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Algumas reflexões sobre a inveja nas organizações segundo tipologias culturais

PATRÍCIA AMÉLIA TOMEI

1. P

O R Q U E F A L A R D E I N V E J A N A S O R G A N I Z A Ç Õ E S

?

Inveja é um sentimento perturbador que faz parte do nosso cotidiano e um conceito pouco discutido na teoria organizacional.

Da Bíblia aos ditos populares passando por clássicos como Shakespeare e fá- bulas de La Fontaine, a inveja sempre foi vista como um sentimento destrutivo. Ela pode ser a causa de muitos fracassos profissionais e empresariais. Não há como negar sua presença nas relações humanas e no ambiente de trabalho.

De acordo com o padre Jesus Hortal (2002):

A inveja é chamada de pecado destruidor porque não se conforma com possuir mais ou melhor. Gostaria, sim, de destruir o que o outro possui. Por isso mesmo, acaba destruindo o próprio invejoso, corroendo o seu co- ração com o desgosto de contemplar o bem do próximo.

Observamos em artigos de Sociologia, Antropologia Cultural e Psicologia So- cial inúmeros estudos que nos falam do conflito e de suas causas (associadas em

geral a variáveis como desigualdade, status, papéis, oportunidades etc.) sem tocar na palavra “inveja”.

A literatura comportamental evidencia que podem ocorrer conflitos sem que haja a inveja, que por sua vez não depende da existência do conflito, mas poucas vezes questiona se naquele conflito disfuncional, naquela hostilidade de senti- mentos como inveja, ressentimento, competição, raiva, emulação fazem parte do universo emocional da sociedade e da organização.

Os trabalhos que desenvolvem essa dimensão esquecida do universo organi- zacional1 têm relacionado as manifestações da inveja nas organizações com a sua

cultura, legitimando a importância da questão como um grande desafio à gestão organizacional.

Neste capítulo busca-se a melhor compreensão da interdependência entre a in- veja e a cultura organizacional a partir do estudo exploratório de diferentes manifes- tações e tipos de inveja em diferentes tipologias culturais, abrindo uma reflexão que nos ajude a fazer inferências de como trabalhar a questão nas organizações.

2. O

Q U E É I N V E J A

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Os gregos a representavam como um velho espectro feminino, a cabeça cer- cada de cobras, os olhos estrábicos e fundos, a tez lívida. Um ser de magreza ex- trema, com uma serpente nas mãos e outra lhe roendo o coração, às vezes acom- panhado da Hidra de Lerna, monstro mitológico de sete cabeças. A imagem é terrível, mas não poderia haver mais perfeita representação para um sentimento tão mal-afamado como a inveja.

A origem etimológica da palavra inveja vem do substantivo latino invidia e do verbo invidere, que significa olhar maliciosamente, ou olhar enviesado, de soslaio.

1 Para saber mais sobre o tema, leia:

VRIES, M.F.R.K. “A Inveja, grande esquecida dos fatores de motivação em gestão”. In: CHANLAT, J.F. e TORRES, O.L.S. (orgs.). O indivíduo na organização – dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1992.

TOMEI, P.A. Inveja nas organizações. São Paulo: Makron Books, 1994.

TOMEI, P.A. Envidia en las Organizaciones – minimice sus repercusiones aprendiendo a manejarla. México: McGrawHill, 1995.

TOMEI, P.A.; BELLE. F. “Análise Comparativa da Gerência da Inveja nas Organizações Brasileiras e Francesas”. Revista de Administração. São Paulo, v. 32, n. 1, jan-mar 1997: p. 5-13.

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À medida que se aprofunda o conceito, torna-se evidente que em comparação com outros sentimentos, a inveja representa uma reação extremamente complexa, pois se manifesta nos indivíduos por duas faces: o temor das consequências de sua própria inveja e o medo de ser o alvo da inveja dos outros.

Freud (1916) foi o primeiro cientista a utilizar o conceito de inveja, associan- do as origens da inveja no estado de evolução humana em que a criança toma, pouco a pouco, consciência da diferença anatômica entre os sexos (FREUD, 1916b).

Estudos posteriores sobre o tema têm indicado, todavia, ser preciso voltar ao estado pré-edipiano para solucionar o enigma da inveja. Não é suficiente deter-se no triângulo mãe-pai-criança. Nesse sentido, Melaine Klein (1929) foi a primeira cientista a considerar a inveja um conceito central em sua teoria psicanalítica. Segundo a autora: “A inveja é um sentimento de cólera que o sujeito experimenta quando percebe que o outro possui um objeto desejável, sendo sua reação apro- priar-se dele ou destruí-lo” (p. 199).

