RELATÓRIO
FINAL
Junho de 2016
Estágio Profissionalizante
Mestrado Integrado em Medicina | 6º ano Madalena Meira Nisa
Nº 2010289
Nova Medical School | Faculdade de Ciências Médicas Universidade Nova de Lisboa
Índice
Introdução...2
Descrição das Atividades Curriculares...3
Estágio de Cirurgia Geral...3
Estágio de Medicina Interna...5
Estágio de Saúde Mental...6
Estágio de Medicina Geral e Familiar...6
Estágio de Pediatria...7
Estágio de Ginecologia e Obstetrícia...8
Reflexão Crítica Final...9
Anexos...10
“Choose a job you love, and you will never have to work a day in your life” By Anonymous
Introdução
O plano curricular do Mestrado Integrado em Medicina da Nova Medical School | Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa inclui, no 6º ano, após cinco anos subdivididos em três ciclos (básico, pré-clínico e clínico), um estágio profissionalizante (EP) subdividido em seis estágios parcelares em especialidades médicas e/ou cirúrgicas.
De acordo com o documento “O Licenciado Médico em Portugal”1, a educação médica tem como finalidade “ajudar o estudante médico a adquirir uma base de conhecimentos sólida e coerente, associada a um adequado conjunto de valores, atitudes e aptidões que lhe permita tornar-se um médico fortemente empenhado nas bases científicas (...) nos princípios éticos, (...) e no aperfeiçoamento (...) das suas próprias capacidades de modo a promover a saúde e o bem-estar das comunidades que servem”1. Este é um objetivo geral transversal a todas as Unidades Curriculares do 6º ano, proporcionando, aos alunos, o desenvolvimento de competências de carácter prático, que contribuam para o exercício autónomo da medicina. Assim se realiza a preparação da transição para o que será a prática médica - o decidir em vez de apenas questionar, o participar em vez de assistir, o discutir em vez de aceitar como verdade absoluta. Deste modo, incide, essencialmente, no aperfeiçoamento do raciocínio clínico como parte da discussão diagnóstica, pedido de exames complementares, elaboração de proposta terapêutica, referenciação, contribuindo, em suma, para a consolidação dos conhecimentos teóricos adquiridos ao longo dos anos anteriores. Como último objetivo geral, e não menos relevante, o estágio deve constituir uma oportunidade para a compreensão da importância de “uma abordagem bio-psicosocial abrangente na avaliação e tratamento dos doentes, que leve em consideração as suas crenças culturais, atitudes e comportamentos”1, bem como para o desenvolvimento das capacidades de comunicação verbais e não-verbais, junto de colegas, doentes, famílias e cuidadores.
O presente relatório tem o intuito de descrever e analisar as atividades realizadas ao longo do EP. Assim, serão mencionados, inicialmente, os objetivos pessoais específicos propostos para os estágios parcelares e o modo como experienciei o contacto com os diversos elementos das
especialidades. Segue-se um exercício sumário de reflexão crítica, onde se discutirá o cumprimento ou não dos objetivos propostos e de que forma o EP contribuiu para a minha preparação da prática clínica autónoma, patenteando o culminar de um ciclo de aprendizagem, formação, dedicação e trabalho, e ainda o balanço da preparação para o Internato Médico do Ano Comum. Por fim, os anexos, que se referem a alguns elementos valorativos extra plano curricular.
Descrição das Atividades Curriculares
Nesta descrição inclui-se o EP, que engloba, por ordem cronológica, os seguintes estágios parcelares rotativos: Cirurgia Geral, Medicina Interna, Saúde Mental, Medicina Geral e Familiar, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia. Como objetivos específicos e pessoais definidos para o 6º ano e transversais a todos estes estágios, destaco: melhoria da capacidade de colheita de história clínica e realização de exame objetivo completo, com os respetivos registos clínicos no sistema informático e interpretação; aprendizagem e aperfeiçoamento de competências em alguns procedimentos técnicos (médicos, cirúrgicos, ginecológicos e obstétricos); familiarização com o funcionamento do trabalho no Serviço de Urgência dos vários centros hospitalares; integração nas equipas clínicas que constituem os serviços de saúde; preenchimento de algumas lacunas na minha formação clínica, que sinto que possam existir, por ter realizado, em anos anteriores, Unidades Curriculares pelo programa ERASMUS, tendo os estágios sido insuficientes.
