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ARTIGO
DE
REVISÃO
Pediatric
emergency
in
Brazil:
the
consolidation
of
an
area
in
the
pediatric
field
夽
Jefferson
P.
Piva
a,b,
Patrícia
M.
Lago
b,ce
Pedro
Celiny
R.
Garcia
d,∗aUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),HospitaldeClínicasdePortoAlegre(HCPA),PortoAlegre,RS,Brasil bUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),PortoAlegre,RS,Brasil
cHospitaldeClínicasdePortoAlegre(HCPA),UnidadedeEmergênciaPediátrica,PortoAlegre,RS,Brasil
dPontifíciaUniversidadeCatólicadoRioGrandedoSul(PUCRS),EscoladeMedicina,Servic¸odeMedicinaIntensivaeEmergência,
PortoAlegre,RS,Brasil
Recebidoem23dejunhode2017;aceitoem5dejulhode2017
KEYWORDS
Emergency; Pediatrics; Medicalresidency;
Teachingprogram
Abstract
Objective: Theaimofthisstudywastopresentareviewontheevolution,development,and consolidationofthepediatricemergencyabroadandinBrazil,aswellastodiscusstheresidency programinthiskeyareaforpediatricians.
Datasources: Thiswasanarrativereview,inwhichtheauthorsusedpre-selecteddocuments utilizedastheminimumrequirementsfortheResidencyPrograminPediatricEmergency Medi-cineandarticlesselectedbyinterestforthethemedevelopment,attheSciELOandMedline databases,between2000and2017.
Datasynthesis: The historicalantecedentsand theinitial evolution ofpediatric emergency inBrazil,aswellasseveralchallengesweredescribed,regardingtheorganization,thesize, thetrainingofprofessionals,andalsotheregulationoftheprofessionalpracticeinthisnew specialty.Additionally,anew pediatricemergencyresidencyprogram tobeimplementedin Brazilisdescribed.
Conclusions: Pediatricemergencytrainingwillbeapowerfulstimulustoattracttalented indi-viduals,toestablishtheminthiskeyareaofmedicine,wheretheycanexercisetheirleadership bypromotingcarequalification,research,andteaching,aswellasactingdecisivelyintheir management.
©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisanopen accessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/ 4.0/).
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2017.07.005
夽 Comocitaresteartigo:PivaJP,LagoPM,GarciaPC.PediatricemergencyinBrazil:theconsolidationofanareainthepediatricfield.J Pediatr(RioJ).2017;93:68---74.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:celiny@pucrs.br(P.C.Garcia).
PALAVRASCHAVE
Emergência; Pediatria;
Residênciamédica;
Programadeensino
EmergênciapediátricanoBrasil:aconsolidac¸ãodaáreadeatuac¸ãoparaopediatra
Resumo
Objetivo: Apresentar umarevisãosobreaevoluc¸ão,odesenvolvimentoeaconsolidac¸ãoda emergênciapediátricanoexteriorenoBrasil,assimcomodiscutiroprogramaderesidência nessaimportanteáreadeatuac¸ãoparaopediatra.
Fontesdosdados: Revisão do tipo narrativa, em que os autores usaram documentos pré--selecionadosempregadosnosrequisitosmínimosparaoprogramaemResidênciadeMedicina deEmergênciaPediátricaeparaartigosselecionadosporinteresseparadesenvolvimentodo temausaramasbasesdedadosSciELOeMedlineentre2000e2017.
Si´ntesedosdados: Foramdescritososantecedenteshistóricoseaevoluc¸ãoinicialda emergên-ciapediátricanoBrasilediversosdesafios,naorganizac¸ão,nodimensionamento,naformac¸ão deprofissionaise,também,naregulamentac¸ãodoexercícioprofissionaldessanova especiali-dade.Tambémsedescreveumnovoprogramaderesidênciaememergênciapediátricaaser implantadonoBrasil
Concluso˜es:Aformac¸ãoememergênciapediátricaseráumpoderosoestímuloparaatrair indi-víduostalentosos, fixá-losnessaimportanteárea damedicina,naqual poderãoexercer sua lideranc¸aepromoverqualificac¸ãonaassistência,napesquisaenoensino,assimcomoatuar decisivamentenoseugerenciamento.
