• Nenhum resultado encontrado

Abiotrofia cerebelar em um canino American Staffordshire Terrier adulto no Brasil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Abiotrofia cerebelar em um canino American Staffordshire Terrier adulto no Brasil"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

CASE REPORT Pub. 52

ISSN 1679-9216

Received: 11 April 2014 Accepted: 26 July 2014 Published: 30 July 2014

Setor de Patologia Veterinária (SPV), Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária (FaVet), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brazil. CORRESPONDENCE: S.P. Pavarini [saulo.pavarini@ufrgs.br - Tel.: +55 (51) 3308-6107]. Faculdade de Veterinária - UFRGS, Av. Bento Gonçalves n. 9090, Bairro Agronomia. CEP 91540-000 Porto Alegre, RS, Brazil.

Abiotrofi a cerebelar em um canino American Staff ordshire Terrier adulto no Brasil

Cerebellar Abiotrophy in an American Staff ordshire Terrier Adult Dog in Brazil

Cristine Mari, Daniele Mariath Bassuino, Angelica Terezinha Barth Wouters, Marcele Bettim Bandinelli, David Driemeier & Saulo Petinatti Pavarini

ABSTRACT

Background: Cerebellar abiotrophy is a spontaneous, progressive degenerative disease of the cerebellum in which Purkinje cell loss and functional disorders occur secondary to an intrinsic metabolic defect. Clinically, all animals with cerebellar abiotrophy are normal at birth, and neurological signs become evident during development. This work aimed to report and describe a case of cerebellar cortical abiotrophy in an adult American Staffordshire Terrier in Brazil, highlighting the pathologic fi ndings of the cerebellar lesions.

Case: A 10-year-old female American Staffordshire Terrier presented with a 3-year history of progressive neurological changes. These changes began with mild ataxia of the hind limbs that involved the forelimbs after 2 years. In the recent months prior to presentation, the patient spent most of her time lying down with a head tilt. When she stood with her head raised, she exhibited abasia and required a broad base of support. When she attempted to walk, she quickly fell and rolled over if not supported. She could not eat on her own because of intense intention tremors. Because of the severity of her condition, the decision was made to euthanize the animal. Necropsy examination revealed no signifi cant fi ndings. Vari-ous organ specimens were collected, fi xed in 10% formalin, and processed for routine histology. The tissue sections were stained with hematoxylin and eosin. Cerebellar specimens were subjected to immunohistochemistry (IHC). Two cerebellar specimens from two normal 8- to 9-year-old American Staffordshire Terriers were used as positive controls for IHC and comparative evaluation of the lesions. Histologically, the main changes were observed in the cerebellum and were charac-terized by necrosis, degeneration, and marked segmental loss of Purkinje cells; moderate reduction in the granular cells of the cerebellar cortex; and thinning of the molecular layer. Cerebellar IHC in the affected canine showed a slight reduction in immunoreactivity for neurofi laments in both the molecular layer and white matter as well as a marked increase in immu-nostaining for glial fi brillary acidic protein, indicating astrogliosis, in the molecular layer, granular layer, and white matter. Discussion: The diagnosis of cerebellar abiotrophy in this canine patient was based on clinical, pathologic, and immuno-histochemical fi ndings. The framework cerebellar syndrome in an adult dog, slowly progressive, as in this case (10 years old with a 3-year clinical progression) is compatible with abiotrophy in the American Staffordshire Terrier. The main gross lesions observed in the cerebellum of canines with abiotrophy are projected to decline; however, these changes can be subtle, as in this case. Histopathology revealed a primary loss of Purkinje cells and depletion of the molecular and granular layers. These characteristics have been identifi ed as hereditary in American Staffordshire Terriers and other breeds. The clinical signs observed in this patient, namely ataxia, intention tremors, and abasia, refl ect the loss of function of the inhibitory neurons of the cerebellar cortex. The fact that cerebellar abiotrophy is relatively common in purebred dogs and the great variety in the early clinical signs and progression suggests different genetic etiologies in different breeds. An association with breed is evidenced by the fact that the clinical manifestations of cerebellar abiotrophy in American Staffordshire Ter-riers start late and have been shown to be hereditary. This paper reports the occurrence of cerebellar cortex abiotrophy as a cause of neurological disease in an American Staffordshire Terrier in Brazil.

Keywords: abiotrophy, dog, immunohistochemistry, histology, neurodegeneration. Descritores: abiotrofi a, cães, imuno-histoquímica, histologia, neurodegeneração.

