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Tatiane Eulália Mendes de Carvalho

Frei Caneca: matriz do jornalismo

brasileiro

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós – Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2011

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Tatiane Eulália Mendes de Carvalho

Frei Caneca: matriz do jornalismo

brasileiro

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre.

Orientador Prof. Dr.: José Marques de Melo.

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós – Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2011

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A dissertação de mestrado sob o título “Frei Caneca: matriz do jornalismo brasileiro”, elaborada por Tatiane Eulália Mendes de Carvalho foi apresentada e aprovada em 08 de abril de 2011, perante banca examinadora composta por Professor Dr. José Marques de Melo (Presidente/UMESP), Professora Dra. Magali Cunha (Titular/UMESP) e Prof. Dr. Adilson Citelli (Titular/USP).

__________________________________________ Prof. Dr. José Marques de Melo

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

__________________________________________ Prof. Dr. Laan Mendes de Barros

Coordenador/a do Programa de Pós-Graduação

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social Área de Concentração: Processos Comunicacionais

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José Marques de Melo: meu mestre;

Hilton José de Carvalho: meu pai, meu herói;

Guilhermina S. M. de Carvalho: minha mãe, minha fortaleza e inspiração.

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“Cautela, união, valor constante.

Andar assim é bom andar”

Frei Caneca apud Camões

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço à Deus por ter concluído mais uma etapa de minha vida, e, por mostrar, durante estes dois anos, seu imenso amor por mim.

À Nossa Senhora Aparecida, que me orientou por intermédio do professor Marques de Melo, e nunca me deixou na mão (Nossa Senhora! Irei pagar todas as promessas feitas!).

Aos meus pais, que sempre estiveram ao meu lado me apoiando nas decisões difíceis e mostrando o caminho certo. Meu eterno agradecimento.

À CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -, pela bolsa de estudo.

Aos meus irmãos, que tanto amo.

Aos familiares, pelo incentivo e apoio.

Ao meu grande amor, Robson Carvalho. Obrigada por me ensinar a ser uma pessoa melhor. Também, à sua família, que tão bem me acolheu.

Ao professor José Marques de Melo, que tenho a honra de chamá-lo de mestre, por ter me acolhido deste o primeiro instante, inicialmente como aluna especial e depois como sua orientanda. Obrigada pela confiança!

Às professoras Cicília Peruzzo e Magali Cunha, que ofereceram ricas contribuições para esta pesquisa, na ocasião do exame de qualificação.

Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo, em destaque o professor Antônio Carlos Ruótulo. E aos ex-professores do Póscom, Isaac Epstein e Sandra Reimão.

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Ao meu amigo – irmão Raul Neto, por tantas histórias, triste ou alegre, pela amizade, e por estar sempre presente!

Às minhas queridas amigas Márcia, Andrezza, Myrian e Bianca, incluindo seus respectivos Thiago, Edu e Rodrigo, que me apoiaram e ajudaram quando precisei. (My valeu, heim!!!)

À Ana Angélica. Amiga, obrigada pela sua dedicação!

Aos amigos da Metodista: Francisco de Assis, Orlando Berti, Marcos Paulo, Celena Alves e Martin.

Em especial quero agradecer à Ranielle (na verdade, não sei nem como te agradecer por tudo que fez) por ter me acolhido em sua casa, e ter se tornado uma grande amiga. Também, a Alexandra, que se Deus quiser, será uma eterna amiga. Obrigada por tudo!

Ao amigo Fábio Corniani, que me incentivou a continuar os estudos, me apresentou o professor Marques de Melo, a Metodista, e a Folkcomunicação.

Aos amigos da #máfia, pelo apoio (Oswaldo – Kbça, Agnes, Cris Valéria e Lucimara).

Ao amigo e orientador de graduação Marco Bonito, obrigada por me mostrar o caminho do monólito (Não é fácil mesmo!). Estendendo os agradecimentos à sua linda esposa e minha amiga, Cristina.

À equipe da Cátedra UNESCO de Comunicação, em especial a Rônia Barbosa, sempre disposta a ajudar.

Enfim, aos que aqui liste e aos que por falha da memória esqueci: minha eterna gratidão!

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TABELAS E ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - Sistematização da Retórica de Barthes...53

Quadro 2 – Referente aos primeiros jornais do Brasil...115

Quadro 3 – Formatos dos gêneros opinativos classificados por Marques de Melo...125

Ilustração 1 - A ideia do mundo sensível de Platão...72

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SÚMARIO

Introdução...13

Capítulo I - Frei Caneca: História e vida...20

1.1 - O nascimento...20

1.2 – Formação e Influência...21

1.3 – Frei Caneca, o sacerdote...26

1.4 - O amigo, jornalista, Cipriano Barata...33

1.5 - Revolução de 1817...34 1.6 - A Liberdade...40 1.7 - Constituição 1823 e 1824...41 1.8 - Confederação do Equador ...43 1.9 - A prisão...44 1.10 - A morte ...46 Capítulo II – Retórica ...48

2.1 - História da retórica e seus primeiros personagens ...48

2.2 – A retórica Aristotélica...54

2.3 – Cícero...60

2.4 – Marcus Fabio Quintiliano...61

2.5 - O fim da Retórica...65

2.6 – Retórica e os estudos das Teorias da Comunicação...67

2.7 – A retórica de Frei Caneca...86

Capítulo III – O jornalismo de Frei Caneca...98

3.1 - Breve história do Jornalismo ...98

3.2 – O jornalismo como ciência: a contribuição de Tobias Peucer...105

3.3 – O início do jornalismo brasileiro: 1808...109

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3.5 – O jornalismo de Frei Caneca...129

3.6 - Classificação do jornalismo de Frei Caneca...141

3.7 – Frei Caneca e a Teoria do Jornalismo...143

Considerações Finais...152

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RESUMO

Analisar a retórica construída por Frei Caneca e reconstruir seu pensamento comunicacional, argumentando que a atividade desenvolvida na imprensa o credencia como matriz do jornalismo brasileiro, constituem os objetivos desta pesquisa. Trata-se de estudo exploratório, apoiado em fontes bibliográficas e documentais, com a intenção de compreender o contexto histórico da retórica e do jornalismo brasileiro na época. Para caracterizar o jornalismo praticado por Frei Caneca foi aplicado o método misto – quantitativo e qualitativo – da análise de conteúdo. Os resultados indicaram que Frei Caneca, por meio da retórica, iniciou a produção de um jornalismo argumentativo estruturado, pois seus textos tinham base teórica. Desta maneira, contribuiu para o avanço dos estudos de Teoria do Jornalismo ao fazer uma leitura brasileira da retórica e da eloquência.

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ABSTRACT

Analyzing the rhetoric built by Frei Caneca and rebuild his thinking communication, arguing that the activity developed in the press credence as array of Brazilian journalism, are the objectives of this search. This is an exploratory study, supported by bibliographic and documentary sources, with the intention to understand the historical context of the rhetoric an the Brazilian journalism the. To characterize the journalism practiced Frei Caneca was applied mixed methods - qualitative and quantitative - of the content analysis. The Results indicate that Frei Caneca, by the rhetoric, began producing a structured argumentative journalism, because his writing had a theoretical basis. In this way, contributed to the advance of studies of the Journalism Theory to make reading a Brazilian rhetoric and eloquence.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho originou-se através dos estudos do professor José Marques de Melo ao descrever Frei Caneca como precursor da teoria da comunicação brasileira, sua hipótese era baseada no fato do carmelita ter se dedicado aos estudos retóricos, produzindo textos didáticos, discursando em praças públicas e ter redigido o jornal

Typhis Pernambucano, com o objetivo de persuadir e convencer a população da época sobre suas ideias e pensamento. Esta pesquisada foi publicada em seu livro História do

Pensamento Comunicacional: cenário e personagens (2003), e no anuário da Cátedra UNESCO Metodista de Comunicação Matrizes Comunicacionais Latino – Americano (2002).

