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Piccinini - Sociologia e Administração. Relações Sociais Nas Organizações

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Academic year: 2021

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SOCIOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO

SOCIOLOGIA

E ADMINISTRAÇÃO

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SOCIOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO

SOCIOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO

SOCIOLOGIA

E ADMINISTRAÇÃO

Relações sociais nas organizações

Valmiria Carolina Piccinini Marilis Lemos de Almeida Sidinei Rocha de Oliveira organizadores

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SOCIOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO

© 2011, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/02/1998.

Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográfi cos, gravação ou quaisquer outros.

Copidesque: Jussara Bivar

Revisão: Jayme Teotônio Borges Luiz e Roberta Borges Editoração Eletrônica: Estúdio Castellani

Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua Sete de Setembro, 111 – 16o andar 20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Rua Quintana, 753 – 8o andar

04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil Serviço de Atendimento ao Cliente

0800-0265340 sac@elsevier.com.br

ISBN 978-85-352-3878-5

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Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S662 Sociologia e administração: relações sociais nas

organizações / Valmíria Carolina Piccinini, Marilis Lemos Almeida, Sidinei Rocha de Oliveira, organizadores. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

Contém exercícios Inclui bibliografi a ISBN 978-85-352-3878-5

1. Sociologia do trabalho. 2. Comportamento organizacional. 3. Administração de empresas. 4. Trabalho. 5. Relações trabalhistas – Aspectos sociais. I. Piccinini, Valmíria. II. Almeida, Marilis Lemos. III. Oliveira, Sidinei Rocha de.

10-4759. CDD: 306.3

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Os autores

Andrea Poleto Oltramari

Bacharel em Administração pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (CPGA/UFSC). Dou-tora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/ EA/UFRGS). Professora de Administração da UPF.

Betina Magalhães Bitencourt

Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestranda em Administração pela Escola de Administração da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS).

Cláudia Sirangelo Eccel

Bacharel em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-GS). Mestre e Doutora em Administração (PPGA/EA/UFR(UFR-GS).

Daniel da Silva Lacerda

Bacharel em Engenharia da Computação pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (PCS/USP). Mestrando em Administração de Empresas pela Escola Brasileira de Administração Pública e Empresarial da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE-RJ).

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Daniel Gustavo Mocelin

Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais. Mestre e Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS).

Daniela Alves de Alves

Bacharel em Ciências Sociais. Mestre e Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS). Professora adjunta de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa (DCS/UFV).

Daniele dos Santos Fontoura

Bacharel, mestre e doutoranda em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS).

Francis Moraes de Almeida

Graduado em Ciências Sociais e em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre e Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS). Professor de Sociologia da UFSM.

Leandro Raizer

Bacharel e licenciado em Ciências Sociais, mestre em Sociologia e doutorando pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Lucas Rodrigues Azambuja

Bacharel em Ciências Sociais e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS). Doutorando em Sociologia pela Universida-de Universida-de São Paulo (PPGS/USP).

Marcelo Milano Falcão Vieira

Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa

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Catari-Pós-doutorado na École de Hautes Études Commercialles (HEC-Paris). Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE-RJ).

Marilis Lemos de Almeida

Bacharel em Ciências Sociais e em Ciências Econômicas. Mestre em Sociolo-gia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS). Douto-ra em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (DPCT/UNICAMP). Professora adjunta do Departamento de Sociologia do Insti-tuto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IFCH/UFRGS).

Nilson Varella Rübenich

Bacharel e Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS). Professor do Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (IBGEN-RS).

Patrícia Amélia Tomei

Bacharel em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ). Mestre em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e professora de Pós-Graduação em Administração de Empresas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Dou-tora em Administração pela Universidade de São Paulo (USP) e pela New School for Social Research (NSSR), em Nova York.

Rosângela Maria Pereira

Bacharel e licenciada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Ge-rais (FAE/UFMG). Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS).

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Sidinei Rocha de Oliveira

Bacharel e mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS). Doutor em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS) e pela Université Pierre-Mendès-France (UPMF). Professor adjunto do Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Tatiana Ghedine

Graduada em Informática e habilitada em Análise de Sistemas pela Universida-de do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Tecnóloga em Hotelaria pela Uni-versidade de Caxias do Sul (UCS). Mestre e doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/UFRGS). Professora da Faculdade de Administração no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC-RS) e do Curso de Administração nas Faculdades Integradas de Taqua-ra (FACCAT).

Valmíria Carolina Piccinini

Bacharel, licenciada em Ciências Sociais e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS/UFRGS). Doutora em Economia do Traba-lho e da Produção pela Université Pierre-Mendès-France (UPMF). Pós-doutorado na École de Hautes Études Commercialles (HEC-Montréal). Professora Associada de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGA/EA/ UFRGS).

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Nexos entre a Sociologia

e a Administração

MARILIS LEMOS DE ALMEIDA VALMÍRIA CAROLINA PICCININI

E

m nossa experiência como professores de Sociologia Aplicada à Admi-nistração e de Sociologia nos deparávamos como uma situação comum a muitos professores, que era a dificuldade em encontrar um livro-texto para indicar aos alunos que contemplasse pelo menos parte dos conteúdos que pretendíamos desenvolver. Adicionalmente, o tratamento das temáticas da So-ciologia Aplicada requer algum conhecimento, ainda que em nível introdutório, sobre Sociologia, em particular as reflexões sobre a gênese da sociedade industrial e suas implicações sobre a vida social, o que tornava ainda mais complexa a tarefa de encontrar material didático apropriado.

O desafio de enfrentar esta lacuna veio com o convite, em 2007, para oferecer em 90 horas um curso a distância de Sociologia Aplicada à Administração na Esco-la de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na ocasião nos propusemos a organizar um programa que contemplasse os conteúdos básicos de Sociologia e os de Sociologia Aplicada à Administração produzindo materiais didáticos para suplantar a referida ausência de livros-texto na área. Para tanto, contamos com uma equipe de tutores composta de estudantes de mestrado e doutorado em Sociologia e em Administração.

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As avaliações positivas enviadas pelos alunos do Ensino a Distância nos esti-mularam a aprofundar e ampliar os textos que inicialmente foram desenvolvidos como material de apoio aos chats e fóruns, de modo a transformá-los em um livro que pudesse ser usado em sala de aula. A participação de nossos ex-tutores, hoje já mestres e/ou doutores em sua maior parte, que aceitaram o desafio foi funda-mental para chegarmos a esta obra.

O livro foi pensado para suprir as necessidades de um curso completo de So-ciologia Aplicada à Administração, percorrendo um amplo espectro de temas clás-sicos e contemporâneos. Com o intuito de oferecer a professores e alunos uma obra que contemplasse conteúdos que consideramos essenciais ao tratamento do tema, convidamos professores de outras instituições a colaborarem apresentando, assim, um rico e diversificado conjunto de visões nem sempre convergentes, mas por isso mesmo valioso.

O objetivo deste livro é evidenciar as conexões entre a Sociologia e a Admi-nistração procurando oferecer aos leitores um conjunto de categorias e conceitos, muito dos quais advindos da Sociologia, que lhes permitam pensar as organiza-ções e a inserção no mundo do trabalho. As organizaorganiza-ções integram a sociedade, e portanto são produto ao mesmo tempo em que incidem sobre ela. Assim, as categorias que nos permitem compreender a vida em sociedade tais como cultura, controle, estratificação, ação social, racionalidade e poder, entre tantas outras, são dimensões igualmente presentes no âmbito das organizações e nas relações que os indivíduos estabelecem entre si no interior dessas organizações.

Estruturado em três partes, o livro aborda na Parte I – Fundamentos Teóricos da Sociologia para a Administração – temas clássicos que perpassam a sociologia e a administração e que se mostram relevantes para a compreensão do mundo con-temporâneo, em particular o trabalho e as organizações. Na Parte II – A Sociedade e as Organizações – examinamos as organizações e as relações sociais estabeleci-das nelas, as quais envolvem conflito, controle, formação de grupos, bem como os aspectos culturais que perpassam essas relações. Enquanto na Parte II o foco recai sobre a dinâmica das organizações, na Parte III – O Trabalho na Sociedade Contemporânea – o olhar se desloca para o trabalho na sociedade contemporânea, apresentando um variado conjunto de capítulos que recobrem dimensões concei-tuais acerca do trabalho e examinam formas de organização e gestão do trabalho do ponto de vista conceitual e histórico.

