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Academic year: 2021

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TÍTULO: DA FOTOGRAFIA À PINTURA: A IMAGEM E SUAS INTERSECÇÕES TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA:

SUBÁREA: ARTES VISUAIS SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS INSTITUIÇÃO:

AUTOR(ES): DOUGLAS DE SOUZA AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): CAROLINA LARA KALLAS ORIENTADOR(ES):

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1.   RESUMO 

Este artigo propõe tratar da intersecção entre fotografia e pintura, sendo a        primeira usada como recurso para execução da segunda e as ressignificações na        imagem surgida a partir dessa intermidialidade. Para tal, a pesquisa baseia­se em        conteúdo bibliográfico a partir do surgimento do aparelho fotográfico – sob o viés        de Vilém Flusser em A Filosofia da Caixa Preta – e suas implicações nas artes        visuais como um substituto da função mimética que a pintura obtinha até então.        Com essa investigação foram levantadas questões sobre mimese; os processos        criativos; a gênese dos dois meios; a reprodutibilidade das obras de artes e suas        flexões   sobre   originalidade   abordadas   por   Walter   Benjamin. 

Palavras­chave:    Pintura,   Fotografia,   Intermidialidade,   Reprodutibilidade,   Mimese.   

2.   INTRODUÇÃO 

O presente artigo propõe uma análise da construção de uma obra autoral de        uma pintura a partir de uma fotografia. As abordagens sobre construção pictórica        são bastante difundidas na contemporaneidade e acompanham o pensamento        crítico­artístico   sendo   questionados   desde   o   surgimento   da   fotografia. 

Ao pensarmos a imagem, podemos fazer algumas relações com sua        definição; é de senso comum na vida cotidiana, imaginá­la como algo estático,        imóvel e inconscientemente associá­la à fotografia, transformando­as em        sinônimos. Porém, antes da invenção da fotografia o que ocupava seu papel era a        pintura, ela que dominava o imaginário, com suas massas de tinta criadas com as        mais variadas técnicas e qualidades objetivas. Mesmo hoje, à princípio, termos        claras suas distinções enquanto meios, as funções da pintura e da fotografia ao        representar   o   mundo   bidimensionalmente   já   coexistiram. 

Nesse sentido, nosso aprofundamento não se dará nas definições técnicas        mas sim, nas implicações artísticas, problematizações sobre construção de        imagem; e seus tensionamentos sobre reprodutibilidade, autenticidade e        original­cópia. 

Walter Benjamin, crítico e filósofo alemão associado à Escola de Frankfurt,        discorre em seu ensaio  A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica                            sobre as técnicas de reprodução, a dissolução dos valores únicos das obras e a       

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difusão da arte para as massas. Entretanto, foi com a fotografia e a entrada no        aparelho fotográfico entre o artista e a obra, que "o processo de reprodução de        imagem foi acelerado gigantescamente" (2012, p.15). Com suas propriedades        reprodutíveis, foi­se questionada a necessidade da pintura, em sua gênese, de        continuar   imitando   o   real   e   redescobrir­se   como   gênero   autônomo. 

Outro autor de suma importância, Christoph Wulf em seu livro  Homo Pictor ,          trata sobre os conceitos de mimese e a aparência das coisas, os mesmos serão        usados para exprimir dessa dualidade sem definir antecipadamente os meios como        uma coisa ou outra, objetivando estabelecer suas diferenças nas especificidades        de cada técnica, principalmente ao que tange a imagem resultante e o fator        humano, sempre associado à capacidade de imaginação, que é um fator decisivo.        Como   ele   mesmo   teoriza: 

O processo artístico objetiva, portanto, a elaboração de uma        imagem interior, uma imagem formada pelo olho interior do artista        [...]. A forma orientadora de sua elaboração é progressivamente        dissolvida na imagem que vem a ser um meio diferente da projeção        imaginada. Esse processo é marcado por modificações, [..., assim        aquela semelhança é apenas parcialmente realizada. Em muitos        casos, os modelos das pinturas e dos projetos do artista são        desconhecidos, como se nunca tivessem existido ou sobrevivido.        Central para o processo artístico é a imagem, que contêm        referências a seu modelo, seu precursor, suas protoimagens e que        é   o   resultado   de   uma   transformação"   (p.   31,   2013). 

