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Relatório de estágio: Kvalitext - Serviços de Tradução, Lda.

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Academic year: 2021

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MESTRADO EM TRADUÇÃO E SERVIÇOS LINGUÍSTICOS TRADUÇÃO ESPECIALIZADA

Relatório de estágio: Kvalitext

– Serviços

de Tradução, Lda.

Ana Filipa Fernandes Pereira

M

(2)

Ana Filipa Fernandes Pereira

Relatório de estágio: Kvalitext – Serviços de Tradução, Lda.

Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos, orientado pela Professora Doutora Maria Alexandra Guedes Pinto

Supervisor de Estágio na empresa, Ângela Nogueira

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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Relatório de estágio: Kvalitext – Serviços de Tradução, Lda.

Ana Filipa Fernandes Pereira

Relatório realizado no âmbito do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos, orientado pela Professora Doutora Maria Alexandra Guedes Pinto

Membros do Júri

Professor Doutor Thomas Hüsgen Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Alexandra Guedes Pinto Faculdade de Letras - Universidade do Porto

Professora Doutora Joana Guimarães Faculdade de Letras - Universidade do Porto

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“Insist on yourself; never imitate. Your own gift you can present every moment with the cumulative force of a whole life's cultivation; but of the adopted talent of another you have only an extemporaneous half possession. That which each can do best, none but his Maker can teach him.”

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Sumário

Agradecimentos ... vi Resumo ... vii Abstract ... viii Índice de ilustrações ... ix Índice de tabelas ... x

Lista de abreviaturas e siglas ... xi

Glossário ... xii

Introdução ... 1

Capítulo 1 – Apresentação da empresa acolhedora ... 2

1.1. Missão, Visão e Valores ... 2

1.2. Especializações e tipos de textos traduzidos ... 3

1.3. Organização e instalações ... 5

Capítulo 2 – Descrição do estágio ... 8

2.1. Duração do estágio ... 8

2.2. Tipos de trabalhos realizados ... 9

2.3. Apreciação global do estágio ... 12

2.4. Considerações sobre os manuais de instruções ... 14

Capítulo 3 – Gestão de projetos, CAT-tools e garantia de qualidade ... 23

3.1. Gestão de projetos ... 23 3.1.2. Project Open ... 26 3.2. CAT-tools ... 29 3.2.1. SDL Trados Studio ... 31 3.2.2. memoQ ... 33 3.2.3. Wordbee ... 35 3.2.4. SDL Passolo ... 37 3.3. Controlo de qualidade ... 39 3.3.1. Xbench ... 42 3.3.2. FLiP ... 43

Capítulo 4 – Tradução: análise de casos práticos ... 45

4.1. Instruções do cliente ... 45

4.2. Qualidade do texto de partida ... 52

4.3. Influência do texto de partida ... 58

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4.5. Terminologia ... 63 4.5.1. Vazio terminológico... 65 4.5.2. Polissemia terminológica ... 69 4.5.3. Empréstimos ... 70 4.5.4. Tradução de palavras-sinal ... 74 4.6. Registo de língua ... 77 Considerações finais ... 80 Referências bibliográficas ... 83 Anexos ... 86

Anexo 1 – Lista de projetos realizados ... 86

Anexo 2 – Plano de estágio ... 88

Anexo 3 – Documento de avaliação do estágio curricular ... 90

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Agradecimentos

Antes de tudo, gostaria de agradecer à Professora Doutora Alexandra Guedes Pinto, cuja orientação, disponibilidade e dedicação foram essenciais para a conclusão do meu percurso na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Muito obrigada por tudo o que me ensinou e por ter exigido sempre o melhor de mim.

Gostaria também de agradecer a todos os elementos da Kvalitext, com quem bastante aprendi. Um agradecimento especial às administradoras Joana Pinto e Mónica Silva, pela oportunidade de estágio e de aprendizagem, e à minha orientadora na empresa, Ângela Nogueira, pela sua simpatia e paciência incansável.

Muito obrigada a todos os meus amigos que desde sempre me acompanharam e apoiaram. Um agradecimento especial às minhas amigas de Aveiro, que comigo iniciaram a aventura no ensino superior, tornando-a única, e, mesmo longe, estiveram sempre muito perto.

Por fim, ao José, por todo o companheirismo e apoio e, claro, aos meus pais, que sempre apoiaram as minhas decisões e cujo orgulho em mim me inspirou a ir mais longe.

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Resumo

O presente relatório visa apresentar e refletir sobre o trabalho efetuado no decorrer do estágio curricular realizado na empresa Kvalitext – Serviços de Tradução, Lda., no âmbito do Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos. O seu principal objetivo será abordar a transição do mundo académico para o mercado de trabalho da tradução, compreender o ciclo de vida de um projeto de tradução em ambiente de empresa e refletir sobre o processo tradutivo através da análise de excertos de traduções realizadas.

Para além de descrever a empresa acolhedora, o estágio e as tarefas aí realizadas, este relatório aborda também a importância da gestão de projetos, das ferramentas de apoio à tradução e dos processos de garantia de qualidade; as características e desafios da tradução técnica e, por fim, as teorias e conceitos de tradução que forneceram uma valiosa base teórica para todo o trabalho desenvolvido ao longo do estágio.

Palavras-chave: relatório de estágio, tradução, textos técnicos, teorias da tradução,

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Abstract

This report seeks to present and reflect on the work carried out during the internship that took place at Kvalitext – Serviços de Tradução, Lda., as part of the Master’s Degree in Translation and Language Services. Its main objective is to address the transition from the academic world to the labour market of translation, to understand the life cycle of a translation project in a translation company and to reflect about the translation process through the study of some translations excerpts.

Besides describing the company, the internship and the tasks developed there, the report also approaches the significance of project managing, computer-assisted tools for translating and quality assurance process; the characteristics and challenges of technical translation and the translation theories and concepts that provided an important theoretical foundation for all the work carried out during the internship.

Keywords: internship report, translation, technical texts, translation theories, project

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Índice de ilustrações

Figura 1: Organigrama organizacional da Kvalitext. ... 6

Figura 2: Número de palavras traduzidas por mês. ... 9

Figura 3: Número de projetos realizados por par de línguas. ... 10

Figura 4: Número de projetos realizados por área temática. ... 11

Figura 5: Número de projetos realizados por género textual. ... 11

Figura 6: Visualização do separador “Projects” no Project Open. ... 27

Figura 7: CAT-tools utilizadas. ... 31

Figura 8: Exibição dos resultados da TM no Studio. ... 32

Figura 9: Texto entre tags no memoQ. ... 34

Figura 10: Tags do memoQ contendo informação textual. ... 34

Figura 11: Interface do Wordbee. ... 35

Figura 12: Exemplo de sugestões de tradução do Wordbee. ... 36

Figura 13: Interface do SDL Passolo. ... 38

Figura 14: Identificação da ausência do símbolo ™ no target. ... 42

Figura 15: Exemplos de erros falsos assinalados pelo Xbench. ... 42

Figura 16: Identificação da seleção errada do particípio passado do verbo “imprimir” no FLiP. ... 43

Figura 17: Tipos de instruções fornecidas pelos clientes. ... 47

Figura 18: Cânula de fluxo oral e nasal. ... 65

Figura 19: Componentes de uma cânula. ... 66

Figura 20: Captura de ecrã da pré-visualização do livro Fundamentos de Enfermagem no Google Books. ... 68

Figura 21: Definição de “bateria”, segundo a Infopédia. ... 69

Figura 22: Definição de “pilha”, segundo a Infopédia. ... 69

Figura 23: Mensagens de alerta de um manual de instruções. ... 74

Figura 24: Número de entradas nas páginas de Portugal do Google para o trio de termos “perigo aviso atenção”. ... 76

Figura 25: Número de entradas nas páginas de Portugal do Google para o trio de termos “perigo aviso cuidado”. ... 76

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Índice de tabelas

Tabela 1: Exemplos de sequências textuais presentes nos manuais de instruções. ... 17

Tabela 2: Modalidade expressa pelos atos ilocutórios. ... 19

Tabela 3: Mecanismos linguísticos presentes nos manuais de instruções. ... 19

Tabela 4: Ciclo de vida de um projeto de tradução na Kvalitext. ... 24

Tabela 5: Incertezas causadas por strings descontextualizados. ... 49

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Lista de abreviaturas e siglas

EN – Inglês ES – Espanhol

FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto LM – Linguistic Manager (gestor de qualidade)

MTSL – Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos PM – Project Manager (gestor de projetos)

PMBOK – Project Management Body of Knowledge PMI – Project Management Institute

PO – Project Open

PT_BR – Português do Brasil PT_PT – Português europeu

QA – Quality Assurance (garantia de qualidade) TB – Term base (base de dados)

TCh – Texto de chegada

TM – Translation memory (memória de tradução) TP – Texto de partida

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Glossário

Full match – correspondência de 100% entre o segmento a traduzir e o segmento presente

na memória de tradução

Fuzzy (match) – correspondência de 99% a 70% entre o segmento a traduzir e o segmento

presente na memória de tradução

Kit de tradução – documentos disponibilizados ao tradutor para levar a cabo a tradução,

que, para além do texto a traduzir, podem incluir documentos de referência, memórias de tradução, bases de dados, glossário etc.

Package – documento zipado do SDL Trados Studio que inclui os documentos a serem

traduzidos nessa mesma CAT-tool

Query (sheet) – documento entregue ao cliente (pelo gestor de projetos) com questões do

revisor/tradutor relativas a um dado projeto desse cliente

Return package – documento zipado produzido no SDL Trados Studio pelo tradutor ou

pelo revisor no final da tradução ou da revisão, respetivamente

Source – área que, numa CAT-tool, se destina à digitação do texto de chegada

Tag – etiquetas com informações relativas à formatação do texto

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Introdução

Desde o momento em que ingressei no Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos (MTSL), o meu objetivo final era realizar um estágio curricular numa empresa de tradução. Desde o meu ponto de vista, o estágio e a redação do relatório sobre o trabalho desenvolvido estabelecem uma união entre os conhecimentos teóricos adquiridos no MTSL e os conhecimentos práticos aprofundados e/ou adquiridos numa empresa de tradução. Daniel Gouadec afirma, inclusivamente, que “professional translation has nothing to do with the academic exercise of ‘translation’” (Gouadec, 2007: 3), sendo um facto que as circunstâncias nas quais se realizam a tradução académica e a tradução profissional são algo diferentes, sendo o contexto académico mais relaxado e, na maior parte das vezes, não implicando a publicação das traduções efetuadas pelos alunos, facto que torna mais difícil preparar os estudantes de tradução para a realidade, a exigência e a responsabilidade da sua profissão.

É neste contexto que surge o presente relatório, elaborado sob a orientação da Professora Doutora Alexandra Guedes Pinto, no qual reflito sobre os conhecimentos adquiridos no MTSL e descrevo e avalio alguns dos aspetos mais relevantes do estágio curricular realizado na empresa Kvalitext – Serviços de Tradução, Lda., que teve início no dia 15 de janeiro de 2018 e fim no dia 27 de abril do mesmo ano. Durante esses três meses e meio, as principais tarefas realizadas envolveram a tradução e a localização de textos de inglês para português europeu, sob a orientação da Linguistic Manager (LM) da empresa, Ângela Nogueira.

Em primeiro lugar, efetuar-se-á a apresentação da empresa de estágio, e, em seguida, realizar-se-á uma descrição do mesmo. Depois, abordar-se-á a importância da gestão de projetos, das ferramentas de apoio à tradução e dos processos de garantia de qualidade. Seguidamente, serão avaliados excertos de traduções realizadas, com ênfase na tradução de textos técnicos, pondo em evidência as dificuldades encontradas e, sempre que possível, justificando as decisões tomadas com base em teorias apreendidas durante o mestrado. Por fim, apresentar-se-á um inquérito lançado a vários elementos ligados ao mundo da tradução, que servirá como base para uma reflexão sobre a formação e a profissão do tradutor.

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Capítulo 1 – Apresentação da empresa acolhedora

1.1. Missão, Visão e Valores1

A Kvalitext – Serviços de Tradução, Lda. é uma empresa de tradução sediada em Espinho e fundada em 2008 por Mónica Silva e Joana Pinto, que ocupam o cargo de administradoras.

A missão da empresa é disponibilizar, quer ao mercado nacional, quer ao internacional, serviços de tradução profissionais de qualidade, para que os clientes da empresa possam promover os seus produtos e serviços num número de mercados alargado, ultrapassando barreiras culturais e linguísticas. Assim, a visão da empresa passa pela aposta numa equipa de tradutores profissional e devidamente formada e pela contínua melhoria dos recursos e das ferramentas de tradução, de forma a cumprir os requisitos dos clientes.

Nesta linha de pensamento, a Kvalitext define os seguintes valores como essenciais para o desenvolvimento da empresa:

• Espírito de equipa – promoção de um espírito de entreajuda e de partilha de conhecimentos;

• Proatividade – autonomia do tradutor e capacidade de identificação das necessidades do cliente;

• Orientação para o mercado – identificação das necessidades do mercado e dos clientes, para fidelização dos mesmos;

• Criação de valor – insistência na contínua formação dos tradutores e em rigorosos padrões de qualidade para satisfação do cliente.

Adicionalmente, a Kvalitext foi a primeira empresa de tradução em Portugal a obter, em 2010, a certificação EN 15038 que, em finais de 2015, se transformou na norma ISO 17100: 2015 (certificação renovada por uma auditoria realizada aquando das primeiras semanas de estágio), que especifica os requisitos organizacionais, profissionais

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e de qualidade que os prestadores de serviços de tradução deverão seguir, bem como os processos inerentes ao workflow tradutivo. Segundo as disposições da norma,

(…) translation is just one of the steps of the process and does not guarantee quality if no revision by a second translator is carried out, as well as the precise definition of the professional abilities of each of the participants in the translation process, principally the translators, revisers and translation project managers.2

Por outras palavras, a qualidade da tradução não é apenas definida pela tradução propriamente dita, mas também por todos os processos anteriores e posteriores a esta e pelas habilitações de todos os intervenientes (gestores de projetos, tradutores e revisores). Pela minha experiência na Kvalitext, e por todas as informações presentes neste relatório de estágio, torna-se visível a conformidade da empresa com a referida norma ISO, que não só otimiza o workflow tradutivo, mas também confere uma imagem mais profissional e transparente da empresa e dos seus processos.

1.2. Especializações e tipos de textos traduzidos

Desde 2008 que a Kvalitext tem vindo a orientar os seus serviços para a tradução, localização e revisão de conteúdos de áreas técnicas e científicas. Desta forma, muitos projetos estão relacionados com a área da saúde e da medicina, mais concretamente, com dispositivos médicos e documentação destinada a profissionais de saúde, ou com a tradução técnica de manuais de instruções do setor industrial. Para além destas duas grandes áreas, destacam-se ainda as áreas da tradução jurídica e da tradução de textos de

marketing, entre outras.

As línguas estrangeiras dos colaboradores in-house são o inglês, o espanhol, o alemão e o francês, pelo que estas são as línguas de partida de grande parte dos projetos realizados na empresa, que têm como língua de chegada o português europeu e/ou o português do Brasil. A adaptação linguística do português europeu ao português do Brasil (e vice-versa) representa, aliás, outro serviço da Kvalitext, que conta com dois colaboradores brasileiros. Esta adaptação linguística pressupõe não só uma adaptação

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gramatical e sintática, mas também a adaptação terminológica a cada público-alvo (português ou brasileiro) e às suas especificidades culturais.

A tradução automática e a pós-edição são também uma aposta recente da empresa, um serviço pensado para responder às exigências dos projetos mais volumosos e com um prazo de entrega mais curto. A empresa conta com um motor de tradução automática interno, cujas propostas de tradução são cuidadosamente analisadas por um pós-editor de forma a garantir que o produto final se adapta aos requisitos de qualidade da empresa e aos critérios do cliente.

Finalmente, é também interessante referir que os tradutores da Kvalitext, de forma geral, não se especializam em determinas áreas de tradução, mas sim em determinados clientes, ou seja, sempre que possível, todos os projetos de um mesmo cliente são atribuídos ao(s) mesmo(s) tradutor(es). Esta é uma prática recorrente na empresa e bastante lógica, uma vez que:

• Cada cliente estabelece instruções gerais (e às vezes bastante extensivas) a serem aplicadas a todos os seus projetos;

• Cada cliente tem uma terminologia específica; • Muitos clientes possuem guias de estilo individuais3;

• Alguns clientes enviam os seus projetos em CAT-tools menos usuais (como em Wordbee ou XTM);

• Certos projetos envolvem apenas a tradução de novos segmentos ou a adaptação ortográfica de segmentos anteriormente traduzidos pelo tradutor (concretamente, adaptações à grafia pós-Acordo Ortográfico).

Tendo em conta que os Translators e os Senior Translators têm um volume de trabalho mais elevado e participam simultaneamente em vários projetos, por vezes torna-se difícil ter presente as instruções específicas e as preferências terminológicas de cada cliente. Portanto, dentro do possível, é certamente mais rentável e benéfico ter um tradutor especializado num número definido de clientes e familiarizado com os procedimentos, instruções, terminologia e CAT-tools específicas desse cliente.

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1.3. Organização e instalações

Na Kvalitext equilibram-se dois valores muito importantes para um desenvolvimento bem-sucedido e conclusão de um projeto de tradução: espírito de equipa e proatividade. Assim, cada colaborador deverá compreender as suas funções e responsabilidades. Afinal de contas, uma clara distribuição de tarefas promove autonomia, responsabilidade e celeridade.

No momento do estágio, a Kvalitext contava com os seguintes recursos humanos4: • Duas Administradoras, encarregadas da gestão e controlo a empresa, focando-se essencialmente nas áreas de marketing, recursos humanos, finanças, qualidade e gestão das operações internas;

• Um IT Manager, responsável pelo desenvolvimento, manutenção e atualização de todo o sistema informático, bem como pela resolução de eventuais problemas;

• Duas Project Managers (PM), responsáveis pelo atendimento, apoio e satisfação do cliente, um papel que será aprofundado no ponto 3.1.;

• Duas Linguistic Managers, responsáveis não só pela tradução e revisão de textos, mas também pelo controlo, harmonização e atualização da terminologia, bem como pela garantia de qualidade; além disto, este departamento é também responsável por ações de formação e pelo acolhimento e acompanhamento de novos colaboradores e estagiários, como foi o caso;

• Cinco Senior Translators, intervenientes em projetos de maior extensão e/ou complexidade (espera-se que sejam capazes de traduzir 3500 palavras por dia) e responsáveis pela revisão e projetos de pós-edição;

• Nove Translators, intervenientes em traduções de textos de diferentes volumes e complexidades (espera-se que sejam capazes de traduzir 2500 palavras por dia), efetuando, ocasionalmente, tarefas de revisão;

• Três Assistant Translators, cargo desempenhado pelos estagiários, que traduzem textos de caráter mais geral e pouco complexos; espera-se que um

Assistant Translator seja capaz de traduzir 2000 palavras por dia e que, ao

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longo do seu estágio, aumente progressivamente essa média; • Tradutores freelance.

Desde o primeiro dia de estágio, a administração e as LM tornaram clara a máxima da empresa: comunicar, comunicar, comunicar. Na Kvalitext, o trabalho em equipa e a cooperação são encarados como fatores determinantes para o sucesso e o desenvolvimento da empresa e dos seus colaboradores, pelo que os estagiários são encorajados a dirigir todas as suas dúvidas a qualquer elemento da equipa, especialmente às LM e aos Senior Translators, que sempre se mostraram acessíveis e prontos para responder a todas as questões, por mais ocupados que estivessem.

Mensalmente, são realizadas reuniões entre os tradutores e a administração, onde os colaboradores fazem um balanço do mês de trabalho, compartilhando dificuldades e formas encontradas para as contornar, dúvidas em relação a certos procedimentos internos e sugestões para melhorar o fluxo de trabalho. Esta iniciativa parece-me bastante importante, atendendo principalmente ao número de colaboradores e à exigência e rigor

Administração Departamento de TI Departamento de Gestão de Projetos Project Manager Departamento Operacional Senior Translator Translator Assistant Translator Freelancer Departamento de Qualidade Linguistic Manager

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de certos clientes. Se os colaboradores sentirem que, na prática, há certos procedimentos que não funcionam ou que deveriam ser melhorados, é muito gratificante que a sua opinião seja ouvida e que, consequentemente, se implementem mudanças para possibilitar a sua rentabilidade e melhorar o ciclo de vida de um projeto. Logo, a comunicação e a cooperação entre todos os colaboradores são fatores importantes para a prosperidade de qualquer empresa.

Nos seus quase dez anos de atividade, a Kvalitext tem vindo a crescer de forma constante, expandindo as suas instalações e alargando a sua equipa de tradução. Atualmente, as instalações da empresa estendem-se por dois pisos: um inferior, no qual se localizam a sala de reuniões e um espaço de convívio, onde os colaboradores realizam as suas pausas e descontraem; e outro superior, onde se encontram as estações de trabalho dos colaboradores, que se encontram agrupadas por “ilhas de idiomas”. De forma a promover a interajuda entre os tradutores que partilham as mesmas línguas de trabalho (para além do inglês, comum a todos os colaboradores), existe uma ilha dedicada ao alemão, duas ao espanhol e, outra, ao francês, o que garante um apoio constante entre tradutores e revisores.

Cada estação de trabalho encontra-se equipada com cadeiras ergonómicas e, além disso, é possível requisitar apoios para mãos, costas e pés, comodidades essenciais para o tradutor, que ajudam a prevenir eventuais mazelas provocadas por gestos repetitivos e má postura. Em suma, torna-se evidente que os colaboradores e a administração se esforçam para criar um ambiente cómodo e agradável que promova a concentração e o bem-estar, ambos essenciais para o bom desempenho do tradutor.

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Capítulo 2 – Descrição do estágio

2.1. Duração do estágio

O estágio curricular realizado na Kvalitext teve uma duração de três meses e duas semanas, com inicio a 15 de janeiro de 2018 e fim a 27 de abril do mesmo ano, num regime de oito horas diárias. Pela primeira vez, a empresa acolheu simultaneamente três estagiárias e, desta forma, pude contar com a companhia de uma colega do MTSL e de uma outra colega oriunda do Mestrado em Tradução Especializada da Universidade de Aveiro.

Segundo o plano de estágio redigido pela empresa (cf. Anexo 2), o estágio curricular tem como objetivo a adaptação do estagiário ao mundo da tradução profissional e a sua formação no que diz respeito aos procedimentos e exigência de uma empresa de tradução. Ocupando o cargo de Assistant Translator, os objetivos a atingir seriam, numa primeira fase, a consolidação e o aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos em contexto académico, a familiarização com algumas CAT-tools e a tradução (e autorrevisão) de uma média diária de 2000 palavras de textos pouco complexos. Numa segunda fase, em virtude da adaptação ao workflow da empresa e à experiência adquirida, espera-se que o estagiário tenha desenvolvido boas e metódicas capacidades de busca de informação; que domine, pelo menos, uma CAT-tool de tradução e uma outra de QA e que, portanto, seja capaz de traduzir uma média diária de 2500 palavras de textos de áreas de conhecimento mais específicas e complexas.

Com o acompanhamento das LM, a primeira semana de estágio foi dedicada à integração das estagiárias na Kvalitext e à familiarização com os seus processos. Assim, tive acesso à documentação da empresa relativa aos respetivos procedimentos internos e organização, ao guia de estilo e aos manuais de instruções de todas as CAT-tools utilizadas na Kvalitext e adaptados aos procedimentos da empresa. Para além disso, as LM forneceram traduções e revisões de projetos anteriores para que, por um lado, nos familiarizássemos com as áreas de conhecimento mais trabalhadas na empresa e com alguma terminologia geral a elas associada e, por outro, para que tivéssemos consciência das exigências de qualidade da empresa.

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Em suma, o estágio curricular na Kvalitext promoveu a consolidação, na prática e no mundo da tradução profissional, dos conhecimentos teóricos adquiridos durante a formação académica. Adicionalmente, ao longo dos três meses e meio de estágio pude também tornar-me mais autónoma e familiarizar-me com áreas mais especializadas da tradução, bem como entender as exigências do mercado de tradução, competências e conhecimentos adquiridos satisfatoriamente graças à minha experiência diária na empresa.

2.2. Tipos de trabalhos realizados

O trabalho realizado ao longo das 19 semanas de estágio curricular foi exclusivamente constituído por tarefas de tradução e de localização. No total, foram realizados 34 projetos (cf. Anexo 1) e traduzidas aproximadamente 106 650 palavras, distribuídas ao longo dos meses de estágio da forma seguinte:

Os pares de línguas com os quais trabalhei foram Inglês–Português europeu (EN→PT_PT), Inglês–Português do Brasil (EN→PT_BR) e Espanhol–Português europeu (ES→PT_PT). O primeiro par foi bastante prevalente na maior parte dos projetos

12 050 38 360 38 340 17 900 0 5 000 10 000 15 000 20 000 25 000 30 000 35 000 40 000 45 000

Janeiro (2 semanas) Fevereiro Março Abril

N.º de palavras traduzidas por mês

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efetuados, conforme se pode verificar na figura 3, representando 94% de todo o trabalho desenvolvido. No entanto, foi com o par de línguas ES→PT_PT que se efetuou o projeto com o maior volume de palavras: 17 000 no total.

A predominância do inglês como língua de partida pode ser explicada pelo facto de a maioria dos textos traduzidos durante o estágio se encontrar inserida na área da tradução médica (35%) ou na área da tradução técnica (26%), onde o inglês é o idioma privilegiado para a comunicação especializada. Estas são as duas grandes áreas de especialização da empresa, sendo que os projetos da primeira englobavam a tradução de manuais de instruções de equipamentos, de materiais médicos, de dispositivo de rastreio de patologias, entre outros; e a localização de softwares de aparelhos médicos. Nestes projetos prevalecia a terminologia médica que obrigava a uma pesquisa mais aprofundada e cuidada, uma vez que tais documentos se destinavam a especialistas da área, ou seja, profissionais de saúde. Já a segunda área englobava a tradução de manuais de instruções de máquinas industriais e agrícolas, entre outras, o que exigia uma compreensão do funcionamento e das funcionalidades das mesmas.

Para além das áreas técnica e médica, tive também a oportunidade de trabalhar em projetos de marketing, de informática, do setor automóvel, projetos jurídicos e didáticos,

32 (94%) 1 (3%) 1 (3%)

N.º de projetos realizados por par de línguas

EN→PT_PT EN→PT_BR ES→PT_PT

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o que, por sua vez, me permitiu traduzir uma grande variedade de géneros textuais5, como podemos verificar nos gráficos abaixo.

5 Proposta de subclassificação de tipos de texto utilizada na Kvalitext.

12 (35%) 9 (26%) 6 (18%) 4 (12%) 2 (6%) 1 (3%) Áreas temáticas

Medicina Técnica Marketing Informática Didática Jurídica

15 (44%) 7 (20%) 4 (12%) 3 (9%) 2 (6%) 1 (3%)1 (3%)1 (3%) Géneros textuais

Manual de instruções Software informático Política de privacidade Folheto informativo Formação Anúncio publicitário Folha de venda Guião

Figura 5: Número de projetos realizados por género textual. Figura 4: Número de projetos realizados por área temática.

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Como é possível constatar na figura 4, durante o estágio tive a oportunidade de explorar várias áreas temáticas o que, nesta fase de aprendizagem, me parece essencial, pois tal permitiu-me entrar em contacto com a terminologia de diversas áreas, identificar temas onde me sentia mais confortável e reconhecer os meus pontos fortes e os pontos a melhorar. Para minha surpresa, constatei que os projetos de marketing me causavam mais incertezas já que, por vezes, se tornava difícil saber até que ponto me poderia distanciar do texto de partida (TP) e decidir qual a tradução mais apropriada e apelativa para o público de chegada. Por outro lado, mesmo reconhecendo a complexidade dos projetos da área da medicina, descobri que a minha formação em Ciências, adquirida no ensino secundário, estava ainda bastante presente, o que me fez sentir mais confortável nessa área.

Igualmente, tal como demonstrado na figura 5, tive a oportunidade de trabalhar com vários géneros textuais, o que me permitiu estudar as suas convenções, especificidades e, por último, identificar as estratégias de tradução para cada caso. Numa fase anterior à tradução propriamente dita, a análise textual e a classificação do texto quanto ao género ajudam o tradutor a compreender o TP, a definir estratégias de tradução e a estruturar a sua tradução. De acordo com Chesterman, a definição de estratégias de tradução é particularmente importante para orientar e materializar o trabalho do tradutor, já que “[t]o speak of translation strategies is thus to look at translation as an action, to place it in a wider context of action theory” (Chesterman, 2000: 88). Analisando a figura 5, torna-se evidente que os manuais de instruções foram o género de texto mais traduzido no decorrer do estágio (44%) e, devido ao elevado volume de trabalho que este género representa no mundo da tradução, será relevante efetuar uma reflexão sobre as características e particularidades deste género textual no âmbito deste relatório, tarefa que empreenderemos adiante na secção 2.4.

2.3. Apreciação global do estágio

Conforme já mencionei, a via profissionalizante foi, sem dúvida, a melhor forma de consolidar e colocar em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do MTSL. A variedade de géneros textuais traduzidos, bem como as CAT-tools e ferramentas de QA utilizadas para tal, contribuíram para a expansão dos meus conhecimentos e muniram-me

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de estratégias para lidar com as várias dificuldades e contratempos do mundo da tradução. Adicionalmente, o contacto com textos de várias áreas temáticas permitiu-me adquirir um considerável conhecimento geral e terminológico dessas mesmas áreas, um valioso ponto de partida para, futuramente, lidar com textos mais específicos e complexos.

Diria que os primeiros obstáculos com os quais tive de lidar no início do estágio estavam relacionados com a autoconfiança nas minhas capacidades e com o “peso” da responsabilidade da profissão. No entanto, com os conselhos dos membros da Kvalitext e, especialmente, com o apoio incansável da minha orientadora na empresa, fui capaz de ultrapassar estes primeiros desafios. Desta forma, considero que a integração numa equipa de tradução in-house como a da Kvalitext foi crucial para a minha evolução não só a nível profissional, mas também pessoal. Na empresa, tive a oportunidade de amadurecer conhecimentos e também de adquirir rapidamente outras competências através do exercício diário da tradução e do contacto com tradutores/revisores com longos anos de experiência. Neste contexto, convém realçar o ambiente profissional na Kvalitext, mas também o de companheirismo e de entreajuda, o ambiente de aprendizagem ideal para quem está prestes a lançar-se no mundo da tradução. Para além disso, os métodos de trabalho e as instalações da empresa também possibilitaram a assimilação da autodisciplina e da concentração essenciais para a rentabilidade de tradução.

De igual forma, os requisitos de qualidade da empresa foram também importantes nesta fase final de aprendizagem e de transição para o “mundo real” da tradução. Graças aos mesmos, os meus métodos de pesquisa de informações tornaram-se mais exaustivos e os procedimentos de autorrevisão mais exigentes, o que potenciou a qualidade das minhas traduções e, consequentemente, criou um sentimento de orgulho cada vez maior em relação ao meu trabalho.

Em relação aos aspetos menos positivos, devo referir que, por vezes, estive horas ou mesmo um dia inteiro sem qualquer projeto. Claro que, para potenciar o meu tempo na empresa, gostaria de estar constantemente a traduzir, mas tal nem sempre foi possível. Contudo, este tempo livre não foi desperdiçado, mas antes utilizado para recolher informações para a elaboração do relatório de estágio e para analisar as alterações implementadas às minhas traduções pelos revisores. Assim, até estes momentos sem projetos, que poderiam ter sido desanimadores, foram úteis do ponto de vista pedagógico,

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para que eu aprendesse com os meus erros.

Em suma, considerei o estágio curricular realizado na Kvalitext extremamente proveitoso: o protocolo de estágio proposto foi cumprido, as minhas expectativas em relação ao estágio foram superadas e, de forma geral, fiquei também satisfeita com o meu desempenho. Já no que diz respeito à avaliação final do estágio por parte da empresa acolhedora, esta foi positiva (cf. Anexo 3), tendo sido oferecida a possibilidade de permanência na Kvalitext através de um estágio profissional.

2.4. Considerações sobre os manuais de instruções

Entre todos os projetos realizados ao longo do estágio, o discurso técnico foi, sem dúvida, o mais prevalente e, inserido neste tipo de discurso, os manuais de instruções foram o género textual mais traduzido. De facto, em 2006, a tradução de manuais de instruções representava cerca de 90% das traduções realizadas anualmente (Byrne, 2006: 2), uma tendência que decerto se manterá, visto que as legislações e normas internacionais exigem que a documentação técnica associada aos produtos esteja disponível nas línguas dos países onde estes são comercializados.

Uma vez que cada tipo de texto é produzido com um objetivo específico e para um público-alvo definido (Byrne, 2012: 70), apresentando algumas características definitórias e expectáveis, é importante que o tradutor seja capaz de conhecer, identificar e adotar as estruturas e convenções de cada género textual; caso contrário, “[w]ithout the ability to recognize a text as a sample of a particular form […] we [tradutores] would be unable to decide what to do with it; we could neither comprehend nor write nor, clearly, translate” (Bell, 1991: 206 apud Byrne, 2012: 70–71). Logo, o conhecimento bilingue das tipologias textuais é essencial para a interpretação, abordagem e consequente tradução do TP.

No que diz respeito aos manuais de instruções, estes constituem um género textual que visa “to provide the reader with easy access to precisely the information they need at a particular moment and to ensure that it is clear and comprehensible” (Byrne, 2012: 59). Logo, um manual de instruções não é um fim em si mesmo, ou seja, o leitor consulta secções específicas do manual para, assim, poder desempenhar determinadas tarefas; o

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manual de instruções é, portanto, um meio e deve, desta forma, preencher certos requisitos para cumprir a sua função de forma eficiente. Todavia, parece existir um “sentimento de insatisfação generalizado” (Guimarães, 2012: 1) em relação aos manuais de instruções, que frequentemente são considerados ininteligíveis ou mal traduzidos. Desta forma, penso que será relevante refletir sobre as características essenciais dos manuais de instruções para que, enquanto tradutora, possa oferecer um pequeno contributo para a compreensão do género textual e para o aumento da qualidade das traduções do mesmo.

Segundo as tipologias textuais de Katharina Reiss, posteriormente sumarizadas por Christiane Nord (1997), cada texto assume uma função mais prevalente: informativa, expressiva ou operativa (Nord, 1997: 37–38). Neste enquadramento teórico, será mais relevante abordar a função informativa, uma vez que é a função principal dos manuais de instruções. Neste tipo de textos, “the main function is to inform the reader about objects and phenomena in the real world” (id.: 37) ou, mais especificamente, transmitir conteúdo factual relativo ao produto visado no respetivo manual de instruções, pelo que o texto de chegada (TCh) deve ser uma tradução integral e correta do TP (id.: 38). Logo, um manual de instruções terá uma função informativa tanto na língua de partida como na língua de chegada, o que, segundo Nord, é um tipo de tradução instrumental (id.: 50), que oferece ao leitor de chegada um texto traduzido que cumpre a mesma função comunicativa do TP, sem que o leitor se aperceba de que está a ler uma tradução (ibid.), uma “ilusão” que os manuais de instruções traduzidos, idealmente, deverão ser capazes de perpetuar.

Para que esta “ilusão” possa ser criada, a transmissão da informação técnica deverá ser cuidada; quer no TP, quer nas suas traduções, essa informação deverá apresentar-se bem fraseada e estruturada, de forma clara e concisa (Byrne, 2009: 2), cumprindo requisitos de “readability” e de “usability” (Byrne, 2006: 92–93); respetivamente, o requisito de legibilidade refere-se à adaptação da complexidade linguística (tamanho das frases e das palavras, número de sílabas etc. [Olohan, 2016: 53]) ao nível do conhecimento do público-alvo; já a usabilidade avalia com que eficácia os leitores conseguem aplicar essa informação linguística e técnica para desempenhar a tarefa pretendida (Byrne, 2006: 92–93). Adicionalmente, Robinson propõe um terceiro fator igualmente importante para a tradução técnica: “reliability” (Robinson, 2003: 7); segundo o autor, o tradutor deverá desempenhar o seu trabalho de forma responsável e fiável para fornecer ao leitor de chegada toda a informação de que este necessita (ibid.).

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Igualmente importantes são os parâmetros de compreensibilidade estabelecidos por Göpferich (Göpferich, 2009: 40–48) (percetibilidade, simplicidade, estrutura, correção, concisão e motivação), bastante relevantes para a elaboração e também para a tradução de textos técnicos, sendo, portanto, fundamental refletir sobre os mesmos.

• Concisão: apenas deverá ser fornecida a informação necessária para que o texto cumpra a sua finalidade comunicativa; informação excessiva ou escassa, bem como redundâncias, tautologias e repetições desnecessárias confundem o leitor, aumentam o seu esforço cognitivo e levam-no a perder tempo (id.: 40).

• Correção: o texto deverá encontrar-se livre de erros, adaptado às convenções do género textual no qual este se insere e ser compatível com os conhecimentos e expectativas do leitor (id.: 42), isto é, deve cumprir a noção de legibilidade apresentada por Byrne (Byrne, 2006: 92).

• Motivação: o manual de instruções, para além de procedimental, deverá também ser motivacional para atrair e satisfazer os leitores (Göpferich, 2009: 43). Segundo Olohan (Olohan, 2016: 66), os leitores devem ser persuadidos em relação à utilidade do manual de instruções, que deverá incutir um sentimento de confiança para realizar as tarefas propostas no texto.

• Estrutura: os manuais de instruções devem apresentar o seu conteúdo de forma lógica e estruturada (Göpferich, 2009: 44).

• Simplicidade: devem privilegiar-se estruturas que promovam uma maior clareza das frases, evitando a voz passiva, ambiguidades, formas verbais complexas etc. (id.: 46).

• Percetibilidade: a informação apresentada deverá ser legível (id.: 48), de acordo com o requisito de usabilidade mencionado por Byrne (Byrne, 2006: 93), permitindo ao leitor executar facilmente as ações descritas.

Estas características sumariamente abordadas são essenciais para que um manual de instruções cumpra com eficiência a sua função comunicativa, logo, são relevantes não apenas para a comunicação técnica, mas também para a tradução técnica, já que, no desenvolver da sua profissão, “translators have to exercise a skill akin to that of technical

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writers” (Owens, 1996: 143). Contudo, uma análise textual não deverá ser exclusivamente sustentada pelas características gerais de cada género textual, uma vez que cada texto é uma entidade híbrida e complexa. Será, então, fundamental aprofundar a análise textual dos manuais de instruções e analisá-los à luz das sequências textuais propostas por Jean Michelle-Adam (1992).

Como já foi referido, os textos são unidades heterogéneas, isto é, são compostos por várias sequências textuais interligadas, de entre as quais prevalece uma, a sequência textual predominante, que contribuirá para a classificação do género textual. Segundo Adam, essas sequências textuais podem ser individualizadas em sequências narrativas (narração de um acontecimento), descritivas (descrição das qualidades de pessoas/objetos), argumentativas (comprovação/refutação de um facto ou hipótese), explicativas-expositivas (exposição de informações), instrucionais-diretiva (transmissão de comandos) e dialogais-conversacionais (que ocorrem na interação oral).

Pelo anteriormente exposto e devido à natureza instrucional e diretiva dos manuais de instruções, é possível concluir que a sequência textual predominante neste género textual será a instrucional-diretiva, orientando as ações do leitor através de comandos e impondo e/ou delimitando certos comportamentos. Todavia, os manuais de instruções não se limitam à comunicação de instruções; frequentemente, estes textos cumprem também uma função retórica6, promovendo o produto e tentando estabelecer a credibilidade e o profissionalismo da marca (Olohan, 2016: 58), apresentando, portanto, elementos de marketing para atrair e fidelizar clientes (Guimarães, 2012: 29). Assim, sequências textuais como a descritiva e a explicativa também se encontram presentes neste género textual, como podemos constatar na tabela seguinte.

Tabela 1: Exemplos de sequências textuais presentes nos manuais de instruções.

Instrucional-diretiva (predominante)

Hold the transducer by the handle and guide the transducer carefully into the entrance of the trocar. Push the transducer slowly down the trocar until it is seen, using the video monitor, to

6 Utilizamos aqui o termo “retórica” na aceção de Oswald Ducrot; nas suas palavras, “[e]ntenderei por

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touch the site of interest.

Descritiva

The XXXXX slide scanner is a member of XXXXX’s industry-leading family of digital pathology products for anatomic pathology labs. The scanner’s easy-to-use slide trays allow the loading and fast scanning of up to 6 standard slides or 3 double slides.

Explicativa-expositiva

Because of reports of severe allergic reactions to medical devices containing latex (natural rubber), the FDA advises health-care professionals to identify their latex-sensitive patients and be prepared to treat allergic reactions promptly.

Como ilustrado pela tabela 1, na sequência instrucional-diretiva é evidente a prevalência de verbos no imperativo (por ex., “hold” e “push”) e a descrição de várias etapas a serem realizadas em sucessão para atingir um determinado fim (por ex., trabalhar com o aparelho em questão). Embora menos frequentes, as sequências descritivas estão também presentes nos manuais de instruções, não só listando as características dos produtos, mas também promovendo a marca e tentando obter a confiança e a aprovação do leitor; para tal, é empregue o presente do indicativo (por ex., “is”) para descrever o estatuto da empresa que desenvolveu o produto e adjetivos para promover o mesmo (por ex., “industry-leading”, “easy-to-use” e “fast”). Por último, é também comum o leitor deparar-se com sequências explicativas-expositivas que relatam informações relevantes para o utilizador, utilizando, por exemplo, conjunções causais (“because”) e verbos no presente do indicativo (“advises”).

Sendo a sequência textual instrucional-diretiva a sequência dominante, é fácil prever que os atos de fala predominantes (Austin, 1965 e Searle, 1969) serão o ato ilocutório diretivo (associado a uma modalidade deôntica) e o assertivo (associado a uma modalidade epistémica), uma vez que o significado pragmático subjacente a cada ato de fala faz com que os atos ilocutórios diretivos e assertivos expressem uma modalidade implícita (Duarte et al., 2003: 80), conforme podemos constatar na tabela abaixo.

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Tabela 2: Modalidade expressa pelos atos ilocutórios.

Ato ilocutório assertivo

Failure to observe warning messages will result in death or serious injury.

Valor de

certeza Modalidade epistémica Information in this document may be

subject to change without notice.

Valor de possibilidade

Ato ilocutório diretivo

You must dispose of these items through designated collection facilities appointed by government or local authorities.

Valor de obrigação

Modalidade deôntica

Do not reuse passwords. Valor de

proibição You can choose a different

option for each slide position in the tray.

Valor de permissão

Dado que os atos ilocutórios diretivos são os mais característicos nos manuais de instruções, durante os vários projetos realizados fui observando os mecanismos linguísticos utilizados para concretizar esses mesmos atos, bem como outras formulações frásicas prevalentes nos manuais de instruções. Tendo por base a análise do corpus realizada por Joana Guimarães na sua tese de doutoramento, na qual a autora procedeu “ao levantamento das principais características dos manuais originalmente redigidos em língua portuguesa” (Guimarães, 2012: 61), empreendi numa tarefa semelhante, ainda que mais simples e limitada, ou seja, no levantamento de mecanismos linguísticos presentes nos manuais de instruções, conforme explicitado e exemplificado na tabela abaixo, onde apresento o texto de partida e a minha proposta de tradução.

Tabela 3: Mecanismos linguísticos presentes nos manuais de instruções.

Mecanismos Texto de partida Tradução

Verbos no imperativo/infinitivo

“Choose the SAVE button”; “Refer to the Troubleshooting chapter (…) for

troubleshooting errors”; “Place tissue slides in XXXXX until loading the instrument”; “Consult user documentation”.

“Selecione o botão SAVE (Guardar)”;

“Consulte o capítulo «Resolução de problemas» (…) para

solucionar erros”;

“Colocar as lâminas de tecido em XXXXX até carregar o

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“Consultar a documentação do utilizador”.

Verbos na forma negativa do imperativo

“Do not reuse passwords”; “Do not attempt to scan slides that do not have cover slips”.

“Não reutilize palavras-passe”; “Não efetue a leitura de lâminas sem lamelas”.

Verbos modais deônticos

“Wet slides should not be used on the scanner”;

“This manual must always be easily accessible”;

“You can choose a different option for each slide position in the tray”.

“Não devem ser utilizadas lâminas molhadas no leitor”; “Este manual deverá estar sempre facilmente acessível”;

“Pode selecionar uma opção diferente para cada posição das lâminas no tabuleiro”. Repetição de substantivos que identificam partes do equipamento/da tarefa a operar

“When the foot pedal is used, release the foot pedal to cut the pad”.

“Quando é utilizado o pedal, solte o pedal para cortar a almofada”.

Relações causa-efeito

“Once pressed, the Emergency Stop button blocks the operation of the converter”.

“Depois de pressionado, o botão de paragem de emergência bloqueia o funcionamento do conversor”.

Paralelismo interfrásico

“Do not place the system on any cart, stand, tripod, bracket, or table that is unstable. Do not place the system in close proximity to other devices that generate vibrations. Do not place the system near large windows to avoid prolonged exposure to direct sunlight.”

“Não coloque o sistema sobre carrinhos, suportes, tripés ou mesas instáveis. Não coloque o sistema nas proximidades de outros dispositivos que gerem vibrações. Não coloque o sistema perto de janelas amplas para evitar a sua exposição prolongada e direta à luz solar.

Ações por ordem cronológica

“1. Power cycle the scanner. 2. Re-run the diagnostic test. 3. If the failure re-occurs, contact XXXXX Support.”

“1. Desligue e volte a ligar o leitor.

2. Execute novamente o teste de diagnóstico.

3. Se a falha voltar a ocorrer, contacte o Serviço de Assistência Técnica da XXXXX.”

O imperativo é o modo verbal mais utilizado para transmitir o valor instrutivo e, assim, foi o modo verbal mais empregue (quer na forma afirmativa, quer na forma

(35)

negativa) na tradução das instruções. No entanto, convém referir que, em português, estas podem também ser transmitidas através de um infinitivo com valor de imperativo, uma opção empregue em alguns contextos. Para além disso, as obrigações, proibições e permissões podem também ser transmitidas através do uso de verbos modais (em inglês, “should”, “must”, “can” etc.), para os quais procurei uma tradução que transmitisse a mesma modalidade deôntica, recorrendo para tal aos verbos “dever” e “poder”.

Ainda que, conforme referido, o discurso técnico procure ser conciso, também evidencia, por vezes, uma terminologia consistente e até repetitiva, para que os termos sejam interiorizados pelo leitor. Considerando, por exemplo, o segmento “When the foot pedal is used, release the foot pedal to cut the pad”, podemos constatar que o termo “foot pedal” poderia ser omitido e substituído, na tradução, por um pronome (por ex., “Quando é utilizado o pedal, solte-o para cortar a almofada”) de forma a melhorar estilisticamente a frase. No entanto, para este projeto em específico, o cliente forneceu as seguintes instruções:

a. Do not use synonyms or pronouns (if a word is repeated in a few sentences in a row, it means it should be repeated in translation also).

b. Use solely unambiguous terms.

c. Do not use unnecessarily complicated grammar structures.

d. Try to use active voice in your translation, avoid passive voice especially in instructions / commands.

Este tipo de instruções é muito comum na tradução técnica, já que, de forma geral, se promove uma evasão à polissemia, à ambiguidade, aos pronomes, à voz passiva e a quaisquer estruturas frásicas que sejam demasiado complexas e, por conseguinte, causem dúvida ao leitor ou lhe exijam um maior esforço cognitivo para decifrar e executar a ação descrita no texto. Da mesma forma, para promover a simplicidade e a percetibilidade, é comum os redatores técnicos recorrerem a um paralelismo interfrásico, isto é, uma repetição de certos elementos transversal a várias frases para assegurar a coesão e facilitar a transmissão da mensagem (no exemplo apresentado, os elementos repetidos são: advérbio de negação [“Não”] + verbo [“coloque”] + sintagma nominal [“o sistema…”]) e para, através das mesmas palavras, fornecer informações semelhantes. Esta prática, que

(36)

Byrne denomina “iconic linkage” (Byrne, 2012: 130), aumenta a legibilidade e a percetibilidade do texto, o que, por sua vez, contribui para a usabilidade do manual de instruções em questão.

Assim, convém que os tradutores tenham presente que os manuais de instruções, atendendo à sua função informativa, não apresentam preocupações primordiais de estilística ou de retórica. Segundo Cabré (Cabré, 1999: 47), “[i]n general texts, expression, variety and originality prevail over other features; in specialized texts, concision, precision and suitability are the relevant criteria”, pelo que as questões estilísticas podem ser ligeiramente “sacrificadas” para que o texto cumpra a sua função comunicativa: a transmissão clara e precisa de instruções para execução por parte dos leitores.

Por conseguinte, é da responsabilidade do tradutor conhecer as características inerentes ao géneros textuais com os quais habitualmente trabalha, já que, segundo Byrne (Byrne, 2006: 4), “[f]ailing to comply with target language text conventions can undermine the credibility of the text, the author and the information in the text”. Assim, é essencial que o tradutor coloque em prática um modelo de análise textual e, na tradução de manuais de instruções mais concretamente, que cumpra os critérios de legibilidade, usabilidade, fiabilidade e compreensibilidade deste género textual para priorizar a sua função comunicativa. Por último, é importantíssimo que o tradutor tenha consciência de que alguns dos seus erros poderão ter consequências práticas, já que o incumprimento dos critérios e dos mecanismos linguísticos aqui analisados “can have a range of consequences ranging from frustrated users to serious damage or even injury” (Byrne 2006: 82).

(37)

Capítulo 3 – Gestão de projetos, CAT-tools e garantia de

qualidade

3.1. Gestão de projetos

A profissão do tradutor tem vindo a ser remodelada pela globalização, pelos avanços tecnológicos e pelo crescimento e reconhecimento do mercado, fatores que estão a transformar os serviços de tradução numa indústria (Rico Pérez, 2002). Assim, os prestadores destes serviços têm de se adaptar às mudanças de um mercado que, por um lado, exige competências mais abrangentes por parte do tradutor e, por outro, espera que os profissionais da tradução sejam capazes de lidar com projetos cada vez mais complexos e extensos. É neste contexto que surge a gestão de projetos de tradução, “the key element marrying crafts, needs, and expertise” (ibid.).

De forma geral, segundo o Guia PMBOK, um projeto é um “temporary endeavor undertaken to create a unique product, service, or result” (PMI, 2013: 3) e a gestão de projetos consiste na “application of knowledge, skills, tools, and techniques to project activities to meet the project requirements” (id.: 5). Partindo destas definições, podemos afirmar que cada tradução é, certamente, um projeto, uma vez que é temporária, apresentando uma data de entrega bem especificada, e única, já que o resultado, isto é, o texto traduzido, é sempre diferente.

Contudo, para além daquelas características, Rico Pérez refere que certos projetos de tradução têm uma característica adicional, “leveraging”, já que, embora cada tradução seja, de facto, única, muitas são o “cumulative effect” (Rico Pérez: 2002) de traduções já realizadas. Mais concretamente, algumas traduções efetuadas durante o estágio consistiram em breves atualizações de ortografia (adaptação à grafia pós-Acordo) ou na tradução de passagens introduzidas e/ou alteradas em documentos informativos já traduzidos previamente. Em ambos os casos, o produto final do projeto era apenas ligeiramente diferente das suas versões passadas, pelo que o trabalho anteriormente realizado por outros tradutores consistiu numa forma de “leveraging”, uma mais-valia para entregar um produto final com boa qualidade e num espaço de tempo menor.

(38)

complexidade e exigência crescentes, torna-se indispensável a existência um gestor de projetos (project manager – PM) capaz de criar e coordenar uma equipa de tradutores cujas competências consigam satisfazer os requisitos do trabalho e do cliente, acompanhando todo o ciclo de vida de um projeto.

Por ciclo de vida do projeto entende-se “the series of phases that a project passes through from its initiation to its closure” (PMI, 2013: 38), ou seja, um conjunto de fases lógicas e sequenciais inter-relacionadas que culminam numa entrega (id.: 41). É da responsabilidade da empresa e do PM definir o número de fases de cada projeto, dependendo da complexidade do mesmo e dos procedimentos internos em vigor. Relativamente aos projetos realizados na Kvalitext, será possível dividir o seu ciclo de vida em três fases, de acordo com a nomenclatura de Daniel Gouadec (2007: 13): “pre-translation”, “translation” e “post-translation”. A tabela seguinte apresenta de forma sucinta as várias fases e subfases às quais um projeto de tradução é sujeito na Kvalitext, segundo a proposta de faseamento de Gouadec (2007). A mesma tabela indica os intervenientes e resume as atividades compreendidas em cada fase.

Tabela 4: Ciclo de vida de um projeto de tradução na Kvalitext.

Fases do projeto Atividades Interveniente(s)

Pré-tradução

Análise do projeto proposto pelo cliente;

Emissão/aprovação do orçamento.

Cliente, PM

Compilação do kit de tradução7; Seleção da equipa de tradução e revisão;

Upload do kit de tradução no PO;

PM

Transferência Pré-transferência

Análise do kit de tradução; Abertura do package para tradução; Verificação da TM e da TB (se disponíveis); Antecipação de potenciais dificuldades. Tradutor

(39)

Transferência

Tradução. Tradutor

Comunicação com o cliente/PM caso surjam dúvidas.

Tradutor, PM, cliente Pós-transferência Autorrevisão; QA; Verificação ortográfica;

Upload do return package da

tradução no PO; Revisão; QA;

Verificação ortográfica;

Upload do return package da

tradução revista no PO.

Tradutor, revisor

Pós-tradução

Verificação do cumprimento dos requisitos estabelecidos no kit de tradução;

Entrega do projeto.

PM, cliente

Desta forma, a gestão de projetos revela-se essencial para a organização da empresa e para a satisfação do cliente, equilibrando e mediando os interesses de ambos. Pelo exposto, e com base em Gouadec (Gouadec, 2007: 118–119) e na minha experiência na Kvalitext, conclui-se que um PM desempenha duas funções distintas, mas complementares e igualmente relevantes:

• Perante o cliente, o PM é a face da empresa e o ponto de contacto entre esta e o cliente, estando também responsável, na fase de pré-tradução, pela avaliação dos potenciais projetos, dos seus requisitos (por ex., CAT-tools e equipa de tradução a serem utilizadas) e prazos; numa fase posterior, a da tradução, deve comunicar desenvolvimentos e problemas e, na fase de pós-tradução, está encarregado da entrega final do projeto e da recolha de

feedback junto do cliente.

• Na empresa, é da responsabilidade do PM, na fase de pré-tradução, verificar o conteúdo dos ficheiros do projeto, identificar full matches, fuzzies e repetições, formar uma equipa de tradução capaz de fazer frente às exigências do projeto, disponibilizar o kit de tradução contendo as

(40)

instruções do cliente e, de forma geral, acompanhar atentamente o ciclo de vida de um projeto, garantindo que é cumprido dentro do prazo e da qualidade acordados com o cliente.

Em suma, embora o papel do PM seja mais visível nas fases de pré e de pós-tradução, e ainda que este não participe no ato tradutivo propriamente dito (Melby, 1998), a sua relevância é transversal a todas as fases do trabalho, tornando a gestão de projetos num serviço fulcral quer para o cliente, quer para a empresa (Bustamante, 2011). Para o cliente, a gestão de projetos representa qualidade e transparência, uma vez que as empresas que aplicam técnicas e procedimentos da gestão de projetos criam uma melhor imagem junto dos seus clientes. Já na empresa, um PM melhora a comunicação e cooperação entre os diferentes membros da equipa de tradução e torna o tradutor mais produtivo e eficiente, pois ajuda-o a compreender o seu papel numa determinada linha de trabalho e a finalidade da mesma.

3.1.2. Project Open

Para fazer frente ao crescente fluxo de trabalho, a Kvalitext criou, em 2013, uma equipa exclusivamente dedicada à gestão de projetos, à comunicação com a equipa de tradução interna e externa e à comunicação com os clientes. Atualmente, as duas PM da empresa contam com o Project Open (PO), uma plataforma online em ambiente de intranet e de código aberto, para gerir e planear todos os projetos realizados na empresa e atribuí-los a diferentes tradutores e revisores. Mediante credenciais individuais, cada colaborador tem acesso a informações específicas à sua função. Na figura 6 abaixo apresentada, está aberto o separador “Projects”, exibindo os projetos atribuídos ao utilizador, bem como um conjunto de informações básicas, como, por exemplo, o nome do projeto, o seu número de identificação interno, a PM por ele responsável, a data de entrega ao cliente e o número total de palavras.

(41)

Clicando num projeto específico, o tradutor é, em seguida, direcionado para a página exclusiva desse projeto, onde encontra os subseparadores “Summary”, “Files” e “Trans Tasks”.

O “Summary” é o separador central do projeto; aí, para além de algumas informações gerais já presentes na vista global de “Projects”, encontram-se outras mais específicas, como os pares linguísticos do projeto, a CAT-tool a ser utilizada, o tipo de ficheiro de entrega, o material de referência, a área temática, a equipa alocada ao projeto (PM, tradutor e revisor) e, se referido pelo cliente, as instruções gerais e o público-alvo do TCh.

O separador seguinte, “Files”, consiste numa metódica organização de pastas, cada uma delas destinada ao upload de:

• O package com o(s) ficheiro(s) a traduzir;

• Referências fornecidas pelo cliente (glossários, originais dos ficheiros etc.) • Instruções específicas para o projeto (se disponíveis)8;

• Guia de estilo do cliente (se existente);

• Queries já realizadas por outros tradutores e/ou o template a ser utilizado para colocar questões ao cliente;

• O return package do(s) ficheiro(s) traduzido(s) (e relatórios de QA);

8 No ponto 4.1. efetuaremos uma reflexão sobre a importância das instruções do cliente e as consequências

da falta das mesmas.

(42)

• O return package do(s) ficheiro(s) revisto(s) (e relatórios de QA); • O package entregue ao cliente.

Se tivermos em consideração o elevado fluxo de trabalho de uma empresa de tradução como a Kvalitext, a organização, a adequada identificação e a rápida disponibilidade dos ficheiros (quer no PO, quer no servidor da empresa) tornam-se particularmente relevantes. Afinal de contas, uma organização metódica dos recursos contribui para a eficácia e para a agilidade do ciclo de vida de um projeto e assegura que toda a informação essencial para a fase de transferência esteja sempre disponível para todos os intervenientes no projeto.

O último subseparador é o das “Trans Tasks” e, como o nome indica, permite que os intervenientes de um determinado projeto saibam em que fase este se encontra e quem está a trabalhar nele num dado momento. Assim, no início de todos os projetos, a PM atribui uma tarefa a um determinado colaborador (tradução, revisão, compilação de glossário, pós-edição etc.) que fica responsável pela sua atualização em cada fase do projeto. Exemplificando, quando uma PM cria um projeto de tradução, o seu estado é marcado como “Created” até que sejam organizadas e disponibilizadas todas as informações referente ao mesmo; esta fase de pré-tradução é concluída quando a PM seleciona a equipa de tradução e de revisão e, respetivamente, lhes atribui as tarefas “for Trans” e “for Edit”, fazendo com que cada um dos intervenientes receba um e-mail avisando de que foram alocados a um projeto. A primeira subfase da tradução (a pré-transferência) inicia-se quando o tradutor lê o “Summary” do projeto, efetua o

download dos ficheiros disponibilizados em “Files” e marca o estado da sua tarefa como

“Trans-ing”, iniciando, em seguida, a subfase de transferência. Mais tarde, concluídas a tradução e a autorrevisão, o tradutor terá de colocar na respetiva pasta em “Files” o return

package e quaisquer outros ficheiros exigidos e marcar o projeto como “for Edit”. Nessa

altura, o projeto passará para as mãos do revisor, que deverá alterar a sua tarefa para “Editing”. A subfase de pós-transferência termina quando o revisor coloca no PO o return

package após a sua revisão e define o estado do projeto como “for Delivery”. Nesta fase,

a PM receberá um e-mail alertando-a de que o projeto se encontra pronto para ser entregue ao cliente, o que ocorre quando são efetuadas as verificações finais e o projeto é marcado como “Delivered”. Se aprovado pelo cliente, o projeto passará, então, pelos estados

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