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WEMERSON DE LIMA CUNHA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS COORDENAÇÃO DO BACHARELADO EM HISTÓRIA

WEMERSON DE LIMA CUNHA

ROCK N’ ROLL NA AMAZÔNIA: EXPERIÊNCIAS MUSICAIS DO GRUPO CAPÚ NA CIDADE DE RIO BRANCO

RIO BRANCO 2014

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WEMERSON DE LIMA CUNHA

ROCK N’ ROLL NA AMAZÔNIA SUL OCIDENTAL: EXPERIÊNCIAS MUSICAIS DO GRUPO CAPÚ NA CIDADE DE RIO BRANCO

RIO BRANCO – ACRE 2014

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em História pela Universidade Federal do Acre – UFAC, sob a orientação do prof. Dr. Airton Chaves Rocha

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Monografia defendida e aprovada em ________/__________/__________, pela banca examinadora constituída pelos professores:

________________________________________ Dr. Airton Chaves Rocha

________________________________________ Dr. José Dourado de Souza

________________________________________ MSc Geórgia Pereira Lima

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente aos meus pais Wilson e Antonia, minha companheira Mayanne e meus irmãos Weuller e Weliton pelo apoio e solidariedade durante toda a graduação.

Agradeço também ao professor Dr. Airton Chaves Rocha pelo tempo dedicado e pelas sugestões dadas para que esta monografia se concretizasse.

Aos professores Dr. José Dourado de Souza e MSc. Geórgia Pereira Lima por terem aceitado participar da banca de qualificação.

Ao entrevistado Clenilson Batista, pelo tempo dedicado ao conceder a entrevista, e pela confiança depositada.

Aos amigos Jorge Neto, Vagner Teles e Marcos Ricardo, com quem dividi momentos alegres e difíceis.

Aos colegas de curso Zenilton, Marileide, Janáira, Luana, Tuti, João Isaque, Ionice, Huendson, Thairini e Raquel pelas agradáveis conversas regadas a vinho.

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À minha filha Lavignia, amor da minha vida. À Mayanne, companheira de todas as horas.

À meus pais, Wilson e Antonia, por nunca desistirem de oferecerem melhores

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

CAPÍTULO I: AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL TOCA ROCK...16

1.1 O Grupo Capú e a música rock em Rio Branco...18

1.2 Formação dos sujeitos e a identificação com o rock...27

CAPÍTULO II: AS MÚSICAS DO GRUPO CAPÚ: ENTRE O REGIONAL E O UNIVERSAL...34

2.1 Música Acreana...34

2.2 Música Urbana...41

CAPÍTULO III: UM PANORAMA DO ROCK NO SÉCULO XX...48

3.1 Ruídos que crescem: O surgimento da música rock...48

3.2 O rock n’ roll no Brasil...52

CONSIDERAÇÕES FINAIS...58

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo tratar das experiências musicais do Grupo Capú na cidade de Rio Branco e suas implicações ideológicas, redescobrindo suas canções e suas atuações no cenário musical acreano. O recorte temporal consiste na formação e atuação do grupo na cidade durante a década de 1980. Buscamos compreender em que contexto o Grupo Capú está inserido, discutindo como esteve configurada a cidade de Rio Branco no período analisado. Procuramos analisar neste trabalho, como houve a formação musical dos membros do grupo, compreendendo como houve a identificação com artistas nacionais e internacionais. Também buscamos identificar nas músicas do grupo a temática que os músicos imprimiram em suas composições, abordando elementos específicos da realidade acreana e também elementos mais abrangentes de suas músicas. Além disso, procuramos traçar um panorama do rock, rediscutindo seu surgimento nos anos 1950, sua emergência no Brasil, afim de situar o Grupo Capú dentro da história do rock.

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ABSTRACT

This work aims to address the musical experiences of Grupo Capú in the city of Rio Branco and its ideological implications, rediscovering his songs and his performances in Acre music scene. The time frame is the formation and performance of the group in the city during the 1980. Nicer understand in what context the Grupo Capú is located, has been discussing how to set up the city of Rio Branco in the analyzed period. We analyzed in this study, as there was the musical training of the group, comprising as was identified with national and international artists. We also try to identify the songs on the group theme that musicians printed in his compositions, addressing specific elements of Acre reality and also broader elements of their music. Additionally, we attempt to give an overview of the rock, revisiting its emergence in the 1950s, its emergence in Brazil, in order to situate the Grupo Capú within the history of rock.

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INTRODUÇÃO

O Grupo Capú foi um grupo de rock surgido no final da década de 1970 constituído por três moradores do Bairro da Capoeira1, personificados nas figuras dos irmãos Clenilson e Clevisson e João Veras. A origem do nome “Capú” faz referência especificamente ao bairro em que os moravam desde ainda muito jovens. Ligados historicamente por parentesco e por laços afetivos de amizade e companheirismo, estes sujeitos já na infância manifestaram grande interesse exercer alguma atividade relacionada à produção cultural.

O recorte espaço-temporal deste trabalho consiste na atuação do Grupo Capú ente os anos de 1980 e 1990, fazendo emergir suas canções e suas apresentações em espaços culturais diversos da capital rio-branquense. Outros artistas também surgem neste período, e, em menor dedicação, são apresentados neste trabalho.

Trabalhar com a história da música já pressupõe inevitavelmente um gosto pessoal. A ideia de trabalhar com o rock nasceu fundamentalmente do envolvimento que tive ainda muito cedo com a música. Desde a etapa de minha escolarização básica (o ensino médio) já havia grande interesse de minha parte em conhecer bandas de rock no cenário nacional e também internacionalmente. Magda Alves2 afirma que escolher o tema é pensar o objeto e não apenas escolher o assunto. Neste sentido, foi envolvimento com a música rock que levou-me a redescobrir a história do rock em Rio Branco através do Grupo Capú dentro do cenário musical acreano.

Como um pesquisador movido diversas inquietações no tempo presente, redescobrir o Grupo Capú configura-se em um relevante trabalho social, já que este grupo representa ainda um elo perdido da cultura musical acreana. Sua existência é bastante conhecida entre os amantes do rock na cidade de Rio Branco – embora paradoxalmente percebo uma relativa ausência de informação acerca de seu trabalho, bem como da difusão de suas músicas em nosso meio social.

1 O Bairro da Capoeira localiza-se próximo ao centro da Cidade de Rio Branco, representado atualmente por moradores da classe média alta da capital acreana.

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No âmbito acadêmico, realizo este trabalho no intuito de contribuir com uma temática relativamente nova, pois ao fazer um levantamento bibliográfico, constatei uma considerável ausência de conhecimento produzido no que diz respeito à história da música.

Esta monografia visa redescobrir as experiências do Grupo Capú, seus integrantes e suas canções no intuito de compreender suas particularidades, bem como as suas semelhanças com o cenário nacional e/ou mundial, com quais conjuntos dialogaram e como criaram suas identidades.

Neste trabalho busco identificar como o rock (música de origem estadunidense e inglesa) tem sua influência absorvida pelo Grupo Capú e, se de alguma maneira, o grupo transforma a música trazendo elementos específicos da realidade em que esses sujeitos sociais viveram, além de investigar as suas angústias.

Procuro analisar como as canções criadas pelo Grupo Capú ajudaram na construção da identidade destes sujeitos e como estas canções contribuem para a mudança de suas visões de mundo bem como a suas posturas na forma de enxergar a realidade.

Pesquiso a formação do Grupo Capú, posicionando-o nas mudanças que vinha ocorrendo no Brasil e também no estado do Acre e como estas mudanças ajudaram no desenvolvimento da construção da identidade do presente grupo durante o período pesquisado. Assim, suas composições, as músicas, suas relações rítmicas e poéticas com o contexto em que são criadas para um público determinado se constitui em uma abordagem de fundamental importância neste trabalho.

