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1.4 – O amigo, jornalista, Cipriano Barata

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Cipriano Barata foi um dos primeiros redatores a exercer o jornalismo opinativo no Brasil, no qual Frei Caneca se espelhou, tanto como jornalista quanto revolucionário. Cipriano José Barata de Almeida, conhecido apenas como Cipriano Barata, nasceu na freguesia de São Pedro Velho, em Salvador, concluiu seus estudos primários na Bahia, seguindo para Europa para estudar na Universidade de Coimbra (a Universidade tão sonhada por Frei Caneca). Lá, formou-se em filosofia e matemática. Iniciou o curso de medicina, porém não concluiu, e ao retornar à sua cidade natal, dedicou-se a cirurgia e à lavoura de açúcar, e ao mesmo tempo atuava com a política entre os agricultores.

Já no ano de 1798, de acordo com Fernando Segismundo (1962), Barata tornou- se um revolucionário, no primeiro movimento de massa do Brasil que ficou conhecido como Revolta dos Alfaiates, e na mesma ocasião iniciou sua carreira como jornalista. Posteriormente se envolveu com a Revolução de 1817, em Pernambuco.

Juarez Bahia (2009, p.100) o descreve como jornalista político, agitador, líder popular, e sua atividade revolucionária na imprensa o projeta como um campeão das liberdades públicas. Também foi precursor das lutas pela da Independência, suas ideias cominavam com a revolução francesa, pregavam pela justiça social, e ainda iam de acordo com pensamentos maçons.

Ao contrário dos jornalistas da época, Barata quis morar no interior afastando-se da corte.

Criador das Sentinelas da Liberdade, a primeira Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco é apontada como segundo entre os jornais republicanos do Brasil, depois de O Maribondo, editado no Recife a partir de 25 de julho de 1822. De 1823 até 1889, Sentinelas circulam em todo o país como sinônimo de jornalismo de combate (BAHIA, 2009, p.100).

Já no ano de 1821, Cipriano foi eleito pela Bahia, deputado das Cortes de Lisboa, e, em 1822, deputado constituinte. Todavia, após não aceitar as decisões da Assembléia Constituinte retorna ao Brasil, precisamente à Recife, e lança seu primeiro jornal, Sentinela da Liberdade da Guarita de Pernambuco.

No ano seguinte, 1822, Cipriano é preso, sempre mudando de cárcere. Porém, toda vez que retornava à sociedade sua glória aumentava. E, mesmo preso, o jornalista continuava a editar o Sentinela. Bahia (2009, p. 107) relata que o número 66 do jornal sai com o título de Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, atacada e presa

na Fortaleza do Brum por ordem da força armada reunida, no qual denunciava a violência que sofria e protestando contra o arbítrio e a ilegalidade por ser, ele, um deputado.

E, por meio às turbulências, a Sentinela deixa de publicar por algum tempo. Porém, nesta ocasião, surge um jornalista herdeiro de suas ideias e ações para dar continuidade ao seu trabalho. Frei Caneca começa editar o Typhis Pernambucano, com o objetivo de dar continuidade ao jornalismo iniciado por Barata. Já em sua primeira edição, o carmelita ressalta:

Para desgraça deste império realisaram-se (sic) os temores dos que sabiam pesar o perigo a força armada nas mãos de um príncipe jovem, rodeado de lisongeiros sem caracter, inimigos encarniçados do Brazil; verificaram-se todas as previdências do espírito presago do Sentinella da Liberdade; e o augusto e sagrado recinto dos representantes da grande nação brazileira, as duas horas da tarde do já dito dia 12 de novembro, foi atacado pelo esquadrão de cavallaria de Minas e batalhão de caçadores de S. Paulo, duas peças de artilheria montada, postada em frente do edifício, os botafogos com murrões acesos, a cavallaria com as carabinas engatilhadas, tudo em um ar ameaçador e hostil (CANECA, 1979, p.418).

Depois de uma luta incansável por causas sociais, Cipriano Barata morre no dia 11 de julho de 1838, em Natal – RN, onde viveu na pobreza nos dois últimos anos, sobrevivendo como professor, farmacêutico e clínico.

1.5 - Revolução de 1817

No início do século XIX, o Brasil vivia uma época de grande prestígio aos pensadores iluministas, e isso fez o país passar por transformações. Antes de relatarmos a Revolução de 1817, vamos fazer uma retrospectiva para entendermos a situação da nação, naquela ocasião.

