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COERÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES

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Academic year: 2019

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Coe r çã o

e s u a s i m p l i c a ç õ e s

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COERÇÃO

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Murray Sidman

COERÇÃO

E SUAS IMPLICAÇÕES

T r a d u ç ã o M a r i a A m á l i a A n d e r y

T e r e z a M a r i a S é r i o

Associação U m f& tá a P sufe ta de j Ensfno R e nova te O bfeiivo • A ssupe ra f ■ ...— ...

D a t a 1 N’’ d e C h a m a d a

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T o m b o ! R e g is tra d o por

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E d ito r a L iv r o P le n o

(6)

Copyright Q 1989 by Murray Sidman

Co n sel i .o edi t or i al

Glauci Estela Sanchez

T r a d u ç ã o Maria Amalia Andery

Tereza Maria Sério

C o o rd e n a ç ã o e d ito ria l Glauce Estela Sanchez

ISBN: 87-87622-22-6

Direitos reservados para a língua portuguesa:

E d ito r a L iv r o P le n o

e m a il: e d liv r o p le n o @ u o l.c o m .b r

(7)

& a * a n'M//tÁ<7. eúfioáa, S R /'fa j y u e é,

■nuiifo fioóâivvlm ewte, a fieM oa

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(9)

P r e f a c i o

E u escrevi este livro p a ra dizer algum as coisas que de h á m uito p en sav a que precisavam ser ditas, não ap en a s p ara colegas profissionais m as p a ra todas as p esso as que estão p reo cu p a d as com n osso fu tu ro como espécie. Mesmo quando adolescente, de algum m odo tornei-m e consciente de que o m u ndo estav a se com plicando. O m u ndo tin h a problem as reais e não os estav a en fren tan d o . M inha visão e ra m atizad a não ap en a s pela experiência pessoal, q u e era b a sta n te lim itada. M inha fam ília e ra relativ am en te seg u ra e não- punitiva e a m aioria de m eus estresses m ais severos vieram das g a n g s e rra n te s que de tem pos em tem pos assolavam n o ssa vizinhan­ ça em b u sc a de garotos p ara bater. M as eu era tam bém um leitor assíd u o e o que lia sobre a crueldade sem sentido d as p esso as e su a hipocrisia era q u ase inacreditável. Como podiam os seres hu m an o s fazer a s coisas que estavam sem pre fazendo u n s aos o u tro s? Os tem as predom inantes n a s notícias ou rom ances eram g u erras, a s s a s ­ sinatos e outros tipos de violência pessoal, opressão política e religio sa, negócios políticos e em presariais inescrupulosos, traições de am i­ gos e am an tes, doença m ental e egocentrism o m esquinho. E, com o se p ara confirm ar m eu desencanto, a II G uerra M undial com eçou ex ata­ m ente qu an d o tin h a idade suficiente p ara participai' dela.

Logo após a II G uerra M undial, a m aioria de nós ain d a não com preendia a enorm idade da força d estru tiv a que havia sido libera­ da. Nós n ão havíam os nos resignado à possibilidade de que n ossa geração poderia ser a últim a. O ceticism o geral sobre se as coisas

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lh as, que acreditavam que a s coisas não precisavam se r do modo como eram . E o final d a II G u erra M undial parecia, de algum modo, m a rc ar u m possível recom eço. As forças realm ente g ran d es do m al pareciam te r sido v arridas do m apa: talvez p u d éssem o s agora co n ti­ n u a r, livrando-nos do resto da violência sem sentido a que c a ra c te ­ risticam en te su b m etíam o s u n s aos outros. M as não aco n teceu deste modo. Por que n ão ?

A g ran d e qu estão era: "Como fazer isto ?” Como fazer as m u ­ dan ças que n o ssa sociedade, ex a u sta pela d estru ição e pelo sofri­ m ento, parecia p ro n ta p a ra fazer? A m aioria d as soluções pro p o stas envolvia m u d a n ças em n o ssa s instituições. P ara alguns, u m a nova form a de governo era a resposta. O utros viam o progresso ap en a s no contexto de m u d a n ças no sistem a econômico. O utros ain d a acred i­ tavam que a educação era a chave. Mas havia u m a arm ad ilh a em to d as as pro p o stas de reform a econôm ica, política ou educacional. A quelas instituições, aqueles sistem as, não nos eram d ados de fora, prontos. Nós m esm os os fizemos. Q u aisq u er v irtudes e fraquezas que n o ssa s instituições tivessem eram n o ssa s pró p rias v irtu d es e fraquezas.

T ornou-se claro que os problem as prim ários não estão em n o ssas instituições, m as em nós. De algum m odo tem os q u e nos tran sfo rm a r se pretendem os co n stru ir sistem as que su ste n te m coo­ peração, solidariedade, ju s tiç a e, de form a m ais geral, abordagens racionais aos problem as que inevitavelm ente su rg em q u an d o grande n úm ero de p esso as tem de co m p artilh ar recu rso s lim itados.

Como vam os m u d a r a n ó s m esm os? M uitos tipos de p ropos­ ta s tèm sido feitas. Há m uito tem po, antropólogos reconheceram que como espécie ain d a não com pletam os n o ssa ad ap tação física à n o s­ sa p o stu ra ereta, à alim entação m acia, ao prolongam ento d a vida por meio de m edidas sa n itá ria s e de m edicina preventiva. Sofrem os m u itas doenças e desconfortos porque n o ssa p o stu ra ereta n ão pro­ vê su ste n ta ç ã o ad eq u ad a nem p a ra nossos órgãos internos, nem p ara os arcos de n o sso s pés; n o ssa s d ietas estão to rn an d o nossos d en tes b a sta n te d esnecessários; m uitos processos im unológicos não são m ais n ecessário s p a ra nos proteger de m u d a n ças am b ien tais e, em vez disso, m anifestam -se como alergias e, com a própria saú d e física desem p en h an d o um papel cad a vez m enor n a determ inação d a d u ração de n o ssa s vidas, o envelhecim ento traz com ele ain d a novas doenças. A lguns afirm am que resto s de n o ssa h eran ç a física geram sofrim ento e m iséria, m an ten d o -n o s em lu ta u n s co n tra os outros.

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E les su g e re m q u e o m u n d o se ria u m lu g a r m e lh o r se n o s liv rá s s e ­ m o s de to d o s a q u e le s co m os q u a is é im p o ssív el conviver p o r c a u s a do so frim en to físico. S u a s so lu ç õ e s in c lu e m m e lh o ria d a esp écie p o r m eio d a e u ta n á s ia ra d ic a l, liv ran d o -se , em vez de p ro lo n g a r a vida, d a q u e le s q u e n a s c e ra m com defeitos ou q u e os a d q u irira m p o rq u e vivem d em ais.

E u ta n á s ia e x tre m a , e lim in a n d o q u a lq u e r u m q u e so fra de d eficiên cias p re s u m id a s , foi te n ta d a em la rg a e s c a la pelo m en o s u m a vez. As te n ta tiv a s d o s n a z is ta s to m a r a m óbvios o s h o rro re s in e re n te s em d efin ir a rb itra ria m e n te o q u e é c o n sid e ra d o “d e fic iê n ­ c ia ”, em e sp e cificar o q u e é “u m p ro b le m a ” e em d e te rm in a r o q u e é “d ese já v el”. A p rá tic a re q u e r a s s a s s in a to s legalizado s em la rg a e s c a ­ la e sem u m fin al à v ista. E lim in a r a p e n a s os id o so s e en ferm o s — a q u e le s q u e n ã o m a is g eram e c ria m c ria n ç a s — n ã o te ria efeito so b re a evo lu ção d a esp écie. E se n ó s te n tá s s e m o s a tin g ir a “p u re z a g en é tic a ” pelo o u tro lad o — e lim in a n d o c ria n ç a s físic a e m e n ta lm e n ­ te d efic ien tes — o p ro c e sso ev o lu cio n ário lev aria a in d a c e n te n a s de g eraçõ es. E ste te m p o n ã o e s tá à n o s s a d isp o siç ão .

