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O comércio eletrônico e a proteção do consumidor no Direito Brasileiro Dissertação em Direito

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PUC

SP

Tatiana Artioli Moreira

O comércio eletrônico e a proteção do consumidor no

Direito Brasileiro

Dissertação em Direito

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PUC

SP

Tatiana Artioli Moreira

O comércio eletrônico e a proteção do consumidor no

Direito Brasileiro

Dissertação em Direito

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Direito, área de concentração do Núcleo de Direitos Difusos e Coletivos, sob a orientação do Prof. Dr. Marcelo Gomes Sodré.

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BANCA EXAMINADORA

____________________________________

____________________________________

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“Na geografia mental criada pela ferrovia, a humanidade dominou a distância. Na geografia mental do comércio eletrônico, a distância foi eliminada. Existe apenas uma economia e um mercado”.

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Ao meu querido e inesquecível avô Elpídio Artioli, in memoriam, por todo incentivo que me deu, ao longo dos anos, na vida acadêmica, sempre com enorme carinho e entusiasmo.

Aos meus pais, pela confiança e pelo amor incondicional.

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A discente foi bolsista em nível de mestrado pelo período de abril/2015 a dezembro/2015 pelo Programa de Bolsa

de Estudos CAPES/PROSUP –

modalidade taxa.

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Aos meus pais, Lúcia Helena e Pedro Carlos, pela paciência e pelo incentivo para a concretização de mais este trabalho.

À minha irmã, Renata, que sempre esteve ao meu lado durante os desafios da vida.

Ao meu marido, Daniel Klein, que sempre me apoio e compreendeu minha ausência ao longo deste trabalho.

Às minhas avós e familiares, pelos conselhos carinhosos e palavras de estímulo.

Aos Professores, especialmente ao Marcelo Gomes Sodré, meu orientador, por todos os ensinamentos que contribuíram muito para a elaboração desta dissertação.

Aos funcionários da secretaria do Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito de Direito da PUC-SP, que sempre estiveram presentes para ajudar-me nos procedimentos burocráticos.

À CAPES/PROSUP, pela bolsa de mestrado que me possibilitou maior dedicação à pesquisa para elaboração deste trabalho.

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MOREIRA, T. A. O comércio eletrônico e a proteção do consumidor no direito brasileiro. 2016. 214 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016.

O presente estudo traz como objeto de investigação o comércio eletrônico e a proteção do consumidor no direito brasileiro. Assim, pretende analisar as relações de consumo eletrônicas e os direitos dos consumidores inseridos no ambiente digital, além de, suscintamente, apresentar o estudo do Projeto de Lei do Senado n. 281/2012, que trata da atualização do Código de Defesa do Consumidor no que tange ao comércio eletrônico. Deste modo, este trabalho é um estudo de natureza teórica, centrado na pesquisa bibliográfica e na pesquisa de normas que regem o comércio na Internet. Com efeito, apresenta, primeiramente, o surgimento da sociedade de consumo e a evolução para a sociedade da informação, fruto das transformações tecnológicas dos últimos tempos. A partir da análise da origem da Internet e seu desenvolvimento no Brasil, discorre-se sobre o comércio eletrônico, as formas de contratação no meio digital, as contribuições e controvérsias advindas desse novo modelo de negócio, além das características dos contratos eletrônicos de consumo. Apresenta, ainda, um panorama legislativo de proteção do consumidor no comércio eletrônico, com destaque, no âmbito internacional, para a Lei modelo da UNCITRAL e para a Diretiva Europeia sobre comércio eletrônico; no âmbito nacional, para o Código de Defesa do Consumidor, para o Decreto do Comércio Eletrônico e para o Marco Civil da Internet, diplomas legais que preservam os interesses dos consumidores. À luz disso, o estudo encontra subsídios para discorrer sobre os direitos dos consumidores inseridos no comércio digital, bem como aponta os princípios que devem pautar as ações dos fornecedores atuantes e informa algumas práticas comerciais mais comuns utilizadas no ambiente virtual para manter a comunicação com o consumidor e ofertar produtos e serviços. O resultado da pesquisa aponta que, apesar das normas já existentes para proteger o consumidor e nortear as ações dos fornecedores no comércio eletrônico, vislumbra-se pertinente e necessária a normatização específica para regular as relações de consumo eletrônicas, tendo em vista as particularidades do meio virtual.

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MOREIRA, T. A. The electronic commerce and consumer protection under the Brazilian law. 2016. 214 p. Dissertation (Master in Law) – University of Law Direito –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016.

The subject of this study is to investigate the e-commerce, and the protection of the consumer in the Brazilian law. Thus, it intends to analyze the consumer virtual relationships, and the consumer rights in such digital environment, as well as, briefly discuss, the study of the Project of Law from the Senate, no. 281/2012, that updates the Consumer Defense Code, including e-commerce provisions. Therefore, this work is a study of a theoretical nature and focused on bibliographic research and standards governing trade on the Internet. As an introduction, this work presents the rise of the consumer society and the evolution to the information society, as a result of the technological transformations of the latest decades. From the analysis of the beginning of the Internet and its evolution in Brazil, we evolve to discuss about the e-commerce, the contributions and controversies arising from such business model, and, the traits of the e-commerce consumer contracts. Thereafter, an overview of the consumer protection laws applicable to the e-commerce is presented, with focus on the UNCITRAL and European Directive in the international scale, and in the national scenario, the Brazilian Consumer Code, the E-Commerce Decree and the Internet Civil Mark in Brazil, laws that aim at the protection of the consumers. With such overview, the study finds grounds to discuss about the rights of the consumers inserted in the virtual commerce, the principles that should guide the actions of the suppliers and some commercial practices most commonly used in the virtual environment to reach the consumer and offer products and services. The result of this study points out that, regardless of the existence of rules for protection of consumers and establishment of guidelines for suppliers in the e-commerce environment, it is necessary to provide specific rules to regulate the consumer relations in such environments, in consideration of its specificities.

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INTRODUÇÃO ... 12

1 SOCIEDADE DE CONSUMO E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ... 16

1.1 ORIGEM DA SOCIEDADE DE CONSUMO ... 16

1.2 SOCIEDADE DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA ... 22

1.3 SURGIMENTO DAS NORMAS DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA SOCIEDADE DE CONSUMO ... 28

1.4 EVOLUÇÃO PARA A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ... 31

1.4.1 As origens e o desenvolvimento da Internet ... 39

1.4.2 A Internet no Brasil ... 46

2 COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 54

2.1 DEFINIÇÃO E FORMAS DE CONTRATAÇÃO NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 54

2.2 CONTRIBUIÇÕES E CONTROVÉRSIAS ADVINDAS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 59

2.3 ESTATÍSTICAS DO COMÉRCIO ELETRÔNICO NO BRASIL ... 64

2.4 CONTRATOS ELETRÔNICOS DE CONSUMO ... 68

2.4.1 Conceito e principais características dos contratos eletrônicos . 68 2.4.2 Princípios inerentes aos contratos eletrônicos de consumo ... 75

