• Nenhum resultado encontrado

A Economia Política Britânica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A Economia Política Britânica"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

A Economia Política Britânica

Período: 1776-1871

Principais Autores: Smith, Ricardo, Malthus, Bentham, Mill e Marx Teoria do Valor: custos de produção, quantidade de trabalho

Características Principais: o problema principal tratado pelos economistas políticos britânicos é a investigação da causa da riqueza das nações, como diz o título do livro de Adam Smith, e a distribuição dessa riqueza entre os elementos da sociedade. O estudo da riqueza, ou plutologia, envolve a compreensão do funcionamento da cooperação humana sob diversos ambientes institucionais. Em especial, sob o regime de propriedade privada, a cooperação se dá através da especialização na produção e troca através de mercados e sistema de preços. Para compreender essas relações econômicas, Smith adotou uma teoria do valor, que foi desenvolvida ao longo de todo o período clássico.

A teoria do valor utilizada por essa tradição de pesquisa – a teoria do valor trabalho – assevera que o valor de troca dos bens nos mercados é dado pelo seu custo de produção, em especial a quantidade de trabalho utilizada no processo produtivo. Os preços de mercado, embora flutuando no curto prazo, são determinados no longo prazo pelo seu valor dado em termos dos custos.

Essa teoria do valor em termos de custos de longo prazo direcionou a atenção da pesquisa clássica posterior, influenciando em especial as obras de Ricardo, Mill e Marx. Esses economistas voltaram sua atenção à produção de bens, deixando em segundo plano aspectos como a demanda e a relação entre esta e o esforço produtivo. O que produzir, em que quantidades e qualidades, sob condições de incerteza e desconhecimento da demanda são problemas virtualmente inexistentes no mundo clássico, preocupado exclusivamente com as relações de produção no longo prazo. O volume de produção, por sua vez, é um problema quase técnico, um problema de engenharia: o volume total da produção de um país depende da quantidade de máquinas e trabalhadores empregados no processo produtivo. Visto que a produção é determinada desse modo, os economistas passam a discutir a distribuição daquela riqueza (previamente determinada) entre classes sociais. Ou seja, dado um bolo (a produção), discute-se o tamanho das fatias que cabem a cada classe. O corte do bolo não afeta de modo essencial o tamanho do bolo. Chega-se, nas mãos de Mill, a completa separação entre produção e distribuição. A conseqüência natural desse desenvolvimento intelectual, como veremos, foi a teoria da exploração de Marx, que considera injusta o tamanho do pedaço dos trabalhadores em relação ao pedaço dos donos de recursos produtivos.

Podemos resumir essa visão da economia através de uma pequena caricatura. Para a escola clássica britânica, a economia funciona como um poço de petróleo. A quantidade de óleo extraído depende das máquinas e em última instância do esforço gasto no trabalho de extração e construção das próprias máquinas. Uma vez dado o método de extração, resta a Economia discutir quem tem direito aos frutos do poço: o trabalhador que opera as máquinas ou o dono do poço.

O desenvolvimento dessa teoria, ao tornar a produção automática e o valor mensurável em termos objetivos (quantidade de trabalho empregado) representa um afastamento do quadro complexo do sistema econômico imaginado por Smith, em direção à adoção de modelos agregados de caráter macroeconômico.

Os problemas lógicos da teoria, bem como sua relativamente limitada capacidade de explicar os fenômenos econômicos, só foram reconhecidos cem anos após a obra de Smith, a partir da revolução marginalista de 1871, que substituiu a teoria do valor subjetiva pela teoria subjetiva, baseada na utilidade marginal. Esse quadro da evolução da teoria, por sua vez, é uma simplificação, visto que vários autores continentais e até mesmo alguns ingleses desenvolveram ao longo do século dezenove os fundamentos da teoria moderna.

(2)

Adam Smith

1723 – 1790

Escola: economia política britânica

Principais Obras: A Riqueza das Nações; The Theory of Moral Sentiments; A History of Astronomy.

Vida: Smith nasceu na Escócia. Com 14 anos foi estudar na Universidade de Glasgow e depois em Oxford, voltando para a primeira universidade como professor de Filosofia Moral. Amigo de David Hume, é respeitado não só como o Pai da Economia, mas também como filósofo. Pessoalmente, diz-se que era muito feio: uma amálgama de protuberâncias, conforme uma descrição, ou feio como o diabo, segundo uma mulher do período. Era conhecido pela sua distração: depois de derrubar pão com manteiga na água fervida, declarou que aquele fora o pior chá que já havia experimentado.