 

Essa ampliação de sentidos nos dois meios também nos serve para a        seguinte questão: quais os possíveis desdobramentos que surgem na imagem        resultante, da produção de uma obra autoral de uma pintura a partir de uma        fotografia? 

Sendo assim, o objetivo desse artigo é discutir a prática artística        contemporânea a partir da intermidialidade entre pintura e fotografia a partir: (a)        dos conceitos de processos miméticos; (b) do aparelho fotográfico como        instrumento; (c) do agente humano na obra de arte; objetivando entender como as        mudanças no processo de feitura da pintura geram novas imagens, sem        necessariamente descolarem da original, e trazem consigo um novo potencial        poético,   que   amplia   as   possibilidades   de   criação   em   ambos   os   meios. 

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pensamento crítico­artístico a partir da obra e não apenas, como artesão, e com        essa investigação os significados da produção artística surgida dos dois meios, por        mais cristalizados que estejam, visam abordar uma ótica interdisciplinar, tão        necessária para o processo criativo com recursos intermídias. "[...] Não basta que a        resposta seja nova; é [...] necessário que ela seja apropriada a uma dada situação.        E por "nova" ela não entende apenas uma invenção original, mas também a        reelaboração e o aperfeiçoamento de ideias já existentes" (ALENCAR apud        BORGES,   2016,   p.210). 

 

3.   A   INTERMIDIALIDADE 

Usando do conceito de intermidialidade como aquele que se refere à        convergência interdisciplinar, podemos analisar a      intersecção da fotografia e        pintura sob essa ótica. Ou seja, quando se verifica a inter­relação de diferentes        mídias   dando   origem   a   uma   nova   forma   de   arte. 

O que está em jogo na intermedialidade é (…) proceder ao estudo dos        diferentes níveis de materialidade implicados na constituição de objectos,        sujeitos, instituições, comunidades, que só uma análise das relações pode        evidenciar.   (MENDES,   2011,   p.   7) 

 

Como, por exemplo, no hiper­realismo (ou fotorrealismo). Existiu uma        vontade do resgate do realismo na pintura. Movimento que teve início no final        década de 1960 no Estados Unidos, tinha um pensamento avesso a então corrente        minimalista e ao abstracionismo – com temática baseada na vida moderna        cotidiana, os assuntos triviais eram alçados ao status de arte. O ponto de partida é        uma fotografia, que: captura o momento, congela­o, faz a função do achatamento        bidimensional (função comum ao desenho) e com essa exatidão obtêm­se        informações   quase   impossíveis   ao   olho. 

A partir daí, pinta­se a imagem já existente (às vezes, com recursos        pictóricos que tiram totalmente os vestígios da mão do artista na obra, como o        aerógrafo) exponenciando as intenções do artista em características típicas da        fotografia como superfícies espelhadas, metálicas, além do exagero nos brilhos,        levantando comentários de como a pintura final se parece com uma fotografia.        Como afirma um dos expoentes desse movimento, Richard Estes: "Não acredito        que a fotografia dê a última palavra sobre a realidade". Mesmo assim, "o       

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foto­realismo não poderia existir sem a fotografia.". Ou ainda, como trata Richard        Thorpe McLean de "re­autenticar o evento fotografado como um puro evento        pictórico." (ENCICLOPÉDIA ITAÚ, 2017). Aqui existe uma interdependência dos        meios e é nessa intermidialidade que surge uma nova obra: as pinturas        hiper­realistas tem um quê de irreal, que não cabe à fotografia mas que sem ela        não existiriam, baseando nesse ponto a discussão fotografia  versus pintura nas        suas   necessidades   de   funções   miméticas. 

 

4.   MIMESE 

Nossa familiaridade com a imagem cresceu a ponto de se tornar inerente à        nossa existência. A profusão a que somos expostos nos faz esquecer as suas        propriedades derivadas da imaginação e toda vez que nos deparamos com uma        imagem não nos questionamos mais sua origem. Na imagem digital esse limiar        entre o real e o virtual ganhou mais uma camada de ambiguidade. Sem a parte tátil        da imagem, da ordem física, seu alcance muitas vezes sobrepuja a linguagem        verbal, até mesmo porque "as imagens têm um valor em si mesmas, um valor para        o qual não há substituto." (WULF, 2013, p. 22.). O entendimento é de que toda        imagem é um representação, não importa o meio no qual a imagem está sendo        transmitida. 

