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Estudo comparativo entre a imprensa escrita regional e a imprensa online regional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Estudo Comparativo entre a Imprensa Escrita Regional

e a Imprensa Online Regional

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM JORNALISMO

ANA MARIA DA COSTA TEIXEIRA

Vila Real, 2011

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

Dissertação de Mestrado

2º Ciclo de Estudos em Ciências da Comunicação: Especialização em Jornalismo

Estudo Comparativo entre a Imprensa Escrita Regional e a

Imprensa Online Regional

Sob a orientação do Professor Doutor Galvão dos Santos Meirinhos

ANA MARIA DA COSTA TEIXEIRA

VILA REAL, 2011

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Agradecimentos

A concretização de uma Dissertação de Mestrado assinala o fim de uma etapa que, apesar de ser um trilho percorrido individualmente, não seria possível de alcançar sem o apoio e orientação de várias pessoas. Quero, assim, deixar aqui breves agradecimentos a todos aqueles que tiveram um papel preponderante na conclusão desta meta.

Ao Professor Doutor Galvão dos Santos Meirinhos, orientador da dissertação, pelo acompanhamento constante, pelas sugestões e pelo saber partilhado para a execução desta investigação.

À Professora Inês Aroso e à Professora Daniela Fonseca, pelo estímulo, apoio e amizade demonstrados.

À minha família, pelo apoio incondicional.

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Resumo

Título: Estudo comparativo entre a Imprensa Escrita Regional e a Imprensa Online

Regional

Autor: Ana Maria da Costa Teixeira

Com o advento da Internet, das novas tecnologias e das potencialidades multimédia que ambas encerram, os estudos sobre o impacto das mesmas no Jornalismo têm vindo a multiplicar-se, assim como os estudos comparativos entre o jornalismo impresso e o jornalismo online. Mas num campo tão vasto como é o jornalismo e os

media, há sempre rumos que se podem encetar para complementar os estudos já

realizados e acrescentar novas conclusões. Esta dissertação emerge assim num momento em que o Jornalismo se debate com novos e velhos desafios e, por isso, este estudo direcciona-se para uma modalidade específica do Jornalismo: a imprensa local e regional.

Neste contexto, esta investigação pretende dar uma visão actual da realidade dos meios de comunicação social de âmbito local e regional, numa tentativa de estabelecer uma comparação entre a imprensa escrita e a imprensa online regional.

Esta dissertação expõe a importância dos media regionais para a sociedade, apresentando, desta forma, dados que se baseiam no estudo de recepção dos leitores, os quais foram obtidos através da realização de dois inquéritos.

A primeira parte do estudo apresenta um conjunto de temas teóricos sobre a análise em questão, abordando, de um parâmetro geral para o específico, os seguintes temas: o jornalismo impresso, radiofónico, televisivo e o ciberjornalismo; o papel da imprensa local e regional e o impacto das novas plataformas digitais; e, por último, a oposição entre a imprensa escrita e a imprensa online.

A segunda parte apresenta os resultados do estudo comparativo efectuado a um grupo de leitores. Este estudo baseou-se em dois inquéritos e tinha como objectivo reunir opiniões várias sobre a imprensa escrita e a imprensa online regional.

Palavras-chave: Imprensa Escrita Regional, Imprensa Online Regional,

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Abstract

Title: Comparative Study of Written Regional Press and of Online Regional Press.

Author: Ana Maria da Costa Teixeira

With the advent of the Internet, new technologies and multimedia options, which both allowed, the researches on the impact of them in Journalism have been multiplying, as well as the comparative studies between print journalism and online journalism. But in a field as vast as it is journalism and the media, there are always paths that can be taken to complement previous studies and to add new conclusions. This dissertation emerges in a moment when Journalism is facing new and old challenges and, therefore, this study focus on a specific type of Journalism: the local and regional press.

In this context, this research tries to offer a current view of reality of the local and regional media, in an attempt to establish a comparison between regional print and regional online media.

This paper exposes the importance of regional media to society, presenting in this way, data that are based on readers' reception study, which were obtained by conducting two surveys.

The first part of the study introduces a set of theoretical themes, addressing through a general parameter to a specific one, the following themes: print journalism, broadcast journalism (radio and television) and online journalism (cyberjournalism); the role of local and regional press and the impact of new digital platforms; and, finally, the opposition/comparison between the press and online media.

The second part shows the results of the comparative study which it was done by a group of readers. This case study was based on two surveys and it aimed to gather various opinions on print and online local media.

Keywords: Regional Written Press; Regional Online Press; Online Journalism

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Índice

 

Introdução ... 8 

Parte I – Revisão de literatura... 11 

Capítulo 1 – Da Galáxia de Gutenberg ao Ciberjornalismo ... 11 

1.1.Imprensa, Rádio e Televisão ... 12 

1.2 Ciberjornalismo ... 20 

Capítulo 2 – Imprensa Local e Regional ... 34 

2.1. O papel social, económico e cultural dos media locais ... 36 

2.2. Impacto da introdução das plataformas digitais ... 44 

Capítulo 3 – Imprensa escrita vs Imprensa online ... 66 

Parte II – Estudo empírico ... 71 

Capítulo 4 - Metodologia de Investigação ... 72 

4.1. Estrutura e aplicação dos inquéritos ... 74 

Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados ... 76 

5.1. Análise geral dos grupos – Análise comparativa da imprensa escrita regional e da imprensa online regional ... 76 

5.1.1. Análise comparativa da imprensa escrita regional ... 76 

5.1.2.Análise comparativa da imprensa online regional ... 85 

5.1.3. Análise comparativa da imprensa escrita regional e da imprensa online regional (Grupo 3) ... 97 

5.2. Análise comparativa dos questionários do Grupo 3. Reflexões em torno do questionário da Imprensa Escrita Regional e da Imprensa Online Regional. ... 107 

5.3. Análise comparativa inter-grupo dos questionários do Grupo 1 (imprensa escrita regional) e do Grupo 2 (imprensa online regional). ... 119 

5.4. Análise comparativa inter-grupo dos questionários do Grupo 1 (imprensa escrita regional) e do Grupo 3 (imprensa escrita regional) ... 131 

5.5. Análise comparativa inter-grupo dos questionários do Grupo 2 (imprensa online regional) e do Grupo 3 (imprensa online regional) ... 142 

Conclusão ... 155 

Limitações e futuras investigações ... 163 

Referências bibliográficas ... 164 

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7 Anexo I- Questionário Imprensa Escrita Regional ... 179 

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Introdução

Numa sociedade cada vez mais globalizada e obcecada pelas redes sociais, pela informação imediata e pelos gadgets permitidos pelo constante e veloz desenvolvimento tecnológico, encontramos o Jornalismo numa fase de transição, necessária e forçada, para ser capaz de acompanhar as mudanças a que assistimos a uma escala mundial. Durante séculos, a “arte de contar histórias” conheceu desafios e presenciou transmutações sociais, económicas, políticas e culturais, mudanças que também afectaram o próprio Jornalismo, possibilitando a evolução e aperfeiçoamento na transmissão da informação aos cidadãos. Mas não encontramos maior desafio ao Jornalismo que aquele que presenciamos em pleno século XXI, e que se principiou durante o século passado: o surgimento da Internet e das novas plataformas digitais.

O aparecimento da Internet e da World Wide Web veio revolucionar as interacções humanas e também o modo como encaramos as notícias e a sua recepção. Com a disseminação e massificação do acesso à Internet e com a vulgarização dos dispositivos móveis, que nos acompanham para todo o lado, sejam computadores,

tablets ou telemóveis, o Jornalismo viu-se obrigado a ajustar-se à nova realidade. A

adaptação ao novo meio não foi pacífica e apesar da instabilidade inicial e do desconhecimento (como salienta Bastos no seu estudo sobre Ciberjornalismo, em que ao boom inicial se seguiram despedimentos e encerramento de publicações), as empresas jornalísticas continuam, passo a passo, a moldar-se e a melhorar a apresentação dos conteúdos aos seus leitores, tanto ao nível impresso como online.