Estágio de Cirurgia Geral | Local: Hospital Beatriz Ângelo | Tutor: Dr. João Sousa Ramos
O estágio prático de Cirurgia Geral teve a duração de 8 semanas (14 de Setembro a 6 de Novembro de 2015), tendo como principal objetivo proporcionar o contacto e a aprendizagem com a prática clínica cirúrgica em meio hospitalar, visando a consolidação dos conhecimentos adquiridos em unidades curriculares anteriores, bem como a aquisição e desenvolvimento de novos conhecimentos e competências. Seguindo a ordem cronológica, o estágio teve a seguinte divisão: aulas teórico-práticas (1 semana); estágio de Cirurgia Geral propriamente dito (4 semanas); serviço de urgência (1 semana); estágio opcional que, no meu caso concreto, foi na Unidade de Cuidados Intensivos (2 semanas).
Focando-me no estágio de Cirurgia Geral propriamente dito, este teve a sua prática centrada em cinco componentes: bloco operatório, pequena cirurgia, serviço de urgência, enfermaria e consulta externa. No bloco operatório, participei como segunda ajudante em diversas cirurgias, sobretudo do foro colorrectal, como hemicolectomias, mas, também, hernioplastias e colecistectomias. Assim, tive oportunidade de aprofundar os meus conhecimentos em relação aos métodos de desinfeção e às técnicas cirúrgicas. No serviço de urgência, contactei com patologias cirúrgicas agudas frequentes, apreendendo os seus sinais de alarme e a melhor abordagem a adoptar em cada situação. Assisti, também, a intervenções cirúrgicas efetuadas em contexto de urgência, como apendicectomia. Na consulta externa de Cirurgia Geral, assisti a consultas de pré e pós-operatório, participei na marcha diagnóstica, realizando o exame objetivo direcionado (palpação abdominal e toque rectal) e participei na discussão terapêutica. Na sala de pensos contígua, presenciei a avaliação pós-operatória de doentes, a cujas cirurgias tinha assistido, o que possibilitou, em alguns casos, o seguimento dos mesmos, desde o momento em que se dirigiram ao serviço de urgência, passando pelo bloco operatório e enfermaria, até à consulta pós-operatória, com resolução completa do quadro clínico inicial.
Relativamente ao estágio na Unidade de Cuidados Intensivos, escolhi esta opcional pela impossibilidade de, previamente, ter tido esta oportunidade durante a minha formação clínica. O estágio foi extremamente completo do ponto de vista teórico e permitiu-me adquirir conhecimentos, nomeadamente, na área da ventilação mecânica. No entanto, pelo seu carácter observacional, não pude participar ativamente nas tarefas diárias.
Por fim, no âmbito do Mini-Congresso de Cirurgia, apresentei o Caso Clínico “Supor é bom –
Descobrir é melhor”, um caso clínico desafiante, que culminou com o diagnóstico de Tumor
Miofibroblástico Inflamatório.
Estágio de Medicina Interna | Local: Hospital São Francisco Xavier | Tutor: Drª Ana Lourenço
O estágio prático de Medicina Interna teve a duração de 8 semanas (9 de Novembro de 2015 a 15 de Janeiro de 2016), foi constituído por um componente de internamento diário na Unidade de A.V.C.
e um componente semanal de Serviço de Urgência, que visou a aplicação de conhecimentos, gestos e atitudes, adquiridos ao longo do curso, na realização de tarefas inerentes a uma equipa clínica, com progressiva autonomia e responsabilidade.
Assim sendo, sob a orientação e colaboração da minha equipa, realizei, de forma autónoma, trabalho assistencial diário a uma média de 2-3 doentes internados. O acompanhamento diário dos referidos doentes consistiu na colheita de história clínica, exame objetivo, particularmente, o exame neurológico completo, verificação dos parâmetros vitais, registo no diário clínico, realização de várias notas de entrada e de alta, pedido, interpretação e registo de exames complementares de diagnóstico, consulta do diário de enfermagem e, ainda, prescrição terapêutica hospitalar, sob consulta da equipa médica. Além disso, tive a oportunidade de executar gestos práticos, como punções venosas e arteriais periféricas. Os doentes internados eram, na sua grande maioria, provenientes do Serviço de Urgência do HSFX e da Via Verde AVC (extra ou intra-hospitalar), tendo tido a seguinte distribuição casuística: 80% AVC isquémico, 9% AVC hemorrágico, 11% Acidente Isquémico Transitório.
Neste estágio, estive ainda presente, semanalmente, no Serviço de Urgência, onde tive contato com patologias agudas frequentes, nomeadamente, infeção respiratória, cólica renal e gastroenterite aguda. Nesta valência tive uma participação muito ativa na abordagem diagnóstica, o que implica o conhecimento dos sinais e sintomas sugestivos das diferentes patologias e o reconhecimento de sinais de alarme que direcionem para uma atuação mais célere.