Em seus trabalhos, Klein (1932; 1952; 1955; 1960) distingue cuidadosamente inveja, voracidade e ciúme. Inveja ela descreve como “[...] o sentimento de ira por outra pessoa possuir e usufruir de algo desejável – sendo o impulso invejoso de retirá-lo ou estragá-lo” (p. 36).

A voracidade, segundo a autora, pode ser descrita como:

[...] uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede o que o sujeito necessita e o que o objeto tem vontade e capacidade de dar [...] seu propósito é a in- trojeção destrutiva; enquanto a inveja [visa] [...] além disso, colocar o mau estado para dentro da mãe [...] a fim de estragá-la e destruí-la. (KLEIN, 1945, p. 372)

O ciúme, por sua vez, considerado primo-irmão da inveja por serem senti- mentos da mesma família – relacionados com a perda ou ameaça de perda –, é uma situação que envolve três pessoas, na qual a terceira pessoa retira ou lhe é dado o bom que, por direito, pertence ao indivíduo ciumento.

Frequentemente, esses três estados mentais são encontrados em íntima asso- ciação. O ganho voraz pode ser uma defesa contra o tomar ciência da inveja da- queles que têm ou são o que se desejaria ter ou ser. O amante enciumado é, com frequência, impelido não tanto pelo amor, mas pelo ódio invejoso da capacidade de seu amado de despertar o amor em outro.

Cientistas posteriores colocaram ainda mais ênfase no estragar o prazer da pessoa invejada e no fato de que o ataque invejoso em si nada faz para obter a qualidade ou coisa invejada para a pessoa que é invejosa.

Segundo o sociólogo Helmut Schoeck (1969, p. 12):

A inveja é uma força que se situa no coração do homem como ser social e que se manifesta assim que dois indivíduos estão em condições de estabe- lecer uma comparação recíproca.

O autor argumenta que o conceito de inveja foi muito reprimido nas Ciên- cias Sociais e na filosofia moral desde o começo do século XX, provavelmente pela dificuldade de admitir sua existência nas sociedades. Segundo a sua tese, a inveja exerce um papel muito importante em todas as sociedades, já que po- demos observar crimes por causa da inveja e argumentos fortes para motivar os indivíduos a fazer o possível e o impossível para evitar serem invejados.

3. C

O M O A I N V E J A S E M A N I F E S T A

?

A inveja pode ocorrer de diferentes formas dependendo de como é vivenciada pelos indivíduos, isto é, "do episódio emocional" que incluiu as circunstâncias que levaram àquela emoção ou à sequência de emoções percebidas.

Essas emoções, no entanto, não são apenas "sentimentos" ou experiências cons- cientes, elas incluem também outros aspectos como convenções sociais, respostas psicológicas e podem ajudar na compreensão do comportamento dos indivíduos (PETERS, 1972).

Nesse sentido as pessoas podem ser consideradas invejosas caso o seu compor- tamento seja percebido pelos outros como motivado por inveja; no entanto essas pessoas podem ter vivenciado também experiências de ciúmes ou de raiva.

Segundo a concepção kleiniana, embora a inveja seja uma emoção tão comum é muito dolorosa, e a maior parte das pessoas fará qualquer coisa não só para não tomar consciência dela, mas também para não se sentir plenamente responsável por ela. Assim, em vários artigos baseados nos trabalhos de Klein2 podem-se iden-

2 Para saber mais sobre o tema, leia: SEGAL, H. Introdução à obra de Melaine Klein. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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tificar algumas formas de manifestação da inveja contra as quais os indivíduos desenvolvem múltiplas defesas que, em especial nos casos de ressentimento, são reforçadas mutuamente conforme resumido no Quadro 1.

Q U A D R O 1 As manifestações da inveja segundo a concepção kleiniana

Manifestações Conceito

Desvalorização Ao denegrir as boas qualidades do objeto provocará menos admiração e dependência. Nessa estratégia, os indivíduos são movidos pelo desejo de vingança. Têm necessidade de provar que são tão bons senão melhores do que seu objeto de inveja. Usam a maledicência, as críticas negativas e a humilhação para aflorar os seus sentimentos.