No âmbito da imprensa regional, estas mudanças fazem-se sentir de forma ténue, sem sofreguidão ou impaciência, até porque a realidade dos media locais e regionais é bem diferente daquela que assistimos nas publicações de cobertura nacional. A debilidade económica que caracteriza, na generalidade, a imprensa regional impede-a de aproveitar todas as potencialidades que a Internet e as novas plataformas digitais possibilitam. Esta investigação enquadra-se neste contexto que opõe a imprensa escrita regional e a imprensa online regional. Assim sendo, o objectivo primordial desta dissertação assenta numa tentativa de entender o jornalismo local e regional numa era de globalização, bem como o impacto que a tecnologia, a Internet e os novos meios digitais reproduzem nos meios de comunicação social regionais.

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9 Esta investigação encontra-se dividida em duas partes que se interligam e que pretendem demonstrar e possibilitar uma visão parcial do objecto de estudo em questão. Na primeira parte centramo-nos na revisão da literatura, o que nos permite contextualizar os temas da dissertação. Assim, esta primeira parte encontra-se dividida em três capítulos. O primeiro capítulo retrocede aos inícios e primórdios do Jornalismo até ao presente, abordando, de uma forma geral, os três meios noticiosos (a imprensa, a rádio e a televisão), chegando a um novo meio de divulgar a informação (a Internet) e ao surgimento do que muitos investigadores apelidam de “quarto jornalismo” (o Ciberjornalismo). O segundo capítulo já incide num tema mais específico desta investigação, pois contextualiza e caracteriza a imprensa local e regional na actualidade, abordando, em duas secções, temas fulcrais para esta investigação. Assim, num primeiro momento, produzimos um retrato do papel social, económico e cultural dos

media locais, destacando a sua importância num momento em que a globalização nos

entra pela porta adentro. Num segundo momento, concentramo-nos no impacto da introdução das novas plataformas digitais. Por último, no terceiro capítulo contrapomos directamente a imprensa escrita com a imprensa online, enumerando as diferenças e semelhanças entre ambas as publicações. Este capítulo reproduz-se de enorme importância, à semelhança do anterior, pois relaciona-se directamente com o estudo de caso efectuado.

Na segunda parte da dissertação apresentamos o estudo de caso que complementa esta investigação. Assim, depois de apresentada a metodologia de base (Capítulo 4), que consistiu na realização de dois inquéritos por questionário (um relativo à imprensa escrita regional e um segundo relativo à imprensa online regional), apresentamos os resultados dos mesmos. Assim, o segundo capítulo (em que constam a apresentação e discussão dos resultados) desta segunda parte divide-se em cinco secções. A primeira secção deste capítulo expõe a análise e discussão dos dados entre os grupos de inquiridos, ou seja, são apresentadas as conclusões dos resultados dos inquéritos. Para facilitar a compreensão dos dados, esta secção divide-se em três subsecções: a primeira apresenta uma análise comparativa da imprensa escrita regional (entre o Grupo 1 e o Grupo 3); na segunda encontra-se uma análise comparativa da imprensa online regional (obtida a partir do Grupo 2 e do Grupo 3); por fim, na terceira está presente uma análise comparativa entre a imprensa escrita e a imprensa online, mas cujos resultados se referem ao Grupo 3 de inquiridos. Relativamente às quatro secções

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10 seguintes, o estudo concentra-se apenas numa questão do inquérito. Isto é, enquanto na primeira secção estabelecemos uma análise comparativa do inquérito em geral, nas secções seguintes o estudo foca-se somente numa questão dos inquéritos (aquela que não foi abordada na primeira secção) – o interesse das rubricas da imprensa escrita e da imprensa online regional para os leitores. Assim, na segunda secção deste capítulo apresentamos uma “análise comparativa dos questionários do Grupo 3 – Reflexões em torno do questionário da imprensa escrita regional e da imprensa online regional”. Já na terceira secção salientamos a “análise comparativa inter-grupo dos questionários do Grupo 1 (imprensa escrita regional) e do Grupo 2 (imprensa online regional)”. Na quarta secção estabelecemos uma “análise comparativa inter-grupo dos questionários do Grupo 1 (imprensa escrita regional) e do Grupo 3 (imprensa escrita regional)”. Por último, na quinta secção apresentamos uma “análise comparativa inter-grupo dos questionários do Grupo 2 (imprensa online regional) e do Grupo 3 (imprensa online regional)”.

Após a análise e discussão dos resultados, esta dissertação apresenta uma conclusão geral do estudo efectuado, assim como as limitações e futuras investigações em relação a este trabalho académico.

As mudanças que se estão a operar, fruto da globalização e de todos os processos com ela relacionados, devem ser analisadas e investigadas como forma de dar um contributo formal e prático para compreender as rotinas produtivas e o próprio Jornalismo.

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Parte I – Revisão de literatura

Capítulo 1 – Da Galáxia de Gutenberg ao Ciberjornalismo

A forma como nos relacionamos e encaramos o quotidiano, a forma como vivemos no mundo, tal e qual como o conhecemos hoje, só foi possível com o desenvolvimento tecnológico e económico que ditou uma vivência mais avançada e sofisticada. Encontramo-nos, em pleno século XXI, numa “aldeia global”, preconizada por Marshall McLuhan, para a qual contribuiu o aparecimento dos meios de comunicação de massa. Primeiro o jornal, depois a rádio, a televisão e, mais recentemente, a Internet, que veio reconfigurar e revolucionar o modo como o Homem age e interage no meio social e criar uma sociedade planetária. Isto é, um planeta em “contacto” permanente. Com todos estes meios, o cidadão comum tem a possibilidade de contactar com qualquer pessoa em qualquer ponto do mundo, saber o que lá se passa à distância de um simples clique.

Em 2004, o advento da Internet levou Castells a caracterizar o meio social como a Galáxia Internet. “Enquanto quiser continuar a viver em sociedade, neste tempo e neste lugar, terá que lidar com a sociedade em rede. Porque vivemos na Galáxia Internet” (Castells 2004, citado em Jerónimo 2010a: 3). Isto porque esta nova forma de comunicação em rede conduziu e continua a conduzir à “ruptura de dois condicionantes clássicos de toda a Comunicação: o tempo e o espaço” (Salaverría, citado em Corrêa 2008; e Jerónimo 2010a: 2). O mesmo autor prossegue, explicando as razões: “as mensagens na rede possuem elasticidade temporal e não estão submetidas às distâncias físicas. Nesse sentido, a comunicação em rede se caracteriza pelo policronismo e pela multidirecionalidade” (Idem, 2).

(…) el nuevo panorama, que aquí se denomina de una forma metafórica – en términos de Castells (2001) – por «Galaxia Internet», para distinguir el panorama que describía en otro momento McLuhan, con la expresión «Galaxia Gutenberg» (1962) (…) (Sanchéz 2004: 2).

Também Cardoso et al. (2009: 7-8) salientam esta passagem de um modelo de comunicação de massa para um modelo em rede.

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De um mundo de comunicação em massa constituído por organizações de distribuição de conteúdos de mass media, estamos a dirigir-nos para um mundo construído, ainda, por grandes conglomerados de media (Hesmondhalgh, 2007), mas também pela forma como as pessoas trabalham em rede com diferentes tecnologias mediadas, combinando mecanismos interpessoais de mediação com mecanismos de mediação em massa (Cardoso et al. 2009: 17).

No entanto, esta possibilidade de poder estar a par de tudo o que acontece no planeta cria um sentimento de conhecimento, mas o certo é que, muitas das vezes, uma pessoa pode não conhecer o que ocorre a metros de distância da sua habitação. “Para enfrentarmos um mundo cada vez mais aberto e, portanto, mais incerto, precisamos (…) de estar confiantes na nossa identidade, preparados para nos confrontarmos com outros valores. Em suma, ter raízes” (Wolton 2004, citado em Jerónimo 2010b: 2). É neste contexto que a imprensa local encontra o seu lugar e o seu papel preponderante de se ligar à comunidade em que está inserida para divulgar os acontecimentos e para lhe dar voz.

1.1. Imprensa, Rádio e Televisão

Recuando alguns séculos, comprovamos a necessidade de difundir os acontecimentos mais relevantes que iam ocorrendo. Desde há muito que o ser humano sente que deve comunicar as suas vivências, as suas histórias, as suas revoluções como forma também de as manter na História (Sousa 2001: 18). Como avança também Sousa (2006: 76):

Nos primórdios da humanidade, os homens agregavam-se em pequenos grupos tribais e necessitavam de comunicar uns com os outros para garantir a sua sobrevivência. Quando o homem pintava as paredes das cavernas evidenciava a necessidade de comunicar que advém do pensamento complexo.