Principais Idéias: a Riqueza das Nações é dividida em cinco “livros”. Os dois primeiros tratam da divisão do trabalho e do acúmulo de capital, desenvolvendo uma teoria do crescimento econômico. O terceiro ilustra a teoria com os casos históricos dos países. O quarto contém a famosa crítica de Smith ao mercantilismo, enquanto o último investiga tributações e papel do governo na economia.

O crescimento econômico tem como ponto de partida a divisão do trabalho. Enquanto um trabalhador isolado, realizando ele mesmo todas as etapas do processo produtivo, conseguiria produzir apenas 20 alfinetes por dia, um conjunto de 10 trabalhadores, cada um realizando uma tarefa específica, como cortar o arame, afinar a ponta, e colocar a cabeça, produziriam juntos cerca de 48 mil alfinetes em um dia. O ganho de produtividade da divisão do trabalho é explicada por três fatores: o aumento da destreza dos trabalhadores ao se dedicar a uma função especializada, a economia de tempo obtida ao deixar de passar de uma tarefa a outra e finalmente a invenção de máquinas pelos trabalhadores, já que este pode se especializa em um aspecto particular do processo e se dedicar integralmente ao mesmo. A divisão do trabalho não ocorre apenas dentro de uma firma, mas também na sociedade como um todo: um engenheiro não precisa plantar a sua própria comida, podendo se dedicar totalmente a invenção de máquinas. A divisão do trabalho pressupõe a colaboração por meio da troca entre os indivíduos especializados: o engenheiro vende seus projetos e compra comida e roupa.

A divisão do trabalho, no entanto, é limitada pelo tamanho do mercado. Uma cidade pequena e isolada não pode se dar ao luxo da especialização: seu único médico tem que ser generalista. Já em uma cidade grande, ou uma cidade ligada a outras pelos mercados, pode haver uma divisão do trabalho mais ampla, com seus respectivos ganhos de produtividade. De fato, cidades costeiras ou próximas de rios navegáveis, por conseguir desenvolver o comércio mais facilmente, tendem a ser mais prósperas. Temos portanto a causa da riqueza das nações. Todos ganham com a produção maior advinda da divisão do trabalho e das trocas. Países que respeitam instituições (como a propriedade privada, o uso de moeda e a ausência de barreiras ao comércio) que promovem a divisão do trabalho por meio dos mercados prosperam, enquanto os demais se mantém pobres:

talvez seja verdade que a satisfação de um príncipe europeu não excede tanto a de um camponês industrioso e frugal, como a deste excede a de muitos reis africanos, senhores absolutos da vida e da liberdade de dez mil selvagens nus.

A divisão do trabalho surge pela propensão natural a troca dos homens, e não por determinação de governantes que percebessem isso geraria um resultado social desejável. Uma sociedade próspera não é fruto da ação direta de governantes, sendo resultado não planejado do respeito a um conjunto de regras que constitui o sistema de liberdade natural, baseado no direito natural, que coloca o respeito a direitos individuais e a propriedade acima do poder discricionário dos governantes. Smith contrasta dessa forma uma sociedade liberal com o intervencionismo mercantilista. O sistema de liberdades naturais leva a prosperidade e ao mesmo tempo não depende da bondade dos homens para funcionar de forma satisfatória. As pessoas não dependem de favores ou bondade alheia, mas participam da sociedade por

(3)

meio da troca de contribuições úteis, desejáveis pelos demais participantes da sociedade. Ilustrando essa independência, os agentes econômicos postulados por Smith buscam o seu próprio interesse:

Não é da bondade do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse. Apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens deles.

O crescimento econômico surge dessa maneira como um subproduto da ação individual auto interessada. A divisão do trabalho, impulsionada pela perspectiva de ganhos dos participantes das trocas, aumenta a produtividade e a riqueza. A riqueza maior permite mais poupança e investimentos (uso de capital). O novo capital permite o surgimento de máquinas melhores e mais especializadas, que por sua vez resulta em mais divisão do trabalho, que alimenta um novo ciclo de crescimento econômico para o país:

O crescimento da sociedade como um todo é conseqüência não intencional da ação individual. A economia progride em direção a formas cada vez mais complexas (com mais divisão do trabalho), organizada de forma descentralizada por meio da ação coordenadora do mercado. Surge assim a famosa expressão smithiana da “mão invisível”, que antecipa o tema da evolução de sistemas complexos presente em todas as ciências modernas:

Cada indivíduo necessariamente trabalha de forma a tornar a renda anual da sociedade o maior possível. De fato, ele geralmente nem intenciona promover o interesse público nem sabe quanto ele o está promovendo. ... ele busca apenas seu próprio ganho, e nisso ele é, como em muitos outros casos, levado por uma mão invisível a promover um fim que não era parte de suas intenções. ... Ao buscar o seu próprio interesse ele freqüentemente promove o da sociedade mais efetivamente do que quando ele realmente intenciona promover este último.