P ro p o s ta s p a r a p ro d u z ir u m a esp é cie m a is sa u d á v e l e talvez m a is am igável p o r m eio d e c ru z a m e n to s c o n tro la d o s têm o m esm o p ro b le m a — n ã o te m o s te m p o su ficien te . A vanços m o d e rn o s n a g e ­ n é tic a in d ic a m q u e m u d a n ç a s rá p id a s to rn a r-s e -ã o p o ssív eis em u m fu tu ro n ã o tã o d is ta n te . Q u ão p ró xim o é e ste fu tu ro n ã o p o d em o s a in d a s a b e r co m ce rteza . E sa b e m o s a in d a m e n o s so b re com o g en e s e c o n d u ta se re la c io n a m . Q u e tip o s de h e r a n ç a fa rã o com q u e a p li­ q u e m o s to d a n o s s a in te lig ê n c ia em n o s s o s p ro b le m a s m a is crítico s? Q u e tipo d e m u d a n ç a s g e n é tic a s h ã o d e n o s fazer re s p o n d e r à f r u s ­ tra ç ã o com a ra z ã o e n ã o co m a a g re ssã o ? P o dem os fazer c la n e s de p ro fe sso re s q u e u s a r ã o m é to d o s p o sitiv o s em vez de coercitivos p a r a e n s in a r os jo v e n s? E a s s im p o r d ia n te . M esm o q u e se prove se r p o ssív el u s a r n o s s a c re s c e n te c o m p re e n sã o d a g e n é tic a p a r a a c e le ­ r a r o p ro c e sso ev o lu cio nário n o rm a lm e n te len to , n ã o e s tá claro , em a b s o lu to , q u e d e sc o b rire m o s com o fa zer isto v a n ta jo s a m e n te , a n te s q u e n o s envolvam os n isto .

O q ue p o u co s tê m co n sid e ra d o é a p o ssib ilid a d e de q u e p o d e ­ m o s fa z e r m u d a n ç a s c o m p o rta m e n ta is se m a lte ra r n o s s o s p ro c e sso s biológicos o u n o s s a c a rg a g en é tic a. Nos ú ltim o s c in q ü e n ta a n o s a a n á lis e c o m p o rta m e n ta l te m n o s e n s in a d o m u ito so b re com o o a m ­ b ie n te in flu e n c ia o co m p o rta m e n to . D e n tro d os lim ites de n o s s a h e r a n ç a bio ló g ica a tu a l, n o s s a c o n d u ta é fo rte m e n te c o n tro la d a pelo s e u s e ttin g a m b ie n ta l e s u a s c o n s e q ü ê n c ia s a m b ie n ta is . E a a n á lise c o m p o rta m e n ta l ta m b é m te m n o s m o stra d o q u e a u to c o n tro le é re a

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com portam ento. C ontrolar a n ó s m esm os é m u d a r o am biente de m an eira ta l que se m ude n o ssa própria co n d u ta e fazê-lo porque isso m u d a n o ssa p ró p ria conduta. Há ta n ta s possibilidades de m u ­ dança, m esm o sem m anipulação genética, que a lte ra r algum as das relações críticas en tre am biente e com portam ento é o único cam inho prático a p erco rrer se realm ente quiserm os m u d a r n o ssa c o n d u ta a n te s que seja ta rd e dem ais.

Um ponto de v ista b a sta n te difundido m as erróneo afirm a que ap en a s alterações superficiais podem se r realizad as d e sta m a­ neira. M uitos ain d a acreditam que u m a an álise d a s relações en tre n o ssa c o n d u ta e nosso am biente não atinge n o ssa n a tu re z a real. Nós gostam os de ver a n ós m esm os como agentes in d ep en d en tes, n ão como u m lo c u s de variáveis controladoras. P ara m u ito s o “eu re a l” co n siste daqueles sen tim en to s, p en sam en to s e anseios, os m ais profundos, que n inguém m ais poderá seq u er conhecer. E isto é verdade, ninguém m ais pode m esm o conhecer n o ssa “p esso a in te r­ n a ” por meio de experiência direta. Tom ando isto como certo, deve­ m os tam bém reco n h ecer que n a m edida em que se co n sid era o resto do m undo, o que eles podem ver é o “você re a l”. Isto é tu d o com que os o u tro s podem lidar. E o que eles podem ver, aquilo com o que podem lidar, são n o ssa s ações. Podem os co n sid erar n o ssa pesso a in tern a como n osso verdadeiro s e lf, m as p a ra o re sta n te do m undo, nós som os o que nós fazemos. Se pretendem os m u d a r n o ssas in te ra ­ ções u n s com os outros, terem os de m u d a r o que nós fazemos. M udando n o ssa c o n d u ta m udam os a n ós m esm os.

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A g r a d e c i m e n t o s

(14)
(15)

S u m á r i o

A g ra d e c im e n to

...

x i

P re fá cio

...

vii

In tro d u çã o ... ... 17

N ó s fa z e m o s is so o te m p o t o d o ... ... 17

A n á lise d o c o m p o r ta m e n to ... ... 2 0 A n á lise do com portam ento, pun ição , terap ia e l e i

...

21

A c o m p le x id a d e d a co n d u ta d esa fia a a n á lis e ... 2 5 O lab oratório p o d e n o s d izer a lg u m a c o i s a ? ... 2 7 O s n ão-hum anos têm algo a nos d iz e r ?

...

28

N ós j á sabem os tu d o ?

... ...

30

C A P I T U L O 1: E S T E M U N D O C O E R C I T I V O ...33

O am b ien te h o s t il...35

A com u n id ad e h o s t il... ... 3 9 C A P I T U L O 2 : N E M T O D O C O N T R O L E É C O E R Ç Ã O ... 4 4 C ontrole c o m p o rta m en ta l... 4 4 C o m p orta m en to

...

44

C om portam ento e sua s c o n se q u ê n cia s

...

48

0 q u e é c o e r ç ã o ? ... 51

R eforçad ores e R e fo rç a m e n to

...

51

R efo rça m e nto p o sitiv o e n e g a tiv o

... ... ...

55

P u n iç ã o

...

59

(16)

A c o n d u ta po de s e r a n a lis a d a ? ... 6 5

O q u e significa “fazer u m ex p e rim en to ”? ... 69

Do ra to à h u m a n id a d e ... 74

CApÍTulo 4 ; A puNiçÃo Funcíoina?... 8 0 O q u e h á n e la p a r a n ó s ? ... 80

Com o se e s tu d a a p u n iç ã o ? ... 83

O q u e re a lm e n te a c o n te c e ? ... 85

CApÍTulo 5: ToRNANdo^SE UM CHOQUE... 9 2 P u n ição tem efeitos c o la te ra is... 92

De m al a pior: com o n o vos p u n id o re s sã o c o n s tr u íd o s ... 9 4 A im p o rtâ n c ia d a p u n iç ã o c o n d ic io n a d a ... 101

CApÍTulo 6: FuqA... 10 4 A p ren d en d o p o r m eio d a f u g a ... 107

R eforçam ento negativo e p u n iç ã o ... 111

CApÍTulo 7: Ro t a s ò e fuqA... ... 1 1 3 D e slig a n d o -s e ... 113

C ris e d e g e r e n c ia m e n to... 114

D e ix e o Z é J a z e r i s s o... 115

F a z e r n a d a... ... 116

D e s is tin d o ... 117

D e s is tin d o d a e s c o l a... 118

D e s is tin d o d a fa m ília... 124

D e s is tin d o d a re lig iã o... 125

D e s is tin d o d a s o c ie d a d e... 129

S u ic íd io... 132

CApÍTulo 3: E squíva... 135

U m a p ita d a de p re v e n ç ã o ... 135

As c a u s a s d a e sq u iv a ... 136

C h o q u e fu tu r o ?... 137

M ito #1: “e x p e c ta tiv a s ” com o c a u s a s... 139

M ito #2: “m e d o ” ea n s ie d a d e" com o c a u s a s... 140

E s q u iv a s e m s in a is d e a v is o... 144

(17)

