• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.7 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.7 número1"

Copied!
28
0
0

Texto

(1)

Apresentação

N orb e rt Elia s (Bre sla u 1897Am ste rd ã 1990) m orou n a In g la te rra p or q u a -se q u a tro d é ca d a s. C h e g ou a Lon d re s e m 1935, d ois a n os a p ós d e ixa r o -se u p a ís, a Ale m a n h a , e m virtu d e d a a sce n sã o d o n a zism o. Q u a tro a n os m a is ta rd e a p a re cia n a Ba silé ia , Su íça , a p rim e ira e d içã o d e O Proce sso Civ i-liz atório, a ob ra q u e vá ria s décad a s d e p ois o con sa g ra ria com o u m d os ci-e n tista s socia is m a is im p orta n tci-e s d o sé cu lo XX. O tci-e xto q u ci-e a p rci-e sci-e n ta m os a q u i foi p u b lica d o e m 1950 n o British Jou rn al of S ociolog y e foi o p rim e i-ro a rtig o d e Elia s a vir a p ú b lico d e p ois d a Se g u n d a G u e rra M u n d ia l, m a r-ca n d o o com e ço d e su a le n ta re in te g ra çã o a o m u n d o d a s ciê n cia s socia is, d o q u a l o e xílio, a g u e rra e o h oloca u sto tin h a m -n o a fa sta d o. O te xto in i-cia , ta m b é m , u m a lon g a sé rie d e tra b a lh os d e d ica d a a o e stu d o d a g ê n e se d o Esta d o n a cion a l n a In g la te rra (q u e , ju n to com a Fra n ça e a Ale m a n h a , se ria m os u n ive rsos e m p íricos p rin cip a is d e su a ob ra )2.

Elia s p la n e ja va e scre ve r trê s e stu d os sob re a s orig e n s e o d e se n vol-vim e n to d a ca rre ira d e oficia l n a va l n a In g la te rra n os sé cu los XVI e XVII, m ostra n d o a s re la çõe s e n tre a u n ifica çã o p olítica d a q u e le p a ís, o e sta b e -le cim e n to d o d om ín io m ilita r d os m a re s, a s in ova çõe s te cn ológ ica s q u e p e rm itira m re volu cion a r a n a ve g a çã o e a p rofission a liza çã o d a M a rin h a (a tra n siçã o e n tre o m u n d o d os corsá rios e o m u n d o d os oficia is n a va is, torn a d a cé le b re n a s fig u ra s d e Fra n cis Dra k e e J oh n H a w k in s). O p rim e i-ro te xto con ce n tra r-se -ia n a ca ra cte riza çã o socia l d os m e m b i-ros d e ssa p i- ro-fissã o n a sce n te e n os m e ca n ism os d e se u re cru ta m e n to e m d ois g ru p os socia is d ife re n te s. O se g u n d o tra ta ria d a s te n sõe s e d os con flitos e n tre e sse s g ru p os, e n q u a n to o ú ltim o ve rsa ria sob re su a in te g ra çã o g ra d u a l e sob re o su rg im e n to d e u m a h ie ra rq u ia d e oficia is n a va is u n ifica d a , com -b in a n d o a s fu n çõe s e os m é tod os d e tre in a m e n to d e a m -b os os g ru p os. O p la n o d o tra b a lh o in clu ía a in d a com p a ra çõe s com o n a scim e n to d a p

rofis-DO C UM EN TA

ESTUDOS SOBRE A GÊN ESE DA PROFISSÃO

N AVAL: CAVALHEIROS E TARPAULIN S

1

(2)

sã o n a va l n a Fra n ça , m ostra n d o a s re la çõe s e n tre o d e se n volvim e n to e a s ca ra cte rística s d e ssa p rofissã o e os p roce ssos d e form a çã o d e sse s d ois Esta d os n a cion a is. Elia s n ã o ch e g ou a com p le ta r a sé rie . O se g u n d o te xto a p a re ce u 27 a n os d e p ois d o p rim e iro, e m 1977, n a re vista h ola n d e sa De G id s (no140, p p . 223237) com o títu lo “ Dra k e e n Dou g h ty: De O n tw ik

-k e lin g va n e e n C on flict” (Dra -k e e Dou g h ty: O De se n volvim e n to d e u m C on flito). O ú ltim o d os e stu d os ja m a is foi p u b lica d o.

O p rim e iro te xto d a sé rie , q u e ora p u b lica m os, te m a in d a o in te re sse d e m ostra r a p osiçã o d e Elia s d ia n te d e u m a su b d iscip lin a q u e , n a é p oca , con solid a va -se n a s ciê n cia s socia is: a ch a m a d a “ sociolog ia d a s p rofis-sõe s” . C on tra p on d o-se a u m a visã o re stritiva m e n te ce n tra d a n o a p a re cm e n to d e in ova çõe s te cn ológ ica s ou n o su rg icm e n to d e ca p a cid a d e s in d ivid u a is e cole tiva s, o q u e lh e in te re ssa n o e stu d o d a s p rofissõe s é sob re -tu d o a a rticu la çã o e n tre , d e u m la d o, e ssa s in ova çõe s e e ssa s ca p a cid a d e s e , d e ou tro, a s tra n sform a çõe s n o m u n d o socia l m a is a m p lo d e n tro d o q u a l a s n ova s p rofissõe s p a ssa m a e xistir e a se r re con h e cid a s. Por m e io d e u m a fin a sociolog ia h istórica , Elia s d e m on stra com o se p od e m re con stru ir g ra n d e s p roce ssos h istóricos a p a rtir d e ob je tos a p a re n te m e n te m e n ore s, e su g e re a p ossib ilid a d e d e se ob se rva r a s con fig u ra çõe s socia is d e g ra n-d e e sca la (com o os Esta n-d os n a cion a is) p or m e io n-d a a n á lise n-d a s te n sõe s q u e e stru tu ra m u m m icrom u n d o socia l (com o u m a p rofissã o).

M an a. Estu d os d e A n trop olog ia S ocial a g ra d e ce a o British Jou rn al of S ociolog y a a u toriza çã o p a ra re p u b lica r p e la p rim e ira ve z e ste a rtig o3.

I

Profissõe s, d e sp oja d a s d e su a s rou p a g e n s p róp ria s, sã o fu n çõe s socia is e sp e cia liza d a s q u e a s p e ssoa s d e se m p e n h a m e m re sp osta a n e ce ssid a -d e s e sp e cia liza -d a s -d e ou tra s; sã o, a o m e n os e m su a form a m a is -d e se n vol-vid a , con ju n tos e sp e cia liza d os d e re la çõe s h u m a n a s. O e stu d o d a g ê n e se d e u m a p rofissã o, p orta n to, n ã o é sim p le sm e n te a a p re cia çã o d e u m ce r-to n ú m e ro d e in d ivíd u os q u e te n h a m sid o os p rim e iros a d e se m p e n h a r ce rta s fu n çõe s p a ra ou tros e a d e se n volve r ce rta s re la çõe s, m a s sim a a n á -lise d e ta is fu n çõe s e re la çõe s.

(3)

u m g ru p o. E, se m u d a m , se n ova s ocu p a çõe s su rg e m e m u m a com u n id a d e , ta is tra n sform a çõe s n ã o se d e ve m sim p le sm e n te a a tos ou p e n sa m e n -tos d e sse ou d a q u e le in d ivíd u o e m p a rticu la r, n e m m e sm o d e cie n tista s ou in ve n tore s. É a situ a çã o d e m u d a n ça d e u m a com u n id a d e in te ira q u e cria a s con d içõe s p a ra o su rg im e n to d e u m a n ova ocu p a çã o e d e te rm in a o cu rso d e se u d e se n volvim e n to.

De scob e rta s cie n tífica s, in ve n çõe s e o su rg im e n to d e n ova s n e ce ssd a ssd e s h u m a n a s e ssd e m e ios e sp e cia liza ssd os p a ra sa tisfa zê -la s sã o, in ssd u b i-ta ve lm e n te , fa tore s q u e con trib u e m p a ra o d e se n volvim e n to d e u m a n ova p rofissã o. M a s n e m a s n ova s n e ce ssid a d e s n e m a s n ova s d e scob e rta s sã o, p or si só, su a fon te . Ela s d e p e n d e m u m a s d a s ou tra s p a ra se u d e se n volvi-m e n to. As p rivolvi-m e ira s torn a volvi-m -se d ife re n cia d a s e e sp e cífica s a p e n a s e volvi-m con-ju n çã o com té cn ica s h u m a n a s e sp e cia liza d a s4; e sta s, p or su a ve z, só a p a

-re ce m e se crista liza m com o ocu p a çõe s te n d o e m vista n e ce ssid a d e s p ote n-cia is ou re a is5. O su rg im e n to d e u m a n ova ocu p a çã o, p orta n to, n ã o se d e ve

a u m d e sse s d ois fa tore s e sp e cifica m e n te , m a s à in te ra çã o d e a m b os. É e sse n cia lm e n te u m p roce sso d e te n ta tiva e e rro6n o q u a l a s p e ssoa s p

ro-cu ra m com b in a r té cn ica s ou in stitu içõe s e n e ce ssid a d e s h u m a n a s. Tod o p a sso n e ssa d ire çã o é e fe tu a d o p or in d ivíd u os. O p roce sso com o ta l, a g ê n e-se e o d e e-se n volvim e n to d e u m a p rofissã o ou d e q u a lq u e r ou tra ocu p a çã o é m a is q u e a som a tota l d e a tos in d ivid u a is — te m se u m od e lo p róp rio.

(4)

p rofission a is e , e m b ora sa b e n d o q u a l se ria a solu çã o id e a l, se ja m in ca p a ze s d e colocá la e m p rá tica . Em tod os e sse s ca sos, os p rob le m a s sã o a p re -se n ta d os a o in d ivíd u o p e la re d e d e fu n çõe s socia is n a q u a l e le in g re ssa , com su a s d isp a rid a d e s in e re n te s e n tre m e ios e fin s. Im p e lid o p or e la s, e le d á con tin u id a d e , com se u s ob je tivos d e cu rto p ra zo, a a lg o q u e e le n ã o com e çou : o d e se n volvim e n to a lon g o p ra zo d e su a p rofissã o.