No Capítulo 1, “O surgimento da Sociologia e da Sociologia Aplicada à Admi-nistração”, de autoria de Marilis Lemos de Almeida e Valmíria Carolina Piccinini,

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pecialmente o contexto econômico, social e político, de um lado, e as influências intelectuais, de outro, buscando demonstrar como tais aspectos incidiram sobre as estruturas de ambas as disciplinas definindo seus contornos iniciais. As autoras demonstram que o surgimento da Sociologia encontra-se intimamente articulado à sociedade moderna, período de eclosão de um conjunto de transformações que possibilitam seu surgimento ao valorizar o conhecimento científico, ao mesmo tempo em que implica a necessidade de criar categorias que permitam a com-preensão dessa nova realidade. Assim, a Sociologia promove uma reflexão crítica acerca da sociedade capitalista, voltando-se, sobretudo em seus primórdios, a uma crítica à acentuada desigualdade existente e uma tentativa de explicação das suas origens e condições que asseguram sua permanência. Tal abordagem é bem retra-tada pela análise do pensamento de Karl Marx (1818-1883).

No caminho para a institucionalização da Sociologia como disciplina científi-ca, a par da reflexão acerca da sociedade moderna que permanece como foco de atenção, há um esforço orientado para a construção das bases metodológicas e do objeto desta nova ciência que se caracteriza, desde sua origem, pela coexistência de diferentes abordagens teóricas e metodológicas. Émile Durkheim (1858-1917) buscou sistematizar o que considerava ser o método sociológico, como parte de um esforço para delimitar a Sociologia como ciência. Um dos grandes temas que permeou todas as suas obras é a questão da importância da unidade e da coesão para o equilíbrio da sociedade. Para Max Weber (1864-1920) a Sociologia tem por objeto compreender o sentido da ação social buscando evidenciar o sentido pensado pelo sujeito autor da ação, portanto o indivíduo é a sua unidade de análise básica, pois só ele pode conferir sentido, signo e valores às suas ações. Weber abor-dou uma ampla gama de temas, passando por religião, capitalismo, dominação, estratificação, entre outros, porém os temas da racionalidade e da racionalização do Ocidente são questões centrais em sua obra.

O surgimento da Administração também está relacionado com o processo de expansão do capitalismo, de concentração de capitais e surgimento das grandes corporações, o que exigia grande capacidade de gerenciamento dos sistemas de produção e de distribuição das mercadorias. Surge, neste contexto, a figura da ge-rência separada da propriedade do capital dando início ao que se chamou de revo-lução gerencial. Impulsionado pelo paradigma da ciência positiva o espaço da pro-dução também se tornou alvo da busca de métodos mais eficientes da propro-dução, propiciando as condições que permitiriam emergir trabalhos como o de Taylor

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(1856-1915), que propunha uma Administração Científica do trabalho. Na ad-ministração das empresas as mudanças que ocorrem na sociedade têm reflexos imediatos no interior das organizações, que passam a preocupar-se em ter traba-lhadores adaptados e adaptáveis às mudanças que vão ocorrendo. Tais mudanças se refletem nas relações que se estabelecem na sociedade (legislação do trabalho, regulamentos internos às empresas, padrões de salários etc.) e que norteiam a ação social. Há necessidade portanto de explicação sociológica para os fenômenos da administração.

O Capítulo 2, “Marx, Weber e Durkheim: Quadro comparativo sobre o pen-samento dos autores clássicos da Sociologia”, de Lucas Rodrigues Azambuja e Daniel Gustavo Mocelin, oferece uma valiosa síntese das perspectivas desses três autores clássicos da Sociologia. Sob a forma de quadro comparativo os autores apresentam as principais questões que nortearam os estudos de Marx, Weber e Durkheim, apontando as influências intelectuais e o contexto a partir do qual emergiram as respectivas teorias sociais e proposições metodológicas. Dentre os temas analisados estão a concepção desses clássicos sobre a ciência e o conhe-cimento social; as relações entre indivíduo e sociedade; as inclinações políticas; as interpretações sobre a divisão do trabalho social; as perspectivas metodológi-cas e as concepções de mercado. Em um texto sintético conseguem apontar os elementos fundamentais para compreender a obra desses teóricos, permitindo entender seu papel no desenvolvimento do pensamento social e sua influência na reflexão sociológica, fornecendo elementos para conhecer as organizações nos dias de hoje.

No Capítulo 3, Lucas Rodrigues Azambuja, em “Tipos de ação, de raciona-lidade e o processo de racionalização na Sociologia de Max Weber”, realiza uma sofisticada e rigorosa discussão acerca de dois temas centrais na sociologia webe-riana, a racionalidade e a racionalização. Azambuja pontua as diferenças entre os dois conceitos no pensamento de Weber demonstrando a importância deles na construção da explicação acerca da origem e difusão do capitalismo. Em rela-ção ao conceito de racionalidade, apresenta uma definirela-ção clara de dois tipos de racionalidade – com relação a fins e com relação a valores. Em relação ao processo de racionalização discute a visão de Weber do capitalismo como expressão de um processo de crescente racionalização de esferas específicas da vida social, especialmente a religiosa, política e econômica. O pensamento de Weber exerce grande influência no estudo das organizações e da explicação do desenvolvimento do sistema capitalista.

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As visões de Durkheim, Weber e Marx”, Leandro Raizer discute um tema central na Sociologia, que permite compreender como se estabelecem as relações en-tre indivíduos e grupos no interior das sociedades e das organizações. As teorias sobre a estratificação social examinam como os indivíduos e grupos no interior das sociedades hierarquizam-se e estabelecem entre si relações assimétricas, ana-lisando as fontes dessas diferenças que podem se traduzir em acesso desigual a poder, oportunidades, privilégios e prestígio social. Raizer vai buscar nas obras de Durkheim, Weber e Marx um conjunto de conceitos para a compreensão das diversas dimensões implicadas no fenômeno da estratificação, tais como: tipos de solidariedade, classes sociais, estamentos, grupos de interesse, lutas e conflitos. Com isso, fornece ao leitor não apenas uma visão ampla sobre a estratificação ao revelar as diferentes interpretações acerca do fenômeno, mas também um con-junto de conceitos que permitem analisar como tal fenômeno se faz presente no interior das organizações.

O Capítulo 5, apresentado por Marcelo Milano Falcão Vieira e Daniel da Silva Lacerda, é “Poder nas organizações: Da dominação de poucos à ação de todos”. A temática abordada pelos autores é de grande interesse para a Sociologia Aplicada à Administração, uma vez que o poder é uma das categorias centrais para a análise das organizações. Os autores lembram que este é um tema contro-verso e que muitos autores sequer admitem a sua existência como algo inerente às organizações, porém a sua invisibilidade não pode ser confundida com ausên-cia, uma vez que o exercício do poder se manifesta de inúmeras maneiras e pode assumir formas mais visíveis e diretas de controle ou menos visíveis e sutis por meio daquilo que se convencionou rotular como cultura organizacional. Vieira e Lacerda oferecem de maneira sintética e extremamente rigorosa um apanhado acerca de duas grandes formas de conceber o poder: de um lado a perspectiva do poder assimétrico, representado pela definição de Weber, e, de outro, a de poder simétrico, de Hanna Arendt. A perspectiva de Weber parte do pressuposto da existência de conflitos e, nesse sentido, os estudos posteriores que comungam tal vertente teórica enfatizam a questão da dominação, da obtenção da legitimidade e de suas formas de manifestação explícitas e implícitas, sendo bastante utilizado para a análise do poder nas organizações. A perspectiva de Hanna Arendt repre-senta um contraponto importante ao analisar o poder como uma capacidade ou realização coletiva e integra uma visão crítica ao poder associado a violência. O poder simétrico entendido desta forma somente pode se manifestar em um

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am-biente social de iguais, que é uma premissa incompatível com a grande maioria das organizações modernas.

