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1º PREÇOS EM PERÍODOS INFRA-CURTOS 28 PREÇO CORRENTE

No documento Economia política (páginas 159-164)

a) O mercado de concorrência

Dissemos que o produto ou o rendimento nacional bruto era o valor dos bens finais — de produção e de consumo — obtidos durante certo período.

Mas de que bens, de que produtos e serviços, se compõe o rendi- mento nacional? É de peças de fazenda, de locomotivas ou de moios de trigo? E de que depende o número de peças de fazenda, de locomotivas ou de moios de trigo que são produzidos em determinado período?

Perguntando por outras palavras, visto que todos esses bens são fornecidos pelas unidades de produção, de que depende a actividade das explorações e das empresas?

A resposta vai ser-nos dada pela teoria dos preços.

Já sabemos que os preços se estabelecem nos mercados. Mas os mercados não apresentam todos a mesma configuração.

Há mercados de concorrência, mercados em que o número dos compradores e dos vendedores é tão grande que nenhum comprador

com a sua procura e nenhum vendedor com a sua oferta pode exercer influência sensível sobre o preço.

Quer dizer: a oferta e a procura de cada vendedor e de cada com- prador são tão diminutas que, se qualquer deles abandonar o mercado, o preço não se modifica; de igual forma, se comparecer um novo compra- dor ou vendedor, o preço não se altera.

Sendo assim, é claro que os compradores e os vendedores consi- deram o preço como um dado, como qualquer coisa de absolutamente independente da sua acção. Todos fazem as respectivas procuras e ofer- tas supondo que, com elas, não provocam nenhuma variação do preço. Isto é: os vendedores e os compradores contam com uma procura e uma oferta infinitamente elásticas, ao preço dado, para a oferta e procura de cada um.

Não significa isto que os vendedores e os compradores contem com a invariabilidade do preço; e sim que só admitem a sua variação como resultante, não da acção de um deles, isolado, mas da acção con- corde, embora dissociada, de muitos ou de todos.

Vejamos, então, que preço se estabelece nos mercados de concor- rência.

b) Preço de equilíbrio momentâneo ou preço corrente

Primeiro, num período infra-curto, isto é, num instante determinado de tempo.

Num período desses, a produção não pode aumentar nem diminuir e, portanto, a oferta dos vendedores há-de ser feita com os bens que já produziram. E a alternativa é vendê-los, ou ficar com eles em estoque ou armazém, à espera de melhor oportunidade. Já sabemos que, pelo efeito de substituição, os vendedores se dispõem a oferecer maiores quanti- dades a preços considerados altos do que a preços baixos, isto é, que a sua oferta vai aumentando à medida que o preço sobe. E como estamos em período infra-curto, num período tão curto que as disposições dos vendedores não podem variar, é constante a oferta (a série das quanti- dades oferecidas) de cada um deles e, portanto, é dada a oferta total da mercadoria.

Mas, num período infra-curto, também não podem modificar-se as necessidades e os rendimentos dos compradores. A sua procura há-de

ser feita com os rendimentos que já possuem. E a alternativa é gastá-los ou ficar com eles entesourados. Já sabemos que, tanto pelo efeito de substituição como pelo efeito de rendimento, os compradores se dispõem a adquirir menores quantidades a preços considerados altos do que a preços baixos, isto é, que a sua procura vai diminuindo à medida que o preço sobe. E como estamos em período infra-curto, é também dada a procura (a série das quantidades procuradas) de cada comprador e, por- tanto, é dada a procura total da mercadoria.

Suponhamos que sejam estas as curvas da oferta (AA’) da procura (BB’):

Q 0 P A’ B A B’ P’ Q’

E admitamos ainda que o mercado de concorrência seja perfeito, isto é, que preencha os três requisitos da homogeneidade dos bens, pu- blicidade completa e mobilidade da oferta e da procura.

Neste mercado, o preço tem de ser único. É o que se exprime pela lei da indiferença, formulada pelo economista inglês Stanley Jevons: no mesmo mercado e no mesmo momento não pode haver mais que um preço para a mesma mercadoria.

Pois, se a mercadoria é a mesma, se são iguais todas as unidades oferecidas (homogeneidade dos bens), torna-se indiferente aos compra- dores adquiri-las de qualquer dos vendedores. Por conseguinte, nenhum comprador estará disposto a dar pela mercadoria mais do que paga qual- quer dos outros compradores. Sendo assim, todos vêm a comprá-la pelo mesmo preço.

