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A POLÍTICA DE OFICIALIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR (O Caso da Faculdade das Ciências Sociais da Universidade Nacional de Timor-Leste)

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3º CÍCULO

[POLÍTICAECULTURA]

A POLÍTICA DE OFICIALIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR (O Caso da Faculdade das Ciências Sociais da Universidade Nacional de Timor-Leste)

Quintino Manuel de Cristo

Porto 2022

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Quintino Manuel de Cristo

A POLÍTICA DE OFICIALIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR (O Caso da Faculdade das Ciências Sociais da Universidade Nacional de Timor-Leste)

Tese realizada no âmbito do Doutoramento em Sociologia, orientado pelo Professor Doutor João Miguel Trancoso Vaz Teixeira Lopes e pela Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

2022

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Quintino Manuel de Cristo

A POLÍTICA DE OFICIALIZAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR (O Caso da Faculdade das Ciências Sociais da Universidade Nacional de Timor-Leste)

Tese realizada no âmbito do Doutoramento em Sociologia, orientado pelo Professor Doutor João Miguel Trancoso Vaz Teixeira Lopes e pela Professora Doutora Isabel Margarida Ribeiro de Oliveira Duarte

Membro do Júri

Presidente:

Vogais:

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Dedicatória

Dedico esta tese aos meus pais: Adão de Cristo e Balbina Filipe À minha esposa Amélia Soares

Aos meus filhos:

Quíntia Balbina de Cristo Zanessa de Cristo

Aristóteles Belo de Cristo

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5 Sumário

Índice

Declaração de honra ... 7

Agradecimentos ... 8

Resumo ... 9

Abstract ... 10

Lista de abreviatura e Siglas ... 11

Introdução ... 12

1. Revisão do Estado de Arte e Fundamentação Teórica ……..………26

1.1.1. A Teoria e os Pressupostos Políticos ... 27

1.1.2. O Estado e a Sua Compreensão Teórica ... 39

1.1.3. A Teoria de Governo ... 46

1.1.4. A Teoria de Poder e Seu Uso ... 50

1.1.5. A Teoria e a Manifestação de Autoridade ... 53

1.2.Português na Formação Identitária e Autoestima dos Timores……….55

2. Reino Tradicional de Timor e Seu Contato com Estrangeiros... 69

2.1 Língua Portuguesa nos Tempos de Timor Português ... 77

2.2 Língua Portuguesa nos Tempos da Ocupação Indonésia ... 79

2.3 Português na Atualidade de Timor ... 83

2.4. A Oficialização da LP na Perspetiva Sociológico ... 85

3. Metodologia de Estudo... 104

3.1. Paradigma do Estudo ………104

3.2. Método de Estudo ………..107

3.3. Objeto de Estudo... 115

3.4. Informadores Privilegiados ... 124

3.5. Técnica Recolha de Dados ... 127

3.6. Observações dos Objetos de Estudo ... 131

3.7. Análise de Dados ... 132

4. Apresentação e Discussão de Dados ... 134

4.1. Política de Oficialização da Língua Portuguesa ... 135

4.1.1. Planeamento do Projeto da LP na UNTL... 136

4.1.2. Organização da LP na UNTL/FCS ... 146

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4.1.3. Atuação do Projeto de Oficialização da LP na UNTL ... 166

4.1.4 Controlo do Projeto da Oficialização da LP na UNTL ... 188

4.2. Obstáculos da Sociedade Académica da UNTL na LP ... 207

4.3. Avanço dos Académicos da UNTL no Uso da LP ... 222

4.3.1. O Saber Escrever a LP pelos Estudantes da UNTL – FCS ... 234

5. Considerações Finais ... 238

5.1. Conclusões de Estudo ... 238

5.2. Sugestões de Estudo ... 242

6. Referências Bibliográficas ... 246

7. Anexos ... 254

A. Guião de Entrevista ………250

B. Lenda da Chegada dos Portugueses em Timor ………257

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7 Declaração de honra

Eu, Quintino Manuel de Cristo, natural de Timor, residente em Rua de Vilar No. 34 r/c, 4050-625, Porto com o telefone móvel +351934126414, nacional de Timor, portador do Passaporte nº 0083978c, inscrito no Programa Doutoral em Sociologia da Faculdade das Letras da Universidade do Porto declaro, nos termos do disposto na alínea a) do artigo 14.º do Código Ético de Conduta Académica da U.Porto, que o conteúdo da presente tese reflete as perspetivas, o trabalho de investigação e as minhas interpretações no momento da sua entrega.

Ao entregar esta tese, declaro, ainda, que a mesma é resultado do meu próprio trabalho de investigação e contém contributos originais que não foram utilizados previamente noutros trabalhos apresentados a esta ou outra instituição.

Mais declaro que todas as referências a outros autores respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, encontrando-se devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na secção de referências bibliográficas. Não são divulgados na presente tese quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor.

Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Porto, 15 de junho de 2022 Quintino Manuel de Cristo

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8 Agradecimentos

Graças a Deus, o Poder Supremo, o que eu não vejo, mas sei que existe, pela vida que eu tenho.

Ao Professor Doutor João Miguel Trancoso Lopes, pela orientação no doutoramento e pelo trabalho de formação de doutor. Por me ter proporcionado o contacto com os estudos políticos e sociológicos, por todas as oportunidades que me ofereceu, pela paciência de me corrigir e orientar. Imensa gratidão.

À Professora Doutora Isabel Margarida Duarte, pelas paciências de orientações e empréstimo de materiais para o estudo. Imensa gratidão.

Ao Professor Doutor Carlos Manuel Gonçalves que atende as minhas necessidades administrativas e académicas no Curso da Sociologia. Imensa gratidão.

Aos Professores do curso de doutoramento em Sociologia na Universidade do Porto – U-Porto, por me terem ajudado e orientado durante o meu estudo. Obrigado.

Aos meus amigos do curso, que não posso mencionar um por um, contudo os que me ajudaram e emprestaram livros e anotações necessários durante o meu estudo, por toda a nossa cumplicidade académica e afetiva, pelo companheirismo. Obrigado.

Ao Governo português, pelo Instituto de Camões, por ter cooperado com o Governo de Timor e a Universidade Nacional de Timor Leste (UNTL), que me ofereceu a bolsa de estudo e a oportunidade de estudar na Universidade do Porto. Obrigado!

Não esqueço de agradecer à pessoa Eurico Celestino Araújo como Decano da FCS e Francisco Martins como Reitor da UNTL que permitiram os meus estudos doutorais.

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9 Resumo

Esta tese apresenta o resultado de uma pesquisa empírica sobre a política de oficialização da Língua Portuguesa (LP) em Timor. O debate consiste em três categorias que são a política, os avanços e obstáculos relacionados com a existência desta política no país, durante 20 anos. A categoria política explora as questões do planeamento, organização, atuação e controlo feito pelo Estado/governo relacionadas com os projetos e atividades que contribuem para o progresso dos Timores no que diz respeito ao uso da LP nos assuntos oficiais. A categoria de avanço procura compreender como é a utilização da LP por parte dos académicos na Faculdade das Ciências Sociais da UNTL. A última categoria referente aos obstáculos procurar compreender as lacunas e problemas que bloqueiam o progresso desta língua no país. O objetivo geral deste estudo é compreender a política de oficialização da LP em Timor. Quanto aos objetivos específicos, procura-se estudar, analisar e entender como o planeamento, organização, atuação e controlo são feitos pelo Estado/governo de Timor para que a LP seja uma LO utilizada consistentemente nas administrações e assuntos públicos. A coleta de dados foi realizada utilizando uma abordagem de pesquisa qualitativa que prioriza observações diretas, indiretas e entrevistas aprofundadas, com perguntas abertas não estruturadas que permitiram a liberdade dos informadores-chave para expressar as suas opiniões de forma livre e crítica neste estudo. Com base nos resultados da análise das categorias existentes, o estudo concluiu que, embora a língua portuguesa tenha sido reintroduzida e oficializada durante vinte anos em Timor, essa língua não se desenvolveu de forma suficiente, tal como era esperado. Verifica-se a ausência de vontade política por parte do Estado/governo no que concerne aos planeamentos, organização, atuação e controlo para o desenvolvimento dessa língua.