Por fim, expus um caso clínico da Revista New England Journal of Medicine: “Kiss of Death”, acerca de uma infeção viral por Herpes Simplex Vírus 2, que culminou com uma hepatite fulminante.
Estágio de Saúde Mental
Local: Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca | Tutor: Drª Patrícia Gonçalves
O estágio prático de Saúde Mental teve a duração de 4 semanas (25 de Janeiro a 19 de Fevereiro de 2016), apresentando os seguintes objetivos gerais: promover o desenvolvimento dos conhecimentos e das capacidades de diagnóstico e intervenção clínica em Psiquiatria, através do
acompanhamento tutelado de doentes com patologia psiquiátrica e proporcionar uma experiência de trabalho integrado de equipa e colaboração multidisciplinar. Este estágio iniciou-se com uma introdução e Seminários Teórico-Práticos, a cargo do Professor Doutor Miguel Xavier. Seguidamente, integrei a Equipa Comunitária de Queluz. Durante o período supracitado, participei em diversas atividades, o que incluiu, maioritariamente, a presença e participação nas Consultas de Psiquiatria da Equipa Comunitária de Queluz, nas quais, o grupo de patologias mais frequentemente observado foram as perturbações de humor. Para além disso, também estive presente no Serviço de Urgências, Sessões de Serviço e Reuniões, dessa mesma equipa, no espaço físico do HFF, semanalmente. Realizei, ainda, uma vinheta clínica de um dos doentes que observei, com o diagnóstico de perturbação de pânico.
Por fim, tive a oportunidade de contribuir para um projeto de investigação, que consistiu na pesquisa e seleção de artigos, com o tema “Readiness for Change”.
Estágio de Medicina Geral e Familiar
Local: USF São Domingos de Gusmão | Tutor: Drª Ana Cristina Duarte/Drª Conceição Machado
O estágio prático de Medicina Geral e Familiar teve a duração de 4 semanas (22 de Fevereiro a 18 de Março de 2016), tendo como objetivos gerais fundamentais promover a abordagem sistémica centrada na pessoa, segundo uma abordagem holística, tendo em conta as inter-relações somáticas, psicológicas, sociais e familiares, bem como a familiarização com os padrões de queixas/sintomas e a forma como os problemas de saúde se apresentam. Pretende-se, ainda, proporcionar o treino de aptidões de diagnóstico e tratamento adequadas ao exercício de MGF. Neste período, tive a oportunidade de assistir às diferentes valências da consulta de MGF: saúde materna, planeamento familiar, saúde infantil, consulta de diabetes, consulta do adulto programada e consulta aberta. Além disso, pude ainda participar em visitas domiciliárias. O estágio permitiu-me desenvolver as capacidades no funcionamento com o método de registo clínico SOAP; tomar contacto com os vários níveis de prevenção; treinar competências práticas, como a colocação de implantes intradérmicos, a realização de citologias e o exame objetivo orientado para as queixas. Por fim, realizei o Diário de Exercício
Orientado, que considero ter sido um bom treino de análise de situação e de apresentação de caso clínico.
Estágio de Pediatria | Local: Hospital Dona Estefânia| Tutor: Drª Rita Machado
O estágio prático de Pediatria teve a duração de 4 semanas (28 de Março a 22 de Abril de 2016), tendo como principal objetivo a compreensão desta especialidade, como medicina integral de um grupo etário, desde a concepção até à adolescência. Confesso que as minhas expetativas relativamente a este estágio eram particularmente elevadas, não só porque a especialidade me fascina, mas também porque o contacto com a idade pediátrica, até ao momento, tinha sido muito reduzido. Dividiu-se, globalmente, em três componentes: internamento, consultas (Imunoalergologia e consulta do viajante) e serviço de urgência. Durante este período, tive contacto com as patologias mais frequentes de cada grupo etário pediátrico, com destaque para a gastroenterite e as infeções respiratórias. Ao nível das consultas, tive um papel unicamente assistencial, devido ao elevado número de alunos por consulta. No entanto, no internamento e no serviço de urgência, tive a oportunidade de colher a anamnese e fazer o exame objetivo orientado para as queixas, a inúmeras crianças. Destaco, como gestos, o treino da auscultação cardíaca e pulmonar e a realização de otoscopia. Por fim, elaborei uma história clínica acerca de uma criança internada, com má progressão ponderal, e realizei o trabalho “Uma revisão da
BCG”.