É neste contexto que se “encontra a génese do jornalismo” (Sousa 2001: 18). A comunicação conheceu diversas formas e suportes, como a invenção da escrita, a invenção do papiro, do papel e das cartas, respectivamente. Acerca da escrita, Sousa (2006: 76) salienta a sua importância como “um dos alicerces dos processos de comunicação social”. “Foi a escrita que permitiu ao homem transmitir rigorosamente informações de geração em geração sem se sujeitar à infidelidade dos processos de

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13 transmissão oral (…)” (Sousa 2006: 76). Com estas descobertas e pelo facto de o tempo e o espaço deixarem de ser obstáculos intransponíveis para divulgar o que se passava, também o Homem foi melhorando e aperfeiçoando a “arte de contar histórias e novidades e também a arte de transmitir fidedignamente essas histórias e essas novidades aos seus semelhantes” (Sousa 2001: 18).

Segundo Sousa (2001: 18), na antiga Grécia predominou a “historiografia de acontecimentos vividos, forma mista entre o jornalismo e a história”. Exemplo disso é a

História da Guerra do Peloponeso, de Tucídides (Idem, 18). Também na Roma antiga,

por exemplo, Júlio César ordenou a publicação das Actas Diurnas onde constavam as sessões do Senado Romano e os “procedimentos judiciais mais importantes, mas os seus conteúdos diversificaram-se durante os mais de trezentos anos da sua existência” (Ibidem, 18-19).

Na Idade Média predominaram as crónicas que continham os assuntos mais importantes e que depois de serem “copiadas à mão” eram “remetidas aos nobres, aos eclesiásticos e a outras personalidades importantes” (Ibidem, 19). No entanto, as invenções de Johann Gutenberg (1430-1440) vieram revolucionar a arte de contar histórias.

Se bem que a tipografia com caracteres móveis já existisse antes, Gutenberg inventou um processo de criação de inúmeros caracteres a partir de metal fundido. A instalação de tipografias um pouco por toda a Europa permitiu a explosão da produção de folhas volantes, de relações de acontecimentos e de gazetas, que, publicadas com carácter periódico, se podem considerar os antepassados directos dos jornais actuais (Ibidem, 19).

Estes avanços (tipos móveis e aperfeiçoamento da prensa) permitiram o início da impressão, de que é exemplo a Bíblia de 42 linhas, em duas colunas. No entanto, a história da imprensa foi influenciada e o seu avanço ora era marcado de forma lenta, ora de forma acelerada. “Até aos princípios do século XIX, a evolução técnica da indústria gráfica foi muito lenta. Mas tudo se alterou com a invenção da rotativa por Koning, em 1812, que passou a permitir a produção de um número elevado de cópias a baixo preço” (Ibidem, 20).

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Segundo Costella (1984: 83), para alguns historiadores o mais antigo jornal impresso da história é o Noviny Poradné Celého Mesice Zari Léta 1597 (Jornal

Completo do Mês Inteiro de Setembro de 1597), mensário editado em Praga por

Daniel Sedltchansky, a partir de 1597. Mas outros historiadores preferem dar as honras de primeiro jornal impresso ao semanário Nieuwe Tijdinghen, criado em Antuérpia por Abraão Verhoeven, em 1605. Em 1622, surge em Inglaterra o Weekly

News. Em 1611 aparece o Mercure Français (Sousa 2001: 19).

O mesmo acontece com a classificação do primeiro jornal impresso diário.

O Daily Courant, criado em Inglaterra por Elizabeth Mallet, em 1702, foi, porém, o primeiro a ser publicado todos os dias, com excepção do domingo. Era apenas uma folha de papel, mas não só mostrou que as pessoas queriam conhecer rapidamente as notícias, como também contribuiu para transformar o conceito de actualidade (Idem, 20).

Em Portugal, o primeiro jornal diário foi a Gazeta de Lisboa, cuja data de edição iniciou a 1 de Maio de 1809 (Ibidem, 20), mas “é apenas com o aparecimento do Diário de Notícias, em 1865, que o jornalismo português entra na modernidade” (Ibidem, 20), rompendo-se com a opinião e o partidarismo em prol de informação factual (Ibidem, 20). Sousa (2006: 279) resume a predominância da imprensa da seguinte forma:

Até aos alvores do século XX, a imprensa foi o principal veículo da troca de informações e ideias e da cultura. Livros e jornais foram os elementos centrais daquela que McLuhan (1962) denominou, metaforicamente, como a Galáxia de Gutenberg, sobretudo a partir do século XIX.

Sousa (2006: 80) expõe, assim, alguns factores que terão contribuído para o “sucesso da imprensa”:

Os dispositivos técnicos tipográficos foram continuamente aperfeiçoados, permitindo cada vez maiores tiragens, em menos tempo e com melhor qualidade; (…) a imprensa estimulou o acesso à leitura. Um maior acesso à leitura significou mais procura e isto permitiu ainda maiores tiragens, o que reduziu ainda mais o custo por exemplar; os livros, revistas e jornais incentivaram a instrução e esta, retroactivamente, incentivou a leitura. Com os hábitos de leitura, veio o gosto de ler;

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os textos impressos e a instrução alimentaram a curiosidade, o interesse pelo mundo, a fome de conhecimento, o que por sua vez se reflectiu nos índices de leitura.

De seguida, o aparecimento da Rádio. A história deste novo canal de comunicação e informação remonta ao século XVIII, altura em que foram encetadas as primeiras investigações. Não se pode adiantar apenas com um responsável, pois os estudos que conduziram à criação da rádio deveram-se a vários investigadores. Em 1600, são dados os primeiros passos, com William Gilbert que no seu livro “El Magneto” publica os resultados dos seus estudos sobre a “relação do magnetismo com a electricidade estática. É, provavelmente, o primeiro de muitos estudos e invenções que viriam dar origem à rádio” (Silva 2004: 1).

O aparecimento da rádio deve-se, em grande parte, às invenções alcançadas primeiramente, como o telégrafo e o telefone, dado que os três estão claramente relacionados (Bellis 2007: 1).

Mas a história da rádio começa a desenhar-se de forma mais categórica a partir da década de 70 do século XIX, devido aos estudos realizados pelo investigador escocês James C. Maxwell, quando descobriu as ondas electromagnéticas (Bellis 2007: 1; Sousa 2006: 298). Poucos anos depois, outro físico, Heinrich Rudolph Hertz, conseguiu reproduzir essas mesmas ondas electromagnéticas (Sousa 2006: 298).

Neste seguimento, Onesti, Branly e Marconi, “com a invenção da antena, conduzem em breve ao estabelecimento das comunicações de longa distância” (Silva 2004: 1).

(…) em 1890, Edouard Branly conseguiu construir um radiocondutor, um dispositivo capaz de produzir e conduzir ondas electromagnéticas. Marconi, em 1894, construiu uma antena emissora e um receptor, que tornaram operativo o sistema de Branly. Com o invento de Marconi, tornou-se possível transmitir sinais em código Morse à distância, sem fios. Lee de Forest inventou o dispositivo que faltava à rádio: o tríodo, um amplificador que foi o primeiro adaptado ao telefone antes de ser usado na rádio e que permitia a transmissão e captação da voz humana. As primeiras transmissões de voz humana tiveram lugar em 1908, em Paris, a partir da Torre Eiffel, e nos Estados Unidos, a partir da Metropolitan Opera, em Nova Iorque (Sousa 2006: 298).

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16 Até ao início do século XX, várias descobertas contribuíram para melhorar as ligações entre dois pontos distantes. Hertz não foi o único a conseguir avanços nesta matéria. Também o americano Mahlon Loomis “successfully demonstrated wireless telegraphy. Loomis was able to make a meter connected to one kite cause another one to move, marking the first known instance of wireless aerial communication” (Bellis 2007: 1). Já Guglielmo Marconi, em 1895, provou a viabilidade da comunicação por rádio (Idem, 1).

He sent and received his first radio signal in Italy in 1895. By 1899 he flashed the first wireless signal across the English Channel and two years later received the letter “S”, telegraphed from England to Newfoundland. This was the first successful transatlantic radiotelegraph message in 1902 (Ibidem, 1).

Neste âmbito, as primeiras transmissões via rádio são atribuídas a Marconi, depois de ter conseguido realizar “testes de transmissão de sinais sem fio pela distância de 400 metros e depois pela distância de dois quilómetros” (Ibidem, 2). Ademais, Guglielmo Marconi descobriu também o “princípio do funcionamento da antena. Em 1896, Marconi adquiriu a patente da invenção da rádio, enquanto Landell só conseguiria obter para si a patente no ano de 1900” (Ibidem, 2). Como salienta Winston (1998: 70):

The honour of ‘inventing’ radio therefore goes to Marconi, not least because he was consciously working on a signaling system. Although like Morse and Bell, Gugliemo Marconi garnered other men’s flowers, nevertheless, as a student of Righi’s, he was by that fact alone more of a scientist than were the ‘inventors’ of the telegraph or the telephone.

No entanto, as investigações para aprofundar a transmissão via rádio não se ficaram por aqui:

Over the next decade numerous researchers refined these experiments by producing devices of ever greater sophistication as regards the adjustability of the gaps. It was soon discovered that effective transmission of the radio wave depended exactly on such adjustment – tuning – so that both parts of the apparatus were, in the terminology of the day, ‘syntonised’, that is, tuned to the same frequency (Idem, 69).

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17 Com o avançar dos progressos, a rádio foi entrando no quotidiano das pessoas, produzindo, à semelhança de outros meios de comunicação, alterações na forma de percepcionar e assimilar os conteúdos: “the radio brought home this overall process of homogenisation” (Winston 1998: 77). Assim sendo, no decorrer dos anos 20 do século XX, a rádio apresentava-se já um negócio rentável: “radio, by 1922, was already a 60 million a year business (Barnouw 1975: 27-28)” (Idem, 78). Esta situação justifica-se pelas várias vantagens que oferece: “the radio very rapidly became a major patron of music and musicians, again easing the economic impact of its coming on those most directly concerned” (Ibidem, 84).

O impacto da rádio rapidamente atingiu a imprensa. Um novo meio e uma nova forma de veicular notícias poderiam colocar em causa a existência dos media impressos, pelo que a indústria da imprensa americana tentou controlar, em termos jornalísticos, a rádio.

(…) there were serious attempts to control and suppress at least the journalistic aspects of the new medium. Newspaper owners were quick to see radio as potential investment as much as a threat and they rapidly came to constitute an extremely significant group of players in the new industry (Ibidem, 85).

Só a partir da década de 30 do século XX é que chegaram à conclusão de que “(…) the new medium did not wipe out the old. People who listened to news broadcasts on the radio would still buy a newspaper” (Winston 1998: 86).

But radio had been quite slow to arrive and its growth in 1920s was more directly suppressed by the regulatory environment than by the action of these contiguous industries. By 1930, it had successfully become a mass home medium over almost all the developed world, the first (Idem, 87).

Em Portugal, a rádio conheceu os seus melhores anos entre 1930 e 1950, os apelidados “anos de ouro” (Cordeiro 2003: 2), onde se assistia a um “fenómeno de radiodifusão que procurava reconstruir a realidade dentro do estúdio, com dramatizações e espectáculos produzidos na própria estação emissora (Idem, 2). No entanto, com o aproximar de um novo milénio, novos desafios surgiram aos media em geral (Ibidem, 5).

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Paralelamente à concorrência já estabelecida pelos outros meios de comunicação, a Internet foi-se implantando, redefinindo estratégias de comunicação, criando novos modelos e forçando todos os meios de comunicação a servirem-se dela enquanto suporte para se fortalecerem, naquele que se apresenta como o século da comunicação interactiva (Cordeiro 2003: 5).

E, hoje, em pleno século XXI, a Rádio, enquanto meio jornalístico usado para a transmissão de mensagens, sofreu, assim, profundas alterações, não só na forma de fazer Jornalismo, mas também no modo de transmitir essa mesma informação. A Internet veio revolucionar o acesso à rádio, tornando-a mais próxima do ouvinte. E é exactamente por isso que Cordeiro (2003: 1) refere o seguinte:

A rádio é um meio de comunicação extraordinariamente rico, com uma narrativa singular e, para muitos, fascinante. (…) O desafio das novas tecnologias tem sido um factor de renovação para a rádio que, ao longo dos últimos anos, se tem vindo a reinventar, quer ao nível da produção, dos conteúdos e das formas de recepção das emissões.

Por se apresentar como um meio de “comunicação bidireccional, que potencia a participação dos receptores na comunicação” (Idem, 1), a Rádio transformar-se-á num “meio essencialmente interactivo” (Ibidem, 2). A par da interactividade, está a especialização. “Além das rádios generalistas, existem rádios segmentadas, entre as quais rádios informativas, que se especializam em radiojornalismo, como acontece com a TSF” (Sousa 2006: 95).

Por último, e não menos importante, a Televisão. A Televisão veio revolucionar o mundo dos meios de comunicação social e da sociedade em geral, devido à sua abrangência territorial e às vantagens que proporcionava e que continua a proporcionar. Imagem, som e vídeo juntos num pequeno aparelho que rapidamente cativou o interesse de milhões de pessoas. Segundo Ruivo (2004: 3), “este aparelho a quem alguns apelidam de ‘janela aberta para o mundo’, é cada vez mais diverso e abundante, simultaneamente assumindo um papel de intervenção e representação social local, regional e planetária”. Foi término da década de 50 que a “palavra ‘televisão’ se tornou então corrente” (Ruivo 2004: 4). “Por extensão, designa o conjunto de actividades relativas à produção e à difusão de programas por meio dessas técnicas (televisão

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19 pública/privada, programas de televisão, televisão digital de terra, etc.). Por metonímia é usado para designar o aparelho receptor de televisão” (Ruivo 2004: 4). Neste contexto, e citando Ruivo (2004: 4), “a primeira emissão televisiva oficial acabou por ser transmitida a partir do transmissor da Torre Eiffel, em 1935 (…)”. No entanto, o boom deste meio de comunicação apenas se registou a partir de meados do século XX (Idem, 5). “Produtores de cinema e os responsáveis pelos teatros começam a temer este novo adversário que começa a surgir nos lares de cada vez mais espectadores. A televisão torna-se, assim, em menos de uma década, num meio de comunicação de massas. Começa a ser-lhe também reconhecido um importante papel de intervenção social e política” (Ibidem, 5). Como exemplo, pode-se referir a eleição para presidente dos Estados Unidos da América, em 1960, em que “jornalistas e políticos afirmaram, quase unanimemente, que a sua eleição em muito se deveu às prestações televisivas” (Ibidem, 5). E é no decorrer deste acontecimento que a televisão é encarada como um dos “meios de propaganda política mais determinante, assumindo a sua capacidade de construir e/ou destruir reputações de candidatos às eleições” (Ibidem, 5).

Após esta fase, a televisão apenas conheceu profundos desenvolvimentos, com progressos técnicos no âmbito da difusão, que passou das ondas hertzianas para a transmissão por cabo (segunda era) e, no fim do século XX, na denominada terceira era, a digital. Assim, na era da televisão por cabo, “(…) começam a surgir outros canais temáticos, com as mesmas características técnicas, mas com apostas em diferentes áreas temáticas, como o desporto, a informação, a música e os programas infantis” (Ibidem, 5). Com os constantes progressos, a televisão conhece uma nova era (a terceira), que se denomina de ‘era digital’. “Com esta nova técnica, a tradução das imagens e dos sons é realizada digitalmente, isto é, através da linguagem informática. É neste era que surgem os DVD’s e os CD-ROM’s (…)” (Ibidem, 6). Neste sentido, surge:

Um novo conceito associado à televisão, com a criação da televisão digital por satélite, que surge nos EUA em 1994: a interactividade. (…) De repente, tudo se torna acessível apenas com um televisor: desde os mais variados tipos de programação televisiva a diversos serviços até aqui reservados ao computador. Ao entrar no século XXI, é o espectador que passa a marcar o encontro com a televisão. É ele que dita e escolhe aquilo que quer ver (Ibidem, 6).

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20 A evolução e o surgimento de outros meios de comunicação social contribuíram para que a arte de noticiar fosse também alvo de mudanças, não tanto no que diz respeito à forma de introdução do lead – com informações que respondessem ao “Quem?”, “O Quê?”, “Quando?”, “Onde?” e “Como?” – mas, antes, em relação ao modo como era feita a investigação. Enquanto hoje um dos factores mais importante é a rapidez na divulgação da informação, logo depois do acontecimento ou mesmo durante o mesmo, nos séculos XVII e XIX o jornalismo preferia enfatizar uma investigação mais demorada, como esclarece Casasús e Ladevéze (1991: 17):

(…) não importava saber as coisas imediatamente depois de acontecidas, era mais importante conhecê-las bem e sem pressas; nem existia o problema da selecção e valoração de notícias, que o crescimento das fontes, dos meios e dos sistemas de transmissão, e do volume de informação circulante, converteram numa grave doença do jornalismo do nosso tempo.

Passadas duas décadas, o jornalismo e os profissionais preocupam-se exactamente com o oposto, isto é, com a apresentação da informação e até com a sua antecipação, até pela questão de se ser o primeiro a dar a notícia, o chamado “furo” jornalístico. E agora, nesta ambiência marcada pela rapidez e facilidade de acesso, privilegiadas pelas novas plataformas e, obviamente, com a Internet, essa corrida pela divulgação da notícia em primeira mão é incontornável.

1.2 Ciberjornalismo

Na viragem do século XX para o XXI, a sociedade contemporânea, em geral, e o jornalismo, em particular, sofreram transformações sem precedentes. O boom das inovações tecnológicas e o crescimento exponencial da Internet, bem como as múltiplas plataformas que a Internet possibilita, conduziram a redefinições ao nível social, económico, cultural e organizacional.

Depois do chamado “jornalismo tradicional” (imprensa, rádio e televisão) vigorar ao longo dos últimos séculos, hoje a actividade jornalística depara-se, como defende Deuze (2001: 5), com um “quarto jornalismo”: “The Internet has created its own kind, fourth kind of journalism: online journalism – which differs in its characteristics from traditional types of journalism” (Deuze 2001: 5).

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21 Nesta ordem de ideias, Beyer e Trine (2004), citados em Cardoso et al. (2009: 44), explicam que o aparecimento deste novo jornalismo se deve às mudanças dos tempos e das inovações a que somos sujeitos.

Cada Era tem os seus géneros predominantes e modos de representação da emissão (notícias, debates, novelas) (…). (…) Os media funcionam de forma diferente ao longo do tempo e do espaço. Tanto as notícias como o entretenimento têm mudado na sua natureza pela sua possibilidade fornecida pela chegada da Internet, e pelas ferramentas que apoiam a produção e disseminação de conteúdos pelos indivíduos (Idem, 44).

O crescimento exponencial da Internet e da World Wide Web levou a que um novo tipo de jornalismo surgisse e, tal como os meios anteriores, a discussão e a investigação sobre o Ciberjornalismo ocupassem grande parte das pesquisas.

Em Portugal, nos últimos 15 anos, a aceitação do conceito “ciberjornalismo”, de acordo com Bastos (2010: 11), nunca foi pacífico, nem conseguiu alcançar um consenso generalizado entre investigadores. Desde jornalismo online, jornalismo multimédia, webjornalismo, até jornalismo digital e mesmo jornalismo convergente (Idem, 11), ainda hoje, depois de um longo período de investigação e amadurecimento sobre a nova forma de veicular informação, o conceito “está ainda por consolidar” (Ibidem, 11).

Neste estudo optámos pela utilização de “ciberjornalismo”, pois, em nosso entender, é aquele que mais se aproxima da realidade actual. É o “jornalismo feito na rede e para a rede” (Ibidem, 11), apoiando-se nas vantagens que a Web oferece, como veremos mais à frente. Neste âmbito, Bastos (2010: 12) define da seguinte forma o termo “ciberjornalismo”: é o “(…) jornalismo produzido para publicações na Web por profissionais destacados para trabalhar, tendencialmente em exclusivo, nessas mesmas publicações, em redacções digitais, que, por norma, têm um espaço próprio no interior das redacções tradicionais”.

Também Salaverría (2005: 21), citado em Zamith (2008: 26), opta pelo mesmo vocábulo, explicando que este “novo jornalismo” é aquele que “emprega o ciberespaço para investigar, produzir e, sobretudo, difundir conteúdos jornalísticos”. Zamith (2008: 26) acrescenta ainda que com o emprego deste conceito se pode passar a utilizar as “palavras derivadas”, como ciberjornalista, ciberjornalístico e ciberjornal.

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22 As características do meio online permitem introduzir novos mecanismos que influenciam e ditam uma nova forma de apresentação da notícia ao leitor e, por isso, conduz, necessariamente, a mudanças na prática diária do jornalista (tema que será abordado na segunda parte), bem como na criação de um modelo de negócio exclusivo que tenha em consideração as características únicas e específicas, o qual poderá afectar ou não o modelo de negócio dos meios tradicionais. A eles cabe encontrar soluções para se adaptar a esta realidade, não temendo nem renunciando ao espaço online.

Nos primeiros anos de “ciberjornalismo” em Portugal, que culminou com o

boom das comunicações online na década de 90 (Bastos 2010: 16), com a Internet a

surgir no plano principal, as publicações jornalísticas entraram neste novo meio, essencialmente, para distribuir de forma rápida os conteúdos noticiosos, em especial, aqueles que não tinham espaço na edição em papel (Idem, 21), mas também para não perder terreno para os concorrentes, neste caso, em concreto, a imprensa escrita. “(…) Os jornais também não foram alheios à «moda Internet». A imperiosa necessidade de estar na rede, porque todos os outros estavam, provocou muitas migrações para este sistema que não tinha, como assinalam Valcarce e Marcos, uma justificação empresarial verdadeiramente sólida” (Ibidem, 21).

Nesta década, o meio online jornalístico caracteriza-se pela migração dos jornais para a Internet e pela criação de sites de media direccionados apenas para a Web (Ibidem, 22). É neste ponto que o “ciberjornalismo” se compreende, isto é, publicações produzidas unicamente na e para a Rede, aproveitando todas as potencialidades que a mesma permite. No entanto, os primeiros anos ficaram marcados por um claro desaproveitamento das condições oferecidas. A partir desta análise, Bastos (2010: 33) faz uma descrição sobre os primeiros quinze anos de ciberjornalismo em Portugal. O autor divide em três fases os momentos pelos quais o “novo jornalismo” vigorou na cena nacional. A primeira fase, que se desenrola de 1995 a 1998, caracteriza-se pela “implementação de edições electrónicas de média tradicionais na Web” (Idem, 33), onde predomina o shovelware. “Os jornais abrem os respectivos sites para neles reproduzirem os conteúdos produzidos para a versão de papel, as rádios para emitirem na Web o sinal hertziano, as televisões os seus telejornais” (Ibidem, 33). A segunda fase denomina-se de “expansão ou do boom” e dura apenas um ano (de 1999 a 2000), pois é neste período que se gera “optimismo e investimento” (Ibidem, 33) e onde nascem os “primeiros jornais generalistas exclusivamente online, como o Diário Digital e o

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23 Portugal Diário. No entanto, o “reforço abrupto das redacções digitais para abrirem serviços de «última hora», como foi o caso do Público” conduziu a uma “factura pesada” (Bastos 2010: 33). Ou seja, a despedimentos e a redução de salários. A última fase, a da depressão seguida de relativa estagnação (2001-2010) (Idem, 33), representa o “fim de uma certa ilusão”, em que se registaram “encerramentos de sites, cortes em pessoal e redução das despesas” (Ibidem, 33).

Pavlik (2001), citado em Canavilhas (2005: 2), enquadrou também a evolução do jornalismo na Internet em três fases. Na primeira, a informação difundida no online era a mesma dos meios tradicionais. Na segunda, já se depara com alguns conteúdos elaborados apenas para a versão online, com introdução de algumas inovações, como vídeos, sons, links. Por último, na terceira, o autor refere a criação de “conteúdos desenvolvidos exclusivamente para a Web (…)” (Idem, 2), descrevendo-a da seguinte forma:

Esta fase (…) caracteriza-se pela produção de informação de cariz noticioso com recurso a uma linguagem constituída por palavras, sons, imagens – estáticas ou em movimento – e hiperligações, tudo combinado num todo coerente, interactivo, aberto e de livre navegação para os utilizadores (Ibidem, 2).

