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3º OS PREÇOS EM PERÍODOS LONGOS

No documento Economia política (páginas 184-189)

31. O EQUILÍBRIO ESTÁVEL EM PERÍODOS LONGOS

a) O preço de equilíbrio estável

Passemos, agora, aos períodos longos, que são períodos suficien- temente dilatados para poder variar o equipamento da indústria, isto é, para se criarem novas empresas ou para as empresas existentes cons- truírem mais edifícios de fábricas e neles instalarem mais máquinas. Su- pondo sempre constante a procura, vejamos o que vai suceder à oferta.

No nosso mercado, acabou por se estabelecer, em período curto, o preço de 6, ao qual se fazem uma procura e oferta de 90. Essa oferta é obra de muitas empresas, e empresas de dimensões diversas. No entan- to, por conveniência de simplificação, vamos reduzir as muitas empresas a poucos tipos — aos tipos A, B e C —, que produzem uma oferta de 90 ao mesmo custo marginal de 6, mas aos seguintes diferentes custos mé- dios, e cujos custos médios mínimos são estes, respectivamente:

Custo médio Custo médio mínimo

A……… 4,5 3

B……… 5 4

C……… 5,5 5

Como o preço é de 6, daí resultam grandes lucros para as empre- sas do tipo A, lucros consideráveis para as do tipo B, e até lucros subs- tanciais para as do tipo C. Não admira, pois, que esses lucros constituam incentivo quer à criação de novas empresas, quer à montagem de novas fábricas pelas empresas existentes. Ainda por conveniência de simplifica- ção, vamos supor que tanto as novas empresas como as novas fábricas que se instalarem tenham custos médios e marginais idênticos aos das de qualquer daqueles três tipos.

Criando-se novas empresas ou montando-se novas fábricas, vai aumentar a produção e, portanto, a oferta. Consequentemente, baixará o

preço. Mas baixará, até onde? Tudo depende, claro está, da importância do aumento e da elasticidade da procura. Ora, a procura é esta:

Preço Procura

6 90

5 100

4 120

3 130

Por conseguinte, se a produção aumentar de 90 para 100 o preço descerá de 6 para 5; isto é, descerá ao nível do custo médio mínimo das empresas do tipo C, as quais passarão a trabalhar a custo marginal igual ao custo médio, continuando as restantes a trabalhar a custo médio infe- rior ao custo marginal.

Mas, se a produção aumentar de 90 para 120, o preço descerá de 6 para 4; isto é, descerá ao nível do custo médio mínimo das empresas do tipo B, sendo eliminadas as do tipo C.

Finalmente, se a produção aumentar de 90 para 130, o preço des- cerá de 6 para 3; isto é, descerá ao nível do custo médio mínimo das empresas do tipo A, sendo eliminadas as dos tipos C e B.

No primeiro caso, o aumento da produção pode ser devido a de- senvolvimento ou criação de empresas de qualquer dos três tipos; mas, nos dois últimos, òbviamente que esse aumento só pode ser devido, em definitivo, a desenvolvimento ou criação de empresas dos tipos subsis- tentes, isto é, dos tipos B e A, no segundo caso, e do tipo A, no terceiro.

De qualquer modo, e quer a produção aumente para 100, 120 ou 130, o preço vem sempre a coincidir com o custo médio mínimo daquela empresa que trabalha a custo mais alto dentre todas as empresas cuja oferta é ainda necessária para fazer equilíbrio com a procura a esse preço. Sim, o preço de 5 vem a coincidir com o custo médio mínimo da ou das empresas do tipo C, que são as que trabalham a custo mais alto dentre as empresas que fornecem a oferta de 100, necessária para satis- fazer a procura àquele preço; como os preços de 4 ou de 3 vêm a coinci- dir, respectivamente, com o custo médio mínimo da ou das empresas dos tipos B e A, que também são as que trabalham a custo mais alto dentre as empresas que fornecem a oferta de 120 e de 130.

Ora, se seriarmos as empresas pela ordem crescente dos custos médios, a empresa que labora o custo mais elevado fica situada na mar- gem da produção. Chama-se-lhe, por isso, empresa marginal. É, pois, com o custo médio mínimo da empresa marginal que vem a coincidir o preço.

Conclusão: nos períodos longos, os preços que acabam por se es- tabelecer nos mercados de concorrência são preços de equilíbrio entre a procura e aquela oferta cujo custo marginal se parifica não só com tais preços, mas com o custo médio da empresa marginal.

E aqui temos a posição de equilíbrio estável em período longo. Es- tável, pois enquanto a procura se mantiver, e as empresas não voltarem a modificar o seu equipamento ou não se criarem novas empresas — e isso leva tempo, como sabemos —, nem as empresas que trabalham a custo médio inferior ao preço, as que estão aquém da margem e que se deno- minam, por tal facto, empresas intramarginais terão interesse em aumen- tar ou diminuir a sua oferta ao preço estabelecido, nem o terá a empresa marginal, que, essa, estando a laborar ao custo médio mínimo, sofrerá a subida do custo tanto com o aumento como com a redução da produção.

b) A empresa marginal

Em período longo, por conseguinte, todas as empresas ficam a tra- balhar ao mesmo custo marginal, a custo marginal igual ao preço, como sucede no período curto; porém, diferentemente do que acontece neste, uma ou várias das empresas ficam a trabalhar não só a custo marginal mas a custo médio igual ao preço. É ou são as empresas marginais.

