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1.4 EVOLUÇÃO PARA A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

1.4.2 A Internet no Brasil

No Brasil, as primeiras manifestações de uso da Internet ocorreram no final da década de 1980, com o surgimento das redes acadêmicas que interligavam grandes universidades e centros de pesquisa e somente anos depois foi destinada a usuários domésticos e empresas.

Segundo Maria Eugênia Finkelstein, o início efetivo da Internet no país se deu entre 1988 e 1989, quando a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), ligada à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia começou a fazer contatos e trocar informações com as instituições científicas internacionais. O objetivo era estabelecer uma rede de comunicação para que pesquisadores e

67 INTERNET Users in the World. Disponível em http://www.internetworldstats.com/stats.htm.

cientistas pudessem compartilhar dados com fins acadêmicos68. Inicialmente, as

conexões entre as instituições não eram diretas a computadores ligados à rede, mas à BITNET, abreviatura de because it´s time network (porque é tempo das redes), uma rede que trocava e-mails pela Internet, tendo sido, portanto, a primeira rede de computadores utilizada no Brasil.

Em 1989 foi criada a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, órgão acadêmico destinado a integrar as universidades brasileiras numa rede, ainda sem conexão com a Internet. A RNP criou uma estrutura física apropriada e eficiente de comunicação entre as instituições de ensino e entidades governamentais que viabilizou o acesso à Internet. No mesmo ano, foi fundado o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), com o objetivo de democratizar o acesso às redes de computadores no país. Foi esse instituto que colocou no ar o BBS Alternex, primeiro serviço de troca de e-mails e

grupos de discussão conectados à Internet fora do mundo acadêmico. Mas, foi

somente em 1991 que se estabeleceu, de fato, a primeira conexão com a Internet no

Brasil, por meio da FAPESP, que também começou a administrar o domínio “.br”69.

Em 1994, a Internet ultrapassou as fronteiras acadêmicas e começou a chegar aos mais diversos setores da sociedade brasileira, principalmente, com o início do funcionamento dos primeiros servidores Web do Brasil. Com a expansão da Internet além do meio acadêmico, começaram a ser oferecidos correios eletrônicos e redes de e-mails, surgiram as primeiras páginas pessoais de pesquisadores e estudantes brasileiros, além de diversos sites brasileiros na Internet.

No entanto, foi somente em 1995 que o provedor de acesso privado foi criado no Brasil, a partir da publicação de uma Nota Conjunta pelo Ministério das

Comunicações e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação70, tornando possível

o acesso comercial à rede mundial digital e, por conseguinte, a difusão dessa

68 FINKELSTEIN, Maria Eugênia Reis. Direito do Comércio Eletrônico. 2. ed. Rio de Janeiro:

Elesier, 2011.

69 ERCILA, Maria; GRAEFF, Antonio. A Internet. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 46.

70 Por meio da Portaria nº. 148, de 31/05/05, do Ministério das Comunicações, foi aprovada a Norma

n. 4/95, que regulou o uso da Rede Pública de Telecomunicações para acesso à Internet, possibilitando aos provedores e usuários a utilização de serviços de conexão à Internet, marcando o nascimento comercial no Brasil.

ferramenta para os mais variados setores da sociedade, conforme se destaca a seguir:

[...] 1.4 A participação das empresas e órgãos públicos no provimento de serviços Internet dar-se-á de forma complementar à participação da iniciativa privada, e limitar-se-á às situações em que seja necessária a presença do setor público para estimular ou induzir o surgimento de provedores e usuários;

[...]

3.2 Visando estimular o desenvolvimento da Internet no Brasil, será permitido aos provedores comerciais conectarem-se à RNP. Nesta situação a função da RNP será interligar redes regionais, estaduais ou metropolitanas, dando suporte ao tráfego de natureza acadêmica, comercial ou mista;

[...]

4.4 Considerando que a prestação de serviços Internet a usuários finais vem sendo realizada pela Embratel, em regime de projeto piloto, esta manterá o serviço até o final do ano, limitando-o às senhas distribuídas até esta data [...].