A definição de  mimeses por Platão diz respeito da aparência, semelhança e        a reprodução de modelos pré­existentes, apontando o artista como aquele que        retrata as aparências das coisas existentes mas sem ter necessariamente um        compromisso com a verdade, podendo fazer o visível, criando imagens e ilusões        nas quais as diferenças entre o modelo e sua versão não são importantes pois os        processos miméticos são uma condição humana e essenciais para a educação.        Para Aristóteles, as ações miméticas levam ao modelamento do possível e não        simplesmente uma cópia da realidade, que imitar a natureza exige entendê­la como        algo vivo e com isso fazer um "aperfeiçoamento", não sendo apenas um processo        de representação. Com essas definições de Platão e Aristóteles feitas por        Christoph Wulf, entende­se que o processo mimético é um agente transformador e        os resultados derivados desse processo levam à imitação mas também à mudança.        Como   ele   mesmo   teorizou: 

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[...] imitar ou reproduzir não significa a produção de uma cópia, mas a        criação de uma imagem que, apesar de certamente se relacionar com        uma imagem original em particular, não a duplica simplesmente.        Processos miméticos objetivam concretizar uma imagem interior que o        poeta ou o pintor tem diante dos seus olhos. No processo de criação        artística   algo   novo   passa   a   existir.   (WULF,   2013,   p.   48­49) 

 

Trazendo essa análise para o universo da construção pictórica da imagem        "nenhuma representação da realidade pode ser satisfatória se não visse amparada        pela noção intelectual do real." (ARGAN, 1999, p. 80­81). Logo os meios que        produzem imagens são ferramentas para solucionar a sua materialização e "é isto        o que faz com que essas imagens não sejam mais a aparência de uma coisa, e sim        uma   coisa   diferente,   igualmente   concreta."   (ARGAN,   1999,   p.   81). 

 

5.   OS   SUPORTES 

Até meados do século XIX, a responsabilidade da pintura era a de        apresentar a realidade em imagens. Mas, às vezes, era confundida com a imitação        do real, ou ainda, com a realidade em si, acabando por torná­la a base da        compreensão da imagem, ou seja, a versão bidimensional do mundo. Sua evolução        técnica acompanhou a tendência naturalista e o juízo de valor foi sempre atrelado à        sua proximidade com a percepção visual vigente, sendo qualquer desvio desse        esquema considerado mais uma deformação do que um estilo. A pesquisadora e        crítica   Laura   González   Flores   reflete   sobre: 

O efeito acumulado de tantos séculos de representação  natural/ótica é tão        grande que, ainda agora, na alvorada do século XXI, persiste a mesma        atitude de compreender as imagens "realistas" com algo natural; as        imagens funcionam como  apresentações,  e não como  representações  da                  realidade."   (GONZÁLES   FLORES,   2011,   p.   31) 

 

Isso exigiu que o olhar do pintor fosse alheio e à sua função pictórica        coubesse apenas as relações harmoniosas encontradas na natureza. Mantendo        assim o olhar do observador dentro do sistema discursivo de uma realidade        imutável já que, à princípio, o seu olhar é neutro. O resultado dessa equação é uma        pintura de caráter mimético, apenas um modelo de comunicação visual, talvez uma        situação   que   existiu,   numa   tradução   mais   ou   menos   exata   da   realidade. 

Esse sistema que, até então, parecia inabalável começou a mostrar sinais        de enfraquecimento. Suas convenções sobre naturalização da imagem são       

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questionadas com os novos pensamentos filosóficos e a revolução industrial. "A        introdução do sentido de pessoa é simultânea ao abandono da mimese e ao        surgimento da criatividade" (GONZÁLES FLORES, 2011, p. 53). Mas é com o        surgimento da fotografia que sua gênese sofre uma ruptura e leva a pintura para a        era moderna: "a fotografia é entendida como técnica e não como meio e se a        fotografia foi inventada é porque surgiu uma necessidade crescente de realismo        que   a   pintura   não   resolve   satisfatoriamente"   (GONZÁLES   FLORES,   2011,   p.   91). 

