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4. Apresentação e Discussão de Dados

4.1. Política de Oficialização da Língua Portuguesa

4.1.2. Organização da LP na UNTL/FCS

A organização é compreendida como um agrupamento de pessoas no qual existe cooperação, estrutura e sistemas de divisões das tarefas com determinados fins. Trata-se de um espaço e estrutura para que as pessoas Trata-se reúnam e cooperem de maneira racional, sistemática, planeada, guiada e controlada face à utilização de recursos:

dinheiro, materiais, máquinas, métodos, meio-ambiente, entre outros, que são utilizados de forma eficiente e eficaz para atingir metas predefinidas. George R. Terry (2013), salienta que a organização é um processo que permite projetar uma estrutura formal para agrupar, organizar e dividir tarefas entre os membros da organização com o fim de alcançar eficientemente objetivos. Existem vários aspetos importantes a ser

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considerados no processo organizacional, a saber: organograma formal; divisão do trabalho; departamentalização; cadeia de comando e/ou unidade de comando; níveis da hierarquia de gestão; canais de comunicação e gama de gestão e grupos informais inevitáveis.

Outra definição pertinente a ser colocada prende-se com a organização que corresponde ao processo de compilar uma estrutura organizacional, de acordo com os objetivos predeterminados, seus recursos e o ambiente que acerca. A departamentalização e a divisão do trabalho são aspetos fundamentais na organização.

A departamentalização é o agrupamento das atividades e pessoais numa divisão para poder realizar adequadamente os processos e atividades da organização. Os indivíduos alocados no departamento, devem ter conhecimentos e perícias adequados relacionados com as tarefas destinadas ao departamento. Isso se refletirá na estrutura formal de uma organização e visível através do gráfico de um organograma. Quanto à divisão do trabalho, esta é a ramificação de tarefas por cada individuo, e é responsável pela realização de um conjunto de atividades. Estes aspetos formam a base fluída do processo de organização necessária para atingir os objetivos preestabelecidos de forma eficaz e eficiente.

No racionalismo científico das organizações, Taylor apud DULUC (2005:26), designa o envolvimento de todo o pessoal nas tarefas distribuídas. Segundo o autor, “a organização é baseada na divisão vertical do trabalho e assenta na distribuição científica dos operários e das tarefas”. Henri Fayol (1925) teoriza a direção e a organização das empresas e propõe uma definição simples nos aspetos de planificar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Neste aspeto, é pertinente pesquisar e estudar a organização feita pelos decisores políticos da UNTL no que diz respeito os projetos relacionados com o esforço de reintrodução da LP naquela universidade estatal.

Max Weber é uma personagem influente na vontade de racionalização organizacional e dedica-se a definir a administração burocrática ideal. Estreitamente hierarquizada e extrai a sua eficácia de regras impessoais, transparentes, aplicáveis a todos, para permitir que se tomem as decisões racionais. A abordagem racional de Weber (1998), transforma a organização no lugar de trocas racionalizadas entre indivíduos. A organização deve definir regras, métodos e estruturas para permitir uma eficácia máxima de alcançar os objetivos.

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Elton Mayo (1949) conduz experiências nas oficinas destinadas a determinar as motivações reais de trabalhadoras, a fim de modificar as suas condições de trabalho, com o objetivo de melhorar a produtividade. A equipa evidenciou que a atenção prestada às relações humanas permite o aumento da produtividade. As relações desenvolvidas entre as operárias criam uma dinâmica de grupo que desempenha um papel no aumento da produtividade. Os trabalhos orientam-se para a procura da adequação entre os objetivos organizacionais e os dos homens. Os objetivos e as motivações pessoais vão ocupar um lugar preponderante.

Kurt Lewin (1940) realiza trabalhos sobre os grupos restritos e sobre as formas de poder no seio da liderança. Os resultados dessas investigações convergem e põem em evidência a vantagem da cooperação sobre a divisão do trabalho. A partir dessa época, em 1938, desenvolve-se a reflexão sobre a liderança e sobre as formas de comando.

Ronald Lipitt e Ralph White trabalham com Kurt Lewin e põem em evidência os primeiros estilos de gestão. As teorias psicanalíticas também alimentam a reflexão, nomeadamente com Eliot Jaques, Eugène Enriquez e Max Pagès, demonstram que a corrente das relações humanas mostra que o bem-estar dos indivíduos desempenha um papel no êxito e na eficácia das equipas e da organização. Desenvolve-se então uma certa conceção humanista da organização.

