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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 2813/06-2

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 2813/06-2

Relator: SILVA RATO Sessão: 15 Fevereiro 2007 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO CÍVEL Decisão: CONFIRMADA A SENTENÇA

DIVÓRCIO LITIGIOSO CASA DE FAMÍLIA

Sumário

Será de atribuir a casa que foi morada de família ao ex-cônjuge que sofrendo de doença necessita de estar perto de Instituições de Saúde (onde se localiza a casa), cuida de dois netos menores durante o dia, sendo semelhante o

rendimento de cada um dos ex-cônjuges e ainda foi o outro cônjuge que foi declarado exclusivo culpado pelo divórcio.

Texto Integral

PROCESSO Nº 2813/06

ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

I. Por apenso aos autos de divórcio litigioso 699/03.6. do Tribunal de Família e Menores de …, veio “A” requerer contra “B” a atribuição da casa de morada da família, dada de arrendamento por “C” e “D”.

Foi realizada a tentativa de conciliação a que alude o nº 2 do art.° 1413°, do C.

P. Civil.

O Réu foi notificado para contestar a presente acção e deduziu oposição.

Efectuado o julgamento, foi proferida sentença, em que se decidiu:

"Atribuir à requerente o direito de utilização da casa de morada de família, sita na Rua …, n.º 53°, 1° andar, em …, arrendada, transferindo-se para a Autora “A” a posição de arrendatária.

Notifique a senhoria."

Inconformado, veio o Demandado interpor, a fls. 147, o presente recurso de

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apelação, cujas alegações de fls. 155 a 162, terminou com a formulação das seguintes conclusões:

"1. A decisão do Tribunal a quo não tomou em devida conta as consequências da atribuição da casa de morada de família, transferindo-se a posição de arrendatária para a Autora, ora Recorrida, “A”.

2. Para o Recorrente não existiu uma correcta aplicação da lei ao caso concreto, vertida na douta decisão do Tribunal a quo.

3. Em sede de matéria probatória, o Tribunal a quo, de forma clara e

inequívoca, ao indeferir a prova por inspecção judicial privou-se a si próprio da possibilidade de tomar conhecimento directo, in situ, das condições físicas da casa de morada de família e, em consequência, de poder avaliar de forma isenta a adequação das mesmas a toda a problemática de saúde alegada pela Apelada.

4. Por outro lado, o Tribunal a quo ao considerar como depoimentos lógicos e credíveis, os depoimentos prestados pelas filhas do casal, irmão e sobrinho, os quais afirmaram que se encontravam de relações cortadas com o Apelante, valorou os mesmos, de modo tal, que viabilizou que se mostrassem provados os factos que a Apelada pretendia.

5. Se por um lado se pode considerar que ambos, Apelante e Apelada necessitam da casa de morada de família para habitarem, porquanto não possuem de outros imóveis que possam habitar, por outro lado não é despiciendo e deve ser valorada a situação de enquadramento familiar de ambos.

6. As filhas do Apelante encontram-se de relações cortadas com este, ao que acresce que o facto de terem prestado um depoimento tendencioso a favor da Apelada, inviabilizou qualquer possibilidade de reconciliação entre o

progenitor e as filhas.

7. Deste facto decorre que o Apelante, na realidade, se encontra abandonado pela família que fundou e criou.

8. O Apelante é septuagenário (facto assente n.º 21 da Fundamentação de facto), mas, apesar do seu estado geral de saúde acusar o desgaste dos anos, rege sem qualquer limitação a sua pessoa, sem carecer de auxílio para tal.

9. Outrossim, a Apelada tem uma boa relação com as filhas, sendo que presta e recebe auxílio destas.

10. No que concerne ao interesse das filhas do casal, da prova produzida nos autos, resulta claro que nenhuma delas necessita do Apelante e da Apelada:

são maiores de idade, têm ocupações profissionais regulares e não residem com os progenitores.