Com estas novas problemáticas acerca da construção da imagem, surgidas        com a invenção da fotografia, Vilém Flusser, filósofo tcheco naturalizado no Brasil,        aponta para um diagnóstico da interferência do aparelho fotográfico e o ruído        causado por ele na imagem resultante – imagem a qual é derivada de uma        operação  input/output  e da relação aparelho/operador – provocando consequências              nos arranjos já estabelecidos no campo da autoria artística. Dessa forma, "o        fotógrafo procura estabelecer situações jamais existentes antes [...]. O gesto        fotográfico desmente todo o realismo e idealismo. As novas situações se tornarão        reais   quando   aparecerem   na   fotografia"   (FLUSSER,   2011,   p.   53). 

Ao referir­se à toda imagem feita a partir de um aparelho como "imagem        técnica" , Flusser e as definições de  input/output são essenciais para entender a1        dimensão desse processo, "o caráter aparentemente não­simbólico, objetivo, das        imagens técnicas faz com que seu observador as olhe como se fossem janelas e        não imagens". Já nas imagens tradicionais – aquelas feitas sem aparelhos – "é fácil        verificar que se trata de símbolos: há um agente humano (pintor, desenhista) que        se coloca entre elas e seu significado". Mas engana­se quem acha que os        tratamentos entre imagens técnicas e tradicionais são distintos: "A aparente        objetividade das imagens técnicas é ilusória, pois na realidade são tão simbólicas        quanto o são todas as imagens." (FLUSSER, 2011, p. 30­31). Sendo assim, o        aparelho opera de forma "mágica" cristalizando aquilo que se vê à frente, fazendo        escolhas pelo fotógrafo, em sucessivas tentativas de eternizar o instante. Aquilo        que entra (input) no aparelho é uma intenção do operador mas o que sai (output) é        uma das opções contidas no próprio aparelho, que possui um quantidade de       

1    A   Filosofia   da   caixa   preta :   ensaios   para   uma   futura   filosofia   da   fotografia,   apresenta   um   "Glossário 

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opções   de    output    pré­definidas. 

Nesta nova dinâmica, a foto faz o trabalho de achatamento para o plano        bidimensional do mundo tridimensional, isentando a mão do artista nessa situação        e capturando informações que estão além da capacidade do olho humano,        flexibilizando a aparente existência de uma dicotomia na situação agente humano        versus  aparelho. Reduzida às suas qualidades técnicas mas elevada a mais        verossímil para obter imagens, a fotografia tira a pintura dessa posição de intensa        demanda   manual   e   abre   caminho   para   novas   reflexões   dessas   relações. 

Pode, por exemplo, na fotografia, acentuar aspectos do original acessíveis        somente à lente – ajustável e capaz de escolher arbitrariamente seu ponto        de vista –, mas não ao olho humano. Ou pode, com a ajuda de certos        procedimentos, como a ampliação e a câmera lenta, fixar imagens que        simplesmente subtraem à óptica natural. Essa é a primeira razão. Além        disso, em segundo lugar, a reprodução técnica pode colocar a cópia do        original em situações que são inatingíveis ao próprio original" (BENJAMIN,        2012,   p.   21) 

 

Nessa condição, a fotografia é reduzida à apenas um aparelho. A foto é a        máquina e fotografar é tirar fotos com a máquina, reduzindo o meio à sua ação e à        tecnologia incorporada. Isso, de uma maneira reducionista, resolveu os problemas        de representação mimética. Sua autonomia só se deu enquanto meio artístico às        luzes   da   pintura   moderna,   quando   transformou­se   em   gênero   independente. 