CApÍTulo 9: ApRENCÍEI\do POR me ío cIa e s q u ív a... 146

O q ue m a is vem com a e sq u iv a ? ... 149

M a n te n h a s e u n a r iz lo n ge d e p r o b le m a s... 149

N ão b a la n c e a c a n o a... 150

M a te -o s t o d o s... 151

A prendizagem le n ta ... 152

E s p e r e a té q u e d o a... 153

D e str u iç ã o nu clear: e la é e v i tá v e l?... 154

N ã o p o d e a c o n te c e r c o m ig o... 155

S u p e rstiç õ e s... 156

E v itan d o o in e v itá v e l... 157

F u g a d a e s q u iv a ... 162

Ca pít uIo 10: Co m o n o s e s q u ív a mo s? ... 165

E sq u iv a a d a p ta tiv a ... 165

P erm an e cen d o fora do m u n d o ... 167

Não é p ro b lem a m e u ... 168

Q uem p o rá a b o ca n o tr o m b o n e ? ... 173

Se vende, deve se r b o m ... 176

Ca pít uLo 1 1: Ne u r o s e e doENÇA me n t aI ... 179

M ecan ism o s de d efesa c o n tra a c o e rç ã o ... 179

F o b ia s ... 180

F o rm a ç ã o d e r e a ç ã o... 182

S u b lim a ç ã o... 183

P ro je ç ã o... 184

D e s lo c a m e n to... 185

R e g r e s s ã o... 186

O b s e s s õ e s e c o m p u ls õ e s... 187

D e s o r d e n s d e c o n v e r s ã o... 189

A m n é s ia , fu g a e p e r s o n a lid a d e m ú ltip la... 190

O q u e é “a n o rm a l”? ... 193

CApíruio 1 2: Co e r ç ã o ea c o n s c íê n c ía... 197

O rig en s d a c o n s c iê n c ia ... 198

C o n sciên cia e c o n tr o le ... 202

P o d e m o s c o n fia r n a c o n sc iê n c ia ? -... 2 03 CApÍTulo 1 5: En t r e a c r u z e a c aIcIe ír ínÍha... 2 0 7 S u p re s s ã o co n d ic io n a d a ... 208

F ora d o la b o ra tó rio... 211

Á e c o n o m ia d a a n s i e d a d e... 216

(18)

A g re ssã o ... 2 2 0 C o n tra c o n tro le ... 2 2 4

Q u e m c o n tro la q u e m ?... 2 2 8

C.ApÍTulo 1 5: Po r q u e Fa z e mo s isso ?... 2 3 1 C ria tu ra s do m o m e n to ... 231 “C oerção é fácil"... 2 3 2 A lgum a coerção é in e v itá v e l... 2 3 3 A tos d e D e u s ... 2 3 3

C o m p e tiç ã o... 2 3 4

C a r id a d e... 2 3 8

A u to d e fe s a e v i n g a n ç a... 241

CApÍTulo 1 6: ExÍSTE AlquM OUTRO CAMilNlho?... 2 4 6

U m p rin cíp io n o r t e a d o r ... 2 4 7

U se o re fo rç a m e n to p o s itiv o... 2 4 8 O refo rçam en to positivo em c a s a ... 250 O refo rçam en to positivo em in s titu iç õ e s ... 255

O u s o incorreto d a p r iv a ç ã o... 2 5 6

T im e -o u t e s e u s a b u s o s... 25 9 A s p r is õ e s c o m o a m b ie n te s d e a p r e n d iz a g e m... ... 261 O re fo rça m en to positivo e a le i... 265

A policia: d e q u e la d o e s t á ?... 2 6 6

Ca pít uIo 1 7: Ex íst e AlquM o u t r o c a mínNo? (c o n t íin u a ç ã o) ... 2 7 6

R eforçam ento positivo em d ip lo m a c ia ... 2 7 6

P o m b a s e á g u i a s... 2 7 6

G e n e ra is f a m in t o s... 2 7 8

B o n s v i z i n h o s ?... 279 Trctgédia a fr ic a n a... 281

C id a d ã o s d o m u n d o... 283

T e r r o r is m o... 2 8 6 R efo rçam en to positivo n a e d u c a ç ã o ... 2 8 8

A p r e n d iz a g e m p o r te n ta tiv a e erro. T e n ta tiv a d e q u e m ?

E rro d e q u e m ?... 2 9 0

O q u e é um p r o g ra m a d e e n s in o ?... 291 ín d ice re m issiv o ... 29 3

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I n t r o d u ç ã o

A p en a de m orte detém a ssa ssin o s em potencial? A retaliação d u ra é a resp o sta a problem as de disciplina em n o ssa s escolas? A punição é um meio aceitável de im pedir crian ças a u tista s e re ta rd a ­ d as de d e stru ir a si m esm as e a seu am biente? É seq u er um modo efetivo de tra ta r estes problem as? E stas e questões co rrelatas vêm gerando atu alm e n te ap aix o n ad a controvérsia pública, em geral in ­ te n sam en te polarizada m as raram en te b a se a d a em evidências. E ain d a assim , sérios como são, estes problem as rep resen tam apenas a p o n ta do ic e b e r g . Eles são in stâ n cias isoladas de u m fenôm eno m uito m ais am plo: o uso q u ase exclusivo de coerção em to d as as esferas de in teração h u m an a.

Por coerção eu me refiro a nosso uso d a p unição e d a am ea­ ça de p unição p ara conseguir que os o u tro s ajam como nós g o staría­ mos e à n o ssa p rática de recom pensar p esso as deixando-as escap ar de n o ssa s p unições e am eaças. Precisam os sab er m ais sobre coerção porque é como a m aioria d as p esso as te n tam controlar u n s aos outros: ‘T orça-o até que ele faça certo”, ou "Dê-lhe u m doce, m as se ele n ão fizer o que você quer, tire-o”.

N ó s fa z e m o s iss o o te m p o to d o

(20)

m ento, lisonja, elogio ou recom pensa, m as ao m esm o tem po d eix an ­ do im plícito que o não-atendim ento às exigências e às expectativas fará com que m esm o recom pensas que já ten h am sido g an h as sejam retiradas. F reqüentem ente dam os dinheiro, sta tu s , reconhecim ento e am or ap en as p a ra m an ter u m a vantagem em n o ssas interações com os outros; concedem os ou arranjam os estes resu ltad o s desejáveis principalm ente de modo que possam os, então, tom á-los de volta se nosso filho, esposo, sócio ou aluno p aram de satisfazer n o ssa s p ró ­ p rias necessidades, ou não atingem as exigências que estabelecem os. N aturalm ente, p esso as u sa m técnicas não-coercitivas, m as q u ase sem pre inabilm ente em com binação com coerção. A aplicação de form as não-coercitivas de controle tem sido insignificante em com pa­ ração com o recurso h ab itu al d a h u m an id ad e à coerção.

A inda assim , a evidência derivada d a an álise do co m p o rta­ m ento n o s diz que m esm o quando a coerção atinge seu objetivo im ediato ela está, a longo prazo, fadada ao fracasso. Sim, podem os levar p esso as a fazer o que querem os por meio d a p unição ou da am eaça de p u n i-las po r fazer q u alq u er o u tra coisa, m as q u an d o o fazem os, p lan tam o s as sem entes do desengajam ento pessoal, do iso­ lam ento d a sociedade, d a neu ro se, d a rigidez intelectual, d a h o stili­ dade e da rebelião.

R ealm ente podem os levar crian ças a ap ren d e r p u n in d o -as por não ap ren d er. E sta é a p rática padrão. M as m u itas cria n ças a quem en sin am o s deste m odo crescem m enosprezando professores, odiando a escola e evitando o trab alh o de ap ren d er. M ais tard e, como ad u lto s, podem falar com adm iração dos professores que “não toleravam tolices”, m as ao m esm o tem po negligenciam ou evitam ativam ente o p o rtu n id ad es de educação ou trein am en to co n tín u o s. E crian ças que te n h am sido expostas som ente ao en sin o coercitivo provavelm ente deverão seguir o m esm o modelo q u an d o elas m esm as to m arem -se professores ou pais. P ráticas coercitivas n a educação form al e no la r co n tin u am de geração em geração, to rn an d o -se e n ­ raizad as no treino de professores e aceitas pela com unidade.

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m ais su tis de desdém in telectu al e sexual tam bém podem efetiva­ m ente m a n ter o dom ínio geral de u m parceiro sobre o outro.

M as to d a s e sta s form as de coerção fam iliar to rn am o lar um lugar do qual fugir. A ntes que a fuga real seja possível m uitos que são m an tid o s sob tira n ia ap ren d em eles m esm os as m an eiras de coerção e te rm in am com o crian ças-p ro b lem a, ap ro p rian d o -se de m ais do que é a s u a p arte do tem po, dos re cu rso s financeiros e em ocionais d a fam ília. Mais ta rd e , com o p ais, n ão conhecendo q u alq u er o u tra m aneira, to rn am -se eles m esm os os tira n o s d a fam í­ lia. A coerção tran sfo rm a o casam en to em escravidão e ato s de am or em m eros ritu a is, form alidades a serem o b serv ad as com o objetivo de m a n te r a paz ou evitar o terror. M uito freqüentem ente, o casam en to é u m a relação de coerção, n ão de am izade. D entre as co n seq ü ên cias d este tipo de relação serão en co n trad o s divórcio, abandono, doença m en tal e suicídio.