No Capítulo 6, ao discutirem “Socialização e cultura organizacional” Sidinei Rocha de Oliveira e Cláudia Sirangelo Eccel lembram que o ser humano ao viver em sociedade é regido por normas e crenças que lhe permitem integrar-se ao seu grupo social. A socialização ocorre pela submissão aos costumes de seu grupo ou cultura, primeiramente à família e à vizinhança, e a criança pela imitação até introjetar os hábitos dos adultos e aprendendo a viver naquela sociedade. Ao com-preender a socialização como processo de construção social permitem vislumbrar a possibilidade de mudança social. Lembram que nesse momento emerge uma nova organização sociocultural em que outras instâncias interferem no processo de socialização como os grupos de referência, os meios de comunicação de massa, os mitos e heróis contribuindo para a formação de sujeitos com formas de ação heterogêneas e, por vezes, contraditórias. Ressaltam, na atualidade, o papel da internet como um meio de socialização pelas redes de interação virtual. Nesse meio em que a socialização se faz de forma mais ampla discutem a socialização or-ganizacional, que se faz necessária para as organizações contarem com elementos integrados e vinculados aos próprios objetivos e cultura. Descrevem as formas de socialização tanto em relação aos novos entrantes quanto aos que já fazem parte da organização e nela ascendem. A cultura organizacional é discutida a partir de duas correntes, uma baseada na objetividade e outra na interpretação. Assim, para alguns autores a cultura organizacional é objetiva e gerenciável podendo ser mo-dificada, controlada e gerenciada intencionalmente, enquanto outros questionam a capacidade de transformação da cultura organizacional, pois a mudança é cons-tante, isto é, em cada organização diferentes grupos se inter-relacionam de mo-dos distintos, podendo dar origem a múltiplas culturas. Ao final, Oliveira e Eccel destacam como a cultura organizacional se relaciona com a sociedade na qual está inserida e as principais implicações para o pensar das práticas gerenciais.

No Capítulo 7, “Controle organizacional no processo capitalista de produção”, Daniela Alves de Alves e Sidinei Rocha de Oliveira abordam um tema altamente pertinente tanto à Sociologia como à Administração: a coordenação e o controle que, desde os primórdios da formação da fábrica, são tidos como as principais for-mas de assegurar a continuidade da produção e aumentar a ação das organizações sobre o trabalhador. O texto coloca em evidência as mudanças que os meios de controle tiveram ao longo do tempo, desde a delimitação do espaço da fábrica e a incorporação do relógio como instrumento de mensuração do tempo até a

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utiliza-produtivo, agindo como um vigilante que jamais para de observar. Apontam ain-da a valorização de aspectos ain-da cultura organizacional para incutir valores e um elevado nível de comprometimento nos trabalhadores, fazendo-os incorporarem a responsabilidade sobre o controle de suas atividades e os objetivos e resultados da organização.

No Capítulo 8, “Os grupos nas organizações”, Daniele dos Santos Fontoura, Francis Moraes de Almeida e Nilson Varella Rübenich abordam as novas formas de organização das empresas. Diferenciam grupos primários – em que as normas, os papéis e os status são conhecidos e aceitos por todos, apesar de não escritos; a interação social gera laços emocionais fortes, e suas relações se estendem por longos períodos e perpassam uma ampla gama de atividade – e grupos secundá-rios, maiores e mais impessoais, gerando laços emocionais mais fracos, de menor duração e com uma gama menor de atividades envolvidas. Enquanto os grupos formais são constituídos pelas organizações, os grupos informais se constituem espontaneamente, por afinidade, proximidade física, semelhança social, interesses comuns ou problemas similares compartilhados por seus membros. No Brasil, o trabalho em grupos torna-se mais presente a partir do final da década de 1980, com a introdução dos princípios da especialização flexível coincidente a um con-texto de redemocratização e abertura da economia. Na linguagem de negócios, têm sido utilizados também os termos “equipe” ou “time” para fazer referência a grupos de trabalho formais: o grupo seria formado por um conjunto de pessoas que compartilham valores, crenças e visões semelhantes de mundo e que apresen-tam uma identidade em comum. Já a equipe partilha um objetivo comum, clara e explicitamente formulado. Enfim, a existência de grupos, tanto formais como informais, deve ser levado em conta, pois podem contribuir para um bom ou mau ambiente de trabalho, resolver ou criar problemas dependendo de como são enca-rados e como funcionam.

O Capítulo 9, “Participação dos trabalhadores nas organizações: Mito ou rea-lidade?”, Daniele dos Santos Fontoura, Betina Magalhães Bitencourt e Andrea Poleto Oltramari abordam o tema da participação que seguidamente retorna aos estudos organizacionais. Analisam as políticas de gestão participativa, suas origens, o que estimulou a sua implantação nas organizações e os seus possíveis limites. A participação foi gradualmente se institucionalizando nos meios empresariais, gerenciais e sindicais brasileiros, tendo significados e reflexos distintos em cada uma destas esferas: as empresas passaram a visualizá-la como uma das possíveis

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ferramentas gerenciais de aumento da produtividade; a imprensa de negócios di-vulgava inovações tecnológicas e organizacionais, o que contribuiu para aumentar as discussões a respeito da necessidade de os gerentes implementarem programas participativos; e o meio sindical contribuiu por intermédio de reivindicações e da introdução de formas de intervenção operária, representadas principalmente pelas comissões de fábrica. Existem, portanto, sistemas de participação e políticas de gestão participativa. Eles podem diferir nos seus objetivos, significando uma estra-tégia de gestão ou uma política de participação que é conquistada num modelo de sociedade mais democrática.

No Capítulo 10, “Algumas reflexões sobre a inveja nas organizações segundo tipologias culturais”, Patrícia Amélia Tomei ressalta que inveja é um sentimento perturbador que faz parte do nosso cotidiano e um conceito pouco discutido na teoria organizacional, mas que não pode ser negado nas relações humanas e no ambiente de trabalho. Os trabalhos que desenvolvem essa dimensão têm relacio-nado as manifestações da inveja nas organizações com a sua cultura, legitimando a importância da questão como um grande desafio à gestão organizacional. A inveja representa uma reação extremamente complexa, pois se manifesta nos indivíduos pelo temor das consequências de sua própria inveja e o medo de ser alvo da inveja dos outros. A autora analisa como os diferentes contextos sociais e fatores eco-nômicos, sociais, culturais e religiosos incidem sobre a inveja. Logo, para enten-der o fenômeno da inveja e de suas consequências é necessário estudar a cultura. Apresenta uma série de modelos indicando como culturas organizacionais podem se refletir nos tipos de inveja e sugere que se aceite sua existência e potenciais conflitos.

No Capítulo 11, “A constituição do trabalho na sociedade moderna”, Sidinei Rocha de Oliveira e Valmíria Carolina Piccinini destacam o trabalho como uma atividade complexa, de difícil definição e conceituação pela variedade de objetos, eventos e situações que engloba. As concepções do trabalho se modificam ao lon-go do tempo. Nas sociedades antigas servia apenas à satisfação das necessidades de sobrevivência; na sociedade feudal inicia o sentimento positivo por sua valorização como meio direcionado para algum fim. Com a Reforma Protestante o trabalho passa a ser reconhecido não só como meio de obtenção de riquezas, mas também como exercício de vida ascética. Atualmente, com as transformações que afetam o trabalho – a globalização da economia, a difusão de tecnologias, a nova divi-são internacional de trabalho, a preponderância da política econômica com traços neoliberais, desequilíbrio de forças no mercado de trabalho e das relações de

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traba-centralidade do trabalho” na sociedade e na vida dos indivíduos. Outros estudiosos consideram que o trabalho é ainda central tanto sob o ponto de vista econômico quanto social, embora tenha adquirido novas “roupagens” como consequência das transformações ocorridas. Enfim, o trabalho ainda permanece, para o homem, tanto um meio de subsistência e acesso aos bens de consumo quanto de expressão individual, identidade de classe e profissão e meio de interação coletiva.