11. Em relação ao apoio prestado a uma das filhas do casal, “E”, a partir de casa de morada de família, esse apoio só pode ser encarado numa perspectiva

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meramente transitória, na medida em que a Apelada padece de graves problemas de saúde e que os jovens netos (na actualidade alunos do Ensino Secundário e do 2° Ciclo do Ensino Básico), mercê do natural decurso do

tempo, vão sendo são dotados de uma progressiva autonomia/responsabilidade para as respectivas deslocações, possuem apoio nos refeitórios dos

respectivos estabelecimentos de ensino e todo um conjunto de actividades extracurriculares, as quais permitem a permanência dos mesmos nas escolas que frequentam.

12. Assim sendo, não deve o apoio prestado à neta ser considerado como elemento favorável ao reivindicado pela Autora.

13. Deve ainda ser equacionada a relação entre os rendimentos efectivamente percebidos pela Apelada e as despesas que resultaram provadas (factos

assentes nºs. 7, 9 a 13 da Fundamentação de facto).

14. A Apelada tem uma reforma com o montante mensal de € 216,79.

15. As despesas efectivamente apuradas, se considerar o pagamento da renda in totum, são as seguintes: renda no montante de € 96,50, gasto mensal com medicamentos no valor de € 80,00, despesas da água e electricidade na importância € 34,00, as quais computam um total de € 210,50.

16. Desde logo, da relação receita/despesa resulta, apenas, um saldo de € 6,29.

17. Não estão naturalmente considerados neste cômputo, os gastos com consultas médicas, consumo de gás, alimentação, vestuário, calçado e o natural direito ao lazer, as despesas com a neta, entre outras.

18. Do que decorre que a Apelada não possui condições económicas para suportar a casa que reivindica para si própria.

19. No caso vertente, é de discordar com a douta Sentença, de acordo com a qual "quer o estado de saúde quer a situação económica da Autora apontam para a atribuição à requerente do direito ao arrendamento da casa de morada de familia".

20. "A atribuição da casa de morda de família não se traduz em ordenar-se a saída de um dos cônjuges para ali residir o outro, antes em atribuir a casa àquele dos cônjuges que mais carecido dela se mostrar ( ... )" in Acórdão da Relação de Évora (António Pereira) de 1994.02.24, Colectânea de

Jurisprudência (A.A.P.T.M.) de 1994, I, pág. 286.

21. De acordo com o Acórdão da Relação de Coimbra (Manuel), de 1982.07.06, Colectânea de Jurisprudência, 1982, 4°, página 39 "Para atribuição da casa de morada de família, sendo iguais as necessidades dos cônjuges, há sobretudo que ter em conta o poder económico de cada um deles e o interesse dos filhos menores.", no caso em apreço não inexistem filhos menores e o Apelante tem, por si, só capacidade de suportar a renda e as despesas inerentes à

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manutenção da casa.

22. Na senda da jurisprudência dominante a atribuição da casa de família deve ser feita tendo em conta as necessidades de cada um.

23. Assim, de acordo com o Acórdão da Relação de Évora, (Manuel Pereira), de 1994.02.24, Boletim do Minsitério da Justiça, 434, pág. 712 "A atribuição da casa da morada de família por efeito do divórcio não se pode limitar a uma singela substituição de morador. A finalidade da lei vai muito além disso: trata- se de atribuir àquele dos cônjuges que mais carecido dela se mostrar o direito de ficar a resistir na casa, o que obviamente pressupõe a imposição do

decidido não só ao ex-cônjuge sacrificado como ao dono do imóvel."

24. O Apelante não pode contar com o apoio de nenhuma das filhas, apesar destas terem casa própria.

25. Ao invés, a Apelada mercê dos seus problemas de saúde associados à respectiva capacidade económica e bom relacionamento com as filhas, sempre poderá optar por viver com uma delas (na medida em que resulta da prova produzida que apoia os netos) ou, em alternativa, procurar uma instituição/lar onde permaneça sem ter as preocupações de manutenção, arranjo, limpeza e despesas com uma habitação que representa um substancial peso quer

económico quer físico.

26. Perante os problemas de saúde que a Apelada apresenta e o seu quadro clínico, por certo ficaria melhor instalada num lar, sítio no qual apenas terá de se preocupar coma sua pessoa, gozando de toda a liberdade para visitar as filhas e os netos, bem assim apoiá-los, quando for essa a sua vontade.