Alves (2006: 94), citado em Bastos (2010: 24), faz também um balanço negativo sobre a adopção do ciberjornalismo. “Assim, esta primeira década de jornalismo digital foi caracterizada por este pecado original: a simples transferência do conteúdo de um meio tradicional para outro, novo, com pouco ou nenhuma adaptação” (Idem, 24). É o chamado shovelware, isto é, a colocação de conteúdos na rede iguais à edição em papel, actividade que foi, durante muito tempo, o método empregue. Também Díaz Noci e Salaverría (2003: 22), citados em Zamith (2008: 21), argumentam que “o texto digital deve ser produzido originariamente para o meio electrónico e não deve em nenhum caso constituir uma mera transposição do meio impresso para o digital”. Este desinteresse em inovar deve-se, sobretudo, a dois factores, defendidos por Alves (2006: 94), citado em Bastos (2010: 24). Em primeiro lugar, o autor introduz a “preguiça das empresas em apostar na Internet”, uma condição que poderia “garantir a sobrevivência numa era em que se impõe de forma avassaladora” (Alves 2006: 94, citado em Bastos 2010: 24). Em segundo lugar, Alves aponta o “medo de canibalizar o meio tradicional” (Idem, 24). Aliás, este último factor tem sido avançado por vários investigadores como um dos

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24 principais entraves à consolidação de um jornalismo feito exclusivamente na e para a Rede. Alves defende que o desenvolvimento tecnológico poderá ser exímio no que toca aos media tradicionais, falando, não só em “midiamorfose”, mas em “midiacídio” (Alves 2006: 94, citado em Bastos 2010: 24): “(…) A possibilidade de a ruptura tecnológica provocar a morte de meios tradicionais que não tenham capacidade ou não saibam adaptar-se ao novo ambiente mediático em gestação” (Idem, 24). Já Barbosa (2001: 2) salienta que, apesar das dificuldades em prever o futuro, a “Internet não representará o fim do jornalismo e dos jornalistas, mas vai, certamente, modificar muitas das práticas actuais nas redacções (mesmo nas de meios de comunicação

online)”. Também Arias (2009: 7) não vê a tecnologia e a Internet como meios que

levem os media tradicionais ao desaparecimento e olha o passado para justificar a sua posição. “La televisión no ha muerto y no morirá, como no murieron la prensa ni la radio, pero se transformará… está ya cambiando” (Idem, 7). Esta visão é também partilhada por Edo (2009: 5): “tanto los periódicos como la radio y la televisión tienen mucha vida por delante: una mirada al pasado siglo XX demuestra que ningún medio acabó con los anteriores”. Mas Edo ressalva que, ao longo do tempo, o ciberespaço será o principal canal para divulgar conteúdos informativos – “la Red se impondrá como vía de acceso a la actualidad” (Idem, 5). Neste contexto, Cole, citado em Jerónimo (2010a: 7), avança igualmente com o improvável desaparecimento da imprensa escrita, no entanto adverte também para os riscos da inadaptação ao novo meio que poderá colocar a sua “sobrevivência em risco”. “O aparecimento de “novos” novos media, fruto de uma sociedade que está cada vez mais em rede, a interagir, e de uma tecnologia que se desenvolve rapidamente, “obriga” a imprensa, em particular, a um olhar atento sobre a sua audiência, para saber em que canais está e usa com mais frequência” (Idem, 7). Também Scolari, citado em Jerónimo (2010a: 7), exemplifica bem esta constante mudança entre quem são os novos e os velhos media, o que hoje é e amanhã já não é. “La televisió era un “new media” durant els anys cinquanta i d’aquí a una década els blogs i Youtube seran considerats ‘old media’” (Idem, 7).

Cardoso et al. (2009: 8) sustentam também que o “jornalismo poderá estar a passar por uma redefinição das suas rotinas produtivas, mas a sua existência e sustentabilidade não são postas em causa”. Os investigadores mencionam ainda que esta “redefinição” do jornalismo ao longo do século passado (Idem, 69) deve-se não só à tecnologia, mas também aos “constrangimentos sociais, políticos, culturais e

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25 económicos, a par da explosão do número de suportes mediáticos” (Cardoso et al. 2009: 69).

Já Gradim (2000: 179) critica os “habituais profetas da desgraça” que preconizam o fim dos media anteriores sempre que surge um novo meio. “(…) E no entanto a história prova que, depois de uma fase de predação de públicos, estes tendem a estabilizar. O livro, um dos mais antigos meios de comunicação de massas, aí está de boa saúde para prová-lo: sobreviveu aos jornais, à rádio, à televisão, às redes (…)” (Idem, 179).

Podemos constatar que são mais os que defendem a manutenção dos velhos

media, apesar das inúmeras vantagens do meio online. Deuze (2001: 2) confirma: “(…)

no medium type will disappear because of another type – at least, this is what media history tells us. But mediatypes are converging, both in terms of technologies as in terms of organization and production patterns (…)”.

Barbosa (2001: 2) resume, no essencial, o porquê da continuidade do jornalismo: “a deontologia e o profissionalismo dos jornalistas continuarão a ser os mesmos; a forma como se investiga e constrói uma notícia terá semelhanças com o que se realiza hoje; a apresentação será diferente e os profissionais do sector terão que se adaptar às novas tecnologias.”

O jornalismo, tal como o estudámos há anos atrás, já não é o mesmo, mas a sua essência mantém-se inalterada, como refere Barbosa, no parágrafo anterior. Os novos meios digitais produzem um impacto que não é possível ignorar, tal como o impacto que tem vindo a sentir-se nos meios de comunicação tradicionais. Edo (2009: 18) é peremptória quando salienta que o futuro do jornalismo cabe aos profissionais da área:

(…) el futuro está abierto y que todos nosotros contribuimos a determinarlo por medio de aquello que hacemos: todos somos igualmente responsables de aquello que sucederá. Por eso es un deber nuestro, en lugar de predecir cosas malas, abogar por todas aquellas que puedan hacer un futuro mejor (Popper, 1995), asumir la situación, mejorar nuestra capacidad de adaptación a lo que hoy exige la supervivencia del periodismo y reinventarlo una vez más.

Esta incerteza quanto à sobrevivência ou morte dos meios de comunicação tradicionais deve-se, concretamente, às novas características e possibilidades que a Internet oferece e que dotam as publicações online de fortes armas para chegar ao

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26 público. Tendo em conta um meio tão vasto e rico em potencialidades, existem várias propostas sobre aquelas que são as características principais do novo meio em relação ao jornalismo. Na generalidade, os investigadores concordam em três: hipertextualidade, interactividade e multimedialidade (Deuze 2001, citado em Edo 2009: 4). As restantes modalidades vão desde a actualidade e personalização (Luque e Foronda 1998; López 2005: 45, citados em Edo 2009: 3-4), instantaneidade, contextualização, memória, convergência e ubiquidade (Kawamoto 2003: 4, citado em Edo 2009: 4).

Pavlik (2001: 3), citado em Zamith (2008: 21), por exemplo, é peremptório ao afirmar:

A Internet não só abarca todas as capacidades dos velhos médias (texto, imagens, gráficos, animação, áudio, vídeo, distribuição em tempo real) como oferece um largo espectro de novas capacidades, incluindo a interactividade, acesso on-demand, controlo por parte do utilizador e personalização.

Bardoel e Deuze (2001: 2) avançam com quatro conceitos, considerando-os as características chave: “(…) convergence, interactivity, customisation of content and hypertextuality – put together with the widespread use and availability of new technological ‘tools of the trade’ are putting all genres and types of journalism to the test”.

A hipertextualidade apresenta-se, na generalidade, por todos os investigadores e profissionais, como uma das vantagens mais proveitosas que a Rede pode oferecer, pois permite ligações para outros níveis de informação (sites) que o leitor pode ou não seguir, dependendo do interesse sobre o assunto.

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou parte de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertexto. (…) Navegar num hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso numa rede que pode ser tão complicada quanto possível (Lévy, citado por Faggion 2001: 11-12, citado em Zamith 2008: 28).

Salaverría (2005: 30), citado em Zamith (2008: 28), simplifica, descrevendo a hipertextualidade como a “capacidade de interligar vários textos digitais entre si”.