©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigo OpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4. 0/).
Introduc
¸ão
Apartirdasegundametadedoséculopassado,osservic¸os
deemergência damaioria dos paísesexperimentaramum
aumentosubstancialnoseuvolumedeatendimento.Entre
osmotivosparaesseaumentodedemandapodem-secitar:o rápidoacessoarecursosdiagnósticoseterapêuticos,a com-plexidadeeresolutividadedosetor,serumarotaopcionale facilitadaparaadmissãohospitalare,emalgunscasos,ter acessoaumamedicinasemcustosparaousuário.
Estima-sequenosEstadosUnidosdaAmérica(EUA)sejam feitos mais de 115 milhões de visitasanuais aos servic¸os
deemergência,10a12%delastransportadasem
ambulân-cia.Dessetotal,18%destinadosaoatendimentodecrianc¸as
e adolescentes menores de 15 anos, ocorrem 75% desses
atendimentos em servic¸os de emergência localizados em
hospitais gerais. Estima-se ainda que 40% das admissões
hospitalaresdepacientes pediátricosocorramatravésdos servic¸os deemergência.1,2 No Brasil há poucos dados
dis-poníveis, porém segundo o portal do Ministério da Saúde
foram recebidas mais de 300 mil chamadas de pacientes
com alguma urgência entre janeiro de 2016 e marc¸o de
2015,nesseperíodoforamatendidos72.000pacientesem
unidades de urgência especializadas e 81.000 em pronto
atendimento. Ao redor de 10% do total de
atendimen-tos (∼30.000 atendimentos) necessitaram de observac¸ão
por mais de 24 horas em unidade especializada. Chama
aindaaatenc¸ãoaheterogenicidadedosatendimentos
pré--hospitalaresnoBrasil,poisem6.900casosaassistênciafoi
viaembarcac¸ão.3
Obviamente, esse sistema complexo, cada vez mais
sobrecarregado, trouxe consigo diversos desafios, na
organizac¸ão, no dimensionamento, na formac¸ão de
pro-fissionais e, também, na regulamentac¸ão do exercício
profissional.
O surgimentoda especialidade deemergência é muito
recentenamaioriadospaíses,comumahistóriade
cresci-mentoereconhecimentomuitosemelhante.Em1968,nos
EUA,foifundadooAmerican CollegeofEmergency
Physi-cians (ACEP), a especialidade foi reconhecida em 1979 e
emitiuseuprimeirocertificadoem 1980.A partirde1982
foram aprovados os requisitos mínimos para o programa
em Residência de Medicina de Emergência, seguido pelo
primeiroprograma anualde Fellowshipem 1989. Apartir
de 2000, o treinamento em Residência Médica de
Emer-gência e o certificado emitido pela ACEP passaram a ser
pré-requisitosparaapráticaclínicaemservic¸osde
emergên-cia.Mesmocomessahistóriarecente,aemergênciaéhoje
umadasmaioresespecialidadesmédicasdosEUA,contacom
maisde25.000profissionaisematividade.1,4
A partir do reconhecimento daespecialidade, a busca
deuma padronizac¸ão dos cuidadosem emergência
dirigi-dosparaafaixapediátricatornou-senaturaleobrigatória.