Em pregadores podem , realm ente, m a n ter seu s em pregados em seu s lu g ares am eaçando-os de despedi-los se eles saírem e tr a ­ b alh ad o res podem a sse g u ra r salários m aiores am eaçando o patrão de fazer greve. O su cesso do m ovim ento tra b a lh ista tem , seg u ram en ­ te, reduzido exploração e elevado os padrões de vida, e parece claro agora que estes objetivos n u n c a teriam sido atingidos a n ão ser por técnicas coercitivas. E ain d a assim , a m oderna negociação in stitu ­ cionalizada, que ritualizou a d an ça de g u erra d a am eaça, d a contra- am eaça e da negociação (su ste n ta d a pelas am eaças reais de greve e lo c k o u t], to m o u a produtividade do trab a lh ad o r u m a m oeda de b a r­ g an h a cujo valor não pode exceder o lim ite especificado no contrato. Por c a u sa disso, m uitos trab a lh ad o res que excedem a cota de pro­ du ção são colocados no ostracism o e atacad o s por seu s com panhei­ ros de trabalho.

Da p arte dos proprietários e d a gerência, a negociação in sti­ tucionalizada to rn o u com pensação, benefícios indiretos, divisão de lucros, sim ples respeito pessoal e preocupação h u m a n a geral pelo b em -e star dos trab a lh ad o res em co n tram o ed as a serem valorizadas não m ais do que o necessário p a ra por fim a u m a am eaça de greve ou en ce rra r u m a p aralisação do trab alh o . Em u m a h istó ria que ain d a co n tin u a, um em pregador a quem se pediu algum sin al de que ele apreciava o bom trab a lh o que seu s em pregados estavam fazendo, replicou: “O que você q uer dizer com ap reciar? Eu não estou p ag an do-os por um bom trab a lh o ?”

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ta n to do trab alh o q u an to d a gerência, declina à m edida que o em ­ pregador e o em pregado finalm ente p assam a fazer pouco m ais do que é n ecessário p a ra co n tra b alan ç ar a s am eaças um do outro. Q u alquer in stâ n c ia de u m a cooperação n ão -au to rizad a pode desfa­ zer o delicado equilíbrio d a coerção e contracoerção.

Um sistem a de ju stiç a que é b aseado ap en a s n a p unição por tra n sg re d ir a lei realm ente m antém m u itas p esso as no cam inho certo e provê satisfação p a ra aqueles que b u scam revanche sobre os tran sg resso res. Um código legal coercitivo tam bém gera, p a ra m uitos que estão sujeitos ao sistem a, subterfúgio e desobediência e, p a ra m uitos que ad m in istram e fazem cu m p rir o sistem a, bru talid ad e.

A m aioria das nações, incluindo as su p erp o tên cias, afirm a e sta r b u scan d o a paz e arm an d o -se som ente p a ra a defesa. Um a política nacio n al de m a n ter u m “pulso forte” — a ser u sa d a , n a tu ra l­ m ente, só em retaliação co n tra agressão — pode, realm ente, m a n ter alin h ad o s econom icam ente e m ilitarm ente o u tro s países. Tal coerção tam bém cria ciúm es, anim osidades e eventual contracontrole; o m o­ derno terrorism o é um exemplo extrem o.

M esmo a política, o u tro ra recom endada, de que o “dono do poder" fale suavem ente, ficou pelo cam inho; hoje as su p erp o tên cias an u n ciam ostensivam ente a q u an tid ad e de ogivas n u cleares, s u b ­ m arinos n u cleares e lançadores de m ísseis que possuem , te n tan d o a sse g u ra r que a am eaça de co n tra-ataq u e d eterá q u alq u er ten tativ a de um prim eiro ataq u e. E sta form a de “diplom acia” p roduziu a m o­ d ern a corrida por arm a s n u cleares, com coerção sim plesm ente p ro ­ duzindo m ais coerção. Q uando a sobrevivência p a ssa a d epender de co n trap o r am eaças, não de produzir e d esfru tar d as boas coisas que a vida tem a oferecer, o risco que correm os de iniciar u m a agressão ab erta declina, tem os m enos a perder. Q uando um cálculo errado, um blefe ou um ato de desespero colocará u m fim em tudo isto?

A n á lis e d o c o m p o rta m e n to

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— financiando a m aioria d as pesquisas, m as pouco tem sido co n ta ­ do ao público sobre o que tem os descoberto e q u ais são as im plica­ ções p a ra a co n d u ta dos problem as do cotidiano.

A com unicação pobre tem levado às conseqüências u su ais: prim eiro, concepções in co rretas sobre a s questões, m étodos, desco­ b e rta s e im p o rtân cia d a p esq u isa com portam ental; segundo, u m a falta de consciência d a inform ação e técnicas que poderiam im pedir a coerção de c o n tin u a r a envenenar n o ssa s interações u n s com os outros. A judar a estabelecer a com unicação é a principal razão pela qual eu escrevi este livro.

Um segundo propósito é fam iliarizar p esso as p reo cu p ad as com a existência de u m a ciência que provê m étodos p a ra form ular e resp o n d er im p o rtan tes questões sobre a c o n d u ta h u m a n a. A ciência da análise do com portam ento tem su a s raízes n a filosofia, então distin g u iu -se com o um ram o da em ergente d isciplina d a psicologia e está agora no processo de desengajar-se d e ssa psicologia. O progeni­ tor ain d a n ão a deixou ir (nem, neste caso, o avô) e lu ta p a ra m an ter seu dom ínio adm inistrativo dentro d a Academ ia, m as as lin h as de fra tu ra intelectual estão claras. Psicologia, como o nom e sugere, é a ciência d a m ente. A nálise do com portam ento é a ciência do com por­ tam ento. M uito do que sabem os sobre coerção, o controle do com ­ p o rtam ento por meio de p u n ição e de am eaça de punição, veio das ciências experim ental e aplicada d a análise do com portam ento.

A n á l i s e d o c o m p o r ta m e n to , p u n iç ã o , te r a p ia e a lei. E m bora te n h am m uito m ais a oferecer, a n a lista s do com portam ento são ta l­ vez m ais freqüentem ente cham ados p a ra lidar com problem as de com portam ento — au to d estru ição em retard ad o s ou a u tista s, d es­ tru ição do am biente (exceto, n atu ralm en te, qu an d o os exploradores fazem isto po r lucro), violações de norm as sociais e c o n d u tas que afligem a fam ília e a com unidade. Na m aioria dos casos, eles reali­ zam bem a tarefa, m esm o qu an d o o u tras ab ordagens fracassaram . Aqui, en tre tan to , é onde o u so de punição tem recebido m aior a te n ­

ção do público. E m bora problem as severos de com portam ento fre­ q ü en tem en te requeiram m edidas de em ergência, não podem os lidar com eles de q u alq u er form a p erm an en te sem prim eiro co n sid erar o que sabem os sobre o uso de coerção em geral.

Q uando olham os p ara o quadro geral, retra tad o no capítulos su b se q ü en tes, p u n ir ou não p u n ir deixa de ser um problem a g en u í­ no. A re sp o sta clara é “n ão ”.

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A lgum as vezes nos falta conhecim ento relevante em situações esp e­ cíficas e nosso u so sem sucesso de o u tro s tratam e n to s nos leva a ap licar p unição p a ra salvar alguém de au to d estru ição . Mesmo q u a n ­ do m étodos que não envolvem punição tiveram q uase que com pleto su cesso em elim inar a agressão de u m adolescente de q u ase 85 quilos, u m reaparecim ento ocasional de um ataq u e que coloca em risco a vida req u ererá que ele seja “su b ju g ad o ” e im obilizado até que o episódio passe. E, com o poderem os ver, o efeito supressivo im edia­ to de u m a ú n ic a punição pode, realm ente, n os d a r u m a o p o rtu n id a­ de p a ra aplicarm os técnicas n ão-punitivas efetivam ente.

E stes tipos de casos m arginais não rep resen tam problem as. Desde q u e eles se m a n ten h am m arginais, o senso com um nos diz que tem os que u s a r q u aisq u er m eios efetivos à mão. E rros, u m a falta tem p o rária de inform ação relevante, ou u m a em ergência o ca­ sional podem ju stificar a p u n ição como u m tratam e n to de últim o recurso, m as n u n c a como o tratam e n to de escolha. U sar ocasional­ m ente p u n ição como u m ato de desespero não é o m esm o que advogar o u so d a punição como u m princípio de m anejo do com por­ tam ento.