(2)

INTRODUÇÃO

Abiotrofi a cerebelar é uma enfermidade dege-nerativa, progressiva e espontânea do cerebelo total-mente desenvolvido, que refl ete um defeito metabólico intrínseco, que resulta em perda celular e desordem funcional. Sua causa não está totalmente elucidada, entretanto, presume-se que seja uma anormalidade genética herdada [1]. Essa doença já foi relatada em diversas espécies de animais, como felinos, equinos, ruminantes, animais selvagens e, mais frequentemente, em caninos [7]. O início dos sinais clínicos e a sua progressão variam de acordo com a raça do cão, con-tudo, na maioria dos casos os sinais iniciam-se com poucas semanas de idade (seis semanas a seis meses de idade). Algumas raças de cães apresentam sinais clínicos tardiamente, como Gordon Setter, Old English Sheepdog e American Staffordshire Terrier [5,6]. As principais alterações clínicas são ataxia, tremores de intenção, nistagmo, abasia e hipermetria e sua evolução varia conforme a raça [1]. Histologicamente o cerebelo é o primeiro e mais comum local a sofrer degeneração, com severa perda de células de Purkinje e posterior depleção da camada granular e atrofi a da camada mo-lecular [7]. Esse trabalho tem como objetivo relatar um caso de abiotrofi a cerebelar cortical em um American Staffordshire Terrier adulto no Brasil.

CASO

Um cão American Staffordshire Terrier, fêmea, de 10 anos de idade foi encaminhado para necropsia. O cão apresentava alterações neurológicas progressi-vas há três anos. Os sinais iniciaram-se com discreta ataxia dos membros pélvicos, que evoluiu, após dois anos, para os membros torácicos. Nos últimos meses o canino permanecia a maior parte do tempo em decúbito lateral e com desvio lateral da cabeça. Para se manter em estação, mantinha os membros afastados com uma base de apoio ampla (abasia). Ao tentar caminhar, se não amparado, rapidamente, caia e rolava (ataxia) e com frequência fi cava trancado em cantos da casa. Apresentava normoquezia, normúria e normorexia, entretanto não conseguia se alimentar voluntariamente devido aos intensos tremores de intenção. Devido à gravidade do caso optou-se pela eutanásia. Não foram observadas alterações signifi cativas durante a necrop-sia. Fragmentos de diversos órgãos foram coletados, fi xados em solução de formalina a 10%, processados rotineiramente para histologia e corados pela técnica

de hematoxilina e eosina (HE). Amostras de cerebelo foram submetidas a testes imuno-histoquímicos (IHQ) pelo método strepavidina-biotina ligada à peroxidase. Como anticorpos primários foram utilizados os policlo-nais anti-proteína glial fi brilar ácida (GFAP)1 (diluição

1:500) e anti-neurofi lamento bovino2 (diluição 1:500).

Para ambos a recuperação antigênica foi feita através do calor. A reação foi revelada com o cromógeno 3´3-diaminobenzina (DAB)1 e as lâminas foram

con-tracoradas com hematoxilina de Harris. Como controle positivo da IHQ e para avaliação comparativa das le-sões histológicas foram utilizados os cerebelos de dois American Staffordshire Terrier, com oito e nove anos de idade, que não apresentavam alterações encefálicas.

Histologicamente, as principais alterações foram observadas no cerebelo e caracterizaram-se por necrose, degeneração e desaparecimento segmentar acentuado das células de Purkinje, moderada redução de células granulares e adelgaçamento da camada mo-lecular (Figura 1. B & D). Dessa forma houve perda do aspecto trilaminar característico do córtex cerebelar normal. As células de Purkinje remanescentes estavam pequenas, angulares, com citoplasma hipereosinofílico e núcleos picnóticos (necrose neuronal) ou estavam au-mentadas de volume com substância de Nissl dispersa para a periferia (cromatólise neuronal) ou totalmente ausente. Nos focos com desaparecimento das células de Purkinje observaram-se espaços em branco (aspecto de cesto vazio) além de moderada proliferação de astró-citos de Bergmann (Figura 1.E). Além da hipocelula-ridade marcada na camada granular, alguns neurônios de Golgi apresentaram aspecto necrótico, e raramente, observaram-se axônios tumefeitos (torpedos) (Figura 1.F). Notou-se ainda discreta degeneração walleriana da substância branca, com vacuolização multifocal leve, ocasionais esferoides axonais no seu interior ou células fagocíticas (câmaras de digestão). No exame IHQ, quando comparado o cerebelo do canino afetado com os controles, fi cou evidente a moderada redução na imunorreatividade para neurofi lamento, tanto na cama-da molecular, quanto na substância branca e aumento acentuado na imunomarcação para GFAP (astrogliose) nas camadas molecular e granular e substância branca (Figura 2). Nos focos com desaparecimento das células de Purkinje a imunomarcação para neurofi lamento evidenciou, em algumas áreas, o aspecto de cestos vazios e, em outras, uma remodelagem, onde esse arranjo foi perdido.