Passado alguns anos, o professor refaz suas reflexões e apresenta uma outra hipótese sobre o personagem: a de que ele faz parte do jornalismo “embrionário” da nossa história, ou seja, o religioso também contribuiu para o surgimento da imprensa no Brasil. Marques de Melo descreve o pensamento do frade como “encarcerado” (2009, p.08).

Inspirado nos postulados iluministas franceses, Frei Caneca exercita um jornalismo radical que exacerba os ânimos dos detentores do poder monárquico. Ele robusteceu o pensamento jornalístico de matiz republicano, em função do qual foi encarcerado e fuzilado durante as insurreições que ameaçaram os alicerces do nascimento do Império Brasileiro (CABRAL DE MELLO, 2001 apud MARQUES DE MELO, 2009, p.08).

E, assim, chega-se ao objetivo desta pesquisa, com propósito dar continuidade aos estudos do professor Marques de Melo, que é reconstruir o pensamento comunicacional de Frei Caneca, apoiando-se em suas publicações, averiguando o sentido das suas expressões e conceitos jornalísticos, a fim de conhecer as circunstâncias históricas e ambientais de seu pensamento.

Por que pesquisar o pensamento comunicacional de Frei Caneca? Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca foi um personagem de destaque da História do Brasil, devido sua participação política, religiosa, educativa e comunicacional no contexto sócio – cultural de sua época.

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No campo da comunicação, foco da investigação, o personagem atuou através da ciência da retórica, se baseando em Fabio Quintiliano e Aristóteles, escreveu textos didáticos sobre o ensino da retórica e eloqüência, gramática da Língua Portuguesa, oração, política, direitos dos cidadãos, etc. Também foi redator do jornal Typhis

Pernambucano, entre os anos de 1823 e 1824, período durante o qual ganhou a confiança e o respeito da população ao relatar os acontecimentos da época e críticas ao Governo, contribuindo para construção do jornalismo. E, ainda, realizou discursos em praças públicas.

Seu pensamento comunicacional pode ser encontrado em cincos textos: Breve

Compreendido de Grammatica Portuguesa, Tratado de Eloqüência, Taboas Synopticas do Systema Rhetorico de Fabio Quitiliano, Dissertação e Oração, e, também, no jornal

Typhis Pernambucano. Estas obras podem ser localizadas no livro Obras Políticas e

Literárias de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, publicado no ano de 1917, por Antonio Joaquim de Melo.

Por esta trajetória do carmelita, que instigou o professor José Marques de Melo a pesquisar sobre sua vida e obra, que buscamos dar continuidade à investigação, averiguando nova hipótese e vertentes do jornalismo produzido por Frei Caneca.

Com esta pesquisa pretende-se contribuir para a construção da História da Imprensa do Brasil, revisando os fatos que descreveram a época em que o jornalismo começou a ter voz no país, pois Dom Pedro I havia acabado de outorgar a Liberdade de Imprensa e Frei Caneca fez dessa outorgada sua maior força para escrever os primeiros manifestos. Também pretende-se contribuir para novas discussões aos estudos de Teoria do Jornalismo, acrescentando informações e revendo conceitos já aplicados.

Diante de tais pretensões fica o questionamento: Quais características podem ser consideradas como marca do pensamento comuncacional de Frei Caneca? E, para responder a questão lançamos novos objetivos, que são:

• Construir o perfil biográfico de Frei Caneca no campo comunicacional. • Identificar o pensamento comunicacional de Frei Caneca por meio dos

cinco textos - Tratado de Eloqüência, Taboas Synopticas do Systema

Rhetorico de Fabio Quitiliano, Breve Compreendido de Grammatica Portuguesa, Dissertação e Oração – e do jornal Typhis Pernambucano. • Identificar o jornalismo elaborado por Frei Caneca e como ele se utilizou

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• Analisar o conteúdo jornalístico expresso por Frei Caneca, a fim de categorizar a presença jornalística.

Logo de início, foi demarcado o ângulo a ser estudado sobre o pensamento do carmelita, pois o leque de opção era amplo e, sendo assim, poderíamos perder o foco da pesquisa e de um trabalho bem feito. A primeira tarefa a ser realizada foi um levantamento bibliográfico sobre as obras relativas ao assunto, com referências ao personagem Frei Caneca, a retórica, a história da imprensa (no Brasil e no mundo), o jornalismo opinativo, e os conceitos do jornalismo brasileiros.

Procuramos conhecer a trajetória do jornalismo desde o seu início até os dias atuais para que, assim, possamos-se compreender a direção do pensamento de Frei Caneca, que teve um papel fundamental na história da imprensa brasileira no século XVIII. Neste período a maioria dos jornais começavam a desenvolver o jornalismo opinativo, e Frei Caneca não hesitou em fazer o mesmo, discursava em praças públicas e escrevia artigos expressando suas idéias a respeito do governo ganhando a confiança e respeito da população.

O pesquisador Antônio Carlos Gil (1996) classifica as fontes bibliográficas em: livros de leitura corrente como sendo as obras referentes aos diversos gêneros literários; livros de referência (ou consulta) como as que têm por objetivo possibilitar uma rápida obtenção das informações requeridas, ou a localização das obras que as contém. Esta classificação subdivide-se em livros de referência informativa, que contém a informação que se busca (ex: dicionários, enciclopédias, anuários e almanaques) e livros de referência remissiva, ou seja, que remetem a outras fontes (ex: catálogo). Outra classificação, são as publicações periódicas que editadas em fascículos, podem ter intervalos regulares ou irregulares e contam com a colaboração de vários autores sendo as principais publicações os jornais e revistas. As revistas são consideradas mais importantes fontes bibliográficas por tratarem os assuntos de forma mais profunda e elaborada do que os jornais que se caracterizam pela rapidez.

Deve-se considerar também que a pesquisa bibliográfica torna-se relevante em estudos históricos, pois em muitas situações não há outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos (GIL, 1996, p.28).

Após este estágio, procuramos levantar os documentos históricos, principalmente as obras didáticas e o jornal Typhis Pernambucano, no qual conseguirmos ter aquisição através de um sebo em Pernambuco. A pesquisa documental

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teve como objetivo resgatar o material elaborado por Frei Caneca, e buscar relatos de historiadores e documentos oficiais sobre sua vida, acusação e morte.

A pesquisa documental tem por finalidade reunir, classificar e distribuir os documentos dos mais diferentes gêneros buscando a racionalização do trabalho intelectual. Sobre a pesquisa documental, Triviños explica que é uma pesquisa que “vale-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetos de pesquisa” (1990, p.51).

Outro autor que relata sobre o assunto é Trujillo, que de acordo com a natureza de sua importância os documentos levantados podem ser considerados fontes primárias ou fontes secundárias, “sendo as primárias de natureza inédita, que foram recolhidas, organizadas e formuladas pelo pesquisador e as secundárias são provenientes da documentação já analisada e publicada”. (1973, p.225).

Na terceira etapa da pesquisa foi realizada uma análise de conteúdo, por unidade completa, das cinco obras didáticas: Tratado de Eloqüência, Taboas Synopticas do

Systema Rhetorico de Fabio Quitiliano, Breve Compreendido de Grammatica Portuguesa, Dissertação e Oração – e do jornal Typhis Pernambucano. Primeiramente foi executada uma análise exploratória do material.

Gil (1996) diz que na pesquisa exploratória é necessário trabalhar com as perspectiva de esclarecer ou delimitar o tema. O autor, ainda, ressalta que este tipo de pesquisa precisa de uma ampla revisão bibliográfica, e é realizada de acordo com o tema em discussão.

Feito a exploração do material, partimos para análise de conteúdo quantitativa. O objetivo desta quantificação é averiguar quais as características dos gêneros jornalísticos e dos formatos foram produzidos por Frei Caneca. A pesquisa foi realizada por unidade completa com nove edições do jornal, e foram selecionado estes exemplares por indicação da banca de qualificação, pois em discussão acharam que analisar os 28 jornais era muito. Sendo assim, foi escolhido o primeiro exemplar de cada mês.

Bardim (1977, p. 75) explica que a análise de conteúdo é divida em três pólos cronológicos: 1) pré-análise; 2) exploração do material; e 3) tratamento dos resultados.

Conforme a autora, a análise de conteúdo

É um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo da mensagem, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a

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inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens (BARDIN, 1977, p. 21).

Porém, segundo a autora, a análise de conteúdo pode ser quantitativa ou qualitativa:

[...] Na medida em que a análise de conteúdo é utilizada como um instrumento de diagnóstico, de modo a que se possa levar a cabo inferências especificas ou interpretações causais sobre um dado aspecto da orientação comportamental do locutor, o seu procedimento não é obrigatoriamente quantitativo [...] A abordagem não quantitativa recorre a indicadores não freqüências susceptíveis de permitir inferências [...] Em conclusão, pode-se dizer que o que caracteriza a análise qualitativa é o facto de a inferências – sempre é realizada – ser fundamentada na presença de índice (tema, palavra, personagem, etc), e não sobre a freqüência da sua aparição em cada comunicação individual (BARDIN, 1977, p; 115 e 116).

Deste modo, foi descrito os procedimento metodológicos, nos quais foram de estrema importância para se concluir e atingir os objetivos desta pesquisa.

Como norte da investigação, trabalhamos com duas hipóteses, nas quais se diferem da problemática do professor José Marques de Melo:

1 – Os estudos sobre Teoria do Jornalismo apontam como característica desta ciência a objetividade, veracidade, atualidade, periodicidade, universalidade, exatidão, entre outros. Neste contexto, ao descrever a retórica, Frei Caneca faz diversos apontamentos sobre a forma de redigir textos e se comunicar e essas exposições do personagem podem ser consideradas como o alicerce da teoria do jornalismo produzido nos dias atuais.

2 – A dedicação aos estudos de retórica faz com que Frei Caneca, ao redigir o jornal e os textos, consiga atingir o objetivo de expressar suas ideias e opiniões sobre o absolutismo da Corte. Escreve textos para que toda população – proletariados e burgueses - entenda o que se passa naquela circunstância. Iniciando a produção do jornalismo opinativo.

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Estrutura

Esta dissertação é estrutura em três capítulos, além da introdução e considerações finais. No primeiro capítulo buscou-se apresentar a história de vida de Frei Caneca, suas origens, influências, o contexto histórico em que viveu, as evoluções, sua prisão e morte. É um tópico breve, com relatos de importância para a vida, e obra do carmelita, para, assim, entendermos melhor seu pensamento.

O capítulo 2 tem por objetivo dar início ao resgate do pensamento comunicacional de Frei Caneca relacionando-o com os estudos retóricos, ensinando-a para aqueles que quisessem aprender, e praticando-a em grandes discursos em praças públicas, Assembléias e Igrejas, além de exercê-la em seu jornal Typhis Pernambucano. Para entender o seu pensamento, foi feito uma revisão da história da retórica, e quais foram os primeiros filósofos. Aristóteles como alicerce de todo o ensinamento e como ele a classificou. Cícero também deu sua contribuição. Quintiliano, que além de contribuir com o pensamento aristotélico deu a disciplina o caráter pedagógico, e a incluiu “como a arte de escrever bem” – incluindo regras gramaticais.

Outro objetivo deste capítulo foi relacionar os estudos retóricos com a comunicação, averiguando que os principais conceitos das Teorias de Comunicação originaram-se da retórica. Enfim, buscou-se entender o pensamento de Frei Caneca, como ele aplicou seus conhecimentos perante a sociedade de sua época, e, para isso, teve-se apoio na pesquisa de análise exploratória de suas publicações.

Já o capítulo 03, e último, tem a finalidade de apresentar o jornalismo produzido por Frei Caneca sob influência da retórica. Inicialmente, foi realizada uma vasta revisão sobre a história do jornalismo, e como esta atividade tornou-se importante para a sociedade, tendo como complemento a importância dos estudos de Tobias Peucer.

Relatar a história da imprensa brasileira merece destaque para que se possa entender e compreender as atitudes de Frei Caneca, a imprensa do século XIX era argumentativa, e o jornalismo do carmelita não foi diferente, porém seu destaque se deve à retórica, no qual soube tão bem aplicá-la, e, com isso, construiu um jornalismo opinativo estruturado. Este capítulo, ainda, apresenta a análise do jornalismo produzido pelo religioso e suas características, classificando os gêneros e formato.

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Por fim, o último capítulo tem por objetivo apresentar a ciência do jornalismo, sua história, os conceitos aplicados e estudos sobre suas Teorias, comparando o jornalismo com as discussões de retórica de Frei Caneca.

Sem qualquer tipo de pretensão, espera-se que esta pesquisa possa esclarecer dúvidas e contribuir para os avanços da história da imprensa no Brasil.

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CAPÍTULO I

FREI CANECA: HISTÓRIA E VIDA

1.1

- O nascimento

Joaquim do Amor Divino Rabelo era o nome inicial de Frei Caneca. Filho de Domingos da Silva Rabelo e Francisca Alexandrina de Siqueira. A data de seu nascimento foi reconhecida somente pelos documentos do inquérito militar: Recife, 1779. Naquela época, o documento equivalente à certidão de nascimento era o do batismo e os registros de Frei Caneca nunca foram encontrados, nem por pesquisadores. Sobre sua ascendência pouco se sabe. Frei Caneca chegou a fazer sua árvore genealógica, conseguiu descobrir até sua trisavó, em 1694, que se chamava Maria das Estrellas e era ascendente de escravos. Seu pai era filho de portugueses. Sua mãe de brasileiros e europeus.

A Maria, sua trisavó, se casou com João Baptista Ferreira, natural de Porto, que constrangido pela crise econômica e pela pobreza do Reino de Portugal, partiu para os territórios americanos chegando à capitania de Pernambuco, morando em Olinda. Uma das filhas do casal, Maria Pereira de Assunção, casou-se com Antonio Alves da Costa Dantas, português do Alentejo, tio de frei Antonio da Natividade Dantas (carmelita turonense). Maria Pereira e Antonio tiveram uma filha chamada Clara Alves Torres, que foi a avó materna de Frei Caneca. O avô de Frei Caneca chamado Pedro era filho de Francisca Alexandrina. Clara e Pedro tiveram uma filha que colocaram o nome de Francisca Alexandrina de Siqueira, a mãe de Frei Caneca, que herdou os cabelos ruivos da avó.

O pai de Joaquim, Domingos, era um modesto tanoeiro, que sobrevivia graças à oficina onde fabricava artesanalmente tonéis e caneca.

Sua infância e juventude aconteceram dentro do contexto do Brasil – Colônia e sobre sua vida, nesta época, nada se sabe. Sua biografia começa a ser notória quando

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Joaquim do Amor Divino Rabelo entra para o seminário dos carmelitas1. E, transformou-se em uma figura de referência para os estudos da história do Brasil entre os anos de 1817 e 1824, principalmente em Pernambuco, através de sua atuação política.

1.2 - Formação e Influência

Ao se ordenar como frade carmelita, em 1801, aos 22 anos mudou seu nome para Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca. O nome escolhido foi em homenagem ao seu pai. Frei Caneca, em 1803, foi nomeado professor de retórica, filosofia e geometria. Mostrando sua vocação para o ensino.

Naquela época o iluminismo filosófico e o enciclopedismo da Europa, o naturalismo rousseaniano, o igualitarismo e liberalismo da Revolução Francesa, como também o constitucionalismo derivado das leis de Montesquieu, e o modelo de Independência dos Estados Unidos, fez com que consolidassem novas ideias e doutrinas. No Brasil, começaram a surgir novos caminhos aumentando o conhecimento e a ambição, desde a Colônia, a fundação do Seminário de Olinda por Dom José Joaquim da Cunha de Azevedo Coutinho até as Sociedades Secretas lançaram as ideias dos patriotas.

E, com Frei Caneca não pode ser diferente. Ao iniciar seus estudos no Seminário de Olinda2, foi inflamado pelas ideias liberais. Os filósofos Jean – Jacques Rosseau, Robinet, Montesquieu, Condorcet, Benthan, Hobbes, Voltaire, etc. contribuíram para o seu pensamento libertador.

1 A vida de Frei Caneca como sacerdote carmelita será relatada, ainda neste capítulo, nas próximas

páginas.

2 Quando as ideias iluministas começaram a se alastrar, a Igreja tomou a iniciativa de investir no ensino,

enriquecendo o quadro de disciplinas, com aulas de história, geometria, latim, grego, francês, geografia e, com maior dedicação à retórica. A Igreja já não via vantagens em enviar os futuros sacerdotes para estudar na Universidade de Coimbra. E, com a reforma educacional do Marques de Pombal, no ano de 1800, o, então, bispo de Pernambuco, D. José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, funda o Seminário de N.S. da Graça de Olinda (Seminário de Olinda, aonde Frei Caneca atuou como professor e aprofundou seus estudos). O ensino no Seminário de Olinda eram cursos de primeiras letras, “aritmética, doutrina e canto, português, francês, grego, latim, retórica e poética, história universal, geografia, lógica, filosofia, filosofia, física experimental, histórica natural, química, geometria, trigonometria, álgebra, teologia e história eclesiástica” (RIZZINI, 1957, p.58).

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A erudição de Caneca despertava a atenção de quantos com eles mantinham contato direto, ou liam suas produções literárias ou doutrinárias, ou ouviam os seus magistrais sermões, todos eles apoiados nos melhores modelos de eloquência (MONTENEGRO, 1978, p. 27).

O carmelita esgotou as fontes da cultura clássica, seguindo as perspectiva do enciclopedismo e das demais correntes racionalistas da Europa do século XVIII. O religioso, também, inspirava seus estudos nos 10 volumes de História philosofica e

política dos estabelecimentos e do commercio dos europeus nas Índias, de Guillaume – Thomas Raynal, que trazia críticas às monarquias absolutistas e a violência. E, com destaque, consegui transmitir toda essa cultura para diferentes circunstâncias.

Muitas formas se apresentam no acervo doutrinário que pesa na formação de Frei Caneca. Porém, a filosofia do Iluminismo está na base de seu pensamento enraizado num processo de libertação do homem de todas as dependências ideológicas, políticas e sócio-econômicas que inibem nos anseios de progresso.

Sobre este pensamento, o carmelita observa a existência de um crescimento político – social, que se penetra nas teorias das correntes filosóficas européias, através dos filósofos Locke, Adam Smith, Voltaire, Montesquieu e Rousseau3, completando nas exigências do liberalismo e se ligava na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” 4, da Revolução Francesa de 1789.

Com Locke aceitava-se a posição de Hobbes, em partes, e a dos jusnaturalistas da teoria dos dois estados: o estado natural como fundamento do estado social. Entretanto, se para Hobbes o estado social é um estado absoluto, baseado no dever da contenção dos males do

3 Estes são os principais filósofos da Revolução Francesa, no qual Frei Caneca inspirou suas ideias e

pensamentos. John Locke foi médico, filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, é considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social. Adam Smith lançou a base do iluminismo. Um dos teóricos mais influentes da economia moderna, responsável pela Teoria do Liberalismo Econômico. Já Voltaire foi escritor, ensaísta, filósofo iluminista, e ficou conhecido pelo seu dinamismo e espiritualidade em defesa da liberdade civil, inclusive da liberdade religiosa e do livre comercio. Montesquieu ficou conhecido pela Teoria da Separação dos Poderes; teve uma formação iluminista com padres oratorianos. Era contra absolutismo; fez diversas críticas ao clero católico; defendia aspectos democráticos de governo e o respeito as leis; e defendia a divisão do poder em três: Executivo, Legislativo e Judiciário. Por fim, Rousseau foi quem fundamentou os principais conceitos da Revolução Francesa.

4 Este documento foi aprovado, no dia 26 de agosto de 1789, pela Assembléia Constituinte, no contexto

inicial da Revolução Francesa. Seus princípios iluministas tinham como base a liberdade e igualdade perante a lei, a defesa inalienável à propriedade privada e o direito de resistência à opressão. (http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=180, acessado no dia 24/03/2010).

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egoísmo dos indivíduos, em Locke, o homem que no estado de natureza é bom, na sociedade torna-se ainda melhor, porque aí se encontram unidos por um pacto. E, então, a forma de Estado é liberal e tutelar, tem como objetivo o desenvolvimento dos direitos naturais: a liberdade e propriedade (MIRANDA, 1975, p.122).

Há uma persistência dupla na visão do dever político, baseado no acordo constituído pelos indivíduos. E o Estado, como tutelar dos direitos naturais e individuais é legitimo ao mesmo tempo em que é limitado em suas autoridades. Este é o destaque dado ao pensamento de Adam Smith, no qual diz que à seriedade da natureza humana compreendida empiricamente a moral se torna independente da relação, e a natureza humana certifica-se como um dado, e não como valor, permitirá que a filosofia coloque sua fé na razão humana, capaz de iluminar a ignorância e da superstição, imposta, segundo se acreditava, pela tradição e pela autoridade.

Ao mesmo tempo em que Adam Smith força sobre a crença e a fé, Condorcet diz que a crença, no progresso do ser humano, torna-se teoria e dogma, como um impulso para atrair os sábios a serem os missionários do progresso e da cultura, e propagadores das luzes da inteligência, e mesmo benfeitores da humanidade, contribuindo para a perfeição indefinida.

O iluminismo baseado na natureza do homem torna-se naturalista e otimista, e é com Voltaire, e com os outros enciclopedistas, que o iluminismo, tido como uma missão, se fez alastrar a nova filosofia da cultura libertadora, e da importância de conhecimento do espírito dos homens de uma determinada época.

Rousseau diz que a bondade natural do homem e a necessidade da organização da sociedade precisar respeitar e potencializar a ordem natural, “uma vez que sendo o homem bom por natureza, todos os males lhe advêm da sociedade” (MIRANDA, 1975, p.123). Somente pelo contrato social, o pacto social, que o homem consegue seus direitos civis: a liberdade e a igualdade.

Aos indivíduos incube, portanto, a construção da sociedade que lhes garanta os bens naturais5. E só pelo contrato social6 todos os indivíduos contemporizam livremente à comunidade os bens naturais da liberdade e da igualdade, os quais se tornam, então, bens civis. (FORTES, 1993). E os indivíduos não são senão súditos deles mesmo na coletividade.

5 Dentro do iluminismo os bens naturais são considerados com os bens úteis – necessários – para a

sociedade.

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A união do povo é tida como uma soberania. E a soberania é também invisível, essencial ao povo, como a liberdade é essencial ao individuo. E as leis são vontade do povo, incumbindo ao governo de realizá-las, sendo o responsável diante da coletividade imperante como designado de sua administração. Decorrem, em conseqüência natural, os dogmas democráticos: pacto social, soberania popular, autoridades com mandato executivo, e estabelecem-se a critica e fundamenta da derrota do absolutismo (MIRANDA, 1975, p.24).

Os representantes do povo francês apóiam-se em Montesquieu, com um governo amenizado pela vivência de poderes intermediários, - a constituição, e em Rousserau, com elevação do Terceiro Estado, e com igualitarismo contra os privilégios dos aristocratas. Montesquieu, com visão realista e mesmo pragmática, contrário as abstrações, lembrava desde certo tempo que as leis derivam da natureza das coisas e são regras invariáveis.

E o homem sempre está submisso a leis, seja às que ele mesmo se dá, seja às que não são originadas de sua natureza individual. Há as “leis possíveis” anteriores às “leis positivas” que são fixadas pelos homens. As que derivam da própria natureza do homem são “leis naturais”, as quais são anteriores às “leis positivas”, que são leis da sociedade (MIRANDA, 1975, p.124).

E este questionamento político – social que a Liberdade democrática da França conheceu serviu também para o conhecimento da experiência político – social do Brasil. E Frei Caneca, utilizou-se de tais conceitos, estudos e acontecimentos como propósito de vida, em prol do ideal: a Pátria independente e soberana.

Toda sua obra, direta ou indiretamente, reflete sobre os grandes acontecimentos históricos do país, consolidados nos projetos de fundação do Estado, na criação de um sistema político vazado no Liberalismo, excluindo as correlações autoritárias ou absolutistas, voltado para um desenvolvimento de igualdade, sem privilegio de classes, para comunidade nacional. Toda a sua atividade, teórica e prática, vinha de uma grandeza ética e responsabilidade social.

A pesquisadora Mariana Ribeiro (2005) diz que a cultura do religioso era vasta e notória, compunha-se de aspectos do liberalismo clássico, principalmente com ideias de liberdade e igualdade, a um liberalismo mais racional, com pensamento soberano, autoridade, ordem e obediência.

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Sua erudição deveu-se provavelmente às intensas leituras absorvidas na biblioteca da Ordem do Carmo, seus contatos com o Seminário de Olinda e com as reuniões informais na Academia Literária do Paraíso. Além de conhecer a teologia filosófica de São Tomás de Aquino (1224-1274), notadamente na obra De Regno, que era um verdadeiro tratado sobre política, Caneca tinha grande familiaridade com os filósofos iluministas das épocas Moderna e Contemporânea, sendo uma das características mais marcantes de seus escritos, o grande número de citações de Charles-Louis de Secondat Montesquieu (1689-1755), de quem muito o inspirou a obra O Espírito das Leis, baseada na teoria dos três Poderes independentes e eqüipotentes, convivendo num regime estável e moderado. Estas idéias foram de importância notória para a fundamentação das críticas ao projeto constitucional outorgado em 1824 por D. Pedro, que instituiu o Quarto Poder (ou Poder Moderador), com direitos de intervenção sobre os demais Poderes. As Cartas de Pítia a Damão, por exemplo, podem ser consideradas bem similares às cartas persas de Montesquieu, pois denota um gênero de análise crítica da sociedade, sob influências muito claras deste pensador (RIBEIRO, 2005, p.17).

Exemplos, deste pensamento regado pelo iluminismo, são as obras didáticas produzidas por Frei Caneca. Nos textos Tratado de eloqüência extraídos dos melhores

escriptores divididos em três partes, e Taboas synopticas do systema rethorico de Fabio

Quintiliano segundo o compendio de Jeronymo Soares Barboza, o carmelita expressa todo seu espírito intelectual e político, no qual inspirou-se na retórica de Fabio Quintiliano para o ensinamento da arte de argumentar e escrever bem.

Nesta tarefa, o carmelita colocou-se como componente da República Literária, recriminando os “charlatões e pedantes”, que não crêem nas faculdades da inteligência, e muito menos valorizam a eloquência como capacidade de significar com “deleite os pensamentos por palavras, para convencer e persuadir; enquanto a retórica, para ele, é a arte que dirige as disposições naturais do ser humano no uso da eloquência” (MOREL, 2000, p.25).

Expressando-se dessa maneira, Frei Caneca situava-se na esfera pública que transformava o Brasil. A retórica passaria por significativa mudança nesse período, rompendo com a tradição escolástica caracterizada pelos excessivos ornamentos estilísticos e pelo uso e abuso de citações que pretendiam ostentar erudição, tão marcantes no direto e no bacharelismo. A nova tendência definia a retórica como poder de persuasão, sendo associada ao exercício do magistério e, mais ainda, à pedagogia política cultural, visando esclarecimento da humanidade. Dessa forma, retórica e eloqüência eram pontos-chave para a formação das elites ao mesmo tempo XIX. E assim é possível fazer a ligação entre a imprensa de opinião que surgia com força no Brasil do anos 1820-30,

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com considerável peso na cena pública na nacionalidade, e as duas disciplinas ministradas pelo professor Frei Caneca – que desse modo se identificava com o Brasil (MOREL, 2000, 25).

O carmelita, também, tinha a perspectiva de defender a “catequese do gentio”, numa referência ao trabalho desenvolvido junto aos índios ao longo do período colonial por carmelitas e franciscanos. Defensor do equilíbrio dos poderes, sobretudo do fortalecimento da civilização através da educação, do esclarecimento e da propagação do saber.

1.3 - Frei Caneca, o sacerdote

Traçar o perfil sacerdotal de Frei Caneca não é uma tarefa fácil, a documentação histórica é escassa, faltam documentos para retratar com total fidelidade este período da vida do religioso. O que não falta são referências que falem sobre sua vida política.

Como já citado, Frei Caneca era filho de Domingo da Silva Rabelo e Francisca Alexandrina de Siqueira. Sua avó materna, Clara Alves de Torres, era filha de Antônio Alves da Costa Dantas e Maria Pereira de Assumpção. Antonio Alves da Costa Dantas, bisavô de Frei Caneca, por sinal, tio do padre José Dantas, e de Frei Antônio Alves da Natividade Dantas, carmelita turonense bem conhecido nas praças de Recife.

Como pode-se observar, entre os antepassados de Frei Caneca há dois padres: padre José Dantas, e de Frei Antônio Alves da Natividade Dantas. A presença de um carmelita turonense no seu passado induz à suposição que sua vocação como carmelita tivesse influência familiar.

Também existem registros que seu pai, Domingos Caneca, era um homem de muita fé. Em sua casa havia um local sagrado, com vários santos de prestigio, com expressões de religiosidade e centro de devoção familiar.

(...) Que tormento d’alma sofreu o velho tornoeiro nas horas cruciantes do destino cruel de seu filho amando, carmelita e sacerdote. Alucinado recebeu a notícia da morte horrenda de filho predileto, e, num acesso de desespero, “atirou à rua as imagens do seu santuário, quebrou os móveis e partiu rápido para o convento do Carmo. Apenas tinha chegado o corpo inanimado e ensangüentando do seu filho. Atira-se sobre o

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esquife para beijar o filho dilacerado pelas balas cruéis do inimigo feroz. Neste momento, assoma à porta rei Carlos, que tenta confortá-lo (HUCKELMANN, 1975, p. 55).

Frei Caneca tomou o hábito carmelita no dia 08 de outubro de 1796, no convento de Nossa Senhora do Carmo, em Recife. Partir de então passou a se chamar Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. O nome Caneca foi em homenagem ao seu pai.

No ano seguinte de sua ordenação, o carmelita fez a solene profissão religiosa, quando o padre Provincial procedeu a sua entrada definitiva a Ordem do Carmo. Foi preciso uma licença especial do núncio de Portugal, cardeal Pacca, para que Frei Caneca se ordenasse em 1801, pois tinha apenas 22 anos. No ano de 1803, foi nomeado professor de retórica e geometria, exerceu ainda cargos internos, como o de definidor e o de secretario do visitador frei Carlos de São José, quando desempenhou tal função no convento carmelita em 1809.

Frei Caneca era, portanto, homem da Igreja Católica, enquanto instituição. Era um católico em sua profissão de fé, jamais acusando de heresia ou blasfêmia pelas autoridades eclesiásticas de sua ordem, nem pelo Santo Oficio (Inquisição), apesar dos embates políticos da Igreja Católica, mas não consta que tenha tido experiência mística marcante, de revelação de Deus, à maneira de São João da Cruz ou Santa Teresa d’Avilla, por exemplo, ou vivenciado um processo de conversão lento e racial até a transparência espiritual, à maneira de Santo Agostinho. Na verdade, Frei Caneca era um homem que tinha familiaridade com a teologia, com textos Bíblicos (Antigo e Novo Testamentos) e com autores iluministas e filosóficos das épocas Moderna e Contemporânea (MOREL, 2000, 24).

Frei Caneca tentou se matricular na Universidade de Coimbra, onde se formou a grande parte da elite luso-brasileira que assumiria o poder no Brasil após a Independência, mas foi impedido. Seus estudos aconteceram no Seminário de Olinda, fundado pelo bispo Azevedo Coutinho, local em que adquiriu todo seu conhecimento. Os estudos no Seminário lhe deram os diplomas de professor de retórica, filosofia e geometria, passando a lecionar no Convento do Carmo.

Ao se formar, Frei Caneca foi considerado um homem letrado – os Republicanos das Letras – por ensinar a ciência das palavras, e, com isso, transformava a consciência

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da sociedade através de suas pregações e da imprensa. No Brasil, a atividade letrada, no período colonial, foi um atributo quase que exclusivo dos religiosos. A inquisição, a censura prévia e a perseguição às ideias após a Revolução Francesa reforçaram ainda mais o papel da Igreja como formado de intelectuais letrados (MOREL, 2000). Porém, a Igreja não tinha poder absoluto e exclusivo sobre as atividades letradas no Brasil, principalmente no final do século XVIII, quando surgiram as primeiras bibliotecas privadas em poder de leigos. A própria Igreja fazia parte da sociedade, não estava imune as suas contradições e passaria a abrigar e formar homens letrados identificando-se com as novas idéias.

O Seminário de Olinda foi um dos principais centros de educação das novas ideias políticas e culturais da Igreja no Brasil. Frei Caneca foi parte integrante dessa educação, passando da esfera literária para a política. O frade lembrava com respeito seu mestre Antonio Francisco Bastos, a quem o chamava de “primeiro geômetra do Brasil”, com quem estudou e aprendeu mecânica e cálculo e de quem se tornou o maior adversário.

As atividades de letras, no Brasil colonial, estavam concentravam em grande parte nas mãos da igreja, comportando-se como entidade de formação dos intelectuais. Porém, a origem deste ensino teve fiscalização e repressão por infiltrar-se nas ideias da Revolução Francesa (com a inquisição e a censura prévia), e a Igreja, no século XIX, também passava por mudanças e contra posições, como acontecia com o país através da separação do sistema colonial. Assim, não se pode separar o ensino intelectual da Igreja, nem no que se refere à crença e nem às ideias.

Seminário de Olinda se configuraria em um dos maiores centros de irradiação deste processo de mudanças culturais pelos quais estava passando a sociedade colonial e a Igreja, e de lá sairiam padres como Caneca e outros tantos, capacitados com conhecimentos laicos como naturalismo, matemática, retórica e filosofia ilustrada, que depois se rebelariam em movimentos como os de 1817 e 1824. Assim, podemos entender uma certa aproximação entre religião e modernidade político-cultural que estava em efervescência no Brasil do século XIX, como se a crença religiosa começasse a tangenciar, ou mesmo fazer parte, dos preceitos de uma nova forma de se pensar uma sociedade, fundamentada numa razão científica iluminista (RIBEIRO, 2005, p. 33).

Ao assinar documentos ou depoimentos, Frei Caneca fazia questão de mostrar suas condições de professor, assinando como “Lente de Matemática” ou “Lente da

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Geometria”. A geometria para o carmelita é a balança, a filosofia da vida que equilibra a vida social e nacional e traz a ordem e bem – estar dos povos. (HUCKELMANN, 1975, p. 59). E, por meio desta ciência, ele relatava a existência do Supremo Arquiteto do Universo, em consonância com os termos e a instrumentalidade geométrica.

O religioso, segundo MOREL (2000) e HUCKELMANN (1975), ao assinar os documentos, não se referia nesta expressão ao simbolismo da maçonaria e tal conclusão contraria o sentido da geometria em sua interpretação filosófica. Ele vive tanto nesta filosofia geométrica que até usa o termo “O Supremo Arquiteto do Universo” em seus sermões. Em seus estudos sobre “As sociedades secretas de Pernambuco” jamais se confessa adepto de um ou outro agrupamento com os maçons.

Frei Caneca, baseado nos estudos da construção da sociedade sobre as “novas idéias”, escreve textos eruditos, de posição política, descrevendo as associações e sociedade que surgiam na ocasião. Foram sobre a Maçonaria, o Apostolado, a Beneficência e a Jardineira, também conhecida como Keroptica. A Jardineira buscava a libertação da humanidade, não especificamente de uma classe social ou grupo social, sem embarcar em complôs ou desafios à lei. Também não se importava com a obediência dos sócios e nem em controlar o cumprimento das regras ao “supremo autor da natureza”, assim chamavam a Deus.

O Apostolado tratava-se de uma confraria inspirada nos grupos ibéricos – católicos e contra – revolucionários, tinham sua sede na Corte (Rio de Janeiro). Frei Caneca os descreve como “clube de corrompidos e estúpidos aristocratas, propagadores da monarquia absoluta, do despotismo e da tirania, cujo objetivo era manter no poder o ramo mais arbitrário da dinastia de Bragança” (MOREL, 2000, p. 58).

A Beneficência, também conhecida como São José, seria como uma loja, nos dizeres da época, que não seguia de maneira rigorosa os rituais maçons. Segundo o religioso, era um grupo novo, sem estatutos e regras definidos, copiando algumas cerimônias maçônicas. Em seus encontros agrupavam jovens que começaram evitar a companhia de certas pessoas consideradas por eles corruptas ou desacreditadas, e surgiu como idéia de formar círculo fechado e com novos pensamentos, mas sem objetivos precisos.

Por fim, a Maçonaria, que na época havia quatro lojas em torno do Grande Oriente Provincial. Frei Caneca discorre sobre as questões políticas, organizacionais e de poderes que envolvem a sociedade secreta. Além disso, teve fontes privilegiadas sobre o assunto. Em 1821, o carmelita pernambucano conheceu Boissy, um francês

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representante de uma antiga loja de seu país de origem, que junto com o comerciante português Brancfort, viajam pelo mundo estabelecendo vínculos com a maçonaria. Ambos deram ao religioso informações que divulgou em seus textos, inclusive o nome de seus informantes.

Sobre o assunto, Caneca tinha três preocupações: de mostrar que não havia incompatibilidade entre as maçonarias e a religião católica, divulgar informações sobre essa associação e mostrar que o Grande Oriente, em 1822, teve papel decisivo no processo de independência do Brasil.

E ao se pronunciar com certo entusiasmo e conhecimento sobre a Sociedade Secreta e de utilizar os termos dentro da geometria – “O Supremo Arquiteto do Universo” - muitos afirmam que Frei Caneca fez parte da maçonaria e traindo sua fé.

Sabe-se que o frade também freqüentou a Academia Literária do Paraíso, uma associação com a participação de ilustrados intelectuais, principalmente ligados ao clero. Em seus encontros, conversavam sobre o liberalismo francês e americano, e como absorverem destas ideias perante a sociedade.

Agremiação deste tipo eram relativamente comuns no Brasil desde o século XVIII. No que diz respeito a Pernambuco, afirma Tobias Monteiro, que “era o maior foco de liberalismo, de aspirações de autonomia e de tradição guerreira existente em todo o Brasil. Nas academias, filhas do areópago, fundado por Arruda Câmara, associações secretas - XVIII e XIX (RIBEIRO, 2005, p. 17).

O carmelita era devoto de Nossa Senhora do Carmo, que sob sua proteção conseguiu alcançar seus objetivos religiosas e ideológicos. Por ocasião da aclamação do Augusto Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil, o senhor Dom Pedro I, realizou no dia 08 de dezembro de 1822 uma solene festa religiosa na igreja matriz do Corpo Santo, com assistência de uma junta provisória, o governador das armas, a relação, clero, nobreza e povo. Foi nesta solenidade que Frei Caneca fez seu sermão, com o tema: Maria, Maria de Jesus Cristo! É festa da Imaculada Conceição! O discurso elogiava o senado da vila pela feliz escolha do dia festivo em homenagem ao imperador.

O dia é aquele em que a esposa do Cordeiro sem mancha, quero dizer, a santa igreja, cheia de jubilo, celebra o augusto mistério da Conceição Imaculada daquela criatura venturosa, que, descendendo de Abraão e de David, foi escolhido antes de todo criado para ser mãe do Verbo Eterno,

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e nosso Redentor, Jesus Cristo. (OBRAS POLÍTICAS E LITERARIAS, 1979, p. 235).

Frei Caneca mostrou-se competente na sua missão de evangelizador e soube conduzir sua oração e fé a quem precisava. No livro Obras políticas e litterarias – Frei

Joaquim do Amor Divino Caneca consta a parte “Orações sacro – apologéticas”, que reúne seus dois principais textos sobre a oração e sua fé. O primeiro “Sobre a Oração”, que proferiu no dia 14 de fevereiro de 1823, na capela da Venerável Ordem Terceira do Carmo do Recife, foi um sermão que levantou grande repercussão, tanto que sua publicação original foi negada e Frei Carlos de São José refez o texto para divulgar. Seu contexto atacava aqueles que viviam sobre o fanatismo, que viviam a custa da piedade cristã. O sermão coloca a oração sobre a vida cristã e lhe dá devido lugar na vida de fé, livrando-a de qualquer aparência de falso pietismo ou fanatismo vulgar.

O segundo texto é o já citado sobre o dia 08 de dezembro, dia da Imaculada Conceição.

Um duplo vínculo com os sacramentos de Deus ligava a vida de Frei Caneca: o sacerdócio e o matrimônio. O religioso carmelita fez os votos perpétuos, entre a castidade, e sua dignidade sacerdotal, pela qual ele ofereceu a sua vida espontaneamente a Deus, para servir a Igreja e no claustro aos seus irmãos, sem compromissos alheios e com a fidelidade de homem devotado a Deus. Porém, quebrou a promessa da castidade e de uma união ilícita nasceram cinco filhos, três meninas e dois meninos.

O respeito ao celibato era quase norma entre o clero, e o número de filhos de padres muito significativo – comportamento aceito sem maiores escândalos pela sociedade e tratado com tolerância pela Igreja. Mais da metade dos padres tinham filhos nas primeiras décadas do século XIX em Salvador. E somente 25% declararam em testamento ter apenas um filho; 40% deles chefiavam famílias numerosas, com três filhos ou mais, o que descarta que tais crianças fossem frutos de relacionamentos acidentais ou de momentâneas “fraquezas da carne” (MOREL, 2000, p. 21).

Muitos autores relatam que a mulher de Frei Caneca era chamada de Aiaiá para não ser identificada, pois naquela época não podia deixar que descobrissem sua ligação com o religioso. Os exemplos eram muitos de mulheres estupradas ou com as mãos estouradas à palmatória, em que o crime era apenas de serem esposas ou amigas de revolucionários.

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Todavia, após pesquisas realizadas em documentos históricos descobriram que a mulher amada era Marília de seus poemas. E as filhas que tiveram eram apresentadas como suas afilhadas, assim, seria uma maneira de esconder sua paternidade. Às vésperas de morrer, escreveu uma carta para cada uma de suas filhas: Carlota, Joana e Ana, se despedindo.

Eu, pelo perigo em que me acho, já nada te posso fazer. Agora só tens por ti a Deus e tua madrinha. Ela agora é tua mãe, ela te faço todo beneficio, pois bem sabes que tua Aiaiá nada pode fazer-te (Trecho da carta escrita por Frei Caneca a sua afilhada Joana, cujo à chamava de Joaninha) (CANECA, 1979, p.140).

Na hora de sua morte, Frei Caneca se preparou condignamente, assistido na véspera por seu amigo Frei Carlos São José e foi confortado por ele pelos sacramentos. Na manhã seguinte, foi acordado pelo mesmo, se preparou para sua via sacra ao encontro da morte, e não houve complacência para com ele pela justiça humana.

Símbolos do poder religioso foram palco de um embate em torno do condenado. O padre diocesano, cônegos e religiosos de todas as ordens da capital pernambucana foram em procissão ao Palácio do Governo para pedir ao brigadeiro Lima e Silva que suspendesse a execução para aguardar respostas do pedido de clemência enviado ao imperador. Porém, o militar se recusou e ainda ameaçou a todos de prisão.

E, em frente a Igreja de Nossa Senhora do Terço, Frei Caneca passa pela sua degradação eclesiástica, foi despido de suas vestes sacerdotais e declarado indigno de ser sacerdote.

Por fim, Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca é executado. E até os dias atuais não se tem informações corretas sobre seu sepultamento, apenas que seu corpo foi enterrado pelo amigo frade Carlos São José, na Basílica de Nossa Senhora do Carmo.

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1.4 – O amigo, jornalista, Cipriano Barata

Cipriano Barata foi um dos primeiros redatores a exercer o jornalismo opinativo no Brasil, no qual Frei Caneca se espelhou, tanto como jornalista quanto revolucionário. Cipriano José Barata de Almeida, conhecido apenas como Cipriano Barata, nasceu na freguesia de São Pedro Velho, em Salvador, concluiu seus estudos primários na Bahia, seguindo para Europa para estudar na Universidade de Coimbra (a Universidade tão sonhada por Frei Caneca). Lá, formou-se em filosofia e matemática. Iniciou o curso de medicina, porém não concluiu, e ao retornar à sua cidade natal, dedicou-se a cirurgia e à lavoura de açúcar, e ao mesmo tempo atuava com a política entre os agricultores.

Já no ano de 1798, de acordo com Fernando Segismundo (1962), Barata tornou-se um revolucionário, no primeiro movimento de massa do Brasil que ficou conhecido como Revolta dos Alfaiates, e na mesma ocasião iniciou sua carreira como jornalista. Posteriormente se envolveu com a Revolução de 1817, em Pernambuco.

Juarez Bahia (2009, p.100) o descreve como jornalista político, agitador, líder popular, e sua atividade revolucionária na imprensa o projeta como um campeão das liberdades públicas. Também foi precursor das lutas pela da Independência, suas ideias cominavam com a revolução francesa, pregavam pela justiça social, e ainda iam de acordo com pensamentos maçons.

Ao contrário dos jornalistas da época, Barata quis morar no interior afastando-se da corte.

Criador das Sentinelas da Liberdade, a primeira Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco é apontada como segundo entre os jornais republicanos do Brasil, depois de O Maribondo, editado no Recife a partir de 25 de julho de 1822. De 1823 até 1889, Sentinelas circulam em todo o país como sinônimo de jornalismo de combate (BAHIA, 2009, p.100).

Já no ano de 1821, Cipriano foi eleito pela Bahia, deputado das Cortes de Lisboa, e, em 1822, deputado constituinte. Todavia, após não aceitar as decisões da Assembléia Constituinte retorna ao Brasil, precisamente à Recife, e lança seu primeiro jornal, Sentinela da Liberdade da Guarita de Pernambuco.

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No ano seguinte, 1822, Cipriano é preso, sempre mudando de cárcere. Porém, toda vez que retornava à sociedade sua glória aumentava. E, mesmo preso, o jornalista continuava a editar o Sentinela. Bahia (2009, p. 107) relata que o número 66 do jornal sai com o título de Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, atacada e presa

na Fortaleza do Brum por ordem da força armada reunida, no qual denunciava a violência que sofria e protestando contra o arbítrio e a ilegalidade por ser, ele, um deputado.

E, por meio às turbulências, a Sentinela deixa de publicar por algum tempo. Porém, nesta ocasião, surge um jornalista herdeiro de suas ideias e ações para dar continuidade ao seu trabalho. Frei Caneca começa editar o Typhis Pernambucano, com o objetivo de dar continuidade ao jornalismo iniciado por Barata. Já em sua primeira edição, o carmelita ressalta:

Para desgraça deste império realisaram-se (sic) os temores dos que sabiam pesar o perigo a força armada nas mãos de um príncipe jovem, rodeado de lisongeiros sem caracter, inimigos encarniçados do Brazil; verificaram-se todas as previdências do espírito presago do Sentinella da Liberdade; e o augusto e sagrado recinto dos representantes da grande nação brazileira, as duas horas da tarde do já dito dia 12 de novembro, foi atacado pelo esquadrão de cavallaria de Minas e batalhão de caçadores de S. Paulo, duas peças de artilheria montada, postada em frente do edifício, os botafogos com murrões acesos, a cavallaria com as carabinas engatilhadas, tudo em um ar ameaçador e hostil (CANECA, 1979, p.418).

Depois de uma luta incansável por causas sociais, Cipriano Barata morre no dia 11 de julho de 1838, em Natal – RN, onde viveu na pobreza nos dois últimos anos, sobrevivendo como professor, farmacêutico e clínico.

1.5 - Revolução de 1817

No início do século XIX, o Brasil vivia uma época de grande prestígio aos pensadores iluministas, e isso fez o país passar por transformações. Antes de relatarmos a Revolução de 1817, vamos fazer uma retrospectiva para entendermos a situação da nação, naquela ocasião.

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No ano de 1808, a família Real Portuguesa chegava ao país fugida das tropas de Napoleão, e o Brasil deixava de ser colônia de exploração e passava a ser sede do reino. A abertura dos Portos para o capitalismo inglês criou uma euforia, que logo agravou-se numa crise, pois matérias – primas iam saindo cada vez mais e os pequenos lucros ficavam com a administração colonial.

A nobreza para poder sobreviver criou taxas e impostos, aumentando a carga tributaria do país. Os escravos pagam com trabalho braçal, as classes intermediárias perdiam as oportunidades de ascensão e os fazendeiros tinham que pagar cada vez mais os impostos deixando os cofres portugueses ricos.

O Rio de Janeiro transformou-se na nova capital do país luso-afro-brasileiro, e com grandes dificuldades tentou-se livrar da situação de colônia ser uma sociedade moderna. Fundou-se o Banco do Brasil, a Biblioteca Nacional, a Imprensa Régia, e uma rede de órgãos ligados ao governo.

A nova capital tornou-se uma sociedade com estilos mais variados de cidadãos. Grande número de artistas, pintores, escritores, comerciantes, jornalistas, diplomatas, escritos, entre muitos outros, invadiram o Rio de Janeiro trazendo diversas novidades e inovando a vida política, social, econômica e artística do Brasil.

Ainda com a recente independência da América do Norte e os ecos da Revolução Francesa traziam para o Brasil estímulos ideológicos (como citado anteriormente): liberalismo político e econômico, democracia constitucional, patriotismo, direito de liberdade etc. E, com isso, começou a surgir uma crise social e as relações de produção estavam servindo de limitação para o crescimento das forças sociais. Situação que começou a gerar conflitos.

No nordeste havia uma grande ansiedade pela revolução, todos queriam saber das novidades e se envolverem com os conflitos, principalmente em Pernambuco. Clubes secretos, academias maçônicas, quartéis engenhos e conventos avantajavam-se das ideias iluministas e do desagrado social. Por meio desta situação, denunciantes fazem chegar ao governador Caetano Pinto Montenegro7 a existência de uma conspiração, e o próprio mandou prender todos os rebelados envolvidos. E no quartel, o

7 Caetano Pinto Montenegro foi capitão – general e governador da Província de Pernambuco entre os anos

de 1804 e 1817, quando foi derrubado pela Revolução de 1817. Após, incorporou o ministério do imperado D. Pedro I, ocupando a pasta da Justiça, entre 16 de janeiro de 1822 e 17 de julho de 1823, e foi retirado o Ministério por José Bonifacio.

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capitão José Barros Lima, conhecido como “Leão Coroado”, resistiu à prisão, matou os oficiais e o movimento se antecipou.

Em dois dias a situação tomou conta do Nordeste, os rebeldes continham a cidade, expulsando as autoridades, e no dia 06 de março de 1817 iniciou-se a Revolução Pernambucana.

“Viva Nossa Senhora! Viva a liberdade! Morram os aristocratas!”, dizia o padre João Ribeiro, assim, que confirmou a expulsão dos governantes coloniais da província. A revolução durou dois meses e meio e foi o mais extenso e significativo acontecimento antes da independência do Brasil. De início criaram um governo Provisório com representantes de todas as classes: padre, fazendeiro, comerciante, juiz e militar. Também foi criada uma bandeira, um hino e um decreto que pretendia estabelecer a igualdade entre todos. Aquele momento, Republicano, todos queriam ser chamados de patriotas ou de vós. Isto é, um escravo chamaria seu senhor de patriota ou vice – versa.

O movimento foi uma resposta de setores a população da América portuguesa a esse agravamento da centralização política, com consequências sociais e econômicas, sobre tudo o aumento da carga de impostos sobre as propriedades rurais (MOREL, 2000, p. 37).

Os novos republicanos fazem a tentativa de levar o movimento para Bahia, mas foram frustrados. Ao chegarem – na Bahia - o conde dos Arcos havia abafado os rumores da inquisição e organizou expedição militar, por terra e mar, com aproximadamente cinco mil homens, que rapidamente acabaram com os revoltados. E, no Rio de Janeiro, Dom João VI tomou iniciativa e coordenou a regulamentação de mais de sete mil soldados, que foram a Pernambuco para derrotar a República.

“A República fora derrotada por armas” (MOREL, 1987, p.25). Diversos líderes foram mortos, entre eles o padre João Ribeiro, 350 pessoas morreram nos combates e as prisões ficaram lotadas.

Porém, nesta grande confusão onde se encontra Frei Caneca? De acordo com os estudos do professor Marco Morel (2000), Frei Caneca não participou da Revolução de 1817, ao contrário do que muito afirmam, embora tenha sido um dos presos com derrota do movimento. De acordo com os documentos e testemunhos da época, não se encontram registros que ele tenha participado de reuniões, redigido textos ou tido algum envolvimento partidário.

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Diferentes explicações podem ser relatadas para recorrente afirmação de que o carmelita não teria sido um dos expoentes de 1817, escritores que testemunharam os episódios trazem informações importantes sobre o assunto, como por exemplo, os relatos do comerciante Tollenare, que assistiu de perto os acontecimentos, até mesmo sendo mediador entre os republicanos e os legalistas, não se refere a Frei Caneca nem uma única vez.

Os principais relatos são escritos pelo próprio religioso. Em fevereiro de 1817, dias antes da explosão do movimento, Caneca solicitou ao governador da capitania, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, a vaga de catedrático de geometria das Aulas Régias. E, o então governador, respondeu relatando que o professor nomeado ao cargo não havia aparecido para assumir sua cadeira e se esperasse um mês o cargo seria de Caneca. Porém, a Revolução acabou com seus planos.

Frei Caneca foi preso, arrancado do convento. De maneira humilhante, desfilou pelas ruas de Recife acorrentado, conduzido por soldados e acompanhado por uma banda militar que tocava, chamando a atenção de todos para ver o espetáculo. Esse acontecimento gerou tamanha tensão em Pernambuco que as autoridades tiveram receio de outra revolução. Ele e os outros presos foram mantidos no porão de um navio e transferidos para Salvador, Bahia. E durante a viagem todos permaneceram acorrentados ao chão, sem poderem se levantar ou conversar.

Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca havia sido preso e acusado por ter participado de treinamentos de guerrilha, marchado juntos com tropas de rebeldes em direção ao Norte, de ser amigo do padre João Ribeiro e de ter ligação direta com o movimento de 1817.

Quando estava preso, Caneca chegou a enviar dois pedidos para que fosse solto: um para d. João VI e outro para frei Inocêncio Antônio das Neves Portugal. E nesses pedidos ele faz sua defesa e esclarece seu envolvimento na revolução. Sua defesa vinha nos seguintes termos (MOREL, 2000, p.47).8

8 Esses escritos foram retirados do livro do professor Marco Morel “Frei Caneca, Entre Marília e a

Pátria”, 2000, p. 47. “Trecho livremente extraídos de dois documentos. Officio que Frei Joaquim do

Amor Divino Rabello e Caneca da Bahia, a 24 de julho de 1820, dirige ao p.m. dr. Frei Antonio das Neves Portugal (...) Acompanha-o sua defesa, a que o auctor allude no officio, defendendo-se da acusação de comparticipar na revolta de Pernambuco de 1817. Copia auth., com assinatura autografada do autor. E ainda: Petição de frei Joaquim do Amor Divino Rabello Caneca e frei José Maria do

Sacramento Braimme a S.M. d. João VI, suplicando que sejão soltos sem mais delonga declarando devem ser incluídos no mencionado Decreto de 06 de fevereiro de 1818. Ambos encontram-se na Divisão de Manuscritos da Fundação da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, contando o primeiro do Catálogo de Expedições Históricas do Brasil da Biblioteca Nacional n.º 6.781. estes documentos são sistematicamente ignorados pela maioria dos historiadores que estudam Frei Caneca.

Referências

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