No ano de 1808, a família Real Portuguesa chegava ao país fugida das tropas de Napoleão, e o Brasil deixava de ser colônia de exploração e passava a ser sede do reino. A abertura dos Portos para o capitalismo inglês criou uma euforia, que logo agravou-se numa crise, pois matérias – primas iam saindo cada vez mais e os pequenos lucros ficavam com a administração colonial.

A nobreza para poder sobreviver criou taxas e impostos, aumentando a carga tributaria do país. Os escravos pagam com trabalho braçal, as classes intermediárias perdiam as oportunidades de ascensão e os fazendeiros tinham que pagar cada vez mais os impostos deixando os cofres portugueses ricos.

O Rio de Janeiro transformou-se na nova capital do país luso-afro-brasileiro, e com grandes dificuldades tentou-se livrar da situação de colônia ser uma sociedade moderna. Fundou-se o Banco do Brasil, a Biblioteca Nacional, a Imprensa Régia, e uma rede de órgãos ligados ao governo.

A nova capital tornou-se uma sociedade com estilos mais variados de cidadãos. Grande número de artistas, pintores, escritores, comerciantes, jornalistas, diplomatas, escritos, entre muitos outros, invadiram o Rio de Janeiro trazendo diversas novidades e inovando a vida política, social, econômica e artística do Brasil.

Ainda com a recente independência da América do Norte e os ecos da Revolução Francesa traziam para o Brasil estímulos ideológicos (como citado anteriormente): liberalismo político e econômico, democracia constitucional, patriotismo, direito de liberdade etc. E, com isso, começou a surgir uma crise social e as relações de produção estavam servindo de limitação para o crescimento das forças sociais. Situação que começou a gerar conflitos.

No nordeste havia uma grande ansiedade pela revolução, todos queriam saber das novidades e se envolverem com os conflitos, principalmente em Pernambuco. Clubes secretos, academias maçônicas, quartéis engenhos e conventos avantajavam-se das ideias iluministas e do desagrado social. Por meio desta situação, denunciantes fazem chegar ao governador Caetano Pinto Montenegro7 a existência de uma conspiração, e o próprio mandou prender todos os rebelados envolvidos. E no quartel, o

7 Caetano Pinto Montenegro foi capitão – general e governador da Província de Pernambuco entre os anos

de 1804 e 1817, quando foi derrubado pela Revolução de 1817. Após, incorporou o ministério do imperado D. Pedro I, ocupando a pasta da Justiça, entre 16 de janeiro de 1822 e 17 de julho de 1823, e foi retirado o Ministério por José Bonifacio.

capitão José Barros Lima, conhecido como “Leão Coroado”, resistiu à prisão, matou os oficiais e o movimento se antecipou.

Em dois dias a situação tomou conta do Nordeste, os rebeldes continham a cidade, expulsando as autoridades, e no dia 06 de março de 1817 iniciou-se a Revolução Pernambucana.

“Viva Nossa Senhora! Viva a liberdade! Morram os aristocratas!”, dizia o padre João Ribeiro, assim, que confirmou a expulsão dos governantes coloniais da província. A revolução durou dois meses e meio e foi o mais extenso e significativo acontecimento antes da independência do Brasil. De início criaram um governo Provisório com representantes de todas as classes: padre, fazendeiro, comerciante, juiz e militar. Também foi criada uma bandeira, um hino e um decreto que pretendia estabelecer a igualdade entre todos. Aquele momento, Republicano, todos queriam ser chamados de patriotas ou de vós. Isto é, um escravo chamaria seu senhor de patriota ou vice – versa.

O movimento foi uma resposta de setores a população da América portuguesa a esse agravamento da centralização política, com consequências sociais e econômicas, sobre tudo o aumento da carga de impostos sobre as propriedades rurais (MOREL, 2000, p. 37).

Os novos republicanos fazem a tentativa de levar o movimento para Bahia, mas foram frustrados. Ao chegarem – na Bahia - o conde dos Arcos havia abafado os rumores da inquisição e organizou expedição militar, por terra e mar, com aproximadamente cinco mil homens, que rapidamente acabaram com os revoltados. E, no Rio de Janeiro, Dom João VI tomou iniciativa e coordenou a regulamentação de mais de sete mil soldados, que foram a Pernambuco para derrotar a República.

“A República fora derrotada por armas” (MOREL, 1987, p.25). Diversos líderes foram mortos, entre eles o padre João Ribeiro, 350 pessoas morreram nos combates e as prisões ficaram lotadas.

Porém, nesta grande confusão onde se encontra Frei Caneca? De acordo com os estudos do professor Marco Morel (2000), Frei Caneca não participou da Revolução de 1817, ao contrário do que muito afirmam, embora tenha sido um dos presos com derrota do movimento. De acordo com os documentos e testemunhos da época, não se encontram registros que ele tenha participado de reuniões, redigido textos ou tido algum envolvimento partidário.

Diferentes explicações podem ser relatadas para recorrente afirmação de que o carmelita não teria sido um dos expoentes de 1817, escritores que testemunharam os episódios trazem informações importantes sobre o assunto, como por exemplo, os relatos do comerciante Tollenare, que assistiu de perto os acontecimentos, até mesmo sendo mediador entre os republicanos e os legalistas, não se refere a Frei Caneca nem uma única vez.

Os principais relatos são escritos pelo próprio religioso. Em fevereiro de 1817, dias antes da explosão do movimento, Caneca solicitou ao governador da capitania, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, a vaga de catedrático de geometria das Aulas Régias. E, o então governador, respondeu relatando que o professor nomeado ao cargo não havia aparecido para assumir sua cadeira e se esperasse um mês o cargo seria de Caneca. Porém, a Revolução acabou com seus planos.

Frei Caneca foi preso, arrancado do convento. De maneira humilhante, desfilou pelas ruas de Recife acorrentado, conduzido por soldados e acompanhado por uma banda militar que tocava, chamando a atenção de todos para ver o espetáculo. Esse acontecimento gerou tamanha tensão em Pernambuco que as autoridades tiveram receio de outra revolução. Ele e os outros presos foram mantidos no porão de um navio e transferidos para Salvador, Bahia. E durante a viagem todos permaneceram acorrentados ao chão, sem poderem se levantar ou conversar.

Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca havia sido preso e acusado por ter participado de treinamentos de guerrilha, marchado juntos com tropas de rebeldes em direção ao Norte, de ser amigo do padre João Ribeiro e de ter ligação direta com o movimento de 1817.

Quando estava preso, Caneca chegou a enviar dois pedidos para que fosse solto: um para d. João VI e outro para frei Inocêncio Antônio das Neves Portugal. E nesses pedidos ele faz sua defesa e esclarece seu envolvimento na revolução. Sua defesa vinha nos seguintes termos (MOREL, 2000, p.47).8

8 Esses escritos foram retirados do livro do professor Marco Morel “Frei Caneca, Entre Marília e a

Pátria”, 2000, p. 47. “Trecho livremente extraídos de dois documentos. Officio que Frei Joaquim do

Amor Divino Rabello e Caneca da Bahia, a 24 de julho de 1820, dirige ao p.m. dr. Frei Antonio das Neves Portugal (...) Acompanha-o sua defesa, a que o auctor allude no officio, defendendo-se da acusação de comparticipar na revolta de Pernambuco de 1817. Copia auth., com assinatura autografada do autor. E ainda: Petição de frei Joaquim do Amor Divino Rabello Caneca e frei José Maria do

Sacramento Braimme a S.M. d. João VI, suplicando que sejão soltos sem mais delonga declarando devem ser incluídos no mencionado Decreto de 06 de fevereiro de 1818. Ambos encontram-se na Divisão de Manuscritos da Fundação da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, contando o primeiro do Catálogo de Expedições Históricas do Brasil da Biblioteca Nacional n.º 6.781. estes documentos são sistematicamente ignorados pela maioria dos historiadores que estudam Frei Caneca.

Sou um homem que, pela profissão religiosa, voltei-me para uma vida de mansidão e recolhimento na Ordem do Carmo da Província Reformada Turonense, onde, além de exercer cargos eclesiásticos, sou professor de Filosofia, Retórica História e Geometria. Todos sabem que não só não participei de nenhum dos atos revolucionários de 1817 como no convento sempre declarei contra eles. Mas o que me faz saltar as barreiras do acanhamento religioso e pedir minha liberação destes cárceres onde tenho padecido é minha pobre e numerosa família. Tenho feito grande falta às minhas três irmãs solteiras e duas sobrinhas órfãs, que não acham o necessário arrimo em meu pai, com o peso de 67 anos. Prostro-me com a maior submissão diante do Trono, confiando na Humanidade de nossos governantes.

Em outro pedido, o carmelita continua suas explicações:

Nunca participei de nenhum tipo de exercício militar, não sou soldado nem tenho condições de ser. Apenas, certo dia, passando pó acaso no quintal da Ordem Terceira do Carmo, ouvi movimentação fora do comum, fiquei curioso e entrei para olhar, durante algum tempo vi o que se passava lá, onde vários pessoas exercitavam-se em armas numa tremenda confusão. É verdade que acompanhei o corpo militar de rebeldes como capelão. Mas fiz isso constrangido. Foi no dia 20 de abril, quando recebi ordens expressas de meu superior, Prior do convento, frei Antonio São José Holanda, que não queria se comprometer com nenhum dos dois lados do conflito. Ao ser procurado pelos chefes revolucionários, frei Antonio designou-me, sem direito a excusas, como capelão das ditas tropas. Fiquei constrangido no meio da tropa onde os homens já estavam, insensatos pelo terror e logo em Olinda desliguei-me do grupo, escondendo-me inicialmente na casa de um amigo e depois no Convento da Ordem na cidade de Goiana.

Continua, então, Frei Caneca:

As calunias de meus encarniçados inimigos são têm limites. Conheci padre João Ribeiro pelo fato de sermos da mesma cidade e religião. Mas era apenas um relacionamento de urbanidade e nunca o procurei durante a rebelião, estive com ele só quando me tornei capelão da tropa. As duas testemunhas de acusação contra mim foram frei José de Santa Tereza e frei Antonio, ambos carmelitas. O primeiro quis vingar-se porque reprovei-o em gramática latina quando foi meu aluno. O segundo, que é Caixa da Ordem, ambicionava o cargo de Secretário Visitador, para qual eu deveria ser indicado no próximo Capítulo Provincial. Ambos uniram-se e denunciaram-se como cabeça da

Revolução. É da disputa por este emprego que nasceu a denúncia. Minha prisão resulta de intriga da comunidade.

O carmelita ficou preso durante quatro anos, entre 1817 e 1821. Os primeiros anos na prisão decorreram de terríveis sofrimentos e castigos, passou fome, sede, desconforto e ficou sem comunicação com outras pessoas.

Após meses o conde dos Arcos, que era responsável pela prisão, foi substituído. Com isso, mudou-se o tratamento com aqueles que estavam presos. Puderam se alimentar melhor, receber tratamento humano e, também, estudar e praticar diversas leituras.

Passaram, então, os encarcerados a obter conhecimentos doutrinários de livros que ganhavam. No inicio eram folhetins romances, depois passaram aos livros de direito, história, poesia e línguas estrangeiras. Organizaram, no presídio, uma escola em que cada um ensina o que sabia aos outros companheiros. Antonio Carlos de Andrade (irmão de José Bonifácio) lecionava aulas de inglês, Frei Caneca ensinou geometria e cálculos.

Entre seus afazeres o carmelita redigiu, na prisão, o texto Breve compendio de

grammatica portugueza organizado em forma systematica, com adaptação a capacidade dos alunos, onde desenvolveu uma metodologia que realça o uso das regras, para se conseguir à perfeição do aprendizado. Esse volume foi organizado por duas freiras do Convento do Desterro, d. Rosa e d. Cândida Luíza de Castro, reclusas, que sem conhecerem pessoalmente Frei Caneca, tiveram um vínculo de solidariedade com ele, mandaram-lhe comida, roupas e livros na prisão. Em troca, ele criou esse método de ensiná-las por correspondência. Na época o ensino era negado as mulheres.

Com a Revolta Liberal9 do Porto, em 1820, os alicerces do Antigo Regime português ficam estremecidos, inclusive na América portuguesa, isto é, o Brasil. O absolutismo é rapidamente substituído pelo constitucionalismo, a liberdade de imprensa começa a substituir a censura prévia. A Inquisição é eliminada em Portugal, os capitães da América perdem seus postos para o governo provisório (algo semelhante ao que

9 Mesmo com a derrota de Napoleão, D. João VI permanecia no Brasil. Em 1820, a população

portuguesa, liderada pela burguesia, se revoltou e exigiu que as tropas inglesas de Beresford saíssem do país. Foi convocada uma Assembléia Constituinte e derrubaram o absolutismo. O rei seria o mesmo – D. João -, mas teria que obedecer à Constituição criada pela Corte.

A notícia chegou ao Brasil e recebeu apoio dos grupos contrários. Queriam que D. João voltasse para Lisboa e, em 1821, o rei retorna à seu país.

aconteceu na Revolução de 1817). Ainda acontecem batalhas judiciais e políticas forçando a abertura das prisões. No dia 10 de fevereiro de 1821 Frei Caneca é liberado da prisão e retorna para Pernambuco, sua terra natal.

1.6 - A Liberdade

Após a liberdade, Frei Caneca ainda sentia o peso da permanência naquele lugar, em meio às transformações, precisava voltar ao cotidiano. O antigo regime absolutista desfazia-se, tendo como cenário o espaço urbano (MOREL, 2000). Observa-se que a cena política e social havia mudado e seu olhar também se modificava.

O religioso começava naquele momento um projeto de construção de uma sociedade com “novas ideias”, e, agora, sua postura não estava mais escondida, assumiu seu caráter revolucionário. Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca passaria a ser um personagem de destaque, atuando com a expressão da palavra, escrevendo ou discursando. Sua linguagem não era das mais fáceis, principalmente para aqueles não tiveram a oportunidade do estudo, mas o conteúdo era nítido para todos: buscava a liberdade moderna as legitimando pelas antigas tradições.

Nesse período escreveu "Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do

cidadão e deveres deste para com a mesma pátria" (1822), onde preocupou-se em mostrar a possibilidade da união entre os portugueses de ambos os hemisférios, sobre os auspícios da monarquia constitucional.

Em 1822, acontece a Independência do Brasil10. E, pela falta de comunicação da época a notícia do grande acontecimento, da libertação brasileira, chega a Recife com mais de semana de atraso.

10 A Independência acontece quando a Corte do Brasil não consegue mais negociar com a Corte de

Portugal. O Brasil queria construir uma Assembléia Constituinte e Portugal não aceitava. “Naturalmente que cada atitude de independência do Brasil do governo brasileiro, agora liderado por José Bonifácio, repercutia negativamente em Portugal, provocando indignação e revolta entre os portugueses” (LUTOSA, 2003, p.32). Os portugueses achavam que a população brasileira era negra, selvagem e sem cultura, e está situação, gerou revolta m alguns brasileiros que chegaram a mudar o sobrenome de origem portuguesa. A política liderada por José Bonifácio agia como se a nação fosse livre, mesmo antes da Independência. E no, então, dia 07 de setembro de 1822, durante a viagem de D. Pedro à província de São Paulo, foi dado grito do Ipiranga, o grito de liberdade. “Após a Independência, os grupos que cercavam d. Pedro e que vinham se enfrentando de forma cada vez mais agressiva desde o começo do governo Andrada entraram em choque direto por conta das definições do poder que teria o imperador” (LUTOSA, 2003, p.33). De

No dia 08 de dezembro de 1822, celebra-se, em Recife, a aclamação de D. Pedro I, imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil. Festejos e solenidades foram promovidos pelo Senado da Câmera, com a presença de toda a autoridade local, clero, burguesia e o povo. Na ocasião, Caneca fez o sermão, de uma hora e meia, inspirado nas palavras do evangelista Mateus e correspodentes à data de Nossa Senhora da Conceição – Maria, de qua natus est Jesus, qui vocatur Christus. Ao termino, os que estavam ali presente afirmaram que tal reconhecimento do novo monarca era uma mudança de “pacto social”, retomando expressões difundidas por Rosseau. E nesses dois pactos – constitucionalismo e pacto social – a expectativa não era arcaica, mas característica das “novas ideias” e da liberdade moderna.

1.7 - Constituição 1823 e 1824

Após a Proclamação da Independência do Brasil, sucedeu uma discordância entre os radicais e os conservadores na Assembléia Constituinte. A Independência não foi solidificada com aclamação do imperador, mas sim em sua Constituição, e a Assembléia Constituinte deu início ao trabalho no dia 13 de maio de 1823, quando d. Pedro discursou sobre seus pensamentos e o que esperava dos legisladores.

Os constituintes ficaram divididos, uma parte seguiu a orientação liberal – democrata, buscavam uma monarquia que respeitasse os direitos dos cidadãos, assim,

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