Amortedeumadolescentede18anosemNova York
atri-buídaà falta de atendimentoadequado na urgênciafoi o
estopimparaacriac¸ãoem1984nosEUAdosServic¸os
Médi-cosdeEmergênciaparacrianc¸as,paraassegurartratamento
àscrianc¸aseaosadolescentescomdoenc¸asgravesou
víti-masdetrauma,reduzirsuasdisfunc¸ões,assimcomoevitar
amorte epromover reabilitac¸ão.5 Naprimeira décadade
implantac¸ão, normas de funcionamento foram definidas,
fundos de financiamento alocados para projetos
específi-cosefoiasseguradaadisseminac¸ãodoconhecimentoedas
informac¸ões epidemiológicas paratodo o sistema.No fim
daprimeiradécada, programasdetreinamentoem
emer-gênciapediátricadirigidosparaprofissionaismédicosenão
médicos foram instituídos, inclusive o Suporte Básico e
Avanc¸adodeVidaemPediatria(PALS).Nasegundadécada,
houveodesenvolvimentodeprotocolosdeatendimento
nos servic¸os de emergência e a regionalizac¸ão do
cui-dadoememergência,comreferenciamentoetransferência
depacientes,obedeceu-se aumalógica decomplexidade
crescente.4
No Canadá a emergência pediátrica passa a ser
reco-nhecidaem1980enquantoquenosEUAaformac¸ãodesses
profissionaistornou-seregularefrequenteapartirdosanos
1980,foidefinida,regulamentadaecertificadacomo
subes-pecialidadeapenasem1991.5,6
Após seu reconhecimento, a emergência pediátrica
tornou-se a área de atuac¸ão que mais cresceu nos EUA
--- em torno de 500% entre1992 e 1999 --- e é a segunda
maisprocuradapelos pediatrasque concluíram a
residên-ciabásica, ficaatrásapenasdaneonatologia.1,4Após uma
fasedecrescimentoacelerado nosprogramasde
Residên-cia em Emergência Pediátrica nos EUA, houve a natural
estabilizac¸ão e consolidac¸ão com reduc¸ão na proliferac¸ão
denovosprogramasde treinamento.A metapassou aser
a padronizac¸ão do treinamento nos diversos servic¸os e o
vislumbredosfuturosdesafiosparaonovomilênio.No
iní-ciodosanos1990haviagrandedisparidadenotreinamento
proporcionadopelosprogramas.Foiobservadoque75%dos
residentesdeprimeiroanoatuavamsemadevidasupervisão
nosdiversosprogramas,índicereduzidoparamenosde20%
em2000.Nofimdaprimeiradécadadonovomilênio,a
mai-oriadosprogramasderesidênciaememergênciapediátrica
passouaserdesenvolvidoemtrêsanoscomadefinic¸ãode
currículomínimo,assimcomohabilidadesecompetênciasa
serematingidas.1,2,4---6
Evoluc
¸ão
da
emergência
pediátrica
no
Brasil
Nos anos 1970 e 1980 o Brasil ainda sofriaas consequên-ciasdegrandese gravesepidemiasem func¸ãodafaltade coberturavacinale,especialmente,decuidadosde sanea-mentobásico.Mesmocomosavanc¸osobtidosnessasáreas, osservic¸osde emergência pediátricaseguiam sobrecarre-gados,poisrepresentavam(eaindarepresentam)amelhor opc¸ãodeacessoaumatendimentoresolutivo.
Apartirdosanos1990,aSociedadeBrasileiradePediatria
(SBP) iniciou ummovimento de estimular e regulamentar
aformac¸ãoem áreas deatuac¸ão em pediatriataiscomo: MedicinaIntensivaPediátrica,Neonatologia,Pneumologia, NefrologiaPediátrica,NeurologiaPediátrica.Para atender
a essa demanda, foi acordado com a Comissão Nacional
deResidênciaMédica(CNRM)o credenciamentodealguns
programas de residência para oferecer o 3◦ ano
opcio-nal doProgramade Residênciaem Pediatria destinadoao
treinamento na área específica. Dentro desse contexto,
o 3◦ ano opcional em programa de Residência de
Pedia-tria destinado à emergência pediátrica vigorou em vários
servic¸os até 2002. Naquele ano ocorreu uma grande
mudanc¸a com a unificac¸ão das especialidades e áreas de atuac¸ãodefinidaspelaAssociac¸ãoMédicaBrasileira(AMB), ComissãoNacionaldeResidênciaMédica(CNRM)eConselho FederaldeMedicina(CFM).Pormotivosdesconhecidosaté
hoje,a urgênciae aemergência passarama ser áreasde
atuac¸ãoexclusivadaclínicamédica.7
Apartirdessemomentoaemergênciapediátricadeixou
de ser área de atuac¸ão da pediatria sem
possibili-dade de manter esse programa reconhecido pela CNRM,
Figura 1 Reunião ocorrida no Conselho Federal de Medi-cina(CFM) entreos representantesdaComissão Nacional de ResidênciaMédica(CNRM)erepresentantesde20instituic¸ões brasileiras (escolas médicas e hospitais de ensino)a na qual
foramdefinidosehomologadososProgramasdeResidênciaem Emergência (adultos) e as Áreas de Atuac¸ão em Emergência Pediátrica(Junhode2015).
a Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Universidade
FederaldoRioGrandedoSul(UFRGS),PortoAlegre,RS; Hos-pitaldeProntoSocorro,PortoAlegre,RS;HospitalSãoLucas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC--RS), PortoAlegre,RS; IrmandadeSanta CasadeMisericórdia dePortoAlegre(ISCMPA),UniversidadeFederaldeCiênciasda SaúdedePortoAlegre(UFCSPA),PortoAlegre,RS;Universidade EstadualdeCampinas(Unicamp),Campinas,SP;HospitalGeral deNovaIguac¸u(HGNI),NovaIguac¸u,RJ;UniversidadeFederal deMinasGerais(UFMG),BeloHorizonte,MG;Hospitalde Mes-sejana,Fortaleza,CE;InstitutodaCrianc¸a,UniversidadedeSão Paulo(USP),SãoPaulo,SP;IrmandadedaSantaCasade Miseri-córdiadeSãoPaulo,SãoPaulo,SP;HospitalSantaMarcelina,São Paulo,SP;HospitalInfantilSabará,SãoPaulo,SP;Universidade deSãoPaulo(USP),RibeirãoPreto,SP;UniversidadeFederalde SãoPaulo(Unifesp),SãoPaulo,SP;HospitaldasClínicas, Uni-versidadedeSãoPaulo(USP),SãoPaulo,SP;Hospital Alemão OswaldoCruz,SãoPaulo,SP;HospitaldoCorac¸ão(HCor),São Paulo,SP;HospitaldeClínicasGasparVianna,Belém,PA; Hos-pital MunicipalInfantil MeninoJesus,SãoPaulo, SP;Hospital InfantilDarcyVargas(HIDV),SãoPaulo,SP,Brasil.
suspendeu-se assim a formac¸ão de pediatras com treina-mento e habilitac¸ão na área de atuac¸ão de emergência
pediátrica por maisde umadécada. Evidentemente, essa
impossibilidade na formac¸ão de profissionais qualificados
em emergência pediátrica trouxe enormes prejuízos à
populac¸ãobrasileira,àpediatra,aoensinoeàpesquisaem nossomeio.
ApesardosreiteradospedidosenviadospelaSBPàCNRM eAMB,essasituac¸ãoabsurdafoimantidaaté2015,quando ocorreu um fato decisivo que alterou a rota e a história
da especialidade de emergência no Brasil. Em junho de
2015,20renomadasinstituic¸õesbrasileiras(escolasmédicas ehospitaisdeensino)reuniram-secomaCNRMe
apresenta-rampropostasdeprogramasdeResidênciaemEmergência
Adulto(trêsanos)eÁreadeAtuac¸ãoemEmergência
Pediá-trica (um ano), com detalhado conteúdo programático,
assim como,habilidades e competências aserem
umaatitudeinovadoraedevanguarda,decidiuhomologar
opedidodecredenciamentode22programasderesidência
propostoporessasentidades.Apartir dessemovimento a
especialidadee aáreadeatuac¸ãoacabaramreconhecidas
peloconselhocientífico daAMBem agosto de2015e
for-malmentehomologadascomapublicac¸ãodaresoluc¸ãoCFM
2.149/2016.8,9
Um
programa
de
residência
em
emergência
pediátrica
para
o
Brasil
Aoproporumprogramaderesidênciaememergência
pediá-trica a ser implantado no Brasil, foram eleitos alguns
pressupostos norteadores na elaborac¸ão doconteúdo pro-gramático,dashabilidadesecompetências,assimcomono tempodeformac¸ão,dentreosquaissedestacam:
Vislumbrar, preparar e habilitar seus egressos para
enfrentarosdesafiosprevistosparaaspróximasdécadas nosservic¸osdeurgênciapediátrica.