C o n trariam en te ao q u adro difundido por críticos desinform a- dos, coerção não é a b ase d a an álise do com portam ento. Além de nos m o stra r que qu alq u er u so de punição deve ser deplorado, a an álise do com portam ento produziu m u itas altern ativ as efetivas. Um a contribuição ú n ic a têm sido a s incontáveis dem onstrações, dentro e fora do laboratório, de como u s a r efetivam ente o reforça- m ento positivo. Por reforçam ento positivo, eu m e refiro à p rá tic a de reco m p en sar pessoas n ão por deixá-las fugir d a punição, m as por deixá-las produzir algo bom . D estacarei m ais ta rd e as co n seq ü ên ­ cias fu n d am en tais e a longo prazo d esses dois m étodos de in flu en ­ ciar a conduta.

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qualifi-C o e r ç ã o e s u a s i m p l i c a ç õ e s 2 3

cado. E u não conheço program a de trein am en to ou form ação, seja em psicologia, p siq u iatria, educação ou an álise do com portam ento, que qualifique, quem o cursou, a u s a r punição.

Aqueles que recom endam e u sam choque ou o u tro s in s tru ­ m en to s de coerção como u m a técnica terap êu tica estão agora desco­ b rin d o que têm de se d efrontar com as conseqüências de seu próprio com portam ento. A preocupação pública ju stificad a a respeito dos padrões de com petência e de ética dentro d estas profissões está produzindo ten tativ as em vários estados p a ra restringir, pela lei, o uso de técnicas te ra p êu ticas coercitivas. Infelizm ente, alg u m as d e s­ ta s leis proibiriam até m esm o a própria p rática de an álise do com ­ portam ento. E ste su b p ro d u to do uso d a coerção deveria te r sido previsto. Q u alquer um fam iliarizado com a lite ra tu ra experim ental e q u alq u er observador experiente d a co n d u ta fora do laboratório sabe que a coerção, se não p u d e r ser en fren tad a de q u alq u er o u tra m a­ neira, finalm ente gera contracontrole. Os que u sa m coerção podem e sp e ra r retaliação. (Eu espero te r consideravelm ente m ais a dizer sobre o contracontrole como u m a co nseqüência d a coerção.)

As b o as intenções dos an a lista s do com portam ento não os exim irão deste princípio em pírico. A inda pior, é provável que a co­ m u n id ad e coloque ju n to s todos os a n a lista s de com portam ento sob o estereótipo de p ratican tes d a coerção. Os perdedores, em ú ltim a in stân cia, serão, n atu ra lm e n te, os clientes. A eles serão negados os benefícios das m u itas técnicas não-coercitivas de an álise do com por­ tam en to que provaram ser efetivas, freqüentem ente as ú n ic a s for­ m as efetivas de tratam en to .

As s u a s boas intenções tam bém não exim irão os a n a lista s do com portam ento de o u tras leis do com portam ento. D esde que u m a ú n ica in stâ n c ia de punição pareça funcionar, in terrom pendo o com ­ p o rtam en to perigoso, ofensivo ou inconveniente de um único cliente, o u so de p u n ição pelo an alista será reforçado. O que quer dizer, ele ou ela fará isto de novo... e de novo, e de novo, e de novo. O público está certo em ficar alarm ado. O uso bem -sucedido de u m aguilhão de gado produzirá m ais uso e ninguém , nem m esm o o te ra p eu ta, sab erá se ele ou ela está u san d o choque porque n a d a m ais funcio­ n a rá ou porque isto funcionou an tes em circ u n stân cias que podem bem te r sido diferentes. T erapia coercitiva produz te ra p e u ta s coerci­ tivos.

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razoá-vel e bem -intencionada. De fato, creio que o pré-requisito — n ad a m ais funciona — raram en te é atendido. E u iria tâo longe a ponto de dizer a q u alq u er um que afirm asse ter ten tad o tudo o mais: “Diga­ me tudo que você fez. Eu, então, sugerirei um procedim ento que você não te n to u .” Indubitavelm ente, eu seria, algum as vezes, in c a ­ paz de fazer isto, m as, creio, n ão m uito freqüentem ente.

C onsidero com cuidado até m esm o a afirm ação do te ra p e u ta de que ele ou ela u s a a su p ressã o tem porária p ó s-punição de com ­ p o rtam ento indesejável como u m a o p o rtu n id ad e p ara e n sin a r com ­ p o rtam en to desejável. Em um videoteipe feito especificam ente p ara d a r su p o rte ao uso de choque em casos de au to d estru ição de a u tis ­ ta s. vi a crian ça “tratad a" te rm in ar ch u p an d o seu dedão em frente de u m a televisão. G ostaria de te r visto m ais dem o n stração de ensino efetivo no filme, com m enos ênfase sobre a sofisticação técnica do sistem a liberador de choque, Com isto eu teria m ais confiança que procedim entos construtivos de f o l l o w u p estivessem realm ente em ação.

Em geral, eu me sen tiria m ais confortável com o arrazoado de que n ad a m ais funciona, se aqueles que u sam este arrazoado p ara ju stificar o que é cham ado ‘‘terap ia aversiva” considerassem , em vez disso, cad a caso ap aren tem en te intratável como um desafio. Se eles en fren tassem todo desafio te n tan d o novas abordagens, seria m enos provável que eu su sp e ita sse de que eles estão desistindo m uito facilm ente. Q uando eles au to m aticam en te recorrem à coerção, não consigo me im pedir de in d ag ar se eles estão sim plesm ente co n ­ form ando-se ao p ad rão de p ráticas sociais, em vez de fazer a co n tri­ buição ú n ic a p a ra a qual s u a profissão su p o stam e n te os treinou. Coerção b ru ta não é análise, de com portam ento.

Mas sim , eu poderia ser um pouco m ais to leran te com rela­ ção à reivindicação de que eles estão u san d o intervenções coerciti­ vas porque n a d a m ais funciona. Se eu visse, então, não ap en a s o com portam ento p aran d o , m as com portam ento sendo construído, m enos provavelm ente eu haveria de considerá-los com o u san d o em vão o nom e de su a ciência, seja ela a psicologia ou a análise do co m p o rtam en to .

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fora do laboratório. O fato de que m u itas das p esq u isas são feitas com com putadores e m esm o com n ão -h u m an o s não deveria a p re ­ se n ta r dificuldades p a ra um bem -treinado observador do com porta­ mento.

As incontáveis dem onstrações, d en tro e fora do laboratório, de com o u s a r efetivam ente m étodos positivos tèm sido u m a co n tri­ b uição ú n ic a d a an álise do com portam ento. Princípios g erais e tec­ nologias ed u cacio n ais e te ra p ê u tic a s específicas têm evoluído, p ro ­ vavelm ente com d o cu m en tação m ais sólida n a lite ra tu ra ex p erim en ­ tal e clínica do que q u alq u er o u tra m etodologia ja m a is obteve. Re- forçam ento positivo, não coerção, é a m a rc a d a an álise do com por­ tam ento.

A nalistas do com portam ento e te ra p e u ta s de todo tipo pode­ riam aju d ar-se m ais e ao m esm o tem po co n trib u ir de form a ú n ic a p ara a sociedade, estim u lan d o restrições sobre o uso de punição dentro d a profissão. Em vez de exigir que um público ju stificad a- m ente cético n os p erm ita fazer o que desejam os, faríam os m elhor ta n to p a ra n ós m esm os como p ara o público em geral defendendo, to rn an d o públicos e en sin an d o m étodos alternativos de educação e tratam e n to que n o ssa ciência to m o u disponíveis.

A an álise do com portam ento é aplicável em contextos m uito m ais am plos do que ap en as no do com portam ento de in capacitados congênita ou desenvolvim entalm ente. Aplicações de p u n ição a aq u e­ les tipos de problem as de com portam ento são exem plos isolados de u m fenóm eno m uito m ais difundido: o u so q u ase exclusivo de coer­ ção em q u ase todos os tipos de in teração h u m a n a. Um a vez que olhem os p a ra os u so s e efeitos de punição em todos os asp ecto s de n o ssas vidas poderem os ver que n o ssa ciência tem contribuições positivas a fa z e r em m u itas esferas d a atividade h u m a n a — e d u c a ­ ção, diplom acia, o arran jo d a lei, a u n id ad e d a família. Em vez de aceitar au to m aticam en te as p ráticas tradicionais n e ssa s áreas, e s tu ­ diosos do com portam ento poderiam e s ta r alertan d o o público que existe evidência considerável a favor de m u d an ça. Em s u a p rática profissional, em vez de sim plesm ente refinar m étodos trad icio n ais de aplicação de coerção, poderiam e sta r en sin an d o altern ativ as m enos conhecidas e, a longo prazo, m ais efetivas.

