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Sobre a classificação das Subordinadas Substantivas / Completivas aquela revisão que você reixpeita! 1

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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Sintaxe do português Profa. Juliana Marins Sobre a classificação das Subordinadas Substantivas / Completivas – aquela revisão que você reixpeita!1 1. As orações introduzidas pela conjunção integrante – ou pelo complementizador – que

Vamos comparar os critérios que orientam a tradição gramatical e os quadros mais recentes na classificação das orações subordinadas introduzidas pela conjunção subordinativa integrante “que”. A tradição gramatical leva em conta um critério morfossintático ao rotular essas orações como substantivas – exercem funções sintáticas que o substantivo pode exercer (dentro de um SD ou de um SP). Observe a função sintática das orações subordinadas abaixo: (1) É ilógico /que acreditemos numa coisa dessas. (2) O repórter escreveu / que eu trabalhava num bunker sem janelas. (3) A Lúcia já desconfia / de que (este) seja um dia mítico. (4) A impressão [de que se trata mesmo de uma toca forrada de livros] é muito forte

(5) Nasceu aí o boato / de que a rainha sofria de uma temível doença chamada Dança de São Beltrão.

(6) Só quero uma coisa: / que me deixem em paz.

Quadros mais recentes classificam as subordinadas levando em conta não as funções que um substantivo pode exercer, mas critérios sintático-semânticos, que indicam se elas são selecionadas por um predicador, isto é, se são argumentos, ou se não são selecionadas, isto é, se são modificadores. No primeiro caso tem as funções sintáticas dos argumentos; no segundo caso, serão modificadores do SV (adjunto adverbial), do N (adjunto adnominal) ou de todo o SD (aposto). A conjunção que as introduz é chamada, no quadro gerativista, de complementizador. Daí serem rotuladas de completivas (Mateus et

alii 2003). Mais recentemente, Raposo et alii (2015) preferem classificá-las como argumentais e não

argumentais. 2. A oração subordinada no período (1) acima é uma completiva de adjetivo na função de sujeito. Outras completivas na função de sujeito podem ser vistas a seguir (observe qual o elemento que as seleciona): (7) __ É uma decepção / que o João tenha tomado essa atitude. (8) __ Decepcionou a todos/ que o João tenha tomado essa atitude.

Em resumo, as completivas podem ter as funções de sujeito, objeto direto, complemento oblíquo de verbo e complemento oblíquo de nome (se selecionadas); se se comportarem como modificadores do N ou do SD, teremos uma oração com a função de adjunto adnominal (ou especificativa) e de aposto, respectivamente – veremos isso mais adiante. 3. Observe agora a oração subordinada em (9): (9) Parece /que caímos no reino do ilógico.

Trata-se de uma oração selecionada pelo verbo parecer e introduzida pelo complementizador “que”, classificada dentro da tradição gramatical como “subjetiva” da sua principal. Entretanto, o verbo “parecer” é impessoal, isto é, não seleciona um argumento externo. Ao contrário das orações em (1), (7) e

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(8) acima, ela não pode ser anteposta à sua principal, ocupando a posição estrutural do sujeito. Veja que a anteposição gera uma estrutura agramatical (indicada pelo asterisco): (1’) Que acreditemos numa coisa dessas / é ilógico (7’) Que o João tenha tomado essa atitude / é uma decepção (8’) Que o João tenha tomado essa atitude / decepcionou a todos (9’) * Que caímos no reino do ilógico / parece

Veja outros exemplos em (10). Não há dúvida de que a função das subordinadas destacadas entre colchetes (desenvolvidas em (10) e reduzidas em (11)), é a de um sujeito, selecionado pelo predicador verbal em (a), adjetival em (b) e nominal em (c): (10) a. __ Surpreendeu o mercado / que o governo tenha tomado essa tão medida radical. b. __ Foi surpreendente / que o governo tenha tomado essa medida tão radical. c. __ Foi uma surpresa / que o governo tenha tomado essa medida tão radical. (11) a. __ Não adianta / insistir naquele pedido. b. __ É impossível / conseguir ônibus a essa hora. c. __ É uma aventura / andar por aquele bairro à noite.

Nos casos acima, em que a oração subordinada é argumento externo do predicador, é possível a anteposição à sua principal, assumindo a posição obrigatoriamente ocupada pelo argumento externo não oracional, como mostram os exemplos em (10’) e (11´):

(10´) a. Que o governo tenha tomado essa medida tão radical / surpreendeu o mercado. (= isso surpreendeu o mercado) b. Que o governo tenha tomado essa medida tão radical / foi surpreendente. c. Que o governo tenha tomado essa medida tão radical / foi uma surpresa. (11´) a. Insistir naquele pedido / não adianta. (= isso não adianta) b. Conseguir ônibus a essa hora / é impossível. c. Andar por aquele bairro à noite / é uma aventura.

No caso, porém, de orações selecionadas por verbos inacusativos, como os predicadores em (12), a subordinada não tem essa mobilidade: (12) a. Ocorre / que a as medidas não tiveram o efeito desejado. b. Acontece / que o meu coração ficou frio (Cartola). c. Convém / que todos compareçam às urnas. d. Acabou / que o dinheiro prometido não chegou.2 e. Basta / que ele me ajude.

A anteposição dessas subordinadas gera sentenças agramaticais (12’), o que se deve ao fato de elas funcionarem como argumento interno do verbo: (12´) a. *Que a as medidas não tiveram o efeito desejado / ocorre. c. *Que o meu coração ficou frio] acontece. d. *Que todos compareçam às urnas / convém. e. *Que o dinheiro prometido não chegou / acabou. f. *Que ele me ajude / basta. 2 No caso do verbo acabar, temos aí também uma estrutura de alçamento. Note que o sujeito da oração encaixada pode se realizar na posição de sujeito de acabar, com em (i) abaixo: (i) O dinheiro prometido acabou que não chegou.

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Apesar da impossibilidade de mobilidade, as orações subordinadas em (12) exercem função sintática de sujeito do verbo inacusativo. O sujeito de um verbo inacusativo, se não for oracional, como já visto, pode ocupar posição pré- ou pós-verbal: (12’’) a. Ocorre isso. / Isso ocorre. b. Acontece isso. / Isso acontece. Além desses predicadores verbais, podemos citar outros, que só se diferenciam dos que se encontram em (12) pelo fato de selecionarem uma oração completiva reduzida, como ilustramos em (13): (13) a. Só faltou / eu perguntar quem era o goleiro. b. Basta / você me ajudar. c. Custou / (pra) eu perceber que ele era trapaceiro. d. Demorou / (pra) ela conseguir um emprego. Também com esses verbos, a anteposição soa agramatical ou estranha: (13’) a. *Eu perguntar quem era o goleiro / só faltou. b. *Você me ajudar / basta. c. *(pra) Eu perceber que ele era trapaceiro / custou. d. *[(pra) Ela conseguir um emprego / demorou.

Uma última observação sobre as estruturas com parecer e as destacadas em (13). Se não é possível antepor toda a subordinada, podemos mover um constituinte dela (o sujeito) para posição estrutural do sujeito junto ao verbo da principal: (14) a. A medida parece que ___ deixou todos insatisfeitos. b. Eu só faltei / ___ perguntar quem era o goleiro (João Ubaldo, crônica, O Globo) c. Eu custei / pra ___ perceber que ele era trapaceiro (fala popular – PEUL) d. Ela demorou / pra ___ conseguir um emprego 4. Orações com função de adjunto adnominal ou “especificativas”

Antes da constituição da NGB, os gramáticos apontavam para a presença de orações introduzidas pela conjunção que que exerciam a função de adjunto adnominal, em contraste com aquela que eram complementos do nome. Entretanto, na simplificação da NGB e na maioria das gramáticas tradicionais, esse tipo de subordinada desaparece. É inegável, porém, que as subordinadas em (15) se distinguem das subordinadas em (16): (15) a. [A impressão [de que se trata mesmo de uma toca forrada de livros] ] é muito forte b. Discutimos [a possibilidade [de que todos pudessem conseguir um trabalho] ].

(16) a. Nasceu aí [o boato [de que a rainha sofria de uma temível doença chamada Dança de São Beltrão]].

b. Ouvimos [a notícia [ de que o metrô vai chegar ao Fundão] ].

Em gramáticas recentes, elaboradas com base em teorias linguísticas diversas, essa distinção nem sempre é feita, como o que ocorre com a gramática de Mateus et alii (2003), que consideram tanto as estruturas em (15) quanto as estruturas em (16) como completivas de nomes. A antiga distinção, é, entretanto, resgatada na Gramática do Português (Raposo et alii 2013, Cap. 36, pp 1879-1881, de autoria de Pilar Barbosa). Segundo a autora:

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“As orações dependentes de nomes podem ser de dois tipos diferentes: completivas e especificativas. As primeiras funcionam como argumentos selecionados pelo nome, portanto, complementos com o mesmo estatuto dos complementos dos verbos ou dos adjetivos; as segundas funcionam como modificadores”. Consideremos os exemplos apresentados pela autora para fundamentar essa distinção: (17) a. [A luta [por que se fizesse justiça]] acabou por dar seus frutos. b. A criança tem [pena [de que os pais não estejam presentes]]. c. Ela manifestou [ interesse [em que a fossem visitar]]. (18) a. Surpreende-me [o facto [de que estamos face a uma pandemia]]. b. Ganhou [a proposta [de que eu se avance com a greve]]. c. Ele não gostou nada d[a ideia [de que o exame fosse adiado]]. Em (17), cada subordinada é argumento do nome que a seleciona, “descrevendo a situação que constitui o objeto da luta, da pena ou do interesse”. A relação que a oração subordinada estabelece com o nome é, assim, semelhante àquela que um complemento mantém com um verbo ou um adjetivo. Sendo argumentos, “elas podem ser substituídas por um pronome demonstrativo neutro invariável, tal como sucede com os complementos oracionais de uma forma geral (cf. a nossa luta por isso acabou por dar seus frutos; a criança tem pena disso; ela manifestou interesse nisso).” Em (18), “a relação estabelecida entre o nome e a oração subordinada é de natureza diferente. Nestes casos, o papel da oração é tornar explícito o conteúdo do sintagma nominal simples que a antecede [...] ou seja, especificar em que consiste o facto, a proposta ou a ideia”. Isso fica evidente quando se observa que a relação semântica que se estabelece entre a subordinada e o sintagma nominal que a precede pode ser expressa numa estrutura com o verbo de ligação, “em que a subordinada especifica o conteúdo do sintagma nominal do qual depende”. (19) a. O facto é [que estamos face a uma pandemia]. b. A proposta é [que eu se avance com a greve]. c. A ideia é [que o exame fosse adiado].

“Em consequência, não é possível substituir a oração subordinada por um demonstrativo neutro,

contrariamente ao que sucede com as orações completivas e os complementos em geral (cf. *surpreende-me o facto disso; *ganhou a proposta disso; *ele não gostou nada da ideia disso).

“Essas orações, têm, portanto, a função de especificar o valor semântico do sintagma nominal que as precede e ocorrem unicamente com nomes cujo conteúdo pode ser descrito por meio de uma proposição, como decisão, facto, hipótese, tese, ideia, questão, solução, notícia, etc.” 5. Outras estruturas “completivas” Para completar o quadro das orações “substantivas” (GT) e o das “completivas”, é necessário acrescentar ainda dois tipos de construções: a) as orações interrogativas indiretas, sempre com a função de objeto direto. Elas que podem ser globais (ou totais), quando introduzidas pela conjunção integrante/complementizador se), como em (20), ou parciais, se introduzidas por um pronome ou advérbio interrogativo, como em (21):

(20) a. Não sei [se o Brasil vai se sair bem na Copa]. (O Brasil vai se sair bem na Copa?)

b. Eu me pergunto [se a Baía de Guanabara algum um dia ficará despoluída]. (A Baía de Guanabara algum dia ficará despoluída?)

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b. Eu me pergunto [ o que impede a despoluição da Baía de Guanabara]. c. Eu me pergunto [ quando conseguiremos despoluir a Baía de Guanabara]. d. Eu me pergunto [ por que não conseguimos despoluir a Baía de Guanabara].

Atente para o fato de que as subordinadas destacadas é que são as interrogativas “indiretas”. A interrogação pode recair sobre a oração principal e neste caso o que teremos é uma interrogativa direta: (22) a. Ele te contou [se vai à minha festa]? b. Ele te contou [que vai à minha festa]? b) as orações justapostas

Dois tipos de orações subordinadas podem aparecer sem qualquer marca de subordinação: não estão reduzidas nem introduzidas por complementizador. Esse tipo de organização é conhecido como justaposição. Veja em (23) períodos com orações subordinadas justapostas. (23) a. Ele me perguntou: [onde fica a saída para a Avenida Brasil?] b. Ele me disse: [ você não é meu amigo] c. Ele fez uma declaração: [só quero sossego].

Olhando para a estrutura de cada principal, você verá que os predicadores de (23a,b) selecionam um argumento interno, que corresponde às orações subordinadas, com a função de objeto direto. A principal de (23c) tem sua estrutura argumental satisfeita; a subordinada apenas contribui para a construção da referência do complemento “uma declaração”, sendo, portanto, uma oração com função de aposto.

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