Nesse contexto,deve-se destacarqueospediatrasque
ingressarem agora nesses programas atuarão no
atendi-mentodecrianc¸aseadolescentescomdoenc¸asagudasnos próximos 30 a35 anos (ouseja, entre2020 e 2050). Por-tanto, enfrentarão desafios assistenciais muito diferentes
daqueles vivenciados até os dias de hoje. Alguns destes
futurosdesafiosjáestãobemidentificados.Estudosque ana-lisamasmudanc¸asocorridasnoperfildedoenc¸asaolongo dosúltimosanospermitemanteverqueosmaioresdesafios da pediatriapara as próximas décadasestarão relaciona-dos a: gestac¸ão na adolescência, mortalidade perinatal, medicina de urgência, infecc¸ões (sepse), causas externas (inclusiveacidentes,usodeálcooledrogas),doenc¸as crô-nicas, crianc¸as com ‘‘complexidade médica’’.10 Portanto,
diferentementedoqueocorriahá20anos,háumcrescente
contingentedepacientepediátricosportadoresdedoenc¸as
crônicaseaté,emfasefinaldevida,atendidoemservic¸os
deemergênciapediátrica. Essahabilidadenotratodesses
pacientes e suas famílias é uma prioridade nas metas de
ensinodosnovosprogramas.11
Nãoapenasoperfildedoenc¸astendeasemodificar,mas
tambémosrecursosdiagnósticos.Quasetodasasáreasda
medicinaatual incorporam oexame ecográficoexecutado
àbeiradeleitodeformarotineira,oqueaumentatantoa
sensibilidadecomoaespecificidadedediagnósticos.
Espe-cificamente noServic¸o de Emergência, essa possibilidade
encontrouumaenormeaplicabilidade.12,13 Evidentemente,
essahabilidadetorna-seumrequisitoessencialparaosnovos
pediatras de emergências, representa um grande desafio
na sua formac¸ão, pois poucos preceptores dominam
atu-almente essa técnica. Os programas deverão estabelecer
convênioscomosservic¸osderadiologiaououtrosservic¸os
paraqueseusresidentestenhamumtreinamentomínimoe
suficiente paraenfrentara situac¸ões maisprevalentes em
emergênciapediátrica.
Modeloerecursosparaoaprendizadoeaquisic¸ão decompetências
Aexemplodoqueocorreemdiversospaíses,aaquisic¸ãode
conhecimentos,habilidadesecompetênciaememergência
pediátricadeveseguirummodelobaseadonapráticadiária, atravésdadiscussãoerevisãodecasosmaisprevalentescom preceptoriaativamenteenvolvidanoprocessodeensino.As situac¸õesmenosfrequentesdevemservivenciadasatravés delaboratóriodesimulac¸õesououtraspráticasdeensino, comofilmagens,teatralizac¸ão,entreoutras.14
Tem sido observado que programas de residência
em pediatria,neonatologia, emergência pediátrica, entre
outras, expõem os residentes a um reduzido número de
procedimentos mais complexos, inferiores ao proposto e
consideradoscomo o mínimo desejável.14---17 No programa
propostoummínimodeexposic¸õesaessesprocedimentos
maiscomplexoséexigidoparaqueosresidentescomprovem
asuaparticipac¸ãoeexecuc¸ãocomadevidasupervisão.
Formac¸ãodelíderesparaatuaremservic¸os deemergênciapediátrica
Osegressosdessesnovosprogramas,alémdeconhecimento, habilidadese competências adquiridos, devemser treina-dos para assumir a condic¸ão de líderes de seusservic¸os, coordenaraassistênciaseasatividadesadministrativas.
Poderiasequestionarseapartirdaadoc¸ãodoprograma deresidênciadepediatriaemtrêsanosnãoseriasuficiente parahabilitá-lo aatuarcomolídermédiconosseus diver-sosníveis (assistência, ensino, pesquisa e gerenciamento)
na área de urgência e emergência. Mesmo considerando
que20-25% da cargahorária dos programasde residência
empediatriageraldesenvolvidos emtrêsanosocorramno servic¸odeurgência,essaformac¸ãoéincompletaparaoque seespera de um profissional que lidere o processo nessa importanteárea.