27. Do atrás exposto, resulta claro que o Apelante discorda da douta decisão proferida pelo douto Tribunal de 1ª Instância, porquanto deverá ser revogada a decisão proferida pelo Tribunal a qua, com as legais consequências, sendo esta substituída por outra que conclua pela atribuição do direito de utilização da casa da morada de família, sita na Rua …, n.o 53, 1º andar, em …, a qual é arrendada, ao Apelante, mantendo-se o arrendamento na titularidade do ora Recorrente, “B”, como é de Justiça!"

A Apelada não deduziu contra-alegações. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

***

II. Em 1ª instância, foi dada como provada a seguinte matéria factual : 1. Autora e Réu contraíram casamento católico no dia 26 de Março de 1967, sem convenção antenupcial.

2. Por sentença que transitou em julgado proferida nos autos principais, foi decretado o divórcio entre a Demandante e Demandado, tendo este sido considerado o cônjuge exclusivamente culpado.

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3. A Autora e Réu habitam numa casa arrendada sita na Rua …, n° 53, 1°

andar, em … o gozo e fruição deste imóvel foram cedidos verbalmente ao Réu por “F”.

4. A referida cedência destinou-se à habitação do casal e dos seus filhos.

5. O imóvel identificado em 3. pertence, actualmente, a “C” e “D”, herdeiros do mencionado “F”.

6. O arrendamento efectuou-se em 01-09-1974, data do primeiro recibo.

7. A Autora e o Réu, nesta data, pagam uma renda mensal de 96,50 €.

8. Até ao presente momento, tanto a “A” como o “B” continuam a habitar a referida casa.

9. A Autora é reformada por invalidez e aufere mensalmente a quantia de 216,79 €.

10. A Autora, para além da sua reforma, não tem quaisquer outros rendimentos.

11. A Autora por mês, gasta em medicamentos o valor de 80,00 €.

12. Autora e Réu compartilham na proporção de metade cada um as despesas da água, electricidade no valor médio mensal de 34 Euros e renda da casa no valor de 48,25 €.

13. No que concerne aos consumos de gás cada um deles suporta as suas próprias despesas.

14. O Réu é reformado auferindo duas pensões de reforma: 1. Uma paga pelo Estado Português, no montante de € 271,40; 2. Uma paga pelo Estado

Francês, no montante de €48,65.

15. A Autora é uma pessoa doente com cardiopatia desde a infância.

16. A Demandante, no ano de 1996, foi submetida a uma cirurgia cardíaca.

17. A Demandante, em Março de 2002, foi submetida em conjunto a uma mastectomia (ablação total do peito esquerdo) e a uma lobistectomia clássica, o que lhe confere uma incapacidade permanente global de 80%.

18. O médico assistente da Autora, Dr …, emitiu uma declaração com o seguinte teor: "Para os devidos efeitos se declara que a Senhora “A” tem vários problemas de saúde que precisa de um controlo periódico, pelo que precisa da sua residência em … para poder deslocar-se ao Hospital Distrital de

… e ao C.S.F. para as consultas, exames e tratamentos dada a patologia que a Senhora tem psicologicamente estado muito em baixo e considero oportuno que a Senhora ficasse na sua casa; para não agravar mais a situação pela qual está a passar ao nível de doenças;"

19. A A. foi examinada no HDF tendo sido elaborado um documento onde consta: "que acusou ( ... ) aspectos compatíveis com a doença de Paget".

20. O Réu inscreveu-se no Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de … em 12.01.2001 tendo cancelado a inscrição em 06.04.2005.

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21.A Autora nasceu em 27.11.1937 e o Réu em 10.12.1934.

22. Réu tem ainda despesas com a sua alimentação, vestuário, calçado e lazer.

23. Os problemas de saúde da Autora implicam controlo médico constante.

24. No decorrer do ano de 2005, o estado de saúde da “A” agravou-se.

25. O Réu toma as suas refeições e pernoita na casa referida em 3.

26. “B” ocupa as suas tardes a jogar às cartas, a conversar e a divertir-se com os seus amigos, nas arcadas do edifício do Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia de …

27. À data da propositura da acção a Autora cuidava dos seus netos, o … e a … que passavam as tardes de Segunda a Sexta-Feira até pelo menos às 18 horas, na casa referida em 3.