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27 Kopper et al. (2000), citado em Barbosa (2001: 3), explicam por que se deve optar pela edição das notícias, como se de televisão ou de rádio se tratasse. “Os jornalistas online não devem simplesmente publicar na Web artigos escritos para jornal sem os editarem, o que significa encurtar o artigo ou dividi-lo em secções” (Idem, 3). Para isso, os profissionais devem optar por introduzir hiperligações para que o texto das notícias não seja demasiado extenso (Ibidem, 3). Apesar de este modelo facilitar a leitura aos utilizadores, devido à existência de pouco texto, o certo é que o clique num determinado

link poderá não ser assim tão eficaz. “(…) Esta rede de textos exige também que o leitor

faça o esforço complementar de interagir com o conteúdo, seguindo links e saltando de texto em texto, algo que pode ser um obstáculo” (Canavilhas 2008: 1). No entanto, com este desenho textual, o utilizador poderá seguir o percurso que mais lhe convier, dependendo do seu interesse pelo assunto, o que faz com que a apreensão da notícia seja efectuada de forma diferente por cada pessoa (Idem, 3). Segundo Salaverría (2005), citado em Canavilhas (2008: 3-4), os links têm dois objectivos. O primeiro centra-se na sua função documental, pois:

(…) oferecem a possibilidade de construir uma teia de informação infinita e de livre navegação (…) que permite a construção de uma notícia com diferentes níveis de leitura: o leitor mais exigente pode aprofundar os seus conhecimentos sobre determinado tema, saltando de bloco em bloco de informação até aos níveis mais profundos, ao passo que os utilizadores com menos tempo ou um reduzido grau de exigência em relação ao tema podem aceder apenas aos dados mais importantes, ficando por um nível de informação mais superficial, interagindo menos com o conteúdo (Idem, 4).

Já o segundo propósito, a função narrativa, centra-se na “forma como o utilizador lê a notícia, algo que está relacionado com a política de utilização de links usada pelo jornalista (…)” (Ibidem, 4), a qual poderá determinar uma arquitectura noticiosa que influencia de forma determinante o tom e o sentido da narrativa (Hall 2001) ao condicionar os percursos de leitura” (Ibidem, 4).

Segundo Kopper et al. (2000), citado em Barbosa (2001: 5), a interactividade é uma das “características mais proeminentes que distingue os media online dos media tradicionais”. “A tecnologia da Internet permite uma verdadeira comunicação bi-direccional, utilizando o correio electrónico e os fóruns de discussão como meios de interligação na comunicação de massas ou na comunicação interpessoal em pequena

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28 escala” (Kopper et al. (2000), citado em Barbosa (2001: 5). E é aqui que reside uma das mudanças que mais tem marcado a relação entre os meios de comunicação social e a sociedade: a passagem de modelo de comunicação “um-para-muitos” para “muitos-para-muitos”. Este novo suporte, a Internet, que permitiu esta mudança de paradigma na forma de os cidadãos se relacionarem com os produtores de notícias (neste caso, os jornalistas), é para Castells, citado em Sanchéz (2004: 4), “(…) un medio de comunicación que permite, por primera vez, la comunicación de muchos a muchos en tiempo escogido y a una escala global”.

No entanto, para Schultz (1999), citado em Barbosa (2001: 6), nem sempre a existência de formas interactivas significa que ela se efective, ou seja, os contactos disponíveis ao cidadão nas páginas online do referido meio não indica, por si só, que a comunicação entre jornalistas e leitores tenha lugar (Idem, 6). Mesmo perante este cenário difícil de definir, Schultz futura sobre a utilização da interactividade nos media tradicionais, exemplificando desta forma: “(…) os jornais podem publicar na sua versão impressa excertos de fóruns de discussão, organizar debates entre os seus trabalhadores e leitores e promover a publicação de notícias resultantes da cooperação entre leitores e jornalistas” (Ibidem, 6). Neste âmbito, ainda sobre a interactividade, esta é definida, de acordo com Zamith (2008: 29), como a “interacção humana (entre dois ou mais seres humanos) potenciada pela máquina e não apenas da reacção do homem ao que o outro lhe oferece, por intermédio da tecnologia”. Segundo López et al. (2003: 224), citado em Zamith (2008: 30), a personalização poder-se-á incluir nesta característica, pois “consiste em alterar a configuração genérica de um sítio Web de acordo com os critérios especificados por um usuário”.

Relativamente à multimedialidade, esta característica é entendida por Fidalgo (2008: 168), como uma das “características mais importantes” do ciberjornalismo. O investigador salienta, deste modo, as mudanças que esta nova potencialidade vai provocar nos jornalistas:

O seu domínio e aproveitamento das suas enormes potencialidades requerem e mobilizam, como se imagina, uma série de novas competências, não só no domínio mais especificamente técnico, mas também nos modos de conceber a edição e apresentação da informação.

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29 Também Zerba (2003), citado em Canavilhas (2008a: 2), descreve a multimedialidade como a “capacidade dos blocos de informação incluírem conteúdos de várias naturezas, como vídeo ou áudio”, a qual fomenta uma “influência nos índices de compreensão e satisfação dos usuários” (Zerba 2003, citado em Canavilhas 2008a: 2). A capacidade que a Web tem em “integrar textos, fotos, vídeos, sons ou infografias (…)” (Canavilhas 2008a: 11) permite às publicações presentes no online “disponibilizar os conteúdos naturais dos três meios tradicionais” (Idem, 11). De acordo com Canavilhas (2007), citado em Canavilhas (Idem, 11):

Sabe-se ainda que a integração de vídeo na notícia tem impactos ao nível da satisfação e da avaliação dos conteúdos, sendo os conteúdos com texto+vídeo considerados mais atraentes, interessantes e enriquecedores (Canavilhas 2007). Neste último trabalho foi ainda assinalado que o som e a infografia são igualmente considerados adequados ao meio, mas apenas têm impactos significativos ao nível da mudança de atitudes.

Luque e Foronda (1998), citados em Edo (2009: 3), avançam com a característica da actualidade, uma vez que, com a possibilidade de se publicar uma notícia online momentos depois de um determinado evento ocorrer, reformula o conceito de periodicidade. Agora, com a Internet e as diversas plataformas que permitem a divulgação online de acontecimentos, deixa de existir, regra geral, uma data específica para publicar notícias, como exemplo os horários das notícias em televisão e rádio, e os dias para os jornais. A instantaneidade também se assemelha à característica anterior, pois também ela veio alterar o período de divulgação e publicação de uma notícia, pois com as novas plataformas digitais, um internauta e/ou um jornalista pode, a qualquer momento e a qualquer hora, publicar um resumo de um acontecimento que ocorreu há minutos atrás.

A capacidade de publicar instantaneamente qualquer conteúdo jornalístico (mesmo o menos relevante e/ou urgente) sem ter de esperar pela hora do noticiário radiofónico ou televisivo ou pelo momento que o jornal impresso começa a ser distribuído, é outra das pequenas revoluções causadas pela Internet (Zamith 2008: 32).

No entanto, esta vantagem foi, durante largos anos, desvalorizada, dado que as páginas online eram apenas actualizadas de acordo com a periodicidade da publicação

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30 em causa ou apenas “uma ou duas vezes por dia, sempre à mesma hora” (Zamith 2008: 32).

Em relação à ubiquidade, o mesmo autor realça a capacidade de uma notícia

online poder ser “acedida simultaneamente por utilizadores dos «quatro cantos» do

Mundo. (…) a ubiquidade da Internet permite ao ciberjornal explorar um mercado mundial e não apenas local, regional ou nacional, como acontece na esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social tradicionais” (Idem, 32).

Outra das características, a contextualização, é entendida como fundamental, visto que “não há jornalismo sem contextualização” (Ibidem, 33). Esta modalidade permite ao jornalista poder romper com as “limitações espaciais e temporais” (Ibidem, 33), visto que o “jornalista pode revalorizar o arquivo, acolher contribuições dos visitantes, convidar o visitante a aceder a conteúdos hipermédia e utilizar as modalidades que mais se adequam ao assunto tratado (…)” (Ibidem, 33).

Autores como Palacios et al. (2002: 4-5), referido em Zamith (2008: 31), defendem também a introdução de uma outra característica: a memória. Para estes investigadores, a “memória é, sem dúvida, uma potencialidade da Internet extremamente importante para o jornalismo (…)”, uma vez que “sem as limitações anteriores de tempo e espaço, o jornalismo tem a sua primeira forma de memória múltipla, instantânea e cumulativa”. Palacios et al. (2002: 4-5) asseveram também que “nunca antes foi possível aos média guardar, reutilizar e disponibilizar todo o seu arquivo num único local acessível a qualquer momento e em qualquer ponto do planeta”. Os mesmos autores realçam, assim, a capacidade de “memória múltipla, instantânea e cumulativa” (Palacios et al. 2002: 4-5; Canavilhas 2004: 7), vantagens que a Internet permite e que se apresentam como mais-valias em relação aos meios tradicionais, como seja a possibilidade de um arquivo “disponível em tempo real” (Idem, 7).