Atingida, pois, a posição de equilíbrio, empresa marginal vem a ser aquela que só desenvolve a produção até o limite da fase dos custos mé- dios decrescentes; até o ponto em que a curva do custo marginal corta a curva do custo médio, que é quando se atinge, como bem sabemos, o custo médio mínimo.

Nessas condições, é uma empresa que não ganha nem perde. Mas, se a razão de ser da empresa capitalista é o lucro, como se compreende existir uma empresa que não lucre, que se sujeite a laborar para cobrir apenas o custo de produção?

Compreende-se por dois motivos:

— primeiro, porque, quando se diz que a empresa não ganha nem perde, que ela se limita a cobrir o seu custo de produção —

neste custo médio de produção, como aliás no custo médio de todas as outras empresas, já está compreendido um salário de direcção e um prémio de seguro contra o risco do negócio. De tal modo, a empresa marginal obtém sempre o lucro mínimo que é preciso, naquela indústria e naquela época, para decidir qualquer empresa a laborar, ou — dizendo melhor — obtém sempre o lucro mínimo que é preciso para decidir qualquer em- presa a continuar a laborar;

— segundo, porque geralmente a empresa marginal julga transi- tória a sua situação. Isto é, tem a esperança de, no futuro, con- seguir a baixa do custo pelo aumento da eficiência, passando ao sector das empresas intramarginais, das empresas que au- ferem lucros. Tanto mais que, não fechando as portas, mantém a clientela para dias melhores.

Fica, no entanto, um problema em aberto: é o de saber de que factores depende a determinação da empresa marginal. Sim, a empresa marginal, aquela cujo custo médio mínimo vem a coincidir com o preço do mercado, será — nos três tipos atrás distinguidos — uma empresa do tipo C, do tipo B ou do tipo A?

A resposta é esta: se as empresas do tipo A, elas sozinhas, vierem a produzir 130, claro que o preço descerá a 3, as empresas dos tipos B e C serão eliminadas, ficando marginais as do tipo A; mas se as empresas dos tipos A e B, elas sozinhas, vierem a produzir 120, claro também que o preço descerá a 4, as empresas do tipo C serão eliminadas, ficando marginais as do tipo B; finalmente, se as empresas dos três tipos, elas todas, vierem a produzir 100, claro que o preço descerá a 5, ficando mar- ginais as do tipo C.

Tudo depende, logo se conclui, das disponibilidades de capitais e das disposições dos empresários. Se os empresários do tipo A tiverem capitais suficientes e julgarem mais útil empregá-los naquela indústria a dar-lhes qualquer outra colocação enquanto o preço do mercado exceder o seu custo médio mínimo de 3, evidentemente que desenvolverão a pro- dução até o preço baixar a 3. Como, se os empresários do tipo B tiverem capitais suficientes e julgarem mais útil empregá-los naquela indústria a dar-lhes qualquer outra colocação enquanto o preço do mercado exceder o seu custo médio mínimo de 4, evidentemente que desenvolverão a pro- dução até o preço baixar a 4. E o mesmo se diga, mutatis mutandis, dos

empresários do tipo C.

Quer dizer: se não houver nenhuns embaraços ao desenvolvimen- to ou à criação de empresas do tipo A, virão a ser estas as empresas marginais; se os houver, de modo que a produção de tais empresas não aumente, ou aumente apenas o preciso para o preço descer ao nível do custo médio mínimo das empresas do tipo B, ou se não houver nenhuns embaraços ao desenvolvimento ou à criação de empresas deste último tipo, virão a ser marginais as empresas do tipo B; se os houver, de modo que a produção das empresas dos tipos A e B não aumente ou aumente apenas o preciso para o preço descer ao nível do custo médio mínimo das empresas do tipo C, ou se não houver nenhuns embaraços ao de- senvolvimento ou criação de empresas deste último tipo, virão a ser mar- ginais as empresas do tipo C.

O mais provável é que, mantendo-se a curva da procura, venham a ser marginais, em sucessivos períodos longos, as empresas do tipo C, do tipo B e do tipo A. O que não significa necessàriamente que, quando estas últimas forem marginais, tenham desaparecido as rendas dos ven- dedores. Pois também é provável que, entretanto, se formem empresas produzindo a custos médios mínimos inferiores aos das do tipo A. E o processo, qual teia de Penélope, nunca chegará ao fim; isto é, haverá sempre empresas intramarginais, subsistindo as respectivas rendas.

CAPÍTULO II

No documento Economia política (páginas 184-189)