No Capítulo 12, “Processo e organização do trabalho: Conceitos”, Valmíria Carolina Piccinini e Tatiana Ghedine apontam as diferenças entre processo e or-ganização do trabalho, conceitos que na realidade se complementam. No texto, aborda-se o desenvolvimento da tecnologia desde a atividade na manufatura até a automação e as novas tecnologias de informação e comunicação, destacando as transformações no processo de trabalho ao longo do tempo. São apresentadas as for -ças ambientais (econômicas, políticas, sociais, tecnológicas) que influenciam as organizações e vão se traduzir em tendências de gestão, mas demonstram que a organização não pode mais ser considerada uma máquina eficiente, tampouco gerir na era do saber significa deter o controle total sobre a informação, mas, ao contrário, gerir num ambiente de incerteza e de complexidades cada vez maiores. Os problemas de gestão aos quais se deverá fazer face serão ligados mais à escolha da informação pertinente que a seu acesso.

No Capítulo 13, “Taylorismo e fordismo: A racionalidade técnica na organiza-ção do trabalho” Rosângela Maria Pereira e Sidinei Rocha de Oliveira detalham o surgimento e desenvolvimento do taylorismo nos Estados Unidos e como o modelo se consolidou como uma forma amplamente utilizada de organização do trabalho. Reconhecem o fordismo como algo mais amplo que a estruturação dos processos organizacionais, sendo um modelo que atrela produção, trabalho e consumo le-vando à formação de um novo padrão de relações sociais. No entanto, o padrão de expansão continua assentado na padronização de produtos, os aumentos salariais constantes e altos estoques entram em colapso com a redução da demanda. No Brasil, em razão das características históricas como o desenvolvimento tardio e o excedente de mão de obra o modelo se desenvolveu apenas em algumas regiões, embora ainda influencie as práticas em alguns setores.

No Capítulo 14, “Práticas contemporâneas de produção e gestão do trabalho”, Sidinei Rocha de Oliveira e Rosângela Maria Pereira apresentam os novos modelos de organização do trabalho que surgem a partir da década de 1970 em diferentes países. Tais propostas têm por objetivo romper com algumas práticas do

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tayloris-mo desenvolvendo produtos de alta qualidade, maior variedade e de acordo com a demanda. Nos processos de produção são centrais o desenvolvimento tecnológico, a presença do trabalhador e a redução de custos internos, representados prin-cipalmente pelos estoques. Ressaltam que, apesar de algumas semelhanças, tais modelos representam uma miríade de configurações ligadas ao contexto social e econômico, características da mão de obra (nível de qualificação, preparação para participar etc.) e orientação para inovação dos grupos organizacionais.

No Capítulo 15, o último, “Sociedade salarial e flexibilização do trabalho”, Valmíria Carolina Piccinini busca resgatar as mudanças sofridas nas relações de emprego nos últimos anos. O sistema baseado no emprego formal, característico do século XX, vai sendo substituído pelo “emprego flexível” que surge, muitas vezes, como meio de burlar a legislação de proteção social, pela contratação de trabalhadores com menor ou maior qualificação, que podem exercer suas funções na forma de prestação de serviços. A flexibilização, no Brasil, atinge principalmen-te mulheres, jovens, etnias e raças diferenprincipalmen-tes da branca; minorias sexuais e os de menor nível de instrução, o que é demonstrado pelas estatísticas apresentadas. Os defensores da flexibilização sugerem que a regulação do mercado, que marcou o país desde a década de 1940, formou uma sociedade marcada por privilégios para poucos e penúria para muitos. A difusão do emprego flexível se reflete em traba-lho mal pago, pouco reconhecido e instável. A autora conclui que somente políti-cas ativas de emprego e de inclusão social, seja pelo ensino, seja pela qualificação e pelo aumento das oportunidades de emprego, possibilitarão uma perspectiva de futuro melhor para esses trabalhadores.

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Sumário

PARTE I

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA SOCIOLOGIA PARA A ADMINISTRAÇÃO

1 O surgimento da Sociologia e da Sociologia Aplicada

à Administração 3

2 Marx, Weber e Durkheim: Quadro comparativo sobre

o pensamento dos autores clássicos da Sociologia 21 3 Tipos de ação, de racionalidade e o processo de racionalização

na sociologia de Max Weber 41 4 O processo de estratificação social nas sociedades modernas:

As visões de Durkheim, Weber e Marx 49 5 Poder nas organizações: Da dominação de poucos à ação

de todos 63

Referências 83 Atividades propostas para a Parte I 86

PARTE II

A SOCIEDADE E AS ORGANIZAÇÕES

6 Socialização e cultura organizacional 95 7 Controle organizacional no processo capitalista de produção 115

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8 Os grupos nas organizações 135 9 Participação dos trabalhadores nas organizações:

Mito ou realidade? 149

10 Algumas reflexões sobre a inveja nas organizações segundo

tipologias culturais 167 Referências 189 Atividades propostas para a Parte II 195

PARTE III

O TRABALHO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

11 A constituição do trabalho na sociedade moderna 203 12 Processo e organização do trabalho: Conceitos 219 13 Taylorismo e fordismo: A racionalidade técnica na organização 239 14 Práticas contemporâneas de produção e gestão do trabalho 257 15 Sociedade salarial e flexibilização do trabalho 275 Referências 291 Atividades propostas para a Parte III 297

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O surgimento da Sociologia e da

Sociologia Aplicada à Administração

MARILIS LEMOS DE ALMEIDA VALMÍRIA CAROLINA PICCININI

P

ara compreender a constituição de uma nova área de conhecimento é im-portante observar o contexto da época, tanto do ponto de vista cultural como social, político, econômico e intelectual. A análise da gênese da dis-ciplina permite identificar as preocupações do período, as necessidades, os confli-tos e as influências sofridas por essa área nascente do conhecimento, ajudando a entender as configurações assumidas.

A Sociologia surgiu no período comumente denominado moderno, durante o qual acontecimentos importantes transformaram profundamente a sociedade. Para ficar apenas entre aqueles que podem ser considerados marcos simbólicos da nascente sociedade moderna podemos destacar a transição do feudalismo para o capitalismo (séculos XV-XVIII); o Renascimento (séculos XIV-XVI); a Revolução Científica (século XVII), o Iluminismo (século XVIII), a Revolução Industrial (se-gunda metade do século XVIII na Inglaterra), a Independência dos Estados Unidos da América (1775-1783) e a Revolução Francesa (1789). A Sociologia, conforme postula Ianni, pode ser entendida tanto como expressão dessa época, traduzindo seus anseios e suas perspectivas, quanto como produtora de uma explicação que organiza e atribui sentido a nova sociedade que emerge desse processo.

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4 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

Nesse ambiente, a Sociologia encontra elementos essenciais da sua formação, do seu estilo de pensamento. A despeito das diversidades de perspectivas, das peculiaridades dos princípios explicativos, é inegável que a Sociologia nasce e se desenvolve com as realizações e os dilemas da modernidade. Tan-to é assim que ela não abandona essa problemática primordial. Ao contrário, torna e retorna frequentemente a ela. No presente, como no passado, a So-ciologia está empenhada em desvendar o modo pelo qual o homem, deus e o diabo estão metidos no meio do redemoinho. (IANNI, 1989, p. 23) O longo processo de transição do feudalismo para o capitalismo e, em especial, as mudanças ocorridas tanto nas formas de produzir quanto nas relações jurídicas e políticas dão a nova feição à sociedade – mais urbana e mais industrial – que vai surgindo. Estreitamente vinculadas à nascente sociedade moderna, novas ideias passam a disputar a posição de um discurso legítimo e ao conhecimento científi-co é atribuído um papel privilegiado. Assim, embora a Sociologia venha a surgir como disciplina somente no século XIX ela é herdeira do pensamento filosófico anterior, do Renascimento e da Revolução Científica.

Neste capítulo, trataremos das condições culturais, intelectuais e sociais pre-sentes na origem da Sociologia e da Administração, buscando demonstrar como tais aspectos incidiram sobre as estruturas de ambas as disciplinas e definindo seus contornos iniciais. A seguir, trataremos da constituição da Sociologia e da Admi-nistração como disciplinas científicas, na virada para o século XX.