(3)

Figura 1. Abiotrofi a cerebelar em um American Stafforshire Terrier. A e C (controles).

Aspecto histológico normal do cerebelo. HE [Barras - 450 µm e 140 µm]. M: camada molecular; G: Camada granular; SB: substância branca; Setas: células de Purkinje. B e D. Cerebelo do canino afetado. Perda do aspecto trilaminar característico do córtex cerebelar, com desaparecimento das células de Purkinje e moderada redução das células granulares e da camada molecular. HE [Barras - 450 µm e 140 µm]. E. Célula de Purkinje remanescente com aspecto cromatolítico (seta) e proliferação de astrócitos de Bergman (asterisco). HE [Barra - 70 µm]. F. Células de Purkinje com aspecto necrótico (setas fi nas) e torpedos na camada granular (seta grossa). HE [Barra - 70 µm].

Figura 2. Achados imuno-histoquímicos no cerebelo de um cão com abiotrofi a cerebelar. A (controle) e

B (afetado). Imuno-histoquímica para GFAP. Note o aumento da imunorreatividade na camada molecular e granular do canino afetado [Barra - 150 µm]. C (controle) e D (afetado). Imuno-histoquímica para neu-rofi lamento. Diminuição de imunorreatividade na camada molecular do canino afetado [Barra - 150 µm].

(4)

DISCUSSÃO

O diagnóstico de abiotrofi a cerebelar no cani-no desse relato baseou-se nas alterações clínicas, cani-nos achados patológicos e imuno-histoquímicos. O quadro de síndrome cerebelar observado nesse trabalho é compatível com casos de abiotrofi a cerebelar descrita em American Stafordshire Terriers [2,3,5]. Em um estudo no qual foram avaliados 63 cães dessa raça com abiotrofi a cerebelar, a idade média do início dos sinais clínicos fi cou entre quatro e seis anos (variando de 18 meses a nove anos), com progressão de seis me-ses a seis anos e meio (na grande maioria, abreviada por eutanásia). As principais alterações observadas foram ataxia progressiva, caracterizada por dismetria, nistagmo, tremores de intenção, perda variável de reação à ameaça, episódios transitórios de opistótono, dentre outras [5]. O diagnóstico defi nitivo de abiotro-fi as cerebelares corticais em cães é quase limitado ao exame postmortem [6], embora alguns exames, como a ressonância magnética, possam demonstrar a atrofi a cerebelar [3]. A principal alteração macroscópica ob-servada em cerebelos de cães com abiotrofi a é a dimi-nuição do seu tamanho, contudo, essa alteração pode ser sutil, como no caso aqui apresentado. A pesagem do encéfalo e do cerebelo é o método mais seguro para identifi car esta diminuição. Nos cães com abiotrofi a o cerebelo representa 5% a 7% do peso do encéfalo e, em cães normais, representa 10% a 12% [5,7].

Na histopatologia foi observada perda primá-ria de células de Purkinje com depleção secundáprimá-ria das camadas molecular e granular. Essas caracterís-ticas têm sido identifi cadas como hereditárias em American Staffordshire Terriers [5]. Desta forma, os sinais clínicos observados no canino desse relato, tais como ataxia, tremores de intenção e abasia, re-fl etem a perda da função de neurônios inibidores do córtex cerebelar. Dentre os diagnósticos diferenciais,

devem ser consideradas desordens cerebelares que afetam cães adultos, como neoplasmas primários ou metastáticos, doenças infl amatórias e enfermidades neurodegenerativas. Todavia, nesses casos os caninos irão apresentar diferenças em relação ao histórico clínico, à progressão da doença e aos achados pa-tológicos. No exame IHQ evidenciou-se astrogliose (hipertrofi a astrocitária) no cerebelo do canino. Di-versos trabalhos descrevem a astrocitose (hiperplasia astrocitária) como lesão frequente e secundária em casos de abiotrofi a cerebelar [7], embora, em outros trabalhos, assim como nesse relato, o que ficou evidenciado foi somente a hipertrofi a glial [4]. A IHQ para neurofi lamento demostrou perda de tecido neural, o que é compatível com a lesão histológica de diminuição nas camadas cerebelares.