Ao tratar sobre uma problemática de bastante complexidade na qual envolve o tema deste trabalho monográfico, vejo que este está ligado a alguns conceitos e categorias que considero como sendo essenciais para a compreensão da realidade vivida pelos sujeitos históricos que viveram suas experiências e que deram sentido as suas visões de mundo. Assim, vejo que ao desenvolver uma análise sobre um grupo de rock, identifico como sendo de bastante relevância tratar de um conceito que está intimo e historicamente ligado ao rock – a contracultura.

Para conceituar o fenômeno da contracultura, estou me apropriando do conceito desenvolvido por Carlos Alberto Messeder Pereira que enxerga a contracultura como sendo um conjunto de manifestações culturais novas que floresceram, não só nos Estados Unidos, como em vários outros países,

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especialmente na Europa e, embora com menor intensidade e repercussão, na América Latina, e que tinha como característica principal o fato de se opor, de diferentes maneiras, à cultura vigente e oficializada pelas principais instituições das sociedades do ocidente. (PEREIRA, 1992, p.08)

Esse movimento constituiu-se historicamente através de um caráter fortemente libertário, com enorme apelo junto a juventude de camadas médias urbanas colocando em xeque, frontalmente, alguns valores centrais da cultura ocidental.

Analisando as canções, as posturas críticas e contraculturais na produção poético-musical de Renato Russo e Cazuza na década de 1980, a estudiosa Mônica Nogueira de Assis comenta que

a contracultura foi um movimento de contestação ocorrido na década de sessenta, que preconizava romper com qualquer padrão institucionalizado, visando à liberdade de expressão. Desta forma, grupos heterogêneos eram atraídos por um sentimento empático, que os fazia sentir membros de uma mesma tribo. (...) Nesse contexto, o rock é o estilo musical que representa a expressão de uma tribo, caracterizado pelo espírito de contestação e que tem um forte poder de mobilização de massas. (ASSIS, 2005, p.09)

Surgido nos anos 50, inicialmente com o movimento hippie, posteriormente com a música rock, uma certa movimentação nas universidades, viagens de mochila, drogas, orientalismo, a contracultura sempre levou à frente o caráter contestador, de insatisfação, de experiência, enfim, de uma outra realidade.

Vejo como sendo de fundamental importância neste trabalho discutir sobre a música rock. Para realizar essa discussão, procuro não escrever uma história cronológica, mas sim mostrar que o gênero rock foi historicamente criado e recriado, apresentado e representado de formas diversas e ás vezes até antagônica, em diferentes épocas e lugares. Paulo Chacon afirma que conceituar rock constitui-se em uma absurda pretensão, pois trata-constitui-se de um termo bastante variado no tempo e no espaço. (CHACON, 1985, p.05)

O autor comenta que o que se pode afirmar de concreto é que se trata de uma música agitável e dançante. (CHACON, 1985, p.05) Ao contrário da música erudita que exige o silêncio e o bom comportamento da plateia, o rock pressupõe a troca, a integração do conjunto ou do vocalista com o público, no intuito de estimulá-lo à agitação. Por isso, a reação corpórea é fundamental, caso contrário, não haveria rock. O rock precisa de liberdade física.

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Além de agitável e corpóreo, o autor afirma que no rock é necessário cantar. Não importa se o tom ou mesmo a letra estão certos. Daí a pouca importância de o rockeiro saber ou não inglês. Se não sabe inventa. (CHACON, 1985, p.05)

Dessa forma, rock é, antes de tudo, som. Ao contrário de outras artes que nos tocam pelo mais racional órgão dos sentidos, que é a visão, a música nos atinge pelo mais sensível, que é a audição. Nesse sentido, dentro da música, uma nota distorcida de guitarra parece atingir não só o ouvido e o cérebro, mas cada uma das células do corpo humano, fazendo o rock um dos ritmos musicais mais agitados que se conhece nas sociedades modernas.

O rock and roll foi uma das maiores (se não a maior) revolução cultural de todo o século XX. O rock trouxe novas preocupações ao mundo da música (como estilo ou performance) e levou as letras a um patamar ainda não explorado. A principal novidade em termos musicais no rock and roll foi a utilização de um instrumento que havia nascido pouco antes do que o próprio ritmo, a guitarra elétrica. As primeiras foram criadas na década de 30 do século XX, sendo a primeira gravação de um solo de guitarra realizada no ano de 1938, por Eddie Durham, violonista e trombonista de jazz. Porém, foi somente duas décadas mais tarde, com o rock and roll, que o instrumento foi utilizado em sua plenitude de recursos.

O rock tem sua origem que remonta a década de 1950 do século passado, representado na sua maioria por jovens no sul dos Estados Unidos e logo se espalhou invadindo fronteiras. As raízes do rock estão intimamente ligadas às classes pobres da sociedade americana, já que este movimento nasceu através da mistura de três gêneros musicais: do Blues, do Jazz (ambos tocados por negros, na maioria pobre e sem participação política dentro da sociedade americana), e do Country (músicas tocadas por pequenos trabalhadores que viviam em áreas rurais).

De um modo geral, no rock, há instrumentos característicos, como: guitarra, bateria e contrabaixo, podendo ter variações como usar instrumentos acústicos no lugar de algum deles, ou todos, ou acrescentar outros instrumentos, dos quais o teclado é mais comum. Inflexão de voz com clareza, cantada, mas sem muitas “subidas” ao agudo também é uma das características do rock, assim como as letras sobre problemas percebidos pelos jovens. Ritmicamente, o compasso 4 por 4 dá a levada. É uma música feita por jovens, principalmente de espaço urbano, com ritmos sincronizados com vocalizações de chamados e respostas. Essa

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característica de chamados e respostas tem sua origem que remontam o blues negro dos Estados Unidos. É o que assinala Roberto Muggiati:

Gritos acompanhados pela guitarra, (...) ou outros instrumentos pobres e rudimentares, o ritmo marcado na batida do pé (...), ao fim de cada frase sobra um tempo livre, que é geralmente preenchido por uma resposta instrumental. Esse esquema de chamada-e-esposta sobrevive no rock, no diálogo entre voz e guitarra. (MUGGIATI, 1981, p.09)

Para o historiador Paul Friedlander (FRIEDLANDER, 2008, p.23), o rock and roll estadunidense se desdobrou basicamente por duas gerações. A primeira geração é fundamentalmente de influência negra. Tinha como principais representantes nomes como Fats Domino, Chuck Berry, Little Richard e Bill Haley. Esses cantores fizeram bastante sucesso no período compreendido entre os anos de 1953 e 1955, se tornando assim os pioneiros do rock. As músicas destes cantores, em geral, consistiam em uma síntese dos estilos branco (country) e negro (blues e rhytm and blues) e dominada por um forte acompanhamento de bateria, exibia letras que tratavam das experiências de vida dos adolescentes do pós-guerra, como amor, dança, alusões ao sexo e o próprio rock and roll.

Na segunda geração, Friedlander enfatiza que o rock and roll atingiu ainda mais sucesso comercial do que a geração de Bill Halley e seus contemporâneos. Tendo como um dos seus principais representantes o lendário Elvis Aaron Presley no período posterior ao ano de 1956. Sendo considerada uma geração de “brancos”, além dos sucessos de Elvis, havia também cantores que se destacavam bastante, como Everly Brothers, Jerry Lee Lewis e Buddy Holly. Ambas as gerações foram entusiasticamente abraçada pela juventude da época.

Os objetivos a serem alcançados com a realização a realização da presente monografia tiveram o sentido de compreender porque o Grupo Capú na sua forma de fazer música optou pelo estilo rock, quem foram os músicos, o contexto local, social e histórico em que o citado grupo se inspirou para produzir sua cultura musical e o contexto histórico externo.

