende a interesse da Administração, a par da satisfação do interesse privado, tanto que a própria Pública Administração disponibiliza a vaga e aquiesce na relotação do funcionário.
3. Remessa oficial desprovida. Data Publicação
23/06/2005
A
Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais
,no Processo nº 2007.72.51000512-4, ao apreciar pedido de indenização de ajuda de custo de um Advogado da União, membro da AGU tal como o demandante (Lei Complementar nº 73/93), removido por intermédio de concurso de remoção, aplicou ao caso exatamente o art. 53 da Lei 8112/90, deferindo, em 03/08/2009, a ajuda de custo postulada. Transcrevemos o inteiro teor do voto-vista vencedor da lavra do relator p/ o acórdão, o JUIZ FEDERAL JOÃO CARLOS COSTA MAYER SOARES, verbis:
EXMO. SR. JUIZ FEDERAL JOÃO CARLOS COSTA MAYER SOARES (RELATOR PARA O ACÓRDÃO): Pedindo vênia à ilustre Relatora, dou provimento ao pedido de uniformização. Compulsando-se os autos, verifica-se a similitude fático-jurídica entre os acórdãos confrontados, estando devidamente caracterizado o dissídio jurisprudencial entre o acórdão vergastado e o paradigmático, quanto a tema de direito material, referente à existência de interesse público na remoção a pedido, ensejando, por conseguinte, o direito à percepção da ajuda de custo prevista no art. 53 da Lei 8.112/90. O acórdão impugnado considera descabida a indenização pleiteada, ao considerar que na remoção a pedido não há falar em interesse do serviço, uma vez que realizada apenas em prol do interesse particular do removido. Por outro lado, o acórdão em confronto (JEF, TNU, PEDILEF 2006.51.51.00.2075-6/RJ) aponta objetivamente que a deflagração de concurso de remoção “denota o interesse e a necessidade de ser suprida a vaga que lhe dá origem”, o que confere ao interessado o direito de auferir a referida ajuda de custo. Na linha de precedentes da Corte Superior de Justiça, o interesse do serviço na remoção está presente no oferecimento do cargo
vago e não no procedimento administrativo tomado para preenchê-lo, criando-se, a partir daí, o direito do agente público de exigir a ajuda de custo. (Cf. AgRg no RESP 779.276/SC, Sexta Turma, Desembargador convocado Celso Limongi, DJ 18/05/2009; AgRg no RESP 714.297/SC, Sexta Turma, Desembargadora convocada Jane Silva, DJ 01/12/2008.) Na espécie, apesar de subsistirem peculiaridades inerentes a carreiras específicas, é correto afirmar que em todas elas há interesse público quando a remoção se der a pedido, tendo em vista que, com a abertura da vaga, surge para o Poder Público o interesse em preenchê-la. Não padece de dúvida a existência do interesse particular envolvido, concernente na manifestação da parte autora em se candidatar a uma vaga prevista no edital de abertura do concurso de remoção, porém, o interesse do serviço precede a ele, surgindo, como já dito, da necessidade de ocupação da vaga aberta. Assim, a remoção em tela foi efetivada no interesse do serviço, fazendo jus a parte autora ao recebimento da ajuda de custo prevista no dispositivo mencionado. À vista do exposto, dou provimento ao pedido de uniformização para, reformando o acórdão impugnado e a sentença por ele confirmada, julgar procedente o pedido, de modo a conceder a ajuda de custo almejada, no importe do equivalente a 1 (um) subsídio mensal do cargo de Advogado da União na data da remoção efetivada (30/10/2006), acrescido da devida correção monetária, desde o momento do pagamento não efetuado, e juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da citação válida. Considerando a Questão de Ordem 2 da TNU, e procedente o pleito recursal, excluem-se os honorários advocatícios fixados no acórdão impugnado em desfavor do recorrente, não sendo o caso, no entanto, de inversão dos ônus da sucumbência, a teor da regra especial do art. 55, caput, Lei 9.099/95. É como voto. (PEDILEF 200772510005124; INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA, j. 03/08/2009, DJ de 05/04/2010)
Ora, se a simples remoção a pedido do servidor, desde que provado o atendimento ao interesse da administração, dá ensejo à ajuda de custo de que trata o art. 53 da Lei 8.112/90, com mais substrato lógico e jurídico a ajuda de custo deve ser dada ao servidor removido após oferta de vagas pela administração em concurso de remoção, pois neste caso o interesse da administração é inequívoco.
Desse modo, a previsão do art. 8º do edital afronta diretamente o comando do art. 53 da Lei 8.112/90 e não passou de uma tentativa de se desvencilhar da obrigação de indenizar os servidores.
O valor da ajuda de custo do servidor está previsto no art. 2º do Decreto 4.004/2001.
Art. 2o O valor da ajuda de custo de que trata o inciso I do art. 1o será calculado com
base na remuneração de origem, percebida pelo servidor no mês em que ocorrer o deslocamento para a nova sede.
§ 1o É facultado ao servidor requisitado para o exercício dos cargos em
comissão de que trata o § 1o do art. 1o optar pela ajuda de custo em valor equivalente
§ 2o A ajuda de custo corresponderá a uma remuneração, caso o servidor
possua um dependente, a duas remunerações, caso o servidor possua dois dependentes e a três remunerações, caso o servidor possua três ou mais dependentes.
Por ocasião da remoção o autor tinha três dependentes, conforme “lista de dependentes” emitida pelo Sistema Informatizado Siapenet mantido pela própria Administração Federal. No particular, veja-se o disposto no art. 5º do Decreto nº 4.004/2001:
Art. 5o São considerados dependentes do servidor para os efeitos deste Decreto:
I - o cônjuge ou companheiro legalmente equiparado;
II - o filho de qualquer condição ou enteado, bem assim o menor que, mediante autorização judicial, viva sob a sua guarda e sustento;
III - os pais, desde que, comprovadamente, vivam à suas expensas.
§ 1o Atingida a maioridade, os dependentes referidos no inciso II perdem essa
condição, exceto nos casos de: I - filho inválido; e
II - estudante de nível superior, menor de vinte e quatro anos, que não exerça atividade remunerada.
§ 2o Para os efeitos do disposto no inciso II do art. 1o, considera-se como
dependente do servidor um empregado doméstico, desde que comprovada regularmente esta condição.
Conseqüentemente, o demandante faz jus à percepção de ajuda de custo equivalente a três remunerações, pois possua ao tempo da remoção três dependentes (cônjuge e dois filhos). À época o subsídio de Procurador da Fazenda Nacional de 2ª Categoria era de ... (Medida Provisória nº 305/2006), portanto o autor deveria ter percebido ajuda de custo no montante de R$ 28.500,00.
3 DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se o seguinte:
a) a citação da UNIÃO na pessoa do chefe da Procuradoria da União neste Estado; b) a condenação da ré na obrigação de pagar a indenização de ajuda de custo no importe de R$ ..., acrescidos dos juros de mora de 1% ao mês e correção monetária pelo IPCA, sem retenção de imposto de renda e contribuição previdenciária por se tratar de verbas não abrigadas nas hipóteses de incidência desses tributos.
Por fim, o demandante renuncia ao valor do crédito que exceder a 60 salários mínimos na data da propositura da ação, procedimento necessário para o devido ajuizamento e prosseguimento do pleito perante o Juizado Especial Federal.
Dá-se a causa o valor de R$ ... . Nesses termos, pede deferimento.
Salvador, ... . ASS.