Negação e bajulação

Dificuldade de aceitar conscientemente o sentimento de inveja. Nesse caso o indivíduo tenta tranquilizar-se negando o encontro com o seu objeto de inveja, ou recorre à bajulação como mecanismo de formação racional de maneira a camuflar a si mesmo os sentimentos invejosos.

Projeção O indivíduo se vê como uma pessoa não invejosa cercada por

pessoas invejosas e destrutivas, ou a identificação com o objeto idealizado via projeção e introjeção faz o indivíduo se sentir possuidor dos atributos admirados do objeto invejado. Idealização O indivíduo procura colocar o objeto invejado fora do seu

alcance. O exagero representa uma tentativa de diminuir a inveja, colocando o ser invejado acima dos mortais (mitos, heróis, super- -homens etc.).

Retirada Acontece quando o indivíduo se sente incapaz de tolerar seu próprio sentimento de inveja. O que se vê nesse sentido é um ser que nem tenta entrar em competição, mas procura desvalorizar a si mesmo. Síndrome do “medo de sucesso” para não causar inveja.

Adaptado de Klein.3

Parrot (1991) retoma essas manifestações abordadas nos trabalhos de Klein, e, numa comparação das reações típicas de inveja com as correspondentes ao ciúme, distingue algumas emoções conforme resumido no Quadro 2.

Q U A D R O 2 Reações típicas da inveja

Reação Conceito

Sentimento de inferioridade

Desespero e tristeza por nunca conseguir obter o que a pessoa invejada possui. Quando dizemos que uma pessoa é invejosa, ela entende que nós a consideramos inferior, razão pela qual nos odeia. O sentimento de inferioridade, quando não paralisa e deprime, suscita rancor e violência.

Frustração e agressão

Estudos sobre frustração e agressão mostram que o bloqueio de desejos deflagra o ímpeto de uma pessoa avançar sobre a outra. Ressentimento Estado de ódio, de apropriar-se dos bens de terceiros, de rancor,

de desejo crônico de vingança, de ver sofrer o inimigo.

Culpa Sentimento de culpa sobre desejo doente, crença de que o rancor

é errado.

Negação A marca inconfessável da inveja, decorrente de sua universal execração, nos induz a evitarmos o reconhecimento de que somos detentores de um sentimento tão condenável.

Emulação Espécie de rivalidade ou competição, desejo de igualar-se aos outros, sem, contudo diminuí-los.

Adaptado de Parrot (1991).

Duffy e Shaw (2000) propõem um modelo do impacto da inveja no estudo longitudinal de 143 grupos. No estudo, observaram que ela afeta diretamente o desempenho do grupo e influencia indiretamente o absenteísmo e o grau de satis- fação, aumentando a folga social4,5 e reduzindo a sua coesão e o potencial criativo.

Segundo os autores a experiência de inveja pode ser explicada mediante vários elementos emocionais que ocorrem ao longo de eventos em que ela se manifesta. Tais reações emocionais incluem inferioridade, ressentimento, frustração e outras reações já citadas nos estudos de Parrot (1991), além de vergonha, depressão, in- segurança e desejos maus em relação à pessoa invejada.

Neyrey e Rohbaugh (2001) em suas pesquisas sobre inveja apontam seis ma- neiras pelas quais invejosos se manifestam: (1) ostracismo, (2) homicídio, (3) di- visões, (4) disputas, (5) o olhar invejoso e (6) fofoca e calúnias.

4“Folga” social é definido como “tendência que as pessoas têm der se esforçar menos ao trabalhar em grupo do que fariam se estivessem trabalhando sozinhas”. COMER, D.R. “A Model of Social Loafing in Real Work Groups”. Human Relations, junho, 1995: p. 647-667.

5 Ver LIDEN, R.C; WAYNE, S.J; JAWORSKI, R.A; BENNETT, N. “Social Loafing: A Field Investi- gation”. Journal of Management. v. 30, n. 2, 2004. Ver COMER, D.R. “A Model of Social Loafing in a Co-Operative Classroom Task. Educational”. Psychology, v. 20, n. 4, 2000.

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No que diz respeito ao último item, os autores confirmam os resultados da pesquisa de Tomei (1994) enfatizando que as deficiências informativas do proces- so de comunicação são responsáveis pela aceleração do sistema informal de comu- nicação que surge espontaneamente da interação social das pessoas na organização dando origem ao boato, ao rumor, às fofocas e às calúnias.

Nos contos de Chaucer (1340), por várias vezes encontramos extensas refe- rências a fofoca, calúnias e críticas destrutivas caracterizando pessoas invejosas.