Estudosinternacionaisqueavaliaramashabilidadesea exposic¸ão deprogramasderesidênciadepediatria(trêsa
quatroanos) desenvolvidos em grandeshospitais
demons-tram que no fim da residência esses pediatras têm uma
exposic¸ão insuficiente ao mínimo de situac¸ões de urgên-ciaspediátricasrecomendáveis.Emumestudoqueavaliou oprogramaderesidênciadepediatria(quatroanos)emum grandecentrodereferêncianosEUA,observou-seque89% dosresidentesdepediatrianãoforamexpostosaomínimode situac¸õespreconizadaspelaCNRMdosEUA.16Outroestudo
demonstrouqueosresidentesdepediatriaemseuestágio
regularnodepartamentodeemergênciasãoexpostosaum
pequenonúmerodepacientescríticos(∼14pacientes
gra-vesporresidentedepediatriaemseutreinamento).17Essas
mesmascarênciasna formac¸ão eaquisic¸ão dehabilidades
pelo residente de pediatriana área de urgência também
foramconstatadasemnossomeio,15assimcomoatravésda
análisedodesempenhodaprovadeespecialistaem
pedia-triapromovidopelaSBP.
Esses resultadosnão significam necessariamente que o
pediatra esteja incapacitado para atuar em servic¸o de
emergênciapediátrico. Maséimperioso reconhecerque o
impedemdeserumareferência, umlíder eumelemento
inovador nessa área. As lacunas em suas competências e
habilidades nessa área demandam que haja um
profissi-onal adequadamente treinado e habilitado para apoiá-lo
emelhorarseu desempenho quanto atuarem emergência
Observa-se ainda em nosso meioa necessidade de um
interlocutorvocacionadoeidentificadonessaáreaquesirva
como interlocutor tanto nas discussões intra-hospitalares
comoextra-hospitalaresparaaimplantac¸ãodepoliticasde
gerenciamentoeassistênciaememergênciapediátrica.
Ampliaremcurtoprazoaofertadepediatras emergencistas
Apósmaisdeumadécadasemoferecerprogramasde
Resi-dênciaem Área deAtuac¸ão em EmergênciaPediátrica há
umainquestionável carência e necessidadedesse
profissi-onalqualificado em todas as regiões do país. Mesmo nos
cálculos mais otimistas, haverá um grande intervalo de
tempoparasuprirtodasasvagas nosdiversosservic¸osdo país.Nessecontexto,apropostaparapróximosanoséque osprogramasderesidênciaemáreadeatuac¸ãose
desenvol-vamemumano,complementaraostrêsanosderesidência
empediatria.Foientendidonomomentodaapresentac¸ãoda propostaqueessapolíticapermitiriasuprirem,nomáximo, umadécada osprincipais postos de chefia e coordenac¸ão deemergênciapediátricanoBrasil.Apartirdaíse
estabe-lece um novo patamar, evolui o programa para formac¸ão
emdoisanos,aexemplodoqueocorreemoutrasáreasde atuac¸ãopediátrica(medicinaintensivapediátrica, neonato-logia,entreoutras)
Desenvolvimentodapesquisaememergência pediátrica
Na tentativa de preparar-se para esse novo cenário o
InstitutoNacionaldeSaúde(NHI)americanoelegeu, recen-temente,três camposprioritáriosparao desenvolvimento
e estímulo de pesquisas pediátricas: medicina intensiva
pediátrica,emergênciapediátricaereabilitac¸ãodecrianc¸as acometidaspordoenc¸asagudasoucrônicas.Ainvestigac¸ão naáreadeemergênciapediátricatemsidorelegadae
pobre-mentedesenvolvida,requer alémderecursos depesquisa
aformac¸ão depesquisadorespreparados, cominteressee conhecimentonessaárea.18,19
Portanto,dentreosdesafiosparaaspróximasdécadasa
medicinadeurgênciadeveserconsideradacomoprioridade
empesquisaparaasaúdedacrianc¸aeadolescente.20
Pelasrazõesacimaexpostas,entendemosqueaformac¸ão
em emergência pediátrica será um poderoso estímulo
para atrair indivíduos talentosos, fixá-los nessa
impor-tante área da medicina, na qual poderão exercer sua
lideranc¸a e promover qualificac¸ão na assistência, na
pes-quisaenoensino,assimcomoatuardecisivamentenoseu
gerenciamento.