28. À data da propositura da acção era a A. que na maior parte dos dias úteis preparava e servia o almoço ao seu neto …, na casa referida em 3.

29. À data da propositura da acção era a A. que ia buscar a neta … à escola e a levava para a casa referida em 3.

30. E na casa da Autora que a neta faz os trabalhos da escola, brinca e vê televisão.

31. O Réu contacta ocasionalmente com os netos.

32. A Autora cuida e limpa as zonas da casa que utiliza incluindo aquelas que partilha com o Réu.

33. A Autora, para além da casa que partilha com o Réu, não tem qualquer outro local para residir.

34. A Autora, tem o auxílio ocasional das filhas “E” e … e irmãos.

35. O Réu tem despesas médicas e medicamentosas sofrendo de problemas auditivos.

36. A Autora cuida da neta durante o dia, após as aulas da mesma.

37. O Réu lava a louça que utiliza e limpa o seu fogão.

38. O Réu não possui quaisquer bens imóveis onde possa habitar nem possui bens móveis.

39. O Réu ausentou-se para o estrangeiro em 1968, onde trabalhou.

40. Após contraírem casamento A. e R. viveram os primeiros sete anos de casamento em …, em casa própria.

41. Essa casa foi construída pelo Réu com as suas economias de emigrante, entre 1961 a 1971, pois o Réu já era emigrante antes de se casar.

42. Após sete anos de casamento, o Réu e o seu agregado familiar (esposa e filhos) vieram habitar a casa objecto de arrendamento e do presente litígio.

43 . Arrendamento foi feito pelo “F” ao Réu.

44. À data da propositura da acção o neto … frequentava o 9° ano de escolaridade na Escola … e a Carolina o 4° ano na EB 1 de …

45. A referida casa é composta por várias divisões, cuja utilização foi definida

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por ambos.

46. Para se aceder à casa é necessário subir 21 degraus contados desde a porta da entrada.

47. 0 acesso à varanda faz-se subindo mais 16 degraus e o acesso ao quintal e garagem é feito por uma escada com 15 degraus.

48. Com as economias construiu uma casa para a família em …, sita na Rua …, a qual foi vendida em 1974, pelo casal, ao Sr. …, residente no …, da mesma freguesia, por meio de escritura pública no Cartório Notarial de …, pela

quantia de 170.000$00 (847,96 euros), dinheiro esse recebido em 6 meses por transferência, feitas do …, nas datas acordadas, para o …

49. Com o dinheiro obtido com a venda da casa o Réu comprou uma viatura automóvel.

50. Com o exercício da sua profissão o réu suportou parte dos estudos das filhas (que iniciaram os estudos no Ensino Primário).

51. 0 arrendado possui uma garagem, local onde o Réu guarda todas as

ferramentas, acessórios bancadas e material relacionado com a sua profissão de canalizador.

52. A Autora ampara os netos durante a semana por a filha “E” não ter possibilidades económicas para colocar o … e a … em A.T.L.'s.

53.A filha do casal “E” vive em …

54. O Réu, desde 26-03-1967 e até por volta de 1978, assumiu integralmente a subsistência da esposa e dos 4 filhos até à obtenção por parte da A. do

primeiro emprego que até essa data foi doméstica.

55. Mesmo dentro da sua casa, as filhas não lhe dirigem palavra, não lhe telefonam, não se interessam pela sua saúde, não o felicitam nem pelo Natal, Ano Novo, ou qualquer outra data festiva.

56. Os netos vão a casa dos avós maternos, mais a … que o …, por este ter outra horário e permanecem aí, até que a mãe os vá buscar.

57. O Réu deu, pelo Natal, uma importância em dinheiro a cada um dos netos.

***

III. Nos termos dos artºs 684°, n.º 3, e 690°, n.º 1, do C.P.Civil o objecto do recurso acha-se delimitado pelas conclusões do recorrente, sem prejuízo do disposto na última parte do n.º 2 do art.° 660º do mesmo Código.

A questão principal a decidir resume-se, pois, a saber a quem deve ser atribuída a casa de morada de família.

Antes de entrarmos propriamente na questão fulcral deste recurso importa tecer algumas considerações sobre alguns aspectos processuais que o Apelante refere nas suas alegações, embora deles não retire qualquer pretensão.

