ESPAÇOS MÉTRICOS
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ESPAÇOS TOPOLÓGICOS
Nuno C. Freire e M. F. Veiga Setembro 2010
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Prefácio
A aplicação da Matemática, em que se consideram unicamente conceitos abstractos ao estudo da realidade Física, reflecte como o pensamento humano é moldado à existência material.
Em Topologia obtem-se uma Teoria relativa aos conceitos de figura, pela caracterização da forma_ Figuras que podem obter-se uma da outra por uma deformação continuada são chamadas homeomorfas; homeomorfismo é um
conceito fundamental em Topologia; e distinguem-se figuras formadas por "um só" ou "vários bocados"_ E de número, pela formulação geral rigorosa do conceito de limite. Assim em particular a Topologia é fundamental em Análise Matemática.
Já da Antiguidade se recolhem os Elementos de Euclides, um primeiro exemplo de uma Teoria Axiomática. Esta obtem-se na dedução de propriedades feita a partir de outras e uma propriedade só é aceite como verdadeira_Um Teorema da Teoria_ Se foi demonstrada ou seja, se ficou provado que é
consequência lógica de propriedades anteriores. Indispensável é assim a Lógica Matemática; esta assenta na distinção entre os valores lógicos Verdadeiro e Falso, e tem como Princípios fundamentais a não contradição (uma proposição não pode ser simultaneamente Verdadeira e Falsa) e o terceiro excluído (dada uma
proposição, esta é Verdadeira ou é Falsa, não podendo dar-se outro caso). E a Teoria de Conjuntos, que dá corpo rigoroso a toda a Matemática, que teve
avanços notáveis no séc. XIX. Este livro é inicialmente concebido como um texto para o estudante que lhe dá chão seguro para proseguir em Análise e, de forma geral para todo o Curso. A matéria é exposta na forma de exercícios resolvidos, recolhida de obras consagradas. Sugere-se ao leitor que vá seguindo as
resoluções para de seguida, pouco a pouco, procurar por si resolver recorrendo quando necessário a uma solução exposta. Inicia com uma abordagem intuitiva de Teoria de Conjuntos e noções básicas de Lógica Matemática no Cap. I.
Aconselha-se a leitura atenta deste Capítulo. Da experiência de um dos Autores, o Aproveitamento é muito melhor quando se começa pelos Espaços Métricos,
expostos no Cap. II; assim se facilita o processo de abstracção. Np Cap. III trata-se a Topologia Geral. As matérias são desenvolvidas de modo a que excedem um Curso habitual de Topologia de um Semestre. Nomeadamente o Cap. IV não terá cabimento nesse âmbito. Para o estudo da Topologia incluímos no Cap. III o esboço de uma Axiomática rigorosa de Teoria de Conjuntos, baseada na Axiomática de Bernays-Gödel-von Neumann que é adoptada pelo texto de referência [Dugundji]. Numa primeira abordagem (quiçá inevitavelmente para um primeiro Curso) é suficiente o Cap. I. Motivados pelo interesse no tema,
apresentamos desenvolvimentos possivelmente apropriados para pós-graduação. São indicadas referências bibliográficas para o aprofundamento em Topologia, que esperamos possam ser úteis para Colegas interessados.
ii
ÍNDICE
Prefácio ...i
I RELAÇÕES, CONJUNTOS E FUNÇÕES ...1
I.1 Relações numa variável e conjuntos ...2
I.2 Relações binárias e funções ... 21
I.3 Axioma de Zermelo e produto cartesiano infinito Operação de Hilbert ... ...25
I.4 Funções associadas de conjuntos de uma função ... ... .... 26
I.5 Relações de equivalência e relações de ordem ... ... 29
I.6 O conjunto N. Noções de cardinalidade ... ... 36
I.7 Filtros e ultrafiltros. Redes ...47
I. 8 Exercícios e complementos ... 54
Bibliografia do Capítulo I ... 57
II ESPAÇOS MÉTRICOS ... 58
II.1 Desigualdades de Cauchy-Schwarz, Hölder e Minkowski ...59
II.2 Distância num conjunto. Espaço métrico. Sucessões convergentes ... 61
II.3 Vizinhanças de um ponto num espaço métrico ... 72
II.4 Métricas equivalentes ...75
II.5 Topologia de um espaço métrico ... 80
II.6 Topologia de subespaço métrico. Separabilidade ... 97
II.7 Condições de cardinalidade em espaços métricos ... 103
II.8 Limite de uma função entre espaços métricos num ponto e continuidade ...111
II.9 Métricas sobre o produto cartesiano de espaços métricos ... 126
II.10 Espaços métricos completos. Categoria ... ....130
II.11 Separação em espaços métricos ...143
II.12 Compacidade em espaços métricos ...144
II.13 Conjuntos conexos em espaços métricos ... 154
II. 14 Exercícios e complemantos ... .... 161
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III ESPAÇOS TOPOLÓGICOS ...165
III.1 Uma axiomática da teoria de conjuntos.. Números ordinais e números cardinais ...166
III.2 Espaço topológico e base de uma topologia ...178
III.3 Vizinhanças de um ponto ...185
III.4 Subespaços topológicos ... 188
III.5 Conjuntos fechados. Definição da topologia pelo operador de fecho ....190
III.6 Conjuntos notáveis associados a um conjunto no espaço topológico ...192
III.7 Convergência no espaço topológico ...197
III.8 Limites e continuidade ... 201
III.9 Separação ... 210
III.10 Topologia produto e topologia ccociente. Espaços completamente regulares. Obtenção de topologias ... 221
III.11 Compacidade ...239
III.12 Conjuntos conexos ...257
III. 13 Exercícios e complementos ...268
IV METRIZABILIDADE ...270
IV.1 Espaços topológicos metrizáveis separáveis ...271
IV.2 Teoremas complementares ... 275
IV.3 Exercícios e complementos ... 280
I RELAÇÕES, CONJUNTOS E FUNÇÕES
I.1 RELAÇÕES NUMA VARIÁVEL E CONJUNTOS
Uma relação Rx numa variável x ∈ U (x pertence a U) é uma expressão em que figuram palavras da linguagem comum, acrescidas ou não de sinais ou símbolos
matemáticos, que se transforma numa afirmação (proposição) para cada valor atribuido à variável x, percorrendo o conjunto U. Neste Cap. I não distinguimos entre os conceitos de colecção ou classe de entes, e o conjunto que constituem; o que é tema de III.1. em que expomos uma teoria axiomática de conjuntos, a que seguimos neste livro. Podem ocorrer numa Teoria matemática, relações numa variável x, que envolvam apenas símbolos matemáticos e a variável x.
Sempre que não é claro no contexto, deve indicar-se expressamente o conjunto de valores que se considera para a variável, escrevendo Rx x ∈ U.
I.1.1 Exemplos (1) Rx ≡ x é divisível por 3 x ∈ N é uma relação em x, considerada para x variando no conjunto dos números naturais N 1, 2, . . . ;
(2) Rx ≡∣ x ∣ 1 x ∈ R é uma relação na variável x percorrendo o conjunto R dos números reais;
(3) Rz ≡∣ z ∣ 1 z ∈ C é uma relação em C, o conjunto dos números complexos;
(4) Rp ≡ p ∈ Q p ∈ N0 é uma relação na variável p, onde p varia no conjunto
dos inteiros não negativos N0 (Q representa o conjunto dos números racionais).
I.1.2 Observações (1) A cada conjunto dado A, podemos associar a relação correspondente x ∈ A, que é uma relação na variável x. No entanto, uma relação numa variável pode não definir nenhum conjunto. Aceitamos os princípios do terceiro excluido e da não contradição (uma proposição é verdadeira ou é falsa, e não pode ser verdadeira e falsa simultaneamente) da Lógica Clássica, e conclui-se facilmente que a relação x ∉ x não define nenhum conjunto: se A é o conjunto dos elementos x tais que x ∉ x, suponhamos
A ∈ A; então A ∉ A, de modo que não pode ser A ∈ A, pelo princípio da não contradição.
Pelo princípio do terceiro excluído, deve ter-se portanto A ∉ A; mas então A ∈ A, pela definição do conjunto A, o que não pode ser, de novo pelo princípio da não contradição.
(2) O aluno já terá distinguido que expressões como " x ∉ x" , " x ∈ x" , serão ”absurdas”. Esta última, por exemplo porque uma vez conceptualizado um conjunto X, há que distinguir o conjunto dos elementos que lhe pertencem, e que são exactamente os objectos que satisfazem a relação x ∈ X. Deste modo deve escrever-se 1 ∈ 0, 1, 4 no lugar de1 ∈ 0, 1, 4, ∈ em vez de ∈ ; em ambos os casos, se X é um conjunto formado por elementos a, b, u, escrevemos X a, b, u por exemplo. (A relação
Rx ≡ x ∈ x ∈ N não é ”absurda”, recorde-se, mas uma relação impossível pois não é
verificada por nenhum número natural). Questões como estas inserem-se na Teoria da Lógica Matemática aprofundada, e neste curso aceitaremos tacitamente axiomas de
regularidade (numa Teoria Matemática, aceitam-se como verdadeiras certas hipóteses sem necessidade de demonstração, que se chamam axiomas), que dão lugar aos conceitos e notações habituais em Teoria dos Conjuntos.
I.1.3 Substituições numa relação
Se Rx x ∈ U é uma relação em x, e c ∈ U, diz-se que a proposição Rc é obtida por substituição da variável x pela constante c
I.1.4 Os valores lógicos V, F
Segundo os princípios do terceiro excluido e da não contradição, a cada proposição P corresponde ou o valor lógico V, se a proposição é verdadeira, ou o valor lógico F, se é falsa; e não pode ocorrer um terceiro caso. Para simplificar, escreve-se P V, P F respectivamente no primeiro (segundo) caso.
I.1.5 Exercício Em cada um dos exemplos (1),...,(4) anteriores, determine o valor lógico das proposições R4 e R1. (Note que 1, 4 pertencem ao conjunto relativo à variável em cada exemplo).
Resolução
(1) R1 F. R4 F.
(2) R1 ≡∣ 1 ∣ 1 V. R4 ≡∣ 4 ∣ 1 4 1 F. (3) R1 ≡∣ 1 ∣ 1 V. R4 ≡∣ 4 ∣ 1 4 1 F.
(4) R1 ≡ 1 ∈ Q 1 ∈ Q V. R4 ≡ 4 ∈ Q 2 ∈ Q V.
I.1.6 Formação de novas relações e tabelas de verdade
Sendo Rx, Sx duas relações numa variável x percorrendo um mesmo conjunto U, então para cada substituição de x por uma constnte c ∈ U a proposição Rc ou Sc pode não significar o mesmo que Rc, nem que Sc. A proposição Rc ou Sc, ou mais
geralmente R ou S, em que R, S são quaisquer proposições, designa-se por R∨ S, neste caso
Rc ∨ Sc. Uma vez que podemos considerar a proposição Rc ∨ Sc para cada valor da
constante c tomada em U, faz sentido considerar a relação Rx ∨ Sx x ∈ U.
Analogamente, dadas Rx, Sx, ambas relações em x ∈ U pode considerar-se a relação
Rx e Sx, que se representa por Rx ∧ Sx. E assim como dada uma proposição R
podemos considerar a sua negação, que notamos ~R, a negação da relação Rx x ∈ U é a relação ~Rx x ∈ U, sendo ~Rc a negação da proposição Rc, para cada substituição da variável x pela constante c fixada em U. Importante é também saber se uma relação Rx implica uma relação Sx, para a variável x tomando valores em U. Isto é verdade sse (abreviatura de ”se e só se”) para cada substituição da variável x por um elemento c ∈ U, as proposições obtidas Rc, Sc respectivamente verificam Rc Sc isto é, se sempre que se dá Rc V então tem-se Sc V; escreve-se neste caso Rx Sx x ∈ U.
Rx, Sx são equivalentes quando Rx Sx e reciprocamente Sx Rx, nota-se
então Rx Sx. Frequentemente, interessa ter informação sobre o valor lógico de uma proposição, ou de uma relação numa variável, obtida a partir de outras por utilização dos símbolos lógicos∨, ∧, ~, , não apenas no caso em que a proposição obtida é verdadeira (ou a proposição obtida por substituições numa relação), para estudar um problema; para isso utilizam-se as tabelas de verdade do cálculo proposicional, que indicam a variação dos valores lógicos.
I.1.7 Tabelas de verdade da disjunção, conjunção, negação, implicação e equivalência P Q P∨ Q P ∧ Q ~P P Q P Q V V V V F V V V F V F F F F F V V F V V F F F F F V V V
I.1.8 Exemplos (1) Sabendo-se que uma disjunção P∨ Q V, e que P F, pode inferir-se pela observação da tabela, que Q V;
(2) Se soubermos que uma implicação P Q é verdadeira (i.e, P Q V, e portanto se verifica o caso da 1ª linha, ou os casos da 3ª ou 4ª linhas da tabela de verdade), e que o consequente Q da implicação é Q F, podemos concluir que P F pela
observação da tabela.
I.1.9 Observação As tabelas de verdade aplicam-se também a relações, indicando-se o conjunto em que se considera a variável. Para uma relação Rx x ∈ U, põe-se
Rx V x ∈ A se Rc V para cada subtituição da variável por qualquer constante c ∈ A ⊂ U. Por exemplo x2 0 x ∈ R é falsa, e x2 0 x ∈ R\0 é verdadeira.
Também x2 1 x 1 x ∈ R é falsa, e x2 1 x 1 x ∈ R 0
é verdadeira, onde
R0 é o conjunto dos números reais não negativos. Para significar que duas relações
Rx, Sx x ∈ U têm o mesmo valor lógico (i.e., para cada substituição da variável por
uma constante c, as proposições Rc, Sc têm o mesmo valor lógico, Rc Sc), escreve-se Rx Sx. Por exemplo as relações em x ∈ N, Rx ≡ x é divisível por 4, e
Sx ≡ x é divisível por 2 ,verificam Rx ∨ Sx Sx, Rx ∧ Sx Rx. Diz-se que
as proposições R, S (respectivamente as relações em x, Rx, Sx) são equivalentes sse
R S (respectivamente Rx Sx)
I.1.10 Exemplo Dadas quaisquer proposições R, S, as tabelas de verdade de R S e de ~R∨ S mostram que R S ~R ∨ S: R S ~R R S ~R ∨ S R S ~R ∨ S V V F V V V V F F F F V F V V V V V F F V V V V
Uma proposição que assume sempre o valor lógico V diz-se uma tautologia. Assim
I.1.11 Exercícios (1) Verifique usando uma tabela de verdade, que ~ ~R R é uma tautologia.
(2) Mostre que são tautologias, utilizando tabelas de verdade: (i) R R ∨ S; (ii) R∧ S R; (iii)R S R S ∧ S R; (iv)R T ∧ S T R ∨ S T; (v)H T ~T ~H; (vi)R S ∧ R T R S ∧ T. (vii) R S ~R ∨ S.
(3) Utilizando o exercício anterior, pode concluir que se R, S 0 são relações na variável ∈ R, onde Ré o conjunto dos números reais positivos, então as implicações
(i) R R ∨ S e (ii) R ∧ S R são verdadeiras? Porquê? (4) Sendo x0 ∈ a, b A ⊂ R, 0,
(i) determine o maior subconjuntoE de R tal que R ≡ x0− , x0 ⊂ A é
verdadeira, com x0 ab2 , para todo o ∈ E.