1. A

S P E C T O S C U L T U R A I S E I N T E L E C T U A I S Q U E T R A N S F O R M A R A M O M U N D O M O D E R N O

O século XVI foi decisivamente marcado pelo Humanismo, ou seja, pela cres-cente valorização do homem e de sua capacidade de realização, modo de pensa-mento que se fez presente no Renascipensa-mento, no Iluminismo e na própria Sociolo-gia. A centralidade atribuída ao homem, como ser dotado de livre-arbítrio e capaz de produzir, gerir e construir seu próprio destino se contrapõe ao papel até então atribuído a Deus como responsável pela fortuna da humanidade.

O Renascimento, em parte movido por tal perspectiva humanista, foi um mo-vimento intelectual e cultural que talvez tenha como uma de suas principais con-sequências o resgate do espírito crítico e investigativo do homem. Esse movimento

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promoveu a retomada dos valores do mundo clássico e teve expressão no campo das artes (Michelangelo, Rafael, Ticiano), da literatura (Dante Alighieri, Miguel de Cervantes y Saavedra, William Shakespeare), da ciência (Nicolau Maquiavel, Johannes Kepler, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei) e das grandes navegações (Cristóvão Colombo, Vasco da Gama). Entre estas diferentes formas de mani-festação da inventividade humana encontra-se um fio que as interliga que é uma nova maneira de representar o homem. Nas artes, a representação realista da figura humana, com músculos e veias aparentes, com o corpo em evidência e em movi-mento, contrasta com a arte medieval fixista que retratava papas, bispos e reis não em sua humanidade, mas em sua representação projetada como um enviado de Deus. Na ciência, emblematicamente, o realismo está também presente na obra de Maquiavel – O Príncipe – acerca de como funciona, de fato, a política rompen-do com a visão filosófica e normativa que enfatizava o “dever ser” como um ideal a ser perseguido. Ao mesmo tempo, o questionamento dos dogmas religiosos e do princípio da autoridade da Igreja abriu caminho para as reformas religiosas. Após um longo período de predomínio do pensamento teológico e do monopólio da Igreja sobre o saber, que perdurou durante toda a Idade Média (séculos V-XV), há um enfraquecimento deste poder a partir da Reforma Protestante (século XVI).

Desde o Renascimento, a religião, suporte do saber, vinha sofrendo diversos abalos com o questionamento da autoridade papal, o advento do protestan-tismo e a consequente destruição da unidade religiosa. Ao critério da fé e da revelação, o homem moderno opõe o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar. Ao dogmatismo opõe a possibilidade da dúvida. De-senvolvendo a mentalidade crítica, questiona a autoridade da Igreja e o saber aristotélico. Assume uma atitude polêmica perante a tradição. Só a razão é capaz de conhecer. (ARANHA, 1993, p. 148)

No século XVII a Revolução Científica instituiu a Ciência Moderna, com mé-todo científico próprio que estabelece novos procedimentos para o conhecimento apoiados na observação, na experimentação, no uso de cálculos e de instrumentos, propiciando o desenvolvimento do método científico nas ciências naturais. As des-cobertas de Galileu no campo da Astronomia simbolicamente são reconhecidas com uma inflexão importante no modo como o conhecimento é estabelecido e le-gitimado na sociedade. Embora Kepler e Copérnico já tivessem dado os primeiros passos em direção à visão ptolomaica do universo, foi Galileu que, valendo-se de

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6 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

dois instrumento tipicamente modernos – a experimentação e o uso de instrumen-tos – se tornou, o símbolo da emergência da ciência moderna ao promover uma revolução conceitual. A ciência progride com intensidade no período e divide-se em vários ramos especializados como química, física, matemática e medicina. A ciência moderna, que busca identificar as regularidades e leis gerais do universo apoiando-se para tanto no uso do método científico, estabelece o novo paradigma de conhecimento que regerá, mais tarde, a organização da Sociologia e da Admi-nistração como disciplinas científicas.

Segundo Henry (1998), o método científico que emerge com a ciência moder-na caracteriza-se pela matematização da representação do mundo e pelo uso do método experimental. A Matemática, até então considerada um saber prático e instrumental, é elevada à condição de uma forma segura de estabelecer a verdade, explicando o funcionamento do mundo físico. A experimentação, sistemática e regida por regras, fornece novos princípios para a justificação do conhecimento, uma vez que a ciência moderna coloca em xeque o saber cuja justificação assenta--se apenas sobre axiomas, valorizando a prova e a corroboração. A valorização da razão e do saber prático e a laicização de todas as esferas da vida social são características do pensamento moderno apontadas por Aranha (1993). A ciência moderna está intimamente ligada à nova ordem capitalista emergente, na qual há esta mesma valorização da atividade prática e do trabalho, pois a capacidade de gerar inventos e descobertas que aumentem a capacidade de produzir mercadorias são fundamentais para impulsionar o desenvolvimento da indústria.

Seguindo os novos caminhos traçados pelos pensadores que se destacaram nesse período de transição, foi se firmando um novo conhecimento, uma nova ciência, que buscava leis, e leis naturais, que permitissem a com-preensão do universo. Essa nova ciência – a ciência moderna – despontou com o surgimento do capitalismo e a ascensão da burguesia e de tudo que está associado a esse fato: o renascimento do comércio e o crescimento das cidades, as grandes navegações, a exploração colonial, o absolutismo, as alterações por que passou o sistema produtivo, a divisão do trabalho (com o surgimento do trabalho parcelar), a destruição da visão de mundo própria do feudalismo, a preocupação com o desenvolvimento técnico, a Reforma, a Contrarreforma. A partir de então, estava aberto o caminho para o acelerado desenvolvimento que a ciência viria a ter nos períodos seguintes. (ANDERY, 1992, p. 178)

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O Iluminismo (XVIII) é um movimento de caráter filosófico, científico e racional que influenciou profundamente os pensadores da época e ainda hoje se faz presente no pensamento social. A razão Iluminista confronta-se com a ideia de revelação religiosa e busca superar o princípio da autoridade e romper com superstições e crenças religiosas. O Humanismo está presente no Ilumi-nismo pela valorização do homem como produtor da própria história, capaz de transformar a realidade e (re)construir a sociedade sem depender de elementos divinos ou sobrenaturais. Além disso, o pensamento iluminista é profundamente marcado por uma visão otimista acerca do progresso, do desenvolvimento e da capacidade do homem, por meio da ciência, de construir um mundo melhor. O Iluminismo apresenta ênfases diferentes em vários países, adquirindo um caráter mais intelectual em alguns (Escócia: Adam Smith; Alemanha: Gottfried Wi-lhelm von Leibniz, Immanuel Kant) e mais político em outros (França: Voltaire, Jean-Jacques Rosseau, Condorcet).

2. A

S C O N D I Ç Õ E S S O C I A I S E A O R I G E M D A

S

O C I O L O G I A E D A

A

D M I N I S T R A Ç Ã O

As condições decisivas e mais imediatamente relacionadas com o surgimento da Sociologia como área disciplinar autônoma e imbuída de uma abordagem cien-tífica foram duas grandes transformações que se desenrolaram no século XVIII e que marcaram o mundo a partir de então: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. A Sociologia tem na sua origem a tentativa de entender as dimensões so-ciais de tais transformações, buscando desenvolver um saber sistemático e secular capaz de ser validado.

No plano econômico a Revolução Industrial representou a ruptura com as relações de produção feudal e o surgimento do modo capitalista de produção, com superação do sistema artesanal de produção para o modo mecanizado carac-terístico da indústria. Porém, a Revolução Industrial não é importante apenas do ponto de vista produtivo, sobretudo ela tem um significado especial como revo-lução social – mudanças na estrutura institucional, cultural, social e política. Com a Revolução Industrial tem-se o surgimento de novas classes sociais – burguesia e proletariado –, bem como os conflitos e crises sociais decorrentes das mudanças verificadas na sociedade e que resultaram no agravamento da pobreza e na explo-ração da força de trabalho, inclusive infantil. Ligado ao crescimento da indústria,

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8 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

as cidades atraem trabalhadores em busca de ocupação nem sempre existente, acelerando o processo de urbanização que, somado ao crescimento demográfico, resultam em uma concentração de milhares de pessoas que, tendo abandonado seus locais de origem, vagam em busca de trabalho subsistindo em condições de miserabilidade.

No plano político a Revolução Francesa é emblemática, pois transformou as relações sociais ao elevar a burguesia ao poder político e inaugurar o Estado Mo-derno, tendo consequências profundas e duradouras não só na Europa. A Revo-lução Francesa, ao instaurar um novo regime jurídico, político e social adequa-do à nascente sociedade moderna capitalista, acentuou as pressões no sentiadequa-do de promover mudanças sociais. No entanto, não significou o início de um período de paz social; ao contrário, o século seguinte foi marcado por intensa instabilidade política, tanto pela cisão dentro da classe dominante quanto pelo crescimento de movimentos revolucionários (socialistas) e contrarrevolucionários.

A Revolução Francesa é, inegavelmente, o maior acontecimento político do período. Ela não só marcou profundamente a configuração geral da França dos séculos XVIII e XIX como também a de toda a Europa do mesmo período; além disso, suas consequências chegam até nossos dias. (ANDERY, 1992, p. 269)

A Sociologia tinha como foco a compreensão desse processo de mudança ca-racterístico do momento de instalação da sociedade industrial, abordando ques-tões como mudança social, revolução, contrarrevolução, classes sociais, Estado, capitalismo e tecnologia. Porém, é preciso lembrar que as ciências naturais já eram reconhecidas socialmente e estavam organizadas em disciplinas autônomas desde os séculos XVII/XVIII, mas ainda estava em disputa qual campo do conhecimen-to deveria legitimamente ocupar-se das questões relativas ao mundo social, que eram muitas naquele momento. Até então tratadas de modo pouco sistemático e prescindindo de um método, as questões sociais e o estudo da sociedade se tornam objeto da Sociologia, porém esta ainda carece de uma abordagem científica, tal qual existia nas ciências naturais.

Assim, está aberto o caminho para o desenvolvimento de uma sociologia po-sitiva ou de uma física social, como Auguste Comte (1798-1857) denominou inicialmente, capaz de entender as regras que regem a mudança social para que ela fosse promovida de modo organizado e racional. A Sociologia surgiu

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inspira-da no método inspira-das ciências naturais, e como tal possuía uma intenção prática: os pioneiros da Sociologia estavam envolvidos com os acontecimentos da época e aspiravam a fazer do conhecimento sociológico um instrumento para a ação. Críti-cos da sociedade capitalista e reformadores sociais, preocupados com a acentuada desigualdade social e pobreza de grande parte da população formada pelos traba-lhadores, buscavam constituir um saber prático e, ao mesmo tempo, em sintonia com os princípios da ciência moderna.

Olhando retrospectivamente, é possível identificar Karl Marx (1818-1883) como um dos precursores do tipo de reflexão que viria a caracterizar a Sociologia. O período em que Marx viveu e produziu foi de agravamento da questão social e de instabilidade política e econômica. Esse contexto, aliado à sua formação in-telectual e trajetória política, orientou sua preocupação para a compreensão do capitalismo buscando explicar as fontes da exploração social e econômica e os possíveis caminhos para a superação do sistema capitalista, que ele considerava gerador de desigualdades. Para isso, Marx debruçou-se sobre a história inglesa no período de transição do feudalismo para o capitalismo, analisando minuciosamen-te a Revolução Industrial para extrair daí uma minuciosamen-teoria acerca da mudança social.

Uma das faces do processo de constituição do capitalismo revelada por Marx e retratada em O Capital é da pauperização e da deterioração das condições de vida da população. Desde o século XVI acentuava-se a concentração populacional nas cidades inglesas, em parte por causa das transformações ocorridas no campo, sobretudo o processo de cercamento das terras comuns dos feudos. A substituição do sistema de exploração agrícola de subsistência – típico do regime feudal – pelas pastagens e a criação de carneiros para fornecer lã para as indústrias têxteis repre-sentava uma opção mais lucrativa. Tudo isso se refletiu numa grande miséria para os camponeses que, sem alternativas, foram forçados a migrar para as cidades. Londres, que em 1790 contava com 1 milhão de habitantes, em 1841 já abrigava 2,5 milhões. Essa ocupação intensiva e desorganizada do espaço urbano acentuou problemas como a degradação do meio ambiente, a precariedade e ausência de moradias e a falta de infraestrutura, como água, esgoto e aquecimento. A cidade apresentava problemas de contaminação do ar, da água e acumulação de detri-tos humanos e industriais, o que contribuía para elevar a ocorrência de doenças e epidemias. Quanto aos trabalhadores, entre os quais se encontravam crianças e mulheres que recebiam salários ínfimos, eram submetidos a elevados níveis de exploração do trabalho e cumpriam extensas jornadas. Assim era a denominada questão social que mobilizava reformadores sociais, revolucionários e até

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contrar-10 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

revolucionários que diante da miséria generalizada apregoavam um retorno ao regime monárquico.

Se, por um lado, [a Revolução Industrial] tornou os ricos cada vez mais ri-cos, tornou, por outro lado, os pobres cada vez mais pobres, em condições de vida extremamente precárias: moradias superlotadas, escuras, insalu-bres, jornadas de trabalho de até 16 horas diárias, condições alarmantes de trabalho, crianças fora da escola trabalhando por longos períodos, em péssimas condições. (ANDERY, 1992, p. 262)

A outra face do processo de transição para o capitalismo é uma profunda mu-dança nas formas de produzir, já observada por Adam Smith (1723-1790), que, ao analisar a divisão do trabalho, demonstrou que se um operário trabalhasse iso-ladamente obteria 20 unidades de alfinetes ao fim do dia, ao passo que, se 18 ope-rários se ocupassem de uma única operação diferente dividindo o trabalho entre si, ao final do dia produziriam até 4.800 unidades. As possibilidades abertas pela divisão do trabalho foram vislumbradas por Adam Smith como estratégia eficiente para elevar a produtividade do trabalho, mas também foram apontadas por Karl Marx como fator que permitiria a incorporação de mão de obra não qualificada e a redução dos níveis salariais.

Além disso, Marx argumentou que as mudanças no conteúdo e no processo de trabalho, se comparadas com o período em que a produção era artesanal, significa-ram uma perda de autonomia para o trabalhador. A partir do momento em que os trabalhadores passaram a trabalhar reunidos em um único local – nas manufatu-ras –, deixaram de ser artesãos livres e independentes, dando início ao processo de subordinação formal do trabalho ao capital. O espaço, a matéria-prima, os meios de trabalho e a energia já não pertenciam aos trabalhadores, não sendo, igualmen-te, seus os produtos gerados pelo próprio trabalho. Paulatinamenigualmen-te, a progressiva separação entre propriedade, de um lado, e gestão e controle, de outro, origina um grupo específico de trabalhadores que se ocupam destas últimas atividades. Nesse novo modo de produção a autonomia do trabalhador para decidir sobre o ritmo de trabalho e a duração da jornada diária é reduzida, e as tarefas de controle e disciplina foram assumidas pelos capatazes. A figura do capataz, nesse momento, pode ser visto como um germe da figura do gerente, pois a ele cabiam as tarefas de seleção e dispensa de trabalhadores, controle e a parca orientação fornecida para a execução das atividades.