A abiotrofi a cerebelar é relativamente comum em cães de raças puras e são sugeridas etiologias gené-ticas diferentes para as diversas raças, devido à grande variedade no início dos sinais clínicos e na sua pro-gressão [6]. Em Old English Sheepdog e Gordon Setter foi demonstrada herança autossômica recessiva para a abiotrofi a cerebelar e, possivelmente, seja o mesmo mecanismo para American Staffordshire Terriers [5]. O fato das manifestações clínicas da abiotrofi a cerebelar em American Staffordshire Terriers iniciarem tardia-mente, associado à sua etiologia hereditária, propicia a manutenção dessa condição na raça.

SOURCES AND MANUFACTURERS

1DAKOCorp., Carpinteria, CA, USA. 2AbDSerotec, Oxford, UK.

Acknowledgments. Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científi co e Tecnológico (CNPq), pela concessão de bolsas. À médica veterinária clínica Lenita Mara Souza Monteggia.

Declaration of interest. The authors report no confl icts of

interest. The authors alone are responsible for the content and writing of the paper.

REFERENCES

1 De Lahunta A. & Glass E. 2009. Cerebellum. In: Veterinary Neuroanatomy and Clinical Neurology. 3rd edn.

St. Louis: Saunders Elsevier, pp.348-388.

2 Hanzlicek D., Kathmann I., Bley T., Srenk P., Botteron C., Gaillard C. & Jaggy A. 2003. Cerebellar cortical

abiotrophy in American Staffordshire Terriers: clinical and pathological features of three cases. Schweiz Archiv fur

Tierheilkunde. 145(8): 369-375.

3 Henke D., Böttcher P., Doherr M.G., Oechtering G. & Flegel T. 2008. Computer-assisted magnetic resonance

imag-ing brain morphometry in American Staffordshire Terriers with cerebellar cortical degeneration. Journal of Veterinary

(5)

www.ufrgs.br/actavet

CR 52

4 Mouser P., Lévy M., Sojka J.E. & Ramos-Vara J.A. 2009. Cerebellar abiotrophy in an alpaca (Lama pacos).

Veteri-nary Pathology. 46(6): 1133-1137.

5 Olby N., Blot S., Thibaud J.L., Phillips J., O’Brien D.P., Burr J., Berg J., Brown T. & Breen M. 2004. Cerebellar

cortical degeneration in adult American Staffordshire Terriers. Journal of Veterinary Internal Medicine. 18(2): 201-208.

6 Sisó S., Hanzlícek D., Fluehmann G., Kathmann I., Tomek A., Papa V. & Vandevelde M. 2006. Neurodegenerative

diseases in domestic animals: a comparative review. The Veterinary Journal. 171(1): 20-38.

7 Summers B.A., De Lahunta A. & Cummings J.F. 1995. Degenerative diseases of the central nervous system. In: Veterinary Neuropathology. St. Louis: Mosby, pp.208-350.

Referências

Documentos relacionados

Por meio de uma abordagem quantitativa, com o uso de estatística descritiva,, será realizada uma pesquisa de campo com jovens do Rio de Janeiro, através de

Da mesma forma que podemos verificar quais são as despesas associadas diretamente às receitas, e as despesas associadas indiretamente às receitas, podemos verificar as

Na análise dos conteúdos dos 13 livros de ciências, foram identificados os 12 temas investigados (tabela 1): dez referentes aos passos para uma alimentação adequada e saudável,

O Centro de Pesquisa da Agricultura Familiar está solicitando um convênio com a Embrapa Clima Temperado, na área de agrobiodiversidade e de material genético, tema focado

O artigo tem como objetivos apresentar as potencialidades e fragilidades identifi- cadas na RAS do município de Esteio (RS), no que se refere à educação em saúde e o cuidado

Assim, no presente caso, a proteção constitucional da honra, imagem e vida privada, devem ser relativizadas face a livre manifestação do pensamento e da expressa

Por outro lado, partindo-se da terceira e última premissa que rege este estudo, que corrobora o caráter não linear do percurso de expansão de uma iniciativa de

Dessa maneira, é possível perceber que, apesar de esses poetas não terem se engajado tanto quanto outros na difusão das propostas modernistas, não eram passadistas. A