Uma primeira reporta-se à não realização da requerida inspecção ao local (à

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residência), que a Sr.a Juíza "a quo" entendeu não ser necessária, no tardio despacho de fls. 123, em face da prova produzida.

Não aduz o Apelante quaisquer fundamentos concretos, nomeadamente factos que tenham sido alegados, para cuja prova seria necessária tal inspecção, nem formula qualquer pretensão em face da não realização dessa inspecção,

limitando-se a dizer que "ao indeferir a prova por inspecção judicial privou-se a si próprio da possibilidade de tomar conhecimento directo, in situ, das condições físicas da casa de morada de família e, em consequência, de poder avaliar de forma isenta a adequação das mesmas a toda a problemática de saúde alegada pela Apelada" .

Ora estando provados os factos que o ora Apelante alegou em 3.3.3, 3.3.4 e 3.3.5 da oposição (vide pontos 45, 46 e 47) e não tendo sido alegados outros sobre esta matéria, não se vislumbra da necessidade da inspecção ao local.

Uma segunda questão reporta-se ao facto da Sr.a Juíza "a quo" ter dado como provada matéria de facto com base no depoimento de familiares das partes que estão de relações cortadas com o Apelante.

Sendo legal o depoimento de testemunhas que estejam de relações cortadas com uma das partes, e não tendo o Apelante impugnado a matéria de facto, nomeadamente a que foi dada como provada com base nesses depoimentos, temos que considerar que as considerações formuladas pelo Apelante sobre esta matéria, não passam disso mesmo, meras considerações.

E os recursos destinam-se a formular pretensões e não meros desabafos.

Apreciemos então o objecto fulcral deste recurso, que se atém a saber a quem deve ser atribuída a casa de morada de família.

Elenca o art.° 84° do RAU, um conjunto de factores a atender, entre outros, para decidir da atribuição da casa de morada de família.

No que respeita à situação patrimonial de cada um dos cônjuges, ambos vivem de parcas reformas (vide pontos 9 e 14), pelo que qualquer que seja a decisão a proferir, ou melhor, qualquer que seja o cônjuge a que seja atribuída a casa de morada de família, o outro fica em situação precária.

No mais, tratando-se de casa arrendada por € 96,50/mês, qualquer dos cônjuges terá capacidade de pagar tal renda, embora com dificuldades.

Passando ao interesse na ocupação da casa, pesem embora as dificuldades que se colocam à Apelada, tendo em conta a sua saúde, em face dos diversos

degraus de acesso à casa e à varanda da mesma, a sua situação clínica aconselha que se mantenha em …

Por outro lado, é nessa Casa que a Apelada dá apoio a dois dos seus netos, os quais aí permanecem parte do dia, durante o tempo de aulas.

E se é certo que o Apelante está de relações cortadas com os seus filhos, não

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se provou que os filhos de ambos, mormente a filha que reside em …, tenham condições para acolher a sua mãe.

Por fim, o Apelante foi declarado cônjuge exclusivamente culpado do divórcio.

Em face do que acima dissemos como decidir o presente pleito? Em casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão.

É assim, um pouco, o que se passa nos presentes autos, no que respeita à capacidade das partes para, com o mínimo de dignidade, poderem encetar um novo caminho, com independência.

No entanto, em face dos factos dados como provados, a que acima fizemos alusão e atento o disposto no art.° 840 do RAU, não nos restam dúvidas de que estão preenchidos os pressupostos para que a casa de morada de família seja atribuída à Apelada, como decidiu a Sr.a Juíza "a quo".

Daí que seja de declarar improcedente o presente recurso, mantendo-se a decisão recorrida.

Resta-nos, dentro do espírito de acção social que os Tribunais também devem prosseguir, determinar que o Tribunal de 1ª Instância comunique a situação dos presentes autos à Segurança Social, com vista a que, se o Apelante o entender, lhe seja prestado o necessário apoio por essa Instituição.

***

IV. Pelo acima exposto, decide-se pela improcedência do recurso, confirmando- se a sentença recorrida.

Determina-se que a 1ª Instância proceda à comunicação da presente situação à Segurança Social.

Custas pelo Apelante.

Registe e notifique.

Évora, 15 de Fevereiro de 2007

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