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Estas mudanças nas formas de produzir, assim como as difíceis condições de trabalho e de vida, deram origem a fortes reações por parte dos trabalhadores, as quais se traduziram na multiplicação de manifestações populares, desde aquelas espontâneas e desorganizadas até outras que resultaram na constituição de sindica-tos e partidos proletários, exacerbando o conflito entre patrões, capatazes encarre-gados do controle e trabalhadores. Entre 1830 e 1840 os movimentos de contes-tação do capitalismo na Europa se intensificaram, aumentando a instabilidade a as incertezas quanto ao seu futuro. Passada essa fase de crise social e política, após o fracasso da revolução de 1848, inicia-se um novo período, entre 1840 a 1873, que ficou conhecido como a era de ouro do capitalismo de livre concorrência, o qual é interrompido pelas primeiras grandes crises do capitalismo entre 1873 e 1896, as quais impuseram transformações na economia capitalista que resultaram em crescente concentração industrial. As fusões e aquisições do final do século XIX não só resultaram no aumento do tamanho das empresas, como também implica-ram a necessidade de criar mecanismos mais complexos de gestão e de logística, impulsionando o desenvolvimento da área da Administração. Nesse contexto, a Sociologia surge como tentativa de entender a nova sociedade que emerge a partir da Revolução Industrial, e a Administração, do ponto de vista prático, surge pela necessidade de gerir as primeiras grandes organizações industriais e, do ponto de vista científico, busca assentar as bases para um conhecimento mais racional, me-tódico e rigoroso sobre as organizações.

3. A

C O N S T I T U I Ç Ã O D A

S

O C I O L O G I A C O M O D I S C I P L I N A C I E N T Í F I C A

A Sociologia ainda percorreu um longo caminho até sua institucionalização como disciplina científica no século XIX, período no qual se destacam as contri-buições de dois importantes sociólogos para o delineamento da disciplina: Émile Durkheim (1858-1917), na França, e Max Weber (1864-1920), na Alemanha.

O período em que ambos viveram e produziram é distinto daquele de Marx; o capitalismo já estava constituído e transitava do capitalismo liberal ao monopo-lista e, em termos de transformações nos sistemas produtivos, estava-se em ple-na Segunda Revolução Industrial. Do ponto de vista político, há uma crescente institucionalização dos conflitos entre capital e trabalho pela criação das centrais sindicais e dos partidos socialistas, fortalecidos pela conquista do direito ao voto

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12 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

pelos trabalhadores. Do ponto de vista da construção do conhecimento científico, o século XIX é marcado por esse processo de disciplinamento e profissionalização do conhecimento. A premissa era de que a investigação sistemática exigia concen-tração especializada nos múltiplos e distintos domínios da realidade (COMISSÃO GULBEKIAN, 1996).

Neste sentido, Durkheim buscou sistematizar o que considerava ser o método sociológico, trabalho que faz parte de um esforço para delimitar a Sociologia como ciência. Herdeiro de Comte, Durkheim compartilhava a ideia de que o método positivo se afirma como científico porque é desenvolvido por meio de um método objetivo e por se contrapor à filosofia especulativa, dedutiva e não científica.

Preocupava-se em definir rigorosamente a área de estudos da Sociologia, com objeto e método próprios, e em diferenciar a Sociologia da Biologia e da Psico-logia. Qual o domínio da Sociologia? O ponto de partida é que há um grupo de fenômenos, em todas as sociedades, que se distinguem daqueles estudados pe-las demais, que são os fatos sociais, são distintos dos fenômenos orgânicos e que igualmente não se confundem com os fenômenos psíquicos, uma vez que estes estariam relacionados com as consciências individuais. Para Durkheim caberia à Sociologia, uma nova ciência, estudar estes fenômenos ligados à vida social e ainda não tratados por nenhuma outra especialidade.

Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta caracteres muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir ex-teriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, não poderiam se confundir com os fenô-menos orgânicos, pois consistem em representações e em ações; nem com fenômenos psíquicos, que não existem senão na consciência individual e por meio dela. Constituem, pois, uma espécie nova e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais. (DURKHEIM, 2003, p. 48) Tais fenômenos são aqueles definidos para além dos indivíduos, uma vez que existiriam antes deles e, portanto, existem fora deles, possuindo uma existência objetiva. O meio social exerceria uma pressão sobre os indivíduos desde o seu nascimento, forçando-os a moldarem-se ao meio social em que vivem. Há uma coerção que é exercida ou pode ser exercida e que nem sempre pode ser observa-da facilmente, mas que se manifesta de forma mais evidente diante de uma ação individual que tenta violar as crenças, normas ou práticas de uma sociedade.

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A par da preocupação em construir a Sociologia como disciplina científica, Durkheim voltou-se para o tema da coesão social, presente em todas as suas obras. Para Durkheim, um herdeiro da tradição francesa segundo Levine (1997), a so-ciedade e os fenômenos humanos não são apenas o somatório das ações de cada indivíduo, haveria um fenômeno supraindividual que resultaria da vida coletiva. Assim, a sociedade é ela própria a origem da moralidade social, ou seja, é fonte de sentimentos e hábitos morais, que ela instila nos indivíduos por intermédio de instituições como a família, a educação, a religião e o governo. Essa pressão do meio social sobre os indivíduos exerceria uma função positiva, na medida em que é produtora de coesão, de solidariedade e de integração.

Dada a centralidade atribuída à coesão social Durkheim interroga-se, diante das transformações sociais, econômicas, políticas e populacionais que ocorriam na sociedade à sua época, se estaríamos diante de uma crise da moral. Ou seja, te-riam as rápidas modificações ocorridas na sociedade gerado uma espécie de vazio moral, uma vez que os antigos valores e sentimentos perdiam sua força, não sendo substituídos por uma nova moral? Tal condição levaria a sociedade a um estado de anomia, ou seja, ausência ou enfraquecimento das regras, que faria os indivíduos deixarem de sentir a pressão (necessária) da sociedade sobre eles e que os torna se-res morais. A consequência seria o afrouxamento dos laços morais e a diminuição da coesão social, com um efeito desintegrador.

É com essa questão de fundo que o autor inicia a obra Da divisão do trabalho

social e nela se propõe a investigar se a crescente divisão do trabalho observada na

sociedade moderna, para além das funções econômicas exercidas, teria também a função moral de manter os indivíduos integrados à sociedade. Para Durkheim, a vida social tem uma dupla origem: (a) a similitude das consciências e (b) a divi-são do trabalho social.

Tudo se passa diferente com a solidariedade produzida pela divisão do tra-balho. Enquanto a precedente [por similitude] implica que os indivíduos se assemelhem, esta supõe que difiram uns dos outros. A primeira não é possível senão na medida em que a personalidade individual está absorvida na personalidade coletiva; a segunda não é possível senão quando cada um tem uma esfera de ação que lhe é própria, consequentemente, uma perso-nalidade. (DURKHEIM, 1995, p. 152)

Nas sociedades inferiores a norma de conduta impõe a realização dos traços do tipo coletivo em cada um dos indivíduos, isto é, os traços da consciência

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cole-14 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

tiva – conjunto de crenças e sentimentos comuns aos membros de uma sociedade – da época à qual pertencemos. A coesão social aqui é fruto da conformidade das consciências particulares com o “tipo psíquico” da sociedade, gerando os laços que une o indivíduo ao grupo. Este tipo de solidariedade – baseada nas similitudes dos membros do grupo, na existência de uma consciência coletiva ou comum entre eles – chama-se solidariedade mecânica e tanto será mais forte, quando as ideias comuns ultrapassarem as individuais, quanto a individualidade for nula. A função desta norma é a manutenção da solidariedade social e, portanto, possui um caráter moral.

Nas sociedades avançadas as similitudes são menores e insuficientes para man-ter a solidariedade. A ambiguidade do crescimento da sociedade é que a especiali-zação estimula/exige a individuação, mas a coesão necessita do ser coletivo. Con-tudo, as sociedades modernas não tenderiam à fragmentação, apesar do intenso progresso, mas à emergência de uma nova moral, apoiada na divisão do trabalho, não mais nas similitudes. Nessas sociedades a norma que impõe a especialização é a que possui a função de manter a coesão pela divisão social do trabalho. Segun-do Durkheim, a divisão Segun-do trabalho produz um tipo específico de solidariedade chamada orgânica, a qual pressupõe indivíduos diferentes, com esferas de atuação distintas, especializadas. É uma solidariedade mais forte, na qual o indivíduo de-pende da sociedade, na qual cada órgão possui sua especificidade, sua especializa-ção e também sua autonomia. É, portanto, também uma norma de caráter moral. Assim, para Durkheim a divisão do trabalho relaciona-se com aspectos morais e sociais, mais do que econômicos, pois a especialização é estabelecida socialmente e seu efeito moral é criar a solidariedade entre os indivíduos e assim reforçar a unidade e a coesão social.