Mas, por que preço? Já o sabemos: pelo preço de equilíbrio entre as quantidades oferecidas e procuradas. No nosso diagrama, pelo preço OP’, ao qual se oferecem e procuram as mesmas quantidades OQ’.

Conclui-se, pois, que em períodos infra-curtos, isto é, em cada mo- mento, nos mercados perfeitos de concorrência se estabelece um único preço; e que esse único preço é o preço de equilíbrio entre a oferta e a procura.

É o preço, portanto, que traduz o equilíbrio entre a oferta e a pro- cura feitas em cada momento; por isso se chama preço de equilíbrio mo- mentâneo. Ou é o preço que corre em cada momento que passa; por isso se lhe chama também preço corrente.

c) Renda dos consumidores e renda dos vendedores

Mas da circunstância de o preço ser único vão derivar os fenóme- nos das rendas.

Admitamos que o preço OP’ seja de 5$; e que um qualquer vende- dor (V) e um qualquer comprador (C) estivessem dispostos a transaccio- nar e a adquirir as seguintes quantidades aos vários preços:

V C

6$00 50

100 5$00 60

100 4$00

Ora, este comprador C, que estava resolvido a adquirir 50 unidades ao preço de 6$00, afinal vem a comprá-las mais baratas, ao preço de 5$00; e este vendedor V, que estava disposto a transaccionar 100 unidades ao preço de 4$00, afinal vem a vendê-las mais caras, ao preço de 5$00 tam- bém. Tudo consequência de não se estabelecerem vários, mas um só pre- ço no mercado.

Quer dizer: por virtude da unicidade do preço, os compradores eco- nomizam a diferença entre o preço que estavam dispostos a pagar e aque- les por que efectivamente compram. Chama-se a essa diferença, que é um benefício e constitui como que um rendimento, a renda dos consumidores. Por seu turno, os vendedores ganham a diferença entre o preço por que estavam dispostos a transacionar as mercadorias e aquele por que efec- tivamente as vendem. Chama-se a tal diferença a renda dos vendedores.

Formalmente, as duas rendas são fenómenos paralelos; mas, no fun- do há pouca semelhança entre elas. Porque a renda do consumidor é uma

renda fugaz, efémera, uma renda que, na generalidade dos casos, surge e logo desaparece. Os consumidores fazem os seus cálculos com base em elementos subjectivos, dentre os quais avultam as previsões de preços.

Vão àquele mercado pessoas dispostas a comprar por 6$00. E vão porque, além de outras circunstâncias, prevêem, fundadas nos preços anteriores ou num suposto aumento ou diminuição da oferta ou da pro- cura, que só podem comprar a 6$00. Mas estabeleceu-se no mercado o preço de 5$00. E essas pessoas, que precedentemente estavam resolvi- das a adquirir a mercadoria por 6$00, daí por diante já não estarão ge- ralmente dispostas a pagá-la por mais do que 5$00. Quer dizer: a renda existiu no momento em que se fixou o preço; fixado este, desapareceu logo. É assim na grande maioria dos casos.

Com a renda dos vendedores não acontece o mesmo. Porque os vendedores determinam o preço mínimo, a que lhes convém vender, em face de um elemento objectivo, que é o custo de produção. Normalmente, o mínimo preço por que se dispõem a ceder as mercadorias é o preço equivalente ao custo.

Ora, se um qualquer vendedor suporta um custo de 4 e vende a 5, a sua renda persistirá enquanto continuar a produzir ao custo de 4 e a vender ao preço de 5. A renda dos vendedores não tem, pois, que desa- parecer com a fixação do preço. Enquanto os vendedores transacciona- rem as mercadorias por mais do que o seu custo, ganharão a diferença, e esse ganho será por eles geralmente considerado renda.

Como se vê, a renda dos vendedores é, em princípio, duradoura. Mas só em princípio. Porque tendo lucrado na venda das mercadorias a preço superior ao custo, o natural é que os vendedores tentem aumentar o seu lucro, desenvolvendo a produção para mais venderem e ganha- rem. Simplesmente, o aumento da produção e, portanto, da oferta, vai provocar — se a procura se mantiver constante — a descida do preço. E a descida do preço fará com que diminuam, ou até desapareçam, as rendas dos vendedores.

Daqui se conclui que o preço de equilíbrio entre a oferta e a procura realiza o equilíbrio do mercado, mas que este equilíbrio é momentâneo, passageiro. Pois ainda que a procura não varie nos momentos sucessi- vos, é extremamente provável que varie a oferta, que aumente e diminua, e, por conseguinte, que o preço desça e suba.

§ 2º OS PREÇOS EM PERÍODOS CURTOS

No documento Economia política (páginas 159-164)