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45º Encontro Anual da ANPOCS 05 - Ciência Tecnologia e Sociedade

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Academic year: 2022

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45º Encontro Anual da ANPOCS 05 - Ciência Tecnologia e Sociedade

Rastreando controvérsias:

Ensaio sociológico sobre o tratamento precoce da Covid-19 no caso pandêmico brasileiro

Rodrigo Campos Dilelio

Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Rodrigo Foresta Wolffenbüttel

Doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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Rastreando controvérsias: ensaio sociológico sobre o tratamento precoce da COVID-19 no caso pandêmico brasileiro1

É tentador partir da premissa de que a natureza da atividade científica difere essencialmente das práticas interpretativas das atividades não científicas.

(...) Não afirmamos apenas que os fatos são socialmente construídos. Queremos mostrar também que o processo de construção põe em jogo a utilização de certos dispositivos pelos quais fica muito difícil detectar qualquer traço da sua produção.

Latour, Bruno. 1997(p.160-161 e 192-193, respectivamente).

ANT is not a “theory”, or, if it is, then a “theory” does not necessarily offer a coherent framework, but may as well be an adaptable, open repository.

Mol, Annemarie. 2010(p.253).

O presente trabalho visa rastrear a controvérsia sobre a eficácia científica do chamado “tratamento precoce” da Covid-19. O nome “Covid-19” é referente ao Novo Coronavírus descoberto em 2019, na província de Hubei, região central da China. Desde 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) caracteriza a situação decorrente das infecções causadas pela Covid-19 como “pandemia”. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o termo pandemia se refere à distribuição geográfica de uma doença e não à sua gravidade. A designação de pandemia por parte da OMS, é uma espécie de certificação aos entes nacionais integrantes do sistema ONU, que desde março de 2020 existem surtos de Covid-19 em vários países e regiões do mundo. É a sexta vez na história que uma emergência de2 saúde pública de importância internacional é declarada.

O tratamento precoce diz respeito ao uso dos medicamentos Hidroxicloroquina (HCQ) e Cloroquina (CLQ), combinado ou não com a Azitromicina e a Ivermectina.

Todos são produtos fármacos de baixo custo e cada um deles, usados isoladamente ou em combinação com os demais, administrados perante os primeiros sintomas da doença, serão tomados aqui como representação do tratamento precoce.

2As outras foram: 25 de abril de 2009: pandemia de H1N1; 5 de maio de 2014: disseminação internacional de poliovírus; 8 agosto de 2014: surto de Ebola na África Ocidental; 1 de fevereiro de 2016: vírus zika e aumento de casos de microcefalia e outras malformações congênitas; 18 maio de 2018: surto de ebola na República Democrática do Congo. Ver mais em OPAS:Histórico da pandemia de COVID-19 - OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde. Acesso em 28/08/21.

1Os autores registram gratidão aos comentários e encorajamento para consecução do trabalho feitos pela professora Marília Luz David, professora adjunta do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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De um modo geral, fazedores de ciência no Brasil e no mundo estão empenhados em reunir conhecimentos e práticas, capazes de melhorar as respostas e impedir a difusão de contágio da Covid-19-2. Estas respostas são produzidas em meio a uma tensão extrema entre aqueles que, por exemplo, reivindicam razões orientadas por rigor ético (BONELLA et al, 2020, p.2), que se expressa em forma cautelosa em relação ao uso específico da Cloroquina e Hidroxicloroquina, e por princípios de não-maleficência (ANGOTTI NETO e PINHEIRO, 2021), o qual optamos por transcrever na íntegra o seu significado:

A experiência de décadas com o uso seguro de cloroquina e hidroxicloroquina por milhares de pessoas em todo o mundo, não somente para condições inflamatórias mas, em alguns casos, também para condições virais, mesmo que com níveis de evidência que não sejam o máximo – como também ocorre com a maior parte das terapêuticas farmacológicas utilizadas em medicina –, torna o uso adequado das medicações constantes da NI9 plenamente compatível com o princípio da não maleficência. Essa experiência segura de décadas também permitiu ao Ministério da Saúde expedir informativos similares em tempos anteriores, como o ocorrido com a prescrição de hidroxicloroquina contra o vírus da Chikungunya com o intuito de realizar proteção neuronal do feto. (ANGOTTI NETO e PINHEIRO, 2021, p. 135-136)

No âmbito deste trabalho, as ideias de rigor ético e princípio da não maleficência, ilustram o que Annemarie Mol (2007) chama de ontologias políticas. As ontologias políticas equivalem a uma argumentação múltipla. O conceito é oportuno pois ajuda na compreensão das “tomadas de decisão” de autoridades públicas do governo federal, médicos exercendo trabalho de pesquisa ou em trabalho de atendimento no sistema de saúde durante a pandemia. Neste caso, o uso off label (produtos não suficientemente testados para o tratamento de Covid-19), ou a recusa de fármacos é tomado por distintos atores como ponto de divergência. Por um lado, há municípios que afirmam, a partir de “dados”, melhoras no enfrentamento à pandemia e redução no contágio relacionados ao tratamento precoce. Por outro, existem médicos e infectologistas que afirmam o contrário, também com base em “dados”, que este discurso sobre a eficiência do tratamento precoce é, na verdade, causa da situação pandêmica brasileira.

Até o dia 23 de junho de 2021, a Covid 19 infectou ao menos 179.324.611 pessoas em todo o mundo, sendo a causa da morte de 3.885.405 delas. Nesta mesma data de referência, havia sido administrado 2.722.185.355 doses de vacina em todo o

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mundo, segundo o Dashboard by the Center for Systems Science and Engineering (CSSE) daUniversidade Johns Hopkins (JHU).

Em 23 de junho haviam morrido 507.109 pessoas no Brasil. De cada 7,66 pessoas mortas em todo o mundo, uma era brasileira. Tal desempenho e acúmulo de mortes, somado ao episódio da falta de oxigênio , num surto da doença especialmente3 dramático em Manaus (AM), responsável pela imposição às equipes médicas a necessidade de escolha de pacientes para fazer uso de respiradores, contribuiu decisivamente para que tal controvérsia assumisse o primeiro plano das preocupações brasileiras no verão-outono de 2021. Atualmente, desenrola-se uma CPI no Senado Federal cujo relatório poderá trazer implicações de responsabilidade ao Presidente da República.

Para percorrer o objetivo e adentrar ao exame da questão, faremos uso de alguns questionamentos, orientados pela Teoria Ator-Rede (TAR): o que instituições e atores envolvidos na controvérsia têm afirmado sobre o tratamento precoce e “boa ciência”?

Como e por quais meios eles produzem suas redes e alianças? O que é encenado enquanto cuidado em saúde, responsabilidade e autonomia médica?