2.4.3 Validade e eficácia dos contratos celebrados por meio eletrônico ... 79

3 NORMAS DE PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 83

3.1 REGULAMENTAÇÃO INTERNACIONAL DO COMÉRCIO ELETRÔNICO LEI MODELO DA UNCITRAL E UNIÃO EUROPEIA ... 83

3.1.1 Lei Modelo da UNCITRAL sobre comércio eletrônico ... 84

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3.2.1 Proteção do consumidor na Constituição Federal de 1988 ... 92

3.2.1.1 Proteção do consumidor como direito fundamental ... 94

3.2.1.2 Defesa do consumidor como princípio da ordem econômica e dever do Estado de proteção do consumidor ... 102

3.2.2 Código de Defesa do Consumidor e Comércio Eletrônico ... 105

3.2.2.1 Sujeitos da relação de consumo no comércio eletrônico ... 108

3.2.2.2. Consumidor virtual ... 108

3.2.2.3 Fornecedor Virtual ... 114

3.2.3 Decreto n. 7.962, de 15 de março de 2013 Decreto do Comércio Eletrônico ... 118

3.2.4 Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014 – Marco Civil da Internet no Brasil ... 119

4 DIREITOS DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO BRASILEIRO ... 125

4.1 VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR VIRTUAL E A CONFIANÇA NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 125 4.2 DIREITO À INFORMAÇÃO NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 130

4.3 OFERTA E PUBLICIDADE NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 134

4.3.1 Princípios norteadores da atividade publicitária ... 141

4.3.2 Práticas publicitárias e comerciais mais comuns do comércio eletrônico ... 148

4.4 PROTEÇÃO CONTRA PRÁTICAS ABUSIVAS NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 154

4.5 DIREITO DE ARREPENDIMENTO NAS COMPRAS REALIZADAS PELA INTERNET ... 157

4.6 DIREITO À QUALIDADE DOS BENS E SERVIÇOS E À ENTREGA NO PRAZO INFORMADO ... 167

4.7 ATENDIMENTO FACILITADO AO CONSUMIDOR VIRTUAL ... 169

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4.10 PROJETO DE LEI DO SENADO FEDERAL N. 281/2012 – PROJETO DE ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR PARA

O COMÉRCIO ELETRÔNICO ... 188

CONCLUSÃO ... 202

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INTRODUÇÃO

O crescente desenvolvimento tecnológico conjugado com o surgimento da Internet vem transformando as relações humanas e a forma de comercialização de produtos e serviços ao redor do mundo. Atualmente, a Internet é um importante meio de comunicação de massa e vem se tornando a principal rede distribuidora de informações, além de ser um dos mais expressivos canais de divulgação e de comercialização de bens de consumo.

O uso da Internet como sistema de comunicação e forma de organização se expandiu expressivamente no século XXI, influenciando diretamente as atividades econômicas, políticas, culturais e a forma de atuação das empresas no mundo dos negócios e no relacionamento com os seus consumidores, o que fez surgir o denominado comércio eletrônico, também conhecido como e-commerce.

O comércio eletrônico é um dos segmentos de negócio de grande destaque nas empresas atualmente, em razão de seu significativo crescimento no mercado de consumo ao redor do mundo. E não é diferente no mercado brasileiro, no qual se observa um constante incremento das vendas pela Internet e demais meios eletrônicos, o que demonstra o interesse do consumidor por esse novo canal de comércio, agora virtual. Dessa forma, mostra-se de extrema relevância discutir as relações jurídicas configuradas nesse ambiente virtual e o arcabouço jurídico que deve ser observado para a regular prática da atividade comercial no meio eletrônico.

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Tendo em vista o dinamismo e as peculiaridades das atividades exercidas na Internet, em especial no âmbito no comércio eletrônico, surgem também novas demandas no campo da defesa do consumidor que, a despeito de sentir-se tomado pelas facilidades que o mercado virtual oferece, tem que conviver também com as inseguranças e as desconfianças típicas da era da sociedade da informação.

Neste contexto, faz-se necessário o estudo das ferramentas de proteção do consumidor virtual, aquele inserido no contexto do comércio eletrônico, especialmente no que se referem às regras do Código de Defesa do Consumidor, com o objetivo de identificar as garantias e os direitos desse consumidor internauta vulnerável diante do domínio tecnológico dos fornecedores do comércio eletrônico e das técnicas de propaganda e marketing cada vez mais agressivas utilizadas pelas empresas para ofertar e vender produtos e serviços no ambiente virtual.

O trabalho proposto analisa os principais contornos da contratação eletrônica enquanto atividade humana desenvolvida no ambiente digital, possibilitada pelo desenvolvimento das novas tecnologias da informação, e a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor e suas diretrizes protetivas ao comércio eletrônico. O enfoque específico do presente projeto se dá, portanto, quanto aos mecanismos de proteção dos sujeitos das relações de consumo operadas nesse cenário.

O objetivo é analisar o comércio eletrônico em consonância com o ordenamento jurídico brasileiro, em especial com base nos conceitos e nos princípios do Código de Defesa do Consumidor e demais legislações aplicáveis ao tema ora em estudo, com destaque para o recente Decreto n. 7.962/2013, editado para regular as relações de consumo na Internet e a Lei n. 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet.

(15)

Internet, prevendo regras específicas para o comércio eletrônico dentro do próprio Código de Defesa do Consumidor, conforme já sugerido nas propostas de atualização da atual legislação consumerista.

Assim sendo, inicialmente, faremos uma análise das fases históricas da sociedade de consumo e do desenvolvimento da Internet, ferramenta de grande destaque na denominada sociedade da informação ou era digital, bem como do surgimento das normas de defesa do consumidor para, então, expandir a análise para todo o regime jurídico brasileiro.

Em seguida, estudaremos a origem e o desenvolvimento do comércio eletrônico, indicando como o instituto é conceituado pela doutrina e apontando seus princípios norteadores e as regras que devem ser observadas para que esta nova forma de desenvolver a atividade comercial, agora via eletrônica, seja realizada em consonância com as normas de proteção do consumidor na sociedade brasileira.

Neste sentido, pretende-se identificar o arcabouço jurídico existente na legislação pátria no tocante ao comércio eletrônico, demonstrando, sobretudo, que as atividades realizadas no ambiente virtual devem estar em consonância com o Código de Defesa do Consumidor e as leis específicas que regulam o comércio eletrônico.

Considerando que a realização do comércio, seja ele eletrônico ou físico, está diretamente relacionada à existência do contrato, uma vez que a aquisição de produtos e serviços depende da conclusão de um negócio jurídico, faremos um breve estudo dos contratos eletrônicos.

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1 SOCIEDADE DE CONSUMO E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

A sociedade de consumo moderna é resultado de séculos de profunda mudança social, econômica e cultural. No entanto, a origem histórica dessa sociedade de consumo é tema de muitas controvérsias entre os estudiosos do assunto. O consumo e a comercialização de bens e serviços já existiam desde as sociedades mais primitivas, no entanto com características muito distintas daquelas que afloram na sociedade de consumo contemporânea.

1.1 ORIGEM DA SOCIEDADE DE CONSUMO

Ao tratar da sociedade de consumo, Jean Baudrillard afirma que “o consumo surge como modo activo de relação (não só com os objetos, mas ainda com a coletividade e o mundo), como modo de atividade sistemática e de resposta global, que serve de base a todo nosso sistema cultural1”.