Programa
de
Residência
em
Área
de
Atuac
¸ão
de
Urgência
e
Emergência
Pediátrica
AprovadopelaCNRMemagostode2015:
1. Durac¸ão:UMano.
2. Númerodevagas:Definidocomonúmeromínimoduas
vagasporservic¸oenquantoonúmeromáximode
resi-dentes seráde acordocom ovolume e asfacilidades
ofertadaspeloservic¸o.
3. Carga horária: 60 horas semanais de acordo com as
recomendac¸õesdaCNRM,inclusivefériasde30dias. 4. Objetivosdoprofissionalaserformado:
--- Aprofundaro conhecimento,ashabilidadese as com-petênciasnaáreadeurgênciaeemergênciapediátrica nosseusdiversoscenários.
--- Desenvolveracapacidade degerac¸ãode conhecimen-tosdentrodequatrocomponentes:habilidadeclínica, pesquisa,educac¸ãoegestão.
--- Formac¸ão delíderes que possaminfluenciar e
impac-tarnoatendimento,gerenciamentoeplanejamentodo
setor,inclusivealideranc¸adaequipemultiprofissional. --- Formac¸ãodeprofissionalaptoa contribuirnagerac¸ão de soluc¸ões alinhadas às necessidades de política de saúdedesuaregião.
5. Locaisdetreinamento
--- Servic¸o deEmergência Pediátrico comum mínimode 50.000atendimentosexternosanuais.
--- A complexidade assistencial deve garantir uma
demandamínimapróximade10%depacientes classifi-cadoscomoatésegundoníveldeescaladeprioridades (cinconíveis)
--- Transporteintraeextra-hospitalar
--- Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (mínimo dez leitos).
--- Anestesiologiaecirurgia(servic¸osdeimagemcom pro-cedimentos anestésicos/centro cirúrgico/recuperac¸ão anestésica).
--- Servic¸odetrauma.
--- Áreadeimagens(radiologiaeecografia)
--- Opcionaiscomplementares(p.ex.:otorrino, cardiolo-gia,pneumologia,queimados, intoxicac¸ões,acidentes poranimaispec¸onhentosetc.)
6. Objetivoscognitivosdoprograma
Nomínimo,DEZporcento(10%)dacargahoráriadeve serdestinada a atividades teóricas, sejasob a forma deaulas,seminários,discussãoclínica,revisãode arti-gos,entreoutros.Oembasamentoteóricopráticodeve abrangerasprincipaissituac¸ões agudasem pediatria, taiscomoaslistadasabaixo,masnãorestritasapenas aessas:
a. Ressuscitac¸ãocardiopulmonar. b. Sequênciarápidadeintubac¸ão.
c. Choque(séptico,hipovolêmico,cardiogênico). d. Insuficiênciarespiratóriaaguda.
e. Asmaagudagrave.
f. Noc¸õesbásicasdeventilac¸ãomecânica. g. Emergênciaemviasaéreassuperiores. h. Meningoencefalites.
i. Estadodemalconvulsivo. j. Sedac¸ãoeanalgesia. k. Cetoacidosediabética.
l. AtendimentoinicialaopolitraumatizadoeTCE. m. Intoxicac¸õesexógenas.
n. Acidentescomanimaispec¸onhentos. o. Anafilaxia.
p. Urgênciashipertensivas.
q. Síncopeecoma.
t. Distúrbioshidroeletrolíticoseácido-básicos. u. AspectoséticoselegaisdoatendimentoemSE.
v. Noc¸õesbásicasemgestãoeadministrac¸ãodeservic¸os deurgênciaeemergência.
w. Noc¸ões de metodologia científica para pesquisas em emergência.
x. Atendimentodecatástrofes. y. Patologiascirúrgicasdeurgência. z. Ecografiaabeiradoleito(pointofcare).
