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Academic year: 2018

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Rádio comunitária:

o cidadão da periferia faz a sua mídia

Robson de Sousa

Ao pensar a questão da comunicação cidadã e de seus veículos, é necessário refletir sobre a lógica dos oligopólios de comunicação.

Representada por associações como Abert1, Sertesp2 e Aesp3, a prática da comunicação de mercado ou comercial sequer se preocupa em democratizar a midia.

Na verdade estão preocupadas em combater e dificultar qualquer manifestação e movimento pró-democratização dos processos comunicacionais vigentes no país. Esta preocupação se reflete em tentativas de pejorar e denegrir iniciativas como a comunicação comunitária através do meio rádio.

Ao longo da década de 90 e, agora, mais intensamente, estas instituições de defesa dos grupos de comunicação brasileiros insistem em dizer que as rádios comunitárias, por eles chamadas como ”piratas”, prejudicam os serviços de comunicação e afetam diretamente a sociedade brasileira. Estes ataques ainda se massificam com a utilização da propaganda, que no intento de quebrar o movimento e difusão das rádios comunitárias, veiculam em nível nacional campanhas publicitárias contra a radiodifusão de baixa potência.

Mas estes ataques evidenciam que o modelo ora vigente no país está desgastado e que a comunicação comunitária dá respostas mais próximas e de acordo com a realidade de cada comunidade. Isto quer dizer que, com a popularização e o surgimento de milhares de rádios comunitárias por todo o país, inicia-se um processo histórico de ruptura com os tradicionais mass media tupiniquins.

Agora, o cidadão da periferia, excluído digital, cultural e socialmente, pode utilizar as ondas hertzianas para se expressar. As comunidades podem e começam a debater informações que antes era de domínio dos donos da mídia local, nacional e das agências internacionais produtoras de notícia. Um novo olhar e reflexão sobre a identidade e existência tomam conta do espaço radioelétrico. É neste aspecto que se consegue uma espécie de reinversão da pirâmide invertida.

Esta ruptura com os modelos tradicionais coloca em cena o ator social da comunidade. A comunidade abandona o estado de “povo-fala”, que sequer merece crédito nos tele e radio-jornais, para assumir o papel de titular das discussões, debates e produção de conteúdo. A estrutura monológica e unidirecional da mídia conservadora passa a dar lugar a uma nova prática: a comunicação dialógica e multidirecional. Esta prática permite que o receptor-ouvinte se torne um trabalhador de conteúdos audiovisuais.

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Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão

2

Sindicato das Empresas de Radio e Televisão do Estado de São Paulo

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Assim, a assertiva de BERLO4 de que a comunicação é um processo contínuo que sofre avaliações a todo o momento, se estabelece na sua essência. Na comunicação comunitária a lógica é fazer do “excluído audiovisual” um construtor de produtos comunicacionais que interfiram diretamente na realidade sócio-cultural da sua comunidade. Ao interferir no processo, ora vigente, no modelo de comunicação estabelecido no Brasil, estes atores tem a possibilidade de criar uma nova linguagem, novos formatos e gêneros do audiovisual que não têm vez nos grupos de mídia mercadológicos. Mas não é simplesmente e somente isso: a ruptura com este modelo comercial de comunicação faz emergir o ser humano, ator e sujeito da sua realidade. Um ser capaz de romper a cápsula da tutela e pensar a sua realidade de acordo com a sua perspectiva de mundo ideal.

Este processo representa uma revolução na história social da comunicação. O momento em que a sociedade civil organizada questiona uma prática de comunicação que não a representa na sua complexidade. Questiona um modelo que reproduz em fragmentos a sua identidade cultural, que explora com sensacionalismo as margens de um país de dimensão continental. Que, enfim, é guiada pelas cifras em dólares de lucratividade em cada evento a ser noticiado, transmitido e discutido na pauta do dia.

Este fenômeno na comunicação brasileira, chamado rádios comunitárias ou mesmo comunicação comunitária, é o caminho para se construir as bases da comunicação cidadã. Um projeto de conteúdo audiovisual que deve incluir as comunidades em todos os debates.

Construir um projeto de mídia cidadã não significa somente dedicar um espaço para as discussões de problemas locais, como faz o maior grupo de mídia deste país. Esta construção implica em transformar o que não dá IBOPE5, segundo a lógica comercial, em pautas a serem produzidas e difundidas nas comunidades. Implica dizer que os atores sociais destas comunidades, crianças, idosos, mulheres e homens, devem se tornar comunicadores sociais. Precisam dominar as técnicas para utilizá-las de acordo com os propósitos da democratização dos meios de comunicação direcionados às comunidades. Pensar a mídia cidadã significa dizer que o que o mais importante é aquilo que interessa à comunidade. Estes interesses devem ser guiados pela criação de soluções e implementação de novas políticas públicas que assumem a comunicação e suas técnicas como um elemento-chave para o progresso e desenvolvimento do país.

Mas, no entanto, deve-se salientar que os oligopólios atuam rapidamente para evitar ataques ao seu organismo. Chegam até a oferecer, gratuitamente, sem ônus para os comunicadores comunitários, os seus programas para veiculação nos veículos de comunicação das comunidades.

Ainda, como se não bastasse, instigam a comunicação comunitária a se basear nos padrões de produção comercial vigente. Esta tentativa de sedução e de aproximação das práticas de comunicação comunitária visa tão e somente, enfraquecer o processo, que ainda engatinha, da democratização da mídia. Percebe-se que, mesmo ainda em estado de

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David Berlo, pensador norte-americano, autor do livro “O processo da comunicação”

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construção, a comunicação comunitária abalou as estruturas dos mercados de comunicação. A audiência, menina dos olhos das emissoras comerciais e responsável pelo aumento no faturamento destas empresas, caí lentamente. Mas caí, e aponta para uma possível fuga de números no IBOPE.

Outro aspecto que vem à baila é a representação da comunicação comunitária que precisa ser melhor gerida. Sabe-se que atualmente, segundo dados do Conselho Nacional de Comunicação, que o número de rádios comunitárias no país, ultrapassa a casa de vinte mil emissoras de baixa potência. Este número expressivo serve como um alerta para as associações como FNDC6 e Abraço que representam a radiodifusão comunitária no país.

Diante deste número de emissoras, urge a construção de políticas e projetos públicos de comunicação que orientem a gestão destes veículos, com um simples objetivo: efetivar, nos moldes das práticas de comunicação brasileira, definitivamente, a comunicação comunitária, que é a representação da mídia cidadã no Brasil.

As discussões que abrangem todo o país como a municipalização da legislação, criação de um plano diretor municipal de radiodifusão comunitária e mecanismos de manutenção e financiamento dos veículos comunitários precisam estar na agenda do governo municipal, estadual e federal. Com isso, num período não muito distante ter-se-á complexos comunitários de comunicação que terão influência direta no cotidiano das comunidades e, acima de tudo, refletirão numa concepção inovadora de Brasil.

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Referências

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