A convergência, por seu turno, é definida como a característica que permite “explorar todos os formatos possíveis a ser utilizados numa estória” (Deuze 1999), citado em Bastos (2010: 5), ultrapassando a ideia de que “escrever resume-se a redigir texto” (Idem, 5). “As possibilidades narrativas permitidas pela convergência multimédia requerem, por isso, o planeamento das estórias através da elaboração de um guião (storyboard), encarado como essencial no processo de escrita não-linear” (Ibidem, 5).

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31 A Internet criou novas hipóteses para se fazer Jornalismo, tal como aconteceu com o aparecimento da televisão, da rádio e do jornal. No entanto, muitos dos media não olham para o online como um novo meio com características próprias, mas apenas como mais um veículo de pesquisa de informação. “Muitos jornais recorrem agora à pesquisa no ciberespaço para simplesmente se inteirarem do que mais foi escrito sobre o assunto a tratar, além de utilizarem rotineiramente a pesquisa online para a verificação de factos e detecção de especialistas para as estórias em progressão (Bastos 2000: 74)” (Barbosa 2001: 3). Também Hall (2001: 4), citado em Bastos (2010: 4), não concorda com a função que atribuem ao jornalismo online, a de ser mais um meio para distribuir informação. Para ele, o ciberjornalismo “orienta os consumidores na imensidão de informação online proveniente de diversas fontes, de agências governamentais a grupos empresariais, fornecendo ainda «mapas de navegação»” (Idem, 4).

Deuze (2001: 6) considera que o descrédito dado ao “quarto” jornalismo” (o jornalismo online) se deve: “(…) online journalism is still seen by many members of the profession of journalism as something ‘outside’ of journalism, which claim is often legitimized by the fact that most newssites do not produce original content (that is, news content which is exclusively produced for the online environment”. Porteman (1999: 15), citado em Deuze (2001: 6), considera o seguinte: “this claim against online journalism by traditional journalism has been described by critics of the new media as a fear of technological determinism or even ‘deprofessionalization’ in journalism”. Na generalidade, o descrédito apontado ao ciberjornalismo, por, nos seus inícios, divulgar apenas takes de agências de notícias, a sua demasiada abrangência e a reticência dos jornalistas mais experientes em relação às novas vantagens do meio online e suas plataformas, conduziram a este ignorar do jornalismo na Internet (Bastos 2010: 52-53). Neste ponto, Neveu (2003: 89) menciona uma das causas que contribuiu para um certo “aligeiramento” do fazer jornalismo - a instantaneidade e o factor tempo. “A importância do factor tempo, que obriga a que se noticie um acontecimento nas horas imediatamente seguintes, leva a que, com vista a explicar aquilo que é novo, se utilize o preexistente ou se faça uma analogia superficial” (Idem, 89). Neste âmbito, o ciberjornalismo em Portugal não se desenvolveu num caminho ascendente, mas, antes, entre altos e baixos. É que apesar de todos os investimentos realizados, o certo é que não foram doseados nem pensados a médio e longo prazo.

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(…) é de notar que a maior parte se concentrou naquilo que podemos considerar acessório, não estruturante: refrescamento gráfico de sites; aproveitamento de redes ou aplicações preexistentes, isto é, não desenvolvidas pelos próprios ciberjornais (feeds, widgets, edições para dispositivos móveis, perfis em redes sociais, etc.); (…) ênfase dada à instantaneidade, com secções de última hora baseadas sobretudo em

takes de agências noticiosas. Em suma, investimentos light (Bastos 2010: 72).

Assim sendo, Bastos (2010: 72-73) aponta “esforços essenciais, mais pesados”, para que a qualidade do ciberjornalismo saia reforçada, destacando algumas medidas que, na sua opinião, deveriam ter sido implementadas:

(…) reforço das equipas com a contratação de novos ciberjornalistas e de técnicos, cruzamento efectivo de jornalistas e ciberjornalistas e respectiva produção jornalística (convergência); aumento significativo da produção de conteúdos específicos para as edições online e consequente redução de shovelware; aposta na interactividade efectiva e permanente com as audiências; maximização das potencialidades hipertextuais da rede (Idem, 72-73).

As potencialidades hoje oferecidas permitem ao jornalista ter acesso a uma grande variedade de plataformas para divulgar a informação, mas isso implicará também mudanças na sua forma de interagir com o seu público. A Internet não deve ser entendida como mais um canal para procura e difusão de notícias, mas antes como um novo meio para se criar notícias, tal como aconteceu com o surgimento da imprensa, da rádio e da televisão. As acções tomadas no início do denominado Ciberjornalismo contribuíram para este entendimento de que se trata apenas de um novo meio para se aceder a informações e isso levará certamente algum tempo para se alterar. Nos últimos anos, os media portugueses, especialmente os de âmbito nacional e alguns regionais, começaram a disponibilizar online não apenas a notícia em si, mas também fotografia, som, vídeo e até infografias. O dito ‘texto corrido’ começou a dar lugar a formas mais inovadoras, como a colocação de links para outras páginas ou documentos. Também começaram a surgir publicações exclusivamente online. Apesar destes pequenos passos, muitos órgãos de comunicação social ainda não vislumbraram as vantagens do ciberespaço para o Jornalismo. Como afirma Sousa (2006: 315):

Para já, a Internet ainda está numa fase inicial de desenvolvimento, pelo que ninguém pode prever com segurança a sua evolução e o seu impacto futuro. Mas,

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como certamente diria McLuhan, parece reunir condições para, convergindo com as telecomunicações e a televisão, vir a ser o meio de eleição da aldeia global.

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Capítulo 2 – Imprensa Local e Regional

Num mundo cada vez mais globalizado e dominado pelas novas tecnologias digitais, a imprensa local e regional continua a enfrentar velhos desafios, mas também não escapa às novas tendências que lhe trazem (e trarão) ora medos, ora vontade de arriscar, ora conquistas, ora derrotas, mas que, acima de tudo, com maior ou menor dificuldade, continuará com o seu papel de informar e de dar voz aos cidadãos.

Investigando nos vários documentos e leis sobre a imprensa, constatamos que a denominação de imprensa regional foi-se alterando, ainda que tenuemente, ao longo dos anos. Segundo a Lei de Imprensa de 1971, a imprensa regional era “constituída pelas publicações periódicas não diárias que tenham como principal objectivo divulgar os interesses de uma localidade, circunscrição administrativa ou grupo de circunscrições vizinhas” (Sousa 2002: 7). Já no Estatuto da Imprensa Regional, o artigo n.º 1 deste documento engloba na imprensa regional:

(…) todas as publicações periódicas de informação geral, conformes à Lei de Imprensa, que se destinem predominantemente às respectivas comunidades regionais e locais, dediquem, de forma regular, mais de metade da sua superfície redactorial a factos ou assuntos de ordem cultural, social, religiosa, económica e política a elas respeitantes e não estejam dependentes, directamente ou por interposta pessoa, de qualquer poder político, inclusive o autárquico (Estatuto da Imprensa Regional 1988: 2).

Também a Lei de Imprensa, referendada em 1999, esclarece, no artigo 14, que as publicações de carácter regional são aquelas que “pelo seu conteúdo e distribuição, se destinem predominantemente às comunidades regionais e locais” (Lei de Imprensa 1999).

A proximidade é assim um dos conceitos que melhor se adequa ao jornalismo local e regional, pois ele desenvolve-se na e para a comunidade envolvente. Neste âmbito, a geografia/território detém um papel preponderante. Camponez (2002: 19), citado em Sousa (2002: 4), salienta o conceito da “territorialização” como uma das características que permite definir a imprensa local e regional, assim como “(…) a territorialização dos seus públicos, a proximidade face aos agentes e às instituições sociais que dominam esse espaço, o conhecimento dos seus leitores e das temáticas

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Gráfico 1 – Comparação da realidade das Assinaturas da imprensa escrita  regional (entre o Grupo 1 e o Grupo 3).
Gráfico 4 – Comparação da realidade do Tempo de Leitura da imprensa  escrita regional (entre o Grupo 1 e o Grupo 3)
Gráfico 16 – Comparação da realidade das Assinaturas da imprensa online  regional (entre o Grupo 2 e o Grupo 3)
Gráfico 17 – Comparação da realidade do Tipo de Leitura da imprensa  online regional (entre o Grupo 2 e o Grupo 3)
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Referências

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