Os atores são sujeitos da controvérsia, sejam eles indivíduos ou organizações, como o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira (AMB).

Destes, apenas o CFM possui atribuições previstas na Constituição Federal na regulação da conduta médica no território brasileiro, como demonstraremos. Na investigação, a boa ciência será tomada enquanto critérios que legitimam ou não a prática científica. As redes e as alianças serão consideradas a partir da similitude de narrativas e mobilização de pressupostos comuns em suas tomadas de posição. A noção de cuidado em saúde, tanto quanto a responsabilidade médica serão consideradas na forma em que atores e instituições justificam a tomada de posição pelo uso ou recusa do tratamento precoce.

Os questionamentos acima tem inspiração na observação de entrevistas selecionadas concedidas à mídia comercial, pelas quais observamos a existência da controvérsia acerca do tratamento precoce. Selecionamos trechos destas manifestações no sentido de exemplificar o diagnóstico particular de cada ator, bem como o conteúdo

3Ver mais em O Globo:Falta de oxigênio vista em Manaus pode se alastrar pelo país, dizem especialistas (Acesso em: 04/07/2021).

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específico de sua visão relacionada à "boa ciência”, suas conexões, e finalmente as encenações enquanto cuidados e responsabilidade médica. Tal debate envolve pesquisadores e profissionais da saúde atuando na “linha de frente”. Tais questões serão respondidas a partir de pesquisa hemerográfica em plataformas virtuais de jornais e revistas comerciais, para fins de ilustração da controvérsia, dando atenção aos interesses e aspectos conflitantes desses interesses, desdobrando-os enquanto fatos sociais.

Finalmente, valemo-nos da técnica de análise de discurso para identificar trechos em fontes documentais para a construção do ensaio.

O trabalho possui cinco seções, seguidas da conclusão. Na primeira seção, recuperamos aspectos da TAR e seus usos. A seguir, passamos as seções da pesquisa propriamente dita, onde procuramos oferecer respostas de atores, instituições e pesquisadores aos nossos questionamentos. Como dito anteriormente, as respostas foram selecionadas a partir do exame de entrevistas, além das sessões de debate em comissões parlamentares da Câmara e do Senado Federal brasileiro. Em sequência, apresentamos nossas considerações finais.

A TAR e seus usos

A descriçãodo “real”, problematizada enquanto questão sociológica é suscitada por Bruno Latour em Reagregando o Social (2012), no qual o autor apresenta um roteiro para análise acerca da formação e dissolução de grupos. Nesta inscrição,a ideia de “contexto” e “construção social” é completamente esvaziada. O autor a toma como ideia pré-concebida característica da sociologia crítica e outros tipos de sociologias de associações, comumente acionadas a título de colocar “ordem” a um complexo de relações entre pessoas mais ou menoscientesda realidade que as cerca.

Advém deste tipo de sociologia uma versão da realidade ilustrada pelo ato de desvelamento de relações de poder, identificação de influências ideológicas, dentre outros tipos de associações em perspectiva causa-efeito entre sujeito, estrutura e/ou superestrutura. Latour é bastante duro com aquilo que entende ser uma tomada de lugar dos atores pelos cientistas sociais, sendo estes, comumente responsáveis pela atribuição de características estranhas e onde os atores costumam não se reconhecer.

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Diversamente deste tipo de sociologia, Latour propõe-se a tarefa de descobrir associações entre sujeitos e objetos por meio de sua Teoria Ator-Rede (TAR). Tal teoria polemiza com a existência de contexto social em análise sociológica (2012, p.23;

62-63), ao mesmo tempo em que afirma a existência real e concreta tão somente de pessoas e objetos manuseados por elas, sendo tarefa do sociólogo, buscar pelas “pistas”

sobre como são operacionalizadostaisobjetos.

Para o estabelecimento das associações que encenam a rede composta por atores e recursos não humanos, segundo Latour, observamos com atenção a primeira das incertezas num processo em que o sociólogo deve se alimentar das controvérsias, e onde o que está em jogo é quem são os grupos e como se formam agregados sociais.

(...) o problema parece ser determinar um grupo privilegiado, nossa experiência mais comum, se lhe formos fiéis, ensina-nos que existem inúmeras formações de grupos e alistamentos em grupos contraditórios, atividade para a qual os cientistas sociais, inquestionavelmente, contribuem de maneira decisiva. Portanto, a escolha é clara: ou seguimos os teóricos sociais e iniciamos a jornada determinando de início que tipo de grupo e nível de análise iremos enfatizar, ou adotamos os procedimentos dos atores e saímos pelo mundo rastreando as pistas deixadas pelas atividades deles na formação e desmantelamento de grupos. (LATOUR, 2012, p. 51).

Entendida a natureza contraditória da dinâmica assumida pelos grupos, alheia a determinismo da superestrutura, passamos a saber como Annemarie Mol percebe a realidade em termos históricos, culturais e materiais. Em primeiro lugar, a autora reitera a diferenciação da TAR em relação a outras sociologias de associações, como o perspectivismo e o construtivismo social. Mol (2007) enfatiza que a combinação dos termos ontologia e política ajudam a delinear como práticas sócio materiais suscitam transformações da realidade e onde precisamente se concebem novas formas de fazer realidade. A ideia é importante para podermos avançar um pouco mais, a fim de rastrear as múltiplas encenações que a doença assume perante os posicionamentos descritos apenas preliminarmente na introdução.

Política ontológica é um termo composto. Refere-se à ontologia – que na linguagem filosófica comum define o que pertence ao real, as condições de possibilidade com que vivemos. A combinação dos termos “ontologia” e

“política” sugere-nos que as condições de possibilidade não são dadas à partida. Que a realidade não precede as práticas banais nas quais interagimos com ela, antes sendo modelada por essas práticas. O termo política, portanto, permite sublinhar este modo ativo, este processo de modelação, bem como o seu carácter aberto e contestado. (MOL, 2007).

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Perante um contencioso científico diferente, o estudo de Catherine D. Tan (2021), serve-se da ideia de resistência epistêmica em sua investigação acerca da hostil controvérsia praticada entre o movimento biomédico alternativo e conhecimentos produzidos por especialistas no tratamento do autismo nos EUA. No caso em questão, a resistência epistêmica é encenada pela criação de circuitos terapêuticos onde familiares de pessoas com autismo associados a médicos, desenvolvem terapias heterodoxas para criar melhores condições de vida às famílias e pacientes. Há um circuito de difusão de experiências positivas alcançadas pela biomedicina alternativa, as quais têm sido alvo de crescente repúdio de pesquisadores sobre a doença do autismo. Na controvérsia, há acusações de charlatanismo, habilitação e destruição de reputações; acumulam-se relatos de benefícios, que coabitam com preocupações crescentes com as ilusões abertas e fonte de inevitáveis frustrações a quem despeja todas suas energias nestas terapias

“alternativas”.