Segundo James A. F. Stoner (1985), a organização é um padrão de relacionamento através do qual as pessoas sob a direção de superiores buscam um objetivo comum”.

James D. Mooney e Allan C. Reilley (1949), identifica a organização como uma forma de união humana para alcançar objetivos comuns. Na ideia de Catheryn Secklher-Hudson (1945), a organização é um sistema de atividade de cooperação realizado por duas ou mais pessoas. Mais adiante, Stephen P. ROBBINS (2005) apresenta uma definição, afirmando que a organização é uma entidade social conscientemente coordenada, com um limite relativamente identificável e que opera numa base relativamente contínua na busca dos objetivos comuns.

Com base nas definições apresentadas, a organização pode ser formada por influência de vários aspetos como visões, missões, projetos, processos, atividades e objetivos a serem alcançados. As boas organizações são aquelas que dispõem de reconhecimentos por parte da comunidade envolvente. Os indivíduos numa organização devem manter conexões continuadamente. Essa conexão não significa uma

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associação vitalícia. Porém, as organizações enfrentam mudanças constantes nos seus membros e mesmo quando se tornam membros, os indivíduos da organização participam de forma relativamente regular.

Na reintrodução e oficialização da LP em Timor, o governo deve organizar métodos adequados a serem posteriormente utilizados no desenvolvimento deste idioma. O Governo deve reforçar o relacionamento institucional com o Ensino Superior – UNTL, faculdades, departamentos e núcleos de estudos nos departamentos.

A nível ministerial, devem ser estabelecidas unidades de gestão de projetos de pequeno e médio porte que se ocupem da organização, direção, funcionários, coordenação, relatório, monitoramento e financiamento na função da política da LP. As unidades devem ter os seus estatutos e normas próprias que sirvam para regularizar o seu funcionamento. Na pesquisa, encontra-se a inexistência da organização destas unidades, assim enfatizam os entrevistados:

Não existem unidades especializadas no MESCC para desempenhar tarefas específicas na promoção da LP no Ensino Superior. O MESCC disponibiliza oportunidades às universidades para organizar as suas atividades letivas, incluindo o estabelecimento de unidades responsáveis dos cursos e lecionações da LP.

Para organizar as atividades relacionados com o ensino da LP, existe uma unidade na UNTL denominada INL que desempenhe um importante papel, visto que a sua função passa por pesquisar até que ponto a LP é utilizada pela sociedade académica, assim como instruir os docentes e estudantes mediante cursos intensivos de LP e produzir materiais didáticos relacionados com a língua de Camões. De facto, nas observações, o INL ainda não é capaz de desenvolver as suas funções adequadamente, nem produz materiais didáticos suficientes em português. Para além disso, não realiza cursos de curto ou médio prazo direcionados a docentes e estudantes e, por fim, não coloca ou recruta docentes que dispõem de habilidades de português para lecionarem nas salas de aulas.

O governo, através da UNTL, deve organizar a formação dos professores, oferecendo continuadamente cursos de LP, para que estes obtenham competências linguísticas favoráveis e, posteriormente, transmitam essas habilidades aos estudantes nas salas de aula. Apostar em fundos suficientes, recrutar docentes com bases em LP, fornecer materiais didáticos em maior quantidade e criar centros de cursos da LP em toda faculdade são fatores e medidas determinantes nos esforços de reintrodução,

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oficialização, preservação e prática do português. Os entrevistados consideram importante que:

O governo, especialmente o Ministério do Ensino Superior Ciência e Cultura, deve implementar a LBE 2008. Devem, portanto, recrutar professores que sabem português para serem incluídos no ensino-aprendizagem. Essa é uma estratégia para aprender e desenvolver o português em Timor Leste.

Os resultados de organizações apreciadas, eficientes e competentes ocorrem quando docentes permaneçam bem formados e possuidores de um domínio adequado em português que instruem e formem bons estudantes. É possível encontrar formações de qualidade no Departamento de Formação de Professores em LP nos quais os estudantes de segundo ano, possuem suficientes habilidades na prática da LP. Os estudantes praticam português regularmente, tanto na sala de aula como nos seus relacionamentos interpessoais nos arredores da faculdade. Os estudantes expressam:

Aprendamos português com docentes que possuem mais competências do idioma, e cujo processo de ensino-aprendizagem recorra a materiais didáticos em português e nos quais sejamos recomendados e encorajados a praticar rigorosamente o português, dentro e fora da sala de aula.