 

6.   REPRODUTIBILIDADE,   PROCESSO   CRIATIVO   E   O   QUE   É   ORIGINAL 

Walter Benjamin diz que: "A obra de arte sempre foi, por princípio,        reprodutível. O que os homens fizeram sempre pôde ser imitado por homens."        (2012, p. 13). O autor aponta que a imitação era essencial para difundir as obras e        para o treinamento de discípulos por grandes mestres. Com o surgimento das artes        gráficas, como a xilogravura e a litogravura, que têm em sua gênese a        reprodutibilidade técnica, as imagens foram incorporadas pelo cotidiano e sua        difusão exponenciada após o advento da imprensa. Com isso, submeteu a arte à        profundas  transformações  e  a  questionamentos  pertinentes  até  hoje,  principalmente sobre sua autenticidade: " A esfera da autenticidade, como um todo,                      subtrai­se à reprodutibilidade técnica – e, naturalmente, não só a que é técnica."                          (BENJAMIN, 2012, p. 19, grifo do autor). Benjamin coloca a autenticidade como a        "quintessência" da obra, aquilo que se mantém intacto desde sua origem e perdura       

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durante toda existência, sua "aura". Logo, quando se multiplica, sua reprodução,        que não seja nos modos tradicionais, a "aura" obra se perde e se atualiza somente        aquilo se é reproduzido e a partir dessas relações com o reprodutível, a obra de        arte   surge   já   na   sua   essência   pronta   para   ser   reproduzida   e   multiplicada. 

Dentro dos processos criativos sempre houveram as limitações dos meios e        suas especificidades e que, principalmente na fotografia, foram definitivos para a        evolução da linguagem artística. A parte técnica dos meios exacerbada pelos        virtuosismos individuais elevaram o status de artista ao de gênio, mas o que        acontece depois do surgimento dos métodos      de reprodução mecânica é a          necessidade dessas linguagens de fazerem autocrítica e questionar­se suas        essências. Sabe­se que a fotografia libertou a pintura de função mimética, mas o        caminho depois disso é o que a trouxe para a contemporaneidade como um meio        de extrema relevância, mesmo após os séculos de dependência dos julgamentos        vigentes sobre o que é o realismo na pintura." [...] Escolher a pintura como        linguagem nos dias de hoje é deparar­se tanto com uma longa tradição de imagens        e procedimentos diversos quanto com um ferrenho debate teórico sobre sua        pertinência."   (CORONA,   2016,   p.   12) 

Douglas Crimp levanta que o que a pintura buscou desde o surgimento da        fotografia foi devolver­se a sua aura, coisa que até então sempre possuira mas        estava ameaçada com a conquista dessa aura pela fotografia e "ela se        apresentava sob diferentes roupagens –  pattern painting,  pintura new­image ,              neoconstrutivismo,   neoexpressionismo"   (CRIMP,   2005,   p.   105).  

Desde os anos 1990, "uma nova geração de pintores, muitos deles        influenciados pela obra de Gerhard Richter, irá debruçar­se sobre as relações entre        pintura e outros meios de produção de imagem" (CORONA, 2016, p. 16). Com a        entrada do vídeo e o cinema, além da fotografia, artistas utilizam desses processos        híbridos para solucionar suas proposições na pintura. Cria­se um intenso diálogo        com os meios de reprodução mecânica desdobrando em movimentos além do        hiper­realismo,   como   o   new   dada   e   a   arte   pop. 

A prática contemporânea permite todas as intersecções imagináveis e        quebrar os paradigmas das linguagens para ampliar os conceitos de cada um tem        sido o  leitmotiv  da arte desde Duchamp e o  ready­made. No conceito que Nicolas           

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Bourriaud define como "pós­produção", vários artistas utilizam, interpretam e        reproduzem obras de terceiros, usam de materiais não convencionais para abolir a        tradição de produção e consumo, criação e cópia. Multiplicam­se as inserções        desses conteúdos culturais e anexam­se ao mundo "formas até então ignoradas ou        desprezadas." Dessa forma, abandonando o conceito de matéria­ prima bruta, que        sem sentido, dá uma nova carga poética para objetos já existentes. "Assim, as        noções de originalidade (estar na origem de…) e mesmo de criação (fazer a partir        do nada) esfumam­se nessa nova paisagem cultural [...]" (BOURRIAUD, 2009, p.        7­8). 

 

7.   CONCLUSÃO 

A criatividade e o processo criativo são decisivos para apontar os caminhos        da prática artística atual pois a questão original­cópia sempre acompanhou        raciocínio contemporâneo. Com todas essas transformações sofridas na imagem        resultante, a imagem inicial distancia­se do seu papel progenitor deixando apenas        resquícios de originalidade, levando a imagem resultante a novos significados e        interpretações, revelando toda a complexidade que pode ter qualquer nova        imagem. 