A partir do acesso à Internet pelo setor privado, possibilitando sua exploração comercial, o número de computadores brasileiros conectados à Rede aumentou extraordinariamente, coincidindo com a fase de grande difusão da Internet no mundo. Em 1995, já existiam mais de 20 provedores de acesso à Internet no Brasil. Começam a surgir alguns serviços disponíveis para consulta on-line, como a previsão do tempo e acompanhamento da Bolsa de Valores.

Nesse mesmo ano, foi publicada a Portaria Interministerial nº 147, que instituiu o Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br), com o objetivo de fomentar o desenvolvimento da Internet no país e auxiliar a regulação do sistema no ordenamento jurídico brasileiro. Este órgão, que existe até hoje, é encarregado de elaborar programas e projetos voltados à inovação e à implantação da Internet no Brasil. Suas funções básicas incluem estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, registro de nomes de domínio, alocação de endereços IP (Internet Protocol) e administração pertinente ao domínio de primeiro nível ".br". O CGI também promove estudos e recomenda procedimentos para a segurança da Internet e propõe programas de pesquisa e

desenvolvimento que permitem a manutenção do nível de qualidade técnica e

inovação no uso da Internet.71

Em meados de 1995, a Internet já tinha integrantes do setor empresarial no Brasil e novos domínios eram solicitados a todo instante. Entretanto, o grande boom da rede aconteceu ao longo do ano de 1996, principalmente em razão de sua expansão no setor privado e abertura para serviços de natureza comercial, surgindo, assim, os novos provedores de acesso comercial. Ocorre que, nessa época, o Brasil não tinha

uma infraestrutura suficiente para atender à demanda dos novos provedores de

acesso comercial e, principalmente, dos seus usuários. Foi, então, que a Embratel decidiu implementar a maior infraestrutura de backbone Internet da América Latina, fazendo decolar de vez o desenvolvimento da Internet no Brasil.

Diante desse avanço tecnológico, a Internet comercial brasileira cresceu rapidamente, não só em volume de tráfego, mas também em número de usuários e transações realizadas no comércio eletrônico. Surgiram diversas lojas virtuais, portais de conteúdo e programas de busca no cenário brasileiro virtual. Nomes como

Booknet, Universo On Line (UOL), Brasil On Line (BOL), Cadê?, entre muitos outros,

colocaram a Internet nas páginas de jornais, de revistas e em programas de televisão, atraindo, cada vez mais, consumidores que possuíam acesso aos

computadores72.

A partir de 1997, já foi possível entregar a declaração de Imposto de Renda pela Internet, diversos bancos, lojas e empresas já possuíam sites para transmitir informação e interagir com os consumidores. Em 1998, foram contabilizados 1,8 milhão de brasileiros que usavam a Internet no país somente nas nove principais cidades brasileiras, surge o primeiro serviço de acesso via rádio e o primeiro via

cable modem. As transformações resultantes do uso da Internet nas diversas

atividades do cotidiano não param de se manifestar.73

71 COMITÊ Gestor da Internet do Brasil (CGI.br). Sobre o CGI.br Disponível em:

<http://www.cgi.br/sobre/>. Acesso em: 15 jan. 2015.

72 CARVALHO, Marcelo Sávio Revoredo Menezes de. A trajetória da Internet no Brasil: do

surgimento das redes de computadores à instituição dos mecanismos de governança. 2006. 239 folhas. Dissertação (Mestrado em Ciências de Engenharia de Sistemas e Computação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006, p. 144.

Com a descoberta desse mundo digital conectado em rede e que proporciona uma interação nunca vivenciada antes, a Internet decola no Brasil em um ritmo avassalador no final da década de 1990. Os usuários se multiplicam dia a dia, o capital internacional começa a se interessar pelo marcado brasileiro, os provedores disponibilizam e-mails gratuitos, surgem os serviços de busca on-line e tantos outros serviços são oferecidos na Internet que o Brasil ganha logo destaque entre os países com grande número de usuários da Rede.

O ano de 1999 encontra o país tomado pela febre da Internet. [...] A Internet está em toda a parte: outdoors, campanhas de TV, revistas e jornais. O Brasil já é o sexto país do mundo em número de usuários da Internet. Estréiam sites de leilões, portais verticais e filiais de multinacionais num ritmo muito veloz. [...] Segundo pesquisa Datafolha, o número de usuários da Internet no Brasil atinge 7,6 milhões.74

Com o crescimento da Internet no Brasil, os processos de troca foram facilitados, fazendo com que empresas, pessoas, governos e demais entes conectados a essa Rede, pudessem obter informações, adquirir serviços ou produtos sem sair de casa

ou do escritório, alterando drasticamente as relações socioeconômicas no país.75

No século XXI, a Internet não para de crescer no Brasil. As mais variadas ferramentas digitais utilizadas em outros países também passam a ser aproveitadas no Brasil. Em 2004, a rede social Orkut se disseminou entre os internautas brasileiros; em 2005, o Google abre seu escritório no país; em 2006, o Governo Brasileiro edita a Lei Federal n. 11.419 que informatizou o processo judicial no país, representando um grande avanço tecnológico para o judiciário brasileiro. Já no ano de 2008, a rede social Facebook começa a fazer grande sucesso no Brasil e rapidamente se torna a grande atração da comunicação digital entre os brasileiros, atingindo o número de 92 milhões de pessoas que acessaram a plataforma todo o mês no país em 2014, o que corresponde a 45% de toda a população brasileira, destacando-se ainda o número de 2,1 milhões de pequenas e médias empresas que

74 ERCILA, Maria; GRAEFF, Antonio. A Internet. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 49 e 104.

75 LIMA, Eduardo Weiss Martins de. Proteção do consumidor brasileiro no comércio eletrônico

anunciaram seus produtos e serviços na plataforma para impulsionar seus negócios

em 201476.

Com o objetivo de coordenar e integrar as atividades realizadas na Internet em âmbito brasileiro existe o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), conforme exposto acima, o qual hoje conta com várias subdivisões responsáveis por demandas específicas. As ações do CGI.br são baseadas em um modelo multissetorial de governança da Internet, do qual participam membros da sociedade civil entre representantes do terceiro setor, da comunidade acadêmica, do segmento empresarial e um representante de notório saber em assuntos de Internet, bem como integrantes do governo.

O Brasil também conta com o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), uma entidade civil e sem fins lucrativos, responsável por implementar as decisões e projetos do CGI.br e dentre suas atribuições estão: o registro e a manutenção dos nomes de domínios que usam o “.br” por meio do departamento denominado Registro.br; o tratamento e resposta a incidentes de segurança em computadores envolvendo redes conectadas à Internet no Brasil, atividades do CERT.br; projetos que apoiem ou aperfeiçoem a infraestrutura de redes no país, que ficam a cargo do CEPTRO.br; a produção e divulgação de indicadores, estatísticas e informações estratégicas sobre o desenvolvimento da Internet no Brasil, sob responsabilidade do CETIC.br; promover estudos e recomendar procedimentos, normas e padrões técnicos e operacionais, para a segurança das redes e serviços de Internet, assim como, para a sua crescente e adequada utilização pela sociedade; viabilizar a participação da comunidade brasileira no desenvolvimento global da Web, atividade desenvolvida pelo Ceweb.br; hospedar o Escritório brasileiro do W3C (World Wide Web Consortium), que tem como principal atribuição desenvolver protocolos e diretrizes para garantir o crescimento da Web em longo prazo. O escritório do W3C no Brasil promove atividades locais articuladas junto a universidades, órgãos governamentais, empresas, centros de pesquisa,

76 45% da população brasileira acessa o Facebook mensalmente. Disponível em

https://www.facebook.com/business/news/BR-45-da-populacao-brasileira-acessa-o-Facebook-pelo- menos-uma-vez-ao-mes. Acesso em: 21 out. 2015.

comunidades de desenvolvedores, usuários e interessados em temas referentes ao uso e desenvolvimento de tecnologias Web.

Nesse contexto da revolução da tecnologia e predomínio do uso da Internet nos mais diversos setores da vida social, o governo brasileiro vem desenvolvendo ações para promover a universalização do acesso e o uso crescente dos meios eletrônicos de informação, na medida em que reconhece que a sociedade brasileira está definitivamente inserida na era da tecnologia da informação, dominada pela

Internet77. Assim, também surge a necessidade de aprimoramento do pensamento

jurídico em torno das atividades dominadas pela Internet.

A criação de uma consciência do consumidor e a entrada da Internet nas residências foram essenciais para que pudéssemos construir um pensamento jurídico sustentável, com base em padrões de conduta vivenciados na experiência de problemas práticos e de soluções que já vêm sendo aplicadas, algumas boas e outras a serem ainda aperfeiçoadas.78 No Brasil, atualmente, 57,6% de sua população tem acesso à Internet, o que representa cerca de 117.6 milhões de usuários. Se compararmos os anos de 2000, quando tínhamos cerca de 5 milhões de usuários, e 2015, notamos um aumento exponencial, de aproximadamente 2.253% do número de pessoas com acesso à

Internet no país.79

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 (PBM 2015)80, o hábito de uso da

Internet tem se intensificado constantemente. Dentre a população com acesso à Internet no país, 76% acessam a Rede todos os dias e ficam conectados, em média, 4h59min por dia durante a semana e 4h24min nos finais de semana, valores superiores aos obtidos pela televisão. Mais do que as diferenças regionais, são a escolaridade e a idade dos entrevistados os fatores que impulsionam a frequência e a intensidade do uso da Internet no Brasil.

77 KLEE, Antonia Espíndola Longoni. Comércio eletrônico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014,

p. 39.

78 PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 2.

79 INTERNET world stats. Top 20 countries with the highest number of internet users. 30 jun.

2015. Disponível em: <http://www.internetworldstats.com/top20.htm>. Acesso em: 20 out. 2015.

80 BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação social. Pesquisa Brasileira de

Mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. 2015. Disponível em:

<http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de- contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf >. Acesso em: 20 out. 2015.

Considerando o recorte por escolaridade, a pesquisa mostra que 87% dos respondentes com ensino superior acessam a Internet pelo menos uma vez por semana, enquanto apenas 8% dos entrevistados que estudaram até 4ª série o fazem com a mesma frequência. Tendo por base a idade dos entrevistados, os dados mostram que 65% dos jovens na faixa de 16 a 25 se conectam todos os dias. Entre os que têm acima de 65 anos, esse percentual cai para 4%. Considerando os motivos que impulsionam o uso da Internet, os resultados apontam que os internautas estão em busca, principalmente, de informações (67%), diversão e entretenimento (67%), de uma forma de passar o tempo livre (38%) e de estudo e aprendizagem (24%).

Por fim, a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 mostra que o uso de aparelhos celulares como forma de acesso à Internet vem se destacando como uns dos principais canais de acesso, representando 66% dos usuários, e já compete com o acesso por meio de computadores ou notebooks, que atinge o número de 71% dos usuários. Com relação ao uso das redes sociais entre os internautas brasileiros, conclui-se que as mais utilizadas são o Facebook (83%), o Whatsapp (58%), o Youtube (17%), o Instagram (12%).

Portanto, é notório o avanço do acesso e a utilização da Internet pela população brasileira e a importância dessa ferramenta para o desenvolvimento dos mais diversos setores da economia, impactando diretamente na forma de consumo e impulsionando o crescimento do comércio eletrônico, conforme veremos no próximo capítulo deste trabalho.

2 COMÉRCIO ELETRÔNICO

O desenvolvimento da Internet e as consequentes facilidades trazidas para a comunicação, agora realizadas no espaço virtual, impactaram sobremaneira os negócios jurídicos e fomentaram o surgimento do denominado comércio eletrônico, também conhecido como e-commerce.

2.1 DEFINIÇÃO E FORMAS DE CONTRATAÇÃO NO COMÉRCIO