Fazemos uma observação comparativa fora destes departamentos da UNTL, observamos o avanço da LP numa escola privada como o Externato de São José. Nesta escola, os estudantes falam bem português já no terceiro ano de escolaridade, tal como é descrito pelos entrevistados da seguinte forma:

Esta é uma das escolas exemplares neste país, que aplica o português nas atividades escolares. Os alunos demonstram na sociedade as suas habilidades em português.

Esta escola obriga os seus professores a falarem português diante dos seus alunos, sendo esta uma forma de desenvolvimento do português. Deveriam impor-se regras aos alunos e professores para falarem obrigatoriamente português no recinto escolar. Se todas as escolas aplicassem as regras do Externato de São José, o português seria melhor na sua presença e progressão em Timor seria uma maravilha.

Valeria a pena fazer um estudo de caso sobre estas escolas de sucesso no que diz respeito ao ensino da LP, para as suas práticas poderem ser replicadas noutras escolas, assim multiplicando o sucesso quanto à aprendizagem da LP em Timor.

Realçamos, assim, a opinião de HORTON e HUN (1984:89), que afirma que a

“organização é um sistema de atividade de cooperação realizada por duas ou mais pessoas”. Esta teoria está ausente no processo de reintrodução e oficialização da LP em Timor, pois, não há cumprimento de requisitos do sistema de atividades. Existe desconexão entre a UNTL, faculdades, departamentos e os seus próprios docentes. A nível da UNTL, não há nenhum departamento especializado que trate do

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desenvolvimento de atividades com foco no português, além do Departamento da Língua Portuguesa.

Na UNTL, existe uma instituição chamada Instituto Nacional Linguístico (INL), à qual foi atribuída a tarefa de executar o desenvolvimento da LP. Porém, este instituto não funciona adequadamente, dado que, muito raramente realiza atividades concretas, como cursos e formações relacionados com a progressão do português nas faculdades subordinadas da UNTL. As condições preciosas para o aprimoramento do idioma continuam a ser escassas na FCS e, desta forma, pioraram nos níveis de Departamentos.

Além da INL que deveria ocupar-se do assunto da progressão da LP na UNTL, existe também um órgão sob a tutela da Reitoria denominado Pró-Reitor Assunto Garantia de Qualidade Interna. Na entrevista, o Pró-Reitor ressalva a seguinte questão:

Antes de falar sobre a questão da organização de atividades relacionadas com a língua portuguesa – os cursos ou talvez os ensinos-aprendizagens, a lecionação na UNTL tratados pelo Gabinete de Pró-reitor para Assunto Garantia Qualidade Interna, portanto, ainda não está estabelecido alguma política para poder avaliar as capacidades dos docentes e estudantes na utilização da língua portuguesa nas atividades letivas. Estamos a esforçar-nos para estabelecer este Gabinete e tentamos saber como podemos trabalhar em conjunto com as faculdades e Departamentos existentes na UNTL. Além da questão sobre a implementação da língua portuguesa, também nos ocupamos de outras atividades académicas.

Nos discursos dos entrevistados verificamos que estes consideram que a existência da INL como divisão formal estruturada da UNTL deve desempenhar papéis necessários para o alcance do progresso da LP. Pois, este instituto é um subsistema relacionado com o progresso linguístico, em particular, da LP e outras línguas nacionais como o caso do tétum. Este subsistema deve apresentar uma sequência de atividades e elementos que podem ser concretos, organizados logicamente, de forma intelectualizada para garantir um processo de funcionamento e a fim de atingir uma finalidade.

Entende-se que a INL é uma instituição subordinada da UNTL e é através dessa instituição que todas as línguas, principalmente o português, devem ser organizadas e desenvolvidas. Este instituto deve ter a capacidade de realizar atividades relacionadas com a progressão do português. Na realidade, o que deveria ser esperado dessa instituição não aconteceu dado que não foram concretizados esforços suficientes no desenvolvimento da LP na UNTL em particular.

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A carência de atividades realizadas pela instituição pode ser vista tanto na falta de recrutamento de docentes habilitados em português, como na realização de cursos, seminários, palestras e debates relacionados com a promoção da LP. JOHNSON (1997:172) cita as obras de Durkheim, Malinowski e Parsons, colocando em foco a perspetiva funcionalista em que se considera a organização como, “sistemas sociais de um todo, a forma como funcionam, como mudam e as consequências sociais que produzem”. De facto, não existe uniformidade de trabalho e visão para que seja possível introduzir adequadamente a LP naquela sociedade académica.