Palavras-chave: Política, Planeamento, Organização, Atuação, Controlo, Língua Portuguesa

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10 Abstract

This thesis presents the result of an empirical research on the policy of officialization of the Língua Portuguesa (LP) in Timor. The debate consists of three categories, which are politics, progress and obstacles related to the existence of this policy in the country for 20 years. The political category explores the issues of planning, organizing, actuating, and controlling by the State/government in relation to the projects and activities that contribute to the progress of the Timores regarding the use of LP in official affairs. The progress category seeks to understand the use of the LP by academics at the Faculty of Social Sciences at UNTL. Another category refers to obstacles and intends to understand the gaps and problems that blocked the progress of this language in the country. The main purpose of this study is to understand the policy of officialization the LP in Timor.

The more specific objectives concern to the studying, analysis and understanding of how the planning, organization, actuation, and control of the consistent use of the LP as LO in public administration affairs are conducted by the State/government. The data collection was performed by employing a qualitative research approach that prioritizes direct and indirect observations and in-depth interviews, with open unstructured questions which allowed the freedom of key informants to express their opinions freely and critically in this study. Based on the results of the analysis existing categories, the study concluded that, although the Portuguese language has been introduced and made official for twenty years in Timor, that language has not developed sufficiently, as expected. It is possible to examine the absence of seriousness on the part of the State/government regarding planning, organizing, actuating and control for the development of that language.

Keywords: Policy, Planning, Organizing, Actuating, Controlling, Portuguese Language

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11 Lista de abreviatura e Siglas

ANAAA – Agência Nacional para a Avaliação e Acreditação académica CAFÉ – Centro de Aprendizagem e formação Escolar

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CNE – Congresso Nacional de Educação

CICV – Comité Internacional da Cruz Vermelha CPLP – Comunidade dos Países da Língua Portuguesa

CRDTL – Constituição da República Democrática de Timor-Leste DDC – Departamento do Desenvolvimento Comunitário

FALINTIL – Forças Armadas da Libertação Nacional de Timor-Leste FCS – Faculdade das Ciências Sociais

FLP – Faculdade da Língua Portuguesa

FRETILIN – Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente INL – Instituto Nacional Linguístico

JICA – Japan International Cooperation Agency LBE – Lei Base da Educação

LI – Língua de Instrução LO – Língua Oficial LP – Língua Portuguesa

MSCC – Ministério Ensino Superior Ciência e Cultura ONU – Organização das Nações Unidas

PALOP – Países Africanos da Língua Oficial Portuguesa POAC – Planing, Organizing, Actuating, Controling QQNTL – Quadro de Qualificação Nacional Timor-Leste RDP – Rádio Difusão Portuguesa

RDTL – República Democrática de Timor-Leste Sols – Science of Life Systems

UNTAET – United Nation Transitional Administration in East Timor UNTIM – Universitas Timor Timur

UNTL – Universidade Nacional de Timor-Leste

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12 Introdução

«A minha Pátria é a minha língua»

(Fernando Pessoa).

É verdade o que dizia o poeta Fernando Pessoa, “a minha pátria é a minha língua”, pois, além de ser instrumento de comunicação para os homens, a língua revela os territórios originários dos homens. Caso as pessoas falem inglês, reconheceremos as suas pátrias de origem – Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos da América, entre outros, da mesma forma que, se alguém fala português, assumir-se-á que esse falante provém de Portugal, do Brasil, dos PALOP ou de Timor. Num mundo moderno globalizado, que permite a elevada migração humana, a língua, além de marco identitário da pátria, é extremamente útil como instrumento de deslocação de indivíduos por todo o globo.

No caso de Timor, que proclamou a sua independência num período no qual o mundo já era mais aberto e globalizado, o panorama atual da Língua Portuguesa (LP) caracteriza-se por ser mais rentável, vantajoso e enriquecedor, tendo em conta que esta língua é uma porta aberta ao mundo para os Timores. Por outro lado, a preservação do idioma é motivo de bastante orgulho para a formação da própria identidade nacional.

Neste contexto, após a restauração da independência de Timor, o Estado de Timor adotou a LP na sua Constituição, no artigo 13.º como Língua Oficial (LO). Como LO do país, deveria ser utilizada amplamente pela sociedade como instrumento de comunicação, tanto nos assuntos oficiais do Estado, como também nos assuntos particulares da sociedade. No entanto, os valores relativos a este facto são preocupantes, indicando-nos que, 20 anos após se ter tornado LO, o português continua atrasado no seu desenvolvimento já que, segundo o Censo da Família de 2015, somente 30% da sociedade é que “sabe” o idioma.

Relacionado com o progresso lento em Timor, como é designado pelos dados de Censo da Família de 2015, esta tese faz questão de propor o título “A Política de Oficialização da LP em Timor”. O mergulho desta tese vai ao estudar, analisar e compreender até que ponto a política do Estado/Governo de Timor determina os planeamentos, as organizações, as atuações e os controlos das atividades relacionadas com a política de oficialização da LP na República Democrática de Timor-Leste (RDTL). É pertinente também considerar, estudar e tornar-se público os factos do lento avanço

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desta LO, pesquisar os obstáculos mais acentuados enfrentados pelos Timores após 20 anos da sua oficialização no país.

O avanço da LP como LO do país ainda se encontra numa fase inicial de desenvolvimento, com grandes constrangimentos e inconvenientes, nomeadamente, no que diz respeito às aplicações de políticas da oficialização do idioma. Haja vista que as faltas de planeamento, organização, atuação e controlo por parte das instituições competentes do Estado/governo ao progredir desta língua como LO do país são constrangimentos pertinentes.

Temos em vista que os planeamentos, organizações, atuações e controlo do Estado/governo ainda não são concretos e sustentáveis. Neste caso, não é possível levar o cabo a concretização dos projetos de oficialização da LP com êxito em Timor. Para além disso, o estudo visa analisar os obstáculos enfrentados pelos Timores na aprendizagem e utilização do português nas atividades académicas e no seu dia-a-dia, a fim de identificar se, na perceção dos inquiridos, o português tem sido recentemente desenvolvimento após vinte anos da sua reintrodução como LO.

Maior falta ainda, quando o governo não se esforça por incluir a sociedade no programa da LO – ou fá-lo raramente, haja em vista os discursos ou as simples conversas oficiais dos governantes, parlamentares, educadores e estudantes na LP, porém, este segmento, é conveniente classificá-lo como pioneiro ou agente de mudança na sociedade. O governo, como órgão executivo do Estado, não estabelece o processo que implica a observância de um conjunto de passos sustentáveis ao programa de oficialização da LP.

Propõe-se como objeto deste estudo a política de oficialização da LP pelo Estado de Timor, os seus obstáculos e avanços. O estudo pretende fazer uma abordagem profunda sobre a política de Estado, pelo seu braço executivo – governo, na realização das atividades de planeamento, organização, atuação e controlo (POAC) na promoção desta língua em Timor. Ademais, o estudo visa analisar quais os obstáculos enfrentados pelos Timores em apreender e utilizar o português no seu dia-a-dia, para fim de identificar se o português tem sido recentemente desenvolvido em Timor, após vinte anos da sua adoção como LO do país e nos espaços de atendimento público.

O estudo centra-se na Faculdade das Ciências Sociais (FCS), Universidade Nacional de Timor Lorosa´e (UNTL), local pertinentemente considerado e eleito com a intenção

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de procurar dados convenientes relacionados com os planeamentos, atuações, organizações e controlo como forma de implementar a política de oficialização da LP em Timor. Outrossim, o estudo compreender os progressos dos usos, bem como pretende escrutinar os obstáculos existentes. O presente estudo trata de entrevistar e observar os dirigentes da UNTL/FCS, docentes, administradores e estudantes nas atividades académicas no uso da LP naquela faculdade.

A abordagem posterior centrar-se-á na decisão política de oficializar a LP ao país e o seu uso quotidiano pelos Timores nos serviços e atendimentos públicos. Trata-se, mais precisamente, de tentar compreender as dinâmicas políticas relacionadas com o POAC do projeto de oficialização da LP – os seus obstáculos e avanços na sociedade académica de Timor, especialmente, dos docentes e estudantes na sua relação com o processo de ensino-aprendizagem.

No contexto do presente estudo, a aprendizagem de uma língua constitui um momento-chave de consolidação e aprendizagem sociolinguísticas, promovido pelos professores e estudantes, de forma antecipatória no processo de construção da identidade sociocultural e científica e no processo de edificação do seu hábito, cultura e poder simbólico por meio das convivências regionais, especialmente entre dois Estados gigantescos – Austrália localizada a Sul e Indonésia cujo território está rodeado pela pequena metade-ilha de Timor.

Acredita-se que a compreensão da construção e da evolução identitária cultural, na sua relação com o processo de aprendizagem e simultaneamente na fase da construção do capital cultural dos Timores em geral e, em especial, dos estudantes do curso de licenciatura em ciências sociais, contribuirá para um reforço importante da formação inicial de transição entre o português somente como símbolo e o português como prática linguística, identidade cultural e poder simbólico, podendo ser utilizado na representação de honra, prestígio, poder e instrumento de aquisição das capacidades intelectuais nas áreas científicas e tecnológicas do mundo moderno globalizado. O trabalho situa-se, assim, numa zona de interface entre os processos de aprendizagem inicial, utilização e processos de construção de saber, identidade cultural e poder simbólico dos Timores.

As primeiras etapas das aquisições identitárias dos Timores começaram a partir do momento em que a LP se adentrava nas suas culturas desde a sua primeira presença

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juntamente com a presença dos mercadores portugueses que procuravam o pau precioso, denominado “sândalo”1, unicamente produzido naquela ilha. Os mercadores portugueses tentavam comunicar com os nativos da ilha para transmitir os seus desejos à chegada. Porém, o idioma apenas reúne os portugueses com os Timores da classe de elite – os chefes de tribos ou vulgarmente chamados liurai (reis), pois somente este segmento dos nativos detinham privilégios, ou preenchiam critérios para realizar convívios de altos níveis. Assim, a língua portuguesa via-se incapaz de ampliar a sua progressão por todas as classes sociais de Timor, uma vez que não havia ensino massificado como acontece hoje.

Julga-se que a LP não era capaz de se desenvolver entre o povo nativo, dado que existia um enorme distanciamento entre este e os falantes de português. A prova desta hipótese é evidente, haja vista o seu legado lento na prática linguística dos Timores. Na atualidade, o progresso das palavras emprestadas do português ao Tétum não se classifica em grande escala. Porém, partilha a sua cor, palavras e vocábulos com as línguas de todos os dialetos nacionais existentes em Timor, sendo que o mais influenciado é a língua Tétum, mais especificamente o “Tétum Praça2” praticado pela maioria dos Timores.

Afastadas do continente europeu e da cultura portuguesa de origem, julga-se que existam relações inerentes entre as línguas nacionais existentes em Timor atualmente e a LP que produz um grande enriquecimento de palavras, que influenciam as outras línguas. O enriquecimento é considerado como aculturação das culturas indígenas, pois permite que os falantes dos idiomas locais se familiarizem facilmente com a LP.

O português foi fixado na CRDTL no seu artigo 13.º e determinado como LO do país, convocando o dever e a obrigação dos Timores a praticá-lo, tanto na vida privada quanto na vida pública. Os deveres e as obrigações dos Timores relativos ao uso da LP não são praticados eficazmente devido a obstáculos anteriores e atuais enfrentados que resultam da pouca prática desta língua. Os Timores da velha geração, por exemplo, viveram menos experiências e conhecimentos sobre a língua, pois este segmento da

1É uma árvore originária de Timor, género Santalum, que se carateriza pela sua madeira aromática, comercialmente valorizada pela sua utilização nos diversos fins.

2 Uma variedade de linguagem usada amplamente em Timor que é fortemente influenciada pelos elementos emprestados das palavras portuguesas. O Tétum original é chamado “Tétum Terik” (uma língua materna) usada pelos povos espalhados nos Municípios de Viqueque, Manatuto, Manufahi, Ainaro, Covalima e até em Atambua (uma região indonésia situada na fronteira de Timor e Indonésia).

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sociedade que deveria ter sido o pioneiro na socialização e prática da LP em Timor, não tinha oportunidades suficientes durante a ocupação e nos tempos passados.

Os “possuidores” da língua não tinham aproximação aos nativos em geral afim de fazê-los compreender com eficiência a LP. Os portugueses preferiam aproximar-se de e comunicar com os reis, príncipes, chefes (datos) de tribos ou líderes da sociedade. As comunicações sucediam somente entre os burgueses Timores e os portugueses

“malae3”. Os chefes possuíam a habilidade de interpretar e traduzir as necessidades dos povos aos portugueses e vice-versa. Assim, a fala e a prática do idioma dependiam dos portugueses e liurais que formavam uma pequena parte da sociedade, limitando o avanço do idioma nos tempos dos primeiros contactos e durante o período de colonização de 450 anos, até ao fim da ditadura em Portugal, com o fim do período de colonização.

O governo da Província Ultramarina de Portugal em Timor era considerado o

“transmissor” da língua, um agente transformador linguístico. No entanto, não desempenhou um importante papel no esforço da socialização da LP ao longo da sua colonização. Até aos anos de sessenta, raramente se encontravam escolas primárias públicas ou centros de treino linguístico que incluíssem cursos de LP que atendessem às necessidades de alfabetização e necessidades dialéticas do povo e que associassem o português aos Timores pelo governo da província. É provável que até 90% da população de Timor não tinha habilidade para compreender, falar e escrever em LP até no período de saída dos portugueses naquele território, em 1975. Neste período, o português era usado por elites Timores “civilizadas4” e por europeus, tornando a língua elitista.

O esforço de edificação da LP, foi feito pela igreja católica de Timor que transmitia as mensagens aos seus adeptos na forma de catecismos para as pessoas que aderissem à fé cristã. Contudo, não se considera uma campanha significativa de propagação da LP na província, pois, até ao início da entrada da invasão Indonésia em 1975, a maioria da população de Timor (90%) foi ainda classificada como “gentios5” – uma categoria possuída pelos Timores que não optaram por confissões religiosas cristãs. Portanto, apenas 10% da população sabia rezar o terço ou ladainhas no idioma português segundo

3 Uma expressão designada aos estrangeiros, por exemplo, “malae mutin” aos europeus, “malae metan” aos africanos. A expressão mostra o peso dos malaios no comércio, a ponto de os estrangeiros terem passado a ser designados pela palavra “malae”.

4 Os timorenses com aparência e atitudes refinados europeus, especialmente os liurais, datos (uma autoridade local que governa pequenos territórios subordinados ao reinado do liurai), intelectuais, religiosos e funcionários.

5 Uma designação dos nativos timorenses que não incluíam nas suas fés ao cristianismo.

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a doutrina católica, e somente esta percentagem empregava a LP nas suas convivências sociais.

Mais adiante, os obstáculos enfrentados pelo idioma português foram crescendo a uma grande escala a partir do momento em que os indonésios invadiram o território.

A proibição da prática cultural portuguesa – o ensino da LP nas escolas, o desaparecimento de obras literárias portuguesas, o uso proibido da LP nas conversas privadas ou nos discursos públicos foram identificados como grandes problemas para os Timores. Esta condição contribuiu para o desaparecimento da LP na perceção dos Timores. A sociedade que tinha aprendido um pouco português nos tempos da colonização portuguesa, por causa das limitações existentes, esqueceu-se de tudo no tempo da invasão.

A censura feita pelos indonésios não atingiu só o povo, mas também a igreja católica. A prova desta realidade foi a proibição do uso da LP nas liturgias e celebrações eucarísticas por sacerdotes católicos. O português foi trocado obrigatoriamente pelo tétum ou até mesmo pela língua indonésia, e desta forma, as forças invasoras ficaram satisfeitas com a situação de “Timor Timur”6 durante 24 anos. Atualmente, os que são obrigados a utilizar a LP, tinham poucos conhecimentos no tempo da colonização e os seus conhecimentos foram interrompidos durante a invasão Indonésia ou receberam a sua educação pelos sistemas educativos indonésios.

As consequências dos afastamentos e das proibições do uso da LP resultam no precário entendimento dos Timores em relação ao idioma português. Os dados da pesquisa demonstram claramente as antipatias e rejeições dos Timores mais jovens.

Para os que foram treinados e habilitados no regime indonésio, a presença e a oficialização da LP em Timor é sentida como um pesadelo. As considerações de que o idioma tenha pertencido ao passado colonial emergem: “ah este é o idioma do colonizador”, dizem os entrevistados. Alguns estudantes expressam que a LP foi usada por Portugal para regularizar a sua política de “dividir e emperrar” e como instrumento colonialista na “exploração do homem pelo homem”. Estes sentimentos permanecem na mente destes jovens que consequentemente, não são felizes no treino e aprendizagem da língua.

6 Nome dado pelo Indonésio ao Timor, trocando Timor Português, nome utilizado anteriormente.

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Para enfrentar esta realidade, devem ser feitos esforços com vista a diminuir os sentimentos menos positivos dos jovens. A ordem de convencer é um trabalho imediato para os implementadores da política pública de oficialização da LP no país. Os jovens devem ser convencidos ou esclarecidos sobre os efeitos positivos do uso da LP e estar conscientes do seu futuro linguístico, ou seja, “como eles ocupam adequadamente a LP”. A ocupação da LP abre o caminho mais amplo para a inserção científica mais adequada aos jovens. O português abre a ligação de Timor aos países europeus, sendo Portugal a sua porta de entrada. Os jovens podem entrar com êxito nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que incluem os cinco países falantes do idioma, não esquecendo a possibilidade de entrada na América Latina onde se situa o Brasil.

Além disso, os jovens devem estar convencidos de que o uso da LP permite a sua comunicação com outros idiomas de origem latina como o espanhol e o italiano, ou até mesmo o francês, pois as pessoas que têm conhecimentos elevados de português, podem compreender a maioria das palavras ditas em italiano ou espanhol. Com efeito, o português é língua oficial para 280 milhões de pessoas e o espanhol de 460 milhões.

O que significa que saber português dá acesso a 740 milhões de falantes do mundo, uma vez que o português e o espanhol são línguas próximas e intercompreensíveis.

A realização da campanha geral da LP em Timor é uma oportunidade. A campanha geral pode ser feita a partir de alguns estímulos como cursos de média e longa duração obrigatória para os jovens que não são estudantes regulares nas escolas, oferecimento de obras literárias portuguesas gratuitamente, cursos, treinamento e oficina da LP de curta duração, rádio e televisão em português dos vários países da CPLP. A obrigatoriedade e o rigor do uso da LP nas escolas pelos alunos e professores, especialmente nos graus de educação secundárias e ensinos superiores existentes no país, são importantes para elevar a LP como língua oficial do Estado de Timor. Os agentes das instituições do Estado devem utilizar a LP, especialmente os órgãos estatais do Estado. Nos discursos, nos debates oficiais dos assuntos de Estado, os membros parlamentares e os membros do governo devem utilizar a LP para que estas ações sejam consideradas como campanha de ampliação da LP no país.

A CRDTL, artigo 13.º de 2002, que aprova a LP como LO da RDTL, exige aos Timores em geral e aos governantes, sociedade civil, funcionários públicos, agentes administrativos e essencialmente os académicos que se tornem os principais usuários

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do idioma em seus relacionamentos sociais, atendimentos públicos e atividades académicas.

Especialmente nas atividades académicas, esta língua deve ser ensinada e praticada seriamente em todos os níveis de ensino, especialmente em universidades como a UNTL que é a única universidade pública no país, pelo que se pode esperar que seja uma pioneira no desenvolvimento e progresso de Timor. Embora o governo de Timor tenha implementado através da Lei do Base da Educação (LBE) N.º 14 de 2008 de 29 de outubro, o respeito pela utilização da LP em todas as atividades académicas no ensino superior existente no país, especialmente na UNTL, é reconhecido que o nível de utilização desta língua pela comunidade académica na interação e no processo de ensino e aprendizagem ainda está muito longe do que se espera.

Para agilizar e acelerar o desenvolvimento desta língua no seio dos Timores, especialmente na comunidade académica, o governo deste país tem colaborado com todos os países membros da CPLP, no sentido de capacitar os seus professores e por fim, os países membros da CPLP, como Brasil e Portugal, cumpriram e trouxeram assistência variada para fortalecer a reintrodução e desenvolvimento de LP em Timor, que visa devolver esta língua como LO do Estado na intenção da aceitação ampla como uma das culturas e identidade do país. Embora com a ajuda de professores de países da CPLP, especialmente Portugal e Brasil, que Timor recebeu desde 2000 e unindo todos esforços para reintroduzir esta língua através de cursos, de facto o desenvolvimento desta língua ainda está muito longe do que se esperava, o indicador de sucesso atinge apenas 30%, de acordo com os dados dos Censos da Família de 2015.

Apesar de muito esforço, energia e ajuda dos países membros da CPLP desde que Timor rompeu com a ocupação indonésia conforme acima referido, esta língua ainda não é, na prática, considerada como LO. Funcionários públicos, ministros, parlamentares, presidentes de autoridades municipais e/ou funcionários de todo escalão não utilizam esta língua nos trabalhos e nos discursos públicos. Isto são sinais reais que indicam que essa língua oficial não se está a desenvolver conforme esperado.

Além disso, a sua progressão lenta é verificada nos hábitos dos académicos quando os docentes, estudantes, pesquisadores, escritores e palestrantes raramente utilizam esta língua nas suas atividades.

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Durante um período de 20 anos, energia, esforços e muito dinheiro foram gastos para reintroduzir esta língua como LO, porém a estagnação continua a ser uma realidade, e é necessário encontrar razões e as causas dos marasmos, neste caso, o problema pode ser formulado na seguinte questão de investigação: “Se a política do Estado aponta a oficialização da LP em Timor, como é o plano, a organização, a atuação e o controlo dos projetos de desenvolvimento do idioma? O foco central é, então, analisar e compreender a política de oficialização da LP como uma ação social que procura entender o processo, funcionamento, abrangência e prática desta na sociedade académica de Timor, particularmente na Faculdade de Ciências Sociais (FCS) da UNTL.

O presente estudo recorre a uma compreensão sociológica, tendo como ponto de partida as considerações de valores, representações sociais, e motivações subjetivas para compreender os projetos relacionados com esta política. Pretende-se estudar e compreender a ação do governo de Timor como órgão executivo do Estado para atingir o sucesso desta política de ação social na comunidade académica de Timor, especialmente na UNTL.

Os principais pressupostos demonstram que a LP enfrenta sérios desafios causados pela insuficiência de planeamento, organização, atuação e controlo do projeto de oficialização da LP, além da intensidade corrente da influência causada pela língua inglesa e da existência de múltiplos idiomas regionais. Por outro lado, nas observações do campo de pesquisa, detetam-se comportamentos como antipatia, vergonha e passividade dos Timores, aspetos que dificultam o avanço da LP em Timor.

Com a problemática acima citada, o estudo trata mais precisamente, de compreender as dinâmicas políticas – planeamento, organização, atuação e controlo da política de oficialização LP em Timor, na sua relação com a aprendizagem, prática e cuidados linguísticos, ao longo de uma das etapas mais cruciais da formação intelectual e identidade dos universitários licenciados no curso de ciências sociais.

O estudo trata, precisamente, as questões de leis, planeamentos, organizações, atuações e controle por parte do governo. A UNTL e a FCS são instituições do Estado totalmente responsáveis pela política da oficialização da LP no nível implementador. É necessário também estudar, analisar e compreender os obstáculos que a LP tem enfrentado vinte anos depois da sua oficialização em Timor. Neste sentido, o mais

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pertinente seria analisar e compreender as principais recortes da política de oficialização que têm dificultado o progresso da LP como LO em Timor.

Apesar de o país adotar a LP como LO com intenção eminente – diferenciar o país e a sociedade naquela região, a sociedade académica, no que se refere aos docentes, pesquisadores e estudantes ainda apresentam dificuldades de acatar esta disposição, quer por não terem tido uma formação inicial que lhes fornecesse os conhecimentos necessários sobre as práticas adequadas, quer pelas carências existentes nas faculdades a nível de infraestruturas, tais como: equipamentos eletrónicos, materiais pedagógicos e, até mesmo, tendo em conta as precárias instalações físicas existentes na maioria das salas de aula. Deste modo, pretende-se refletir sobre o papel das políticas e dos governantes no processo de planeamento, organização, atuação e controlo que impõem a obrigatoriedade de aprendizagens e uso, bem como conhecer alguns constrangimentos que, na opinião dos informadores-chave, dificultam a progressão da LP como LO no país.

O presente estudo pretende compreender a consciencialização dos Timores face à importância da LP como LO – os seus processos políticos, os seus obstáculos e avanços, tanto dos Timores em geral, como em especial, da sociedade académica, tornando-se uma necessidade, visto que é considerada um legado histórico e, de identidade do país cuja existência permite a diferenciação com os países circunvizinhos, a Indonésia onde se fala o “bahasa” e a Austrália cuja língua oficial é a inglesa.

A LP pode ser considerada uma goma que grude e estreite as relações e cooperações nos campos económico, social, político e cultural entre Timor e a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa – CPLP. Para atingir estas finalidades, desde já, a LP está sendo adaptada como LO na CRDTL e nas leis de educação do país.

A imprescindibilidade de estudar o idioma português desde a sua adoção como LO e as colaborações dos países irmãos na CPLP, especialmente Portugal, Brasil e Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – PALOP, exige a formação de formadores e educadores para que possam transmitir esta língua ao seu público-alvo. Apesar dos grandes esforços feitos pela colaboração destes países irmãos no reforço do restabelecimento e reflorestação do idioma, o desenvolvimento da LP torna-se difícil em Timor. Teremos em vista diferentes estudos sobre o caso. Em observações, narrativas e discursos sobre o tema em debate público atual, surge uma inquietação e que despertou

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o interesse em compreender melhor o fenómeno da política de oficialização da LP como ação racional em relação à progressão como LO, identidade cultural e poder simbólico dos Timores como seu objetivo peculiar.

Desde a sua restauração em 20 de maio de 2002, Timor iniciou o seu primeiro passo na adoção da LP como LO, na CRDTL, especialmente no artigo 13.º. Para fortalecer estes esforços, são realizados programas e atividades como cursos intensivos aos Timores, especialmente direcionados a professores de todos os níveis de escolaridade.

Desde então, os alunos das escolas primárias são ensinados em LP como LO. Todos os conteúdos didáticos utilizados pelos alunos e professores são produzidos em português.

Assim, o presente trabalho tem como objetivo central estudar, analisar e compreender “a política de oficialização da LP em Timor”. O estudo dedica-se ao planeamento, organização, atuação e controlo por parte da UNTL e FCS, às atividades relacionadas com a oficialização da LP praticada pela sociedade académica. Outrossim, analisar-se-á o seu progresso a fim de descobrir quais são os fatores inibidores que causam o avanço lento da LP como LO naquela faculdade. O estudo foi feito em colaboração com os dirigentes máximo da UNTL, dirigente máximo da FCS, docentes da LP da FCS, Docentes das Matérias Gerais e estudantes da mesma faculdade. Para abordar este objetivo central, procura-se desdobrá-lo em objetivos específicos que facilitem a sua compreensão, norteando o modo de trabalho da investigação:

1. Estudar, analisar e compreender o planeamento da UNTL no programa de reintrodução da LP na UNTL;

2. Estudar, analisar e compreender como é a organização das atividades de reintrodução da LP executada pela UNTL;

3. Estudar, analisar e compreender as atuações das atividades relacionadas com a reintrodução da LP na UNTL;

4. Estudar, analisar e compreender o controlo feito pela UNTL como instituição responsável pela política de reintrodução e uso da LP nas atividades académicas neste ensino superior estatal;

5. Estudar, analisar e compreender as perceções dos docentes e estudantes para avaliar os obstáculo e avanços da LP na UNTL, especialmente na FCS.

O alcance destes objetivos é efetuado, quer pela construção de um quadro teórico que sustente a reflexão, quer pela parte empírica – narrativas e discursos produzidos

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pelos decisores políticos a nível de universidade e faculdade, docentes e estudantes, relevantes na prática acerca dos temas que envolvem a problemática do estudo – procurando, assim, resposta para seis questões principais subjacentes ao objetivo central do presente estudo:

1. Como é que o plano sobre o projeto da reintrodução da LP é feito pela UNTL e quais são as normas que orientam os projetos de reintrodução da LP?

2. Como é que se organiza e estrutura o projeto de reintrodução da LP na UNTL, especialmente na FCS?

3. Quais são as atividades relacionadas com a reintrodução da LP e como é que essas atividades são implementadas?

4. Como é feito o controlo das atividades relacionadas com a reintrodução do LP na UNTL, especialmente na FCS?

5. Quais são os obstáculos acentuados ao projeto de reintrodução da LP na UNTL, especialmente na FCS?

6. Como é o avanço do projeto de reintrodução da LP na UNTL, especialmente na FCS?

As páginas iniciais da presente tese dizem respeito à capa, declaração de honra, agradecimentos, resumo, abstract, lista de siglas e introdução. As contribuições empíricas e teóricas da nossa investigação encontram-se divididas em cinco capítulos.

