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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 3192/07-3

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 3192/07-3

Relator: BERNARDO DOMINGOS Sessão: 10 Abril 2008

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: PARCIALMENTE PROCEDENTE

PARTILHA SUBSEQUENTE A DIVÓRCIO

FALTA DE RELACIONAMENTO DE BENS

PRAZO PARA A RECLAMAÇÃO

Sumário

I - Se já no domínio do regime anterior à reforma do processo de inventário e face à redacção do então art.º 1340º n.º 3 não havia grandes dúvidas de que a reclamação contra a falta de relacionamento de bens poderia ser feita em qualquer altura do processo e até ao transito em julgado da sentença, com a redacção introduzida na reforma e que hoje consta do n.º 6 do art.º 1348º do CPC, ficaram dissipadas todas as duvidas sobre tal possibilidade.

II - Os efeitos patrimoniais do divórcio ou da separação retrotraem à data da propositura da acção, se outra data anterior não tiver sido fixada na sentença.

Assim no inventário subsequente só haverá a partilhar os bens existentes naquela data e não já os que advieram posteriormente a qualquer dos consortes, como seja o caso duma herança.

Texto Integral

Acordam os Juízes da Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora:

Proc.º N.º 3192/07-3

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Apelação 3ª Secção

Tribunal Judicial da Comarca de Santarém – 1º Juízo Cível - proc. n.º…

Recorrente:

Maria………...

Recorridos:

José ………...

*

Vem o presente recurso de apelação interposto da sentença homologatória da partilha a que se procedeu nos autos de inventário para separação de meações do casal constituído pela recorrente e recorrido.

Entende a recorrente que o direito à herança por óbito da mãe do recorrido e aberta mais de meio ano depois de intentada a acção de separação de pessoas e bens, deve integrar o acervo a partilhar por se tratar de bem comum e daí que tenha reclamado a sua inclusão, quando se pronunciou sobre a forma à partilha. Por entender que tal reclamação era extemporânea indeferiu-a.

Homologada a partilha veio a requerida interpor recurso, cujas alegações remata com as seguintes

conclusões:

«1ª- A Apelante reclamou contra a falta de relacionação de bens pertencentes ao património conjugal;

2a - Porquanto, dos autos constam certidões registrais que evidenciam o direito às quotas indivisas que integravam os bens comuns do casal que foi;

3a - Este integrava na meação o direito à herança da finada Ernestina Marcolina;

4a - Do qual faziam parte as verbas 5 e 6 da relação de bens;

5ª - O cabeça-de-casal apenas as relacionou por metade quando o devia fazer por inteiro;

6a - A dita reclamação pode ser apresentada até ao trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha.

Assim, a sentença recorrida fez incorrecto julgamento da partilha, omitindo

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fazê-lo sobre parte dos bens reclamados, cuja reclamação não atendeu por a julgar insusceptível de ser deduzida após o despacho determinativo da

partilha, interpretação que não se compagina com o teor do normativo constante do artO 1348°, n. ° 6, do CPC, pois, como é sabido, no inventário devem ser relacionados todos os bens que nele hão-de figurar, como o

expressa o art.º 1340°, n.º 3, do citado diploma. Pelo que, fez-se na sentença recorrida equivocada interpretação dos citados preceitos legais, por um lado ao não ser apreciada a reclamação da falta de relacionação de bens, por outro pelo facto da partilha não abranger todos os bens que nela deveriam figurar.

Termos em que, concedendo provimento ao presente recurso e, em

consequência, revogando a sentença que homologou a partilha, substituindo-a por outra em que esta seja julgada de forma a conter todos os bens e direitos que dela devem figurar, designadamente a relacionação por inteiro as ditas verbas 5 e 6 da relação de bens, com atribuição dos valores resultantes da avaliação efectuada nos autos, e assim sendo adjudicados aos interessados conforme o por estes acordado na respectiva conferência, farão Vs. EX.as a melhor JUSTIÇA».

*

**

Contra-alegou ao recorrido concluindo do seguinte modo:

«1ª - A mãe do ora Apelado, tal como a Apelante confirmou, faleceu em 1996.05.26, como consta dos autos;

2a - O prédio descrito sob o n° 01224/200197 contém a inscrição G2, em comum e sem determinacão de parte ou direito, foi relacionada sob a VERBA 5ª, como 1/6 desse prédio;

3a - O prédio descrito sob o n° 02294/230198 contém a inscrição G1, em comum e sem detenninacão de parte ou direito, foi relacionada sob a VERBA 6ª, como 1/6 deste prédio;

4a - À data do óbito da mãe do ora Apelado, em 1996.05.26, este e a Apelante ainda se encontravam casados no regime da comunhão geral;

5a - O ora Apelado e a Apelante, em 1995, instauraram separação judicial de pessoas e bens, no 1º Juízo Cível do Tribunal de Santarém, Procº n° 519/95, que foi decretada por douta sentença de 1996.11.12, como os autos

documentam, mais tarde convertida em divórcio, por sentença de 2001.03.09;

6ª Tais factos não são incompatíveis com aqueles registos/inscrições efectuados e constantes das certidões juntas aos autos apensos aos autos principais de separação;

7a - O art° 1794°, C. Civil, manda aplicar à separação judicial de pessoas e bens, com as necessárias adaptações, as regras do divórcio, nomeadamente o disposto no art.º 1789°, n° I, C. Civil;

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8a - Este último preceito determina que as "relações patrimoniais entre

cônjuges" retrotraem-se à data da proposição da "acção ", ou seja, retrotraem- se a 1995, antes do óbito da mãe do Apelado e sogra da Apelante;

9ª - Nestas circunstâncias, à data do óbito da mãe do Apelado, sucederam-lhe o cônjuge viúvo (4/6) e os dois irmãos, incluído o Apelado (1/6, cada um), cujo 1/6 daquelas VERBAS 5ª e 6a não entraram na comunhão geral de bens do ex -casal, em virtude dos efeitos retroactivos da separação judicial de pessoas e bens, quanto às "relações patrimoniais entre os cônjuges ";

10ª- A Apelante tem perfeito conhecimento, pelo menos depois de 2006. data em que o ora Apelado apresentou requerimento explicativo, de que não havia lugar à relação das VERBAS 5ª e 6ª, mesmo em relação a 1/6 dessas VERBAS;

11ª - Vir, agora, a Apelante "reivindicar" que tais VERBAS 5ª e 6ª deviam ser relacionadas com 2/6 dos prédios respectivos, ou seja, relacionaram-se "por metade quando o devia fazer por inteiro" É LITIGAR DE MÁ FÉ,

inequivocamente;

12ª - Compreenderão Vossas Exas, Meritíssimos Juízes Desembargadores, com todo o Respeito especial e devido, incluído ao Ilustre Mandatário da Apelante e a esta, que o Apelado não tenha de concluir que litigam de má fé, para além de mero "expediente dilalório ", pelo que devem ser condenados como

litigantes de má fé processual, em multa e indemnização a favor do Apelado, a liquidar em execução de sentença (art° 456°, n.º 1 e 2, al. a), do C. P. Civil).

Nestes termos e nos demais de Direito aplicáveis, que Vossas Excelências, Meritíssimos Juízes Desembargadores, não deixarão, mais doutamente, de suprir e/ou mandar suprir, requer-se se dignem decretar improcedente, por não provado o presente recurso, bem como condenar a Apelante em litigância de má fé processual, nos sobreditos termos, para que, assim, se faça JUSTICA

».

*

**

Na perspectiva da delimitação pelo recorrente [1] , os recursos têm como âmbito as questões suscitadas pelos recorrentes nas conclusões das alegações (art.ºs 690º e 684º, n.º 3 do Cód. Proc. Civil) [2] salvo as questões de

conhecimento oficioso (n.º 2 in fine do art.º 660º do Cód. Proc. Civil).

Destas decorre que são duas as questões a decidir:

- Saber se a reclamação/acusação de falta de relacionação de bens foi ou não extemporânea;

- Saber se os direitos reclamados fazem ou não parte do acervo a partilhar.

*

Colhidos os vistos cumpre apreciar e decidir.

As questões suscitadas no recurso são duma simplicidade extrema.

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Quanto à primeira não há dúvidas de que assiste razão à recorrente. Com efeito, se já no domínio do regime anterior à reforma do processo de inventário e face à redacção do então art.º 1340º n.º 3 não havia grandes dúvidas de que a falta de relacionamento de bens poderia ser feita em

qualquer altura do processo e até ao transito em julgado da sentença, com a redacção introduzida na reforma e que hoje consta do n.º 6 do art.º 1348º do CPC ficaram dissipadas todas as duvidas sobre tal possibilidade (aliás o Tribunal “a quo” parece reconhecer isso mesmo no despacho recorrido quando aprecia o pedido de exclusão de bens formulado pelo recorrido…).

