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O CIRCUITO ECONÓMICO

No documento Economia política (páginas 80-83)

13 ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E REPARTIÇÃO DO PRODUTO

14. O CIRCUITO ECONÓMICO

a) As duas circulações; a dos bens e a da moeda

Agora, que sabemos como se organiza a produção e reparte o pro- duto, já podemos compreender o circuito económico.

Na época actual, a produção é geralmente organizada em empre- sas. Ora, as empresas, por um lado, reúnem os elementos produtivos, arrendando terras, assalariando trabalhadores, obtendo empréstimos para investimento em bens capitais; com esses elementos, produzem as mercadorias; as mercadorias são vendidas. Por outro lado, as empresas pagam as rendas aos proprietários, os salários aos trabalhadores, os ju- ros aos capitalistas; recebem o produto da venda das mercadorias e, se há excedente, atribuem-no ao empresário como lucro seu.

Temos aqui, como se vê, duas circulações; a dos bens, que é a circulação dos elementos produtivos das mãos dos seus donos para as empresas, e a das mercadorias, das mãos das empresas para os com- pradores; a da moeda, que é a circulação do dinheiro das mãos das empresas para os titulares dos rendimentos, que são os donos dos ele- mentos produtivos e o empresário, e das mãos dos compradores para as empresas.

Dá-se o caso de os compradores das mercadorias serem os pró- prios titulares dos rendimentos. De modo que as circulações, embora em sentido oposto, dos bens e da moeda correm paralelamente. É o que se mostra com toda a clareza através deste esquema:

Elementos da produção Titulares dos rendimentos Empresas c d b a

A seta a representa os elementos da produção; a seta b, os rendi- mentos que seus donos recebem, mais os lucros dos empresários; a seta c representa as mercadorias; a seta d, finalmente, os preços por que são vendidas.

Como se vê, as setas inferiores representam a compra dos elemen- tos produtivos: enquanto estes circulam dos seus donos para as empre- sas, a moeda paga pela respectiva utilização, mais os lucros dos empre- sários, circulam em sentido oposto. As setas superiores representam a compra das mercadorias: enquanto estas circulam das empresas para os titulares dos rendimentos, a moeda paga pela sua aquisição circula em sentido contrário.

Ora, é ao conjunto destas duas circulações, fluxos ou correntes — a dos bens (a, c) e a da moeda (b, d) — que se chama o circuito económico.

b) A repartição antecipada

Surge, todavia, um problema. Dissemos que os titulares dos rendi- mentos compram as mercadorias com as rendas, salários, juros e lucros que lhes são distribuídos pelas empresas. Mas, como é isso possível, como é possível às empresas distribuírem rendimentos antes de terem vendido as mercadorias?

No entanto, é o que acontece quase sempre em relação aos sa- lários, que representam mais de metade do total dos rendimentos: os trabalhadores, com efeito, são pagos ao dia, à semana e ao mês, e o fa- brico e a venda das mercadorias, quando não demoram mais de um mês, demoram mais de um dia e, até, de uma semana; e é o que acontece por vezes em relação aos próprios juros e rendas, ao menos sempre que são pagos no início e não no termo dos respectivos contratos de empréstimo e arrendamento.

Como é isso possível?

Tudo se explica perfeitamente se nos lembrarmos que os rendi- mentos distribuídos não têm de ser gastos na sua totalidade; podem ser entesourados. Ora, se quenquer entesoura uma parte do rendimento,

pode desentesourá-la mais tarde, utilizando-a em pagamento de salá- rios, juros e rendas na sua empresa antes de vendidas as mercadorias que fabrique; como pode pô-la, mediante empréstimo, à disposição de outrem que a desentesoure nos mesmos termos.

Aliás — e isso compreender-se-á depois —, não é apenas o desen- tesouramento, mas ainda a criação de moeda, que permite antecipar a distribuição dos rendimentos.

c) Equilíbrio ou desequilíbrio entre o fluxo dos rendimentos e o das despesas

Simplesmente, se o desentesouramento e a criação de moeda po- dem servir para antecipar a distribuição dos rendimentos, também o po- dem para comprar as mercadorias fabricadas pelas empresas. Sim, os trabalhadores não têm de limitar-se a utilizar em cada dia, semana ou mês o salário que receberam no dia, semana ou mês anterior. Se em qualquer desses períodos entesouraram uma parte do salário recebido, poderão mais tarde — passados dias, semanas ou meses — desente- sourá-la, adquirindo quaisquer mercadorias. Daí que sejam concebíveis estas situações típicas:

— os rendimentos distribuídos aos elementos da produção, e só eles, são integralmente gastos na compra das mercadorias fabricadas. Nessa altura, as empresas recebem, no seu conjunto, tanto quanto pa- gam, aos elementos produtivos. Há equilíbrios pois, entre o fluxo dos rendimentos (seta b) e o fluxo das despesas (seta d);

— são gastos na compra das mercadorias fabrica das não só to- dos os rendimentos distribuídos aos elementos da produção, mas ainda rendimentos desentesourados. Nessa altura, as empresas recebem, no seu conjunto, mais do que pagam aos elementos produtivos. O fluxo das despesas excede, pois, o fluxo dos rendimentos. A diferença é lucro;

— finalmente, os rendimentos distribuídos aos elementos da pro- dução não são integralmente gastos na compra das mercadorias fabrica- das. Nessa altura, as empresas recebem, no seu conjunto, menos do que pagam aos elementos produtivos. O fluxo dos rendimentos excede, pois, o fluxo das despesas. A diferença é perda ou prejuízo.

São três situações, como se vê, macro-económicas, que podem não coincidir com as situações individuais, isto é, com a situação de cada empresa. Assim, no primeiro caso, haverá empresas que recebem mais do que pagam, e têm lucros, e outras que recebem menos do que pagam, e sofrem perdas, compensando-se os ganhos daquelas com os prejuízos destas. E no segundo e no terceiro haverá algumas empresas que, respectivamente, perdem e lucram.

No documento Economia política (páginas 80-83)