Outra contenda cujo reflexo implica em certa desagregação do campo científico produzida sob efeito da pandemia, tomando-a nas palavras de Mol (2007) “múltipla” e não diversa, é trazida pelo trabalho de Robert Wallace (2020), que caracteriza certa ressonância entre circunstâncias sócio ecológicas capazes de suscitar o surgimento de patógenos ao longo de circuitos de produção. O trabalho desenvolve a ideia de que a difusão das epidemias estaria associada com a existência de cadeias produtivas, muitas vezes construídas sobre a alteração drástica de condições ambientais e a aglomeração de pessoas em territórios potencialmente capazes de gerar o “gatilho” a pandemias. Sabe-se que as pandemias costumam ter origem em locais de aglomerações em escala industrial de animais, ou transmissão por meio de animais silvestres, gerando o fenômeno do transbordamento zoonótico . Diz a conclusão geral do trabalho:4

Podemos estar testemunhando o nascimento de uma nova ciência para o controle de patógenos antes que eles se tornem pandêmicos. Uma ciência focada não apenas nos vírus específicos, mas na natureza fundamentalmente política do equilíbrio de poder que determina se o uso do solo pode ou não impedir o surgimento de novos surtos de pandemias, em primeiro lugar; ou como parecer ser o caso agora, se continuará a liberar epidemias uma após a outra, com dados rolando em uma mesa de cassino. (WALLACE, 2020, p.

536).

4Ver mais em CNN:De morcegos a visons: como doenças passam de animais para humanos?. Acesso em 04/07/2021.

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Para adentrar ao terreno do “real” e delinear a controvérsia sobre o tratamento precoce, retornamos a Mol (2007). A autora explica como a combinação dos termos ontologia e política ajudam a delinear a performance das práticas sócio materiais que suscitam transformações da realidade e onde precisamente se concebe novas formas de fazer “realidade” em sua dimensão ontológica. Por este entendimento, tudo está em disputa, a própria definição do real está em disputa; os objetos transportam com eles novas realidades, pois eles são o meio pelo qual a realidade é encenada. Assumir uma ação, é superar uma das fontes de incerteza e ela revela-se pelos enunciados de quem a protagoniza (LATOUR, 2012), daí a necessidade de perscrutar as narrativas e os discursos, levando-os a sério.

Por estes aportes, passamos ao manuseio dos dados empíricos, a fim de rastrear as múltiplas encenações que a doença assume e como estas encenações podem revelar respostas úteis para pensar a questão sociologicamente.

Rastreando a controvérsia

Desde o início da pandemia, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANS), manifestaram-se sobre o estado da arte da inteligência em saúde pública e atuação médica, perante o Novo Coronavírus. Paralelo a este esforço, o vírus espalhou-se com rapidez e intensidade sem precedentes na história conhecida da humanidade. Por este ineditismo, a então epidemia iniciada na China foi declarada

“pandemia” pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020.

A relevância deste evento fez emergir ao menos duas controvérsias no campo científico. A primeira, diz respeito a origem do vírus .5

A OMS enviou um grupo de cientistas em janeiro de 2020 a Wuhan na China para tentar chegar a uma conclusão a respeito da teoria que atribui o início da pandemia a uma transmissão de Coronavírus de morcegos para pangolins e de pangolins para seres humanos. O local onde isso teria ocorrido seria um mercado de animais na cidade

5Ver mais em O Globo:Relatório da OMS conclui que a pandemia de Covid-19 provavelmente teve origem animal. Acesso em 19/06/21.

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Wuhan. Os cientistas enviados pela OMS não alcançaram evidências suficientemente seguras a respeito de que o paciente zero tenha frequentado tal mercado. Quatro meses após a visita científica da OMS, foi publicado um estudo corroborando a teoria acerca da origem animal, precisamente em morcegos . Ainda em maio, entretanto, ressoaram6 declarações públicas de Tedros Adhanom, Diretor Geral da OMS e Joe Biden,7 Presidente dos EUA. Segundo ambos, a hipótese de um transbordamento zoonótico de um Laboratório também sediado em Wuhan, na China, não poderia ser completamente descartada. A controvérsia segue mobilizando matérias diárias nos principais jornais do mundo.

A segunda controvérsia diz respeito ao enfrentamento da doença em si. Podemos delineá-la como um complexo de controvérsias sobre questões específicas acerca da imposição de barreiras ou processos de contenção do vírus, além do próprio tratamento da doença (por exemplo: internar, colocar no oxigênio, entubar, mobilizar uma UTI e/ou tratar precocemente). Exemplo destas controvérsias estão relacionadas a: eficácia do uso de máscaras; eficácia do lockdown; eficácia da vacina; e, finalmente, eficácia de tratamentos profiláticos com base no uso de fármacos, vulgo - tratamento precoce. Cada exemplo das controvérsias acima tem oposto em maior ou menor medida atores cuja ação assumida é justificada pela contenção da contaminação e/ou tratamento da infecção. Em cada uma das controvérsias citadas também há uma variação de posicionamentos nem sempre opondo na mesma incidência os mesmosatores.

Conforme o Parecer 04/20 ao CFM de 16 de abril de 2020, o consultor (e8 Presidente do CFM) Mauro Luiz de Britto Ribeiro, considera o uso da CLQ e HCQ “em condições excepcionais, para o tratamento da COVID-19”. O parecer afirma que, embora haja evidências relacionadas à identificação precoce de casos e uso combinado de fármacos, considera prescrever a pacientes diagnosticados, i) com sintomas leves, ii)

8Ver mais em Sistemas Conselho federal de Medicina:4_2020.pdf. Acesso em 18/06/2021.

7Em matéria publicada na RevistaThe Economist 29/05/2021, a hipótese de vazamento do vírus é tratada como plausível, sem responsabilizar o governo chinês. A matéria relata a “casualidade” de Wuhan sediar o Wuhan Institute of Virology (WIV), um centro global de pesquisa de coronavírus. De modo geral, a hipótese conclui que a transmissão teria ocorrido provavelmente por um “acidente”. Ver mais em:

https://outline.com/sNVFRH. Acesso em: 31/05/2021.

6“O maior estudo evolutivo de coronavírus confirmou a origem do Sars-CoV-2 a partir de um coronavírus de morcegos, e não de pangolins, e ainda traz um alerta sobre a importância de investigar vírus nesses animais como uma estratégia global de monitoramento de endemias, e não apenas em situações de emergência sanitária”. Folha de São Paulo, 07/05/2021. Ver mais em: Maior estudo evolutivo de coronavírus confirma origem do Sars-CoV-2 de morcegos para humanos. Acesso em 23/06/2021.