No capítulo I – Revisão do Estado de Arte e Fundamentação Teórica, aponto todo o arcabouço teórico utilizado para dar suporte ao trabalho de investigação. A base teórica principal, de caráter sociopolítico-linguística, está subdividida em duas partes:

em primeiro lugar, aponto os conceitos do processo político, explicitando as suas caraterísticas como a teoria política e a sociologia como método de analisar e compreender os fenómenos sociais no campo. Na segunda parte do capítulo, explicito, de forma detalhada, o sistema de implementação da política, inicialmente suas origens, lançando mão de outros estudos sobre política que influenciaram os estudiosos no desenvolvimento deste sistema. Posteriormente, o estudo é concentrado na explicitação do sistema político em si, seus subsistemas com seus tipos e subtipos, utilizando exemplos apresentados pelos pesquisadores da teoria e também do corpo de análise.

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No capítulo II, apresentar-se-á o marco histórico da língua portuguesa – os primeiros contactos dos portugueses e a sua cultura (língua), a língua portuguesa nos tempos da ocupação indonésia e na atualidade dos Timores e, por fim, a perspetiva sociológica da oficialização da LP em Timor.

No capítulo III, intitulado Metodologia de Estudo, apresenta-se o paradigma, o método – os passos de trabalho de investigação e a natureza do estudo, que assume uma abordagem qualitativa. De seguida, explicita-se o plano de investigação, identifica- se os informadores-chave bem como, as técnicas e instrumentos de recolha e análise dos dados. Aborda-se também, neste capítulo, algumas questões de natureza ética da investigação que se deve ter em consideração durante o processo de construção do trabalho em si. Procura-se descrever a metodologia utilizada, a fim de trazer contribuições para futuras pesquisas que investigam e analisam os discursos e narrativas nos mais variados contextos. Para tanto, descreve-se a pesquisa, destacando os informadores-chave, o contexto e os dados. E finaliza-se o capítulo, apresentando informações sobre o percurso de análise, coleta e instrumentos utilizados na análise dos dados.

No capítulo IV, intitulado Apresentação e Discussão de Dados, apresenta-se os processos políticos no nível da UNTL como órgão de tomada de decisões sobre planeamento, organização, atuação e controlo do projeto de reintrodução da LP como idioma oficial e trabalho no ensino da UNTL. Os dados vêm das observações diretas, leituras documentais e entrevistas abertas em que emergiram os discursos dos informadores-chave categorizados de acordo com o tipo de atitude. Logo após, discute- se esses elementos, com reflexões sobre as implicações do uso dos recursos de atitude, a partir da análise de discurso de base sistémico-funcional. Os dados são apresentados e discutidos através da análise de conteúdo das entrevistas, organizadas por categorias, subcategorias e unidades de registo. Em cada ponto, apresenta-se descritivamente, as categorias, subcategorias e as unidades de registo correspondentes, relativamente aos diferentes graus de hierarquia, de modo a sistematizar e simplificar a leitura de todas as informações obtidas.

E no capítulo V – apresenta-se as considerações finais, retomo as questões da investigação e os objetivos do trabalho, para mostrar os caminhos percorridos e apontar

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outros possíveis para um trabalho investigativo que utilize a linguagem, ou melhor, os discursos e as narrativas para desvendar posturas e posicionamentos.

A parte final do nosso trabalho inclui as referências bibliográficas, bem como os anexos que põem termo à tese.

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1. Revisão do Estado de Arte e Fundamentação Teórica

Os dados recolhidos no campo de pesquisa sobre as práticas e habilidades linguísticas em LP por parte dos informadores-chave, configuram uma reflexão sobre como é o progresso da política de oficialização da LP em Timor, especialmente na UNTL como único Ensino Superior Público. Neste capítulo, propõe-se rever as teorias, conceitos e artes sobre política, sociedade, língua e identidade.

No campo político, serão apresentadas as teorias e conceitos sobre o Estado, poder, governo e autoridade que, no final, se justapõem à realidade do campo de estudo, ajudando a compreender melhor se a política de oficialização da LP em Timor vai de acordo com as linhas teóricas e conceitos que explicam este assunto.

Na vertente social, reflete-se sobre o reino tradicional com variadas línguas maternas, bem como a sociedade de Timor antes do contacto com o estrangeiro e sobre a LP e autoestima dos Timores durante a administração colonial portuguesa. Procura-se entender o desenvolvimento desta língua e o sentimento dos Timores face a ela, já que Timor foi, durante 450 anos, uma colónia e província ultramarina de Portugal.

No aspeto cultural e identitário, reveem-se os conceitos de identidade, língua e cultura – construção identitária, LP nos tempos da ocupação e na educação quotidiana.

No que diz respeito ao aspeto mais prático do discurso político, recorrer-se-á aos seguintes autores e respetivas obras: Diogo Freitas do Amaral (2018), “História do Pensamento Político Ocidental”; Tim Phillips (2009), “O Príncipe de Nicolau Maquiavel”

Moisés de Lemos Martins (2009), “Políticas da Língua, da Comunicação e da Cultura no Espaço Lusófono”; António José Fernandes (2010), “Introdução à Ciência Política:

teorias, métodos e temáticas”; António Casimiro Ferreira (2017), “Émile Durkheim: o social, o político e o jurídico”; Max Weber (2018), “Conceitos Sociológicos Fundamentais”; Pedro Correia e Rodrigues Gonçalves (2017), “Política de A a Z” e Allan G. Johnson (1997), “Dicionário de Sociologia: Guia prática da linguagem sociológica”.

Quanto aos conceitos língua, cultura e identidade, empregar-se-ão os pressupostos teóricos de Chianca (2010), Calame-Griaule (1984), Calvet (2002), Hall (2005), Hobsbawn (1998), Legendre (1993), Neves (2005), além da Constituição da República de Timor-Leste, nomeadamente as leis relacionadas com o estudo. Acredita-

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se na relevância dos presentes estudos, podemos entender adequadamente as noções de política da oficialização da LP como um legado identitário cultural e política de Timor.

1.1. Política, Estado, Poder, Governo e Autoridade

Quanto ao campo político, descrever-se-á o conceito de política como arte de aquisição do poder para administrar, negociar e realizar os interesses públicos ou “bem comum”, luta de classes para a dominação dos meios de produção, Karl Marx (1964);

qualquer elevação de participação no poder, Max Weber (1947); e a ação de conciliação dos interesses de todos Durkheim (1933). No que diz respeito ao Estado, procuramos descrevê-lo como uma entidade que detém poder soberano e governa o povo. O nosso principal objetivo será descrever os seus elementos constitutivos e o seu carácter de

“monopólio do uso legítimo da força”, tal como é referido por Weber (1947).

Relativamente ao poder, examinaremos a habilidade do governo de organizar, dirigir, controlar, financiar e impor ordens à sociedade. No que diz respeito ao governo, debater-se-á a forma como uma autoridade da instância máxima de administração executiva e da unidade política dirige, organiza e trabalha a favor da sociedade.

Na autoridade, refletir-se-á sobre a faculdade legítima do poder e competência do governo segundo as normas e as leis, de forma a concretizar os objetivos do Estado.

1.1.1. A Teoria e os Pressupostos Políticos

Para Timor, que nasceu como país no século XXI e onde o mundo fica mais

“estreito”, a política de oficialização da LP é muito importante. Por conseguinte, o governo deve desempenhar eficientemente o seu papel, funções e tarefas no sentido de realizar com precisão esta política que primeiramente deve ser implementada na sociedade académica. Os administradores e funcionários devem ser pioneiros na prática desta política linguística para que esta por sua vez se desenvolva gradualmente e amplamente no país. Uma outra hipótese é de esta política linguística abranger primeiro os mais novos, a partir do pré-escolar e ser acompanhada, no que diz respeito à alfabetização, pelo ensino bilingue, a saber: primeiro a língua materna dos aprendentes e depois em língua portuguesa.

Após a restauração da independência em 2002, Timor entrou numa nova situação linguística dilemática que exigia uma política de adequação das condições e

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resolução de problemas, sobretudo no que dizia respeito ao planeamento, organização, atuação e controlo do emprego do português. A política deveria equacionar técnicas acertadas de reflexão, perspetivação, planeamento e execução de projetos e programas relacionados com a progressão da LP, antecipando-se ao maior interesse dos Timores face a outras línguas.

As novas situações requerem maior atenção por parte dos políticos que devem tentar encontrar as melhores soluções e formas de antecipar todos os problemas que ocorram contra a oficialização da LP no país. A política deve adotar novas formas de pensar e idealizar soluções capazes de converter as dificuldades em oportunidades.

Para implementar a política de reintrodução da LP em Timor, o governo deve ser determinado e confiante no sucesso da LP como LO do país. Neste caso, Timor deve aprender com outros países em termos de adoção de línguas oficiais, especialmente os PALOP que fizeram da LP língua oficial7. De facto, estes países trabalharam arduamente na realização deste projeto linguístico e, portanto, vale a pena lembrar as afirmações de INNERARITY (2005:27), “o possível é algo mais que o meramente possível, é um quadro de ação”.

Neste enfoque, as possibilidades convidam os políticos a observar a realidade de várias formas e a procurar soluções alternativas. Tal como realça VIEIRA (2017:27), “as políticas, além de boas ou más, também podem ser efetivas”. Esta abordagem exige que se compreenda que o terreno da política é o quotidiano institucional, que a decisão surge da probabilidade e que a sua habilidade é conviver com o inusitado e com a deceção. Nas palavras de VIEIRA (2017:27), politizar é “situar as coisas no âmbito da discussão pública, arrebatá-las aos técnicos, aos profetas e aos fanáticos, para se convencer ou se ser convencido”.

A política deve ser interpretada como um conjunto de decisões e atividades vivas executadas pelos órgãos executores. Tal como salienta VIEIRA (2017:75), “as ações é que dão validade às ideias e julgam sobre a sua utilidade”. Fazer política consiste, assim, em planificar, organizar, implementar, controlar, financiar, avaliar, dialogar, argumentar, apostar, programar, calcular, ordenar, entre outras atividades.

7 Temos consciência, no entanto, que cada país tem as suas especificidades e que as questões linguísticas dependem dos contextos.

As soluções a adotar em cada caso nunca são as mesmas.

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A vida humana e a atividade política são indissociáveis visto que, naturalmente, os seres humanos não podem atender às suas próprias necessidades, dependendo totalmente da existência dos outros. Por conseguinte, a política relaciona-se estreitamente com o debate e tem sido discutida desde a antiguidade clássica até aos nossos tempos. O debate mais registado sobre a política teve lugar em Atenas antes dos tempos de Sócrates, Platão e Aristóteles.

Foi um nobre ateniense que governou Atenas durante 15 anos, Péricles, que transmitiu os seus pressupostos sobre a democracia como uma atuação política. No discurso de homenagem aos mortos na guerra do Peloponeso, 431 a. C., Péricles elogiou a constituição ateniense como uma constituição democrática, sustentando que “o Estado entre nós, é administrado no interesse do povo, e não de uma minoria”, Péricles apud AMARAL (2018:29). Para que a democracia se manifesta eficientemente na sociedade, Péricles apresenta três regras que guiam a democracia: a liberdade, a igualdade e o debate parlamentar.

A ideia de Péricles leva-nos a entender que o individuo é um ser político, ou zoon politicon nas palavras de Aristóteles. De forma a envolver-se nas ações políticas numa sociedade, o indivíduo deve ser tolerante e perseverante como ser político perante os outros indivíduos da sociedade, deve igualmente aceitar as diferenças, ideias e atos dos outros no sentido de fortificar a construção de uma sociedade política sólida rumo à conquista do bem-estar comum.

A política deve cria as normas vigentes que guiam a execução dos projetos políticos, AMARAL (2018), ressalta, a política deve ser guiada pela lei, para que haja harmonia, elegância, equilíbrio e boa convivência na sociedade. Neste aspeto, Péricles apud AMARAL (2018:39) deixou o legado de igualdade perante a lei e disse, “a lei é igual para todos” e AMARAL (2018), salienta, a lei deve ser aplicada de igual modo para todos os indivíduos integrantes numa sociedade e deve igualmente ser uma regra que padronize as redes de relações e ações políticas. A política deve atuar como elemento estruturante e garantir proporcionalmente a ação de zoon politicon em todos os campos de atuação: justiça, política, economia, cultura, entre outros. A lei não deve distinguir as ações dos seres políticos quanto à sua origem, cor da pele, estatuto social, classe social, capital económico e cultural.

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Segundo AMARAL (2018:29), na política, deve existir “debate aberto e plural entre opiniões diferentes”, e destaca que uma política democrática exige debates abertos a opiniões distintas, bem como a princípios e ideais de pessoas interessadas direta ou indiretamente nos assuntos públicos. Cabe salientar que o zoon politicon deve estar disponível para enfrentar desafios e obstáculos resultantes da vida em comunidade. Eis a frase aconselhadora de Péricles apud AMARAL (2018:29), “para nós a palavra não prejudica a ação; o que é prejudicial é não se colher informação pela palavra, antes de se avançar para a ação”.

Conforme o aconselhamento de Péricles apud AMRAL (2018), os indivíduos políticos devem possuir um sentimento de patriotismo, amando a sua pátria com se fosse melhor do que as demais, o que Péricles apud AMARAL (2018:30) afirma, “na nossa constituição política nada tem a invejar as leis dos nossos vizinhos; longe de imitar os outros, nós somos o exemplo a seguir”.

Segundo AMARAL (2018) política guia o individuo a amar a pátria e defendê-la nos momentos certos. Ao ser questionado sobre o porquê de um indivíduo político se sacrificar na defesa da sua pátria, Péricles apud AMARAL (2018:30) responde que, “é por ela ser livre, democrática, aberta e com grande qualidade de vida, que os seus cidadãos aceitam com orgulho de morrer em combate para a proteger”. Pela defesa da cidade, todos os cidadãos descendentes do país devem aceitar o sofrimento, tal como Péricles apud AMARAL (2018:30) assevera:

(…) Escolheram a salvação na derrota do inimigo e na própria morte, e não na fuga covarde. (…) Pelo acaso de um instante, foi no ponto mais alto da sua glória – e não de medo – que eles nos deixaram. Foi assim que eles se revelaram dignos filhos da cidade.

Por conseguinte, compreende-se o aspeto fundamental ao qual Péricles dedicou o seu discurso na cerimónia fúnebre dos tombados na defesa de Atenas, fez notar que, se há guerreiros mortos em defesa da pátria, é porque esta o merece e é digna do sacrifício supremo dos seus cidadãos. Assim, Péricles apud AMARAL (2018), enobreceu os feitos dos soldados mortos referindo-se aos verdadeiros motivos do prestígio, da força e da felicidade de Atenas. “Esses motivos eram as instituições políticas e os costumes de Atenas, e foi em defesa deles que os soldados atenienses morreram nobremente nas batalhas”, AMARAL (2018:30). Este exemplo de nobre patriotismo ilustra a atual defesa da nossa identidade política, social e cultural perante outras

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nações, identidades e culturas. O Estado/governo, deve convencer o seu povo, especialmente a juventude do seu país, a lutar pelo prestígio, fama, honra e dignidade.

A política do Xenofonte centrou-se na educação, preconizando uma sociedade ideal de modelo espartano. Segundo Xenofonte apud AMARAL (2018:36), “forte disciplina, severa obediência e grande frugalidade e toda está a cargo do Estado, através de bons administradores e funcionários”. Para Xenofonte apud AMARAL (2018), a intervenção do Estado deveria tocar até nos assuntos da vida privada, proibição de luxo, encerramento de fronteiras e afastamento de estrangeiros por receio de que os cidadãos fossem influenciados pelos vícios destes. Segundo Xenofonte apud AMARAL (2018:37), “a única tarefa a que todos se devem dedicar é assegurar a independência e a governação do Estado”.

Platão (1993) realça que a política é um processo de formação, distribuição e execução do poder. No exercício do poder, apenas os cidadãos de alto grau de conhecimento eleitos, mais especificamente, os filósofos, podem participar. O filósofo enfatiza que o exercício do poder realizado por outrem constitui um grave erro, pois o controlo da política com todas as artes deve ser levado a cabo por aqueles que possuem capacidade para tal. Platão (1993) salienta, ainda, que os indivíduos que podem exercer o poder político são aqueles que detêm capacidade intelectual (filósofos) e que estão preparados para gerir as cidades de forma eficaz para o benefício de todos. Segundo ele, se para a gestão da cidade forem selecionados indivíduos incapazes que cometam erros, a injustiça reproduzir-se-á na cidade. Assim, para atingir adequadamente os objetivos políticos, segundo Platão (1993), é necessário promover filósofos que detenham capacidades para corrigir as injustiças que surjam na cidade e para que a justiça possa ser alcançada.

Para Platão (1993), a política contém um conjunto de valores correlacionados com os valores da sociedade, tais como a realização do bem e da justiça da própria sociedade.

Por conseguinte, defende a conceção elitista da cidade composta por homens justos e virtuosos, ou seja, o governo deve ser dirigido pelos melhores e sob a forma de uma ordem social altamente hierarquizada. De acordo com Platão (1993), um homem justo é um homem virtuoso. Por sua vez, a virtude é o domínio racional sobre o desejo e a cólera. Neste sentido, Platão elabora um projeto de sociedade ideal que valoriza as qualidades morais dos cidadãos, luta contra as divisões e conduz, na sua visão, a uma

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justiça plena entre os homens. O discípulo de Sócrates que viveu nos anos 365 a. C., refletiu sobre a política e revelou que esta deve relacionar-se com a constante procura da justiça na república. Para Platão apud AMARAL (2018:45), a justiça permanece na sociedade no seu todo, assim assevera:

A justiça não consiste, portanto, num valor situado no plano das relações individuais, mas antes num valor que deve orientar a organização da sociedade como um todo.

E deve consistir, sobretudo, na igualdade, mesmo que para isso seja necessário sacrificar a liberdade.

Para Platão apud AMARAL (2018), todos têm direito e devem ser tratados da mesma maneira, com igualdade, por um Estado que seja uno. Platão apud AMARAL (2018:44), criticava os governantes que não dedicavam as suas atenções ao bem comum da polis: “tornar-se-ão administradores dos seus bens ou lavradores, e de aliados dos restantes cidadãos transformar-se-ão em déspotas e inimigos deles; precipitar-se-ão, eles e a Cidade, à beira da ruína”. Em seguida, Platão apud AMARAL (2018:44), disse:

No exercício do poder, quem é rico dedica mais tempo à boa administração do seu património do que à boa governação da Cidade; quem é pobre, ou é sério e continua sem nada, ou é desonesto e, mais do que dedicar-se à realização do bem comum, tratará de enriquecer enquanto é tempo, e sem dar nas vistas.

Para que a política seja apropriadamente executada na polis, Platão define classes sociais e respetivas vocações, designando a Cidade Ideal como alma de cada pessoa em três partes como “um homem em ponto grande” da seguinte forma:

Uma é a classe dos magistrados (governantes), que corresponde à parte racional da alma individual; deve atuar segundo a sabedoria, e governar a Cidade; Outra é a classe de guardas (militares), que corresponde à parte irascível da alma de cada um;

deve atuar segundo a coragem, e garantir a segurança da Cidade; A terceira é a classe dos lavradores e artífices (pequenos proprietários, comerciantes e trabalhadores livres), que corresponde à parte sensual da alma individual; deve atuar segundo o desejo, e assegurar o sustento material da Cidade, Platão apud AMARAL (2018:28)

A política platónica descreve a melhor forma de governar e demonstra que a classe de guardas entre os 30 e 50 anos deve receber bons treinos por parte do Estado, nos quais aprenderão filosofia. Os melhores entre os cidadãos treinados serão escolhidos para magistrados e entre estes magistrados será eleito o mais capaz para ser rei e governar da melhor forma a polis. O governo consiste numa monarquia filosófica regida por um Rei-Filósofo que utiliza o seu poder absoluto para o bem de todos, tendo em conta as luzes da filosofia. Neste rumo, segundo Platão apud AMARAL (2018:46):

Enquanto os filósofos não forem reis, ou os reis não forem filósofos – ou seja, enquanto o poder político e a filosofia não se reencontrarem no mesmo individuo, (…) não haverá tréguas para os males da Cidade, nem para o género humano.

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Platão condenou a escolha da democracia como a melhor forma de governo, pois segundo o filósofo, apud AMARAL (2018:46), “na democracia, as massas do povo não são capazes de possuir a verdade, razão e sabedoria para determinar uma decisão”.

Platão também desaprova a oligarquia na qual os civis governam em plutocracia ou o governo militar em timocracia. Contudo, estas tipologias governamentais apenas respondem aos de alguns indivíduos. Para Platão, qualquer forma de governo adotada pela sociedade para alcançar o seu avanço, deve ter em vista a obediência dos seus súbditos. A obediência é o princípio geral e não pode ser colocada de parte na vida dura de Cidade. Neste caso, segundo Platão apud AMARAL (2018:47):

Nenhum homem ou mulher deve jamais ser deixado sem um chefe. Nem há-de a mente de ninguém habituá-lo a fazer o que quiser por sua própria iniciativa. (…) Toda liberdade sem controlo deve ser absolutamente eliminada da vida dos homens.

Para Aristóteles apud AMRAL (2018), o homem naturalmente é um zoon politicon.

Este conceito compreende três aspetos sobre a predeterminação do homem para viver em sociedade: 1) o homem é feito para viver em sociedade; 2) quem o faz assim é a natureza; 3) podemos deduzir que se deve ao facto de que cada homem é incapaz de se bastar a si próprio em situação de isolamento e, por isso, todos os homens têm uma tendência natural para se associarem numa cidade, a polis da comunidade política.

Aristóteles apud AMARAL (2018:53) afirma ainda que na cidade, os homens devem obter cooperação uns dos outros, i.e., trocando bens e serviços que lhes permitam subsistir. Desta forma, a vida em sociedade torna-se viável, fazendo de cada homem um bom cidadão. A existência de leis e a sua boa aplicação torna-se essencial, já que a maior parte das pessoas obedecem mais à necessidade do que aos argumentos e mais às punições do que ao que é tido como nobre. Aristóteles apud AMARAL (2018), salienta ainda que, no Estado encontra-se um sentido ético e é através das leis que os indivíduos se tornam bons. Por conseguinte, o objetivo do Estado deve ser proporcionar aos seus cidadãos a denominada eudaimonia – ou seja, uma vida equilibrada em que cada um possui uma quantidade moderada de bens materiais e saúde. Para Aristóteles apud AMARAL (2018), um governo guiado por leis é a única forma de conceber um governo livre do arbítrio de qualquer cidadão. Nas palavras do filósofo apud AMARAL (2018:57), “a lei é a razão sem apetite, no entanto, o poder pessoal é o domínio das paixões incontroláveis que pode permitir o apetite puro e sem lei que o limite”.

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