Em e stu d os h istóricos, o d e se n volvim e n to d e p rofissõe s e ou tra s in s-titu içõe s, com fre q ü ê n cia , a p a re ce com o u m p rog re sso su a ve e con sta n te e m d ire çã o à “ p e rfe içã o” — a “ p e rfe içã o” d o n osso te m p o. A a te n çã o, e m g e ra l, volta -se m a is p a ra a fa ce in stitu cion a l — p a ra a form a com o e la se con fig u ra e m u m d a d o p e ríod o, n o se g u in te e fin a lm e n te n o p re se n te — e m e n os p a ra a s re la çõe s h u m a n a s re a is p or trá s d e ssa fa ce . N o e n ta n-to, som e n te con sid e ra n d o e ssa s in stitu içõe s p a rte d e u m a e xte n sa re d e d e re la çõe s h u m a n a s, re cu p e ra n d o p a ra a n ossa p róp ria com p re e n sã o a s d ificu ld a d e s e os con flitos re corre n te s com os q u a is os in d ivíd u os lu ta ra m n o in te rior d e ssa re d e , p od e -se com p re e n d e r p or q u e e com o a p róp ria e stru tu ra su rg iu e m u d ou d e u m p e ríod o p a ra ou tro. O s p rob le m a s n ã o re solvid os, coloca d os p a ra os h om e n s d e u m a ce rta é p oca p e la s fa lh a s d e su a s in stitu içõe s p rofission a is, sã o, e m ou tra s p a la vra s, u m a p a rte tã o e sse n cia l d a h istória d e ssa s in stitu içõe s q u a n to a s p róp ria s solu çõe s. Em re trosp e cto, e sta s só g a n h a m se n tid o q u a n d o vista s e m con ju n to com a q u e le s. Se , p or trá s d a fa ce m a is im p e ssoa l, a lg u é m se vê fre n te a fre n te com p e ssoa s lu ta n d o, g e ra lm e n te e m vã o, p a ra a ju sta r a e stru tu ra in stitucion a l q u e h e rd a ra m , com tod a s a s su a s in con g ru ê n cia s, a o q u e e la s se n -te m se r su a s p róp ria s n e ce ssid a d e s, e n tã o se d issip a a a tm osfe ra q u e tã o fre q ü e n te m e n te ce rca ve lh a s in stitu içõe s n os livros d e h istória , u m a a tm os-fera de peças de museu. Nesse sentido, as pessoas do passado estão no mes-m o p a ta mes-m a r q u e n ós; ou mes-m e lh or, n ós e sta mes-m os n o mes-m e smes-m o p a ta mes-m a r q u e e la s.

II

(5)

le m a d a a n tig a M a rin h a . Era n orm a l q u e u m ra p a z jove m com e ça sse su a fu tu ra ca rre ira d e oficia l n a va l a os 9 ou 10 a n os d ire ta m e n te a b ord o. M u i-ta s p e ssoa s e xp e rie n te s a ch a va m q u e p od e ria se r i-ta rd e d e m a is ca so se com e ça sse a ir a b ord o som e n te a os 14 a n os, n ã o a p e n a s p orq u e q u e m o fize sse te ria q u e se a costu m a r a o b a la n ço d o m a r e su p e ra r o e n jôo o m a is ra p id a m e n te p ossíve l, m a s ta m b é m p orq u e a a rte d e a m a rra r e d a r n ós e m cord a s, a m a n e ira corre ta d e su b ir a o m a stro — se g u ra n d o o ové m e n ã o a e n fre ch a d u ra — e vá ria s ou tra s op e ra çõe s m a is com p lica d a s som e n te p od e ria m se r a p re n d id a s com u m a p rá tica lon g a e e xa u stiva . Pa ra con h e ce r a s e m b a rca çõe s a ve la , a s p e ssoa s tin h a m q u e tra b a lh a r, a o m e n os p or a lg u m te m p o, com su a s p róp ria s m ã os. O s livros tin h a m p ou ca se rve n tia .

Ao m e sm o te m p o, tod os os oficia is n a va is, a o m e n os d o sé cu lo XVIII e m d ia n te , se via m , e q u e ria m se r vistos p e los ou tros, com o ca va lh e iros. Dom in a r a a rte d o m a rin h e iro e ra a p e n a s u m a d e su a s fu n çõe s. N a q u e la é p oca , com o a g ora , oficia is n a va is e ra m líd e re s m ilita re s q u e com a n d a -va m h om e n s. Um a d e su a s fu n çõe s m a is im p orta n te s e ra lu ta r con tra u m in im ig o, com a n d a r su a trip u la çã o n a b a ta lh a e , se n e ce ssá rio, a b ord a r u m n a vio h ostil e m u m a lu ta corp o a corp o a té a vitória . Ad e m a is, e m te m p os d e p a z com o e m te m p os d e g u e rra , oficia is n a va is fre q ü e n te m e n te e n tra va m e m con ta to com re p re se n ta n te s d e ou tros p a íse s. Esp e ra va se q u e sou b e sse m lín g u a s e stra n g e ira s, q u e a g isse m com o re p re se n ta n -te s d e se u s p róp rios p a íse s com firm e za , d ig n id a d e e u m a ce rta d ose d e d ip lom a cia , e q u e se com p orta sse m con form e a s re g ra s d o q u e e ra con si-d e ra si-d o b oa e si-d u ca çã o e civilisi-d a si-d e . Em su m a , u m oficia l si-d a ve lh a M a ri-n h a tiri-n h a q u e re u ri-n ir a lg u m a s d a s q u a lid a d e s d e u m a rte sã o e xp e rie ri-n te e d e u m ca va lh e iro m ilita r.

(6)

p osiçã o d e ca va lh e iros. In clu sive a m e ra su sp e ita d e q u e tive sse fe ito tra -b a lh o m a n u a l e m a lg u m a e ta p a d e su a vid a e ra d e g ra d a n te p a ra u m ca va lh e iro.

A ob se rva çã o se m p re cita d a d e Pe p ys sob re a s con se q ü ê n cia s d e , e n tre os oficia is n a va is, os m a rin h e iros n u n ca se re m ca va lh e iros e os ca va lh e iros n u n ca se re m m a rin h e iros e ra , p orta n to, m a is q u e u m jog o e le g a n te d e p a la vra s. Era a e xp re ssã o p re cisa d e u m d os m a iore s p rob le -m a s p rá ticos co-m os q u a is se d e fron ta va -m a d -m in istra d ore s e oficia is d a M a rin h a n o com e ço d a h istória d a p rofissã o n a va l. C a va lh e iros n ã o p od ia m a p re n d e r a a rte e a té cn ica d e u m m a rin h e iro se m q u e se se n tis-se m re b a ixa d os p e ra n te os ou tros. M a rin h e iros e xp e rie n te s, p or su a ve z, q u e a p re n d e ra m se u ofício d a ú n ica form a p ossíve l, com e ça n d o ce d o com o a p re n d ize s, n ã o e ra m con sid e ra d os ca va lh e iros; fa lta va m -lh e s — ou ju lg a va se q u e lh e s fa lta sse m — q u a lid a d e s com o d e stre za , b oa e d u ca çã o, lid e ra n ça e ta to d ip lom á tico, con sid e ra d a s a trib u tos in d isp e n sá ve is p a ra a s p e ssoa s n o com a n d o d e op e ra çõe s m ilita re s e q u e fre q ü e n te -m e n te e n tra va -m e -m con ta to co-m oficia is e stra n g e iros, a -m a ioria d e le s d e orig e m n ob re . Pa ra o b om fu n cion a m e n to d e u m a frota m ilita r a ve la , e ra n e ce ssá rio q u e se u s oficia is tive sse m a lg u m a s d a s q u a lid a d e s ta n to d os ca va lh e iros m ilita re s q u a n to d os m a rin h e iros. N o e n ta n to, com o se p od e -ria e sp e ra r con cilia r, a b ord o d e u m n a vio, fu n çõe s p rofission a is e socia is q u e , e m te rra , p a re cia m tota lm e n te in com p a tíve is?

(7)

III

N a Id a d e M é d ia a In g la te rra n ã o tin h a u m a M a rin h a n o se n tid o p róp rio d o te rm o. O m e sm o p e ssoa l m ilita r e ra u sa d o e m g u e rra s e m te rra e n o m a r, a s m e sm a s e m b a rca çõe s se rvia m p a ra com b a te s e p a ra com é rcio ou p e sca . Ba ta lh a s n a va is, m e sm o n o C a n a l d a M a n ch a , e ra m re la tiva m e n te ra ra s. Q u a n d o ocorria m , p a rticip a va m d e la s e xé rcitos re u n id os e m n a vios e q u e lu ta va m p ra tica m e n te d a m e sm a form a com o lu ta va m e m te rra . O s m a rin h e iros forn e cia m o tra n sp orte ; os ca va lh e iros e se u s se g u id ore s g u e rre a va m . A a ssocia çã o e n tre os d ois g ru p os e ra p u ra m e n te te m p orá -ria . Dificilm e n te ocorre -ria a u m n ob re fid a lg o a ssu m ir p rofission a lm e n te a lg u m a s d a s ta re fa s e d a s re sp on sa b ilid a d e s d e u m ca p itã o d e n a vio.

A situ a çã o m u d ou g ra d u a lm e n te n a é p oca d a s g ra n d e s d e scob e rta s. Du ra n te a q u e le p e ríod o, tod os os p a íse s e u rop e u s com sa íd a p a ra o Atlâ n -tico — à e xce çã o d a Ale m a n h a , e n fra q u e cid a p or d ivisõe s in te rn a s — se la n ça ra m , u m a p ós o ou tro, n a lu ta p e lo d om ín io d a s rota s m a rítim a s re cé m -d e scob e rta s e d a s p osse ssõe s u ltra m a r. Pa ra m a n te r su a p osiçã o, a In g la te rra , a ssim com o se u s riva is, te ve q u e d e se n volve r se u s re cu rsos m a rítim os. A força cre sce n te d e a lg u n s d e se u s vizin h os a m e a ça va n ã o a p e n a s su a s com u n ica çõe s m a rítim a s, m a s ta m b é m su a se g u ra n ça in te r-n a . O s ir-n g le se s, p or su a ve z, a m e a ça va m com su a força cre sce r-n te os p a í-se s d o ou tro la d o d o C a n a l d a M a n ch a e d os m a re s h isp â n icos. O su rg i-m e n to d e u i-m n ovo siste i-m a d e p od e r n os i-m a re s d a Eu rop a O cid e n ta l e a e sp ira l d e riva lid a d e força ra m tod os a q u e le s p a íse s a e n tra r e m d isp u ta ; com p e lira m -n os a lu ta r, a se e xp a n d ir, a se torn a r o q u e ch a m a m os d e p otê n cia s im p e ria lista s e a con tin u a r lu ta n d o a té q u e u m ou ou tro fosse d e rrota d o e ca ísse . N ã o h a via com o e sca p a r d e se u im p a cto. C om o se u s riva is e se u s a lia d os, a In g la te rra n ã o tin h a e scolh a se n ã o e xp a n d ir-se ou se torn a r d e p e n d e n te d e te rce iros.

Sob a p re ssã o d e ssa riva lid a d e m a rítim a e m con sta n te e xp a n sã o, m u ita s d a s n e ce ssid a d e s d e sse s p a íse s e d a s té cn ica s p a ra sa tisfa zê -la s tra n sform a ra m -se m a is ra p id a m e n te q u e a n te s. Torn ou -se n e ce ssá rio re org a n iza r a frota e a s força s m ilita re s. Da m e sm a form a , e m tod os e le s su rg ira m p rob le m a s sim ila re s d e a ju sta m e n to. N o e n ta n to, com o su a s p osiçõe s e stra té g ica s e su a s con stitu içõe s p olítica s e socia is e ra m d ife re n -te s, o g ra u , a ve locid a d e e o m é tod o d e a ju sta m e n to va ria ra m b a sta n -te .