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no início do quadro clínico, iii) em decisão compartilhada com o paciente, sendo o médico obrigado a relatar ao doente que não há estudos suficientes que comprovem a eficácia do tratamento. Alega ainda que o princípio que deve nortear a prescrição é a autonomia do médico e na valorização da relação médico-paciente, e conclui:

Diante da excepcionalidade da situação e durante o período da pandemia, não cometerá infração ética o médico que utilizar CLQ ou HCL, nos termos acima expostos, em pacientes portadores de Covid-19. (CFM, 2021).

Aideia de tratamento precoce e uso administrado de HCQ diferem entre si, pois no primeiro caso, trata-se de uso preventivo, anterior ao que tem sido chamado de tempestade inflamatória , performance da doença causada pela COVID-19 capaz de9 provocar em maior probabilidade a morte do paciente. No segundo caso, a ideia de administração do uso de HCQ é encenada em sua forma inalatória, conforme orientação impressa na Resolução nº 2.292 do Conselho Federal de Medicina (CFM) em 29 de10 abril de 2021, e que se aplica em estágio avançado da doença. Tal caso permite identificar uma ambiguidade na documentação pública que oferece posicionamento do CFM acerca do uso de tais medicamentos enquanto tratamento precoce.

Entidades como a Associação Médica Brasileira (AMB) e Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também se manifestaram sobre o tema, mas em sentido oposto.

Em Nota Relevante (2021), AMB e SBI afirmam que “as melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no tratamento precoce para Covid 19 até o presente momento”. Segundo as instituições, fora as vacinas, nenhum medicamento mostrou-se eficaz e seguro contra a Covid-19, o vírus causador da doença.

Em 15 de março de 2021, a AMB comunicou a criação de um Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 (CEM COVID_AMB), composto pela própria AMB, por suas 27 federadas estaduais e pelo conjunto das suas 54 sociedades de especialidades do país . Na plataforma virtual, todos os dias são apensadas matérias11

11Ver mais em Associação Médica Brasileira:Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 AMB (CEM COVID-19 AMB). Acesso em 20/05/21.

10A resolução tem poder regulatório em razão da competência do CFM sobre a atuação médica, e que portanto difere do parecer elaborado a pedido do mesmo CFM reportado mais acima no relato textual acerca da controvérsia.

9Veja mais emYoutube: Entrevista com infectologista Roberta Lacerda sobre um ano da covid-19 n…

. Acesso em 20/05/2021.

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e links com informações sobre notícias onde eles alegam haver falsidade a respeito da eficiência de qualquer modalidade de tratamento precoce.

A seguir, selecionamos trechos de exposições realizadas por duas profissionais que conformam a controvérsia, a fim de expandir o escopo da análise a respeito do entendimento acerca do tratamento precoce e aquilo que é afirmado enquanto boa ciência. Estes trechos foram escolhidos pois se oferecem enquanto respostas aos questionamentos que orientam o estudo em tela, a saber: o entendimento sobre boa ciência, as redes e alianças às quais reivindicam estar associadas, e finalmente, as noções enquanto responsabilidade e autonomia médica.

Encenando a boa ciência

O primeiro trecho selecionado diz respeito a informações apresentadas pela médica infectologista, atuante em doenças infecciosas e parasitárias, Roberta Lacerda.

A doutora concede entrevistas com regularidade a portais de mídia local e nacional, atende pacientes de Covid em Natal/RN, bem como participou de reunião da Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados no dia 07/05/2021.

Ainda no verão de 2021, em meio à crise do oxigênio de Manaus, Roberta Lacerda concedeu entrevista a uma rádio de Natal. Da ocasião, extraímos alguns12 trechos :13

Roberta Lacerda - RL: (...) mais de 80% do orçamento destinado do Ministério de Saúde Americano foi pro Covax, só para estudo de vacinas. Em nenhuma outra pandemia do mundo se investiu tanto só em vacinas. Eu não sou contra a vacina. Mas a gente tem que entender que a vacina é uma prevenção. Tem alguém na minha frente sofrendo, com cinco dias de febre, dor no corpo, diarreia, estão sendo mandadas para casa com Dipirona, dizendo que essa pessoa não precisa fazer nada. Isso é criminoso. Isso é uma falácia. Eu não concebo que as pessoas até este momento, se elas não estão à vontade com as evidências porque não tem um corpo racional com qualidade ... que já tem, não é mais momento nem pra dizer que não tem, nem que não tem qualidade … ontem à noite, pesquisem na internet, ou onde for, no Duck Duck Go, porque o Google, ele tem um algoritmo que ele vai servindo para

13Os trechos são longos, pois optamos por apresentá-los quase na sua totalidade buscando evitar argumentos contrafactuais no sentido “a fala foi tirada de contexto”. Em razão disso, optamos por manter extratos longos, e por esta razão pedimos desculpas aos leitores e leitoras. Nas próximas seções, este trechos serão tomados como referência sem repetí-los.

12Ver mais emYoutube: Entrevista com infectologista Roberta Lacerda sobre um ano da covid-19 n…

. Acesso em 20/05/2021.

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separar notícias que fala apenas denegrindo a Ivermectina. E eu escolhi esse tema hoje porque a minha estratégia de hoje para a próxima semana, é treinar todas as unidades básicas de Natal e de qualquer prefeito que queira me procurar, pra fazer uma estratégia de saúde pública de prevenção. Não é só Ivermectina, nem ela é a solução. Mas já tem evidências suficiente mostrando, depois a gente pode ver aqui os gráficos do Peru, do México, que agora em dezembro o Ministério da Saúde colocou Ivermectina, Azitromicina, AS e Motero cash, que é um remédio para Asma que diminui a inflamação do Pulmão desde o primeiro dia de sintoma que o paciente tenha, colhendo swab , e analisando.14

Entrevistador: Dra., uma pergunta: Por quê chegamos a esse ponto? Aí eu gostaria de complementar: a população relaxou? O poder público abriu mão de fiscalizar ou realmente as novas variantes são muito perigosas?

RL - É multifatorial. Ainda é cedo pra dizer que essa nova variante tenha essa virulência. A gente acredita que sim. Por quê? Não que ela tenha talvez uma mutação que leve mais à trombo, isso aí ainda precisa ser investigado melhor, mas é sabido que já no caso de adultos jovens, sem comorbidades, comorbidades prévias, que estavam em doença leve, o famoso “80% vai ter uma forma simples e não vai precisa fazer nada. E agora um rapazinho lá na Paraíba faleceu no 10º (dia) de doença em casa. A mãe foi chamar ele para almoçar e ele não respondeu mais.