A c o m p le x id a d e d a c o n d u ta d e s a fia a a n á lis e ?

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al-g u n s m étodos e resu ltad o s de p esq u isa básica, aal-gi, tam bém , com b a sta n te liberdade ao m over-m e do laboratório p a ra o m undo, e x tra ­ polando d as condições cuid ad o sam en te controladas que g aran tem a confiabilidade dos resu ltad o s experim entais. Acredito que as e x tra ­ polações são ju stificad as; o laboratório tem nos ensinado sobre os a ssu n to s h u m a n o s m uitíssim o m ais do que até m esm o m u ito s in ­ vestigadores g o stariam de reconhecer.

Bolas de aço descendo plan o s inclinados em laboratórios de física n a g rad u ação parecem não te r relação com folhas caindo de árvores n as florestas, ain d a assim todos os corpos em q u ed a obede­ cem à s m esm as leis físicas. Podem os dizer, de modo sem elhante, que em bora a p unição de sujeitos por a p e rta r u m botão no lab o rató ­ rio com portam ental ten h a,"à prim eira vista, p o u ca sem elh an ça com o esp an cam en to de u m a crian ça por dizer um “palavrão”, ain d a assim , todas as ações p u n id a s obedecem às m esm as leis com porta- m en tais? N aturalm ente, u m a tal asserção não pode ser provada experim entalm ente; o resto do m u n d o n ão é sujeito aos controles do laboratório. M as isto tam bém é verdadeiro a respeito de folhas em q u ed a e era verdadeiro a respeito d aq u elas extrapolações de re s u lta ­ dos de laboratório que colocaram , pela prim eira vez. o hom em n a Lua. A prova de tal aplicabilidade n ão vem de experim entos, m as da experiência p rática.

Teoricam ente é possível que algum as dim ensões d a realidade (física, quím ica, biológica) sejam suscetíveis de estu d o e verificação científica en q u an to o com portam ento não. E n tretan to , e sta teoria, até onde fomos capazes de te stá-la, no laboratório e fora dele, não funcionou.

Por m uito tem po se afirm ou que o com portam ento era não- analisável m as, então, alg u n s pesq u isad o res pioneiros en co n traram ordem no com portam ento de organism os "inferiores” — insetos, c a ­ m undongos, ratos, gatos e cachorros. O grito im ed iatam en te foi la n ­ çado. “Sim, m as não p e sso a s.” E n tão a m esm a ordem que foi v ista em n ão -h u m a n o s com eçou a ap arecer em estu d o s com p esso as e o grito m udou; “E stá certo, p esso as deficientes, talvez — os não-inteli- gentes e com lesões cerebrais — e m esm o assim , certam en te, ap en a s em laboratórios artificialm ente controlados, escolas p rim árias, in s ti­ tuições p a ra doentes m entais ou p risõ es.”

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E agora q u e a an álise do com portam ento com eça a se am p liar erri alg u m as d essas área s (não to d as — as fro n teiras ja m a is d esap arec e­ rão). os gritos ad q u iriram um tom de alarm e: “A plicando princípios gerais ao com portam ento h u m a n o vocês n os d esu m an izam !”

A astro n o m ia tam bém já foi a c u sa d a de tira r a T erra do centro de U niverso e a biologia evolucionária de d e stru ir nosso s t a ­ t u s como criação especial de Deus. E porque a n a lista s do com porta m ento bem -sucedidos estão identificando variáveis q u e controlam alg u m as de n o ssa s co n d u tas m ais com plexas e ap reciad as, o p ú b li­ co com eça a vê-los — como a o u tro s cien tistas — com o querendo, eles m esm os, exercer controle. Eles to rn aram -se su b m etid o s ao este­ reótipo p o p u la r do cien tista louco inclinado a controlar o m undo.

O la b o ra tó rio p o d e n o s d iz e r a lg u m a c o is a ?

A su p o sição de que resu ltad o s do lab o rató rio com portam en- tal, m esm o de su jeito s n ão -h u m a n o s, podem ser estendidos p a ra o m u n d o dos h u m a n o s até aq u i se confirm ou. G eneralizações de ob­ servações de laboratório estão se d em o n stran d o b em -su ced id as em m ais e m ais área s d a c o n d u ta h u m a n a e m ais u m a vez a análise do com p o rtam en to parece e s ta r d em o n stran d o o poder e a utilid ad e de u m a abordagem científica a u m objeto de estu d o até en tão recalci­ tran te.

H istoricam ente, o salto d a to rre de m arfim tem se justificado am p lam en te. O avanço do conhecim ento, d esde se u s inícios com a cu rio sid ad e h u m a n a , seguiu u m cam inho m uito trilh ad o e d em o n s­ trad o . C om eçando com teoria a b s tra ta e os am b ien tes artificialm en­ te co ntrolados d a a re n a intelectual, cam in h am o s p a ra os testes p rático s no m ercado com ercial e daí p a ra o gerenciam ento m ais eficiente de no sso am b ien te físico. Agora, finalm ente, cam inham os p a ra a excitante possibilidade de este n d e r e alarg ar as capacidades h u m a n a s.

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p recisam a te n ta r p a ra os resu ltad o s é m ais perigoso do que ex trap o ­ lar m uito am plam ente.

Além disso, o que vem os nos experim entos dirige n o ssa o b ­ servação fora do laboratório e nos auxilia a en co n trar co n sistên cia n a ap are n tem e n te d eso rd en ad a vida cotidiana. Isso não é su p ersim - plificação: é u m m odo especial de olhar p a ra o m u n d o que pode nos a ju d a r a com preendê-lo e, freqüentem ente, a fazer algo a respeito de seu s problem as. O a n alista experim ental do com portam ento, que te n h a visto o quão poderosam ente conseqüências influenciam a co n ­ d u ta, pode freqüentem ente co rtar cam inho elim inando m u itas irrele­ vâncias e d eterm in ar exatam ente porque u m a crian ça faz b irras, porque um jovem ab an d o n a a escola ou porque um te rro rista co n ti­ n u a a ra p ta r e a m atar. O a n alista experim ental, que te n h a visto p eq u en as alterações do am biente in terro m p er u m a ação em a n d a ­ m ento e im ediatam ente iniciar novo com portam ento freqüentem ente se rá capaz de p a ra r a au to d estru ição de um cliente m u d an d o o am biente em vez de ap licar coerção. Penso que é im p o rtan te p a ra an a lista s do com portam ento, como p a ra cien tistas de laboratório de todos os tipos, p a rtilh a r s u a s m an eiras especiais de o b serv ar e in te r­ p reta r eventos cotidianos.

P ara prom over u m a m aior com preensão da análise do com ­ portam ento e de como ela contribuiu p ara n o ssa com preensão da coerção, descreverei alg u n s arran jo s básicos de laboratório. O bser­ var estes experim entos to rn a fam iliares, com u m a nitidez inesq u ecí­ vel, os p ro d u to s com portam entais de am b as a s p ráticas, coercitivas e não-coercitivas. N ada é tão instrutivo como as pro fu n d as m u d a n ­ ças q u e ocorrem no com portam ento de um sujeito experim ental quando, por exem plo, alteram os levem ente a relação en tre o que ele faz e o que acontece su b seq ü en tem en te no am biente. Ler não s u b sti­ tui o ver, m as as descrições ain d a podem nos a ju d a r a nos to rn a r­ m os cientes de que é possível descobrir como a coerção funciona e que altern ativ as estão disponíveis.

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talvez to rn ar-se capaz de in terag ir m ais efetivam ente u n s com os outros, é proibido. A p ró p ria n a tu re z a do problem a im pede o u so de sujeitos h u m a n o s nos e stu d o s de laboratório de p u n ição . P ortanto, sujeitos n ã o -h u m a n o s predom inaram .

F aríam os u m a boa ação p ara a h u m a n id ad e se nos proibís­ sem os de obter o conhecim ento que co n tin u am o s a derivar do e s tu ­ do científico de n o sso s p aren tes n ão -h u m an o s? Nós, que som os afortunados o suficiente p a ra nos m anterm os livres de desordens desconfortáveis, in cap acitad o ras, ou que am eaçam a vida, podería­ mos te r o poder de n egar a possibilidade de saú d e e até m esm o da própria vida p a ra aqueles que n asceram com ou ad q u iriram doen­ ças?

