Eletromagnetismo I
Cap. 1: Revisão Matemática
1.3: Cálculo integral
Prof. Marcos Menezes
Instituto de Física - UFRJ
1.3 – Cálculo integral
1.3.1 – Integrais de linha
Para uma função vetorial 𝐯 qualquer, podemos integrá-la entre dois pontos 𝑎 e 𝑏 quaisquer ao longo de um caminho arbitrário 𝐶:
න
𝑎 𝑏𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
𝑎 𝑏𝑣 cos 𝜃 𝑑𝑙
Quando a integral não depende do caminho 𝐶, dizemos que 𝐯 é um campo conservativo.
onde 𝑑𝐥 = 𝑑𝑥 ො𝐱 + 𝑑𝑦 ො𝐲 + 𝑑𝑧 ො𝐳 é o vetor deslocamento infinitesimal (em coordenadas cartesianas)
Caminho 1: Vamos dividi-lo nas porções (i) e (ii)
Porção (i): reta horizontal 𝑦 = 1
• 𝐯 = ො𝐱 + 4𝑥 ො𝐲
• 𝑑𝐥 = 𝑑𝑥 ො𝐱
න
𝑖𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
1 2𝑑𝑥 = 1
⇒
Porção (ii): reta vertical 𝑥 = 2
• 𝐯 = 𝑦 ො𝐱 + 4(𝑦 + 1) ො𝐲
• 𝑑𝐥 = 𝑑𝑦 ො𝐲
න
𝑖𝑖𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
1 24 𝑦 + 1 𝑑𝑦 = 10
⇒
න
(1)𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
𝑖𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 + න
𝑖𝑖𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 =
11
Caminho 2: Reta diagonal 𝑦 = 𝑥
• 𝐯 = 𝑥
2ො𝐱 + 2𝑥(𝑥 + 1) ො
𝐲
• 𝑑𝐥 = 𝑑𝑥 ො𝐱 + 𝑑𝑦 ො𝐲
• 𝑑𝑦 = 𝑑𝑥
න
(2)𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
𝑥=1 2[𝑥
2ො𝐱 + 2𝑥 𝑥 + 1 ො
𝐲] ⋅ 𝑑𝑥 ො𝐱 + 𝑑𝑥 ො
𝐲
= න
𝑥=1 23𝑥
2+ 2𝑥 𝑑𝑥 = 𝑥
3+ 𝑥
2ቚ
1 2=
10
Caminho fechado:
ර
𝐶𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
(1)𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 − න
2𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = 11 − 10 =
1
1.3.2 – Integrais de superfície
Para uma função vetorial 𝐯 qualquer, podemos integrá-la sobre uma superfície arbitrária 𝑆:
න
𝑆
𝐯 ⋅ 𝑑𝐀 = න
𝑆
𝐯 ⋅ ෝ
𝐧 𝑑𝐴
• 𝑑𝐀 = 𝑑𝐴 ෝ𝐧 é o vetor área infinitesimal
• ෝ𝐧 é um vetor unitário perpendicular à superfície
Para superfícies fechadas, ෝ𝐧 deve ser sempre orientado para fora. Para superfícies abertas, o sentido deve ser especificado!
Face 1: Face 𝑥 = 2
• 𝐯 = 4𝑧 ො𝐱 + 4 ො𝐲 + 𝑦 𝑧
2− 3 ො𝐳
• 𝑑𝐴 = 𝑑𝑦 𝑑𝑧
• ෝ
𝐧 = ො𝐱
න
(𝑖)𝐯 ⋅ 𝑑𝐀 = න
𝑦=0 2න
𝑧=0 2[4𝑧 ො𝐱 + 4 ො
𝐲 + 𝑦 𝑧
2− 3 ො𝐳] ⋅
𝑑𝑦 𝑑𝑧
ො𝐱
= න
𝑦=0 2න
𝑧=0 24𝑧
𝑑𝑦 𝑑𝑧
=
16
Face 3: Face 𝑦 = 2
• 𝐯 = 2𝑥𝑧 ො𝐱 + (𝑥 + 2) ො𝐲 + 2 𝑧
2− 3 ො𝐳
• 𝑑𝐴 = 𝑑𝑥 𝑑𝑧
• ෝ
𝐧 = ො
𝐲
න
(𝑖𝑖𝑖)𝐯 ⋅ 𝑑𝐀 = න
𝑥=0 2න
𝑧=0 2[
2𝑥𝑧 ෝ
𝐱 + (𝑥 + 2) ො𝐲 + 2 𝑧
2− 3
] ⋅
𝑑𝑥 𝑑𝑧
𝐲
ො
= න
𝑥=0 2න
𝑧=0 2(𝑥 + 2)
𝑑𝑥 𝑑𝑧
=
12
Termine o cálculo sobre as demais faces! O resultado é:
න
𝑆𝐯 ⋅ 𝑑𝐀 =
16 + 0 + 12 − 12 + 4 = 20
Exercícios adicionais (problema 1.29):
• Qual é o fluxo sobre a face restante (base do cubo)?