Caso se espere que o INL seja um subsistema do sistema UNTL como um todo, este deve realizar atividades significativas no desenvolvimento de recursos humanos dos Timores, deve ter objetivos, deveres e responsabilidades claros e deve estipular regras claras e vinculativas para todos os que trabalham nessa instituição, pois, como afirma JOHNSON (1997:172), “a organização é dirigida com normas definidas de forma clara e rigidamente impostas”.

A burocracia é o tipo mais complexo e altamente desenvolvido de organização formal. Da forma como foi desenvolvido por Max Weber (1998), o conceito refere-se a uma organização na qual o poder é distribuído numa hierarquia rígida, com nítidas linhas de autoridade. A divisão do trabalho é complexa, o que implica que as pessoas se encarreguem de tarefas minuciosamente especializadas e trabalhem sob regras e expectativas definidas de forma clara e, no geral, escritas.

Devem ser mantidos registos por escrito e gerentes especializados na supervisão do sistema. O cumprimento dos objetivos da organização tem precedência sobre o bem-estar dos indivíduos, e a racionalidade impessoal é valorizada como base para a tomada de decisões à luz desses objetivos. WEBER (1947), acreditava que o modelo burocrático se disseminaria principalmente porque é a maneira mais eficiente de lidar com tarefas complexas e coordenar divisões de trabalho complicadas.

Embora isso seja verdade até certo ponto, alguns sociólogos posteriores argumentam que a natureza da burocracia se torna insuficiente, se não mesmo contraproducente, numa grande variedade de formas. A mesma rigidez que lhe dá sentido de previsibilidade e estabilidade, por exemplo, torna também difícil enfrentar situações imprevisíveis e radicalmente novas. E estimula também empregados a seguir

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cegamente as regras, mesmo quando isso possa prejudicar os objetivos da organização.

Assim, Weber apud JOHNSON (1997:172), realça:

A burocracia é talvez uma das inovações sociais mais importantes surgidas nos últimos séculos, já que uma faixa crescente de atividades sociais assume uma organização burocrática. O crescimento da burocracia resultou em concentrações extremas de poder a níveis sempre maiores de organização social, talvez mais bem exemplificados nos Estados modernos e nas empresas transnacionais.

Concentrando-se o poder nas burocracias, elas convertem-se em grandes núcleos de controlo social, opressão e conflito. Nas organizações formais, indivíduos muitas vezes participam em redes de relações informais, nas quais as expetativas não são tão rigidamente definidas ou focalizadas em objetivos específicos. Amizades de escritório (e animosidades), por exemplo, com frequência desempenham uma parte importante no desempenho de papéis mais formais.

Como órgão subordinado, o INL deve ter legalidade ou protocolo de trabalho como tocha para fim de organizar políticas voltadas ao desenvolvimento da LP com norma e regulamentos fortes. Pode organizar cursos, divulgações de informações e campanhas de promoção do português para todas as faculdades, departamentos, docentes e estudantes. Somente assim, o português poderá desenvolver-se e tornar-se, de facto, o idioma oficial do país, conforme indicado por um entrevistado:

Para que o português se desenvolva bem em Timor Leste, todas as instituições relacionadas com o desenvolvimento linguístico devem ser mobilizadas. Na UNTL, o INL deve trabalhar árdua e constantemente na organização de todos os componentes da comunidade académica; a partir das faculdades, departamentos, docentes e estudantes devem poder aceder a cursos gratuitos, constantes e de longa duração para o desenvolvimento deste idioma.

Algumas atividades feitas pela UNTL passam por possibilitar que os docentes realizem cursos académicos de mestrado e doutoramento nos países da CPLP, especialmente em Portugal e no Brasil, para que adquiram mais conhecimentos, não apenas na área das ciências, mas também no que diz respeito às competências linguísticas. Desta forma, quando retornam, podem ensinar e espalhar o português em todos os cursos disponíveis na universidade. Neste caso, um entrevistado afirma que esperava que o português tivesse entrado como idioma obrigatório de instrução nas aulas em todos os departamentos da UNTL:

O que eu penso desde 2012 é que a política da UNTL face a todas as faculdades deveria ter implementado e promovido o ensino-aprendizagem em português, porque desde 2012, os nossos graduados do ensino médio não têm mais conhecimento em indonésio, apenas em português.