A m aioria dos p esq u isad o res que infligem dor em se u s su jei­ tos com o propósito específico de e s tu d a r a coerção n ão e stá sendo im p en sad am e n te cruel. E les são indivíduos com prom etidos, preo­ cu p ad o s com n o ssa aceitação im p en sad a e m esm o com n o ssa p rá ti­ ca casu al de infligir dor e o u tra s form as de coerção u n s aos outros. Eles b aseiam su a experim entação, p rim eiram ente, no que eles p e r­ cebem com o u m a necessid ad e u rg en te de inform ação sobre um grave problem a h u m an o e, em segundo lugar, n a convicção de que os n ão -h u m a n o s fornecerão inform ações que podem a ju d a r a preve­ n ir sofrim ento h u m a n o adicional. O bviam ente, cru eld ad e fria deve ser co n d en ad a e odiada. A p esq u isa co m p o rtam en tal sobre coerção deve colocar n a b alan ça, de um lado, os choques e o u tro s descon- fortos sofridos p o r um n ú m ero relativ am en te reduzido de sujeitos n ão -h u m a n o s e, de outro, a prevenção potencial de dor in te n sa que infligim os u n s aos o u tro s e a redução no n ú m ero de vidas h u m a n a s d estro ça d as que são u m resu ltad o característico do controle coerci­ tivo.

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possível avaliar os resu ltad o s de p ráticas coercitivas aplicadas por e co n tra h u m an o s.

M uitos m an têm a opinião de que an im ais n ão -h u m a n o s n a d a podem nos dizer so b ra a co n d u ta h u m a n a . O que podem os ap ren d er sobre nós m esm os observando m acacos, cam undongos, ratos, p ássaro s, cães ou gatos? Mais ta rd e descreverei em m aiores d etalh es como descobrim os se n o ssas observações realm ente se apli­ cam m ais generalizadam ente. N este ponto, deixe-m e ap en a s dizer que, diversam ente do que p o ssa parecer p a ra alguns, aprendem os m uito sobre nós m esm os observando o u tro s an im ais em seu h á b ita t e em laboratórios. Não podem os ap ren d e r tu d o desse modo, m as n ão -h u m an o s nos e n sin ara m m uito sobre nós m esm os. E ste não é u m tem a p a ra debate; é u m fato. M uitos processos de aprendizagem são com uns a todos os m am íferos; as regiões m ais an tig as de n o sso cérebro, do ponto de v ista d a evolução, estão intim am ente envolvi­ d as com com portam ento em ocional; a linguagem com plexa, em bora exclusiva dos h u m an o s, tem m uitos aspectos não-verbais que o b ser­ vam os em n ão -h u m an o s. M esmo que se prove h aver d esco n tin u id a- des n a evolução dos processos com portam entais, seria triste que preconceitos sobre a superioridade e sin g u larid ad e dos h u m a n o s nos im pedissem de reconhecer as con tin u id ad es que realm ente exis­ tem de u m a espécie p a ra a outra.

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1

'E ste m u n d o c o e r c i t iv o

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tem os de fazer p a ra fugir de, ou evitar p u n ição ou p erd a — é a técn ica p red o m in an te p a ra nos levar a “co m p o rtarm o -n o s”.

A lgum as vezes a s p esso as nos dizem o que elas farão co n o s­ co se não agirm os como elas querem . Q uando aquele que am eaça é tam b ém aquele que deverá aplicar a punição, a coercitividade é b a sta n te clara. Em o u tra s ocasiões, a s p esso as nos avisam d as horríveis co n seq ü ên cias que virão de alguém m ais, talvez m esm o de u m a n a tu re z a im pessoal; esses avisos, em bora tecn icam en te coerci­ tivos, são ap en a s b o n s conselhos. Q uando lem bram os a alguém p a ra levar o g u ard a-ch u v a p a ra que evite m olhar-se, não tem os que ficar p reocupados se estam os coagindo tal pessoa. Mas, m esm o esse aviso benevolente ilu stra de u m a m an eira sim ples n o s sa aceitação d a coerção. E m bora possam os n ão nos p reo cu p ar com esse exem plo leve e sem im portância, vale a p en a n o ta r que poderíam os ch eg ar ao m esm o resu ltad o — fazer alguém levar o g u ard a-ch u v a — le m b ran ­ do-lhe não que ele evitaria m olhar-se, m as que ele poderia ficar seco.

Em outro extrem o, u m amigo nos em p u rra violentam ente p ara im pedir que um objeto que e stá caindo b a ta em n o ssa cabeça. O em purrão, em bora tecn icam en te u m a form a de coerção, é n a verdade um tipo de “bom conselho" físico, algo com o que a p re n d e ­ m os a lidar sem sofrer com os efeitos colaterais indesejáveis com os q u ais estarei preocupado d u ra n te todo este livro.

E n tre esses extrem os, tem os exem plos como o do m édico que avisa “p are de fu m ar ou m o rrerá de cân cer” e o dos am igos e p a re n ­ tes cuidadosos ecoando a am eaça. É razoável a c u sa r u m m édico de coerção q u an d o ele nos diz dos perigos de c o n tin u a r fum ando? E s­ tou preocupado, n este caso, porque a am eaça poderia te r tom ado u m a form a positiva em vez de negativa. Ao contrário de sim p lesm en ­ te nos a le rta r com relação às lam entáveis co n seq ü ên cias de fum ar, o m édico poderia te r ten tad o levar n o ssa fam ília e am igos a serem especialm ente agradáveis conosco quando fizéssem os algo in co m p a­ tível cóm fum ar.

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E ste livro fala tam bém sobre o predom ínio d a coerção em n o ssas vidas, descreve os efeitos colaterais d esastro so s d a coerção e, até m esm o, alerta sobre a catástrofe, se fracassarm o s n a elim inação ou redução de n o ssa s p ráticas coercitivas; o livro em si m esm o poderia ser considerado, tecnicam ente, u m exem plo de coerção. E n ­ tretan to , ele não é ap en a s am eaça. Ele tam b ém fornece princípios norteadores — em alg u n s casos, cu rso s específicos de ação — que nos perm itiriam aplicar técnicas não-coercitivas em vez de recorrer às “soluções” de coerção qu an d o q u iséssem o s ou tivéssem os de in ­ fluenciar os outros. Porque m uito freqüentem ente coagim os u n s aos outros, m uitos de nós consideram os a p u nição com o ponto pacífico; não reconhecem os o im enso papel que ela d esem p en h a em n o ssas interações. R ealm ente, a coerção tem se u s inícios em n o ssa s in te ra ­ ções com o am biente físico.

0 a m b ie n te h osti!

A própria n a tu re z a d á o exemplo. O am b ien te físico c o n sta n ­ tem ente am eaça nos esm ag ar com frio, calor, chuva, neve, enchente, terrem oto e fogo. Ele nos diz; “se você n ão q uer congelar, c o n stru a um abrigo”: “c o n stru a rep resas, ou en ch en tes levarão de roldão su a s c a sa s”; “escassez e stá chegando, arm azene alim en to s.” O bservar os céus e e sc u ta r as previsões de tem po to rn ara m -se q u ase u m a se­ g u n d a n atu reza. E stam os sem pre lu tan d o com o am biente.

A n atu re za, é claro, n u n c a n os diz o que tem os de fazer se quiserm os evitar desconforto e catástrofe. Logicam ente, não pode­ m os a trib u ir intenções à n atu reza; sendo im pessoal, ela não pode realm ente nos levar a c o n stru ir rep resas e a arm a zen ar colheitas. E, ain d a assim , a experiência n os diz que as forças d a n a tu re z a d esa­ b arão sobre n ós se não tom arm os precauções. N ossa c o n d u ta segue }eis gerais que são in d ep en d en tes do c a rá te r pessoal ou im pessoal daquele e d a intenção ou falta de intenção daquele que coage. Reagi­ m os a sin ais de alerta do am biente inan im ad o ex atam en te como fazem os com relação à coerção im posta por n o sso s com panheiros; ten d em o s tam b ém a personificar a n atu re za, ain d a que ap en a s em n o ssa linguagem .

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Tam bém parecem os incapazes de lidar com m u itas d a s m a ­ ravilhas n a tu ra is que n o ssa inteligência descobriu. A energia n u ­ clear prom ete com pensar o im inente esgotam ento d a s reserv as de carvão, óleo e gasolina, m as seu s resíd u o s m ortais j á estão envene­ n an d o o solo, a ág u a e a atm osfera de n osso p lan eta. O estoque de arm a s n u cleares, proposto p a ra prevenir a guerra, req u er som ente a ordem de u m louco p a ra g a ra n tir a fusão final. A hibridização de p la n ta s to rn o u possível produzir suficiente trigo, m ilho e arroz p ara alim en tar o m undo, m as a redução d a diversidade genética deixa e ssas fontes críticas de alim entos vulneráveis à com pleta d estru ição em u m a ú n ica catástrofe rápida.

Tam bém n osso am biente interno nos am eaça com desconfor- tos físicos que podem te rm in ar em doença e m orte. Os prazeres que obtem os do álcool e de o u tra s drogas nos to m am d ep en d en tes biolo­ gicam ente, reduzindo n o ssa habilidade p a ra nos ad ap tarm o s às re a ­ lidades d a n atu re za. E ste im perativo biológico, a reprodução sexual, am eaça produzir su p erp o p u lação n a Terra, criando pobreza, priva­ ções e ten sõ es sociais que se expressam n a guerra.

A m edida que envelhecem os, am eaças vindas de nosso in te­ rior se intensificam . Nós nos defendem os co n tra a coerção de nosso próprio corpo, su ste n ta n d o u m a im en sa e dispendiosa in stitu ição m édica, ao m esm o tem po que nos to rnam os vulneráveis à fria m ise­ ricórdia de u m a in d ú stria de seguros avarenta. A legislação de im ­ postos d á ab onos de depreciação p a ra a m aq u in aria, m as não p a ra corpos h u m an o s.

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m édica estã forçando difíceis decisões sobre quem deve sobreviver e quem se deve deixar m orrer.

Q u an to de nosso tem po e trab alh o é gasto com vestuário que n os m a n te n h a confortáveis e secos, n ão im porta quão inclem ente seja o tem po? A m a n u fa tu ra e m an u ten ção de vestuário, que já foi a principal ocupação d a população fem inina do m undo, p ersiste como um im p o rtan te segm ento da in d ú stria e conserva alto s t a t u s como atividade de lazer m esm o en tre os afluentes.

N este país, u n s poucos agricultores produzem alim entos p ara todos. O utros especialistas dedicam -se à p rep aração de alim en­ tos e m u itas p esso as dependem hoje, p a ra seu su sten to , de re s ta u ­ ran tes, de alim entos pré-cozidos e de refeições p ro n tas. A um entos inacreditáveis n a produtividade agrícola e eficiência de distribuição, aco m p an h ad o s de níveis de rendim ento pessoal an terio rm en te não so n h ad o s têm to m ad o possível p ara a m aioria daqueles que vivem em p aíses econom icam ente desenvolvidos esquecer a am eaça de pri­ vação excessiva. E n tretan to , au m en to s de custo, em an o s recentes, têm levado m uitos a reto m arem ao lazer d a jard in ag em e d a cozi­ n ha. O esgotam ento do solo e d as reserv as de ág u a n a tu ra l a serviço do au m en to d a produção de alim entos e a poluição d essas fontes a serviço d a produção de energia ag u çaram n o ssa consciência sobre a s possibilidades de fome extrem a em m assa.

C om panhias farm acêuticas afirm am e s ta r p rep arad a s p ara co n ter e sta am eaça, m as seu s alim entos artificiais, p íp u las de vita­ m in a e cá p su la s de energia originam novos tem ores sobre adaptação biológica e sobre a própria qualidade de vida. A econom ia de nosso corpo req u er m ais do que sim ples calorias e quím icas e, além disso, quem a n se ia por refeições que vêm em tu b o s, com prim idos, em pó e 1 em cáp su la s? E assim , algum as d as resp o stas p a ra a coerção da n a tu re z a parecem por s u a vez te r gerado novos tipos de am eaças.

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todo nosso tem po neu tralizan d o pressões am bientais. A qualidade ilusória de n o ssa a tu a l liberdade em relação à coerção d a n a tu re z a to rn ar-se-ia im ediatam ente evidente. M uitos de nós não sobrevive­ riam .

Porque tem os sido suficientem ente capazes de relaxar n o ssa vigilância, p assam o s a co n sid erar como gastos bem -justificados o enorm e com prom etim ento de tem po, esforço e recu rso s que a socie dade devota à sup eração de form as sem pre p resen tes e norm ais de coerção am biental. Não tem os lidado de m an eira tão bem -su ced id a com catástro fes n a tu ra is, seja porque s u a m agnitude é av assalad o ra ou porque su a in term itên cia e im previsibilidade im pedem q u alq u er sistem a prático de controle. D esastres im ensos como terrem otos, furacões, incêndios florestais, to m ad o s, en ch en tes ou erupções v u l­ cân icas ocasionalm ente relem bram -nos n o ssa vulnerabilidade, m as tendem os a co n sid erar e stas coisas como exceções a n o ssa p rep o n ­ d eran te liberdade em relação à s pressões am bientais. De fato, eles são som ente casos extrem os de am eaças que estão sem pre p re se n ­ tes, co n tra a s qu ais estam os sem pre pagando resgate com n o ssa s reservas de recu rso s físicos, sociais e biológicos.

M as aqui, em vez de lu ta r co n tra a hostilidade d a n atu reza, aceitam os isto com u m a racionalização filosófica: “A ssim é a vida.” Nem m esm o esperam os que com panhias de seguro providenciem reem bolso financeiro quando tem pestades, en ch en tes, furacões ou terrem otos deixam -nos desabrigados; d esastres n a tu ra is são “atos de D eus”. S im plesm ente aceitando a inevitabilidade d a catástrofe, n ós n os cegam os p a ra seu c ará ter coercitivo.

M esmo o sim bolism o religioso reflete coerção am biental. Aos deu ses dos elem entos e dos fenôm enos n a tu ra is — fogo, oceanos, trovão, fertilidade, estações do ano, ventos — era atrib u íd o ta n to s t a t u s q u an to às divindades que se p resu m ia dirigir e ju lg a r os valores e p ráticas sociais h u m a n a s — os deu ses do am or, d a ju stiç a , d a m úsica, do d ram a e do conhecim ento. De acordo com a s m ais m od ern as in terp retaçõ es da vontade de D eus, S u a ira atinge a h u ­ m an id ad e n a form a de raios, p en ú rias, enchentes, erupções v u lcân i­ cas, pragas, epidem ias e, m ais recentem ente, Aids.

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pais irados ã ilm in a m seu s filhos; idéias ilu m in a m nossas cabeças; a má sorte d e sa b a

sobre nós; a sn u v e n s da guerra se formam; oradores empolgados dizem palavras in c e n d iá ria s, finanças estão e sto u ra n d o , nossas forças armadas atacam como ra io s,

multidões e x p lo d e m e m violência.

Alertas de desprazer iminente, ou tempo catastrófico e outros desastres naturais permitem-nos preparar defesas e desviar ou reduzir sua severidade; honramos e recompensamos regiamente os profetas. A indústria da televisão, que cobra milhares de dólares por segundo e considera o tamanho da audiência como árbitro supremo de sucesso ou fracasso, dedica milhares de segundos por ano para previsões de tempo. Ela nos fascina com mecanismos meteorológicos e técnicas de vídeo maravilhosas e fabulosamente caras. A decisão de despender tal esforço, custo e engenhosidade para relatar o tempo e, ao mesmo tempo, negligenciar a qualidade e quantidade de programação em educação, ciências, política, dramaturgia e música reflete prioridades da comunidade. A despeito de nossa esperança de supremacia, permanecemos subservientes à natureza mesmo durante nosso lazer.

A com unida de hostil

Talvez a coerção física presente seja responsável também pela aceitação geral da coerção social como um fato da vida. Tenho visto a punição defendida como um a técnica de ensino para os incapazes desenvolvimentalmente com o argumento de que qualquer método que não envolva punição vai contra o princípio de normalização. “Normalização” refere-se à noção, comumente bastante razoável, de que deveríamos trazer de volta os deficientes para o convívio normal em vez de segregá-los. O proponente da punição, neste caso, argumenta que a sala de aula sem punição é um ambiente anormal, ao qual ninguém deveria ser exposto. Esta distorção de uma noção basicamente decente vem, creio, de uma adaptação não- percebida ao modelo coercitivo que a própria natureza nos fornece.

Referências

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