Em acréscimo ao que já fora dito anteriormente sobre o contexto da época vale ressaltar algumas peculiaridades da Alemanha. O desenvolvimento econô-mico alemão se dá em um ritmo diferente do restante da Europa. O processo de unificação nacional só ocorrerá em 1871, quase 100 anos depois da Revolução Francesa. Foi somente a partir deste processo de unificação que a Alemanha enfim promove seu processo de industrialização, transformando-se em uma poderosa na-ção industrializada. Do ponto de vista político a importância e força de um Estado fortemente militarizado sem dúvida é uma referência importante no pensamento de Weber, especialmente nas implicações sobre a liberdade e a vontade indivi-dual. Enquanto na Grã-Bretanhã e na França as revoluções científica copernicana e newtoniana significaram a reformulação e compatibilização das filosofias sociais

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com esses novos pressupostos influenciando fortemente as nascentes ciências so-ciais, na Alemanha a ascendência das ciências naturais foi vista como uma ameaça à natureza íntima, essencial do ser humano e à sua autodeterminação moral.

O ambiente intelectual alemão é importante para compreender a forma como Weber concebe a Sociologia e suas opções metodológicas. Herdeiro do pensamen-to alemão antinaturalista, histórico e antipositivista, Weber rejeitava fortemente a ideia de que existiriam leis gerais capazes de explicar as realidades sociais. Se-gundo Levine, seu pensamento expressaria e traduziria para as ciências sociais as principais posições da filosofia alemã, que poderiam ser sintetizadas em cinco grandes oposições ao pensamento naturalista:

Tomados em seu conjunto, os pensadores sociais alemães acabaram identi-ficando cinco diferentes áreas de oposição à ética e à ciência social natura-listas. (1) Na esteira da subtradição hermenêutica, rejeitaram sua perspec-tiva sobre os seres humanos como objetos a estudar de fora para dentro, em favor de um método que prestava atenção aos significados subjetivos de agentes sociais. Na esteira de uma subtradição apriorística eles rejeita-ram (2) uma epistemologia estritamente indutivista, a favor de uma que sublinhava o trabalho constitutivo do conhecedor, e (3) a premissa de que diretrizes práticas podiam basear-se exclusivamente em proposições teóri-cas, a favor de uma clara distinção entre os domínios empíricos e normati-vos. Na esteira da subtradição voluntarista, eles rejeitaram (4) uma meta-física determinista, a favor de uma que protegia explicitamente o espaço para a livre ação humana, e (5) a tendência para analisar formações sociais em termos estritamente naturalistas, a favor de taxonomias que abrem espaço para associações construídas de forma consciente. (LEVINE, 1997, p. 184)

Estas perspectivas ou posicionamentos transparecem nas concepções teóricas e metodológicas de Weber. Assim, considerava que o foco das ciências sociais deveria ser o indivíduo, buscando analisar o sentido da sua ação e o entendimento das produções do espírito humano. Postulava a necessidade de uma ciência da experiência humana que diferisse das ciências da natureza, pois somente os se-res humanos podem simbolizar significados que lhes permitam serem entendidos por outros. Tal preocupação com a apreensão dos significados resultou em uma sociologia que tem por objeto compreender o sentido da ação social, buscando

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16 S O C I O L O G I A E A D M I N I S T R A Ç Ã O

evidenciar o sentido pensado pelo sujeito autor da ação. O indivíduo é a unidade de análise básica, pois só ele pode conferir sentido, signo e valores às suas ações.

Além disso, a recusa ao determinismo se traduz na tentativa de compreender o que move os indivíduos e as suas ações sociais, que tem como pressuposto que os indivíduos fazem escolhas ao agir, por mais que essas escolhas estejam relaciona-das com ou condicionarelaciona-das pelas relações sociais nas quais ele está inserido. Como corolário desta perspectiva não existiria, portanto, uma lei geral que pudesse ser encontrada e que seria capaz de explicar todas as sociedades; seria necessário olhar as singularidades, o que permitiria compreender as configurações específicas de cada sociedade. E essas singularidades têm origem na forma particular como se combinam as ações dos indivíduos que compõem esta sociedade. Enquanto as ciências da natureza eram nomotéticas – ou seja, seu método e intenção é formu-lar leis –, as disciplinas históricas, como a Sociologia, buscavam realidades singula-res e não recorrentes, porque dotadas de valosingula-res significativos. De um lado estava presente uma crítica aos grandes sistemas explicativos e, de outro, uma defesa de uma concepção particular da história.

Para Weber não há uma linha unívoca nem um curso objetivamente progres-sivo no interior da história, o que o leva a negar que as mesmas causas possam operar ao longo do tempo em condições históricas diferentes. Ainda assim, o autor resgata a importância dos fatores econômicos ou materiais para a explicação de um problema, contra interpretações idealistas da época, mas afasta-se do materia-lismo histórico ao negar a possibilidade de encontrar um curso objetivo determi-nado nos processos históricos.

A rejeição ao indutivismo e a valorização do papel do sujeito que busca conhecer uma realidade transparece no esforço de criar taxonomias, como a taxonomia dos tipos de ação social, dos tipos de capitalismo e dos tipos de do-minação. Weber elabora essas classificações como uma construção intelectual, um tipo ideal porque idealizado mentalmente, que serve como ferramenta para analisar a realidade social. Assim, ao analisar o capitalismo na Alemanha, por exemplo, ele identifica o abandono de um tipo de capitalismo tradicional, no qual a conduta dos indivíduos é mais tradicional e, só por isso, dizemos que “o capitalismo é mais tradicional” e o surgimento de um tipo de capitalismo no qual impera a racionalidade e o cálculo econômico, resultado de condutas indivi-duais mais racionais, ou seja, de indivíduos que agem racionalmente. Em A ética

protestante e o espírito do capitalismo Weber vai buscar compreender o processo

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da doutrina calvinista, para a difusão de um tipo de ação racional, inicialmente orientada por valores.

Mas sem dúvida a taxonomia mais conhecida de Weber é acerca dos tipos de ação social. Considera ação social um modo específico de ação, ou seja, uma conduta à qual o próprio agente associa um sentido. Essa ação não ocorre de modo isolado, é orientada pela conduta dos outros e está envolvida em uma cadeia motivacional. Nem toda a ação é social, algumas ações são apenas reativas, mas a Sociologia ocupa-se daquelas ações cujo sentido pode ser apreendido e, portanto, é passível de interpretação. Weber define quatro tipos puros ou ideais de ação social – ação afetiva, ação tradicional, ação racional orientada por valores e ação racional orientada por fins –, as quais permitem investigar e expor as conexões de sentido que influem na ação (WEBER, 2004).

Weber tem uma obra muito vasta, passando por temas muito variados que re-velam uma grande curiosidade intelectual, rigor no tratamento das questões abor-dadas e uma extrema erudição. Na sua obra emerge a questão da racionalidade e da racionalização do Ocidente como questões centrais, que são abordadas ao longo de toda a sua obra.1

4. I

N T E R S E Ç Õ E S E N T R E

S

O C I O L O G I A E

A

D M I N I S T R A Ç Ã O

O desenvolvimento do que se convencionou chamar Segunda Revolução In-dustrial, com a descoberta de novas fontes de energia como o petróleo e novas formas de comunicação como o telégrafo, favoreceram a expansão industrial e au-mentaram o nível de emprego (em 1881 a indústria de bens de capital empregava o dobro da força de trabalho registrada em 1851). Há uma expansão da indústria pesada (ferrovia, construção naval, química e indústria de bens de capital), si-multânea a uma maior concentração de capitais favorecida pela grande indústria. Essa concentração de capitais resultou na formação de oligopólios e cartéis, que tendiam a estabelecer medidas monopolistas e protecionistas, via preços adminis-trados, que resultaram na expansão do capitalismo monopolista. No fim do século XIX o mundo era dominado por grandes corporações que produziam em escala artigos destinados aos mercados nacionais e mundiais.

Referências

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