O trecho é importante para compreendermos como a médica infectologista organiza sua visão a respeito da pandemia e as melhores práticas de confrontá-la em sua manifestação. Verifica-se um a problematização a respeito do papel de motores de busca que privilegiam notícias negativas acerca do tratamento precoce, a ênfase de empenhos orçamentários do Governo Estadunidense para vacinas, bem como como a reivindicação de sucesso em situações pandêmicas atinentes a alguns países. Em outra passagem da mesma entrevista, a médica infectologista afirma especificamente sobre o tratamento precoce:

RL - Se a gente quiser hoje diminuir a mortalidade do nosso paciente tem duas formas de tratar: Precocemente na primeira semana com antivirais que reduzem a replicação do vírus, como está mostrado em estudo in vitro, in vivo, animal e humano, com redução de carga viral; e também na segunda semana na segunda fase inicial, em torno do 8º ao 12º dia, que as séries de casos da China mostraram que é o período onde há maior probabilidade de haver a tempestade inflamatória que é quando o vírus não se multiplica mais, mas os restos de proteínas estão fazendo ali uma espécie de doença autoimune, como Lúpus, Artrite reumatoide e que vem atuar ali pra decidir é um médico. A população não pode tomar corticoide indiscriminadamente. O médico numa UPS não pode passar corticoide, Azitromicina e Dipirona na primeira semana de doença achando que está tratando Covid. Nem tudo se trata com Azitromicina, e muito menos isolado. O tratamento de Covid, cada vez mais tá indo na linha de raciocínio do HIV, da Tuberculose e da Hanseníase, é uma poliquimioterapia, e ainda é off label, porque não tem

14Oswab é um cotonete estéril que serve para coleta de exames microbiológicos com a finalidade de estudos clínicos ou pesquisa.

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estudos suficientes para dizer na bula “isso serve para Covid”. A gente só vai ter isso daqui a dois anos. Eu não posso esperar para daqui a dois anos. Eu não posso esperar para daqui a dois anos a pessoa que me procura hoje. E o que agente tem de experiência de 200, 300 pacientes analisados é que quem eu tratei não internou. E não se trata porque era jovem e por isso não complicou. Tratei obeso, tratei hipertenso, tratei diabético, tratei pessoas que tinham todos os fatores de risco para complicar. Mas a diferença está no diagnóstico precoce, no tratamento precoce, e precoce eu digo, não é usar corticoide precoce: a maior parte dos jovens, aí sim, que estão morrendo hoje na UTI, foram porque se expuseram a um grande inóculo, e isso é um fator de virulência.

Outra pessoa trazida à controvérsia é Natalia Pasternak Taschner, bióloga e divulgadora científica brasileira, participante do Comitê de Investigação Cética, fundada por Carl Sagan (sublinhado por ela mesma), para combater “pseudociências”.

Selecionamos alguns trechos da exposição da bióloga, onde reporta a sua visão a respeito da manifestação da doença e as possibilidades acerca da eficácia do tratamento precoce, especificamente sobre a Cloroquina. A fala é referente a audiência realizada pela CPI no Senado Federal da COVID-19 em 11 de junho de 2021 .15

Natália Pasternak – NP: A ciência é vista por nós cientistas como um processo ou um método, é um processo de investigação da realidade que pressupõe a nossa capacidade de mudar de ideia diante de novas evidências, desde que as evidências sejam robustas e da crítica de nossos pares quando apontam alguma falha metodológica, algum erro no nosso trabalho. Com isso, a gente consegue produzir a melhor descrição possível da realidade em um determinado momento histórico com as melhores ferramentas que a gente tem na mão naquele momento. O momento histórico, social e político pode mudar, as ferramentas podem mudar, elas podem ser melhoradas, e com isso a gente pode mudar de ideia, diante de novas evidências, se essas evidências forem robustas o suficiente. O que a gente não quer dizer como ciência:

ciência não é uma verdade absoluta, um dogma, ciência não é qualquer coisa que seja publicada num artigo científico, como a gente tem visto muito durante essa pandemia. “Ah mas saiu num paper”, não é porque saiu num periódico científico que automaticamente se torna ciência, ou ciência de qualidade. Também não é qualquer coisa dita por um cara de jaleco que tem vírgula PHD depois do nome. E, definitivamente, não é qualquer coisa que seja ensinada numa universidade. Porque infelizmente nas nossas universidades a gente também ensina bastante besteira. Portanto, a ciência não é uma questão de opinião. Não é uma questão do que eu enxergo versus o que você enxerga, não é uma visão do mundo.

(...)

NP -Como que a gente faz então pra buscar esses fatos pra ver quando é um seis e quando é um nove, quando a gente tá falando por exemplo de uma intervenção de saúde pública, do teste de um medicamento, como por exemplo, a cloroquina. Vou utilizar a cloroquina como exemplo porque

15Ver mais emYoutube: CPI da Pandemia ouve Natalia Pasternak e Cláudio Maierovitch – 11/6/2021 (minutagem 01:06:35). Acesso em 07/06/2021.

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infelizmente ela causa muita confusão em nosso país até hoje, então vamos avaliar como que a gente faz um seis ou um nove da cloroquina. Como que a gente investiga se um medicamento funciona para uma doença ou não. A primeira coisa que a gente tem que ver é se existe plausibilidade biológica.

Existe um mecanismo celular, existe um mecanismo biológico que mostra que esse fármaco pode agir nessa doença? Ela pode impedir a entrada do vírus na célula? Ele pode impedir a replicação do vírus? O que que ele pode fazer? No caso da cloroquina, infelizmente, ela nunca teve plausibilidade biológica para funcionar. O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio, porque na célula do trato respiratório, o caminho é outro. Então ela já nunca poderia ter funcionado. Aí a gente examina também a probabilidade dela funcionar. Ela já funcionou para outras doenças? Para outras viroses? Não, ela nunca funcionou. A Cloroquina já foi testada e falhou para várias doenças provocadas por vírus, como Zika, Dengue, Chicungunha, o próprio SARS, AIDS, Ebola, nunca funcionou, então também não tem grande probabilidade de funcionar, nunca teve. Evidências anedóticas, ah mas o meu vizinho, o meu cunhado, o meu tio tomou, e se curou …, evidências anedóticas não são evidências científicas, elas não servem para ciência, elas são apenas causos, histórias, e o plural de evidências anedóticas não são evidências científicas, é só um monte de evidências anedóticas, não interessa quantas pessoas a gente conhece que usaram a cloroquina e se curaram isso não se transforma em evidência científica, isso precisa ser investigado. Porque, correlação não é mesma coisa que causa e efeito, correlação são coisas que acontecem ao mesmo tempo e que de repente até suscitam uma pergunta para ser investigada, mas não a resposta. Resposta, a gente investiga, para ter uma resposta a gente precisa saber uma relação de causa e efeito. pra isso a gente usa estudos randomizados, controlados, duplo cegos e com grupo placebo (...). Esse é o tipo de estudo que consegue estabelecer uma relação de causa e efeito.