• A integral de superfície neste caso depende apenas da curva que define a fronteira de 𝑆?
1.3.3 – Integrais de volume
Finalmente, podemos integrar uma função escalar qualquer 𝑇 sobre um volume arbitrário 𝒱:
න
𝒱
𝑇 𝑑𝑣
𝑑𝑣: elemento de volume infinitesimal.Em coordenadas cartesianas, 𝑑𝑣 = 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧
Naturalmente, também podemos integrar funções vetoriais 𝐯:
න
𝒱𝐯 𝑑𝑣 = ො𝐱 න
𝒱𝑣
𝑥𝑑𝑣 + ො
𝐲 න
𝒱𝑣
𝑦𝑑𝑣 + ො𝐳 න
𝒱𝑣
𝑧𝑑𝑣
Note que os unitários foram retirados de cada integral por serem constantes. Este não será necessariamente o caso em outros sistemas de coordenadas!
A borda inclinada no plano 𝑋𝑌 é definida pela reta 𝑦 = 1 − 𝑥. Com isso, o volume 𝒱 é definido pela região:
• 0 ≤ 𝑥 ≤ 1
• 0 ≤ 𝑦 ≤ 1 − 𝑥
• 0 ≤ 𝑧 ≤ 3
න
𝒱𝑇𝑑𝑣 = න
𝑥=0 1න
𝑦=0 1−𝑥න
𝑧=0 3𝑥𝑦𝑧
2𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧 = 9 න
𝑥=0 1න
𝑦=0 1−𝑥𝑥𝑦 𝑑𝑥 𝑑𝑦
= 9 න
𝑥=0 1𝑥
1 − 𝑥
22
𝑑𝑥 =
9
2
න
𝑥=0 1(𝑥 − 2𝑥
2+ 𝑥
3) 𝑑𝑥
=
9
2
𝑥
22
−
2𝑥
33
+
𝑥
44
ቚ
0 1=
9
2
⋅
1
12
=
3
8
1.3.4 – Teoremas fundamentais
Já vimos que a variação infinitesimal de uma função escalar 𝑇 pode ser escrita como:
(a) Gradientes
𝑑𝑇 = 𝛁𝑇 ⋅ 𝑑𝐥
Integrando entre dois pontos 𝑎 e 𝑏 quaisquer ao longo de um caminho arbitrário 𝐶:
න
𝑎 𝑏𝑑𝑇 = න
𝑎 𝑏𝛁𝑇 ⋅ 𝑑𝐥
Note que a integral do lado esquerdo representa uma soma de variações infinitesimais. O resultado deve ser a variação total de 𝑇 ao longo do caminho!
Portanto:
𝑇 𝐛 − 𝑇(𝐚) = න
𝑎 𝑏𝛁𝑇 ⋅ 𝑑𝐥
Note que:• A integral de linha não depende do caminho 𝐶. Portanto, o gradiente de qualquer função escalar resulta em um campo vetorial conservativo!
• Este resultado representa uma generalização do teorema fundamental do cálculo: a integral da derivada de uma função é igual à diferença dos valores da função nos extremos do intervalo.
(b) Divergência (teorema de Gauss)
Pode-se mostrar que, para qualquer função vetorial 𝐯 e superfície fechada 𝑆:
ර
𝑆𝐯 ⋅ 𝑑𝐀 = න
𝒱(𝛁 ⋅ 𝐯) 𝑑𝑣
onde 𝒱 é o volume da região delimitada por 𝑆.
“Espírito” do teorema: a integral da derivada (divergência) de uma função sobre uma região (volume)
corresponde ao valor dela na fronteira desta região (integral de superfície).
Demonstração: ver Purcell, seções 2.8, 2.9 e 2.0 ou Moysés – vol. 3, seção 3.6.
“Convencimento”: ler exemplo 1.10 do livro-texto
(c) Rotacional (teorema de Stokes)
Pode-se mostrar que, para qualquer função vetorial 𝐯 e curva fechada e orientada 𝐶:
ර
𝐶𝐯 ⋅ 𝑑𝐥 = න
𝑆𝛁 × 𝐯 ⋅ 𝑑𝐀
onde 𝑆 é uma superfície aberta delimitada por 𝐶.
O sentido de ෝ𝐧 em 𝑑𝐀 é especificado pela regra da mão-direita a partir da orientação de 𝐶.
“Espírito” do teorema: a integral da derivada (rotacional) de uma função sobre uma região (superfície)
corresponde ao valor dela na fronteira desta região (integral de linha).
Demonstração: ver Purcell, seções 2.14, 2.15, 2.16 e 2.17 ou Moysés – vol. 3, seção 4.5.
“Convencimento”: ler exemplo 1.11 do livro-texto
Exemplo: Campos conservativos (irrotacionais)
Já vimos que um campo conservativo 𝐅 satisfaz as condições:
•
𝑎𝑏𝐅 ⋅ 𝑑𝐥
não depende do caminho que liga 𝑎 a 𝑏.• ׯ
𝐶𝐅 ⋅ 𝑑𝐥 = 0
para qualquer caminho fechado 𝐶.Do teorema de Stokes, segue imediatamente uma terceira condição:
𝛁 × 𝐅 = 𝟎
em todo o espaçoAlém disso, como 𝛁 × 𝛁𝑉 = 𝟎 para qualquer função escalar 𝑉, podemos escrever um campo conservativo em termos do gradiente de uma função escalar:
𝐅 = −𝛁𝑉
o que também é consistente com as duas primeiras propriedades (verifique!).
Observações:
• O sinal negativo acima é apenas uma convenção.
Exemplo 2: Campos sem divergência
Outra classe de campos vetoriais de grande interesse é a dos campos sem divergência. Eles devem satisfazer:
Do teorema de Gauss, segue imediatamente uma segunda condição:
𝛁 ⋅ 𝐅 = 0
em todo o espaçoර
𝑆𝐅 ⋅ 𝑑𝐀 = 0
para qualquer superfície fechada 𝑆.Além disso, como 𝛁 ⋅ (𝛁 × 𝐀) = 0 para qualquer função vetorial 𝐀, podemos escrever 𝐅 em termos do rotacional de uma função vetorial:
𝐅 = 𝛁 × 𝐀
Empregando o resultado acima no teorema de Stokes, verificamos que
𝑆𝐅 ⋅ 𝑑𝐀
sobre uma superfície aberta 𝑆 não depende da forma de 𝑆. Depende apenas de sua fronteira 𝐶!1.3.5 – Integração por partes
Da mesma forma que no cálculo ordinário, podemos nos aproveitar das regras de derivadas do produto para reescrever integrais. Vejamos um exemplo.
Considere a integral:
𝐼 = න
𝒱
𝑓(𝛁 ⋅ 𝐀) 𝑑𝑣
Observando a seguinte regra de produto:
podemos escrever:
𝐼 = න
𝒱𝛁 ⋅ (𝑓𝐀) 𝑑𝑣 − න
𝒱𝐀 ⋅ 𝛁𝑓 𝑑𝑣
Utilizando o teorema de Gauss, podemos reescrever a primeira integral como uma integral de superfície sobre a fronteira de 𝒱. Assim:
𝐼 = ර
𝑆𝑓𝐀 ⋅ 𝑑𝐚 − න
𝒱𝐀 ⋅ 𝛁𝑓 𝑑𝑣
• Essa técnica é especialmente útil em situações onde conseguimos nos livrar da integral de superfície.
• Veremos o 1º exemplo de uso desta técnica no cap. 2 (energia armazenada em um campo eletrostático) e veremos outros exemplos ao longo do curso.
Referências básicas
• Griffiths (3ª edição) – cap.1
Leitura adicional
• Purcell – cap. 2 (demonstrações dos teoremas de Gauss e Stokes)