O suporte teórico-metodológico para pensar as problemáticas e o diálogo com fontes foi definido a partir da seleção e leitura de uma bibliografia sobre o tema procurando identificar os conceitos trabalhados pelos autores, usando também trabalhos científicos e outros materiais, isso para definir os conceitos trabalhados nos capítulos. Conceitos como identidade cultural, experiência musical, identidades da floresta, cultura “paulista”.

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Como opção metodológica, elaboramos este trabalho priorizando a entrevista realizada com Clenilson Batista no dia 12 de dezembro de 2013 na Biblioteca Pública do Acre, por entender que o músico possui uma posição de maior destaque no grupo, e manteve-se durante a atuação do grupo, como a pessoa que idealizou as apresentações do conjunto. Através de uma entrevista de história de vida, buscamos compreender a trajetória do músico durante o período que esteve atuando no Grupo Capú

Com formação autodidata, na faixa dos sessenta anos de idade e ainda morador do bairro da Capoeira, nos dias atuais, o músico é vice-presidente da Cooperativa de Música do Acre. Além de compositor, ocupa-se também como lendólogo, escritor e ativista cultural.

Também usamos neste trabalho o documentário intitulado “A História do

Grupo Capú”. Produzido no ano de 2008, o documentário foi produzido por Mazé

Oliveira, (esposa de Hermógenes, que teve breve passagem pelo Grupo Capú) através de um projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Acre administrado pela Fundação Elias Mansour. Neste documentário, observamos que há uma intencionalidade por parte da produtora em colocar seu esposo como fundador do grupo, principalmente pelo fato de as falas de Clenilson Batista e João Veras além de serem breves, são frequentemente interrompidas e dão lugar a voz de um narrador que privilegia a participação de Hermógenes do grupo. Dessa forma, utilizar o referido documentário, tivemos o cuidado de confrontá-los com a entrevista realizada com Clenilson Batista.

Com o músico João Veras, elaboramos uma entrevista via e-mail, uma vez que não foi possível realizar tal procedimento pessoalmente. Assim, fazemos uma ressalva: não foi possível fazer análises sobre como o entrevistado se porta em cada pergunta, mas, em contrapartida, ele pode refletir ou pesquisar em arquivos pessoais sobre os assuntos abordados, nos dando uma resposta mais concisa. Formado em Letras e em Direito pela Universidade Federal do Acre, o músico João Veras com 52 anos nos dias atuais, além de Advogado, é poeta, flautista e percussionista. Além das entrevistas, foram feitas conversas informais via e-mail com João Veras, afim de tirar algumas dúvidas que foram surgindo durante a construção do trabalho.

A presente monografia é composta de três capítulos. No capítulo I procuramos definir a composição social e musical dos componentes do Grupo Capú,

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além compreender aspectos da história da cidade de Rio Branco de então, e a opção do grupo pelo rock. Buscamos compreender a proposta musical do grupo, suas atuações, seus discursos, sua proposta de resistência, além de mostrar a formação musical dos componentes dentro de uma cidade que está passando por profundas mudanças.

No segundo capítulo buscamos fazer uma análise de letras de músicas produzidas pelo grupo, procurando-se compreender as temáticas imprimidas em suas músicas. Assim, procuramos identificar nas músicas do grupo músicas que trazer elementos da região, isto é, temas acreanos e também procuramos mostrar temas mais abrangentes de suas músicas.

E por fim no capítulo III, procuramos situar o Grupo Musical Capú no contexto nacional dos anos de 1980 e na produção do rock internacional.

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CAPÍTULO I: AMAZÔNIA SUL-OCIDENTAL TOCA ROCK

Neste capítulo inicial se propõe situar no tempo e no espaço a existência do Grupo Capú, buscando-se mensurar porque o Grupo Capú optou pelo estilo musical rock, indo na contramão de outros grupos musicais existente na cidade de Rio Branco no final da década de 1970 e nos 80. Procura-se compreender aspectos vivenciados na capital do Acre no período de transição da economia baseada no extrativismo vegetal para a agropecuária.

A partir da década de 1970, o Estado do Acre passou por mudanças significativas. O governo brasileiro na pessoa do presidente General Garrastazu Médici, desencadeou o slogan “Integrar para não entregar”. Nesse período, o governo do Acre promoveu uma política de reocupação do estado. O governador Francisco Wanderley Dantas buscando implantar a pecuária no estado, fez uma campanha publicitária no sul e sudeste do Brasil, colocando à venda grande parte dos seringais acreanos, com o seguinte slogan: “Migre para o Acre, invista no Acre e

exporte pelo pacífico”.

A partir da campanha desencadeada no Brasil, os velhos donos da terra começaram a vender seus seringais para compradores do centro-sul, atraídos pelos baixos preços da terra, com pagamentos facilitados pelos governos estadual e federal.

Assis retrata que “comparando-se, à época, o preço de um hectare de

terra em São Paulo, no Acre era suficiente para comprar 15 hectares”. (ASSIS,

2002, p. 47) Com a compra dos seringais acreanos, um grande problema social estava prestes a ter início: a briga pela posse de terras dos seringueiros que moravam nas colocações de seringa com os compradores de terras que chegaram ao Acre nos anos 70.

Com a venda dos seringais para os investidores do Centro-Sul do Brasil, foram eles desativados e, a partir daí, passaram a derrubar a floresta para a implantação da pecuária.

Devido a tais transformações nas terras acreanas, diversas famílias de seringueiros, agricultores, pescadores migram para a cidade de Rio Branco e lá constituíram a periferia da capital no Estado. Assis retrata que

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A migração dos seringais para Rio Branco foi bem acentuada, pois, até o início de 1970, a população urbana de Rio Branco era de, aproximadamente, 52.375 habitantes e na área rural era de, aproximadamente, 78.930 habitantes. No início de 1980 a população urbana de Rio Branco era de 109.815 habitantes. Esse crescimento se deve ao fato da migração constante dos seringais para a cidade. (ASSIS, 2002, p. 55) Mesmo sendo o brigados a deixar suas antigas moradias, grande parte de seringueiros passaram a se organizar principalmente ajudados pela Igreja Católica, através das CEBs, que divulgava o seu “Catecismo”, o qual informava sobre o que era o Estatuto da Terra, o INCRA, e como resistir às ameaças de expulsão dos seringais.

Assim foi caracterizada a luta social dos moradores dos bairros periféricos, agindo como sujeitos sociais que não se conformavam com o sistema econômico implantado no estado do Acre, e passaram a organizar-se em Associações de Moradores, participando do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Igreja Católica, entidade que garantiu respaldo jurídico a vários pleitos de desapropriações de áreas de terras urbanas, e posicionando-se contra a violação de direitos básicos de pessoas que não tinham acesso ao poder judiciário.

Com o processo de ocupação do meio urbano na cidade de Rio Branco, passaram a surgir conflitos, principalmente com o poder público, como a polícia. Essa nova população passou cada vez mais a incomodar os habitantes da cidade. Enquanto que no início dos anos de 1970 foi um processo de ocupação com poucos casos de violência, nos anos 80, foram anos de extrema violência com incontáveis números de assassinatos.

A partir do momento em que está sendo implantado um novo sistema de produção no estado, vão surgindo também novas formas de se produzir arte, contestando os valores urbanos. Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques retrata que desde o início da década de 1970

vêm se multiplicando sempre mais os grupos teatrais. Paralelamente, foram criados alguns programas musicais no rádio, como o Momento Experiência, os jornais do sul começaram a ser distribuídos nas bancas; surge o Cine Clube Aquiri; Aparece o jornal Varadouro; estreia o grupo musical Raízes (CALIXTO MARQUES, 2005, p.31)

Assim como no teatro, a música no Acre teve um período de grande difusão com os festivais de música. Eles foram espaços de divulgação da produção musical autoral, que trazia a identidade cultural acreana, marcada por vários estilos musicais.

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Em 1980, é realizado em Rio Branco a primeira edição do Festival Acreano de Música Popular – o FAMP. Com duração até o ano de 1993, as edições do FAMP contribuíram significativamente para que cantores acreanos pudessem extravasar seus descontentamentos.

No ano de 1983 aparece no cenário musical acreano o Festival de Praia do Amapá. Considerado um festival mais livre, onde havia pouca presença da polícia, neste festival, os músicos se sentiam mais livres em expressar suas ideias, e passavam a cantar cada vez mais temas relacionados à denúncia, o duro cotidiano do seringueiro, o canto em defesa da floresta.

Ambos os festivais foram espaços de divulgação da música acreana, que trazia a pluralidade de estilos musicais. Em um contexto marcado pela luta em defesa da terra, e da forte perseguição do Governo Militar Brasileiro, os festivais de música do Acre, além da produção musical, serviam para que se juntassem os artistas que produziam não só música, mas poesia, informação, ideias, comportamentos e principalmente opiniões.

1.1 O Grupo Capú e o rock em Rio Branco

Enquanto sujeitos sociais, Clenilson Batista e Clevisson Batista, filhos de pai nordestino que veio ao Acre em busca de melhores dias, são acreanos crescidos no Bairro da Capoeira, que nos anos 70 foi um bairro periférico. Os irmãos cresceram juntamente com diversas outras famílias em meio a dificuldades, assim como João Veras, também morador do bairro da Capoeira desde criança. Nesse sentido, grande parte das músicas composta por estes sujeitos refletem o lugar social ao qual pertencem.

Dessa forma, o Grupo Capú, enquanto grupo musical que expressa suas ideias através de suas músicas, tem seu posicionamento ideológico voltado para as resistências, para a denúncia em um contexto de fortes perseguições e assassinatos. Assim, para o Grupo Capú, fazer música implica em enfrentamento político, em promover o canto em defesa da floresta, dos seringueiros.

O Grupo Capú fez sua primeira apresentação musical no Festival Acreano de Música Popular – FAMP no ano de 1980, tendo como integrantes os irmãos Clenilson e Clevisson e João Veras. Inicialmente, o conjunto fez suas apresentações auxiliados pela banda-base do FAMP, chamada Banda Tropical, formada pelos músicos Nilton no teclado, James no violão e Gavião na bateria. Esta banda

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compunha a base do festival, auxiliando artistas que não dispunham de instrumentos para as apresentações.

Até o ano de 1982, o Grupo Capú ainda não dispunha de todos os instrumentos para se apresentarem no FAMP. Dessa forma, nas edições do FAMP de 1980 e 1981, o conjunto apresentou-se usando como instrumento próprio apenas um violão, no qual que foi tocado e cantado por Clenilson Batista e com Clevisson Batista e João Veras nos vocais. A partir do ano de 1982, João Veras passa a usar a flauta doce e Clevisson Batista toca o contrabaixo nas apresentações do grupo. Assim, O Grupo Capú, a partir do ano de 1982 passa a se apresentar com Clenilson Batista como vocalista e violonista, Clevisson Batista tocando contrabaixo e João Veras tocando flauta doce no grupo.

Em entrevista cedida via e-mail no dia 29 de março de 2014, ao ser questionado sobre os motivos que levaram o grupo ao optar pela música rock, o músico João Veras comenta que

o rock (...), é para além da música, uma atitude de vida que pega muito na faixa etária da juventude em que nos encontrávamos naquele período. Outra razão é a limitação técnica. Explico. Não éramos experts em instrumentos e o rock normalmente traz uma simplicidade tanto nos acordes quanto nos ritmos. 3

Diferentemente de outros ritmos que exigem a música “certinha”, com versos e ritmos bem elaborados e perfeitamente sincronizados, o rock quebra as regras do bom comportamento, exigindo do artista apenas a energia e a integração com o público.

No documentário intitulado “A História do Grupo Capú”, produzido por Mazé Oliveira, em depoimento, Clenilson Batista narra:

Aí eu fui, tive que ir pro rio, que minha mãe tava lá em tratamento. E lá encontrei um primo da minha mãe que me deu um violão de presente. Falei pra ele que queria fazer e que não sabia tocar e tal e queria aprender que era pra não pedir pra ninguém pra fazer música pra mim. Aí ele foi e me ensinou as três primeiras notas musicais que era o Ré, me ensinou o Ré, fazer Lá e fazer Mi. E com essas três notas eu já comecei a fazer algumas músicas.4

Pode-se perceber tanto no discurso de João Veras quanto no de Clenilson Batista a simplicidade da música do Grupo Capú. A opção pela música rock aparece por uma dupla função: por um lado, a música rock aparece como um

3 Entrevista realizada no dia 29 de março de 2014

4 Depoimento presente no documentário intitulado “A História do Grupo Capú”, produzido por Mazé Oliveira.

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estilo musical que exige pouco recurso técnico e pouco conhecimento sobre estrutura musical; por outro lado, o rock carrega consigo a característica de se contrapor as ideias vigentes da sociedade, fazendo com que os jovens possam extravasar suas angústias e seus descontentamentos.

O Grupo Capú insere-se no campo musical acreano contrapondo-se à grande parte dos músicos presentes na capital rio-branquense – que tocavam músicas basicamente influenciados pela Música Popular Brasileira - MPB. De forma irreverente, o Grupo Capú utilizou-se de elementos ousados durante suas apresentações nos festivais de músicas nos anos 80.

Os festivais de música popular brasileira que aconteceram em São Paulo e no Rio de Janeiro desde ano de 1965 até o ano de 1985, exerceram forte influência nos músicos acreanos bem como na criação dos festivais de músicas do Acre, principalmente na criação do Festival Acreano de Música Popular, o FAMP.

Durante a realização dos FAMP’s e de outros festivais como o Festival de Praia do Amapá nos anos 80, emergiu-se diversos artistas talentosos que tinham forte influência da MPB como Sérgio Tabuada, Cláudio Roberto, Narciso Augusto, Dinho Gonçalves, Heloy de Castro, Beto Brasiliense e Pia Vila. Estes artistas, contribuíram para que no campo da música acreana houvesse uma pluralidade de estilos musicais, com influências, além da MPB, do forró, do brega, do baião, enfim, de grande parte das músicas tocadas no rádio, mas sempre criando letras que refletisse o ambiente vivido no estado acreano.

Dentro do contexto dos festivais de música do Acre em meio aos vários artistas que tocavam músicas influenciadas pela MBP, o Grupo Capú aparece com uma proposta musical inteiramente nova. Com um discurso contundente de transformação social, visual extravagante e com inovador uso da teatralidade nas apresentações.

O grupo estudado apresenta diversas características de grupos e cantores de rock do Brasil e algumas bandas britânicas e estadunidenses. No grupo, há instrumentos característicos do rock, como guitarra, bateria e contrabaixo. No universo musical do rock ainda podem haver variações de outros instrumentos como violino, teclado ou saxofone. No Grupo Capú, os integrantes optam pelo uso da flauta doce.

As músicas compostas pelo Grupo Capú apresentam uma riqueza peculiar que tinham abordagens das mais variadas. Ainda que, com poucos

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recursos, como a aparelhagem bastante limitada e sem a presença de todos os instrumentos para os membros do grupo, onde o Grupo Capú, inicialmente, apresentou-se com a Banda Tropical – que fazia a banda base do FAMP para auxiliar os artistas se apresentarem no festival, o Grupo Capú usou-se de bastante criatividade para as apresentações.

As músicas do Grupo Capú mostravam diversos descontentamentos, anseios, desilusões, e a luta em defesa da terra, além de temas transcendentais de forte influência do rock psicodélico de bandas britânicas como Led Zeppelin, Pink Floyd e Deep Purple.

No que diz respeito às vestes, o grupo usou-se sempre de visuais extravagantes, de forma que impactasse ao público acreano. Os integrantes sempre buscavam o uso de elementos como ossos presos ao pescoço, roupas rasgadas e postura irreverente.

Para o grupo, as apresentações não consistiam em apenas “cantar as músicas” ao público. Cada apresentação tinha como objetivo impactar o público, mostrar o novo, ou seja, as apresentações se mostravam como espetáculos. Para isso, o grupo sempre se utilizavam a teatralização.

Ao analisarmos o espetáculo chamado “A Ressurreição de Raul Seixas”, no final dos anos 80, o grupo convida o artista Salomão Matos para interpretar na apresentação o cantor Raul Seixas. Este espetáculo tinha como atração no show a ressurreição do cantor baiano. Para isso, Salomão Matos fantasiava-se de Raul Seixas e era colocado em um caixão sobre o centro do palco. Enquanto os músicos cantavam suas músicas, outros atores convidados vestidos com grandes roupas brancas, simulavam um ritual de ressurreição frente ao caixão, emitindo vibrações para que o “corpo” se levantasse, até que, no final da apresentação, o “corpo” de Raul Seixas se levanta repentinamente do caixão com uma guitarra e canta de forma enérgica os versos da canção “rock do diabo”.5

O uso de recursos como as artes cênicas demonstram uma considerável criatividade dos músicos, uma vez que, estes músicos percebem que a identificação do público com o artista muitas vezes não se restringe apenas a parte sonora ou musical. O lado visual da apresentação musical enriquece de forma significativa, já

5 Segunda faixa do álbum Novo Aeon, do cantor Raul Seixas lançado em 1975. Esta canção do cantor baiano por muito tempo foi considerada o hino do rock brasileiro, pois ao mesmo tempo que foi censurada pela ditadura militar devido ao teor subversivo da canção, foi abraçada por grande parte dos músicos rockeiros nos anos 80 pela sua crítica aos valores morais da sociedade.

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que faz com que as músicas apresentadas “ganhe forma”, faz com que a plateia receptora não apenas ouça, mas também visualize a música.

O grupo aqui analisado neste trabalho embora não tiveram destaque nacional, fizeram excursões no interior do estado, além de divulgarem suas músicas em apresentações fora do estado, o que contribuiu significativamente para uma maior circulação das músicas do grupo no estado acreano, uma vez que, a partir do momento em que o conjunto ganha a oportunidade de difundir suas músicas fora do Acre, amplia-se o número de ouvintes, pois passam a valorizar cada vez mais o trabalho do grupo.

O Grupo Capú participou de eventos importantes fora do Brasil, divulgando suas mensagens que, através de suas músicas, levaram a outros ouvintes de vários lugares do mundo, parte da história musical do Acre.

O Grupo Capú participou juntamente com João das Neves6 do Grupo Poronga. Nesta ocasião, no ano de 1989, o teatrólogo estava divulgando o seu trabalho intitulado “Tributo a Chico Mendes”, que acabara de ser assassinado no ano anterior, em diversos lugares do Brasil. Assim, o Grupo Capú esteve na inauguração do Parque Chico Mendes, na cidade de São Miguel Paulista. Em seguida, no mesmo ano, o Grupo Capú participa da Primeira Mostra Internacional de Teatro, na cidade de Londrina, Paraná.

Outro grande acontecimento que o Grupo Capú participou foi quando, juntamente com diversos outros artistas acreanos, o conjunto recebe um convite de acadêmicos ligados a Universidade Federal do Acre para participar da Semana do Meio Ambiente no ano de 1989, na cidade do Rio de Janeiro. Nesta oportunidade, o Grupo Capú teve o privilégio de cantar a música acreana em um dos mais tradicionais espaço cultural do Brasil – o Circo Voador.

Essas experiências de tocar fora do estado Acre trouxeram uma dupla contribuição para o conjunto. A primeira constitui na oportunidade de levar a sua mensagem a um público diferenciado, com outra visão de mundo. Dessa forma, a impressão que esse público tem com a música pode dar um maior impulso no trabalho do artista. A segunda contribuição liga-se ao fato de que o contato do artista

6 João das Neves é considerado um dos maiores teatrólogos brasileiros. Ganhou forte reconhecimento devido a seus trabalhos ligados a dramaturgia. Também foi fundador a partir do ano de 1964, de grupos de teatro ligados a cultura de protesto e resistência.

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com outra cultura, pode fazer com que o compositor possa inserir outros valores em suas músicas.

A música e a vida dos músicos do Grupo Capú está mergulhada em um contexto de várias transformações que o estado passava na década de 1980. Além disso, as várias mudanças que os anos 80 estava passando havia sido iniciado a muito tempo atrás, principalmente a partir do início da década de 1970.

Desde os anos 1970, o Estado do Acre passou por mudanças significativas no cenário político e econômico, que o fez sofrer graves e significativas transformações que marcou a vida de milhares sujeitos que aqui habitavam.

Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques, estudando a produção teatral de Rio Branco, retrata que

Até o início dos anos 70 (...), a economia acreana era eminentemente extrativista e a população vivia exclusivamente da extração do látex. Naquele momento, o governo local (...) adota a política e assentamento de famílias do centro sul do país. Nessa perspectiva de reorganização econômica, as terras acreanas são colocadas à venda e destinadas, principalmente, a grandes latifundiários que desejavam estender suas propriedades. (CALIXTO MARQUES, 2005, p. 2005)

A partir do governo de Francisco Wanderley Dantas, (1971-1974), houve a chamada “invasão dos paulistas” que causou um significativo desequilíbrio na ainda rural e agrária sociedade acreana, o que em breve período de tempo levou seringueiros e pecuaristas da região sul e sudeste do Brasil a um grave conflito direto pela posse da terra. Já bastante sofrida com a falência dos seringais e o declínio do extrativismo da borracha e castanha, que por muito tempo foi a base de sustentação da economia acreana, grande parte da população agora tinha de enfrentar a luta pelas terras do Acre.

Dessa forma, grande parte da população mais pobre, composta basicamente de ex-seringueiros, pequenos comerciantes e índios, tiveram como seu principal opositor a figura do “paulista”. De um modo mais geral, este representava os protagonistas da frente agropecuária, os empresários do Centro Sul do país, que (apoiados pelo governo dos militares) se apossaram dos territórios tradicionais de índios e seringueiros. Através da oposição entre os acreanos e os “paulistas”, foi construída ao longo do movimento de resistência contra a expropriação da terra, contra a transformação dos seringais em fazendas e contra a derrubada de seringueiras e castanheiras para a formação de pastos. (MORAIS, 2008, p.108)

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Nos anos 80, na cidade de Rio Branco, foram anos em que a cidade foi gradativamente adquirindo espaços bem delimitados, principalmente após a formação dos bairros periféricos. Assim, este período percebemos o aparecimento de uma espécie de rivalidade entre bairros da cidade, chegando ao ponto de haver frequentemente brigas entre moradores em alguns lugares da cidade, como a Praça Plácido de Castro, localizada no centro de Rio Branco, e algumas boates, como a danceteria Rock Safari. Essas casas de shows, por diversas vezes, serviam para os jovens, que se reuniam em grupos de um mesmo bairro, disputarem através de brigas, ganharem destaque, e consequentemente respeito nos bairros em que moravam.

Percebemos que a própria ideia de criação do nome “Grupo Capú” está vinculado aos vários códigos que a cidade rio-branquense possuía. Na cidade de Rio Branco, após a falência dos seringais acreanos, há a presença de diversos famílias compostas principalmente de ex-seringueiros saindo das áreas rurais para a capital, o que em pouco tempo, daria início a formação dos bairros periféricos da cidade.

Com a cidade se consolidando enquanto território urbano, os bairros acreanos foram cada vez mais se transformando em áreas territorialmente bem definidas. Assim, em pouco tempo esses bairros só seriam frequentados por pessoas que pertencessem ao bairro. Se em determinado bairro, houvesse a presença de pessoas alheias ao ambiente, este fato seria visto como falta de respeito, o que frequentemente causava conflitos.