Além disso, na visão de Lívia Barbosa, os debates que norteiam as origens da moderna sociedade de consumo podem ser divididos em duas vertentes: uma voltada para o quando ocorreram as mudanças na sociedade em relação ao consumo, ou seja, em que momento histórico e onde surgiram os primeiros indícios de que uma mudança estava ocorrendo na quantidade de bens da cultura material; e a outra voltada para o que mudou na forma de consumo, quais eram esses novos bens de consumo da cultura material e como eles se distribuíam no interior da sociedade2. Nesse contexto, vamos estudar as transformações na sociedade que

culminaram na sociedade de consumo contemporânea.

O início da denominada sociedade de consumo, de acordo com Grant McCracken, ocorreu na passagem do século XVI para o XVII, na Inglaterra, como descreve:

Nos últimos vinte e cinco anos do século XVI, ocorreu um espetacular boom de consumo. Os homens nobres da Inglaterra elizabetana começaram a

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gastar com um novo entusiasmo e em uma nova escala. Neste processo, eles transformaram dramaticamente seu mundo de bens e a natureza do consumo ocidental. Reconstruíram seus sítios no campo de acordo com um novo modelo grandioso e começaram a assumir a despesa adicional de manter uma residência em Londres. Do mesmo modo, mudaram também seus padrões de hospitalidade, inflando amplamente seu caráter cerimonial e os custos aí implicados. Os nobres elizabetanos entretiam-se uns aos outros, bem como a seus subordinados e ocasionalmente a sua monarca, às expensas de um gasto arruinador.3

A corte da rainha Elizabeth I no século XVI conquistou um nível de consumo extremamente elevado para a época, utilizando os bens como um instrumento de governo e controle social e instigando os nobres a estabelecerem novos padrões de consumo. Elizabeth I conseguiu persuadir a nobreza a gastar verdadeiras fortunas com os rituais da corte.

Além disso, o século XVI foi marcado pela competição social entre a nobreza elizabetana (termo usado por Grant McCracken), ou seja, a busca por status, posição social e maior relação com a monarca. A nobreza elizabetana passa a consumir em função de novos objetivos sociais e de acordo com novos valores, gostos e preferências, marcando uma profunda mudança na forma de consumir. Essas mudanças de comportamento ocorridas tanto do lado da monarca quanto dos nobres tiveram fortes impactos para a família e a forma de consumo deste período, o que vai refletir nos períodos seguintes da história da Inglaterra.

A antropóloga Lívia Barbosa destaca duas principais mudanças comportamentais que contribuíram para o surgimento de uma sociedade mais direcionada ao consumo: “a passagem do consumo familiar para o consumo individual e a transformação do consumo de pátina para o consumo de moda4”.

Podemos vislumbrar tais mudanças, ainda que singelas, já na época da corte elizabetana, conforme demostrado por Grant McCraken. O nobre elizabetano, levado pela ansiedade de obter status em meio a uma competição social feroz, começou a gastar mais por si mesmo e menos em razão da família, convertendo a unidade de consumo de familiar para o consumo individual. Isso também resultou

3 McCRACKEN, Grant. Cultura e Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico e as atividades de consumo. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010, p. 30.

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em uma modificação nas propriedades simbólicas do bem de consumo, passando do consumo de pátina para o de moda, ou seja, o bem não mais precisa assumir a pátina decorrente da antiguidade que marcava um bem de valor para a família nobre.5

Por outro lado, Neil McKendrick defende que a sociedade de consumo nasceu no século XVIII, época em que ocorria a Revolução Industrial, como informa:

Houve um boom de consumo na Inglaterra durante o século XVIII. Após a metade daquele século, o boom atingiu proporções revolucionárias. Homens e, em especial, mulheres compraram como nunca haviam comprado antes. Até mesmo suas crianças possuíam acesso a um número de bens nunca antes visto. De fato, o final do século XVIII viu uma convulsão de consumismo, uma tamanha erupção de prosperidade e tamanha explosão de novas técnicas de produção e de marketing, que uma parcela da população muito maior do que em qualquer outro tempo ou sociedade na história da humanidade até então pode aproveitar os prazeres de comprar bens de consumo. Eles não compravam apenas bens necessários, mas amenidades e até mesmo luxo.6 (Tradução nossa).

A ascensão do consumo, descrita pelo autor supramencionado, foi conduzida pela ansiedade da sociedade inglesa do século XVIII em lutar por status a partir do consumo dos mais variados bens, os quais, na época, tinham a função de marcadores de status e meios de reivindicar status. Foi, nessa época, portanto, que

5 McCRACKEN, Grant. Cultura e Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico e dasatividades de consumo. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010, p. 32-33. “O consumo familiar era um assunto coletivo,

empreendido por uma corporação que ultrapassava as gerações. Uma geração comprava bens que representariam e aumentariam a honra das precedentes mesmo se tais bens, por outro lado, funcionassem também como fundadores das bases para os esforços de busca pela honra da geração seguinte. As compras eram feitas pelos vivos, mas a unidade de consumo incluía os mortos e os ainda não nascidos. [...] O nobre elizabetano, levado agora por suas novas ansiedades por status em meio a uma competição social excepcionalmente feroz, começou a gastar mais por si mesmo e menos pela corporação. Esta mudança em seu consumo teve várias consequências. Primeiro, ajudou a enfraquecer o contrato recíproco que unia a família. Segundo, transformou a natureza da tomada de decisão. Terceiro, modificou a natureza e a dinâmica da unidade de consumo. Quarto, mudou a natureza dos bens de consumo. Os bens que eram agora comprados em função de demandas imediatas de uma guerra social assumiam qualidades bastante diferentes. Não eram mais construídos com a mesma preocupação com a longevidade. Não eram mais valiosos somente se antigos. Certos bens tornaram-se valiosos não por sua pátina mas por serem novos”.

6 Para conferir credibilidade, segue texto original: “There was a consumer boom in England in the eighteenth century. In the third quarter of the century that boom reached revolutionary proportions. Men, an in particular women, bought as never before. Even their children enjoyed access to a greater number of goods than ever before. In fact, the later eighteenth century saw such a convulsion of getting and spending, such as eruption of new prosperity, and such an explosion of new production and marketing techniques, that a greater proportion of the population than in any previous society in human history was able to enjoy the pleasure of buying consumer goods. They bought not only necessities, but decencies, and even luxuries”. (McKENDRICK, Neil; BREWER, John e PLUMB, J.H.

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houve uma explosão de bens no mercado de consumo, o que incentivou a frequência com que os produtos eram comprados e, ainda, o aumento do número de pessoas que se tornaram aptas a participar da sociedade como consumidoras.

Enquanto o consumo no período da corte elizabetana do século XVI era predominantemente limitado aos nobres, à medida em que os demais grupos sociais não participam das atividades mercadológicas, no século XVIII, ocorre a expansão do consumo para esses grupos sociais até então excluídos da sociedade de consumo. É justamente essa participação dos diversos grupos sociais no mercado de consumo que dá origem ao primeiro período do denominado consumo de massa na tradição ocidental.