Bonder (1992), em A cabala da inveja, dedica todo um capítulo à fofoca, à qual associa uma “transmissão mal-intencionada de informação, uma das redes mais importantes de preservação e transporte de rancor”.

O autor, com base na tradição judaica, elabora uma classificação de três dife- rentes formas de expressão que a fofoca assume no mundo:

1. o repassador de histórias (“sombra de má-língua”): caracterizado pelo repas- se falsamente involuntário de informações comprometidas com interesses escusos;

2. “má-língua”: caracterizado pela atitude do indivíduo que transmite uma in- formação verdadeira, porém com a única intenção de difamar;

3. o caluniador, que propaga uma mentira com relação a outra pessoa. Segundo Bonder (1992), é possível graduar esses níveis de manipulação em ter- mos de “grau de nocividade”. Ainda segundo a tradição judaica, a hierarquia dessas diferentes formas de intriga considera o caluniador o menos perverso, e o repassador de histórias, o mais nocivo. Para justificar essa classificação, o autor fundamenta que o caluniador é facilmente destruído porque “na medida em que for desmascarada a sua mentira, a reputação do caluniado é restaurada imediatamente”.

O autor enfatiza também que a tradição rabínica reconhece que a fofoca de- pende daquele que se presta a ouvi-la, e Bonder (1992) nos sugere educar-nos para não ouvi-las.

Tal comportamento, embora recomendável nas organizações brasileiras, é di- ficultado pelas práticas culturais do cotidiano, nas quais “paradas para tomar cafe- zinho” ou “saídas para tomar um chopinho após o expediente” propiciam “falsas intimidades” que, às vezes, em nome do social, levam as pessoas a contar histórias como maneira de angariar simpatia, intimidade e acessibilidade.

Por fim, se aplicarmos esta tipologia do “grau de nocividade” da fofoca de Bonder (1992) às organizações brasileiras, pode-se observar que realmente os repassadores de histórias têm seu papel perverso diretamente proporcional ao seu poder, embora

não se possa subestimar a interferência de um caluniador. Numa sociedade em que se acredita que “onde há fumaça, há fogo” e na qual muitas vezes as versões valem mais do que os fatos, nem sempre a recuperação de uma imagem é tarefa simples.

Outra classificação das manifestações da inveja, nesse caso, quanto à sua inten- sidade foi realizada por Alberto Goldin (1994, p. 65). Segundo o autor:

Não podemos evitar que as pessoas invejem, porque seria uma intervenção contra a emoção estrutural do ser humano. O que podemos fazer é operar com aquela porção de indivíduos a quem o sentimento lhe excede e se conver- te em ações concretas capazes de prejudicar a outros, que apesar de inocentes num certo sentido são culpados de disparar estas emoções malignas.

Para operar com estas intensidades de inveja manifestada o autor analisa três possibilidades resumidas no Quadro 3.

Q U A D R O 3 Manifestações da inveja segundo Goldin

Tipo de inveja Tipo de atuação

Inveja sublimada (normal): indivíduo admite seus limites e aproveita os talentos dos outros

Indivíduo normal, mas capaz de sentir em determinadas ocasiões sentimentos de inveja, aos quais controla, compreende e elabora; em alguma ocasião, reprime.

Inveja neurótica (reprimida): indivíduo que vive dominado por sentimentos invejosos

Não é motivo para considerá-lo má pessoa. É a principal vítima de sua inveja: se transforma num sujeito amargo, hostil, mal-humorado. Não consegue superar tal sentimento, gostaria de não ser assim, mas não consegue. Não tem necessariamente a aparência de um indivíduo invejoso, mas de um indivíduo neurótico. São os deprimidos, amargos, ansiosos. Diferente da inveja sublimada, neste caso, quando passam por pressões, crises e condições desfavoráveis, estes indivíduos têm alta probabilidade de apresentar um comportamento de inveja perversa.

Inveja perversa: indivíduo tipicamente invejoso

Vive para bloquear todas as expressões de criatividade, de beleza ou de talento que aparecem diante de si; o sentimento de inveja é tão presente e doentio no indivíduo que se torna incurável. São pessoas incapazes de se envolver no longo prazo em um processo de trabalho. Os sentimentos violentos desse tipo de indivíduo estão mais relacionados com o sadismo que com a inveja propriamente dita. Em todos os momentos opta pela destruição dos outros em vez do próprio crescimento.