Dos trechos extraídos de exposições, tanto da médica infectologista quanto da bióloga pesquisadora, percebe-se que ambas representam visões comprometidas pela identificação de meios para enfrentar os efeitos da pandemia. Roberta Lacerda apresenta sua experiência pessoal com o manuseio de fármacos e testagens sucessivas de pacientes, e menciona na sessão da Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados , sua relação com a Dra. Tess Lawrie, pesquisadora destacada, com quem16

“conversa, troca e-mails e telefonemas”, acerca das “evidências” reunidas em torno da Ivermectina. Roberta Lacerda manifesta-se constantemente acerca da necessidade de testar possibilidades de tratamento precoce, e como se percebe, reivindica a hipótese de

“bloqueio” às publicações de trabalhos que “corroboram” sua eficiência.

Natália Pasternak, por seu turno, levanta óbices sobre estudos observacionais.

Segundo ela

NP - Estudos observacionais são aqueles que olham para trás. Eles vão observar o que já aconteceu, ah, olha parece que tem um monte de gente que

16Ver mais emYoutube: Comissão de Seguridade Social - A importância do tratamento precoce con…

. Acesso em 07/05/2021.

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tomou cloroquina e melhorou, isso é uma observação, isso é uma correlação, isso dá para gente uma pergunta: será que a Cloroquina funciona para COVID 19? Mas não nos dá uma resposta. Os estudos observacionais, eles produzem perguntas, os estudos randomizados, clínicos, duplo cego, com grupo placebo, eles produzem respostas. E eles fazem uma comparação justa.

Como que a gente desenha esses estudos randomizados, eles olham pra frente, e não pra trás, eles são prospectivos, eles vão ser desenhados exatamente para responder aquela pergunta. E a pergunta é: será que a Cloroquina funciona pra Covid 19? Esses estudos vão comparar grupos diferentes, grupos de pessoas onde uma toma cloroquina, que é o nosso exemplo, e a outra toma um placebo, uma pílula de mentira, de farinha. Esses grupos precisam ser similares, em termos de sua composição, por isso randomizados, precisa ser duplo cego, ninguém pode saber o que tá acontecendo, para a gente reduzir os nossos vieses, porque nós somos humanos, nós temos vieses. Assim, a gente consegue dar uma resposta para aquela pergunta da Cloroquina.

Nosso objetivo aqui não será adensar as caracterizações já saturadas sobre os atores e classificações de posicionamentos acerca do tratamento precoce, e sim analisar a controvérsia envolvendo atores múltiplos, como demonstrado acima.

Evidencia-se, por exemplo, que Roberta Lacerda, na ausência de uma confirmação de relação causal entre o tratamento precoce e a cura de pacientes, a doutora reivindica a situação de boicote, vivida por pesquisadores e pesquisadoras, essencialmente mobilizados pela busca de tratamentos precoces. Nota-se, aqui, uma visão inteiramente sustentada por uma lógica interna e auto referenciada em estudos observacionais.

Por outro lado, Natália Pasternak vocaliza, em primeiro lugar, a ausência completa de comprovação de relações causais, acrescentando fatores que consubstanciam uma certa impertinência de quem ainda defenda uso de Cloroquina, por exemplo. Convém registrar, que todos os dias surgem novas iniciativas de universidades e pesquisadores reconhecidos, mobilizados em identificar relações de causa, entre o uso de medicamentos enquanto tratamento profilático e sucesso no combate à tempestade inflamatória, sem sucesso até aqui.

Rastreamos a controvérsia e salientamos, por meio de inscrição das encenações acerca do tratamento precoce e boa ciência enquanto prática médica, que atuam em perspectivas próprias. Há menção a redes de pessoas e instituições cujas relações legitimam as posições sustentadas, visando à confirmação de relações de causa-efeito;

há oposição ao que se chama de evidências anedóticas, o principal “veículo” de confirmação de que há no tratamento precoce sucesso, razão pela qual seus resultados

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estariam sendo sonegados por interesses políticos para fins de demarcação com a linha adotada pelo Presidente da República no combate à pandemia no caso brasileiro. No âmbito global, o impedimento desta comprovação dar-se-ia por conta de interesses da indústria farmacêutica, ciente dos custos baixos na produção de medicamentos já existentes. Em relação às vacinas, restaria um certo ceticismo por conta da condição promissora a novos mercados e grandiosos dispêndios orçamentários empenhados na corrida às vacinas.

O debate a respeito da “defesa” ou “recusa” da ciência e do “combate ao negacionismo” não é estranho a Bruno Latour. É de amplo conhecimento o quanto está inscrito no senso comum a legitimidade apriorística atribuída às hard sciences, ao mesmo tempo em que o estatuto “científico” é negado completa ou parcialmente às Ciências Sociais. Esta questão foi levada ao paroxismo na ocasião da publicação de Transgredindo as fronteiras: em direção a uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica[SOKAL, 1996 (SOKAL e BRICMONT, 2014 )]. Como sabemos,17 a história do desenvolvimento do pensamento científico, tanto quanto o filosófico, é repleta de acusações de relativismo e charlatanismo .18

Na esteira deste debate, a mobilização do repertório teórico proposto a este estudo é oportuno, pois a ideia de controvérsia é o abre alas da exposição de Bruno Latour, decorrente de sua ambição em retomar a tarefa de descobrir as associações e a identificação de redes e alianças que encenam verdades múltiplas, que não existem uma em reação a outra ou outras simplesmente.

Tecendo redes e alianças

A despeito do folclore que cerca o Senador pelo Rio Grande do Sul, Luiz Carlos Heinze (PP/RS), suas repetidas falas nas sessões da CPI do Senado Federal para esclarecer responsabilidades na administração da situação pandêmica no Brasil, foram

18Ver mais em Revista Piauí:A ascensão dos charlatões. Acesso em 25/05/2021.

17O artigo em questão foi publicado em 1996, como parte de uma estratégia do matemático americano Alan Sokal, em “denunciar” a condiçãonon senseda contribuição de alguns dos expoentes da chamada corrente pós-moderna no campo da filosofia da ciência e das Ciências Sociais. O debate é parte de uma ampla discussão a respeito da filosofia da ciência. Acrescentamos a título de esclarecimento, que a publicação do livro “Imposturas Intelectuais, o abuso da ciência pelos filósofos pós-modernos” é de 1998.

Neste ensaio, trabalhamos com a edição brasileira de 2014, difundida pela editora BestBolso.

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responsáveis pela nossa memorização de ao menos três destacados pesquisadores favoráveis e encorajadores do uso do tratamento precoce. Vale registrar que a posição da médica infectologista Roberta Lacerda também se vale da anuência dos seguintes atores:

- Satoshi Ōmura, bioquímico japonês, um dos descobridores do uso de Ivermectina,

- Luc Montagnier, virologista francês, dois Prêmios Nobel de medicina,

- Vladimir Zelenko, médico de família ucraniano-americano e candidato a Prêmio Nobel de Medicina;

Tais personalidades são os atores mais ilustres e sobre os quais recai o maior peso daquilo que se produz a título de informação a respeito de tratamentos precoce no plano global, seja do uso da Ivermectina, Hidroxicloroquina ou Azitromicina.

Entretanto, tais atores situam-se num universo exterior à controvérsia em questão, pois ela tem como ponto de intersecção e alavancagem, os posicionamentos de outro ator.

Na noite do dia 24 de março de 2020, o Presidente da República Federativa do Brasil fez o primeiro de uma série de pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e19 televisão. Na esteira deste e dos pronunciamentos seguintes acerca do tema, o Presidente caracterizou o novo coronavírus como “gripezinha”, desencorajou e contrariou medidas de isolamento social, defendeu a adoção de Cloroquina, associou-se à opinião de que o vírus fora concebido em território chinês e, finalmente, recusou-se a atender solicitações de laboratórios mobilizados na “corrida da vacina”. Paralelo a este desenrolar de posicionamentos, desenvolveu-se a controvérsia a respeito da eficácia do tratamento precoce da Covid-19.

Conforme demonstramos, a controvérsia do tratamento precoce é contida por três fármacos vendidos e disponibilizados na maior parte de farmácias e drogarias.

Assim, o chamado tratamento precoce no âmbito da Pandemia do Novo Coronavírus diz respeito ao uso administrado do sulfato de hidroxicloroquina, Ivermectina e a Azitromicina. Em breve pesquisa pelos motores de busca na internet, verifica-se que o sulfato de hidroxicloroquina é indicado para o tratamento de: afecções reumáticas e

19ver mais em Youtube: Pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (24/03/2020) . Acesso em 28/08/21.

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dermatológicas (reumatismo e problemas de pele), artrite reumatoide (inflamação crônica das articulações), artrite reumatoide juvenil (em crianças); a Ivermectina é um fármaco usado no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas, entre eles estão: a infestação por piolhos, sarna, oncocercose, estrongiloidíase, tricuríase, ascaridíase e filaríase linfática - em infestações externas, pode ser administrada por via oral ou aplicada na pele; e, a Azitromicina, é um antibiótico usado no tratamento de várias infecções bacterianas. Entre as indicações mais comuns estão o tratamento de otite média, faringite estreptocócica, pneumonia, diarreia do viajante e outras infeções intestinais.

Tais medicamentos são bastante baratos e acessíveis a toda a população, segundo seus defensores. No Brasil o uso de Hidroxicloroquina foi defendido pelo Presidente da República, tendo este se engajado fortemente em sua celebração enquanto ferramenta de combate à pandemia. Em relação à HXC, infectologistas da Sociedade Brasileira de Infectologia e a maior parte das associações médicas afirmam estarem esgotadas as possibilidades de comprovação fática de seus benefícios. Natália Pasternak refere-se aos dados oferecidos em suporte à defesa da HXD aplicada precocemente como “evidências anedóticas”, excluindo-as da noção de boa ciência.

Percebe-se que no campo científico, a controvérsia acerca tratamento precoce está relativamente estabilizada ao menos desde meados de 2020, seja por estudos realizados no Brasil , seja sob supervisão da Organização Mundial da Saúde . A20 21 alavancagem da controvérsia deve-se sobretudo a polêmica envolvendo o periódico científico Lancet, que no dia 4 de junho de 2020, retirou artigo publicado em 33 de maio refutando os benefícios da HCQ e CLQ no tratamento da Covid-19 . Entretanto,22 por conta do posicionamento do Governo Federal Brasileiro e alguns governos locais (estados e municípios) no tratamento da pandemia, difundindo reiteradamente a mobilização do tratamento precoce, o tema segue sendo tomado como controverso no âmbito do que podemos chamar de opinião pública.

22Ver mais em O Globo:Por que cientistas tiveram que se retratar por estudo que negava efeito da cloroquina contra o coronavírus. Acesso em 19/09/2021.

21Ver mais em O Globo:OMS encerra em definitivo estudo com hidroxicloroquina para tratamento da covid. Acesso em 19/09/2021.

20Ver mais em O Globo:Estudo brasileiro mostra ineficácia de hidroxicloroquina e azitromicina em casos leves a moderados de Covid-19. Acesso em 20/08/2021.

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Exemplo da manutenção desta controvérsia é o posicionamento de entidades médicas23 contra a alteração de posição da Associação Médica Brasileira (AMB)24 acerca do tratamento precoce. A mudança de posição ocorreu após a posse da nova diretoria eleita para o biênio 2021-2023 da entidade, em pleito tumultuado e onde as25 repercussões da pandemia foram o aspecto principal da disputa. O ajuste de posição dispersou a unanimidade que havia entre as direções do CFM e AMB até então acerca da recomendação do tratamento precoce, alterando a correlação de forças no âmbito da categoria médica.

Encenando cuidados com saúde

A Dra. Infectologista Roberta Lacerda atribui aos procedimentos de pesquisa, efetivados com grupos de controle em experimentos, acerca do potencial benefício de algum remédio, bem como amostras randomizadas de pacientes. Afirma aguardar por resultados de pesquisa cujas publicações ainda não foram publicadas, embora tenham sido já revisadas por pares. Reduzindo o universo da controvérsia das doutoras Lacerda e Pasternak, o tempo será o senhor para eventual surgimento ou não de evidências consubstanciadas e verificáveis de relação causa-efeito entre o empenho de algum fármaco e a resposta positiva no tratamento do paciente.

Em termos de responsabilidade médica, o CFM possui documentos diversos que acumulam uma ambiguidade: o uso de HXD é tolerado em apresentação inalatória, sem prejuízo de cometimento de infração ética junto ao Conselho, mas o anexo da Resolução 2.929 indica estudos que demonstram total insegurança na sua prescrição generalizada, limitando-a, por enquanto, a pacientes em estágio mais grave. Atores favoráveis à prescrição, acusam médicos e infectologistas, autoridades de diferentes instâncias da República e lideranças políticas contrárias ao tratamento precoce, de serem cúmplices com a deterioração das condições brasileiras de enfrentar a pandemia, além

25Ver mais em Associação Médica Brasileira:Uma Nova AMB para os médicos do Brasil - AMB. Acesso em 20/05/2021.

24Ver mais em G1:Entenda por que a Associação Médica Brasileira mudou de opinião e agora diz que o

‘kit Covid’ deve ser banido. Acesso em 19/09/2021.

23Ver mais em Gazeta do Povo:Médicos criticam nota da AMB que desaprova tratamento precoce.

Acesso em 19/09/2021.

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de negarem uma alternativa viável e acessível a pessoas que estão em situação de vida ou de morte.

Outras entidades defendem posições resolutamente contrárias a qualquer tipo de adoção dos medicamentos componentes do que comumente se apresenta enquanto tratamento precoce no combate aos efeitos da Convid-19. A Associação Médica Brasileira (AMB) criou o Comitê Extraordinário de Monitoramento COVID-19 (CEM COVID_AMB), em atenção ao estado de emergência que sinalizava em 15 de março quase 300.000 vidas perdidas no intervalo entre a decretação do estado de Pandemia pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2021 e a realidade analisada pela AMB.

Por meio de declarações contínuas e clipping diário dos acontecimentos relacionados à controvérsia da prescrição do tratamento precoce, a AMB declarou em Nota Relevante com a Sociedade Brasileira de Infectologia (19/01/2021), na Carta dos Médicos do Brasil à Nação, que o combate à difusão do vírus deve ser realizada sobre certezas, defendendo a vacinação ampla, o distanciamento social e o rastreamento de casos

Considerações Finais

Nosso trabalho é inspirado após uma pequena imersão no estudo de aspectos da obra de Bruno Latour (1994; 1997; 2012). Em 25 de março de 2020, o autor concedeu entrevista ao jornalLe Monde, na qual afirma, em tradução livre:

“Como se a intervenção do vírus pudesse servir de ensaio para a próxima crise, aquela em que surgirá a reorientação das condições de vida para todos e para todos os pormenores do quotidiano que teremos de aprender a resolver com cuidado” .26

A análise do autor se coaduna com Wallace (2020), embora seja mais explícita sua assertiva de que a atual crise sanitária deve ser tomada como oportunidade para uma tomada de posição global contra os efeitos da crise climática. Entretanto, o que destacamos é que não desconhecemos as acusações que pesam sobre Latour e suas

26Ver mais emLe Monde:Bruno Latour : « La crise sanitaire incite à se préparer à la mutation climatique

» (lemonde.fr). Acesso em: 28/08/2021.

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alegadas atitudes “anti científicas”, e este foi fator predominante na nossa opção em tratar da controvérsia orientando-nos pela sua contribuição mais expressiva. Saudamos a tarefa auto-imposta em “reagregar o social” pois nos associamos a ele no que diz respeito à necessidade de cientistas sociais levarem a sério seus interlocutores e recusar o lugar comum de colocar “ordem no caos”.

A estabilidade da controvérsia mencionada na seção anterior, em setembro de 2021, revela-se enquanto expressão factual no caso pandêmico brasileiro, pela simetria que parece existir entre a difusão da vacinação em nosso país e a diminuição de casos e mortes atribuídos ao Novo Coronavírus. Não nos parece razoável, entretanto, admitir como pressuposto de que a controvérsia do tratamento precoce está exaurida em termos absolutos. Se em relação ao uso de Hidroxicloroquina, Cloroquina, Ivermectina e Azitromicina paira certo consenso científico sobre sua ineficácia, não prevemos que tal assertiva impacte significativamente na polarização existente em torno da questão pública, pois como afirma a professora Letícia Cesarino em seu ensaio Tratamento precoce: negacionismo ou alt-science?27: “boa parte dos seus praticantes e defensores [referindo-se à pesquisas e difusão do tratamento precoce, comentário nosso] eram ou são agentes privados: médicos, planos de saúde, empresários, pacientes”. Não nos parece correto enquadrar a assertiva da professora Cesarino como sintoma de uma postura anti “iniciativa privada”. A CPI da Covid-19 no Senado Federal parece estar próxima da identificação de fatos que consubstanciam uma correlação nociva entre interesses estranhos à ciência e o Governo Federal no caso da pandêmico brasileiro .28

Contudo, parece-nos incompreensível que a CPI não tenha convocado às suas audiências o Conselho Federal de Medicina, que isenta médicos e médicas de responsabilidade perante a prescrição do tratamento precoce baseados nos fármacos anteriormente mencionados .29

29Ver mais em Conselho Federal de Medicina:CFM publica moção de repúdio em defesa do médico, ao respeito e à civilidade na CPI da Pandemia |. Acesso em 20/09/21.

28Ver mais em O Globo:Prevent Senior ocultou mortes em estudo sobre cloroquina, revela dossiê obtido pela GloboNews. Acesso em 16/09/2021.

27Ver mais emLaboratório de Estudos de Teoria e Mudança Social:Tratamento precoce: negacionismo ou alt-science?, por Letícia Cesarino -. Acesso em: 28/07/2021.

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Com relação aos questionamentos que instruíram a pesquisa empírica, cumpre-nos ressaltar que

1) a respeito das encenações a título de “boa ciência”, há ao menos reivindicação de práticas correlatas de ambos os lados da controvérsia, embora a ausência de comprovação sustentada e diversa (no sentido apresentado por Latour [1997] emVida de Laboratório: A produção dos Fatos Científicos) de pesquisas corroborando a eficácia de qualquer tipo de tratamento precoce. O que se afirma enquanto ideia em relação a isso é que ao menos a Dra. Roberta Lacerda não desconhece os caminhos para a prática de uma “boa ciência”; o mesmo não se pode afirmar em relação ao CFM, que preserva suas orientações a despeito das evidências científicas apresentadas até o momento;

2) em relação às alianças e redes que encenam agrupamentos, há uma renitente correlação entre seguidores do Presidente da República e aqueles que afirmam haver muita “politização” contra o tratamento precoce;

3) quanto aos cuidados em saúde e responsabilidade médica, o que salientamos mais uma vez, é a aparente condição intocável adquirida pelo CFM, fonte de orientação alheia a qualquer pressuposto científico e possivelmente responsável pela conduta mais criminosa em meio à pandemia, considerando responsabilidades constitucionais.

Finalmente, esperamos que a partir desta contribuição, tenhamos contribuído na estabilização da “controvérsia” sobre o estatuto científico a respeito da contribuição científica inscrita na obra de Bruno Latour, algo um tanto excessivamente comum nas faculdades de Ciências Sociais.

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Referências Bibliográficas

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Referências

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