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22 AS EXPLORAÇÕES CAMPONESAS E ARTESANAS

No documento Economia política (páginas 132-137)

a) Noção e formas da exploração camponesa

Na agricultura, em muitos dos países velhos, as unidades da pro- dução não são, geralmente, nem empresas capitalistas nem cooperati- vas, mas sim produtores autónomos ou empresas individuais com ca- racterísticas específicas, que se podem englobar, uns e outras, sob a designação de explorações camponesas.

Eis como estas explorações se distinguem das empresas capitalistas: — primeiro, pelo cálculo impreciso dos custos de produção. É que

os lavradores não fazem conta aos elementos que eles próprios fornecem, isto é, não atribuem um salário ao seu trabalho, uma renda à sua terra ou um juro ao seu dinheiro. Ao que atendem é aos preços do que compram — aos preços das sementes, dos adubos, das máquinas, dos gados. Donde resulta que não procedem a uma verdadeira combinação económica dos ele- mentos produtivos;

— segundo, pela produção, em grande parte, para consumo pró- prio. A exploração camponesa assegura, na verdade, o essen- cial da subsistência do lavrador e da família. O seu rendimento, portanto, é rendimento real, constituído pelos alimentos, o linho, as lenhas, que o lavrador dela tira, e rendimento monetário, re- sultante da venda dos bens que leva ao mercado. Se este último rendimento falta ou diminui, subsiste sempre o primeiro. E daí

que o lavrador possa manter a exploração, e frequentemente a mantenha, quando ela dá prejuízo;

— finalmente, pelo nenhum ou pequeno recurso a assalariados. Ou o lavrador trabalha a terra apenas com as pessoas da fa- mília; ou tem, a mais delas, um criado que consigo convive; ou recorre a poucos assalariados.

Claro que, explorações assim, têm de ser explorações pequenas. Muito embora não se possa apreciar a sua dimensão exclusivamente pela superfície, o facto é que esta nos dá um índice aproveitável do ta- manho da unidade produtora. Veja-se, pois, a superfície das explorações agrícolas do Continente com cultura arvense, segundo o inquérito de 1952-1954: Número de explorações Até 1 ha……... 400.469 De 1,01 a 10 ha………... 360.354 760.823 De 10,01 a 50 ha……… 33.746 De mais de 50,01 ha……….. 6.593 801.162

Grosso modo, talvez possamos admitir que as unidades até 10 ha são, na maioria dos casos, verdadeiras explorações camponesas, tais como atrás as caracterizamos. Somam 760.823, ou seja, 95% do total. São elas, portanto, que predominam na nossa agricultura, e sobretudo no Norte e Centro do País.

Umas vezes, a produção é organizada pelo proprietário da terra; outras, por pessoa que com ele se associa ou dele obtém o uso e fruição da terra. Daí, as três formas de exploração:

— conta própria, que é a exploração feita pelo proprietário; par- ceria, que é a exploração feita nos termos deste contrato de sociedade civil, em que a organização da produção pertence ao parceiro cultivador, o qual se obriga a dar ao proprietário uma quota dos frutos (metade do cereal, dois terços do vinho, me- tade ou dois terços do azeite, etc., como sucede no Norte); ar- rendamento, que é a exploração feita pelo arrendatário da terra.

Tanto a parceria como o arrendamento têm a vantagem de permi- tir o acesso à exploração agrícola dos que não são proprietários. Mas sendo a curto prazo — ao prazo de um ano, como entre nós geralmente acontece — mostram-se formas de exploração rotineiras: na verdade, o parceiro e o arrendatário têm apenas em vista o rendimento imediato, sujeitos como estão a ser despedidos, desinteressando-se de todos os melhoramentos (plantações, etc.) que só dêem fruto a longo prazo.

Por isso é que em alguns países se têm tomado medidas para incitar os lavradores não-proprietários a aumentarem o rendimento da exploração. Assim, em França: o prazo do arrendamento não pode ser inferior a 9 anos, findos os quais o arrendatário tem direito a pedir a re- novação do contrato, que só lhe poderá ser recusada se o proprietário quiser explorar a terra por conta própria ou ceder a sua exploração a um parente muito próximo; além disso, o arrendatário, quando sai, tem direito a uma indemnização pelos melhoramentos que fez; finalmente, no caso da parceria, tanto o proprietário como o parceiro cultivador podem pedir em qualquer altura a conversão do contrato de sociedade em contrato de arrendamento.

Entre nós, embora predomine a conta própria, há grande número de arrendamentos e parcerias. Veja-se o que se apurou no inquérito de 1952-54:

Número de explorações Conta própria………...…………. 525.335 Arrendamento………...… 131.320 Parceria………... 28.134 Conta própria e arrendamento………... 133.187 Conta própria e parceria………... 22.929 Conta própria, arrendamento e parceria…...… 6.868 Arrendamento e parceria………... 5.795 853.568 Pertence a parte de leão à conta própria, sem dúvida; mas o arren- damento tem, ainda assim, uma parte considerável e muito maior, aliás, que a da parceria.

b) A exploração artesana

tramos produtores autónomos e empresas individuais, cuja situação se aproxima da dos produtores autónomos, e que podem designar-se, uns e outras, por explorações artesanas.

O que diferencia estas explorações das empresas capitalistas é, por um lado, a circunstância de não utilizarem ou utilizarem pequeno nú- mero de assalariados, competindo ao produtor autónomo ou empresário o trabalho de direcção e todo ou uma parte considerável do trabalho de execução; e, por outro, o facto de não se proceder a uma perfeita combi- nação económica dos elementos produtivos, não se atribuindo ao artesa- no salários pelo seu trabalho ou juro pelo seu capital.

Estas explorações assemelham-se, pois, por esses dois traços, às explorações camponesas. Não produzem, porém, para consumo próprio, e sim para o mercado, o que as sujeita a maior risco.

Persistem em grande número no comércio, sobretudo no comércio de retalho, cujo exercício não exige aptidões especiais nem muito capital, e até na indústria, onde há certos sectores que lhes parecem reservados, como os do trabalho artístico, de reparação (de automóveis, aparelhos de rádio) e de instalação (electricidade, etc.).

23. AS EXPLORAÇÕES PÚBLICAS

Nem só os particulares, já o dissemos, organizam a produção; tam- bém o faz o Estado e as restantes colectividades públicas, e por motivos que serão esclarecidos na cadeira de Finanças. Aqui, interessa apenas anotar o seguinte:

— umas vezes, as explorações do Estado produzem bens que: 1) são insusceptíveis de troca (serviço do exército); 2) são sus- ceptíveis de troca, mas não são vendidos, fornecendo-os o Es- tado gratuitamente (serviço da instrução primária, entre nós); 3) são vendidos, mas a preço inferior ao custo e que, portanto, dá prejuízo (serviços da instrução média e superior) ou a preço equivalente ao custo de produção e que não deixa, por isso, lucro nenhum (serviço dos correios, também entre nós) ou, fi- nalmente, a preço superior ao custo, mas inferior ao preço que asseguraria o máximo lucro (serviço da captação e distribuição da água). Em todos estes casos, a finalidade das explorações

públicas é a satisfação do interesse geral; se há lucros, não é porque o Estado se proponha obtê-los, mas sim porque a sa- tisfação daquele interesse exige o estabelecimento de preços que os propiciem. Estamos num sector, por conseguinte, que ultrapassa a economia capitalista, e num sector que se tem ex- pandido muito e mostra tendência a expandir-se cada vez mais; — outras vezes, mas raras, as explorações do Estado são empre- sas que se organizam e actuam como qualquer empresa capita- lista privada. São empresas de capitalismo de Estado, portanto. Claro que, quando os bens não podem ser ou não são vendidos, ou quando são vendidos com prejuízo, o Estado não realiza receitas ne- nhumas ou realiza receitas inferiores às despesas que faz. Precisa, pois, de obter receitas de outra fonte; daí, os impostos que exige aos cidadãos.

Como se vê, encontramos no capitalismo, além da sua unidade de produção específica — a empresa capitalista — muitas outras unidades de produção: as cooperativas, as explorações camponesas e artesanas, as explorações públicas. Dessas, algumas representam sobrevivências de sistemas anteriores: são as explorações camponesas e artesanas; mas tanto as cooperativas como as explorações públicas são elementos gerados dentro da economia capitalista com lógica ou finalidades a ela estranhas. São elementos, pois, que prenunciam um novo sistema.

§ 6º PRODUTO E RENDIMENTO

No documento Economia política (páginas 132-137)