Estágio de Ginecologia e Obstetrícia
Local: Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca | Tutor: Drª Irina Ramilo/Drª Ana Paula Santos O estágio prático de Ginecologia e Obstetrícia teve a duração de 4 semanas (26 de Abril a 20 de Maio de 2016), tendo como objetivo fundamental proporcionar a aquisição de competências da especialidade, indispensáveis à boa prática médica, sendo este objetivo conseguido através da integração na prática clínica hospitalar de forma tutelada, num contexto de maior responsabilização individual. O estágio constou de três componentes: Ginecologia, Obstetrícia e serviço de urgência.
atividades: consultas ginecológicas (sendo o motivo mais frequente de consulta a hemorragia uterina anómala em mulheres menopausicas), nas quais realizei, sob supervisão, exame objetivo ginecológico, nomeadamente, palpação uterina bimanual, exame com espéculo e colheita de exsudado vaginal; realização de histeroscopias, nas quais prestei auxílio durante o procedimento; bloco operatório (onde assisti a cirurgias ginecológicas, maioritariamente, histerectomias e miomectomias, mas nas quais não pude participar).
Durante o período de Obstetrícia (2 semanas), assisti a consultas do 1º, 2º e 3º trimestre de Alto Risco. Além disso, participei ativamente na realização de ecografias obstétricas e de amniocenteses, situações que nunca tinha experienciado antes.
Quanto ao serviço de urgência (1 vez/semana), integrei as atividades médicas nas admissões, bloco de partos – onde assisti a inúmeros partos eutócicos e a um parto distócico com ajuda de fórceps e ventosa – e no bloco operatório – onde assisti a várias cesarianas. As patologias mais frequentemente observadas, em contexto de urgência, foram hemorragia do 1º trimestre, doença inflamatória pélvica e gravidez ectópica, sendo que eu tive a oportunidade de fazer colheita de diversas anamneses e realizar gestos, como o toque vaginal.
Por fim, realizei um trabalho no âmbito da Ginecologia “Hiperplasia Endometrial”.
Reflexão Crítica Final
O estágio profissionalizante representa a fase final do percurso académico pré-graduado da carreira médica. Face a esta realidade, após ter exposto e refletido acerca de todos os objetivos, expetativas e atividades desenvolvidas, durante as várias etapas, considero que o EP reflete, claramente, a minha realização pessoal, não somente no que diz respeito ao alcance das minhas expetativas e objetivos delineados inicialmente, mas também, na preparação para a etapa que se segue: o Internato Médico do Ano Comum. Durante todos estes estágios, tive contacto com as patologias mais frequentes, nos diferentes grupos etários da minha sociedade, desenvolvi capacidades de identificação dos seus sintomas característicos, bem como da abordagem metódica dirigida aos
mesmos, de modo a formular hipóteses diagnósticas e propostas terapêuticas concretas e adequadas. Para além disso, a progressiva autonomia que me foi atribuída, destacando a Medicina Interna como estágio preponderante para o desenvolvimento desta capacidade, levou a uma melhoria da minha habilidade de comunicação e de transmissão de informação, de um modo perceptível, aos colegas, doentes e familiares. Como aspeto positivo, e não fazendo parte dos objetivos ou expetativas, tenho a salientar que a oportunidade de, ao longo deste ano, ter estagiado em instituições de saúde de carácter público e outras público-privadas, me permitiu conhecer o funcionamento tão diferente destes dois tipos de instituições.
Como aspeto menos positivo deste estágio profissionalizante, é de referir que, por vezes, surgiram contrariedades alheias a alunos e tutores, como a existência de internos de especialidade no mesmo período de estágio e alunos de outras faculdades de medicina, aumentando o ratio tutor/tutorando esperado, o que pode ter dificultado o treino de alguns procedimentos práticos específicos, principalmente, no que diz respeito ao bloco operatório.
Para finalizar, finda a minha educação médica pré-graduada, concluo que adquiri uma “base de conhecimentos sólida e coerente”1, assente num “conjunto de valores, atitudes e aptidões”1, que vão
constituir o meu pilar para a abordagem holística e integrada do doente, visando, como médica, tratar o ser humano como unidade integradora de um contexto social e familiar. No entanto, na reta final desta etapa, e após este exercício de reflexão, termino com uma grande certeza: no meu futuro, ainda terei um leque infinito de conhecimentos médicos para explorar e aprender, bem como valores humanos para desenvolver, sempre com o objetivo de basear a minha prática clínica no doente e não na doença.
Anexos
Anexo III - Certificado comprovativo de membro da Direção da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas (AEFCM) do mandato 2014/2015 com o cargo de Presidente do Hospital da Bonecada:
Anexo IV - Certificado de participação na 5ª Reunião da Imunoalergologia com o tema “Os desafios da
Doença Alérgica na Prática Clínica”:
