O QUE ENTENDER POR
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO
I n: WULF, Christ oph. Antropologia da educação.
Cam pinas, SP: Alínea, 2005, p. 17- 21.
Est e fragm ent o faz part e da Introdução do livro.
A ant ropologia da educação const itui um dom ínio prim ordial do saber ant ropológico at ual, caract erizado pelo pluralism o e pela diversidade. Assim sendo, nenhum a t eoria pedagógica produz sozinha o saber necessário à educação. O m esm o ocorre com o saber ant ropológico. A ant ropologia norm at iva, fundada sobre a validade universal das religiões e ideologias, não existe m ais. Pelo cont rário, t odo saber antropológico é plural e het erogêneo. É por isso que o saber produzido pela ant ropologia da educação é t am bém um saber relat ivo, fragm ent ado, provisório e lim it ado ( Wulf, 1997) .
O saber ant ropológico tem um papel im port ant e t ant o no cam po das ciências da educação quanto no dom ínio da pedagogia prát ica ( Wulf, 1995a) . Cada pesquisador, cada educador, cada professor possui um saber ant ropológico sem o qual ele não poderia li"h"lhu!'. Nos diferent es casos, t rat a- se de um saber antropológico t rabalhar. Com o t odo saber im plícit o, o saber ant ropológico não pode ser facilm ent e reflet ido. Não podem os m udá- lo sem um t rabalho profundo. Desse m odo, é necessário, t ant o aos que lidam com as ciências da educação quanto aos educadores, t om ar consciência dos post ulados ant ropológicos que fundam entam o t rabalho educacional. É por isso t am bém que é preciso est abelecer um a at itude ant ropológica para a pedagogia ou para a educação ( Wulf; Zirfas, 1994) .
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t em po a relação com o t em po cria um a perspectiva nova, segundo a qual não exist e verdade em si e por si, e t odo conhecim ent o precisa ser considerado em sua relação com det erm inado cont ext o ( Kam per; Wulf, 1994) .
O saber ant ropológico é relat ivo. Não há m ais um sist em a de referências assegurado. Assim , ant ropologias norm at ivas não são possíveis. É por isso que o saber ant ropológico não pode m ais exigir um reconhecim ent o diferent e daquele possibilit ado às out ras disciplinas das ciências da educação. Essa igualdade de posição se j ust ifica m ais acent uadam ent e na m edida em que os nexos ent re o saber ant ropológico da pedagogia e das diferent es disciplinas das ciências sociais, que t êm relações com a educação, são vagos e incertos. O saber ant ropológico não est á ligado a um t ópico fixo, e não pode m ais ser definido de um a vez por t odas.
Além do m ais, o saber ant ropológico cria novas quest ões, perspect ivas e novos t em as nas ciências da educação. O fim da época em que dom inavam os sist em as ant ropológicos fechados sobre si m esm os oferece ocasiões para se produzir novos t em as. Algum as das novas perspect ivas, que em ergem dest a nova sit uação de cruzam ento ent re a ant ropologia e as out ras disciplinas conexas a educação, podem ser expost as sobre a form a de t eses ( Wulf, 1997) .
A antropologia pedagógica t orna- se um a antropologia h ist ór ica e cu lt u r a l da e du ca çã o, que leva em cont a a hist oricidade e a cult uralidade do
pesquisador e de seu obj et o. A ant ropologia hist órica e cult ural da pedagogia procura ainda relacionar suas perspect ivas e m ét odos com as perspect ivas e m ét odos de seu obj et o. Seu obj et ivo não é m ais a invest igação do hom em ou da criança com o seres universais, m ais de hom ens e crianças com o seres reais, dent ro de cont ext os hist óricos e sociais específicos. Nessa perspect iva, a idéia de um conceit o global de hom em perde o seu valor. A ant ropologia histórica e cult ural da educação não se lim ita a cert as cult uras e a cert as épocas. Na reflexão sobre a sua própria hist oricidade e cult uralidade, ela pode superar o eurocent rism o das ciências hum anas e o int eresse puram ent e historicist a da hist ória. Sendo assim , ela se envolve com problem as não resolvidos do present e e do fut uro ( Schäfer, Wulf, 1999; Bilst ein; Miller- Kipp, Wulf, 1999) .
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fant asm as da onipot ência ou im pot ência da pedagogia, e de out ro, a t em at ização da t ensão entre a possibilida de de t or n a r o h om e m pe r fe it o e a h ipót e se con t r á r ia da im possibilida de de m u da r o h om e m, e de
m ost rar assim a possibilidade e os lim it es da educação e da form ação. Dessas t arefas, decorre um a focalização int ensiva na produção hum ana, at ravés do exam e e da conscient ização dos lim ites biológicos, sociais e cult urais do processo de form ação do hom em que é a educação. Nos últ im os anos, t em - se const at ado esses lim it es da produção hum ana. Eles aparecem nas expressões populares: "lim ites de crescim ent o , "a t ecnologia dos genes", "a sociedade em risco". A hum anização do m undo parece aum ent ar sim ult aneam ent e com o perigo de sua própria dest ruição ( Lüt h; Wulf, 1997) .
A ant ropologia da educação deve incluir um a cr ít ica a n t r opológica de
sua própria com preensão, que enfoque seu cam po de com pet ências e seus lim ites, Por exem plo, a crít ica da ant ropologia deve t rabalhar sobre as sim plificações que result am das com parações do hom em com o anim al da ant ropologia t radicional. Ela deve t am bém levar em cont a os e~ os decorrent es da dist inção popular ent re natureza c cultura. Ela deve ainda se encarregar de evit ar as reduções do hom em em nom e da obj et ividade. A crít ica ant ropológica exam ina os conceit os cent rais, os m odelos, os procedim ent os da ant ropologia pedagógica e ret 1et e sobre as condições de legit im idade dos conhecim ent os que ela produz ( Kam per; Wulf, 1994) .
A ant ropologia da educação t em por t arefa a análise, a organização, a reavaliação e a produção do saber através das ciências da educação, bem com o a desconstrução dos conceit os da educação, num a perspect iva ant ropológica. I sso pode se dar com a desconst rução da educação negat iva de Rousseau, da educação elem ent ar de Pest alozzi ou ainda da form ação universal de Von Hum boldt . At ravés de t ais procedim entos, pode se m ost rar, por exem plo, que, graças a um novo enfoque ant ropológico, novas dim ensões de velhos problem as podem ser descobert as. Assim , os cont ext os hist óricos podem ser exam inados sob um novo ângulo, perm it indo surgir, com a desconst rução, novos pont os de referência para a t eoria e a ação pedagógicas.
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o desaparecim ent o dos pont os de referências universais. A ant ropologia da educação m ostra com o as conseqüências dessas dificuldades dependem da relação delas com suas próprias condições de produção. Ela é, port ant o, reflexiva.
As diferent es discussões que const it uem a ant ropologia da educação
são às vezes contradit órias. Discussão significa aqui as form as consistent es
de pensam ent o e de linguagem reveladoras dos cont ext os educacionais part iculares. Elas cont ribuem para a construção da percepção e criação de novas est rut uras e conceit os de educação; elas são expressão de prát icas do poder na sociedade, no m undo cient ífico e nas inst it uições pedagógicas. No quadro das ciências da educação, as discussões ant ropológicas apresent am quest ões, perspect ivas e conhecim ent os im port ant es para o pensam ent o e para a ação no cam po educat ivo ( Wulf, 1997) .
A ant ropologia da educação é plural. Por isso, ela desconfia das consolidações precipit adas do seu saber e perm anece abert a para acolher o "diferent e". Graças a est e pluralism o ( que diverge de um a atit ude que nivela t udo) , um a abert ura original para o t rabalho interdisciplinar a leva a se int eressar m ais pela com plexidade do que pela redução do saber ant ropológico. O saber da educação constit ui- se a part ir de condições específicas definidas pela cultura e pela linguagem , sobret udo num m om ent o histórico em que as dim ensões "int ernacional" e "int ercult ural" assum em um lugar cada vez m ais im port ant e.
Atualm ent e, m uit os conhecim ent os transm it idos pelo sistem a educacional não correspondem às expect at ivas das pessoas; o que coloca o problem a da adequação do saber educacional com a realidade social, instit ucional e pedagógica. Na m edida em que o saber pedagógico cont ribui para a produção e a form ação da geração seguint e ( Liebau; Wulf, 1997) , ele deve im plicar a aut ocom preensão hum ana e a problem át ica da perfect ibilidade ou não- perfect ibilidade do hom em . No context o do saber da educação, essa problem át ica est á no cent ro da reflexão e da pesquisa ant ropológica.
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relacionada com o aparecim ento dos novos m eios de com unicação e de suas conseqüências sociais; a segunda est á relacionada com o novo cont ext o econôm ico e dem o gráfico que caract eriza a Europa at ual. Desse novo cont ext o, result am conseqüências para a educação e a form ação, a aprendizagem e a confront ação com experiência prát ica ( Wulf, 1998; Dibie; Wulf, 1998; Morin; Wulf, 1997; St ing; Wulf, 1994) .
A ant ropologia da educação é em part e um a ant ropologia construt ivist a. I sso significa que ela não pret ende, em suas pesquisas e reflexões, ser capaz
de com preender o ser hum ano. Pelo cont rário, ela sabe que sua concepção de
hom em depende de condições part iculares, t ais com o os dados históricos e culturais, que não podem ser com preendidas senão com o const rução. Na m edida em que os sistem as dedut ivo- norm ativos da produção do saber ant ropológico da educação são superados, é necessário desenvolver um a ant ropologia histórica e cult ural da educação que se elabora num m ovim ent o const rut ivist a e reflexivo ( Paragrana, 1994, 1998) .
Num a perspect iva ant ropológica, os seguint es crit érios caract erizam a ant ropologia da educação: a corpor alidade, a est ét ica, a hist or icidade, a
plur alidade, a cult ur alidade, a int ercult ur alidade, a multi e
t r ansdisciplinaridade, a cr ít ica e a r eflexibilidade. No que concerne ao
cont eúdo, os problem as int ernos às ciências sociais revelam o quant o a pesquisa ant ropológica é indispensável para o saber educacional.