(ii) indique um valor de x0tal que, para qualquer 0, sejam verdadeiras
simultãneamentex0 − , x0 ∩ A ≠ , x0 − , x0 ∩ Ac ≠ . (Ac R\A é o conjunto complementar de A em R). Resolução (1) R ~R ~ ~R V F V F V F
Uma vez que R, ~ ~R assumem sempre o mesmo valor lógico, conclui-se que ~ ~R R é uma tautologia. (2) (i) R S R∨ S R R ∨ S V V V V V F V V F V V V F F F V (ii) R S R∧ S R ∧ S R V V V V V F F V F V F V F F F V
(iii) R S R S R S S R R S ∧ S R
V V V V V V
V F F F V F
F V F V F F
F F V V V V
Uma vez que os valores lógicos nas 3ª e última coluna coincidem, conclui-se a tautologia. (iv) R S T R∨ S R T S T R T ∧ S T R ∨ S T V V V V V V V V V V F V F F F F V F V V V V V V V F F V F V F F F V V V V V V V F V F V V F F F F F V F V V V V F F F F V V V V
Uma vez que sempre que o antecedenteR T ∧ S T na penúltima coluna é verdadeiro, também o consequente R∨ S T na última coluna é verdadeiro, concluimos que a implicaçãoR T ∧ S T R ∨ S T é verdadeira.
(v) H T ~H ~T H T ~T ~H
V V F F V V
V F F V F F
F V V F F F
F F V V V V
Uma vez que os valores lógicos de H T, ~T ~H coincidem nas 5ª e 6ª colunas coincidem, conclui-se queH T ~T ~H.
(vi) R S T S∧ T R S R T R S ∧ R T R S ∧ T V V V V V V V V V V F F V F F F V F V F F V F F V F F F V V V V F V V V V V V V F V F F V V V V F F V F V V V V F F F F V V V V
Coincidindo os valores lógicos nas duas últimas colunas, conclui-se a equivalência. (vii) R S ~R R S ~R ∨ S R S ~R ∨ S
V V F V V V
V F F F F V
F V V V V V
(3) Sim, porque para cada substituição de por uma constante 0, as implicações
R0 R0 ∨ S0 e R0 ∧ S0 R0 são verdadeiras ((2),(i),(ii)).
(4) (i) O maior valor de para o qual ab2 − , ab2 ⊂ a, b é o maior 0 tal que ab2 − ≥ a ∧ ab2 ≤ b 0 ≤ ab2 − a b−a2 ∧ ≤ b−a2 ; é portanto b−a2 . Conclui-se 0, b−a2 .
(ii) x0 a.
I.1.12 Cálculo Proposicional e obtenção de conjuntos.
Dados conjuntos X, Y definidos respectivamente por relações Rx, Sx, obtêm-se
X Y x : Rx ∨ Sx x : x ∈ X ∨ x ∈ Y (”x :” leia-se ”x tal que”), X∩ Y x : Rx ∧ Sx x : x ∈ X ∧ x ∈ Y e
Y\X x : Sx ∧ ~Rx x ∈ Y : x ∉ X, onde x ∉ Y significa ~x ∈ Y. Se se
consideram todos os conjuntos, como subconjuntos de um mesmo conjunto universal U, nota-se apenas Xcno lugar de U\X.
Mais geralmente, se A1, . . . , An são conjuntos, a reunião (resp. intersecção) finita dos
conjuntos Ak k 1, . . . , n é o conjunto
Ak (resp.
Ak) definido pork ∈ Sn k ∈ Sn
Ak x : x ∈ A1 ∨. . . ∨x ∈ Ank ∈ Sn
(
Ak x : x ∈ A1 ∧. . . ∧x ∈ An)k ∈ Sn
Para cada n ∈ N, Sn é a secção de índice n de N, Sn 1, . . . , n.
I.1.13 Observação De I.1.11 (1) concluimos que se A é um subconjunto de um conjunto universo U, tem-seAcc U.
I.1.14 Exemplos (1) N0 0, 1, 2, . . . N 0.
(2) Se k ∈ N, representa-se kN0 0, k, 2k, 3k, . . . , e para cada p ∈ N,
kN p k p, 2k p, 3k p, . . . . Com k 3, obtem-se
3N0 p N,
3N0 p .p ∈ S3 p ∈ S3
I.1.15 Definição Se X ≠ , Y ≠ , o par ordenado x, y (x ∈ X, y ∈ Y) pode definir-se como sendo o conjuntox, x, y x, y. Obtem-se então o conjunto produto cartesiano de X por Y, X Y x, y : x ∈ X, y ∈ Y. O produto cartesiano X X representa-se também por X2. De modo análogo, sendo X
1, . . . , Xmconjuntos não vazios, m ∈ N,
define-se o produto cartesiano
X1 . . . Xm
k1 mXk x1, . . . , xm : xk ∈ Xk, k 1, . . . , m
Nota-se X1 . . . Xm Xmse Xk X k 1, . . . , m, para cada m ∈ N2, onde N2
2, 3, . . . .
Exemplos (1) O plano cartesiano real é o produto cartesiano R2. (2)i, −1, −i, 1 ∈ C4, onde C é o plano complexo.
I.1.16 Exercícios (1) Mostre que dados conjuntos não vazios A, B, C, D tem-se: (i) A C D A C A D; (ii) A B C A C B C (iii)
A C ∩ D A C ∩ A D; (iv) A ∩ B C ∩ D A ∩ C B ∩ D.
(2) Mostre que se R, S são proposições, a) verificam-se as leis de De Morgan:
~R ∨ S ~R ∧ ~S e ~R ∧ S ~R ∨ ~S são tautologias. (Utilize uma tabela de
verdade grande); b) se P, A, B são proposições,
(i) P∧ A ∧ B P ∧ A ∧ P ∧ B; (ii) P ∧ A ∨ B P ∧ A ∨ P ∧ B; c) verifique também utilizando uma tabela de verdade, que pode trocar-se em b) (i), (ii)∧ ∨ obtendo outras equivalências.
d) Conclua de b) e a) que se P, R, S são proposições, então (i) P∧ ~R ∨ S P ∧ ~R ∧ P ∧ ~S;
(ii) P∧ ~R ∧ S P ∧ ~R ∨ P ∧ ~S.
(3) Determine : (i)
4N0 p (ii)
4N0 p (iii) 2N ∩ 4N.p ∈ S4 p ∈ S4
(4) Determine as intersecções, e interprete graficamente: (i)x, x2 : x ∈ R ∩ x, x4 : x ∈ R 0 ; (ii)x, 2x 1 : x ∈ R ∩ x, x2 : x ∈ R; (iii)x, x3 : x ∈ R ∩ x, x : x ∈ R 0 ;
(iv)eit : t ∈ 0, 2 ∩ z ∈ C : Rez Imz, onde Rez x, Imz y para
z x iy ∈ C.
Resolução
(1) (i)x, y ∈ A C D x ∈ A ∧ y ∈ C D x ∈ A ∧ y ∈ C ∨ y ∈ D x ∈ A ∧ y ∈ C ∨ x ∈ A ∧ y ∈ D x, y ∈ A C ∨ x, y ∈ A D
x, y ∈ A C A D; (ii)
x, y ∈ A B C x ∈ A B ∧ y ∈ C x ∈ A ∨ x ∈ B ∧ y ∈ C x ∈ A ∧ y ∈ C ∨ x ∈ B ∧ y ∈ C x, y ∈ A C ∨ x, y ∈ B C
x, y ∈ A C B C;
(iii)x, y ∈ A C ∩ D x ∈ A ∧ y ∈ C ∧ y ∈ D x ∈ A ∧ y ∈ C ∧ x ∈ A ∧ y ∈ D x, y ∈ A ∩ C A ∩ D;
(iv)x, y ∈ A ∩ B C ∩ D x ∈ A ∩ B ∧ y ∈ C ∩ D
x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ y ∈ C ∧ y ∈ D x ∈ A ∧ y ∈ C ∧ x ∈ B ∧ y ∈ D x, y ∈ A ∩ C B ∩ D.
2 a) R S ~R ~S R∨ S R ∧ S ~R ∨ S ~R ∧ ~S ~R ∧ S ~R ∨ ~S V V F F V V F F F F V F F V V F F F V V F V V F V F F F V V F F V V F F V V V V
Como os valores lógicos das colunas 7ª e 8ª (resp. 9ª e 10ª) coincidem, concluem-se as leis de De Morgan.
b)
(i) P A B A∧ B P ∧ A P ∧ B P ∧ A ∧ B P ∧ A ∧ P ∧ B
V V V V V V V V V V F F V F F F V F V F F V F F V F F F F F F F F V V V F F F F F V F F F F F F F F V F F F F F F F F F F F F F
Coinicidindo as duas últimas colunas, conclui-se a equivalência (ii) P A B A∨ B P ∧ A ∨ B P ∧ A P ∧ B P ∧ A ∨ P ∧ B
V V V V V V V V V V F V V V F V V F V V V F V V V F F F F F F F F V V V F F F F F V F V F F F F F F V F F F F F F F F F F F F F
Como a 5ª coluna coincide com a última, conclui-se a equivalência. c) P A B A∨ B P ∨ A P ∨ B P ∨ A ∨ B P ∨ A ∨ P ∨ B V V V V V V V V V V F V V V V V V F V V V V V V V F F F V V V V F V V V V V V V F V F V V F V V F F V V F V V V F F F F F F F F
Uma vez que as duas últimas colunas coincidem, concluimos a equivalência
A equivalência restante é P∨ A ∧ B P ∨ A ∧ P ∨ B: P A B A∧ B P ∨ A ∧ B P ∨ A P ∨ B P ∨ A ∧ P ∨ B V V V V V V V V V V F F V V V V V F V F V V V V V F F F V V V V F V V V V V V V F V F F F V F F F F V F F F V F F F F F F F F F
Como a 4ª e a última coluna coincidem, conclui-se a equivalência. d) (i) Fazendo A ≡ ~R e B ≡ ~S, concluimos de 1 a) e b) (i) que
P∧ ~R ∨ S P ∧ ~R ∧ ~S P ∧ A ∧ B P ∧ A ∧ P ∧ B
P ∧ ~R ∧ P ∧ ~S, desde que provemos que se P1 P2então P∧ P1 P ∧ P2.
Determinando então as tabelas de verdade:
P P1 P2 P∧ P1 P∧ P2 V V V V V V V F V F V F V F V V F F F F F V V F F F V F F F F F V F F F F F F F
Verifica-se que quando P1, P2 têm o mesmo valor lógico, nas 1ª, 4ª, 5ª e última
linhas, também P∧ P1, P∧ P2assumem o mesmo valor lógico. Ou seja: se P1 P2, então
também P∧ P1 P ∧ P2.
(ii) Utilizando o resultado provado em (2) b) (i)P1 P2 P ∧ P1 P ∧ P2,
(uma vez sabido que uma implicação P Q é verdadeira, podemos utilizar este resultado, e designá-lo escrevendo P Q directamente), obtemos de (1) a), b) (ii):
P∧ ~R ∧ S P ∧ ~R ∨ ~S P ∧ A ∨ B P ∧ A ∨ P ∧ B
P ∧ ~R ∨ P ∧ ~S, como queríamos.
(3) (i) Para cada p 1, 2, 3, 4, tem-se: 4N0 p é o conjunto dos números naturais,
cujo resto da divisão por p 1, 2, 3 é p, e zero para p 4. Uma vez que cada número natural verifica pelo menos um destes casos, obtem-se (i)
4N0 p N.p ∈ S4
Como nenhum número natural verifica dois destes casos simultãneamente, tem-se também (ii)
4N0 p .(iii) Sendo todo o múltiplo de 4 um múltiplo de 2, tem-se 2N∩ 4N 4N. (4)
(i) O par ordenadox, y pertence à intersecção dos dois conjuntos sse a ordenada y é da forma y x2 x4, onde x ∈ R, x 0. A única raiz real positiva de x2 x4 sendo
x 1, concluimos que a intersecção é o conjunto 1, 1.
(ii) Para x ∈ R, tem-se 2x 1 x2 x2 − 2x − 1 0 x 2 2
2 ; deste modo a
intersecção procurada é2 − 22 , 5− 2 , 2 22 , 5 2 . (iii)0, 0, 1, 1.
(iv) eit cos t i sin t verifica cost sin t 0 ≤ t 2 sse t
4 ∨ t 5
4 , portanto
a intersecção procurada é 22 i 22 ,− 22 − i 22 .
I.1.17 Axiomas da selecção e da extensão e inclusão de conjuntos.
I.1.18 Axioma da selecção
A relação Rx na variável x define um conjunto A se existe um conjunto E tal que
Rx x ∈ E. Põe-se então A x : Rx.
I.1.19 Inclusão de conjuntos
Se X, Y são conjuntos, pomos X ⊂ Y sse a implicação x ∈ X x ∈ Y é verdadeira. Diz-se então que X é um subconjunto de Y. Em particular, tem-se sempre X ⊂ X.
I.1.20 Axioma da extensão
Sendo Rx, Sx relações numa variável satisfazendo o axioma da selecção,
A x : Rx, B x : Sx, tem-se A B sse Rx Sx.
I.1.21 Observações (1) Destes dois axiomas, o axioma da extensão parece ”óbvio” mas é aceitando-os em Teoria dos conjuntos, que podemos utilizar os conceitos intuitivos habituais, lidando com conjuntos e relações. Em particular, resulta deste último axioma e da definição de inclusão de conjuntos, que dados conjuntos A, B, tem-se
A B A ⊂ B ∧ B ⊂ A. (as tabelas de verdade mostram imediatamente que, dadas
(2) Notando que o conjunto vazio pode ser definido por qualquer relação impossível, por exemplo x : Sx com Sx ≡ x ≠ x, ou, sendo Rx uma relação num conjunto,
x : Rx ∧ ~Rx, ( duas relações impossíveis são equivalentes, pois assumem o
valor lógico F para qualquer substituição da variável por uma constante), reconhece-se, pondo, para cada conjunto X, X x : x ∈ X que X \ X . Também
X \ x : x ∈ X ∧ ~x ≠ x x : x ∈ X ∧ x x x : x ∈ X X.
(3) Uma vez que Rx ∨ Rx Rx, Rx ∧ Rx Rx para qualquer relação
Rx, tem-se X X X, X ∩ X X para cada conjunto X.
(4) Das equivalências Rx ∨ Sx Sx ∨ Rx, Rx ∧ Sx Sx ∧ Rx (as tabelas de verdade mostram imediatamente que dadas proposições R, S tem-se
R∨ S S ∨ R e R ∧ S S ∧ R, (ver I.1.6), concluimos que
X Y x : x ∈ X ∨ x ∈ Y x : x ∈ Y ∨ x ∈ X Y X e X ∩ Y Y ∩ X para
quaisquer conjuntos X, Y.
(5) Se P Q, então P ∨ Q Q é uma tautologia. Para o verificar, utilizando uma tabela de verdade, basta verificar se, em cada linha tal que P Q V, as colunas de
P∨ Q, Q assumem o mesmo valor lógico; o que é o mesmo que, supondo a hipótese P Q, constatar que P ∨ Q, Q são equivalentes:
P Q P Q P ∨ Q
V V V V
V F F V
F V V V
F F V F
São os casos da 1ª e 3ª,4ª linhas. Podemos concluir que se Rx, Sx são relações na variável x, tais que Rx Sx então Rx ∨ Sx Sx e, pondo para cada conjunto X,
X x : x ∈ X, que se X ⊂ Y então X Y x : x ∈ X ∨ x ∈ Y x : x ∈ Y Y.
Analogamente, a tabela de verdade mostra que se R S, então R ∧ S R e portanto se X ⊂ Y, tem-se X ∩ Y X.
I.1.22 Exemplo Se X, Y são subconjuntos de um mesmo conjunto universal U, tem-se:
x ∈ X Yc x ∈ U ∧ ~x ∈ X Y x ∈ U ∧ ~x ∈ X ∨ x ∈ Y
x ∈ U ∧ ~x ∈ X ∧ x ∈ U ∧ ~x ∈ Y x ∈ Xc ∧ x ∈ Yc x ∈ Xc ∩ Yc, dondeX Yc Xc ∩ Yc. (Utilizando o Ex. 1.1.16 (1) d) (i).).
I.1.23 Exercícios (1) Prove que se X, Y ⊂ U então X ∩ Yc Xc Yc.
(2) No que segue, supomos todos os conjuntos sendo subconjuntos de um mesmo conjunto U. Prove que:
(i) A ⊂ A B e B ⊂ A B; (ii) A∩ B ⊂ A e A ∩ B ⊂ B; (iii) A ⊂ B Bc ⊂ Ac; (iv) A ⊂ B A ∩ Bc ;
(3) Se X é um conjunto, diz-se queA1, . . . , Ap é uma partição de X sse cada Ai ⊂ X
, Ai ∩ Aj sempre que i ≠ j 1 ≤ i, j ≤ p e
Ai X.i ∈ Sp
Prove que se p é um número natural, entãopN0 m : 1 ≤ m ≤ p é uma partição
de N.
(4) Mostre que para quaisquer conjuntos A, B, C tem-se (i) C \A B C \ A ∩ C \ B;
(ii) C \A ∩ B C \ A C \ B.
(5) Prove que A ⊂ A′e B ⊂ B′ sse A B ⊂ A′ B′.
Resolução
(1) x ∈ X ∩ Yc x ∈ U ∧ ~x ∈ X ∩ Y x ∈ U ∧ ~x ∈ X ∧ x ∈ Y x ∈ U ∧ ~x ∈ X ∨ x ∈ U ∧ ~x ∈ Y x ∈ Xc Yc, o que prova a igualdade. (Utilizámos o anterior Ex. 1.1.16 (1) d) (ii)).
(2) (i) Uma vez que a tabela de verdade de mostra que P P ∨ Q (verifique que é uma tautologia), encontra-se: x ∈ A x ∈ A ∨ x ∈ B; isto prova, pela definição de A B, que A ⊂ A B. Uma vez que P ∨ Q Q ∨ P é uma tautologia, obtem-se A B B A, e a inclusão B ⊂ A B conclui-se da demonstração anterior.
(ii) Tem-se P∧ Q P e P ∧ Q Q (verifique estas tautologias; note que o símbolo
" " separa proposições formadas por outras utilizando os símbolos " ∨" ," ∧" ). Então
x ∈ A ∩ B x ∈ A ∧ x ∈ B x ∈ A, donde A ∩ B ⊂ A e analogamente A ∩ B ⊂ B.
(iii) Suponhamos A ⊂ B; então x ∈ A x ∈ B, e se x ∉ B (i.e., se x ∈ Bc), não pode portanto ser x ∈ A, donde x ∉ A; assim x ∉ B x ∉ A, i.e. Bc ⊂ Ac. Como ~ ~P P, tem-se Acc A, Bcc B, e da inclusão provada conclui-se
Bc ⊂ Ac A ⊂ B, provando a equivalência.
(iv) Suponhamos A ⊂ B i.e., x ∈ A x ∈ B. Então se x ∈ A não pode verificar-se
x ∉ B; assim nenhum x verifica x ∈ A ∧ x ∈ Bc donde A∩ Bc . Reciprocamente, se
A∩ Bc , e se x ∈ A, não pode ser x ∈ Bc, x ∉ B; conclui-se que se x ∈ A então x ∈ B, i.e., A ⊂ B.
(3) O resto da divisão por p de um número natural n é zero (caso em que
n ∈ pN0 p), ou um número m, 1 ≤ m p; desta forma, N
pN0 mm ∈ Sp
porque pN0 m 1 ≤ m ≤ p é exactamente o conjunto dos números naturais, cujo resto da
divisão por p é m. Se 1 ≤ m, m′ ≤ p e m ≠ m′ entãopN0 m ∩ pN0 m′ ; assim
pN0 m : 1 ≤ m ≤ p é uma partição de N.
(4) Notar que substituindo o conjunto universal U, por qualquer conjunto C, nos anteriores Exemplo, e Ex (1), o essencial da demonstração se aplica, (X A e Y B) obtendo-se as igualdades (i), (ii). (Isto mostra que o caso A, B ⊂ U anteriormente considerado, é um caso particular).
(5) A B ⊂ A′ B′ x, y ∈ A B x, y ∈ A′ B′ x ∈ A x ∈ A′ e
I.1.24 Exercícios (1) Mostre que se X, Y são conjuntos, (i) X ⊂ X Y; (ii) X ∩ Y ⊂ X. (Sug: I.1.11, (2) (i), (ii).
(2) Utilizando o axioma da extensão e a técnica em I.1.20, (2)...(5), prove que: a) (i) X∩ Y ∩ Z X ∩ Y Z; (ii) X Y Z X Y Z. (Sug: I.15 b), c)); b) (i) X∩ Y Z X ∩ Y X ∩ Z;
(ii) X Y ∩ Z X Y ∩ X Z. (Sug: I.1.15 b), c)).
c) (i) A relação " X ⊂ Z e Y ⊂ Z" é equivalente a X Y ⊂ Z. (Sug: I.1.11, (2) ((iv)). (ii) A relação " Z ⊂ X e Z ⊂ Y" é equivalente a Z ⊂ X ∩ Y. (Sug: I.1.11, (2) (vi)).
Resolução
(1) (i) Uma vez que x ∈ X x ∈ X ∨ x ∈ Y, concluimos X x : x ∈ X ⊂ x : x ∈ X ∨ x ∈ Y X Y.
(ii) Tendo-se x ∈ X ∧ x ∈ Y x ∈ X conclui-se
X∩ Y x : x ∈ X ∧ x ∈ Y ⊂ x : x ∈ X X. (2) a) (i) X∩ Y ∩ Z x : x ∈ X ∧ x ∈ Y ∧ x ∈ Z x : x ∈ X ∧ x ∈ Y ∧ x ∈ Z X ∩ Y ∩ Z; (ii) X Y Z x : x ∈ X ∨ X ∈ Y ∨ x ∈ Z x : x ∈ X ∨ x ∈ Y ∨ x ∈ Z X Y Z. b) (i) X∩ Y Z x : x ∈ X ∧ x ∈ Y ∨ x ∈ Z x : x ∈ X ∧ x ∈ Y ∨ x ∈ X ∧ x ∈ Z x : x ∈ X ∧ x ∈ Y x : x ∈ X ∧ x ∈ Z X ∩ Y X ∩ Z; (ii) X Y ∩ Z x : x ∈ X ∨ x ∈ Y ∧ x ∈ Z x : x ∈ X ∨ x ∈ Y ∧ x ∈ X ∨ x ∈ Z X Y ∩ X Z.
c) (i)x ∈ X x ∈ Z ∧ x ∈ Y x ∈ Z x ∈ X ∨ x ∈ Y x ∈ Z, donde se conclui que X ⊂ Z ∧ Y ⊂ Z X Y ⊂ Z;
(ii)x ∈ Z x ∈ X ∧ x ∈ Z x ∈ Y x ∈ Z x ∈ X ∧ x ∈ Y e conclui-se Z ⊂ X ∧ Z ⊂ Y Z ⊂ X ∩ Y.
I.1.25 Exercícios (1) Prove que para quaisquer conjuntos A, B, C, D se tem: (i) A A \ B A ∩ B e A \ B ∩ A ∩ B ;
(ii) A \ B A \ A ∩ B A B \ B; (iii) A∩ B \ C A ∩ B \ A ∩ C; (iv)A \ B \ C A \ B C;
(v) A \B \ C A \ B A ∩ C;
(vi)A \ B ∩ C \ D A ∩ C \ B D. (2) Prove que: a) A \ B A se e só se A ∩ B ;
b)A \ B B A B \ B se e só se B . c) A ⊂ B A ∩ B A A B B.
(Sug: Verifique, utilizando uma tabela de verdade, que se P, Q são proposições, Q uma tautologia, então P P ∧ Q (faça sempre V na coluna de Q) e portanto, se R é uma relação impossível, P∧ ~R P; e que se Q é uma relação impossível então P ∨ Q P. Pode utilizar (1) (ii) para (2) a), b).
Resoluções
(1) (i) Uma vez que dadas proposições P, Q se tem P P ∧ ~Q ∨ Q, conclui-se a propriedade correspondente para relações numa variável, obtendo-se
x ∈ A x ∈ A ∧ x ∉ B ∨ x ∈ B x ∈ A ∧ x ∉ B ∨ x ∈ A ∧ x ∈ B, donde se
conclui A A \ B A ∩ B pelo princípio de extensão. A relação em x,
x ∈ A ∧ x ∉ B ∧ x ∈ A ∧ x ∈ B é equivalente à relação impossível x ∉ B ∧ x ∈ B que define assim o conjunto.
PortantoA \ B ∩ A ∩ B , pelo axioma da extensão.
(ii) Dadas proposições P, Q tem-se P∧ ~Q P ∧ P ∧ ~P ∨ P ∧ ~Q
P∧ P ∧ ~P ∨ ~Q P ∧ P ∧ ~P ∨ ~Q P ∧ ~P ∨ ~Q P ∧ ~P ∧ Q donde
se conclui A \ B A \ A ∩ B. Também P ∧ ~Q P ∨ Q ∧ ~Q ∧ ~Q
P ∨ Q ∧ P ∨ ~Q ∧ ~Q P ∨ Q ∧ P ∨ ~Q ∧ ~Q P ∨ Q ∧ ~Q (esta última equivalência porque os valores lógicos deP ∨ ~Q ∧ ~Q e de ~Q são sempre o mesmo, já que se S R então R ∧ S S, como mostram as 1ª, 3ª e 4ª linhas da tabela de verdade), donde podemos concluir A \ B A B \ B.
(iii) x ∈ A ∩ B \ C x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ x ∉ C
x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ x ∉ C x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ x ∉ A ∨ x ∉ C
x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ ~x ∈ A ∨ ~x ∈ C x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ ~x ∈ A ∧ x ∈ C x ∈ A ∧ x ∈ B ∧ ~x ∈ A ∩ C x ∈ A ∩ B \ A ∩ C, onde a terceira equivalência se justifica porque se P, Q, R são proposições tais que P Q e Q R, então as proposições
P∧ Q e P ∧ R são equivalentes, como mostra a tabela de verdade nas 1ª, 5ª, 7ª e 8ª linhas
(fazer P ≡ x ∈ A ∧ x ∈ B, Q ≡ x ∉ C, R ≡ x ∉ A ∨ x ∉ C): P Q R P Q Q R P ∧ Q P ∧ R V V V V V V V V V F V F V F V F V F V F V V F F F V F F F V V V V F F F V F V F F F F F V V V F F F F F V V F F e assim A∩ B \ C A ∩ B \ A ∩ C.
(iv) x ∈ A \ B \ C x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∧ ~x ∈ C x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∧ ~x ∈ C x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∨ x ∈ C x ∈ A \ B C (v) x ∈ A \ B \ C x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∧ ~x ∈ C x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∨ x ∈ C x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∨ x ∈ A ∧ x ∈ C x ∈ A \ B A ∩ C. (vi) x ∈ A \ B ∩ C \ D x ∈ A ∧ ~x ∈ B ∧ x ∈ C ∧ ~x ∈ D x ∈ A ∧ x ∈ C ∧ ~x ∈ B ∧ ~x ∈ D x ∈ A ∩ C ∧ ~x ∈ B ∨ x ∈ D x ∈ A ∩ C \ B D.
(2) a) Por (1), (ii) tem-se A \ B A \ A ∩ B. Logo se A ∩ B , A \ A ∩ B A \
A (se Sx é uma relação impossível, então ~Sx é uma relação sempre verdadeira, e x ∈ A ∧ ~Sx x ∈ A). Portanto se A ∩ B tem-se A \ B A. Reciprocamente, se A ⊂ A \ A ∩ B então tem-se x ∈ A x ∈ A ∧ ~x ∈ A ∩ B V; a tabela de verdade
mostra que, dadas proposições P, Q, se Q pode tomar o valor lógico F, então P P ∧ Q não toma sempre o valor lógico V. Portanto tem de se verificar ~c ∈ A ∩ B V para cada substituição de x pela consante c, i.e, c ∈ A ∩ B F e x ∈ A ∩ B deve ser uma relação impossível, i.e., A∩ B .
b) Utilizando (1), (ii)A B \ B A \ B. A igualdade referida é portanto a igualdade de conjuntosA \ B B A \ B, que é verdadeira se B , pois então B x : Sx, onde Sx é uma relação impossível, donde se verifica a equivalência x ∈ A \
B∨ Sx x ∈ A \ B (se S F então P ∨ S P para qualquer proposição P).
Reciprocamente, a inclusãoA \ B B ⊂ A \ B só se verifica se B ⊂ A \ B, porque dadas proposições P, Q, P∨ Q P só assume o valor lógico V quando Q P toma o valor lógico V. Então tem de ser x ∈ B x ∈ A ∧ ~x ∈ B, donde x ∈ B ~x ∈ B, e por isso tem de ser sempre c ∈ B F para cada substituição de x pela constante c, i.e., x ∈ B é impossível e B .
c) Dadas proposições P, Q tem-se: P Q P ∧ Q P é uma tautologia, como se verifica pela tabela de verdade; assim A ⊂ B A ∩ B A. Também a proposição
P Q P ∨ Q Q é uma tautologia, donde se conclui que A ⊂ B A B B.
I.1.26 Quantificação
Vimos que dada uma relação numa variável Rx x ∈ E, a substituição de x por uma constante c em E, transforma a relação Rx na proposição Rc. Sendo A ⊂ E, podemos considerar as proposições ”para cada x ∈ A, Rx”, significando que todos os objectos x ∈ A, satisfazem a relação Rx, e ”existe pelo menos um x ∈ A, Rx”, significando que existe pelo menos um objecto x em A que verifica Rx. A proposição ”para cada x ∈ A, Rx”, ou doutro modo, ”para qualquer x ∈ A, Rx”, ou ainda ”para todo o x ∈ A, Rx” escreve-se ∀x ∈ A, Rx, ou também ∀x ∈ A Rx. Convém, para clareza, muitas vezes, colocar Rx entre parêntesis, pondo ∀x ∈ ARx, e pode escrever-se também Rx ∀x ∈ A, utilizando ou não os parêntesis. A proposição ”existe pelo menos um
x ∈ A, Rx” escreve-se ∃x ∈ A, Rx, com a mesma ressalva para o uso de parêntesis. As
proposições assim obtidas, a partir de uma relação numa variável, dizem-se
proposições quantificadas, e ”∀”, ”∃” são respectivamente os quantificadores universal, e existencial. Um outro quantificador, é o que afirma a existência de um único elemento num dado conjunto, verificando a relação. Escreve-se então∃1 x, Rx se o conjunto em
I.1.27 Exemplos (1) Dada a relação Rx ≡ x2 2 x ∈ R, podem considerar-se as
proposições quantificadas∀x 0x2 2 F, ∃x ∈ Rx2 2 V;
∀x ∈ −, 2 2 , x2 2, verdadeira, ∀x ∈ N
2x2 2, verdadeira; assim
como∃1x ∈ 1, 2x2 2 V, ∃1x ∈ Qx2 2 F.
(2) Como vemos no exemplo acima, no primeiro e no terceiro casos, o mesmo quantificador pode formar uma proposição falsa a partir da mesma relação numa variável, quantificando a variável num conjunto, mas verdadeira quantificando noutro conjunto.
I.1.28 Exercício Dadas as seguintes relações numa variável, indique quais das proposições quantificadas são verdadeiras ou falsas:
(1) Rx ≡ 3x ∈ Q x ∈ R
(i)∀x, Rx; (ii) ∃x ∈ Z3x ∈ Q; (iii) ∀x ∈ −1, 0, 1 Rx.
(2) Rx ≡∣ x ∣ a x a x ∈ R
(i)∀x 0∣ x ∣ a x a (ii) ∃1x,∣ x ∣ a x a (iii) ∀x, Rx
(3) R ≡ 2 0
(i)∀ 0, 12 ; (ii) ∀ ∈ 0, 1R; (iii) ∃ ∈ −1, 1R.
Resolução
(1) (i)∀x ∈ R3x ∈ Q F, pois por exemplo 2 ∈ R, 32 ∉ Q.
(ii) V (considere-se x 8) (iii) V (2)
(i) V; (ii) F; (iii) F (3)
(i) V; (ii) F; (iii) V
I.1.29 Exercício Sendo 0 1 fixo, indique quais das proposições seguintes são verdadeiras, ou falsas:
a)∃ n ∈ N0 1n ; b) ∀ n ∈ N1n ; c) n1n ∀n ∈ N.
Resolução a) V; b) F; c) F.
I.1.30 Observações (1) Quando se consideram proposições compostas por diversas proposições quantificadas, a indicação, que deve constar em cada uma destas proposições quantificadas, da variável que se quantifica e do respectivo conjunto, permite ler a
proposição obtida considerando de cada vez em cada uma, os símbolos relativos a variáveis que não as quantificadas em cada proposição, como constantes. Em Análise real, segundo a definição do limite u de uma sucessãoun, recorde-se que u limun s e só se é verdadeira a proposição quantificada∀ 0∃ p ∈ Nn ≥ p ∣ un −u ∣ .
(2) Em expressões envolvendo mais que uma proposição quantificada, a ordem pela qual são feitas as quantificações respeitantes é importante. Por exemplo considerando a proposição quantificada acima, a proposição∃ p ∈ N∀ 0n ≥ p ∣ un− u ∣ significa queun é constante e igual a u a partir de uma ordem p; esta proposição é falsa se considerarmos u ≠ 0, un nnu2, mas lim nnu2 u segundo a definição.
I.1.31 Exercícios (1) Indique quais das seguintes proposições são verdadeiras ou falsas:
(i)∀ a ∈ 0, 1∃ 0Ia, ⊂ 0, 1, onde Ia, a − , a ; (ii)∀ a ∈ 0, 1∃ 0Ia, ⊂ 0, 1; (iii)∃ a ∈ 0, 2 ∩ 0, 1∀ 0Ia, ⊂ 0, 2 ∩ 0, 1; (iv)∃ a ∈ 0, 1∀ 0Ia, ⊂ 0, 1; (v)∃ 0∀a ∈ 0, 1Ia, ⊂ 0, 1; (vi)∀x ∈ R∀ 0∃ n ∈ N1n ∣ x ∣ ; (vii)∀x ∈ R∃ n ∈ N∀ 01 n ∣ x ∣ ; (viii)∀ n ∈ Nnn1 1 n1n ; (ix)∀ a ∈ Ra 1 n ∀ n ∈ N a ≤ 0; (x)∀x ∈ N∀ 0∃ y ∈ R∣ x − y ∣ ∀x ∈ N∀ 1∃ b ∈ R1 ∣ xb ∣
(2) Indique, justificando, quais das seguintes proposições são ou não verdadeiras: a)∃ a ∈ Z∀ m ∈ Za m 0; b)∀ m ∈ Z∃ a ∈ Za m 0; c)∃ ∈ Q∀ q ∈ Qq q q. Resolução (1) (i) F (a 1; (ii) V; (iii) F; (iv) F; (v) F ; (vi) V; (vii) F; (viii) V; (ix) V;
(2) a) F. (O elemento m que satisfaz a m 0, para cada a ∈ Z considerado, é único, m −a).
b) V.
c) V ( 1).
I.1.32 Propriedade Seja Rx x ∈ X uma relação numa variável. Pelo significado da proposição∀x, Rx, ”para todo o x, verifica-se Rx”, a sua negação é a proposição ”existe pelo menos um x que não verifica Rx”. Obtem-se assim a propriedade da negação do quantificador universal, ~∀x, Rx ∃x, ~Rx. A negação de ”existe pelo menos um x tal que Rx” é ”para todo o x, ~Rx”, i.e., ~∃x, Rx ∀x, ~Rx.
Para a negação de uma implicação∀x, Px Qx, atendendo a que
Px Qx ~Px ∨ Qx, e portanto
~Px Qx ~~Px ∨ Qx ~~Px ∧ ~Qx Px ∧ ~Qx, obtem-se ~∀x, Px Qx ∃x, Px ∧ ~Qx. Analogamente,
~∃x, Px Qx ∀x, Px ∧ ~Qx.
I.1.33 Exemplos (1) A negação de∃x ∈ R, x2 −1 é ∀x ∈ R, x2 ≠ −1.
(2) Sexn é uma sucessão real, a ∈ R, a negação de limxn a é
~∀ 0, ∃p ∈ N, ∀n ∈ N, n ≥ p ∣ xn − a ∣ , portanto é a proposição ∃ 0, ~∃p ∈ N, ∀n ∈ N, n ≥ p ∣ xn − a ∣
∃ 0, ∀p ∈ N, ∃n ∈ N, n ≥ p ∧∣ xn − a ∣≥ .
I.1.34 Exercícios (1) Negue as proposições quantificadas: (i)∀m ∈ Z, m2 m;
(ii)∃q ∈ Q, q2 2;
(iii)∀x ∈ R, ∀y ∈ R, x2 y2 x y.
(2) Explicite em linguagem lógica que a sucessão realun não é um infinitamente grande positivo.
(3) Sendo f uma função real da variável real, exprima logicamente que não se verifica limx→0fx 1. Resoluções (1) (i)∃m ∈ Z, m2 ≤ m; (ii)∀q ∈ Q, q2 ≠ 2; (iii)∃x ∈ R, ∃y ∈ R, x2 y2 ∧ x ≤ y. (2) A negação de∀ 0, ∃p ∈ N ∀n ∈, n ≥ p un 1 é ∃ 0, ∀p ∈ N ∃n ∈ N, n ≥ p ∧ un ≤ 1 . (3) Trata-se de negar a proposição
∀ 0, ∃ 0 ∀x ∈ R, ∣ x ∣ ∣ fx − 1 ∣ . Obtem-se ∃ 0, ∀ 0 ∃x ∈ R, ∣ x ∣ ∧∣ fx − 1 ∣≥ .
I.1.35 Definição SeC X : ∈ A é uma classe não vazia de conjuntos, indiciada num conjunto de índicesA, dizemos que C é uma família de conjuntos. A reunião
generalizada (resp. intersecção generalizada) da classe é o conjunto
C
X : ∈ A x : ∃ ∈ A,x ∈ X (resp.
C
X : ∈ A x : ∀ ∈ A,x ∈ X). Se todos os conjuntos Xsão subconjuntos de um mesmo conjunto X,A , põe-se
X : ∈ A e
X : ∈ A X.I.1.36 Observações (1) Admitimos o Axioma da reuniâo: Para qualquer classe de conjuntosC, existe sempre o conjuto
C.(2) Pelas definições tem-se
X : ∈ A ⊂ X ⊂
X : ∈ A para cada ∈ A. (2) Se X : ∈ A é tal que cada Xverifica A ⊂ X ⊂ B então tem-se
A ⊂
X : ∈ A e
X : ∈ A ⊂ BI.1.37 Exercício Determine as intersecções e reuniões generalizadas: (i)
−n, 1 : n ∈ N (ii)
0, 1 − 1n : n ∈ N;
(iii)
−q. q : q ∈ Q (iv)
−q, q : q ∈ Q (v)
−1n, 1n : n ∈ N (vi)
1 − 1n, 1 1n : n ∈ N.I.1.38 Resolução (i)x ∈ R : ∃n ∈ N, −n x ≤ 1 −, 1; (ii)x ∈ R : ∃n ∈ N, 0 ≤ x ≤ 1 − 1
n 0, 1; (iii) R; (iv) 0; (v)x ∈ R : ∀n ∈ N, −1n x 1n 0;
1− 1
n x 1 1n,∀n ∈ N x 1,
1 − 1n, 1 1n : n ∈ N 1.I.1.39 Definição Se X, Y são conjuntos não vazios, diz-se que uma parte não vazia
⊂ X Y do conjunto produto cartesiano X Y, é uma relação de X para Y. Se x, y ∈ ,
nota-se também xy. Por exemplo, com X N, Y Q, n, 1n : n ∈ N é uma relação de N para Q. Tem-se 11, 21
2, 23 1
23 , etc. Se A é um conjunto, representamos
PA W : W ⊂ A o conjunto das partes de A. Sendo X ≠ , Y ≠ , X Y é uma relação de X para Y tal que∀x ∈ X, ∀y ∈ Y, xy; PX PY é uma relação de PX paraPY tal que ∀A ⊂ X∀B ⊂ Y, AB.
I.1.40 Exercício Indique qual das seguintes afirmações é verdadeira: (i)x, yV sse x, y ∈ V é uma relação de V2paraPV;
(ii)x, yV sse x, y ∈ V é uma relação de V V para V.
Resolução
(i) é verdadeira, pois cada par ordenadox, y ∈ V2verificax, yV sse x, y, V é
I.2 RELAÇÕES BINÁRIAS E FUNÇÕES
I.2.1 Definição Se X Y ≠ uma relação d e X para Y diz-se uma relação binária em
X; assim uma relação binária em X é uma parte não vazia do produto cartesiano X2.
Por exemplo x0y sse∃ m ∈ Ny xmuma relação binária em R tal que
1, 1 ∈ 0,1, 2 ∉ 0,2, 4, 2, 8, 2, 16 ∈ 0. Também a1b sse b 2a é a relação
binária em N,1 1, 2, 2, 4, 3, 6, . . . .
I.2.2 Definição (1) Se a relação f de X para Y verifica a propriedade de cada elemento de X estar na relação com exactamente um elemento de Y, i.e., se
x, y ∈ f ∧ x, y′ ∈ f y′ y, dizemos que f é uma função de X em Y ou uma aplicação
de X em Y; nota-se y fx sse x, y ∈ f. Em I.2.1, 0 não é função,1é uma função de N
em N. O conjunto das funções de X em Y nota-se YX.
(2) Se X é um conjunto não vazio, uma sucessão em X é uma função u : N → X, habitualmente designada pondo u un, un : n un. O conjunto das sucessões em X é portanto o conjunto XN.
I.2.3 Se f é uma função de X em Y, nota-se f : X → Y, x fx y sempre que x, y ∈ f. Se X é um conjunto, ≠ A ⊂ X, e f ⊂ A Y é uma função, deve notar-se
f : A ⊂ X → Y.
O conjunto A x ∈ X : ∃ fx x ∈ X : ∃ y, x, y ∈ f é o domínio da função f, e representa-se por dom f. O conjuntoy ∈ Y : ∃ x ∈ dom f, x, y ∈ f é chamado o
conjunto imagem de f, codomínio ou contradomínio ou conjunto imagem de f, e representa-se por Imf ou fX..
I.2.4. Exemplo Para a função fx 1
senx deve pôr-se
f : R \k : k ∈ Z ⊂ R → R. O domínio de 1
senx é A R \ k : k ∈ Z e o codomínio é fA R \ −1, 1.
I.2.5 Definição Se f : X → Y é uma função, ≠ A ⊂ X, então x, fx : x ∈ A é uma função de A em Y, que se chama a função restrição de f a A. A função restrição de f a
A representa-se por f
I.2.6 Definição A função f : X → Y diz-se injectiva se
∀x, x′ ∈ Xfx fx′ x x′; sendo ≠ A ⊂ X, f é injectiva em A sse a função
restrição de f a A é injectiva. Também se diz então que f é uma injecção de A em Y. f diz-se que é sobrejectiva, ou que é uma sobrejecção de X em Y, sse fX Y, i.e., sse todo o elemento de Y é imagem de um elemento de X. Para significar que f é uma função sobrejectiva de X em Y, diz-se também que f é uma função de X sobre Y. Se f : X → Y é injectiva, entãofx, x : x ∈ X é uma função de fX em X, chamada a
função inversa da função f, e que se represnta por f−1; dizemos então que f
admite uma inversa e, se f é injectiva e sobrejectiva dizemos que f é invertível com inversa
f−1. A função f−1 inversa de f : X → Y é a função f−1 : Y → X definida por
f−1 y, x : fx y, x ∈ X, y ∈ Y fx, x : x ∈ X, f−1y x sse fx y. Se f é
injectiva e sobrejectiva, diz-se que f é bijectiva, ou que é uma bijecção.
I.2.7 Exemplos (1) Se ≠ A ⊂ X, a aplicação I : A → X, Ix x diz-se a aplicação de inclusão; I é injectiva. A aplicação IA : A → A, IAx x, que se chama a identidade de
A, é uma bijecção.
(2) Dado um produto cartesiano de conjuntos
km1Xk, cada aplicaçãoprk :
k1 mXk → Xk, prkx1, . . . , xm xk k 1, . . . , m diz-se a projecção de índice k. prk
é sobrejectiva, não é injectiva em geral.
I.2.8 Exercício Determine subconjuntos A, B de R \0, 1 e de Q respectivamente, tais que a função restrição da função f : R \0, 1 → Q, fx Ix1 2 , onde Ix ”maior
inteiro m ≤ x” é a função característica de x, a A, (i) admita uma inversa;
(ii) seja invertível de A em B. Resolução
(i) A N;
(ii) A N, B 1
n2 : n ∈ N.
I.2.9 Exercício a) Esboce no plano cartesiano R2as relações binárias (i)M x, y ∈ R2 : max∣ x ∣, ∣ y ∣ ≤ 1;
(ii)e x, y ∈ R2 : x2 y2 ≤ 1; (iii)S x, y ∈ R2 :∣ x ∣ ∣ y ∣≤ 1;
(iv)M x, y ∈ R2 : max∣ x ∣, ∣ y ∣ 1; (v)e x, y ∈ R2 : x2 y2 1;
(vi)S x, y ∈ R2 :∣ x ∣ ∣ y ∣ 1.
(vii) f x, x2 : x ∈ R. (Sug: para (i), (iv), considere as rectas y x 1).
b) Indique, justificando, quais das relações binárias anteriores são, ou não, funções. c) Mostre queM −1, 12.
Resoluções
b) Apenas f em (vii) é uma função, pois em cada uma das outras alíneas, tem-se por exemplo0, −1, 0, 1 ∈ , designando por a respectiva relação binária.
c) Tem-se∣ a ∣≤ 1 a ∈ −1, 1 a ∈ R, e assim x, y ∈ M max∣ x ∣, ∣ y ∣ ≤ 1 x, y ∈ −1, 12.
I.2.10 Observação Considerando uma relação numa variável Rx x ∈ A, pode suceder que a cada x ∈ A tal que Rx V corresponda um único elemento bem
determinado y. Pode então considerar-se a relação em duas variáveis Rx, y definida por
Rx, y V sse y verifica Rx, e não é inteiramente óbvio que exista um conjunto não
vazio B tal que Rx, y seja uma relação de A para B; se B existe, então R ⊂ A B, R é uma relação de A para B e é uma função f : A → B. Aceitamos o seguinte axioma, que assegura que existe B.
Axioma da substituição
Sejam A um conjunto e Rx, y uma relação em duas variáveis. Se para cada x ∈ A, existe um único y que verifica Rx, y, existe uma função f de domínio A tal que y fx é equivalente a x ∈ A ∧ Rx, y.
I.2.11 Definição Dadas funções f : X → Y, g : Y → Z, diz-se função composta de
g com f, ou composição de g com f, ou ainda função g após f, e representa-se por gof, a
função gof : X → Z definida por gofx z sse fx y e gy z, ou seja,
gof x, z ∈ X Z : ∃y ∈ Y, x, y ∈ f ∧ y, z ∈ g. Nota-se gofx gfx x ∈ X.
Se h : Z → W é outra função, define-se analogamente hogof : X → W que se representa por hogof, hogofx hgfx x ∈ X e o mesmo para a composição de funções em qualquer número finito.
I.2.12. Observação Se f : X → Y, g : Imf → Z são funções injectivas, então a função gof : X → Img é bijectiva, e tem-se gof−1 f−1og−1. Com efeito, para cada
z ∈ Img, f−1g−1z f−1y x sse gy z, fx y sse gofx z, e dom f−1og−1 dom gof−1.
I.2.13 Exemplo Para cada função f : X → Y tem-se foIXx fIXx fx x ∈ X e assim foIX f. Também IYfx fx x ∈ X donde IYof f.
I.2.14 Exercícios (1) Prove que: a) Se f : X → Y é bijectiva, então f−1of IX e
fof−1 IY.
b) Se f : X → Y, g : Y → X são tais que gof IX e fog IY, então existe f−1 g. (2) Se dadas f : X → Y, g : Y → X se verifica gof IX então g é sobrejectiva e f é injectiva.