Registro: 2016.0000137847
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Regimental nº 2224330-24.2015.8.26.0000/50000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante ADUNESP ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO UNESP SEÇÃO SINDICAL DO ANDES, é agravado UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO UNESP.
ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo,
proferir a seguinte decisão: "POR MAIORIA DE VOTOS, DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO REGIMENTAL. ACÓRDÃO COM O EXMO. SR. DES. MÁRCIO BARTOLI. FARÁ DECLARAÇÃO DE VOTO O EXMO. SR. DES. PAULO DIMAS MASCARETTI.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores MOACIR PERES, FERREIRA RODRIGUES, PÉRICLES PIZA, EVARISTO DOS SANTOS, JOÃO CARLOS SALETTI, FRANCISCO CASCONI, RENATO SARTORELLI, CARLOS BUENO, TRISTÃO RIBEIRO, BORELLI THOMAZ e SÉRGIO RUI dando provimento ao agravo; E PAULO DIMAS MASCARETTI (Presidente, com declaração), ADEMIR BENEDITO, PEREIRA CALÇAS, ANTONIO CARLOS MALHEIROS, FERRAZ DE ARRUDA, ARANTES THEODORO, LUIZ ANTONIO DE GODOY, NEVES AMORIM, JOÃO NEGRINI FILHO e SALLES ROSSI negando provimento ao agravo.
São Paulo, 24 de fevereiro de 2016
MÁRCIO BARTOLI RELATOR DESIGNADO
AGRAVO REGIMENTAL nº 2224330-24.2015.8.26.0000/50000
AGRAVANTE: ADUNESP ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO UNESP SEÇÃO SINDICAL DO ANDES
AGRAVADO: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO UNESP
INTERESSADOS: MM JUIZ DE DIREITO 4ª VARA FAZENDA PÚBLICA DA
CAPITAL E PRESIDENTE DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO UNESP
COMARCA: SÃO PAULO 35.716
Agravo Regimental. Pedido de suspensão dos efeitos da liminar concedida em mandado de segurança que determinou o afastamento imediato da Vice-Reitora após o advento da sua aposentadoria compulsória. Ausência de demonstração de risco à ordem pública e à administração. Previsão de substituição da Vice-Reitora no Estatuto da UNESP. Possibilidade de anulação dos atos praticados por servidora pública aposentada compulsoriamente. Deferimento do agravo para a revogação da suspensão da liminar.
1. Trata-se de agravo regimental interposto pela Associação dos Docentes da Universidade Estadual Paulista "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" ADUNESP contra decisão que concedeu a suspensão de liminar, em mandado de segurança, que determinara o afastamento imediato da Vice-Reitora da UNESP em razão do advento da sua aposentadoria compulsória. Afirma a agravante, em síntese, não ser procedente o argumento de que o afastamento repentino da Vice-Reitora causará graves problemas institucionais, uma vez que sua manutenção no cargo é que poderá gerar prejuízos à instituição em razão da possibilidade de anulação dos atos por ela
praticados. Pede, assim, a revogação da suspensão de liminar porque não estão presentes os motivos que a autorizam.
2. Por este voto, ouso divergir da posição exposta pelo E. Relator do agravo, por entender que não estão presentes os requisitos necessários para a manutenção da suspensão da segurança.
Nos termos do art. 15 da Lei 12.016 de 07 de agosto de 2009, é possível a suspensão da execução da liminar ou da sentença para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e
à economia públicas. No caso dos autos, foi deferida a liminar pelo
Presidente do Tribunal, pois “o afastamento repentino da
Vice-Reitora causará grave problema institucional no funcionamento da UNESP, além de ser questão controversa, pois existem parecer do Ministério da Educação e despacho do Governador do Estado que amparam a permanência do Reitor e do Vice-Reitor, mesmo após a aposentadoria compulsória, por serem cargos em comissão” (textual, fls. 246).
Conforme se extrai da inicial do pedido de suspensão, a grave lesão à ordem e à administração pública decorreria do fato de: “a Vice-Reitora no exercício de seu mandato
extrema importância institucional e política, como o que está agora na China com a criação do BRICS University League, acrônimo criado pela união do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os países considerados economicamente emergentes, sendo nossa universidade a única paulista representando o Brasil, o que irá fomentar em muito a pesquisa e o desenvolvimento da ciência com clara repercussão internacional” (textual - fls. 08).
3. Analisando os documentos anexados aos autos, verifica-se não subsistir esse suposto perigo à ordem
pública e à administração, uma vez que de acordo com agenda
anexada às fls. 216/22, a Vice-Reitora retornou da viagem para a China, na qual representava a Instituição, ainda no mês de outubro de 2015, não mais se verificando qualquer situação que pudesse colocar em risco a ordem e administração da UNESP. Ademais, registre-se que em relação à necessidade de representação da Universidade em eventual ausência do Reitor, o próprio estatuto da UNESP já prevê
expressamente que no caso de impedimento temporário do Reitor e do Vice-Reitor, a Reitoria será exercida por um dos
Pró-Reitores1.
Diante desses elementos, evidencia-se desnecessária a utilização da suspensão da segurança, por ausência de grave lesão à ordem ou à administração da UNESP em razão do afastamento da Vice-Reitora, conforme determinado em sede de mandado de segurança.
Acrescente-se, ademais, que parece ser muito
mais temerária à UNESP a manutenção da Vice-Reitora, aposentada compulsoriamente, no cargo, do que o seu afastamento, haja vista que os atos praticados por ela poderão no futuro ser reconhecidos como nulos.
Nesse sentido adota-se parte do esclarecedor parecer do Professor Virgílio Afonso da Silva, no sentido de que eventuais orientações administrativas que justificarem a manutenção de servidor aposentado no cargo “...não são compatíveis nem com a constituição nem com a nossa própria legislação universitária. Diante disso, se forem aplicadas, gerarão um imenso transtorno e
1 Artigo 31 O Reitor será substituído em suas faltas, impedimentos e vacância pelo Reitor. Parágrafo único Nos impedimentos temporários do Reitor e do Vice-Reitor, a Reitoria será exercida por um dos Pró-Reitores, segundo ordem de substituição
insegurança jurídica para a nossa Universidade. Isso porque os atos praticados pelos docentes aposentados que continuem nos mandados de reitor, vice-reitor, diretor e vice-diretor e unidade, chefe e vice-chefe de departamento, na medida em que serão atos praticados por pessoas não competentes, serão necessariamente nulos. Mais do que isso: como ambas as decisões (...) também facultam o cumprimento de mandatos dos representantes das categorias nas congregações, no conselho universitário e nos departamentos, e dos representantes das congregações no conselho universitário, a sua aplicação poderá levar, em determinados casos, à nulidade de todas as decisões desses órgãos colegiados, já que neles estariam membros aposentados que não mais poderiam exercer as funções de representação. A quantidade de decisões nulas seria imensa e os prováveis questionamentos judiciais posteriores seriam intermináveis. Os danos para a vida universitária seriam
incalculáveis” (fls. 133 destacado).
Assim, uma vez que inexiste demonstração de ofensa atual à ordem pública e à administração da UNESP em razão do afastamento imediato da Vice-Reitora, em razão de sua aposentadoria compulsória, e por se verificar a possibilidade de risco à Instituição em razão da manutenção da servidora pública
aposentada compulsoriamente no cargo, o caso é de revogação da suspensão da liminar.
5. Ante o exposto, por este voto, defiro o agravo para revogar a suspensão da liminar.
MÁRCIO BARTOLI