Em relação à organização do curso, os entrevistados declararam que o curso da LP para UNTL se encontra interrompido desde 2015. A principal razão é a falta de recursos

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financeiros alocados pelo Governo nesta área. “Não temos mais acesso ao curso de português. Informaram-nos que isso se deve à falta de fundos”. As demais informações indicam que, para progredir a LP em Timor, a UNTL-INL conta apenas com parceiros da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do Brasil e do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, de Portugal ou “universidades cooperantes” destes dois países que trabalham sustentadamente com o Centro de Língua Portuguesa. Portanto, já há bastante tempo que o curso de verão de dois meses para facilitar os conhecimentos de LP aos docentes se encontra parado.

Atualmente, a UNTL possui um Centro de Treinamento Avançado que coopera permanentemente com os seus parceiros, especialmente com o Instituto Camões, na resolução de questões relacionadas com a LP. Em conjunto com os professores das Universidades Cooperantes, este centro organiza cursos uma a duas vezes por semana a fim de formar os docentes Timores. Contudo, o Centro de Treinamento Avançado ainda não funciona eficiente e eficazmente devido à sua natureza recém-criada.

Segundo as informações dadas pelos informadores, nos últimos anos, o Centro de Estudo da LP da UNTL, Pró-reitor do Assunto de Qualidade Interno e o Instituto Camões coordenam os cursos direcionados a docentes e pessoais administrativos no ambiente da UNTL. O objetivo deste curso tem como foco o desenvolvimento das capacidades linguísticas destes participantes ao atenderem os estudantes. Os entrevistados realçaram que, “o curso não estava a funcionar normalmente devido à falta de fundos de apoio e por falta da motivação dos participantes.”

Os entrevistados disseram ainda que os cursos da LP não apresentaram progressos significativos, pois, os participantes não se demonstravam motivados a participar nos mesmos. Entre muitos motivos apresentados pelos participantes pode-se salientar o seguinte testemunho de um do informador: “eu tenho aula, para outros tenham outras razões para escapar-se dos cursos de português”. Assim, as oportunidades foram desperdiçadas. “Perdemos vários cursos e oportunidades; não conseguimos resolver e ultrapassar as nossas dificuldades face à LP”, salientaram outros informadores. Não obstante, a UNTL espera que os docentes estejam mais motivados e continuem a aprender, pois, com o tempo os aprendizados ganharão ritmo e saberes da LP, assim, segundo entrevistados.

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Nós facilitamos isso nos anos anteriores. Foram os professores cooperantes que deram as formações. Eu sei que na Faculdade de Direito, a maioria dos docentes que ensinam são professores cooperantes de Portugal. Estes professores ensinam todas as unidades curriculares académicas em português.

Quando comparamos estes tempos com os tempos da colonização, pode-se verificar que o português se desenvolveu de forma qualitativamente rápida, visto que o seu desenvolvimento foi fortemente apoiado por um sistema de organização apropriado, ao contrário do que aconteceu nestes últimos vinte anos após a independência. Este facto é confirmado por um entrevistado ao assinalar que: “o português desenvolveu-se rapidamente porque todos estudantes naquela altura eram obrigados a utilizar o idioma em todas as ocasiões oficiais, o que não acontece recentemente”. A expressão é muito bem entendida, e o apoio deste testemunho coincide com os dados de campo reunidos, dado que em todas as faculdades e departamentos, os docentes não empregam a LP como língua de instrução ou dos materiais didáticos. Essa realidade também é suportada pela prática constante de conversas em tétum pelos docentes e estudantes nos arredores das faculdades.

A progressão limitada da LP nos tempos coloniais mostrou-se ainda mais desorganizada nos momentos da ocupação indonésia com a política educativa de forçar expansivamente a língua indonésia em Timor. Para além disso, em todas atividades da sociedade era empregada a língua indonésia e todas as atividades didáticas foram introduzidas em bahasa. A política de obrigatoriedade do uso da língua indonésia resultou em enormes dificuldades no uso do português e que a maioria dos docentes atuais enfrentam.

Em pesquisas adicionais, na Faculdade das Ciências Sociais, o desenvolvimento do português pode ser visto a partir da produção de obras académicas, especialmente em monografias redigidas por estudantes. Os dados mostram que os estudantes, em geral, preferem escrever e preparar as suas monografias em tétum com referências bibliográficas de escritores indonésios. Quando perguntado o motivo pelo qual esses estudantes utilizam referências indonésias, a resposta foi que a língua indonésia é fácil de apreender e as obras literárias são facilmente encontradas nas livrarias da cidade.

Deste modo, a questão colocada é: por que razão os estudantes que foram educados nas escolas de Timor onde desde o início de escolaridade utilizaram a LP podem manusear facilmente a língua indonésia? A questão pode levar-nos a considerar