A imagem original que é usada para conduzir o processo criativo        gradualmente se dissolve na obra, seja uma pintura, drama ou música,        que assim emerge em um  medium que é criado, em um  medium diferente        da imagem na imaginação. Mudanças, omissões, ornamentos, etc,        ocorrerão, o que significa que somente uma semelhança limitada está        presente na obra. Frequentemente as imagens originais para as imagens        e esboços dos pintores e poetas são desconhecidas como jamais        tivessem existido ou não existissem mais. No centro do processo artístico        está a imagem, que pode ter uma relação com a imagem original ou pode        simplesmente ser convertida em uma obra de arte através do processo        artístico. Em ambos os casos, a criação de imagem envolve a        transformação   da   imagem   original   (WULF,   2013,   p.   48­49). 

 

Quando pensamos em novas imagens – independente se a transmissão        seja na pintura, fotografia, vídeo ou cinema – a origem pouco importa. A imitação        já cumpriu seu papel e no momento que surge uma nova imagem a partir da        imagem inicial, não existe mais obrigatoriedade de semelhança e inclusive abre a        possibilidade para que as cópias interajam entre si. Colocando isso no espectro        artístico, o que precisa ser levado em consideração são as intenções e a relação        com a poética do artista. Qualquer julgamento, se necessário, sobre sua origem,       

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deve respeito a essa relação já que o fator decisivo é o fator humano, àquele que        se refere à imaginação, e isso se dará na interação de quem frui e do interesse de        saber a origem, ou não, da imagem anterior à obra. Logo, as necessidades        poéticas para fins artísticos tem novos conceitos de representação do real e a        ressignificação na imagem resultante abre o diálogo sobre como a origem em algo        não­inédito,   pré­existente,   não   prejudica   a   originalidade   da   obra   final. 

 

8.   REFERÊNCIAS   BIBLIOGRÁFICAS 

ARGAN, Giulio Carlo.  Arte Moderna: Do Iluminismo aos movimentos                  contemporâneos .   5.   ed.   São   Paulo:   Companhia   das   Letras,   1992. 

BENJAMIN, Walter.  A Obra de Arte na Época de Sua Reprodutibilidade                      Técnica.    1.   ed.   São   Paulo:   Zouk,   2012. 

BORGES,  Priscila.   Criatividade  no  mundo  da cópia. METAgraphias:      metalinguagem e outras figuras v.1 n.1, p. 209­219, março 2016. Disponível em:        <https://goo.gl/F6wGSD>.   Acesso   em:   28   maio   2017. 

BOURRIAUD, Nicolas.  Pós­produção: como a arte reprograma o mundo                  contemporâneo.    1.   ed.   São   Paulo:   2009 

CRIMP,   Douglas.    Sobre   as   ruínas   do   museu.    São   Paulo:   Martins   Editora,   2015.   CORONA, Marilice.  Por que pensar sobre a autorreferencialidade em pintura                    hoje?  APOTHEKE: Santa Catarina, v.4, n.2, ano 2, dezembro 2016. Disponível em:        <https://goo.gl/Nts7rz>.   Acesso   em   30   agosto   2017. 

FLUSSER, Vilém.  Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia                      da   fotografia.    1.   ed.   São   Paulo:   Annablume,   2011. 

GONZÁLEZ FLORES, Laura.  Fotografia e pintura: dois meios diferentes? São                    Paulo:   WMF   Martins   Fontes,   2011. 

HIPER­REALISMO. In: ENCICLOPÉDIA  Itaú Cultural de Arte e Cultura                  Brasileiras.  São  Paulo:  Itaú  Cultural,  2017.  Disponível  em:  <https://goo.gl/VAZzCp>.   Acesso   em:   21   de   Ago.   2017.   Verbete   da   Enciclopédia.  MENDES, João Maria.  Introdução às Intermedialidades. São Paulo: Escola                  Superior   de   Teatro   e   Cinema,   2011. 

WULF, Christoph.  Homo PIctor: imaginação, ritual e aprendizado mimético no                    mundo   globalizado .   São   Paulo:   Hedra,   2013.  

Referências

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