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A relação entre a inveja, a cultura e os valores é realizada por Joaci Góes (2001), que afirma: “A inveja busca destruir valores” (p. 38). O autor, com base em vasta revisão bibliográfica, aponta várias formas que explicam como a inveja ocorre (dissimulação, silêncio, indiferença, ironia, desdém, maledicência, calúnia, infâmia, indignação, autoridade, obediência, moralismo, deboche, ódio e deses- pero), analisa os seus motivos. (patrimonial/material, social/status, existencial/ pessoal) e agentes (individual/privada ou pública/ coletiva) conforme resumido no Quadro 4.

Q U A D R O 4 Tipos de inveja segundo Goes

Tipo Descrição

Competitiva Quando deflagra um processo de tomada de consciência e se transforma num agente propulsor de iniciativas construtivas. Depressiva Quando paralisa o indivíduo em decorrência da percepção de uma

inferioridade inelutável.

Obsessiva Quando o objeto invejado, apesar de todo o empenho do invejoso em superá-lo, parece consolidar cada vez mais sua percebida superioridade.

Maligna É a que se exprime por um sentimento de felicidade diante da miséria da pessoa invejada.

Avara Caracteriza-se por um medo doentio do crescimento dos potenciais concorrentes.

Ponte Própria dos indivíduos em crescimento. É de curta duração e rapidamente conduz a um desejo de exploração do objeto de inveja. Patrimonial ou

material

Repousa na crença de que a maior felicidade do outro advém da fruição de bens materiais que desejamos. Esse tipo de invejoso é atraído pelo ter, mais do que pelo poder.

Social ou de status

Deriva da percepção de que o outro é mais feliz do que nós, em razão de sua projeção e do seu prestígio social. O foco da inveja é o poder. Existencial Nasce do desejo de possuirmos qualidades natas ou adquiridas,

inerentes à outra pessoa. O ser, aqui, é a motivação predominante. Em sua modalidade exacerbada, desejamos ser o outro.

Adaptado de Góes (2001).

Para entender a relação da inveja com a cultura organizacional no próximo item aborda-se de que modo ela se manifesta nas sociedades e na cultura brasileira.

4. A

I N V E J A N A S S O C I E D A D E S E N A C U L T U R A B R A S I L E I R A

A inveja tem a ver com os valores da cultura ocidental e da civilização judaico- -cristã, que privilegia o altruísmo e desqualifica o egoísmo. Entender diferentes culturas é essencial para a compreensão do que pode gerar esse sentimento.

A cultura do mundo moderno não dá espaço para o fracasso, e o sucesso é sinônimo de status, de boa condição econômica e social. Justificar o insucesso e atribuir carreiras falidas ao “mau-olhado” ou à falta de sorte serve como explica- ção para a o sofrimento, as injustiças e a competição predatória da sociedade e do ambiente organizacional.

Conforme diz Mannheim (1961, p. 24):

Graças à ampliação dos meios de comunicação e à mobilidade social, os valores de diferentes áreas são mescladas no mesmo caminho. Quando a sociedade era mais homogênea, as autoridades religiosas e políticas ou bem concordavam em muitos pontos ou havia um conflito violento para definir as esferas respectivas.

Tais manifestações culturais antagônicas também se reproduzem nas diferen- tes culturas nacionais e organizacionais, obrigando a buscar uma técnica para me- diação da diversidade cultural definida por Fleury (2000) como “mix de pessoas com identidades diferentes interagindo no mesmo sistema social”.

Essa diversidade é fundamental para a flexibilidade e a atualização, de maneira criativa e ininterrupta, dos sincretismos e encontros entre diversas matrizes cultu- rais de um grupo, sociedade e/ou nação.

Nas sociedades e nas organizações, o mix de culturas foi intensificado esponta- neamente pela globalização da economia e trouxe benefícios na atração, retenção e socialização de talentos, no atendimento de segmentos de mercado diversifica- dos, na promoção da criatividade e inovação, na facilidade na resolução de proble- mas e no desenvolvimento da flexibilidade organizacional.

Segundo Fleury (2000), num ambiente promotor de diversidade há de se ter cuidado com o respeito aos valores, sentimentos e aspectos que influenciam na seleção, manutenção e retenção do corpo funcional, entre outros fatores, quanto ao seu comprometimento com a empresa.

Esta necessidade de diversidade contradiz o comportamento narcisista do in- vejoso; conforme Goldin (1994), quando comenta o papel da história infantil

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[...] a madrasta se olha no espelho e se pergunta sobre quem é a mulher