Quando se pretende promover o bem geral diretamente, por meios políticos, desconsidera-se a complexidade da tarefa a realizar, resultando tanto em fracasso do plano quanto em violência ao se tentar implementá-lo:

O homem de sistema...é freqüentemente tão enamorado com a suposta beleza do seu próprio plano ideal de governo, que ele não pode sofrer o menor desvio de qualquer parte dele. Ele age no sentido de implementá-lo completamente, e em todas as suas partes, sem qualquer consideração seja aos grandes interesses ou aos fortes preconceitos que possam se opor a ele. Ele imagina que pode arranjar os diferentes membros de uma grande sociedade com tanta facilidade quanto a mão que arranja as diferentes peças em um tabuleiro de xadrez. Ele não considera que tais peças não têm outro princípio de movimento além daquele que a mão impõe sobre elas; mas que, no grande tabuleiro da sociedade humana, cada peça individual tem um princípio de movimento próprio, inteiramente diferente daquele que a legislação possa escolher impor sobre ela.

As contribuições de Smith no campo de sistemas complexos, contudo, serão relativamente negligenciadas e só serão desenvolvidas no século vinte. São porém as idéias do autor sobre teoria do valor que influenciarão diretamente as contribuições analíticas dos economistas clássicos seguintes.

divisão do trabalho aumento de produtividade maior produto elevação da renda per capta

maior consumo: riqueza dos operários ingleses superior ao de um rei tribal.

maior investimento acúmulo de

(4)

Ao investigar a natureza do valor econômico ou dos preços dos bens, Smith chega ao famoso paradoxo do valor e a distinção entre valor de uso e valor de troca:

As coisas com têm o maior valor de uso freqüentemente têm pouco ou nenhum valor de troca; e ao contrário, aquelas que têm o maior valor de troca têm pouco ou nenhum valor de uso. Nada é mais útil do que água: mas esta não irá poder comprar nada; quase nada pode ser obtido em troca dela. Um diamante, pelo contrário, tem quase nenhum valor de uso, mas uma verdadeiramente grande quantidade de outros bens pode ser freqüentemente trocada por ele

Como veremos quando tratarmos da teoria do valor moderna, não se deve comparar genericamente o valor da água com o valor do diamante, mas sim o valor de uma unidade a mais de água e diamante, o que permitirá resolver o paradoxo. Diante desse problema, Smith procura em sua obra investigar apenas o valor de troca entre os bens. Este, para o autor, é dado pela quantidade de trabalho comandado pelo bem, ou seja, o número de horas de trabalho que teria que empreender ele mesmo para obter tal bem. Em vez de realizar esse trabalho, posso oferecer em troca um bem que eu produzo e que contenha a mesma quantidade de trabalho que o bem que procuro. Em uma sociedade primitiva, o valor de troca é medido diretamente pelas horas de trabalho:

Se, em uma nação de caçadores matar um castor geralmente custa o dobre o trabalho de matar um cervo, é natural que um castor deva ser trocado por ou ter o valor de dois cervos.

Temos assim uma teoria objetiva do valor. A quantidade de horas não é uma apreciação subjetiva dos participantes da troca, mas uma propriedade objetiva, própria do bem, como cor ou peso. Além disso, fica clara a noção de custo de oportunidade. Ao caçar um castor, deixo de caçar com meu trabalho dois cervos. Estes constituem o custo de caçar um castor!

Quanto a sociedade se desenvolve, com divisão do trabalho, mercados e uso de bens de capital (máquinas), o valor não se reduz a salários. Os proprietários de terra alugam sua terra e os capitalistas alugam capital. Temos assim novamente o costume, encontrado em Cantillon e Quesnay, de dividir a sociedade em classes: os proprietários de terra recebem renda, os capitalistas lucros e os trabalhadores salários. O preço das mercadorias reflete agora esses três componentes: lucros, renda e salário.