(8)

-d os: u m -d e ca rá te r p rin cip a lm e n te com e rcia l; o ou tro p rin cip a lm e n te m ili-ta r. Se g m e n tos d a froili-ta e d o Exé rcito u n id os e fin a lm e n te fu n d id os e m u m ú n ico form a ra m , n o cu rso d o te m p o, u m n ovo e stab lish m e n t e sp e cia -liza d o, u m a e sq u a d ra m ilita r con h e cid a com o M a rin h a .

Ao m e sm o te m p o, e sse s d ois m ovim e n tos g ra d u a lm e n te fize ra m su rg ir u m a n ova p rofissã o, a d e oficia l n a va l. A riva lid a d e d e p od e r cre sce n te trou xe o q u e se p od e ria ch a m a r tra d icion a lm e n te d e “ d ivisã o d o tra b a lh o” . Em re a lid a d e , a d ife re n cia çã o a n d ou d e b ra ços d a d os com a in te g ra çã o, a e sp e cia liza çã o com a fu sã o, tra n sform a n d o n ã o a p e n a s o tra b a -lh o, m a s tod a s a s fu n çõe s socia is d a s p e ssoa s. N ã o se tra ta va a p e n a s d e os m a rin h e iros se e sp e cia liza re m p a ra o se rviço e m u m e stab lish m e n t m ilita r e d e os ca va lh e iros m ilita re s se d e d ica re m m a is p e rm a n e n te m e n -te à frota . O n ovo p roce sso d e g u e rra m a rítim a criou a n e ce ssid a d e d e h a ve r p e ssoa s q u e , e m u m a n ova e sq u a d ra , fosse m m a rin h e iros e m ilita -re s a o m e sm o te m p o.

N o e n ta n to, e m b ora fosse d ifícil con trola r os p rob le m a s té cn icos cria -d os p e la con -d u çã o -d e n a vios ca -d a ve z m a iore s, e sp e cia is p a ra a g u e rra , e n q u a n to a s p e ssoa s a p re n d ia m le n ta e a rd u a m e n te a con stru ir e m b a r-ca çõe s d e d ois ou trê s p a vim e n tos com m a is e m a is a rm a s, a solu çã o d os p rob le m a s h u m a n os cria d os p or e ssa s m u d a n ça s m ostrou -se a in d a m a is d ifícil. Dois con ju n tos d e p e ssoa s, m a ru jos e ca va lh e iros m ilita re s, q u e p e rte n cia m a e sfe ra s b e m d ife re n te s d a vid a e q u e n o p a ssa d o h a via m tid o p ou co con ta to p rofission a l, fora m força d os, com o re su lta d o d e sse s a con te cim e n tos, a cola b ora r m a is e stre ita m e n te e p or p e ríod os m a is lon -g os q u e a n te s. Um p a d rã o d e fin id o d e tra b a lh o e m -g ru p o e n volve n d o os d ois con ju n tos n ã o p od ia e xistir n e sse e stá g io a m e n os q u e u m a a u tori-d a tori-d e e xte rn a fosse su ficie n te m e n te forte p a ra im p ô-lo, com o n a Fra n ça e n a Esp a n h a . N a In g la te rra , e m u m a situ a çã o com o a q u e la , lu ta s p or sta-tu s e d isp u ta s p or p osiçõe s e ra m in e vitá ve is. Un id os p or circu n stâ n cia s a lé m d e se u p od e r, a m b os os g ru p os te n ta ra m p re se rva r, e m su a n ova re la çã o, se u m od o d e vid a tra d icion a l e os p a d rõe s p rofission a is a os q u a is e sta va m a costu m a d os. Am b os fa lh a ra m e re sse n tira m -se d isto.

(9)

e le s p a ssa sse m p or u m tre in a m e n to se m e lh a n te a o d e u m a rte sã o; ou q u e a rte sã os se torn a sse m se u s p a re s. Ele s con tin u a ra m , d e fa to, a té a Re vo-lu çã o Fra n ce sa e m e sm o d e p ois, a se ve r e a se com p orta r m a is ou m e n os com o d e sta ca m e n tos e sp e cia liza d os d o Exé rcito te rre stre . M a ru jos p rofis-sion a is con tin u a ra m a forn e ce r tra n sp orte a sold a d os. A d istâ n cia socia l e n tre os d ois g ru p os e ra tã o g ra n d e q u e n e m a h ostilid a d e n e m a fu sã o tin h a m lu g a r.

Por ou tro la d o, n a In g la te rra , cu ja org a n iza çã o p olítica e socia l e ra d ife re n te , h om e n s d e a m b os os g ru p os torn a ra m se oficia is n a va is. A cola -b ora çã o e n tre os d ois se g m e n tos e ra m a ior q u e n a Fra n ça e n a Esp a n h a . Te n sõe s m a n ife sta s e h ostilid a d e s a b e rta s e ra m m a is fre q ü e n te s, e p e r-sistira m d a é p oca d e Eliza b e th à d e G u ilh e rm e d e O ra n g e . C om o re su l-ta d o, su rg iu g ra d u a lm e n te u m a n ova d ivisã o, e u m a n ova h ie ra rq u ia d e d e ve re s e ste n d e u -se sob re a m b os os g ru p os, cu ja s ta re fa s e ra m ta n to m ilita re s q u a n to n á u tica s.

IV

A re la çã o in icia l e n tre os d ois g ru p os e ra in e q u ívoca ; a m b os sa b ia m q u a is e ra m os se u s lu g a re s. Du ra n te p a rte d o sé cu lo XVI, os m a ru jos p rofissio-n a is a irofissio-n d a e ra m m e stre s irofissio-n d iscu tíve is e m se u p róp rio ca m p o. O re i, com o ou tros d on os d e e m b a rca çõe s, g e ra lm e n te d e ixa va ca d a u m d e se u s n a vios m a s m ã os d e u m ca p itã o e se u s com p a n h e iros. A p rin cip a l corp o-ra çã o d e ca p itã e s, a “ Broth e rh ood of th e m ost g loriou s a n d u n d ivid e d Trin ity” [Irm a Trin d a d e d a g loriosíssim a e iTrin d ivisíve l TriTrin d a d e ], e m De p tford -su r-Stra n d , fica va a ca rg o, n a m a ior p a rte d e sse sé cu lo, d os En tre p ostos d a C oroa e m De p tford e d a “ M a rin h a Re a l” e m g e ra l. Era e ssa corp ora -çã o, a C a sa d a Trin d a d e , q u e se le cion a va os ca p itã e s p a ra ca d a u m d os n a vios d o re i. Este s, p or su a ve z, le va va m su a p róp ria “ tu rm a ” , in clu in d o m e stre s-ca rp in te iros, oficia is e n ca rre g a d os d a a rtilh a ria e cozin h e iros. Ele s form a va m a trip u la çã o p e rm a n e n te d o n a vio.

O com a n d a n te , p or se u tu rn o, e ra “ le g itim a m e n te e scolh id o p or u m g e n e ra l”7e “ d e ve ria e scolh e r se u lu g a r-te n e n te ”8. E n o fim d a jorn a d a

a m b os d e ixa va m o n a vio. Ele s, os oficia is m ilita re s, e ra m d e sig n a d os te m -p ora ria m e n te , con form e a oca siã o.

(10)

p a ssa ra m a se r a tra íd os e m n ú m e ro m a ior p e la vid a n o m a r9. Da q u e la

é p oca e m d ia n te , com b re ve s in te rru p çõe s, d ois g ru p os d e oficia is e xisti-ra m n a M a rin h a la d o a la d o, p or m a is d e u m sé cu lo. Ele s e xisti-ra m con h e ci-d os p or n om e s com o “ ca p itã e s-ci-d e -te rra ” e “ ca p itã e s-ci-d e -m a r” ou “ com a n-d a n te s-ca va lh e iros” e “ com a n n-d a n te s-m a ru jos”10; os ú ltim os, a p ós a Re

s-ta u ra çã o, fica ra m con h e cid os s-ta m b é m com o com a n d a n te s tarp au lin s ou sim p le sm e n te tarp au lin s11. M a s q u a isq u e r q u e fosse m se u s n om e s,

n a q u e la é p oca a s d ife re n ça s e n tre os d ois g ru p os e ra m ób via s. As g e ra -çõe s p oste riore s, e m g e ra l, e sq u e ce ra m ou n ã o com p re e n d e ra m o q u e p od e te r p a re cid o p a ra e la s u m e sta d o d e coisa s e stra n h o e in e xp licá ve l. O s q u e vive ra m n a q u e le te m p o, con tu d o, o su b e n te n d ia m ; se m p re p od ia m d ize r a q u a l d e sse s g ru p os u m d e te rm in a d o oficia l n a va l p e rte n cia . Em b o-ra h om e n s d e a m b os os se g m e n tos d e se m p e n h a sse m n a M a rin h a , a o m e n os n om in a lm e n te , a s m e sm a s fu n çõe s, ocu p a sse m g e ra lm e n te a s m e sm a s p osiçõe s e com p e tisse m , e m ce rta m e d id a , p e los m e sm os ca rg os, e le s d ife ria m n ã o a p e n a s e m re la çã o a o se u tre in a m e n to p rofission a l, m a s ta m b é m à su a a sce n d ê n cia socia l.

Em b ora su a s ca rre ira s va ria sse m b a sta n te , os com a n d a n te s-m a ru jos tin h a m a lg o e m com u m : e ra m a rte sã os ou “ a rtista s” . Tod os com e ça va m ce d o com o g ru m e te s; p a ssa va m se u p e ríod o d e a p re n d iza d o a b ord o, g e ra lm e n te d u ra n te se te a n os. Fa zia p ou ca d ife re n ça se se rvia m e m n a vios m e rca n te s ou d e g u e rra ; ta m b é m n ã o im p orta va m u ito se m u d a sse m d e u m p a ra ou tro m a is ta rd e . N o cu rso d o te m p o, com o d e vid o con -se n tim e n to d a corp ora çã o, e le s -se torn a va m ca p itã e s, le n ta m e n te e e m e ta p a s, ca so n ã o tive sse m n a d a a lé m d e se u s m é ritos, ou m a is fa cilm e n -te , se tive sse m d in h e iro e a m ig os q u e os a ju d a sse m . Por ca su a lid a d e ou p or e scolh a , e le s p rocu ra va m a d e sig n a çã o d e com a n d a n te d e u m d os n a vios d o re i — n o in ício, n orm a lm e n te , d e u m a d a s e m b a rca çõe s m e n o-re s com o u m a fra g a ta ou ta lve z u m n a vio m e rca n te a se rviço d a C oroa d u ra n te u m a g u e rra . E se e le s fosse m e xce p cion a lm e n te b ra vos ou tive s-se m m u ita sorte , n ã o h a via coisa a lg u m a , e m p rin cíp io, q u e os im p e d iss-se d e a sce n d e r à p osiçã o d e a lm ira n te .

O s “ com a n d a n te s-ca va lh e iros” , p or su a ve z, ch e g a va m a o com a n d o b a sica m e n te d a m e sm a m a n e ira q u e ou tros oficia is m ilita re s. N ã o se cog i-ta va q u e tive sse m d e p a ssa r p or u m p e ríod o d e a p re n d iza d o a b ord o ou a p re n d e r o ofício d e u m m a ru jo com u m . En q u a n to u m com a n d a n te tar-p au lin tin h a q u e tar-p a ssa r “ tar-p or tod os os ca rg os e tod os os g ra u s e m u m n a -vio”12a n te s d e se torn a r u m com a n d a n te a se rviço d o re i, p a ra ca va lh e

(11)

vid a n o m a r. Tod a s a s te n ta tiva s, d u ra n te o sé cu lo XVII, d e e sta b e le cê -los fra ca ssa ra m , p rin cip a lm e n te p orq u e se ria m u ito d ifícil a tra ir jove n s ca va lh e iros p a ra a M a rin h a força n d o-os a u m tre in a m e n to in com p a tíve l com se u statu s e su a h on ra , ou se ja , u m tre in a m e n to com jove n s a rte sã os ou p e lo m e n os sim ila r a o d e le s.

Em u m n ú m e ro m e n or d e ca sos, ca va lh e iros a p re n d ia m a a rte d os tra b a lh a d ore s d o m a r com p a rtilh a n d o p or u m te m p o a d u ra e rig orosa vid a d e m a ru jos p rofission a is. C om o M on son ou M a in w a rin g , torn a va m -se cor-sá rios ou p ira ta s13. G e ra lm e n te , tu d o o q u e se e xig ia d e u m ca va lh e iro

p a ra p re e n ch e r os re q u isitos p a ra u m e n ca rg o n a M a rin h a e ra m a lg u m a s via g e n s m a rítim a s com o volu n tá rio ou e m u m a situ a çã o sim ila r, q u e n ã o e n volvia tre in a m e n to re g u la r. Foi som e n te n o sé cu lo XVIII q u e u m p osto n a ca rre ira d e jove n s m a rin h e iros, o d e a sp ira n te , torn ou -se fin a lm e n te a b a se p a ra o tre in a m e n to re g u la r re se rva d o a jove n s ca va lh e iros. N a q u e la é p oca , con tu d o, a fron te ira e n tre os q u e e ra m e os q u e n ã o e ra m vistos com o ca va lh e iros já se h a via d e sloca d o lig e ira m e n te n o e sp e ctro socia l.

Du ra n te o sé cu lo XVII, p orta n to, m u itos ca va lh e iros fora m p a ra o m a r com p ou ca e xp e riê n cia , ob te n d o n om e a çõe s p or in te rm é d io d e fa vo-re s ou d in h e iro. Ele s e ra m , com o e scvo-re ve u M on son14, “ ca p itã e s q u e se

d a va m a o d ire ito d e u sa r ta l n om e vin cu la n d o-o à m á xim a d e q u e n ã o p re cisa va m d e e xp e riê n cia ” . N o m e sm o se n tid o, Pe p ys, m e io sé cu lo m a is ta rd e , a in d a lu ta n d o se m m u ito su ce sso con tra o m e sm o p rob le m a , ob se r-vou , a ce rca d a M a rin h a e liza b e ta n a , u m ta n to m e la n colica m e n te15:

“ O b se rve m ... q u e e m ’88, e m b ora h ou ve sse u m n ob re a lm ira n te , e le s se vira m ob rig a d os a fa ze r d e d ois sim p le s ta rp a u lin s, Dra k e e H a w k in s, se u s vice e con tra a lm ira n te s, a p e sa r d e h a ve r m u itos h om e n s q u e p u d e sse m ocu -p a r ta l -p osiçã o n a frota ... M a s é fá cil -p e rce b e r q u e se rve n tia (a lé m d e m os-tra r su a cora g e m ) te ria su a in e xp e riê n cia .”

(12)

m é d ia , com o à s ve ze s a con te cia , a vid a n a C orte con fe ria a e le s u m sta-tu s socia l e sp e cia l. Afin a l, m e m b ros d a socie d a d e d a corte form a va m u m g ru p o se p a ra d o d os d e m a is. Ele s se d istin g u ia m d e in te g ra n te s d e ou tros g ru p os socia is n ã o a p e n a s p or su a in flu ê n cia re a l ou sim u la d a e p e lo p od e r d e riva d o d e u m con ta to m a is p róxim o com a q u e le s q u e g ove rn a va m o p a ís, m a s ta m b é m p or su a s m a n e ira s e su a s a m b içõe s, su a s virtu -d e s e se u s vícios, e to-d o o se u m o-d o -d e vi-d a .

Assim , a d ivisã o fe ita n o sé cu lo XVII e n tre ca p itã e s-ca va lh e iros e ca p itã e s-m a ru jos n a M a rin h a e ra e q u iva le n te à q u e la fe ita n a socie d a d e com o u m tod o e n tre h om e n s d e cla sse e h om e n s d e orig e m h u m ild e . Esta -va in tim a m e n te lig a d a à q u e la fe ita , p a rticu la rm e n te e m Lon d re s, e n tre corte sã os e cid a d ã os. Em te rra , e ssa s cla sse s d e p e ssoa s e ra m se p a ra d a s p or u m a b ism o socia l. N a d e fla g ra çã o d a g u e rra civil, a m a ioria d os cor-te sã os e d os cid a d ã os p e rcor-te n cia a ca m p os op ostos — e os m a ru jos d a M a rin h a ju n ta ra m -se a os cid a d ã os n a p rote çã o d o Pa rla m e n to16. Ele s

vivia m e m m u n d os d ife re n te s. C orte sã os d ificilm e n te p od ia m a d m itir p e s-soa s d o p ovo e m se u s círcu los d e a m ig os, e m p é d e ig u a ld a d e , q u a n to m a is com in tim id a d e , se m se re b a ixa r. Ain d a a ssim , n a M a rin h a , h om e n s d e a m b os os g ru p os, ca va lh e iros e m a ru jos, fora m força d os a te r con ta to d e m a n e ira m a is p róxim a . Lá , e m b ora fosse m d e d ife re n te s p osiçõe s socia is, e le s g e ra lm e n te ocu p a va m p ostos d e ig u a l p osiçã o p rofission a l; os p a p é is p od ia m a té se in ve rte r e os ca va lh e iros torn a re m se su b ord in a -d os -d a q u e le s q u e lh e s e ra m socia lm e n te in fe riore s.

O b via m e n te , e ssa situ a çã o fa zia su rg ir te n sõe s e con flitos. Pa ra ve r isto e m p e rsp e ctiva , d e ve m os le m b ra r com o a s d ivisõe s socia is d e e n tã o e ra m d ife re n te s d a q u e la s d os sé cu los XIX e XX. Riq u e za , n o sé cu lo XVII, ce rta m e n te con ta va m u ito; m a s n a scim e n to e cria çã o a in d a tin h a m p re -ce d ê n cia com o fa tore s d e d e te rm in a çã o d a p osiçã o socia l, e a ca sta im p un h a se sob re a cla sse . N o cu rso d os sé cu los XIX e XX, a vid a socia l g ira -va ca d a ve z m a is e m torn o d e te n sõe s e con flitos e n tre a s cla sse s b a ixa s e m é d ia s. Te n sõe s socia is corre sp on d e n te s, ce rta m e n te , n ã o e sta va m a u se n te s d u ra n te o sé cu lo XVII, m a s a in d a e ra m e n cob e rta s p or a q u e la s e n tre a s cla sse s b a ixa s e m é d ia s, d e u m la d o, e a s cla sse s a lta s, d e ou tro.

(13)

sé cu lo XVII, a fron te ira e n tre a s p a rce la s m a is rica s e a s m a is p ob re s d a s cla sse s com e rcia is a in d a e sta va m e n os n itid a m e n te d e se n h a d a . As d ife -re n ça s n o in te rior d e ssa s cla sse s, p or m a ior q u e fosse m , e ra m p e q u e n a s se com p a ra d a s à q u e la s q u e se p a ra va m tod os e sse s g ru p os ju n tos d a s cla sse s a lta s e p a rticu la rm e n te d a socie d a d e d a corte .

V

A re la çã o e n tre ca va lh e iros e m a ru jos n a M a rin h a e ra a lta m e n te in flu e n -cia d a p e la re la çã o e n tre os e stra tos m a is a m p los d a socie d a d e in g le sa a os q u a is e le s p e rte n cia m . C a va lh e iros q u e ia m a b ord o com o oficia is n a tu -ra lm e n te fa zia m o m e lh or q u e p od ia m p a -ra con tin u a r a te r u m e stilo d e vid a a o q u a l e sta va m a costu m a d os. C om o d e p ra xe , a ssu m ia m , e m re la -çã o a os m a ru jos, a s m e sm a s a titu d e s d e su p e riorid a d e q u e m a rca va m su a s re la çõe s com p e ssoa s d e p osiçã o socia l in fe rior17. Em su m a , u m a b

is-m o os se p a ra va d o re sta n te d a trip u la çã o.

A d istâ n cia socia l e n tre os ca p itã e s-m a ru jos e se u s su b ord in a d os e ra , p or com p a ra çã o, p e q u e n a . Um ca p itã o-m a ru jo n ã o se m ostra va su p e rior. Ele p od ia , com o fa zia S ir Willia m Booth , d orm ir n o con vé s “ se m coisa a lg u m a sob re e le e xce to u m a lon a , q u e se u s m a ru jos e sta ria m sa tisfe i-tos”18. Se e le le va sse u m jove m filh o se u e m u m a jorn a d a , p od ía m os ve r

o filh o d o ca p itã o in stru in d o-se , d ive rtin d o-se e se n d o ca stig a d o ju n to com a s cria n ça s d os m e stre s e d o ca rp in te iro19. E, a m e n os q u e o ca p itã o

tive sse m a is d in h e iro, a s ch a n ce s d e se u filh o n a vid a p rova ve lm e n te n ã o e ra m m u ito d ife re n te s d a s d e se u s com p a n h e iros.

Ta m b é m n ã o h a via g ra n d e d ife re n ça e n tre o sta tu s socia l d e u m com a n d a n te -m a ru jo n a M a rin h a e o d e u m com a n d a n te d e u m n a vio m e r-ca n te . É ve rd a d e q u e , q u a n d o a s cla sse s b a ixa s e m é d ia s se torn a ra m m a is d ife re n cia d a s e a d istâ n cia e n tre o se rviço n a M a rin h a d e G u e rra e o se rviço n a M a rin h a M e rca n te a u m e n tou , os oficia is d a p rim e ira p a ssa -ra m a sa ir, g e -ra lm e n te , d os e st-ra tos socia is m a is a ltos. N o e n ta n to, n o fim d o sé cu lo XVII, a in d a se p od ia e n con tra r n a m e sm a fa m ília u m filh o q u e fosse ca p itã o d a M a rin h a e ou tro, ca p itã o d e u m n a vio m e rca n te20. Pod ia

-se ve r oficia is d a M a rin h a a ssu m in d o o ca rg o d e ca p itã o n o -se rviço m e r-ca n te , r-ca p itã e s d e n a vios m e rr-ca n te s re ce b e n d o m issõe s n a M a rin h a . M e s-m o o is-m e d ia to d e u s-m n a vio s-m e rca n te p od ia d ize r q u e “ se con sid e ra va à a ltu ra d e q u a lq u e r h om e m a se rviço d o re i”21.

(14)

com e rcia n te s p rósp e ros. O ca p itã o Th om a s Be st, p or e xe m p lo, q u e foi “ tre in a d o p a ra o m a r” d a m a n e ira u su a l, ob te ve o com a n d o d e u m n a vio com a a ju d a d o p a i, lu tou e m 1612, com o u m com e rcia n te d a C om p a n h ia d a s Ín d ia s O rie n ta is, a ou trora fa m osa b a ta lh a d e Sw a lly (n a foz d o rio Su ra t) con tra u m a força p ortu g u e sa su p e rior, e com o u m h om e m b a sta n -te rico d e ixou o com é rcio n a C om p a n h ia d a s Ín d ia s p a ra fica r a se rviço d o re i. G u e rra s ou a m e a ça s d e g u e rra se m p re le va ra m o g ove rn o a se va le r d e u m con sid e rá ve l n ú m e ro d e n a vios m e rca n te s. O s a rm a d ore s e os com a n d a n te s d os n a vios “ e n tã o re cru ta d os p e lo g ove rn o” e ra m g e ra l-m e n te e l-m p re g a d os p a ra col-m a n d a r os n a vios p a ra a C oroa22. Esta e ra u m a

d a s m u ita s m a n e ira s com o com e rcia n te s, a rm a d ore s ou ca p itã e s com u n s p od ia m se torn a r ca p itã e s d a M a rin h a . Sir Th om a s Allin23, q u e n a sce u

e m Low e stoft, p a re ce te r sid o orig in a lm e n te com e rcia n te e a rm a d or. N a d e fla g ra çã o d a g u e rra civil, p ôs-se , com o su a cid a d e n a ta l, d o la d o d o re i. Em 1665, re ce b e u o títu lo d e S ir e foi d e sig n a d o a lm ira n te [A d m iral of th e Blu e ] sob o com a n d o d e lord e Sa n d w ich . N a M a rin h a d a C om m on -w e a lth , e x-com e rcia n te s, a rm a d ore s e com a n d a n te s d e se m p e n h a ra m u m p a p e l a in d a m a is p roe m in e n te . Rich a rd De a n e , J a m e s Pe a cock , N e h e -m ia h Bou rn e , Rich a rd Ba d ile y — tod os e le s, a p a re n te -m e n te , g a n h a ra -m a lg u m a e xp e riê n cia n o m a r com o m e rca d ore s ou a rm a d ore s a n te s d e se torn a re m ca p itã e s, vice -a lm ira n te s ou a lm ira n te s n a M a rin h a d a C om-m on w e a lth . G ile s Pe n n , u om-m ca p itã o d a M a rin h a , foi e om-m ou tra é p oca d e su a vid a côn su l p a ra com é rcio in g lê s n o M e d ite rrâ n e o. Se u filh o m a is ve lh o torn ou -se u m rico com e rcia n te n a Esp a n h a ; se u filh o m a is n ovo, Willia m , n a scid o e m Bristol e m 1621, “ p a rticip ou com o p a i, d e sd e m e -n i-n o, d e vá ria s via g e -n s m e rca -n tis”24, torn ou -se , n a é p oca , a lm ira n te d a

C om m on w e a lth , se rviu com a m e sm a fu n çã o a o g ove rn o d e C a rlos II e re ce b e u o títu lo d e S ir p or se u s se rviços.

M u itos ou tros com a n d a n te s tarp au lin s sa íra m d e u m e stoq u e d e a rte -sã os. H a via filh os d e ca p itã e s d e n a vios ou d e m e stre s d e a rtilh a ria q u e , n o cu rso d o te m p o, se g u ira m os p a ssos d os p a is. Pe n n , p or e xe m p lo, a in -d a ca p itã o, tre in ou e e n sin ou a e scre ve r u m ce rto G e org e Le a k e , q u e fora “ le va d o a o m a r p or se u p róp rio p a i a in d a b e m m e n in o e tre in a d o p a ra fa ze r q u a lq u e r tra b a lh o, com o Pe n n ta m b é m o foi”25. G e org e Le a k e

tor-n ou -se cotor-n h e cid o m a is ta rd e com o m e stre d e a rtilh a ria . Ele e ra p a i d o a lm ira n te S ir J oh n Le a k e .

(15)

n ã o se p od e p e rd e r d e vista o fa to d e q u e , p rim e iro, a rte sã os, p e ssoa s q u e tra b a lh a va m com su a s p róp ria s m ã os, p od ia m se r e n con tra d os n ã o a p e -n a s -n a s ca m a d a s m a is b a ixa s d e sse g ru p o, m a s ta m b é m -n a s m a is a lta s; se g u n d o, a s p osiçõe s socia is q u e ocu p a va m se e ste n d ia m im p e rce p tive l-m e n te a té o q u e p od e ría l-m os ch a l-m a r d e “ cla sse s b a ixa s” ; e , p or fil-m , n a g ra n d e m a ioria d os ca sos, n ã o e ra m con sid e ra d os n e m se via m com o ca va lh e iros26.

N a m a ioria d os ca sos os com a n d a n te sm a ru jos n ã o vie ra m , p rova ve lm e n te , n e m d a se çã o m a is rica n e m d a m a is p ob re d o p ovo. O p e q u e -n o g ru p o d e g ra -n d e s com e rcia -n te s, p e ssoa s com o S ir Th om a s Sm ith ou Willia m C ock a yn e , d a C om p a n h ia d a s Ín d ia s O rie n ta is, ce rta m e n te con h e cia m a con e ira s m a is lu cra tiva s d e e m p re g a r se u te m p o d o q u e com a con -d a r u m n a vio -d e g u e rra . Por ou tro la -d o, p a ra u m ra p a z p ob re , se m a m i-g os ou fa m ília in flu e n te s, n ã o e ra m u ito fá cil a sce n d e r a lé m d a s p osiçõe s su b ord in a d a s a b ord o. A fim d e ob te r o p osto d e ca p itã o, m a is lu cra tivo, n orm a lm e n te , e ra n e ce ssá rio te r ou u m p rote tor b e n e vole n te ou d in h e iro p a ra p a g a r p e la d e sig n a çã o. A d e scriçã o d e ta lh a d a q u e Ed w a rd Ba rlow27

fe z d e ssa lu ta p e lo a va n ço d o p osto d e im e d ia to a o d e ca p itã o d u ra n te a ú ltim a m e ta d e d o sé cu lo XVII m ostra com o e ra d ifícil p a ra u m h om e m q u e com e ça sse se m u m p rote tor ou se m d in h e iro ob te r o com a n d o d e u m n a vio m e rca n te ou a sce n d e r e sta n d o a se rviço d o re i.

N o e n ta n to, e ssa b a rre ira m on e tá ria , ce rta m e n te , n ã o e ra in su p e rá -ve l. De fa to, u m b om n ú m e ro d e p e ssoa s q u e vie ra m d e se çõe s m a is p ob re s d a s cla sse s com e rcia is — d a s “ cla sse s b a ixa s” , com o p od e m os ch a m á -la s — a sce n d e u a o com a n d o d e n a vios d e g u e rra . De n tre e la s, o m a is con h e cid o é , p rova ve lm e n te , S ir C lou d e sle y Sh ove l28q u e , a p a re n

-te m e n -te , foi a p re n d iz d e sa p a -te iro a n -te s d e ir p a ra o m a r com o cria d o d e b ord o sob o com a n d o d e S ir C h ristop h e r M yn g s29e d e p ois sob o d e S ir

J oh n N a rb orou g h30, d ois ou tros com a n d a n te s tarp au lin s q u e , n o cu rso d o

te m p o, torn a ra m -se a lm ira n te s. Às ve ze s, Sh ove l é le m b ra d o com o u m ca so e xce p cion a l, u m h om e m q u e se torn ou a lm ira n te e “ a sce n d e u a os p ou cos” — q u e , e m ou tra s p a la vra s, com e çou com o u m sim p le s m a ru jo. N o e n ta n to, e m b ora q u a lid a d e s e xce p cion a is tive sse m p e rm itid o q u e e le se torn a sse a lm ira n te , a té su a d e sig n a çã o com o ca p itã o su a ca rre ira cor-re sp on d ia a o p e rcu rso n orm a l d e u m com a n d a n te tarp au lin . Dos se u s cole g a s, Sir Da vid M itch e ll31com e çou com o a p re n d iz e m u m p e sq u e iro

d e Le ig h e d e p ois foi im e d ia to n o com é rcio b á ltico; d u ra n te a se g u n d a g u e rra h ola n d e sa , e le foi ob rig a d o a e n tra r p a ra a M a rin h a , n ota b ilizou -se , foi fe ito 2olu g a r-te n e n te e m 1677, lu g a r-te n e n te e m 1680 e ca p itã o

(16)

foi e m p re g a d o d u ra n te o g ove rn o d o re i J a im e , ta n to p or su a con h e cid a a ve rsã o à fé ca tólica q u a n to p or te r sid o u m d a q u e le s q u e p rim e iro re cor-re u a o p rín cip e d e O ra n g e ” . C a in d o n a s g ra ça s d e G u ilh e rm e , e le se tor-n ou e m 1693 cotor-n tra -a lm ira tor-n te [Re ar-A d m iral of th e Blu e ] e e tor-n ca rre g a d o d o g u a rd a -rou p a re a l. O vice -a lm ira n te J oh n Be n b ow com e çou , d e a cor-d o com a lg u n s e scritore s, tra b a lh a n cor-d o p a ra u m b a rq u e iro33e , se g u n d o

ou tros, com o a p re n d iz d e a çou g u e iro34. Ele fu g iu p a ra o m a r e p a ssou

p e lo tre in a m e n to n orm a l d e u m m a ru jo p rofission a l. Em 1678, e ra con -tra m e stre ; e m 1679, ca p itã o a se rviço d o re i; d e p ois, e p or m u itos a n os, com o ca p itã o, e ta lve z a rm a d or, e m com a n d o d e u m n a vio m e rca n te ; m a is ta rd e , n ova m e n te n a M a rin h a (1689), foi 3olu g a r-te n e n te sob a s

ord e n s d o ca p itã o Da vid M itch e ll n a b a ta lh a d e Be a ch y H e a d e , n ova m e n te , e m 1692, n a b a ta lh a d e La H og u e . Em 1693 e le e sta va n o com a n d o d e u m a flotilh a d e n a vios la n ça b om b a s e b ru lote s; se rviu com o con -tra -a lm ira n te e m 1695 e , e m 1701, com o com a n d a n te -e m -ch e fe n a s Ín d ia s O cid e n ta is. C om b a te u com su ce sso os fra n ce se s sob o com a n d o d e Du C a sse e m C a rta g e n a e m 1702, e m b ora a b a n d on a d o p e los ou tros n a vios d e se u e sq u a d rã o, e m orre u p ou co d e p ois e m con se q ü ê n cia d e fe rim e n -tos. Ele foi d e scrito com o “ u m sim p le s m a ru jo” q u e “ fa la va e a g ia e m tod a s a s oca siõe s se m n e n h u m re sp e ito e com e xtre m a lib e rd a d e ”35. Se u filh o

foi, com o e le , “ tre in a d o p a ra o m a r” . Em 1701, foi p a ra a s Ín d ia s O rie n -ta is com o 4oim e d ia to36.

VI

Ta n to a s orig e n s fa m ilia re s q u a n to a s ca rre ira s d os com a n d a n te sca va -lh e iros e ra m b e m d ife re n te s. Alg u n s d e le s, com o lord e Effin g h a m e H ow a rd s, e ra m n ob re s, corte sã os e oficia is m ilita re s d a m a is a lta p osiçã o. Ele s a ssu m ira m o com a n d o d e e xé rcitos n a va is com o se e stive sse m à fre n-te d e ou tro com a n d o m ilita r q u a lq u e r, con ta n d o com m a rin h e iros p rofis-sion a is p a ra lid a r com tod os os a ssu n tos d o m a r.

O u tros e ra m n ob re s e ca va lh e iros e m p ob re cid os, d e a cord o com se u s p a d rõe s, a tra íd os p a ra o m a r n a e sp e ra n ça d e re sta u ra r su a fortu n a — p e ssoa s com o o a lm ira n te Th om a s C a ve n d ish37, q u e e ra , n a s p a la vra s d e

C a m p b e ll,

(17)

q u e iria re sta u ra r su a fortu n a d e stru íd a à cu sta d os e sp a n h óis e , te n d o isso e m vista , con stru iu d ois n a vios... e za rp ou d e Plym ou th e m 21 d e ju lh o d e 1586”38.

O u tros vie ra m d a p e q u e n a n ob re za p rop rie tá ria d e te rra s. Filh os m a is jove n s ou filh os d e filh os m a is jove n s, com u m corte sã o com o p rote -tor, p e ssoa s com o o vice -a lm ira n te Aylm e r, se g u n d o filh o d e Sir C h risto-p h e r Aylm e r d e Ba lra th , d o con d a d o d e M e a th , q u e h a via sid o risto-p a je m d o d u q u e d e Bu ck in g h a m q u a n d o m e n in o e q u e con se g u iu , com su a re cm e n d a çã o, u cm lu g a r cocm o volu n tá rio e cm u cm d os n a vios d o re i, torn a n d o-se lu g a r-te n e n te e m 1678, com a n d a n te d e u m a corve ta e m 1679, ca p itã o d e u m se g u n d a cla sse e m 1690, e vice -a lm ira n te e com issá rio d a M a ri-n h a e m 169439. Ed w a rd Ru sse ll, p a i d o a lm ira n te Ru sse ll, m a is ta rd e con

-d e -d e O xfor-d40, e ra irm ã o m a is n ovo d o p rim e iro d u q u e d e Be d ford . O

a lm ira n te G e org e C h u rch ill41, filh o d e S ir Win ston C h u rch ill42, e ra irm ã o

m a is n ovo d e J oh n , p rim e iro d u q u e d e M a rlb orou g h . S ir Ra lp h De la va l, S ir G e org e Rook e e m u itos ou tros com a n d a n te s-ca va lh e iros p e rte n cia m à m e sm a ca te g oria .

O u tros e ra m filh os e p a re n te s d e p e ssoa s q u e tra b a lh a va m p a ra a C orte . O p a i d e S ir G e org e Ayscu e e ra cria d o d e q u a rto d e C a rlos I. Ed w a rd Le g g e , p a i d e G e org e Le g g e , m a is ta rd e lord e Da rtm ou th , e ra o e n ca rre g a d o d o g u a rd a -rou p a re a l d e C a rlos I; su a a vó e ra irm ã d o p ri-m e iro lord e Bu ck in g h a ri-m .

Alg u n s p ou cos com a n d a n te sca va lh e iros e ra m filh os d o q u e p od e -ría m os ch a m a r a g ora d e “ p rofission a is lib e ra is” . M a s n a m a ioria d os ca sos se u s p a is e sta va m a se rviço d o re i ou , d e u m m od o ou d e ou tro, e m con -ta to p róxim o com a C orte . Ed w a rd H e rb e rt, p a i d o a lm ira n te H e rb e rt, e ra a d vog a d o [G e n tle m an of th e Lon g Rob e ]. Atu ou com o p rocu ra d or-g e ra l p a ra C a rlos I, a ssociou -se n o e xílio a o d u q u e d e York e foi d e sig n a d o d e p ois g u a rd a -se los d o re i. O a lm ira n te Killig re w e ra filh o d e u m p a stor a n g lica n o, m a s su a fa m ília tin h a con e xõe s com a C orte h á m a is d e d u a s g e ra çõe s. Se u b isa vô fora ca m a re iro d a ra in h a Eliza b e th , se u a vô, corte -sã o e d e p u ta d o. A irm ã d e se u p a i, lad y Sh a n n on , e ra u m a d a s a m a n te s d e C a rlos II. Se u p a i, d r. H e n ry Killig re w , e ra , n a é p oca d a d e fla g ra çã o d a g u e rra civil, ca p e lã o d o Exé rcito d o re i. De p ois se torn ou ca p e lã o a se rviço d o d u q u e d e York . O p róp rio Killig re w e ra , p or cria çã o, corte sã o e ca va lh e iro. Ele re ce b e u su a p rim e ira m issã o d e p ois d e u m cu rto p e río-d o com o volu n tá rio.

(18)

fora p a stor a n g lica n o. O p a i d e Be rry e ra u m p a stor d o in te rior, a p a re n te -m e n te p riva d o d e se u su ste n to, sa q u e a d o e e -m p ob re cid o d u ra n te a g u e r-ra civil, q u e m orre u d e ixa n d o u m a viú va com n ove filh os e p ou co a q u e re corre r p a ra vive r. J oh n Be rry, se u se g u n d o filh o43, q u e tin h a 17 a n os

q u a n d o o p a i m orre u , foi p a ra Plym ou th , torn ou -se a p re n d iz d e u m m e rca d or, q u e e ra cop rop rie tá rio d e vá rios n a vios, foi p a ra o m a r e a p re n -d e u o ofício -d e m a ru jo p rofission a l -d o m o-d o com u m . O b te ve com a a ju -d a d e a lg u n s a m ig os o p osto d e m e stre e m u m a g a le ota d e d ois m a stros d a M a rin h a Re a l e a sce n d e u , p a sso a p a sso, a o d e lu g a r-te n e n te , ca p itã o, vice a lm ira n te e com issá rio d a M a rin h a . Pe p ys o con h e ce u b e m ; d e ixou -n os, e m su a s -n ota s sob re a e xp e d içã o Ta -n g ie r e m 1683, re g istros d a s co-n- con-ve rsa s q u e e le te con-ve d u ra n te a jorn a d a com S ir J oh n Be rry e ou tro com a n -d a n te tarp au lin d e re n om e , S ir Willia m Booth , ca p itã o d o n a vio, a lm ira n -te d a e xp e d içã o. C om o tod os os d e m a is, Pe p ys via Be rry n ã o com o u m ca va lh e iro, m a s com o u m m a ru jo p rofission a l. Porta n to, o a lm ira n te Killi-g re w e S ir J oh n Be rry, e m b ora fosse m filh os d e p a store s a n g lica n os, vie -ra m d e fa to d e cla sse s socia is b a sta n te d ife re n te s44e p e rte n cia m a d ife

-re n te s g ru p os d e oficia is d a M a rin h a .

M u ito oca sion a lm e n te a con te cia d e h om e n s d e a sce n d ê n cia com u m fin g ire m o p a p e l e o statu s d e com a n d a n te s-ca va lh e iros; m a s, n e ste s ca sos, ta m b é m , a p rote çã o d a C orte e a fa m ilia rid a d e com o a sp e cto e a s m a n e ira s d os corte sã os p a re ce m te r sid o e sse n cia is. Pe p ys ob se rvou q u e , d e a cord o com S ir Willia m Booth , “ h á q u a tro ou cin co ca p itã e s q u e e le sa b e te re m sid o sold a d os d e in fa n ta ria , com p a n h e iros d e se u s p róp rios sold a d os, e q u e a g ora ju lg a m e sta r e n tre os n ob re s com p a n h e iros e os ca p itã e s-ca va lh e iros d a frota ” . E Pe p ys a cre sce n tou : “ [...] isto m e fa z cre r q u e , p or ca p itã o-ca va lh e iro, e n te n d e -se q u a lq u e r u m q u e n ã o se ja u m sim p le s m a ru jo [...].”45

Te m os n otícia d e p ou cos ca va lh e iros q u e a p re n d e ra m o ofício d e m a ru jo d e form a se m e lh a n te à d os q u e lh e s e ra m socia lm e n te in fe riore s. S ir Willia m M on son46, p or e xe m p lo, con h e cid o com a n d a n te corsá rio e

(19)

d e C e zim b ra . Ele tin h a con e xõe s fa m ilia re s com a C orte ta n to d e Eliza -b e th q u a n to d e J a im e I. Se u irm ã o m a is ve lh o foi u m d os ch a n ce le re s d a ra in h a e u m d os m e stre s a d e stra d ore s d e a ve s d o re i. M on son com b in ou , d e fa to, o tre in a m e n to e a e xp e riê n cia d e u m m a ru jo p rofission a l com o d e u m ca va lh e iro-corte sã o.

M a s h íb rid os d e sse tip o n ã o e ra m m u ito n u m e rosos m e sm o n a é p oca d e Eliza b e th , q u a n d o a m ob ilid a d e socia l e ra com p a ra tiva m e n te g ra n -d e . Ele s torn a ra m -se m a is ra ros a in -d a sob o g ove rn o -d os Stu a rts. Pe ssoa s fa la va m m a is e m a is a b e rta m e n te d e m a ru jos e ca va lh e iros com o d u a s cla sse s d ife re n te s d e oficia is n a va is. De p ois d a g u e rra civil, a con sciê n cia d e cla sse e ra tã o a g u d a q u e , n os círcu los n a va is, e e m ce rta m e d id a n o p a ís in te iro, tod os tom a ra m com o n a tu ra l a d istin çã o e n tre com a n d a n te s-ca va lh e iros e com a n d a n te s-m a ru jos.

N ã o se p od e d ize r com q u a lq u e r g ra u d e p re cisã o q u a n tos oficia is n a va is p e rte n cia m e m u m d a d o m om e n to a ca d a u m a d e ssa s d u a s ca te -g oria s47. A p rop orçã o a lte rou -se com a s m u d a n ça s n a s e xig ê n cia s d a

M a rin h a e n a p olítica g e ra l d o g ove rn o. M a s p od e -se d ize r q u e , d o fim d o sé cu lo XVI a té o com e ço d o sé cu lo XVIII, a m b os os g ru p os e sta va m re p re se n ta d os e m n ú m e ro su ficie n te p a ra im p e d ir q u e u m d e le s d om i-n a sse o d e se i-n volvim e i-n to d a p rofissã o i-n a va l e a m old a sse sozii-n h o d e a cor-d o com se u s p róp rios p a cor-d rõe s, su a s tra cor-d içõe s e se u s in te re sse s. Fora m , d e fa to, o p re cá rio e q u ilíb rio e a d isp u ta re corre n te e n tre e sse s d ois g ru p os, re fle tin d o o b a la n ço d e força s n o p a ís com o u m tod o, q u e d om in a -ra m a h istória d a p rofissã o n a va l d u -ra n te e sse s e stá g ios in icia is d e se u d e se n volvim e n to.

VII

Em re trosp e cto, p od e -se a ch a r m u ito d ifícil, a p rin cíp io, visu a liza r u m a p rofissã o e m q u e p e ssoa s d e d ife re n te s p osiçõe s socia is e d ife re n te s tre i-n a m e i-n tos p rofissioi-n a is tra b a lh a sse m ju i-n ta s com o cole g a s e , a o m e sm o te m p o, lu ta sse m u m a s com a s ou tra s com o riva is.

(20)

m e d id a , d e d ife re n te s a n te ce d e n te s socia is. M a s a d isp u ta e n tre e le s e ra p e q u e n a , e a riva lid a d e , re p rim id a .

As situ a çõe s d e sse tip o n ã o e stã o con fin a d a s à h istória d a s p rofissõe s m ilita re s. H oje , p or e xe m p lo, d ois g ru p os com d ife re n te s a n te ce d e n -te s socia is e q u a lifica çõe s p rofission a is e stã o d ivid in d o o g e re n cia m e n to d e in d ú stria s e sta ta is. Pe ssoa s a ca rg o d e ssa s in d ú stria s sã o re cru ta d a s p a rcia lm e n te n a s cla sse s m é d ia s e p a rcia lm e n te e n tre h om e n s sa íd os d a cla sse tra b a lh a d ora .

N ã o se ria d ifícil e n con tra r e xe m p los d e sse tip o n o p a ssa d o e n o p re -se n te . De fa to, u m a fa -se sim ila r, d e a n ta g on ism o in icia l e lu ta p or p osi-çõe s e n tre g ru p os riva is, p od e se r e n con tra d a n o in ício d a h istória n ã o a p e n a s d a s p rofissõe s, m a s d e q u a se tod a in stitu içã o. Q u a n d o se te n ta e la b ora r u m a te oria g e ra l d a g ê n e se d a s in stitu içõe s é p rova ve lm e n te n e ce ssá rio con sid e ra r q u e o con flito é u m a d a s ca ra cte rística s b á sica s d e u m a in stitu içã o n a sce n te .

M a is a in d a ; p od e -se d ize r q u e b a ta lh a s sim ila re s p or statu s e lu ta s p or p osiçã o, m a is lon g a s ou m a is cu rta s, con form e o ca so, p od e m se r e n con tra d a s se m p re q u e in d ivíd u os, in icia lm e n te in d e p e n d e n te s, se re ú -n e m e m u m g ru p o, ou g ru p os m e -n ore s e m m a iore s. N e sse se -n tid o, a s te - n-sõe s e os con flitos e n tre sold a d os e m a rin h e iros, e n tre ca va lh e iros e m a ru-jos n a h istória d a p rofissã o n a va l p od e m se rvir com o m od e lo sim p le s p a ra ou tros con flitos e ou tra s b a ta lh a s m a is com p le xa s n a h istória d a h u m a n i-d a i-d e . Tra ta va -se i-d e te n sõe s i-d e g ru p o e con flitos in stitu cion a is, ou se ja , in e re n te s à situ a çã o d e g ru p o d e sse s h om e n s e ca u sa d a s p e lo p a d rã o in s-titu cion a l d e su a s re la çõe s e su a s fu n çõe s, d istin ta s d e te n sõe s p e ssoa is p rim á ria s e con flitos e n tre p e ssoa s ca u sa d os, p or e xe m p lo, p or te n d ê n -cia s p a ra n óica s ou sá d ica s ou , m a is com u m e n te , p or con flitos in te rn os d os in d ivíd u os. Por e ssa ra zã o, re p rod u zira m -se d u ra n te m u ita s g e ra çõe s e m b ora os in d ivíd u os tive sse m m u d a d o.

O re la to d e ta lh a d o d e ssa d isp u ta e d o su rg im e n to g ra d u a l d e u m a p rofissã o m a is u n ifica d a d e ve le va r a d ois e stu d os se p a ra d os. N o e n ta n to, o e stu d o d a s ca ra cte rística s socia is d e sse s d ois g ru p os já forn e ce a lg u m a s p ista s d os p rob le m a s q u e tin h a m d e se r re solvid os a n te s q u e e ssa lu ta p u d e sse ch e g a r a o fim , e d a s d ificu ld a d e s q u e se p u se ra m n o ca m in h o.

(21)

“ [...] con cord a m q u e ca va lh e iros d e ve ria m se r tra zid os p a ra a M a rin h a p or se r e m h o m e n s m a is se n sív e is à h o n r a q u e o s d e o r ig e m h u m ild e (e m b o r a a q u i ca ib a e xa m in a r se g ra n d e s a çõe s e m te rm os d e h on ra n ã o fora m fe ita s p or sim p le s m a ru jos, e a çõe s d e p ou co va lor, p or ca va lh e iros), m a s te ria m d e se r e d u ca d os p e lo te m p o n o m a r [...]. E a lé m d o b e m q u e o ca va lh e iro fa ria a o re i e à M a rin h a , p or se u s a m ig os n a C orte , e le a b ra ça ria a ca u sa d os m a ru -jos, sa b e ria o q u e e le s m e re cia m e os a m a ria com o p a rte d e si m e sm o. Por su a ve z, os m a ru jos se ria m le va d os a a m á -lo a in d a m a is q u e a u m ig u a l d e vi-d o à su a q u a livi-d a vi-d e , se n vi-d o o ca va lh e iro, n o e n ta n to, se u com p a n h e iro n a vivi-d a e n os tra b a lh os d o m a r.”

E e m 1694 o m a rq u ê s d e H a lifa x, n ova m e n te , se re fe riu , e m se u Rou g h Drau g h t of a N e w M od e l at S e a, à “ p re se n te con trové rsia e n tre os ca va lh e iros e os tarp au lin s” ; e le a in d a se p e rg u n ta va “ e n tre q u e tip os d e h om e m os oficia is d a frota d e ve m se r e scolh id os [...]”49, e op in ou q u e

“ d e ve h a ve r u m a m istu ra n a M a rin h a e n tre ca va lh e iros e tarp au lin s”50.

(22)

Not as

1 Esse s e stu d os sã o b a se a d os e m p e sq u isa fe ita h á a lg u n s a n os p e la Socia l

Re se a rch Division d a Lon d on Sch ool of Econ om ics. Ag ra d e ço im e n sa m e n te a H . L. Be a le s p or se u s con se lh os e in ce n tivo.

2 Fa ze m p a rte d e ssa sé rie os a rtig os q u e tra ta m d a s re la çõe s e n tre o d e se n

-v o l-v im e n t o d o e sp o r t e e o p r o c e sso d e p a r la m e n t a r iz a ç ã o n a In g la t e r r a . So b r e isso, ve r J osé Se rg io Le ite Lop e s, “ Esp orte , Em oçã o e C on flito Socia l” , M an a. Estu -d os -d e A n trop olog ia S ocial, 1(1):141-165, 1995.

3 As re fe rê n cia s b ib liog rá fica s n ã o fig u ra m a q u i n o form a to u su a l d e M an a,

se n d o e m ve z d isso a p re se n ta d a s e m n ota s e se g u n d o su a form a ta çã o orig in a l, co-m o n o te xto e co-m in g lê s.

4 “ ‘Eu ve n d e re i livros p a ra q u e su a s cria n ça s os p ossa m le r.’ O ch e fe d isse

‘ob rig a d o p e lo p re se n te ” e le va n tou a s m ã os sa u d a n d o, com o se d e ve fa ze r se m-p re q u e a lg u é m ofe re ce a lg o n o Lim b o. M a s e n tã o e le a b a ixou a s m ã os e d isse com u m tom d e im p a ciê n cia : ‘N ã o é com o o h om e m q u e d e u a o vila re jo u m tig re e d e p ois a a rm a com a q u a l a tira r n e le ?’ Um u rro d e a p rova çã o... ve io d os q u e o ou via m . ‘N ós n ã o te m os livros e , p orta n to, n ã o te m os q u e le r.’” De Au b re y M e n e n ,

Th e Pre v ale n ce of W itch e s, p . 94.

5 A. M . C a rr-Sa u d e rs e P. A. Wilson , Th e Profe ssion s, O xford , 1933, p . 297,

o n d e e s t a in t e r d e p e n d ê n c ia fo i o b s e r v a d a , e m b o r a c o m g r a n d e ê n fa s e e m u m fa tor: o p rog re sso d a p e sq u isa .

6 M . G in sb e rg , Th e W ork of L. T. H ob h ou se , in J . A. H ob son e M . G in sb e rg , L. T. H ob h ou se : H is Life an d W ork , Lon d on , 1931, p . 158: “ O m é tod o m a is com u m

d e op e ra çã o e m g ra n d e s g ru p os é e strita m e n te com p a rá ve l a o q u e e m p sicolog ia se ch a m a te n ta tiva e e rro. A a com od a çã o d e p rop ósitos p a rcia is u n s a os ou tros — su a in te r-re la çã o e su a corre la çã o — é fe ita p or m e io d e u m a sé rie d e e sforços d e a ju sta m e n to n os q u a is o ob se rva d or e xte rn o p od e p or a ca so d e te cta r u m p rin cíp io q u e os p róp rios a g e n te s n ã o p od e ria m form u la r. H á , e m su m a , u m a ju sta m e n to p on to p or p on to, m a s n ã o e xiste u m ob je tivo a b ra n g e n te ou q u e se ja re su lta d o d e u m a cord o.”

7 Sir Willia m M on son , N av al Tracts, e d . p or M . O p p e n h e im , 1913, vol. IV,

p . 14.

8 Id e m , p . 15.

9 “ M ire m Dra k e . Su a re p u ta çã o é tã o g ra n d e q u e se u s com p a triota s ju n ta

-ra m -se e m b a n d os a e le p a -ra com p a rtilh a r d a p ilh a g e m .” — Cal. S . P. V e n ., 20 d e

(23)

10O te rm o “ com a n d a n te ” , d u ra n te tod o a q u e le p e ríod o, re fe ria -se à fu n çã o

re a l d a s p e ssoa s, n ã o a u m a p osiçã o e sp e cífica . Pod ia se r a p lica d o a q u a lq u e r p e s-soa n o com a n d o d e u m n a vio.

11“ Tarp au lin ” [n o orig in a l], lon a a lca troa d a , e ra n a q u e la é p oca o q u e se

p od ia ch a m a r d e ca p a d o m a ru jo com u m . Tin h a vá rios u sos. Pod ia se r e m p re g a d a com o cob e rtu ra d u ra n te a n oite ; p od ia p rote g e r d o sol e d o ve n to ou se rvir com o ca p a d e ch u va . Assim , d e n om e d a q u ilo q u e u sa va m com o ve stim e n ta , “ tarp au

lin ” [lon a ] torn ou se a a lcu n h a d os m a ru jos. C om o se tra ta va d e u m a p a la vra g ra n

-d e e p ou co p rá tica p a ra u m a p e li-d o, a o lon g o -d o te m p o con ve rte u -se e m p u ra e sim p le sm e n te “ tar” .

12M on son , N av al Tracts, vol. IV, p . 24.

13M on son ch a m ou a a te n çã o p a ra a d ife re n ça e n tre a a u torid a d e d os com a n

d a n te s d a M a rin h a Re a l, q u e “ re ce b ia m o p od e r d e u m g e n e ra l” , e a d os “ com a n -d a n te s-corsá rios” , q u e , com o re con h e cim e n to, re ce b ia m a p e n a s re p rim e n -d a s. O s ú ltim os, fosse m m a ru jos p rofission a is ou ca va lh e iros, e sta va m e xa ta m e n te n a m e s-m a p osiçã o d os ca p itã e s e d e ou tros s-m a rin h e iros. Tod os e le s sa ía s-m “ à su a p róp ria so r t e ” e n ã o r e c e b ia m p a g a m e n t o . “ Po r t a n t o , e le s su je it a r ã o o c o m a n d a n t e ” , e scre ve u M on son , q u e ob via m e n te fa la va te n d o e m vista su a p róp ria e xp e riê n cia , “ à s m e sm a s con d içõe s, e m su a rotin a , [...] à s q u a is e le s e stã o su je itos. Su a a u tori-d a tori-d e é u m p ou co m a ior q u e a tori-d o ca p itã o tori-d e u m n a vio p ira ta ” (N av al Tracts, vol. IV, p .17). A d ife re n ça e n tre corsá rios e p ira ta s n ã o e ra , n a q u e la é p oca , tã o g ra n d e q u a n t o n o s p o ssa p a r e c e r . O s p r im e ir o s sa q u e a v a m , q u e im a v a m e d e st r u ía m n a vios e stra n g e iros com a p e rm issã o d a ra in h a ou d o re i; os ú ltim os, se m p e rm is-sã o. O ca p itã o J oh n Sm ith , e m su a G e n e ral H istory of V irg in ia, 1629, ca p . 28, citou

u m a va rie d a d e d e oficia is n a va is e liza b e ta n os q u e , n o te m p o d o re i J a im e , p or fa lta d e e m p re g o, p orq u e “ e ra m p ob re s e n ã o tin h a m coisa a lg u m a ” , torn a ra m -se p ira ta s e fora m “ p ie d osa m e n te p e rd oa d os” q u a n d o o re i p re cisou n ova m e n te d e oficia is e xp e rie n te s p a ra su a M a rin h a .

14M on son , N av al Tracts, vol. IV, p . 14.

15G . Pe p ys, N av al M in u te s, e d . p or J .R. Ta n n e r, N .R.S., 1926, p . 119.

16J o u rn a l o f S ir S im o n d s D ’Ew e s , e d . p or W. H . C oa te s, N e w H a ve n , Ya le

(24)

-d o n ã o h ou ve r Pa rla m e n to’, n ós, q u e vim os e ou vim os to-d a a ci-d a -d e e m a rm a s, tod os tra n sform a d os e m sold a d os in e xp e rie n te s, com tod a a p re ste za q u e n os foi p ossíve l, se rvim os, n a á g u a , à su a m a rch a e ju n ta m os n ossa m u n içã o a os m osq u e -te s cita d in os à e n tra d a d a C â m a ra (o Te m p lo d e n ossa se g u ra n ça ) p a ra o -te rror (e sp e ra m os) d e tod os os Pa p ista s e d os In im ig os d o Pa ís [...]. N ós, q u e se m p re va m os a te rra s e stra n g e ira s, p od e m os d ize r, m e lh or d o q u e n in g u é m , q u e n e n h u m g ove rn o sob re a Te rra é com p a rá ve l a e ste ; [...] Ve ja m a s la m e n tá ve is d e sorie n ta -çõe s n a Fra n ça , n a Esp a n h a e n a Ale m a n h a p e la fa lta d e a lg o a ssim [...]. Ag ora o re in o e stá e n volvid o e m u m a g u e rra civil e u m p od e roso Exé rcito d e Pa p ista s (e Ate u s) con trá rios à s con h e cid a s Le is d a Te rra e stá e m Arm a s con tra o Pa rla m e n to p a ra , se p u d e sse m , d e stru í-lo e , a ssim , e sm a g a r a s Le is Tra d icion a is e o PO VO d a In g la te rra , fa ze n d o d e n ós tod os e scra vos e m n ossa re lig iã o, n ossa s im u n id a d e s e n ossos p rivilé g ios. C om p e te a n ós, q u e som os m a ru jos, m ove rm o-n os e n ã o n os p r e c ip it a r m o s, p o r q u e n ó s, e a p e n a s n ó s, c o n d u z ir e m o s a Fr o t a d e n a v io s q u e d e fe n d e e se m p re d e fe n d e u o Re in o d a in va sã o e stra n g e ira [...]” .

S ir J oh n La u g h ton , e m u m e n sa io, “ H istory a n d N a va l H istory” (p u b lica d o

e m N av al an d M ilitary Essay s, C a m b rid g e , 1914, p p . 4 e ss.), e m q u e re cla m a va ,

com fu n d a m e n to, q u e a in flu ê n cia sob re a In g la te rra a trib u íd a à M a rin h a e m e stu -d os h istóricos e ra n orm a lm e n te con fin a -d a à s b a ta lh a s ve n ci-d a s n o m a r, e n o q u a l a firm a va q u e , n a ve rd a d e , ta l in flu ê n cia foi m u ito m a is a m p la , d e u o se g u in te e xe m p lo, e n tre ou tros (p . 7): “ Sa b e -se , cre io e u , q u e , n a G u e rra C ivil d o sé cu lo XVII, a M a rin h a m a n te ve -se fie l a o Pa rla m e n to, m a s, com o n ã o lu tou e m b a ta lh a a lg u m a , o p rove ito p a ra a Asse m b lé ia foi con sid e ra d o in sig n ifica n te , d e sp re zíve l. Som e n te d e p ois d e m a is d e d u ze n tos a n os, o d r. G a rd n e r n os m ostrou q u e a M a ri-n h a foi, ri-n a ve rd a d e , o fa tor d e te rm iri-n a ri-n te d a lu ta ; ri-n o e ri-n ta ri-n to, m e sm o G a rd ri-n e r ri-n ã o ju lg a n e ce ssá rio e xa m in a r p or q u e a M a rin h a ficou d o la d o d o Pa rla m e n to.”

17Rich a rd G ib son , u m fu n cion á rio d a M a rin h a n a é p oca d e Pe p ys e u m a rd

o-roso p a rtid á rio d os m a ru jos, com p a rou e m u m m e m ora n d o (p u b lica d o e m Life an d W ork s of S ir H e n ry M ain w arin g , N .R.S., 1922, vol. II, p p . lxxxvi e ss.) a s a titu d e s e

a s q u a lifica çõe s d e oficia is-ca va lh e iros e oficia is-m a ru jos. Em b ora ob via m e n te p a rcia l, a com p a ra çã o é , e m a lg u n s a sp e ctos, b a sta n te in stru tiva .

“ [...] u m ca va lh e iro é p osto n o com a n d o d e u m (su p o n h a m os) n a vio d e 4a

cla sse com u m a trip u la çã o d e 200 h om e n s; e le tra rá ce rca d e 20 h om e n s p a ra o n a vio — cria d os, a lfa ia te s, b a rb e iros, m ú sicos, p a re n te s a rru in a d os, ca va -lh e iros volu n tá rios ou con h e cid os, a com p a n h a n te s. Tod os se rã o a com od a d os com o im e d ia tos, a sp ira n te s, con tra m e stre s, m e stre s corn e te iros, tim on e iros e tc. e m u ito p rova ve lm e n te re ce b e rã o p a g a m e n tos e q u iva le n te s [...]. O s ca p i-tã e s-ca va lh e iros tra ze m ta n to con sig o a b ord o, n a op in iã o d o b isp o Willia m , p orq u e a Provid ê n cia fe z o h om e m p a ra vive r e m te rra , e é a n e ce ssid a d e q u e o con d u z a o m a r. Q u a n d o ocorre o con trá rio, u m m a ru jo n o com a n d o d e u m n a v io d e 4ac la sse c o m 2 0 0 h o m e n s n ã o t e m n a d a n e m n in g u é m a n ã o

se r os q u e tê m o m a r p or p rofissã o […]” .

Referências

Documentos relacionados

Lisboa:

A etnografia de Nimuendajú está na raiz não apenas do interesse de Claude Lévi- Strauss pelos Jê e pelo dualismo característico de sua organização social, como também daquele

Mas a mesma selva, que garante aos habitantes originais a sua existência como nação, também concedeu asilo aos seus inimigos mais terríveis, aqueles sujeitos quietos, de

“Cosmologies of Capit alism: The Trans-Pacif ic Sect or of t he ‘W orld

** N.T.. no meio do pátio, era formado pelos 14 sobreviventes de uma classe ain- da mais antiga. Se em 1944, a agora não oficial classe de meninos come- çar seu ciclo iniciatório,

Tudo porque eu estava descre- vendo como eram os Bakgatla na reali- dade, que eles iam à igreja, usavam roupas, alguns falavam inglês… e isso não era antropologia para alguns

Este pequeno livro, voltado para a di- vulgação da arqueologia e etnologia indígenas, apresenta com brilhantismo e erudição as linhas gerais da última grande síntese do campo,

O Guru, o Ini- ciador e Out ras Variações Ant ropo- lógicas (organização de Tomke Lask). Rio de Janeiro: Cont ra Capa Livraria.. Os Índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge