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DISTRIBUIÇÃO E APLICAÇÃO DO RENDIMENTO

No documento Economia política (páginas 147-150)

§ 6º PRODUTO E RENDIMENTO 24 O RENDIMENTO NACIONAL

25. DISTRIBUIÇÃO E APLICAÇÃO DO RENDIMENTO

a) Distribuição e transferências

O rendimento nacional líquido é a soma dos rendimentos líquidos das unidades produtoras (empresas, explorações) durante determinado período. Ora, os rendimentos líquidos das unidades produtoras vão ser distribuídos pelos participantes na produção.

No exemplo que demos, o rendimento era de 850. São esses 850, portanto, que as empresas vão repartir pelos trabalhadores, capitalistas, proprietários e empresários, a título de salários, juros, rendas e lucros.

Admitamos que a repartição se faça da seguinte maneira: Rendimento nacional líquido…... 850

Salários………. 450 50%

Juros………. 170 20%

Rendas……….… 85 10%

Lucros………..… 170 20%

850 100%

Esta hipótese de distribuição do rendimento não é totalmente ar- bitrária, pois a percentagem dos salários não deve andar longe da que lhes cabe no nosso país. Com efeito, apesar de não se conhecer ainda a distribuição do rendimento nacional português, sabe-se que a percen- tagem dos salários é muito alta nos países desenvolvidos (mais de 70% nos Estados Unidos e Inglaterra) e muito baixa (menos que 50%) nos países atrasados.

Os titulares dos rendimentos podem gastá-los, ou cedê-los a ou- trem que os gaste. Se os cedem a outrem, diz-se que os transferem. Te- mos, assim, transferências de rendimentos.

Umas vezes, as transferências são coactivas, isto é, os titulares dos rendimentos vêem-se obrigados a transferi-los. E como só o Estado goza de poder de império, as transferências coactivas são todas dos in- divíduos para ele. Já atrás vimos que o Estado, através dos impostos de consumo, absorve uma parte do produto nacional líquido. Agora, depois do rendimento distribuído, vai absorver mais uma parte deste, através

de impostos sobre os salários, os juros, as rendas e os lucros. São os impostos de rendimento.

Outras vezes, as transferências realizam-se por livre vontade dos titulares dos rendimentos. Temos as transferências voluntárias, mediante doação, sucessão ou empréstimo.

Simplesmente, como o rendimento nacional líquido é todo distribuí- do, e como o rendimento distribuído ou fica nas mãos dos seus titulares ou é transferido, podemos afirmar as seguintes igualdades:

Rendimento nacional líquido = rendimento nacional distribuído. Rendimento nacional distribuído = rendimento nacional após as transferências.

b) Aplicação do rendimento 1. consumo e aforro

2. investimento e entesouramento

Embolsados rendimentos — os salários, as rendas, os juros e os lucros —, os seus titulares vão utilizá-los ou transferi-los a outras pes- soas que os utilizem. Na generalidade dos casos, porém, medeia sempre algum tempo (horas, dias, semanas...) entre o momento em que o rendi- mento é recebido e aquele em que é gasto. Daí que possamos admitir o período de rendimento — período durante o qual o rendimento é produ- zido e ainda não utilizado.

Se o admitirmos, então o rendimento dum período só pode ser uti- lizado no período seguinte. Por exemplo: o rendimento do período 0 só pode ser utilizado no período 1; o rendimento do período 1 só pode ser utilizado no período 2... e assim sucessivamente.

Mas em que é que o rendimento do período 0 pode ser utilizado no período 1?

É o problema dos destinos ou aplicações do rendimento.

Ora, o rendimento pode ser utilizado na compra de bens de consu- mo, isto é, pode ser consumido. À parte do rendimento gasto desta ma- neira chama-se, por isso mesmo, consumo. E, se nem todo o rendimento se gasta assim, a parte excedente é o que se economiza, que se poupa, que se aforra. Constitui o aforro.

Por conseguinte, os destinos imediatos do rendimento são dois: consumo e aforro. E tais destinos tanto lhe podem ser dados pelos pró- prios titulares como pelas pessoas a quem eles, voluntária ou coerciva- mente, transfiram os rendimentos.

Mas, se período de rendimento é o período durante o qual o rendi- mento é recebido e ainda não gasto, então, o aforro tem de ser a diferen- ça entre o rendimento de um período e o consumo que desse rendimento se faz no período seguinte.

O aforro ainda pode ter dois destinos: pode ser utilizado na compra de bens capitais, isto é, de bens de produção produzidos, como sejam as máquinas ou as matérias-primas. Ora, a compra de bens capitais significa a restituição, aos que os produziram, do aforro aplicado na produção deles. E como essa aplicação do aforro constitui o investimento, daí o dizer-se que o aforro utilizado na compra de bens capitais é investido. Consequen- temente, a este destino do rendimento aforrado chama-se investimento.

A parte excedente, que não quis empregar-se na compra de bens de consumo, pois que é aforro, nem de bens de produção, pois que não se investiu, é a parte do rendimento que se mantém líquida, que se con- serva em dinheiro. Constitui o entesouramento.

Investimento e entesouramento são, assim, os dois destinos do aforro.

Um exemplo: o rendimento do período 0 foi de 100, isto é, distri- buíram-se 100 aos participantes da produção realizada nesse período. Pois todo esse rendimento vai ser aplicado no período 1 em consumo, investimento e entesouramento. Na verdade, o que não for consumido, será aforrado; e o que, do aforro, não for investido, será entesourado. Se o consumo for de 80, o aforro será de 20; e, se o investimento for de 15, o entesouramento será de 5. Ora,

80 + 15 +5 = 100.

Falta observar que, muitas vezes, não são os próprios titulares dos rendimentos que os investem. A grande massa dos investimentos é feita por pessoas que conseguiram que lhes fossem transferidos rendimen- tos aforrados por outras. Quer dizer, na maioria dos casos, os titulares dos rendimentos, em vez de serem eles próprios a investirem os aforros, transferem-nos para outros que os utilizam na compra de bens capitais.

No documento Economia política (páginas 147-150)