O capital é dividido em capital fixo ou máquinas e capital circulante, que comporta os bens em processo e o fundo de salários, que representa um adiantamento que os capitalistas fazem aos trabalhadores para sustentá-los enquanto o processo produtivo não frutifica. O tamanho do fundo depende do acúmulo de capital (investimento) realizado por meio da poupança dos capitalistas. Os capitalistas recebem lucros a partir da posse desse capital. Se o emprestam em vez de aplicá-lo diretamente na produção, recebem juros. Já o trabalho é dividido em trabalho produtivo, que resulta na produção de bens concretos, físicos, e trabalho improdutivo, que gera serviços, como o próprio trabalho intelectual de Smith. A massa salarial é dada pelo tamanho do fundo de salários, que depende do investimento. O nível dos salários individuais é influenciado por fatores como poder de barganha dos trabalhadores e empresários e determinado no longo prazo pelo mínimo necessário para manter um trabalhador e sua família. Se o salário for menor, ele não sobrevive. Se for maior, a população se expande e o fundo deve ser dividido entre mais pessoas. Se a taxa de acumulação for superior ao crescimento populacional, o salário se mantém acima do mínimo. Além disso, para Smith os salários individuais variam positivamente com o custo do treinamento, com a confiança que se deposita no tipo de trabalho, com quanto desagradável é a realização do trabalho e quanto menos sazonal for o mesmo. Finalmente, a renda da terra depende do grau de monopólio dos proprietários, ou seja, conforme a disponibilidade de terras férteis e de boa localização.

O preço natural ou de longo prazo dos bens é dado pelos custos de produção, dados pela soma dos salários, lucros e renda explicados acima. Em contraste, o preço de mercado ou de curto prazo é dado pelas condições de oferta e demanda. Smith explica como o preço de mercado se ajusta de forma a se aproximar do preço natural: se houver excesso de demanda, digamos, por uma quebra de safra, o preço de mercado se eleva, bem como o lucro naquele setor, o que atrai investimentos e aumenta a produção. A concorrência traz de volta o preço de mercado para o preço natural de longo prazo. Se houver excesso de oferta, o processo se inverte, com redução de lucros e produção até o preço deprimido subir para o nível natural. Assim, completa-se a descrição do funcionamento da mão invisível, por meio do ajuste da produção através dos preços de mercado.

(5)

No quarto livro da Riqueza das Nações, Smith emprega a sua teoria para criticar as políticas mercantilistas. Riqueza não seria medida em termos de acúmulo de metal precioso, mas em termos de bens disponíveis para consumo. O protecionismo reduz o tamanho do mercado e, portanto, limita o crescimento econômico. Além disso, Smith aponta para a economia em custo de adquirir produto mais barato no exterior.

Smith concluir seu livro com os princípios de tributação e discussão do papel limitado que o governo deve assumir para garantir o sistema de liberdade natural, e as outras ocasiões que a presença estatal seria necessária.

Smith hoje

: compare a extensão da divisão do trabalho em cidades pequenas e grandes que você

conheça. Que tipos de serviços só existem nas cidades grandes? Observe um mapa mundi e verifique a concentração de capitais nacionais e locais no litoral e junto a rios. Observe no dia a dia do seu trabalho o princípio da divisão do trabalho funcionando e o resultante aumento de produtividade.

Referências

Documentos relacionados

No corpus recolhido, observou-se que houve um relevante uso de pronomes oblíquos em contextos com locuções verbais nos textos dissertativos, em maior número na

Esta dissertação tem como objetivo geral propor um modelo de avaliação da rede logística para fins de reestruturação, utilizando o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) para

Única das variáveis a valor de mercado que apresentou resultados significantes para a variável Tamanho, o endividamento de longo prazo a valor de mercado (Y6) também

Mudanças Comportamentais Para o Codependente “SOLTAR AS PONTAS DA CORDA” David Pabst David Pabst O Tratamento da Codependência Caso a família solte as pontas, então ela

Este estudo trata do desenho de um Sistema Estadual de Incentivo a Serviços Ambientais (SISA) que inclui um regime de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e

Assim, entre as lições deixadas pelo registro de Erovocá devem contabilizar-se: a relativização de paradigmas que preconizam que o registro sobre o ‘outro’ identifica, a priori,

Para que as reservas indígenas possam receber proteção e garantir o seu uso por meio das práticas dos mesmos, o que seria o uso tradicional das terras que as comunidades

O setor de energia é muito explorado por Rifkin, que desenvolveu o tema numa obra específica de 2004, denominada The Hydrogen Economy (RIFKIN, 2004). Em nenhuma outra área