7. Competências
a. Reconhecer sinais de gravidade e as afecc¸õesagudas de crianc¸ase adolescentesatendidas em unidades de
urgência/emergência e a adequada implantac¸ão dos
respectivosprotocolos.
b. Estabelecer imediatamentelinhas deatendimento da
urgência.
c. Auxiliarnoatendimentodepacientescomnecessidades específicasedependentesdetecnologia.
d. Capacidadedeautonomiaelideranc¸a.
e. Proporedesenvolverumprojetodepesquisa(TCC).
f. Demonstrar capacidade de gerenciamento dos
pro-cessos administrativos da unidade (gestão de custos, alocac¸ãoderecursoshumanos,fluxos)earelac¸ãocom asredesdesaúdemunicipaleestadual.
g. Participac¸ão na implantac¸ão de ferramentas de ges-tão(protocolosassistenciais,indicadoresdequalidade etc.).
h. Conhecerasprioridadesepolíticasnacionais/regionais desaúdecomênfasenaáreadeurgênciaeemergência pediátrica
8. Habilidades
Serárequeridoumconjuntomínimodehabilidades, aconsiderar:
a. Acesso vascular venosoperiférico e central(inclusive cateterumbilical)---mínimodeseisacessoscada;acesso arterial(mínimoseis).
b. Acessointraósseo---mínimoquatroacessos. c. Acessoàviaaérea---mínimo12.
d. Suporteventilatórioinvasivoenãoinvasivo. e. PALSouequivalente.
f. Mínimo deprocedimentosinvasivos: punc¸ão LCR(12), suprapúbica(12),torácica(quatro).
g. Identificac¸ão de alterac¸ões e doenc¸as agudas
maio-res em exames de imagens (ecografia, RX, CT e/ou
RNM).
h. Práticanaaplicac¸ãodesistemasdeclassificac¸ãode pri-oridadesdeatendimento(‘‘classificac¸ãoderisco’’) i. Apresentac¸ãodetemalivreousubmissãodeartigoem
periódico
9. Descric¸ãodasatividades
Asatividadesserãodesenvolvidasnaprópriaunidade eemoutroslocais(tabela1).
10. Avaliac¸ão:
Seráfeitaacadaseismeseseenvolveráosseguintes
aspectos: Atitudes
- Postura,comunicac¸ão,integrac¸ão.
Conhecimentosecompetências.
- Domíniodeconteúdosdaárea,protocolos.
- Projetodepesquisa(TCC).
Habilidades
- Checklistdeaquisic¸ões.
Tabela1 Descric¸ãodasatividades
Local Cargahorária%
Unidade\Servic¸odeEmergênciaPediátrica 50-70%
UTIP 5-10%
Transporte 5-10%
Imagens 5-10%
Trauma 5-10%
Cirurgiaeanestesia 5-10%
Opcional 5-10%
Essadistribuic¸ãonãopressupõeobrigatoriamenteadivisãofixa emblocos.
11. Descric¸ãodasatividades
Nofimdoestágio,oprofissionaldeverásercapazde:
a. Reconhecer, diagnosticar e tratar de acordo com as
melhores evidênciascientíficas (protocolos) as princi-paissituac¸õesagudasempediatria.
b. Reconhecer,diagnosticar e iniciaro tratamento base-ado nas melhores evidências científicas (protocolos) asprincipaissituac¸õesdeurgênciadasespecialidades pediátricas(p.ex.:otorrinolaringológicas, oftalmológi-cas, ortopédicas, neurológicas, neurocirúrgicas, entre outras).
c. Interpretarcorretamenteosexamesdeimagensusuais nasprincipaissituac¸õesdeurgênciapediátricas. d. Executarosprincipaisprocedimentosdeurgência. e. Lideraraequipemédicaemultiprofissionalnaáreade
urgênciaeemergênciapediátrica.
f. Entenderaspolíticasdesaúderegionaiseosistemade referenciamentohospitalar.
g. Liderar e organizar um servic¸o de atendimento em
urgênciaeemergênciapediátrica.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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