Assim é evidente que a reclamação apresentada pela requerida é tempestiva.

Mas também é evidente, clamorosamente evidente, que a sua pretensão de ver relacionados os direitos que reclama não pode proceder pelo que a

partilha se deve manter inalterada.

Entramos aqui na apreciação da segunda questão. Quanto a esta e como já deixámos transparecer é gritante a falta de razão da recorrente. Com interesse para a decisão da causa temos por assente o seguinte:

- Em sete de Dezembro de 1995, apelado e apelante instauraram acção de separação de pessoas e bens no 1º Juízo de Competência Especializada Cível de Santarém e que veio a ser decretada por sentença de 1996.11.12,

posteriormente convertida em divórcio por sentença de 2001.03.09;

- A mãe do ora Apelado, faleceu em 1996.05.26;

- À data do óbito da mãe do ora Apelado, em 1996.05.26, este e a Apelante ainda se encontravam casados no regime da comunhão geral;

- Da herança da mãe do apelado faziam parte, entre outros, bens imóveis.

É indiscutível que à separação judicial de pessoas e bens é aplicável o disposto no n.º 1 do art.º 1789 do CC, ex-vi do art.º 1794 do mesmo diploma . Assim é óbvio que o direito do apelado à herança aberta por óbito da sua mãe nunca chegou a entrar na comunhão, porquanto tendo o óbito ocorrido em 1996 e reportando –se os efeitos patrimoniais da separação à data da propositura da acção ou seja a 7 de Dezembro de 1995, só haverá a partilhar os bens

existentes nessa data e não já os que advieram posteriormente a qualquer dos consortes, como é o caso da herança da falecida mãe do apelado. Por isso nem o 1/6 que este relacionou e que foi partilhado o deveria ter sido…Porém uma vez que tal questão se encontra definitivamente decidida haverá que manter inalterada a partilha homologada pelo sentença recorrida que assim se mantém.

*

Vem o apelado requerer a condenação da apelante como litigante de má-fé por entender que se trata de um expediente dilatório. Compreende-se a

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indignação do apelado com a ganância algo despudorada revelada pelo comportamento da requerente. Porém não poderemos deixar de reconhecer que tal comportamento foi de certo modo induzido pelo apelado ao relacionar parte do direito à herança de sua mãe e assim dar azo a que se reclamasse a totalidade…!!! Aquela atitude não é conforme aos valores de lealdade e

correcção mas isso não significa que seja passível da sanção requerida. A sê- lo, deveria ter sido requerido na primeira instância e aí decidido porquanto foi aí que ocorreu a falta. Indefere-se pois a requerida condenação da apelante como litigante de má-fé.

*

Pelo exposto e apesar da procedência parcial da apelação, acorda-se em confirmar a sentença recorrida.

Custas pela apelante.

Registe e notifique.

Évora, em 10 de Abril de 2008.

--- (Bernardo Domingos – Relator)

--- ( Silva Rato – 1º Adjunto)

--- (Sérgio Abrantes Mendes– 2º Adjunto)

______________________________

[1] O âmbito do recurso é triplamente delimitado. Primeiro é delimitado pelo objecto da acção e pelos eventuais casos julgados formados na 1.ª instância recorrida. Segundo é delimitado objectivamente pela parte dispositiva da sentença que for desfavorável ao recorrente (art.º 684º, n.º 2 2ª parte do Cód.

Proc. Civil) ou pelo fundamento ou facto em que a parte vencedora decaiu (art.º 684º-A, n.ºs 1 e 2 do Cód. Proc. Civil). Terceiro o âmbito do recurso pode ser limitado pelo recorrente. Vd. Sobre esta matéria Miguel Teixeira de Sousa, Estudos Sobre o Novo Processo Civil, Lex, Lisboa -1997, págs. 460-461. Sobre isto, cfr. ainda, v. g., Fernando Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos, Liv.

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Almedina, Coimbra - 2000, págs. 103 e segs.

[2] Vd. J. A. Reis, Cód. Proc. Civil Anot., Vol. V, pág. 56.

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