O músico Clenilson Batista, ao comentar os motivos que levaram aos membros escolherem o nome do grupo, comenta que

(...), essa ideia veio basicamente do João Veras, que a gente tava sentado e escolhendo, um dos que a gente tinha colocado era “Anjos Negros” e esse nome já tava quase pegando quando (...) o João Veras disse assim: - mas pô, porque a gente não põe o apelido, põe o nome do bairro da gente, “Capoeira”? (...), então “Capú” é o nome do apelido do bairro.7

Pode-se compreender que o nome dado ao grupo de “Capú” vem da ideia de rivalidade entre bairros da cidade de Rio Branco, uma vez que, o nome que por algum tempo já estava prestes a ser adotado pelo grupo seria os “Anjos Negros”. Diferentemente do nome “Capú”, os “Anjos Negros” constitui um nome que já está associado ao rock, pois traz a ideia de irreverencia, da fuga dos padrões.

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Através da escolha do nome do conjunto de “Grupo Capú”, nota-se a preocupação dos membros em dar uma maior visibilidade ao bairro da Capoeira. Clenilson demonstra uma certa satisfação ao explicar que:

Aí eu achei legal, porque naquela época tinha essa guerra de bairro, né, era sempre “ver quem era o melhor bairro”, pô, era legal porque tinha essa coisa né, tinha esse espírito, é, então é Capú. Aí fechou com Capú. Aí é como nasce o nome Capú de Capoeira, de bairro da Capoeira.8

Com as apresentações do Grupo Capú nas diversas localidades da cidade, cada vez mais os jovens iram se popularizando como os “meninos da Capoeira”. Ao mesmo tempo em que os jovens iam se destacando no cenário musical com suas composições, o bairro da Capoeira ganhava uma maior visibilidade, uma vez que havia uma intensa rivalidade entre diversos bairros da cidade. O próprio nome do grupo nos traz uma lógica da resistência, da denúncia frente ao contexto vivido na cidade.

O bairro da Capoeira da década de 1980 foi completamente diferente do que o bairro dias atuais. Se hoje o bairro é considerado um bairro nobre, próximo ao centro comercial da cidade, com infraestrutura bem construída, o bairro da Capoeira de três décadas atrás é visto como o inverso: bairro sem nenhuma infraestrutura, considerado um bairro periférico, principalmente pelo fato de ser constituído por moradores com recursos financeiros bastante limitados.

A ideia de periferia associado ao bairro da Capoeira está vinculado não a ideia de bairro distante do centro da cidade. Periferia está associado a “distância social” em que está situado. A periferia de Rio Branco, vai se formar, a partir dos anos 70, bastante próximo ao centro da cidade. O próprio bairro da Capoeira está localizado a menos de dois quilômetros dos principais prédios que compõe a administração pública do estado do Acre, como o Palácio, a Assembleia Legislativa e o Quartel da Polícia Militar do estado do Acre.

Grande parte das atividades culturais produzidas no Acre a partir da década de 1970 estão mergulhadas dentro dos intensos conflitos entre os paulistas, “os novos donos” da terra e os seringueiros e índios, os moradores tradicionais da floresta. Assim, a partir deste conflito, vai emergir no campo da produção cultural acreana diversas manifestações artísticas que passam a sair em defesa dos seringueiros e da floresta amazônica.

8 Idem.

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Podemos observar que o surgimento de diversas atividades culturais em Rio Branco ocorreram paralelamente a eclosão de conflitos sociais consequentes das contínuas mudanças socioeconômicas do estado. A pesquisadora Maria do Perpétuo Socorro Calixto Marques retrata que

entre 1970 a 1988, alguns jovens começaram a se articular e a produzir trabalhos artísticos que denunciassem a nova realidade e os perigos que afligiam os moradores. A prática teatral foi um dos instrumentos de que se serviram os grupos da época. (CALIXTO MARQUES, 2005, p.19)

No campo cultural, nos anos 70 já havia produções musicais em atividade, principalmente com os conjuntos “Os Bárbaros”, e “Os Mugs”. Estas bandas tocaram desde os anos 60 em bailes e clubes como Rio Branco, Juventus e Atlético Acreano, bem como em outras cidades do interior e até mesmo fora do estado como Porto Velho e Manaus. Fortemente influenciados pelas canções vindas do Rio de Janeiro, principalmente músicas da Jovem Guarda, cantores como “Eduardo Araújo” e “Renato e seus Blue Caps”, foram significativos para formação cultural destes músicos.

Nos anos 70 também temos o surgimento das Escolas de Samba em Rio Branco. Fortemente influenciados pelos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, alguns dos blocos carnavalescos formados nos bairros da cidade tornaram-se Escolas de Samba. No ano de 1972 começaram a ocorrer disputas entre duas escolas de grande destaque em Rio Branco: A Escola de Samba Unidos da Cadeia Velha, que tinha como líder a figura de João Aguiar, que veio do Rio de Janeiro, e a Escola de Samba Unidos do Bairro Quinze, comandada por Santinho. As disputas, cujo palco principal era a Avenida Getúlio Vargas, durante as festas de Momo, estendiam-se às rádios que executavam as músicas de cada uma das escolas e movimentavam o panorama cultural de Rio Branco.

Outra novidade foi a chegada, ainda que um tanto tardia, da televisão ao Acre. Isso aconteceu em 1974, ano de Copa do Mundo, promovendo uma ainda maior integração cultural do Acre ao restante do país e incorporando atividades consagradas regionalmente como os programas de auditório que rapidamente passaram a acontecer também na televisão. Porém, lembram alguns saudosistas de plantão, que a chegada da televisão também provocou uma certa deterioração no antigo costume das famílias de se reunirem nas calçadas, no fim da tarde, para conversar e comentar as últimas novidades. O antigo modo de vida acreano parecia então definitivamente superado.

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No início dos anos 80, surge o Festival Acreano de Música Popular – o FAMP. Fortemente influenciado pelos festivais de música que aconteciam principalmente no Rio de janeiro, ou de outras partes do Brasil, o FAMP trouxe à tona a oportunidade para que os artistas acreanos mostrassem a criatividade sonora e poética, explicitando nas músicas o a visão tanto universal quanto regionalista dos diversos acontecimentos que permeavam na vida do artistas acreanos.

Não podemos descartar também influencias do Festival de Woodstock e do movimento estudantil que procurava meios para veicular seus protestos contra o Regime Militar então vigente.

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1.2 Formação dos sujeitos e a identificação com o rock

Durante a segunda metade do século XX, a mídia contribuiu significativamente pra a construção do estereótipo do jovem. As músicas feitas por bandas consideradas internacionais, geralmente originárias dos Estados Unidos e Inglaterra e cantadas em inglês, fizeram com que os jovens se identificassem com a letra ou apenas com a sonoridade. Dentro desse contexto de transformações, a figura do jovem surge como um “novo” consumidor, uma classe que passa, cada vez mais, a ganhar uma certa autonomia.

O surgimento desta nova visão sobre o que é ser jovem, coincide com o aparecimento de um novo estilo musical, o rock, tendo ligação direta entre ambos. Em meados do século XX, percebemos uma nova construção do conceito de jovem. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, novos atores sociais, ainda não independentes financeiramente de seus pais, passam a contestar a sociedade construída pelas gerações anteriores, sociedade que os jovens viam como causadora de guerras como as duas mundiais anteriores e a construção da bomba atômica. Estes atores são considerados os novos jovens surgindo naquele meado de século.

Internacionalmente, o rock aparece para os jovens a partir da década de 50. Depois da Segunda Guerra, ocorre uma grande mudança nas relações entre gerações, que podemos perceber até hoje, oportunizando o clima de surgimento de rock and roll. Os jovens, antes vistos apenas como um estágio entre a infância e a idade adulta, a partir do século passado são percebidos como uma faixa etária com necessidades e características próprias.

Hobsbawm, a esse respeito retrata que:

os acontecimentos políticos mais dramáticos, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, foram as mobilizações da faixa etária que, em países menos politizados, fazia a fortuna da indústria fonográfica, que tinha de 70% a 80% de sua produção sobretudo de rock vendida quase inteiramente a clientes entre idades de catorze e 25. A radicalização política dos anos 60, antecipada por contingentes menores de dissidentes culturais e marginalizados sob vários rótulos, foi dessa gente jovem, que se rejeitava o status de crianças e mesmo de adolescentes (ou seja, adultos ainda não inteiramente amadurecidos), negando ao mesmo tempo humanidade plena a qualquer geração acima dos trinta anos de idade, com exceção do guru ocasional. (HOBSBAWM, 2000, p. 317)

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Segundo este historiador, este estilo musical está diretamente relacionado aos processos econômicos de sua época, assim como suas mudanças no decorrer do século desenvolveram-se inseridos nas mudanças de ordem econômica.

A identificação do jovem pela música rock transforma-o em integrante de um grupo construído sob a ideia de arte e de contravenção aos ideais constituídos pela sociedade. As identidades constituídas nos integrantes do Grupo Capú não necessariamente teriam ligações com outros músicos acreanos, mas são identificações com artistas que podem existir em qualquer parte do mundo, ligados pela música. Os jovens, ao assistirem ou escutarem uma determinada música ou conjunto, percebem relações com suas próprias experiência ou com o contexto vivido.

O Grupo Capú foi um grupo que, desde sua primeira apresentação, teve como principal característica o uso da criatividade para as composições e, principalmente, suas apresentações, que sempre causavam grande repercussão nos festivais de música de Rio Branco e também de outros municípios acreanos. Abraçando um gênero musical que permitisse o diálogo com outras forma de arte, como a teatralização, o Grupo Capú manteve-se como pioneiros na composição e apresentação musical de forma autoral na cidade.

A opção do Grupo pelo rock já havia sido delineada já nas atividades culturais realizadas na infância, com a criação de um pequeno circo pelos jovens irmãos Clenilson e Clevisson e o amigo João Veras.

É o que Clenilson Batista narra:

(...) quando eu era pequeno, em casa fazia um circo, chamava um monte de menino pra fazer malabarismo, e eu apresentava o circo e fazia paródia com as músicas dos compositores acreanos, principalmente Teixeirinha, avacalhava com as letras dos caras criando outras letras em cima. Então isso a gente ia fazendo.9

Juntamente com diversas outras crianças, os futuros integrantes do Grupo Capú desde muito cedo tiveram forte vínculo com a produção cultural. O circo criado pelos garotos já tinha Clenilson Batista a frente apresentando o malabarismo e também parodiando cantores acreanos como Teixeirinha, através da inserção de outra letra em cima das músicas de compositores acreanos.

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A partir daí, compreende-se então a genialidade e a originalidade presente no trabalho do grupo. A experiência circense contribuiu significativamente para a experiência com o ato de cantar de forma bastante talentosa, além da apresentação de um show, de um espetáculo ao vivo para o rio-branquense. O fato de o jovem Clenilson Batista apresentador de circo com diversos outros garotos, além da experiência em criar letras de músicas em cima de outras músicas, se constituíram em elementos significativos que pode ter conduzido o músico a liderança do Grupo Capú com toda a sua inovação no campo da música acreana.

Durante os 1970 e parte da década de 1980 teve na cidade de Rio Branco uma casa noturna onde tocava músicas de vários estilos musicais, inclusive o rock, onde várias pessoas frequentavam para ouvirem músicas que tocavam em várias partes do mundo. O nome da casa noturna chamava-se Rock Safari. Esta, foi um local de grande importância para o contato dos rio-branquenses com outros estilos musicais e contribuiu significativamente para a influência musical de várias pessoas, inclusive Clenilson Batista. O músico nos relata:

aí aparece uma chamada Rock Safari, isso na década de 70, que aí eu começo a ir pra essa Rock Safari, lá tocava de tudo, Deep Purple, Led Zeppelin, essas coisa toda da década de 60. Tudo que eu curtia tava lá, Pink Floyd e isso é que me empolgava, e achava, dentro de mim que aquelas letras eram muito loucas, porque não procurava nem tradução não, nem ia atrás da tradução, o que me batia bem no ouvido, é isso aí e acabou-se, quero nem saber o que o cara tá dizendo, por isso que tem algumas letras da gente que é meia louca, que era essa a impressão que dava, sempre que partia pra fazer alguma letra tinha esse contexto meio fora da realidade, às vezes a gente criava outra realidade, criava uma estrutura, cada música sempre tinha alguma coisa assim.

Através do contato com o rock internacional, através da casa noturna

Rock Safari, pode-se compreender boa parte das influências musicais que o músico

Clenilson Batista teve ao compor algumas canções do Grupo Capú.

Na fala, o músico fez especificou três bandas inglesas que fizeram impactou grande parte do mundo ao elaborarem uma forma diferente de fazer rock.

Deep Purple, Led Zeppelin e Pink Floyd são consideradas bandas precursoras na

criação do rock Psicodélico e Progressivo. Estes tipos de rock são caracterizados por serem um tipo de música com alto teor intimista, com temas que exploram a subjetividade, como a loucura, a obsessão e a alucinações, isto é, por vezes são músicas que abordam temas fora da realidade, ou em outras dimensões do real. Muitas vezes, estas músicas possuem longa duração, onde, na maioria das vezes, passam dos cinco minutos, construídas com harmonias e melodias complexas.

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Estas características do rock progressivo e do rock psicodélico podem ser observadas na música Seringal Astral10, composta por Clenilson Batista, na qual a

música possui uma letra relativamente grande, em comparação com outras músicas do Grupo Capú e, além disso, a música aborda uma temática fora do contexto da realidade, em outra dimensão do real, denotando a influência das bandas britânicas. Outro fator que merece ser destacado na formação musical de Clenilson Batista é o fato de que o músico não teve aulas de teoria musical ou curso de formação técnica na área da música. O aprendizado veio através de livros e revistas, que até os dias atuais vendem em bancas de revistas e jornais. Assim, observa-se uma formação autodidata, em que o maior recurso utilizado para a composição das músicas consistiu no uso da criatividade.

Em entrevista cedida no dia 13 de dezembro de 2013, o vocalista e principal compositor do Grupo Capú Clenilson Batista ao ser questionado sobre como houve a sua identificação com a música rock, o músico comenta:

Eu conheci o rock numa seção matinal no Cine Rio Branco, fui numa seção, o nome do filme era “O Menino das Garotas” (...). E assisti um cara cantando que aquilo me deixou extasiado, tinha um gosto de chiclete, tinha um negócio assim, mas um negócio que mexeu comigo todo. E eu fiquei louco pra saber quem era aquele cara depois, e pô, quem é, quem é, e a placa foi-se embora não dava pra ver mais o nome, aí quando eu fui pesquisando aí chegou um outro filme. Aí eu olhei pro cara do filme era o menino das garotas, pô, o menino das garotas, aí eu fui ver o nome: Elvis Presley. Aí começo a escutar Beatles, pô aquela coisa uma atrás da outra, sempre de sucesso, aí tocava direto nos rádios, e aí era onde eu tava, e Led Zepellin, aí aparece uma chamada Rock Safari, isso na década de 70, que aí eu começo a ir pra essa Rock Safari, lá tocava de tudo, Deep Purple, Led Zeppelin, essas coisa toda da década de 60. Tudo que eu curtia tava lá, Pink Floyd e isso é que me empolgava, e achava, dentro de mim que aquelas letras eram muito loucas, porque não procurava nem tradução não.11

Aqui, pode se compreender que o compositor e vocalista do Grupo Capú teve sua primeira experiência com a música rock de forma impactante. Dessa forma, ao escutar a música, há a o ato de “sentir” a música. A música é recebida de forma intuitiva, uma forma que contém uma variedade de conhecimento sem o processo de pensamento lógico que acompanha o que nós geralmente chamamos de entendimento.

Além da forma sensitiva de “ouvir”, o músico também teve a instantânea identificação pelo sentido da visão. Percebe-se tal identificação quando o músico

10 Esta música será objeto de análise no capítulo II deste trabalho. 11 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013.

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afirma que “aquilo me deixou extasiado (...), mas um negócio que mexeu comigo

todo”.12 Assim, compreendemos que na música rock, há grande importância tanto na

forma musical quanto na forma visual.

Outro elemento de grande importância que podemos observar na fala de Clenilson Batista, foi o poder de influência do astro Elvis Presley em todas as partes do mundo. O astro norte-americano - que participou de trinta e três filmes -, fez o seu primeiro filme no ano de 1956, intitulado “Love me Tender” e, a partir desde filme, passou a fazer bastante sucesso também no cinema, influenciando milhares de pessoas em várias partes do mundo.

Elvis Presley ficou mundialmente conhecido pela maneira como atuava durante suas apresentações. Apelidado de Elvis The Pelvis, chocou grande parte das camadas mais conservadoras da sociedade americana, e, por diversas vezes foi perseguido devido a sua inovadora forma de dançar, “requebrando” os quadris e usando roupas extravagantes que fugiam os padrões da época que atuava.

Dessa forma, podemos compreender que a influência que Clenilson Batista teve com o astro Elvis Presley. A forma visual e a forma musical acabou por ser explicitadas no trabalho do grupo. Ao realizar as apresentações, os músicos sempre recorreram ao aspecto visual e musical para se diferenciarem dos outros artistas acreanos. O uso de trajes diferenciados como ossos, roupas rasgadas, e recursos visuais como pólvora e flashes tornou o Grupo Capú como inovadores na forma de fazer música no Acre.

O flautista do Grupo Capú João Veras, durante a infância teve uma formação musical que o fez se aproximar dos instrumentos de sopro. Em entrevista cedida via e-mail no dia 29 de março de 2014, ao ser questionado sobre como houve a sua formação musical, o flautista do grupo João Veras comenta:

A minha formação musical se deu na prática e foi muito diversa. Antes do Capú eu não tocava flauta. Fui corneteiro, por quatro anos, na Fanfarra do Colégio Acreano, cantor tenor no Coral Santa Cecília dirigido por Elais Meira e Sandoval dos Anjos e ritmista da Escola de Samba da Cadeia Velha e de vários blocos carnavalescos.13

Desde muito cedo, ainda na infância, o flautista do Grupo Capú teve contato com a música e com instrumentos de sopro. O contato do músico com a corneta trouxe uma considerável experiência, pois desenvolveu no músico uma

12 Idem.

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sensibilidade em lidar com um instrumento que exige domínio em executar as notas musicais através da vibração dos lábios.

Durante muito tempo, houve na cidade de Rio Branco, apresentações de Bandas de Fanfarras de escolas da capital, na qual eram exibidas apresentações em datas comemorativas, como o feriado de 7 de setembro. As diversas bandas ensaiavam por meses afim de aprimorar a execução instrumental e a apresentação pública. Assim, a participação do músico João Veras na Banda de Fanfarra do Colégio Acreano fez surgir uma dupla experiência: uma pela execução e aprimoramento do instrumento de sopro; e a outra pela experiência na apresentação para um público mais numeroso.

Outra grande aspecto que merece ser abordado sobre a formação musical de João Veras, reside no fato da participação do músico no Coral Santa Cecília como cantor tenor. O tenor é o tipo de voz presente no canto lírico, que possui uma faixa de som aguda, cantada por voz masculina. O aprendizado do músico com este tipo de canto permitiu que levasse para o Grupo Capú uma preocupação com o aspecto da afinação do conjunto. Embora João Veras não tenha participado do grupo como vocalista, por vezes atuou como vocal de apoio, dando um suporte vocal ao vocalista do grupo.

O contato dos integrantes do Grupo Capú com o principal meio de comunicação no período anterior a década de 1970, o rádio, os colocou em contato com os grandes sucessos do rock que muito tocaram nas estações de rádio em todo o Brasil. Estes jovens ouviram e rapidamente se identificaram com a explosão do rock no cenário mundial, como o lendário Elvis Presley nos Estados Unidos, os Beatles na Inglaterra e também com cantores brasileiros talentosos como Raul Seixas e Rita Lee.

Perguntado sobre os motivos que levaram os músicos a optarem pela música rock, João Veras argumenta que foi

muito pela influência vinda do rádio especialmente com a audição dos Beatles, Elvis e o pessoal da jovem guarda e Raul Seixas. O Rock também é, para além da música, uma atitude de vida que pega muito na faixa etária da juventude em que nos encontrávamos naquele período.14

É importante ressaltar que o rock tem uma característica bastante peculiar. Ao contrário de outras artes que nos tocam pelo mais racional órgão dos

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sentidos, que é a visão, a música rock nos atinge pelo mais sensível, que é a audição.

Paulo Chacon afirma que

Ao contrário da música erudita, que exige o silêncio e o bom comportamento da plateia (...), o rock pressupõe a troca, ou melhor, a integração do conjunto ou do vocalista com o público, procurando estimulá-lo a sair de sua convencional passividade perante os fatos. (CHACON, 1985, p.05)

Portanto, no rock não importa saber ou não falar ou cantar inglês, ou mesmo saber o qual a mensagem que uma determinada uma música está tentando passar para o ouvinte.

(35)

CAPÍTULO II: O REGIONAL E O UNIVERSAL: UMA ANÁLISE DAS MUSICAS DO GRUPO CAPÚ

Neste capítulo, buscamos abordar as temáticas que os membros do Grupo Capú imprimiram em suas composições musicais. No primeiro momento, analisamos as músicas que contam aspectos da cidade de Rio Branco. Em seguida, analisamos músicas mais abrangentes do Grupo Capú. Ao realizarmos a análise, buscamos mostrar como houve o processo de composição das músicas, resgatando as inspirações que levaram os músicos ao fazerem as músicas.

2.1 Música Acreana

O Grupo Capú constituiu-se em um conjunto musical acreano que cantava músicas em português, utilizando-se do compasso composto por uma batida quatro-por-quatro e com letras compostas a partir de uma experiência rural e ao mesmo tempo urbana através de uma visão do que é ser um jovem acreano dentro de um contexto de profundas transformações da sociedade acreana.

A forma estrutural do Grupo Capú é apresentada com Clenilson Batista como principal compositor e também tocando violão e guitarra, João Veras tocando flauta doce e Clevisson Batista como compositor e contrabaixista do conjunto.

A formação do Grupo Capú enquanto conjunto sempre manteve-se com esta estrutura de apresentação. Durante a trajetória do grupo, houve passagens de diversos músicos que complementava o grupo, principalmente na bateria. Dentre os músicos, identifica-se o músico Hermógenes que tem passagem pelo grupo a partir do ano de 1983.

Ao identificar os músicos fizeram parte do Grupo Capú, Clenilson Batista comenta:

Olha, falar integrantes, passa muita gente por lá, principalmente na bateria, mas de firme assim, eu o Clevisson é o constante, né, que é a gente que compõe, é a gente que faz, e João Veras. Esse era o, eu, João Veras, Clevisson e Hermógenes até 1985. (...), e aí depois a gente teve diversos caras tocando bateria, assim, de passagem como Jorge Anzol, Ferreti, um tal de Paulo, (...) o Alcides também tocou.15

Na entrevista realizada com João Veras16, este lembra que além dos músicos citados, ainda teve uma pequena participação de um músico chamado Pitico. Este foi convidado pelo grupo para tocar percussão. João Veras ressalta que

15 Entrevista realizada no dia 12 de dezembro de 2013. 16 Entrevista cedida via e-mail no dia 29 de março de 2014.

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