Ressaltamos algumas características dessa sociedade do consumo que se consolida no século XVIII: as compras são realizadas para si e não em função da família, ou seja, o consumo deixa de ser familiar e passa a ser individual; os bens passam a ser possuídos por meio da compra pessoal, influenciada pela moda que era capaz de transformar gostos e preferências, e não mais devido à necessidade. O consumidor torna-se objeto de práticas comerciais e alvo da atividade publicitária para incitar desejos e dirigir preferências. Os bens começam a ter outros significados além do de status social. Ocorre uma explosão de bens no mercado, sendo possível comprá-los em mais lugares e em mais oportunidades que antes. Observa-se um maior número de pessoas aptas a comprar e ocorre uma valorização das escolhas dos consumidores.7

No século XVIII, o consumo começa a se instalar de modo mais frequente na sociedade, em mais lugares, sob novas influências, desempenhado por novos grupos, em busca de novos bens e em função de novos propósitos sociais e culturais.8 Para Neil McKendrick, existe uma importante relação entre a Revolução

Industrial e a Revolução do Consumo, a qual ocorreu baseada na combinação de diversos fatores, dentre eles, o desenvolvimento industrial e comercial do século XVIII.

7 McCRACKEN, Grant. Cultura e Consumo: novas abordagens ao caráter simbólico e dasatividades de consumo. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010, p. 36-42.

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Seja qual for a metáfora popular preferida – seja revolução, decolagem, elevação ou atingimento de massa crítica – a mesma evolução que ocorreu no consumo, aconteceu também na produção. Assim como a Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, marca uma das maiores descontinuidades da história, um dos períodos de maior mudança na história da experiência humana, na minha opinião, a revolução no consumismo também marca. Ocorre que a revolução no consumo foi necessária para que ocorresse a revolução industrial, sendo a convulsão no

lado da “demanda” da equação, de forma a igualar a convulsão ocorrida no

lado da “oferta”.9 (Tradução nossa)

A Revolução Industrial marca de maneira significativa um novo período em que não somente a produção importa, mas também o consumo daquilo que estava sendo produzido em grandes escalas. Portanto, podemos dizer que as evoluções na produção e na maneira de consumir andaram juntas, havendo, sobretudo, um interesse pelo novo, deixando para trás as tradições e bens de família. Neste sentido, vale reproduzir a observação de Silvio Luís Ferreira da Rocha sobre a transformação da sociedade de consumo com o advento da Revolução Industrial.

A antiga elaboração manual e artesanal dos produtos, restrita ao âmbito familiar ou a um círculo pequeno de pessoas, foi convertida em exceção. O mercado tornou-se o destinatário de uma enormidade de produtos fabricados em série, tipificados e unificados. A cisão entre produção e comercialização foi realizada de modo definitivo. O comerciante perdeu o controle sobre a fabricação do produto e deixou de informar e aconselhar os seus clientes10.

A Revolução Industrial representou um grande aumento da capacidade produtiva das empresas, o início da fabricação massificada em série, a perda de controle do comerciante sobre os bens que estava comercializando e o correlato consumo em massa, o que modificou completamente os métodos de produção, a forma de comercialização e consumo então existentes. A produção manual e artesanal feita de forma personalizada, especialmente para determinado comprador, que prevalecia

9 McKENDRICK, Neil; BREWER, John e PLUMB, J.H. The birth of a consumer society: the commercialization of eighteenth-century England. London: Europa Publications Limited, 1982, p. 9. Para conferir credibilidade, segue texto original: “Whatever popular metaphor is preferred – whether revolution or take-off or lift-off or the achievement of critical mass – the same unmistakable breakthrough occurred in consumption as occurred in production. Just as the Industrial Revolution of the eighteenth century marks one of the great discontinuities in history, one of the great turning points

in the history of human experience, so, in my view, does the matching revolution in consumption”.

10 ROCHA, Silvio Luís Ferreira da. Responsabilidade Civil do Fornecedor pelo Fato do Produto

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até então no mercado de consumo, cede lugar à produção em massa, que, por sua vez, é a propulsora do consumo em massa, que marcou o século XVIII.

Como esclarece Rizzato Nunes, esse novo modelo de mercado, após as transformações ocorridas na sociedade de consumo, foi marcado pela fabricação de produtos e oferta de serviços em série, de forma padronizada e uniforme, no intuito de diminuir custos de produção e, assim, atingir maiores parcelas da população, com o aumento da oferta e da publicidade dos bens11.

Seguindo no tempo, na visão de McCracken, não houve nenhum boom de consumo no século XIX. A transformação na forma de consumo, que se iniciou e perpetuou nos séculos XVI e XVIII, era, no século XIX, um fato social permanente, portanto não há que se falar em revolução de consumo. Isso não significa, no entanto, ausência de inovações no mercado da época, que refletiram para a atual sociedade de consumo.

Destacamos algumas mudanças que ocorrem no século XIX, as quais serão mais detalhadas no próximo tópico desse trabalho, que refletem no consumo contemporâneo e são verdadeiras inovações na forma de consumir. Nesse período, surgem as lojas de departamento, que modificaram drasticamente a forma de exposição e compra dos bens, a natureza da estética pela qual os bens eram negociados, bem como a maneira de divulgar referidos bens. As lojas de departamento mudaram o estilo de vida desses novos consumidores, que, influenciados, dentre outros fatores, pelas técnicas persuasivas de decoração das vitrines dessas lojas, deixaram de consumir apenas em razão da necessidade e passaram a comprar impulsionados, simplesmente, pelo desejo de participar da atividade de consumo e possuir os bens da moda.

Diante dessa significativa transformação na maneira de expor e comercializar os bens, o marketing e a publicidade passam a ter um papel fundamental neste novo modelo de negócio do século XIX. Nesse contexto, a marca surge como um

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importante elemento de identificação e de conexão entre os fabricantes e os consumidores, sendo enormemente explorada pelos profissionais de marketing.

Ao refletir sobre a atual sociedade de consumo em que vivemos, na qual os consumidores são movidos a comprar simplesmente pelo desejo de possuir determinados bens, Jean Baudrillard afirma que “vivemos o tempo dos objetos”, ou seja, existimos segundo o seu ritmo e em conformidade com a sucessão permanente dos objetos. Hoje, “somos nós que os vemos nascer, produzir-se e morrer, ao passo que em todas as civilizações anteriores eram os objetos, instrumentos ou monumentos perenes, que sobreviviam às gerações humanas”12.

Neste sentido, ressaltando a importância da moda para a decisão do consumo dos bens na sociedade moderna, em que as aparências se impõem como um fator determinante na individualização das pessoas, Patrícia Fraga Iglecias Lemos e Marcelo Gomes Sodré esclarecem que:

Os bens da moda vieram a ter uma função de marcadores sociais e o cotidiano da vida das pessoas passou, em certo momento histórico, a girar em torno desses bens. Com isso, a centralidade deixou de estar na pessoa para se localizar no bem da moda e seus produtos de consumo.13

Diante dos fatos aqui expostos, podemos entender que a formação da sociedade de consumo desenvolveu-se ao longo de vários séculos, consolidando-se como característica estrutural da vida social a partir do século XIX, quando, então, surgem os grandes dilemas entre fornecedores e consumidores, característicos da sociedade de consumo contemporânea.

1.2 SOCIEDADE DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA

Com o objetivo de compreender, ainda melhor, a sociedade de consumo contemporânea, passaremos a expor as fases da sociedade de consumo dos

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séculos XIX e XX, segundo a classificação feita por Gilles Lipovetsky14, em sua obra

“A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo”.

Segundo o autor, a primeira fase da sociedade de consumo contemporânea ocorre no período de 1880 até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial. Essa fase, que marca o nascimento dos mercados de massa, é descrita a partir das seguintes características: surgimento de grandes mercados nacionais impulsionados pelas infraestruturas modernas de transportes e de comunicações; elaboração de máquinas de fabricação com técnicas de produção contínua; aumento da produtividade com custos mais baixos, que abre caminho para a produção de massa; reestruturação das fábricas em função dos princípios da organização científica do trabalho; possibilidade de baixa dos preços; destaque para o papel o do marketing na função de democratizar o acesso aos bens de consumo.15

Nesta fase, ainda, o autor destaca, ao lado da produção de massa, o surgimento do

marketing de massa e da marca identificadora dos fabricantes. Como os produtos estão padronizados, acondicionados em pequenas embalagens e distribuídos no mercado, assume a marca um papel de extrema relevância para identificação dos fabricantes desses novos produtos. Neste contexto, as empresas começam a fazer grandes publicidades em torno de suas marcas, visando seduzir o consumidor moderno, que passa a depositar suas expectativas e em um nome - a marca.16

O autor aponta, também, que a produção de massa foi impulsionada pelos grandes magazines e lojas de departamento, que baseados em políticas de venda agressivas e sedutoras, constituem a primeira revolução comercial moderna, que inaugura a era da distribuição de massa. Assim, as lojas de departamento surgiram na França na

14 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 26-46.

15 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 26-29.

16 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.30. “Com a tripla invenção da marca, do acondicionamento e

da publicidade, apareceu o consumidor dos tempos modernos, comprando o produto sem a intermediação obrigatória do comerciante, julgando os produtos a partir de seu nome mais que a

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segunda metade do século XIX, tendo como exemplo o Printemps, fundado em 1865, e o Le Bom Marché, em 1869.17

Os grandes magazines e as lojas de departamento contribuíram para o surgimento de um comércio baseado na distribuição de massa, com destaque para a rápida rotação de estoques, aumento da variedade de produtos oferecidos no mercado e a prática de preços baixos para viabilizar o aumento do volume de negócios e atingir, não só a elite, como toda a massa de consumidores. A distribuição de massa, conjugada com a publicidade em grande escala, deu início ao processo, que o autor denomina, de democratização do desejo, revolucionando a relação com o consumo. Os grandes magazines utilizam decorações luxuosas e vitrines estonteantes, dentre outros artifícios, com o intuito de despertar o desejo do consumidor e estimular a compra como um ato de prazer. Ao destacar a importância dos grandes magazines para a sociedade de consumo, assim esclarece Gilles Lipovetsky:

O grande magazine não vende apenas mercadorias, consagra-se a estimular a necessidade de consumir, a excitar o gosto pelas novidades e pela moda por meio de estratégias de sedução que prefiguram técnicas modernas do marketing. Impressionar a imaginação, despertar o desejo, apresentar a compra como um prazer, os grandes magazines foram, com a publicidade, os principais instrumentos da elevação do consumo a arte de viver e emblema da felicidade moderna. Enquanto os grandes magazines trabalhavam em desculpabilizar o ato de compra, o shopping, o ‘olhar das

vitrines’ tornaram-se uma maneira de ocupar o tempo, um estilo de vida das classes médias18.

A segunda fase que estabelece, de fato, a sociedade de consumo de massa, ocorreu entre os anos 1950 a 1980. Foi nessa época que o mundo ocidental presenciou a real edificação da sociedade de massa.

Essa fase é marcada pelo extraordinário crescimento econômico, elevação do nível de produtividade de trabalho e democratização da compra dos bens duráveis. O consumo se espalha pelas diferentes camadas da sociedade, produtos tidos como emblemáticos (automóvel, televisão, aparelhos eletrodomésticos, entre outros) passam a ser consumidos por um número cada vez maior de pessoas.

17 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 30-31.

(26)

Nesta segunda fase da sociedade de consumo, predominou a lógica da quantidade, ou seja, os produtos eram fabricados em enormes quantidades, houve crescimento de crédito ao consumidor possibilitando acesso a um modo de vida antigamente associado à elite social, e, ainda, modernização na esfera industrial e na distribuição dos produtos, na medida em que surgem os supermercados, os autosserviços e os hipermercados, o que resulta em uma verdadeira revolução comercial. Essa nova dinâmica de comercialização transformou o consumo mercantil em estilo de vida, em sonho/desejo de uma massa de consumidores, em novo parâmetro para a felicidade. Assim, o autor descreve essa fase como sendo a sociedade da abundância e do desejo.

A terceira fase surge no fim da década de 1970 e permanece até os dias atuais. É a denominada sociedade do hiperconsumo, fase da mercantilização moderna das necessidades, movida por uma lógica “desinstitucionalizada” e emocional, centrada na busca das sensações de maior bem-estar subjetivo. “O consumo ordena-se cada dia um pouco mais em função de fins, de gostos e de critérios individuais [...] as motivações privadas superam muito as finalidades distintas19.

Para Gilles Lipovetsky, nesta fase, “o consumo para si suplantou o consumo para o

outro20”. Em outras palavras, o homo consumericus (termo utilizado pelo autor para

designar o consumidor da sociedade do hiperconsumo) não tem mais, como primordial motivo para a obtenção de bens, a busca por uma posição social, que até então predominava na sociedade, mas, agora, ele é movido pela busca da satisfação emocional, corporal, sensorial, enfim, a busca da felicidade. Assim sendo, o consumo, para fins de status social, transformou-se em consumo para satisfação do prazer individual, que o autor denomina de consumo emocional.

Acerca dessa fase do consumo emocional, caracterizada por Gilles Lipovetsky, Patrícia Faga Iglecias Lemos e Marcelo Gomes Sodré comentam que:

19 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 41.

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Nesse universo, os produtos cada vez mais têm uma vida menor. Se o consumo é emocional, nunca cessa o prazer de adquirir produtos e modelos novos, muitos dos quais sequer ainda lançados. Assim, a lógica é primeiramente vender, depois produzir. A cada período, são colocados no mercado linhas novas e sempre existirão razões para o consumidor trocar um produto que tenha adquirido recentemente. O inovacionismo suplantou o produtivismo repetitivo do fordismo.

Nesse contexto, Zygmaunt Bauman também ressalta a transformação da sociedade de produtores para uma sociedade de consumidores, a qual tem como característica primordial a perseguição pela satisfação dos desejos humanos. Na sociedade de produtores, o modelo de produção era estruturado na perspectiva de que adquirir um amplo volume de bens que assegurava uma maior comodidade e status social. Apostava no desejo de um ambiente seguro, confiável, ordenado, transparente, conclamando o consumidor a ter acesso, via aquisição de produtos, a uma vida resistente ao tempo e segura21.

Atualmente, a cultura do consumo tem como pilar a constante promoção de novas necessidades, projetando uma incessante remodelação dos desejos por meio de novos e melhores produtos. Portanto, essa instabilidade dos desejos e a insaciabilidade das necessidades, atrelado à tendência do consumo instantâneo, passa a ser entendido por Bauman, como a fase líquida da modernidade, na qual as formas de satisfação são sempre momentâneas22.

Tem-se, assim, com base na não-satisfação dos indivíduos e na incessante busca da satisfação dos desejos, que a sociedade de consumo prospera e consegue se tornar perpétua, pois

A sociedade de consumo tem como base de suas alegações a promessa de satisfazer os desejos humanos em grau que nenhuma sociedade do passado pôde alcançar, ou mesmo sonhar, mas a promessa de satisfação só permanece sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito; mais

importante ainda, quando o cliente não está “plenamente satisfeito”23

21 BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008, p. 42

22 BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008, p.45.

(28)

Com efeito, a formulação do desejo se relaciona com uma economia de mercado que se sustenta pela promoção, pela desvalorização e pela criação de novos anseios. Para Zygmunt Bauman24, a ânsia do consumidor pela satisfação de seus

desejos, constitui-se como um dos principais pilares da cultura do consumo.

Tendo em vista essas transformações dos indivíduos em relação às motivações que os levam a adquirir os bens de consumo, fez-se necessário também um novo tipo de atuação do mercado publicitário, mais preocupado em criar situações em que o consumidor possa viver experiências afetivas, imaginárias e sensoriais quando do consumo do produto. É o que se denomina marketing sensorial ou experimental.

Neste mundo contemporâneo, o mercado não mais funciona com a simples lógica da produção de massa, mas a produção personalizada de massa que exige agora, além de uma rapidez frenética, estratégias de diversificação capazes de suprir às demandas que se apresentam, já que, nessa fase, ocorre uma segmentação dos grupos consumistas e, portanto, necessidade de uma diversificação de produtos para atender melhor às demandas individualistas de diferenças.

Os fornecedores estão disponibilizando no mercado produtos cada vez mais personalizados, visando suprir os anseios individuais dos consumidores. Segundo ressalta Fabíola Meira de Almeida Santos, “este é o intuito da sociedade de consumo no mundo contemporâneo – incentivar o consumo individualizado, customizado, dividir a sociedade em nichos”25.

Portanto, nessa sociedade do hiperconsumo, os consumidores não compram os produtos por suas funcionalidades, mas pela experiência que eles proporcionam e pela emoção que despertam. As empresas, por sua vez, buscam atender aos anseios desses consumidores para lhes dar o que eles desejam obter: satisfação, prazer e felicidade.

24 BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

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1.3 SURGIMENTO DAS NORMAS DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA

SOCIEDADE DE CONSUMO

Diante das transformações na sociedade, desenvolvimento econômico do mercado de consumo massificado, desequilíbrio de poder, desproporção de forças entre fornecedores e consumidores e ineficiência do ordenamento jurídico para prestar a devida tutela aos consumidores, nasce a necessidade da criação de mecanismos eficientes de defesa do consumidor.

Em decorrência de todas essas transformações na forma de produzir, de ofertar e de consumidor os bens disponibilizados no mercado de consumo, torna-se visível a vulnerabilidade do consumidor diante desse modelo de mercado massificado e impulsionado pelo desejo de consumir. Neste momento, por conseguinte, a relação de consumo carece de regulação e de proteção.

A nova maneira de produção e consumo em massa refletiu em um maior número de produtos colocados em circulação, trazendo, com isso, um significativo aumento de riscos ao consumidor frente ao aparecimento de práticas comerciais lesivas, impondo a necessidade de o Estado interferir nas relações de consumo, visando proteger o consumidor que estava sendo massacrado pela nova estrutura de mercado.

Dessa forma, frente ao desequilíbrio de poder e de desproporção de forças entre fornecedores e consumidores, diante do desenvolvimento econômico do mercado de consumo massificado e da ineficiência do ordenamento jurídico para prestar a devida tutela aos consumidores, nasce a necessidade da criação de mecanismos eficientes de defesa do consumidor.

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Ada Pellegrini Grinover que a proteção do consumidor é um desafio para a sociedade e representa, em todo o mundo, um dos temas de grande relevância para o direito, visto que

O homem do século XX vive em função de um modelo novo de associativismo: a sociedade de consumo (mass consumption society ou

konsumgesellschaft), caracterizada por um número crescente de produtos e

serviços, pelo domínio do crédito e do marketing, assim como pelas dificuldades de acesso à justiça. São esses aspectos que marcaram o nascimento e desenvolvimento do Direito do Consumidor como disciplina autônoma. A sociedade de consumo, ao contrário do que se imagina, não trouxe apenas benefícios para os seus atores, muito ao revés, em certos casos, a posição do consumidor, dentro desse modelo, piorou em vez de melhorar. Se antes fornecedor e consumidor encontravam-se em uma situação de relativo equilíbrio de poder de barganha (até porque se conheciam), agora é que, inegavelmente, assume a posição de força na

relação de consumo e que, por isso mesmo, “dita as regras”. E o Direito não

pode ficar alheio a tal fenômeno.26

Frente à insuficiência legislativa dos países industrializados no tocante às normas que disciplinavam a responsabilidade do fornecedor na sociedade moderna, essas nações começaram a se movimentar para criar critérios normativos visando uma tutela adequada ao consumidor. Assim nos ensina Marcelo Gomes Sodré:

Se a sociedade de consumo surgiu entre os éculos XVIII e XIX, as primeiras entidades de defesa dos consumidores aparecem na década de 20 do século XX e as primeiras leis efetivamente de proteção do consumidor depois desta década. Até então existiam apenas alguns julgados que se pautavam por este objetivo. A organização da sociedade é quase sempre lenta em seu nascimento (e o direito é mais lento ainda, pois nasce quando o conflito já existe em grande escala na sociedade). A construção da chamada proteção do consumidor nos países de primeiro mundo foi um processo lento que começou no início do século XX, ganhou impulso após a Segunda Guerra Mundial, com a explosão da chamada sociedade de consumo, e se consolidou somente nas décadas de 70/80.27

Um grande marco para o reconhecimento dos direitos dos consumidores ocorreu no dia 15 de março de 1962, quando o então presidente dos Estados Unidos da América, John Kennedy, enviou uma mensagem especial ao Congresso Americano referente à proteção dos interesses e direitos dos consumidores. "Consumidores

somos todos nós", disse ele nessa mensagem que se tornou o marco fundamental

26 GRINOVER, Ada Pellegrini [et al]. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Vol. I- Direito Material. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 4.

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do nascimento dos chamados direitos dos consumidores e que causou enorme impacto não só nos Estados Unidos, como no resto do mundo.

Nessa mensagem, foram reconhecidos quatro direitos básicos do consumidor: direito à segurança ou à proteção contra a comercialização de produtos perigosos à saúde e à vida; direito à informação, compreendendo os aspectos gerais da propaganda e a necessidade do fornecimento de informações sobre os produtos e sua utilização; o direito à escolha, referindo-se aos monopólios e aos oligopólios, incentivando a concorrência e a competitividade entre fornecedores como fatores favoráveis ao consumidor; e direito a ser ouvido na elaboração das políticas públicas que sejam de interesse dos consumidores. Em reconhecimento ao marco histórico da mensagem do então presidente norte-americano, o dia 15 de março foi instituído como o Dia Mundial dos Direitos dos Consumidores.

Em abril de 1985, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Resolução 39/248, com Diretrizes Internacionais de Proteção ao Consumidor, enfatizando a importância de os governos estabelecerem e manterem uma estrutura adequada para formular, aplicar e controlar o funcionamento de políticas públicas de proteção aos direitos do consumidor.

Segundo José Geraldo Brito Filomeno, as principais diretrizes da Resolução 39/248, que reconheceu o desequilíbrio do consumidor em face da sua capacidade econômica, nível de negociação e poder de negociação, era proteger o consumidor quanto a prejuízos à sua saúde e segurança, fomentar e proteger seus interesses econômicos, fornecer-lhe informações adequadas para que pudesse fazer escolhas de acordo com as necessidades e desejos individuais, educá-lo, criar possibilidades de real ressarcimento, garantir a liberdade para formação de grupos de consumidores e outras organizações de relevância.28

A mencionada Resolução da ONU foi importante à medida que garantiu diretrizes para que os diversos países, principalmente aqueles em desenvolvimento como o Brasil, pudessem elaborar ou aperfeiçoar sua legislação de proteção aos direitos do

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consumidor. Nessa linha, a Resolução 39/248 da ONU pode ser considerada mais um marco na história para o reconhecimento dos direitos dos consumidores.

A preocupação do constituinte brasileiro com os direitos dos consumidores, entretanto, apenas teve início com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, quando então os direitos dos consumidores passaram a possuir uma tutela constitucional específica revelada por meio da adoção da defesa dos consumidores como garantia fundamental e também parte dos princípios norteadores da ordem econômica.

Assim reconhece Cláudia Lima Marques, ao discorrer que a Constituição Federal de 1988, “pela primeira vez na história dos textos constitucionais brasileiros, dispõe expressamente sobre a proteção dos consumidores, identificando-os como grupo a ser especialmente tutelado através da ação do Estado (Direitos Fundamentais, art. 5º, XXXII)”29.

Entretanto, foi somente em 11 de setembro de 1990 que surgiu o Código de Defesa do Consumidor no ordenamento jurídico brasileiro, com a promulgação da Lei Federal n° 8.078/90, que contemplava regras protetivas para o consumidor e com o objetivo de regular as relações entre os fornecedores e aqueles consumidores fragilizados pelas práticas comerciais comuns à época.

1.4 EVOLUÇÃO PARA A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

No momento histórico em que vivemos, o qual teve início no fim do século XX e perdura no século XXI, marcado pela sociedade do hiperconsumo, vislumbra-se também um crescente avanço tecnológico e uma grande diversidade de meios de comunicação, especialmente decorrentes do uso da Internet pelos mais variados

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setores da sociedade e da economia. É a denominada “sociedade da informação, ou, como prefere Manuel Castells, Sociedade Informacional30.

A base histórica da “sociedade da informação” interliga-se com a história da sociedade pós-industrial e a revolução da tecnologia da informação, que pode ser compreendida a partir da convergência dos elementos definidores de uma nova relação socioeconômica. Na sua obra, “O advento da sociedade pós-industrial”, Daniel Bell apresenta a ideia de uma sociedade pós-industrial relacionando a importância da informação e a geração de conhecimento como uma nova força produtiva, sendo uma obra de referência para o estudo da sociedade da informação.

Segundo Daniel Bell, a sociedade pós-industrial pode ser compreendida a partir de cinco dimensões, que caracterizam as transformações da sociedade nessa fase: (i) no setor econômico, a mudança de uma economia de bens para a criação de uma economia de serviços; (ii) na distribuição ocupacional, um grande aumento de empregos de natureza profissional ou técnica, funções que exigem maior grau de educação superior; (iii) centralidade do conhecimento teórico como fonte de inovação e de formulação política, ou seja, a sociedade passa a ser organizada em torno do conhecimento e da técnica, a fim de exercer o controle social e a direção das inovações e mudanças, os progressos vão dependendo cada vez mais da primazia do trabalho teórico, as indústrias passam a ter mais bases científicas; (iv) capacidade de planejamento e controle do desenvolvimento tecnológico, a fim de manter a produtividade e os padrões de vida; e (v) aparecimento de uma nova tecnologia intelectual, ou seja, criação de regras para soluções de problemas incorporadas a uma máquina automática ou a um programa de computador, que resulta na ascensão de novas elites técnicas.31

30 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6. ed. Atual Jussara Simões. Trad. Roneide Venância Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1: A sociedade em rede, p. 64-65. “O termo sociedade da informação enfatiza o papel da informação na sociedade. Mas afirmos

que informação, em seu sentido mais amplo, por exemplo, como comunicação de conhecimentos, foi crucial a todas as sociedades, inclusive à Europa medieval que era culturalmente estruturada e, até certo ponto, unificada pelo escolasticismo, ou seja, no geral uma infra-estrutura intelectual. Ao contrário, o termo informacional indica o atributo da uma forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação tronam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder devido às novas condições tecnológicas surgidas nesse período histórico.”

(34)

Nas suas contextualizações do que seria a sociedade pós-industrial, Daniel Bell já deixava implícita a ideia da denominação Sociedade da Informação. “A sociedade pós-industrial é uma sociedade de informação, assim como a sociedade industrial é uma sociedade de produção de bens”32. Ademais, o autor informa ainda que a

sociedade pós-industrial representa o aparecimento de novas estruturas e princípios axiais: uma sociedade de bens transformada em uma sociedade de informação, ou erudita”33.

Deste modo, na década de 1970, no âmbito das discussões envolvendo o que seria a sociedade pós-industrial, surgiu a expressão Sociedade da Informação. Nesse momento, a informação assume um papel de extrema importância não apenas em setores da economia, mas também da vida social, cultural e política, promovendo uma grande transformação na humanidade e refletindo na sua organização34.

Na visão de Manuel Castells, no final do século XX, vários acontecimentos de importância histórica transformaram a cultura e a estrutura socioeconômica da humanidade, resultando em uma verdadeira revolução. Uma revolução ocorrida com base nas tecnologias da informação que remodelaram a base material da sociedade, gerando novas formas de relação entre o Estado, a economia e a sociedade35.

No período em que sucede a Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou dividido em duas forças predominantes que deram origem a Guerra Fria: de um lado, EUA e, de outro, a União Soviética. Neste contexto, inicia-se a valorização da informação e vislumbra-se a necessidade de comunicação mais rápida e eficaz entre os países por meio de novas tecnologias para assegurar a supremacia de poder. Assim, já começam os primeiros passos de uma revolução tecnológica. Na visão de Armand Mattelart, “foi somente a partir da Guerra Fria e no rastro da inteligência artificial que

32 BELL, Daniel. O advento da sociedade pós-industrial: uma tentativa de previsão social. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo: Cultrix. p. 516.

33 BELL, Daniel. O advento da sociedade pós-industrial: uma tentativa de previsão social. Trad. Heloysa de Lima Dantas. São Paulo: Cultrix. p. 538.

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toda uma mística do progresso eletrônico passou a saudar a sociedade pós-industrial ao mesmo tempo que o fim da ideologia, o fim do engajamento, a negação da política”36.

No campo da economia, também vislumbramos transformações que coadunam com o surgimento da Sociedade da Informação: crescimento constante da área de bens de consumo e serviços; valorização do conhecimento e a reestruturação do capitalismo agora caracterizado pela descentralização das empresas e por sua organização em redes; individualização e diversificação das relações de trabalho e aumento da concorrência econômica global. Com o alto custo da produção da era industrial, a grande quantidade de mão de obra e a necessidade de redução de preço final dos produtos, passa a ganhar força a capacidade técnica e tecnológica para o desempenho das atividades e, consequentemente, para o conhecimento, passa a ter valor agregado nas mais diversas funções. Assim, a técnica associada ao conhecimento transforma o processo de produção e inicia um novo modelo de gerenciamento do trabalho nessa nova estrutura do capitalismo37.

Na sociedade pós-industrial, descrita por Daniel Bell, a tecnologia e o conhecimento assumem o papel de eixos da estrutura social, podendo-se falar em “sociedade do saber”. Para o autor, a sociedade pós-industrial é uma sociedade do conhecimento, em dois sentidos: primeiro, as fontes das inovações decorrem cada vez mais da pesquisa e do desenvolvimento, na medida em existe um novo relacionamento entre a ciência e a tecnologia, em virtude da centralidade do conhecimento teórico; segundo, o peso da sociedade incide cada vez mais no campo do conhecimento.38

A informação passa a ter maior valor nessa sociedade pós-industrial que valoriza a maior produção baseada na técnica e no conhecimento. Nesse processo, a evolução tecnológica assume papel fundamental, já que criou meios para que determinados conhecimentos pudessem ser reproduzidos de forma mais rápida. Ademais, um

36 MATTELART, Armand. História da Sociedade da Informação. Trad. Nicolás Nyimi Campanário. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2006, p. 8.

37 OLIVEIRA, Antonio Francisco Maia; BAZI, Rogério Eduardo Rodrigues. Sociedade da informação

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novo sistema de comunicação cada vez mais digital e universal promove uma integração global da produção e distribuição das palavras, sons e imagens. As redes interativas de computadores crescem exponencialmente, “criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo sendo moldadas por ela”39.

Nesse contexto, fica evidente que o desenvolvimento das tecnologias da informação, criaram novos padrões sociais, conduziram novos comportamentos políticos e de comunicação, refletiram significativamente na economia e, ainda, impulsionaram a globalização. Foram transformações de tamanha importância que resultaram em um novo paradigma que se formou em torno da tecnologia da informação, concretizando um novo modo de produção, comunicação e vida em sociedade.

Quando na década de 1970 um novo paradigma tecnológico, organizado com base na tecnologia da informação, veio a ser constituído, principalmente nos Estados Unidos, foi um segmento específico da sociedade norte-americana, em interação com a economia global e a geopolítica mundial, que concretizou um novo estilo de produção, comunicação, gerenciamento e vida.40

Esse novo paradigma tecnológico tem, segundo Manuel Castells, as seguintes características fundamentais: A primeira característica é a informação como sua matéria-prima. As tecnologias se desenvolvem para que o homem possa agir sobre a informação, não apenas utilizar a informação para agir sobre as tecnologias, como era feito no passado. A segunda caraterística apontada refere-se à penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias, na medida em que a informação é parte integrante de toda atividade humana, individual ou coletiva. O terceiro aspecto refere-se ao predomínio da lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações. As novas tecnologias da informação possibilitaram a implantação da rede nos mais diversos processos e organizações. A quarta característica desse paradigma é a flexibilidade. A tecnologia da informação permite que processos sejam reversíveis e organizações e instituições modificadas ou alteradas pela

39 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6. ed. Atual Jussara Simões. Trad. Roneide Venância Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1: A sociedade em rede, p. 40.

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reorganização de seus componentes. O novo paradigma tecnológico tem capacidade de reconfiguração, um aspecto de extrema relevância em uma sociedade caracterizada por constantes mudanças e fluidez organizacional. Por fim, a quinta caraterística é a crescente convergência de tecnologias, especialmente a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os computadores, que estão cada vez mais integrados nos sistemas de informação.41

Os avanços tecnológicos transformaram as diversas relações que envolvem a humanidade, resultando, no que denominou Manuel Castells, de Revolução Tecnológica. Esta revolução tecnológica que se espalhou pelo mundo tem como fundamento a aplicação da informação para a geração de conhecimento e a criação de dispositivos de processamento e comunicação da informação, em um ciclo de realimentação constante entre a inovação e seu uso. 42

As novas tecnologias da informação foram se expandindo pelo mundo em uma velocidade indescritível, propiciando uma crescente troca de informações entre indivíduos de diversos países, com características e realidades diferentes. Esse progresso tecnológico ou revolução tecnológica, que deu origem à sociedade da informação, possibilitou armazenar, guardar, modificar, encontrar e comunicar a informação sem qualquer limite tempo e volume, permitindo uma maior interação entre os indivíduos e as nações.

Diante dessa revolução tecnológica surge, então, uma nova estrutura social associada ao novo modo de desenvolvimento, que foi denominado por Manuel Castells como “informacionalismo”, no qual a fonte de produtividade está no conhecimento tecnológico e na aplicação da tecnologia para aprimorar a geração do

41 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6. ed. Atual Jussara Simões. Trad. Roneide Venância Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1: A sociedade em rede, p. 108.

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conhecimento e o processamento da informação. “O informacionalismo visa ao desenvolvimento tecnológico, ou seja, à acumulação de conhecimentos e maiores níveis de complexidade do processamento da informação”43.

A expressão Sociedade da Informação passou, então, a ser utilizada nos últimos anos do século XX, como um substituto para o conceito complexo de sociedade pós-industrial e como forma de transmitir o conteúdo específico desse novo paradigma tecnológico, decorrente da revolução tecnológica e a disseminação da informação no mundo cada vez mais globalizado44.

No Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil, publicado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia, define-se a “Sociedade da Informação” como uma nova era, na qual a informação adquire papel central nas relações e passa a fluir a velocidade e em quantidades há poucos anos inimagináveis, assumindo valores sociais e econômicos fundamentais. Representa, assim, uma significativa mudança na organização da sociedade e da economia, na medida em que a estrutura e a dinâmica das atividades sociais e econômicas, de alguma forma, são afetadas pela infraestrutura da informação disponível. Quanto a isso, esclarece Tadao Takahashi:

A sociedade da informação não é um modismo. Representa uma profunda mudança na organização da sociedade e da economia, havendo quem a considere um novo paradigma técnico-econômico. É um fenômeno global, com elevado potencial transformador das atividades sociais e econômicas, uma vez que a estrutura e a dinâmica dessas atividades inevitavelmente serão, em alguma medida, afetadas pela infra-estrutura de informações disponível. É também acentuada sua dimensão político-econômica, decorrente da contribuição da infra-estrutura de informações para que as regiões sejam mais ou menos atraentes em relação aos negócios e empreendimentos. Tem ainda marcante dimensão social, em virtude do seu elevado potencial de promover a integração, ao reduzir as distâncias entre pessoas e aumentar o seu nível de informação.45

Essa transformação da sociedade que tem como base fundamental a informação pode ser compreendida a partir da relação de três fenômenos que marcam esse

43 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 6. ed. Atual Jussara Simões. Trad. Roneide Venância Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1: A sociedade em rede, p. 51-54.

44 WERTHEIN, Jorge. A sociedade da informação e seus desafios. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ci/v29n2/a09v29n2.pdf.> Acesso em: 10 abr. 2015.

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